23 abril 2009

O CASO OTÍLIA GONÇALVES

Poder-se-ia transcrever, aqui, fatos outros relativos aos trâmites da desencarnação, descritos pelos próprios Espíritos que o vivenciaram, incluídos, por Ernesto Bozzano no “A CRISE DA MORTE”. Entretanto, aconteceu, na cidade de Salvador, um caso, na década de 1950, que merece ser recontado. Trata-se do relato de autoria do Espírito OTÍLIA GONÇALVES, através do médium e tribuno Divaldo P. Franco, que deu origem ao livro “Mansão do Caminho” dirige-se à sua filha nestes termos:
“Minha filha, que a paz do senhor esteja convosco!”
“Desde o momento em que o anjo da morte me dirigiu seu pensamento, enviando-me uma lúgubre mensagem de “angina-pectoris”, um turbilhão indescritível tomou conta do meu Espírito.”
“A princípio, com as carnes sacudidas pelos estertores do coração que não mais podia cooperar com a vida física, inenarrável sofrimento tomou-me todas as fibras, do peito ao cérebro e deste aos pés, fazendo-me enlouquecer. Atormentada entre as idéias da ‘morte’ apavorante que eu temia e a ansiedade da ‘vida’ que escapava ao peso cruel do sangue que se negava a irrigar as artérias, veias e vasos, senti que ia tombar.”
“Reuni as forças que desapareciam céleres, abandonado-me impiedosamente, tentando resistir à violência da dor que me despedaçava toda, e mais não consegui senão emitir gritos desesperados, semilouca. Tinha a impressão de que vigorosa mão-de-ferro me estraçalhava o coração e, a par da agonia que não posso descrever, sentia que a vida fugia rápida, fazendo-me desmaiar, sem que, contudo, desaparecesse a dor superlativa que durante muito tempo iria conservar-me envolta em angústia sombria e inquietante.”
“Não poderei dizer o tempo em que demorei desfalecida. Guardo, ainda hoje, a impressão de que, em volta, um torvelinho me arrastava, dando-me a sensação de queda, em profundo abismo sem fim.”
“Subitamente, como se me chocasse de encontro ao solo, despertei agonizante, tateando em trevas, aos gritos de lamentável perturbação. O peito continuava a doer desesperadamente como se estivesse estilhaçado por violento projétil que o varasse, rompendo carne e ossos e deixando-o sangrar...”
“Oh! Jesus, o sofrimento daquela hora!...”
“O tempo passava sem que eu tivesse notícia, senão através da agonia que parecia não ter fim.”
“Como a dor não cessasse, simultaneamente impressões diferentes me acudiram ao cérebro turbilhonado, agigantando meu desespero. Frio glacial apoderou-se lentamente dos membros inferiores, ameaçando-me imobilizar-me...”
“Além do frio, dores generalizadas paralisaram-me os movimentos, enquanto o enregelamento me tornava rígida. O pavor rondava-me implacável...”
“Desejei levantar-me, andar, correr, suplicar auxílios; estava paralisada, atada a cadeias poderosas. A língua já não se articulava. O cérebro parecia-me devorado por labaredas crepitantes...”
“Não tinha idéia das horas.”
“Indagava mentalmente, no martírio, o que me acontecera. Onde estava o companheiro de tantos anos? Os irmãos de fé espirita, onde se encontravam eles que não me socorriam?”
“...senti-me sair de dentro do casulo carnal, que então pude ver. Encontrava-me deitada no esquife mortuário, e de pé, ao seu lado, simultaneamente.”
Por várias e dolorosas constatações, Otília verificou que estava “morta”, sendo acometida de profundo terror. Lembrou-se das explanações do mentor espiritual quando participava das reuniões mediúnicas. Descobriu, então, a sua ignorância em Doutrina Espírita.Procurou orar, sem conseguir, atormentada pela inconformação. Aconteceu, a essa altura, o que Bozzano chamou de “visão panorâmica”: a recordação de fatos vivenciados na encarnação que acabara de cumprir.
Ao chegar ao cemitério acompanhando o seu corpo, Otília foi recebida pelos Espíritos inferiores que infestam as necrópoles de todas as latitudes terrenas. Entretanto, a recém-desencarnada contava com a proteção dos Espíritos-vigilantes.
Ao acompanhar os despojos carnais à sepultura, entrou em pânico – “...encontrei-me ligada às vísceras mortas, estando viva. Gritei desesperadamente, em lamentável estado, e caí desmaiada.”
Ao recobrar a consciência o Espírito Otília Gonçalves entrou em profunda reflexão, procedendo a uma auto-análise franca, leal, corajosa. Recordou-se de Jesus. Sentiu-se a partir daí intimamente revigorada. E a prece “clara e pura” emergiu do fundo d’alma...
Afinal, após tantos e renovadores sofrimentos, surge o socorro, através do Espírito Liebe, a esclarecida e bondosa entidade que a orientava no “Evangelho no Lar”.
E, amparada pela irmã Liebe, Otília Gonçalves ganhou a liberdade, deixando para trás a “Casa dos Mortos”, onde, em pouco tempo, aprendeu a grande lição que o túmulo oferece!

Um comentário:

Céu disse...

Muito angustiante, chocante e desesperante...pensar que um ente querido que já desencarnou possa ter passado por esse sofrimento todo como nesse relato...
Um abraço