30 outubro 2009

PANTEISMO ESPÍRITA

Uma das acusações constantemente formuladas ao Espiritismo pelos religiosos, e particularmente pelos teólogos, é a de panteísmo. Segundo afirmam, de modo geral, o Espiritismo seria uma concepção materialista do mundo, por confundir o Criador com a Criação. Já vimos que essa acusação é infundada. Ao tratar da Filosofia Espírita, verificamos que a cosmologia e a cosmogonia doutrinárias não permitem essa confusão. Anteriormente verificamos que o próprio Kardec, dedicou um capítulo ao problema em O Livro dos Espíritos, esclarecendo a posição do Espiritismo. Não obstante, convém analisarmos alguns aspectos da questão, para melhor definirmos o nosso pensamento a respeito.
Segundo a etimologia, e de acordo com o emprego tradicional do termo, panteísmo é uma concepção monista do mundo que pode ser traduzida na expressão: tudo é Deus. Espinosa foi o sistematizador filosófico dessa concepção. Deus é a realidade única, da qual todas as coisas não são mais do que emanações. Mas existe o chamado panteísmo materialista, não obstante a contradição dos termos. Segundo a concepção de D'Holbach, por exemplo, a realidade primária é o Mundo, e Deus é a suma do Mundo, ou seja, o resultado do conjunto de leis universais. Com razão se diz que não se trata propriamente de panteísmo, apesar do emprego tradicional da classificação. Essas duas formas de panteísmo são rejeitadas pelo Espiritismo.
Kardec argumenta, no comentário ao item 16 de O Livro dos Espíritos, que não sabemos tudo o que Deus é, mas sabemos o que ele não pode ser". Forma precisa de definir a posição espírita. Deus não pode ser confundido com o mundo, da mesma maneira por que um artista não pode ser confundido com suas obras. Assim como as obras exprimem a inteligência e a intenção pessoal do artista, nas várias direções seguidas pela sua inspiração, as obras de Deus o revelam ao nosso entendimento, mas não podemos confundi-las com seu Autor. O Espiritismo, portanto, não pode ser considerado como nenhuma forma de panteísmo, no sentido absoluto que se dá ao termo.
Apesar disso, podemos dizer que existe uma forma de panteísmo-espírita, se entendermos a palavra em sentido relativo. Essa forma, porém, não é privativa do Espiritismo. Aparece em todas as concepções religiosas, pois todas as religiões consideram universal a presença de Deus que se manifesta na natureza inteira e "está em todas as coisas". É conhecida a afirmação do apóstolo Paulo, de que vivemos em Deus e nele nos movemos. Essa fórmula encontra correspondência no pensamento grego e no pensamento romano: o racionalismo dos primeiros e o juridismo dos segundos constituem sistemas de leis universais, presididos por uma inteligência suprema. Quanto ao judaísmo, o providencialismo bíblico é uma forma ainda mais efetiva de panteísmo conceptual. Mas fora do âmbito da tradiição ocidental vamos encontrar a mesma concepção, tanto nas religiões indianas, quanto na própria religião filosófica ou civil do confucionismo, bem como entre os egípcios, os mesopotâmicos e os persas.
A presença universal de Deus é uma forma relativa de panteísmo, que nos mostra o Universo em relação estreita com Deus, a Criação ligada ao Criador. Mesmo no panteísmo espinosiano, é necessário compreendermos o panteísmo de maneira mais conceptual do que real, ou seja, num plano antes teórico do que prático. Porque Espinosa fazia a distinção entre o que chamava "natureza naturata", ou material, e "natureza naturans", ou inteligente. Deus, para ele, era está última, o que pode ser entendido, do ponto de vista espírita, como uma confusão entre o princípio-inteligente e Deus. Ou seja, Espinosa confundiu a Segunda hipóstase do universo, o Espírito, com a primeira, que é Deus. O Espiritismo não faz essa confusão, admitindo apenas a imanência de Deus no Universo, como conseqüência de sua própria transcendência.
Não é fácil compreendermos esse processo, sem uma definição dos termos. Mas quando procuramos examiná-los, tudo se torna mais claro. Imanente é aquilo que está compreendido na própria natureza, como elemento intrínseco, pertencente a sua constituição e determinante do seu destino. Dessa maneira, o panteísmo tem sido considerado uma teoria de imanência de Deus. Não obstante, a própria teologia católica considera as aspirações religiosas do homem como decorrência da imanência de Deus na alma. E o Cristianismo evangélico estabelece o princípio da imanência de Deus em nós mesmos. Como poderíamos entender, assim, a imanência daquilo que é transcendente, que está acima e além do mundo dos homens?
Este problema tem provocado grande celeuma no campo teológico, mas a posição espírita é de tal maneira clara, que a podemos compreender sem maiores dificuldades. Kardec a colocou em termos de causa e efeito: não há efeito inteligente sem uma causa inteligente. Ora, se deus é a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, a transcendência de Deus é a própria causa da sua imanência. Ou seja: Deus, como criador, está presente na Criação, através de suas leis, que representam ao mesmo tempo a ligação de todas as coisas ao seu poder e a possibilidade de elevação de todas as coisas à sua perfeição. A lei de evolução explica a imanência, como conseqüência lógica e necessária da transcendência. As disputas teológicas decorrem mais do formalismo em que o problema é colocado, do que das dificuldades lógicas ou filosóficas existente no mesmo.
O panteísmo-espírita não seria mais, portanto, do que a consideração da presença de Deus em todas as coisas, através de suas leis, e particularmente na consciência humana. No item 626 de O Livro dos Espíritos vemos a afirmação de que as leis divinas "estão escriitas por toda parte". Esse o motivo por que: "todos os homens que meditaram sobre a sabedoria puderam compreendê-las e ensiná-las". Reafirma ainda esse item: "Estando as leis divinas escritas no livro da natureza, o homem pôde conhecê-las sempre que desejou procurá-las. Eis porque os seus princípios foram proclamados em todos os tempos, pelos homens de bem, e também porque encontramos os seus elementos na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie, mas incompletos, ou alterados pela ignorância e a superstição". O relativismo panteísta está bem claro nesta proposição.
A presença de Deus, e portanto a sua imanência, não se restringe à consciência humana, mas estende-se a toda a natureza. Todas as religiões admitem esse princípio, de uma ou de outra forma, principalmente quando pretendem oferecer as provas da existência de Deus. O Espiritismo o esclarece, de maneira simples e precisa, retirando-o da névoa das discussões teológicas e colocando-o sob a luz dos princípios lógicos. Ainda neste terreno controvertido, como vemos, o Espiritismo se apresenta com todo o seu poder de esclarecimento.

J. Herculano Pires

27 outubro 2009

RELIGIÃO EM ESPÍRITO E VERDADE



1. O ESPIRITISMO E AS RELIGIÕES - A posição do Espiritismo, em face das religiões, foi definida desde o princípio, ou seja, desde a publicação de O Livro dos Espíritos. A terceira parte do livro tem o título de "Leis Morais", e começa pela afirmação: "A lei natural é a lei de Deus", que eqüivale ao reconhecimento da unidade divina de todas as leis que regem o universo. Note-se que Kardec e os Espíritos referem-se à lei de Deus no singular, como lei única, e nela incluem as leis morais, no plural. Assim, as leis morais são espécies de um gênero, que é a lei natural. Mas como esta não é a lei da Natureza, e sim a lei de Deus, não estamos diante de uma concepção monista natural mas de uma concepção monista de ordem ética. As religiões como fenômenos éticos, formas de educação moral das coletividades humanas, nada mais são do que processos diferenciados, segundo as necessidades circunstanciais e temporais da evolução, pelos quais as leis morais se manifestam no plano social.
Vejamos a explicação de Kardec, no comentário que fez ao item 617 de O Livro dos Espíritos: "entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: essas são as leis físicas; seu estudo pertence ao domínio da ciência. As outras concernem especialmente ao homem em si mesmo, e às suas relações com Deus e com seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo, tanto quanto as da vida da alma: essas são as leis morais". Dessa maneira, o Espiritismo nos oferece a visão global do Universo, num vasto sistema de relações, que unem todas as coisas, desde a matéria bruta até a divindade, ou seja, desde o plano material até o espiritual. As religiões, nesse amplo contexto, são como fragmentações temporárias do processo único da evolução humana.
Essa compreensão histórica permite ao Espiritismo encarar as religiões, não como adversárias, mas como formas progressivas do esclarecimento espiritual do homem, que atinge na atualidade um momento crítico, de passagem para um plano superior. Daí a afirmação de Kardec, feita em O Livro dos Espiritos e repetida em outras obras, particularmente em O que é o Espiritismo, de que este, na verdade, é o maior auxiliar das religiões. Auxiliar em que sentido? Primeiro, no sentido de fornecer às religiões, entrincheiradas em seus dogmas de fé, as armas racionais de que necessitam, para enfrentar o racionalismo materialista, e especialmente as armas experimentais, com que sustentar os seus princípios espirituais diante da ciências. Depois, no sentido de que o Espiritismo não é nem pretende ser uma religião social, pelo que não disputa um lugar entre as igrejas e as seitas, mas quer apenas ajudar as religiões a completarem a sua obra de espiritualização do mundo. A finalidade das religiões é arrancar o homem da animalidade e levá-lo a moralidade. O Espiritismo vem contribuir para que essa finalidade seja atingida.
Nisto se repete e se confirma o que o Cristo declarou, a propósito de sua própria missão, ao dizer que não vinha revogar a lei e os profetas, mas dar-lhes cumprimento. Como desenvolvimento natural do Cristianismo, o Espiritismo prossegue nesse mesmo rumo. Sua finalidade não é combater, contrariar, negar ou destruir as religiões, mas auxiliá-las. Para auxiliá-las, porém, não pode o Espiritismo endossar os seus erros, o seu apego aos formalismos religiosos, a sua aderência às circunstâncias. Por que tudo isso diminui e enfraquece as religiões, expondo-as ao perigo do fracasso, diante das próprias leis evolutivas, que impulsionam o homem para além das suas convenções circunstanciais. O Espiritismo, assim, não condena as religiões. Considera que todas elas são boas - o que é sempre contestado com violência pelo espírito de sectarismo - mas pretende que, para continuarem boas, não estacionem nos estágios inferiores, já superados pela evolução humana.
Justamente por isso, o Espiritismo se apresenta, aos espíritos formalistas e sectários, como um adversário perigoso, que parece querer infiltrar-se nas estruturas religiosas e miná-las para destruí-las. Era o que parecia o Cristianismo primitivo, para os judeus, gregos e romanos. Não obstante, os ensinos de Jesus não visavam à destruição, mas ao esclarecimento e à libertação do pensamento religioso da época. Podem alegar os religiosos atuais que os espíritas os combatem, às vezes com violência. O mesmo faziam os cristãos primitivos, em relação às religiões antigas. Mas essa atitude agressiva não decorre dos princípios doutrinários, e sim das circunstâncias sociais em que se encontram os inovadores, diante da tradição. Por outro lado, é preciso considerar que a agressividade das religiões para com o Espiritismo é uma constante histórica, determinada pela própria natureza social das religiões organizadas ou positivas. Nada mais compreensível que o revide dos espíritas, quando ainda não suficientemente integrados nos seus próprios princípios.
No capítulo segundo da terceira parte de O Livro dos Espíritos, item 653, temos a explicação e a justificação da existência das religiões formalistas. Kardec estuda, através de perguntas aos Espíritos, a lei da adoração, que é o fundamento e a razão de ser de todo o processo religioso. Desse diálogo resulta a posição espírita bem definida: "A verdadeira adoração é a do coração." Não obstante, a adoração exterior, através do culto religioso, por mais complicado e material que este se apresente, desde que praticada com sinceridade, corresponde a uma necessidade evolutiva dos espíritos a ela afeiçoados. Negar a esses espíritos a possibilidade de praticarem a adoração exterior, seria tão prejudicial, quanto admitir que os espíritos que já superaram essa fase continuassem apegados a cultos materiais. A cada qual, segundo as suas condições evolutivas.
O princípio da tolerância substitui, portanto, no Espiritismo, o sistema de intolerância que marca estranhamente a tradição religiosa. As religiões, pregando o amor, promoveram a discórdia. Ainda hoje podemos sentir a agressividade do chamado espírito-religioso, na intolerância fanática das condenações religiosas. Por isso, Kardec, esclareceu em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que o princípio religioso da doutrina não era o de salvação pela fé, e nem mesmo pela verdade, mas pela caridade. A fé é sempre interpretada de maneira particular, como a dogmática de determinada igreja a apresenta. A verdade é sempre condicionada às interpretações sectárias. Mas a caridade, no seu mais amplo sentido, como a fórmula do amor ao próximo ensinada pelo Cristo, supera todas as limitações formais. A salvação espírita não está na adesão a princípios e sistemas, mas na prática do amor.

J.Herculano Pires

25 outubro 2009

ENTREVISTA COM AMIT GOSWAMI

Amit Goswami, físico, doutorado em física nuclear, nasceu na Índia, filho de um guru hinduísta. Foi pesquisador e professor titular de fisica teórica da Universidade de Oregon, nos EUA, por 32 anos a partir de 1968. Após um período de crise na carreira, mudou seu foco de pesquisa para cosmologia quântica e aplicações da mecânica quântica ao problema da relação mente-corpo. Publicou o polêmico livro A Física da Alma. Alia em seu trabalho o conhecimento de tradições místicas com exploração científica, buscando unificar espiritualidade e física quântica. Participou do filme chamado Quem somos nós? (What The Bleep Do We Know? em inglês) e que se tornou sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, sendo também muito difundido em DVD no Brasil. É também autor de outros livros traduzidos para o português como A Janela Visionária, O Médico quântico, e O Universo Autoconsciente.

POEMA DA ÉTICA

Que as religiões ajudem a construir pessoas cada vez mais éticas, pois esse talvez seja o caminho para o "paraíso".

24 outubro 2009

SÓRDIDOS PORÕES

A civilização dita cristã no ocidente ainda não compreendeu que Jesus é o exemplo da centralidade mais admirável que se conhece. Em todo o Seu ministério jamais houve lugar para a exclusão, para a exceção. Ele sempre se caracterizou pela proposta de solidariedade humana e pela igualdade dos direitos humanos.
A Sua mensagem renovadora tem uma direção certa: a transformação moral da criatura para melhor, sempre e incessantemente. Nesse sentido, ninguém se pode considerar indene ao crescimento interior ou excluído da oportunidade.
Jamais o Mestre preferiu aquele que tem mais ou que pensa ser mais, preterindo aqueloutros detestados, marginalizados, esquecidos.
À semelhança dos profetas antigos Ele veio resgatar os mais sofridos, os mais perseguidos, os mais desesperados. Não há lugar em Sua palavra para qualquer tipo de preconceito. Ele próprio pertenceu a um lugar de excluídos, conforme anotou João no comentário feito por Natanael, quando convidado por Filipe para conhecê-lO: - Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? (Jo. I-46).
Não poucas vezes Ele sofreu o opróbrio, a humilhação, o acinte, a perseguição sistemática.
Conhecendo, portanto, a hediondez da perversidade e injustiça humana, Ele colocou no centro aqueles que são empurrados para a periferia, para a marginalidade, fazendo com eles um pacto de amor. É esse amor que viceja em toda a mensagem neotestamentária, renovando as esperanças do mundo e apontando um rumo de segurança onde predomine a vera fraternidade.
Os indivíduos que se apresentam como sendo mais poderosos, mais possuidores, também não foram rejeitados, porquanto Ele sabia que esses, igualmente são infelizes, refugiando-se no terror, na opressão, na vingança, na exploração do seu próximo, através de cujos artifícios se sentem seguros nos tronos de mentira em que se sentam.
Os opressores, os perseguidores, são pessoas que perderam a direção de si mesmos, tornando os corações empedrados, por não se permitirem a doçura que tanto desejam e de que sentem irresistível falta. Invejam-na em quem a tem, e por isso, através da projeção do seu conflito, perseguem-no implacavelmente, com violência, como se a houvessem roubado do seu sacrário íntimo.
Jesus respeitou todas as vidas, concedendo o direito de cidadania igualitária a todos quantos adotassem o reino de Deus e se empenhassem pelo conseguir.
Os modernos cristãos, conforme ocorreu com muitos outros no passado, não compreenderam esse ensinamento, que registraram no cérebro, mas não insculpiram nos sentimentos. São capazes de abordar o tema da solidariedade com lágrimas, no entanto, não saem do pedestal em que se encastelam, para proporcionar centralidade ao seu próximo, arrancando-o da periferia marginalizadora.
*
Não obstante as gloriosas conquistas culturais, científicas e tecnológicas, o ser humano ainda mantém o seu próximo em muitos porões de exclusão, que são habitados pelos que se fizeram ou foram tornados marginais: crianças que se prostituem por imposição da crueldade moral, geradora da miséria sócio-econômica, pela escravidão do indivíduo que não tem escolha e perdeu a liberdade de decisão e de movimento, e os que vivem nas ruas do mundo, desconsiderados e sem quaisquer direitos, perfeitamente descartáveis pela sociedade hedonista.
Suas dores, suas necessidades são propositalmente ignoradas, e não raro, tidos como lixo social, são assassinados, exilados, expulsos dos seus guetos, porque enxovalham a sociedade que os excluiu.
Trata-se de hediondez da modernidade, que somente pensa no crescimento horizontal do seu poder e da sua libertinagem, esquecendo-se do ser humano em si mesmo, que é o grande investimento da vida.
Nesse lixo social, encontram-se também muitas jóias perdidas: homens e mulheres de bem e de valor, que derraparam nas ruelas da existência e não tiveram resistência para enfrentar e vencer as vicissitudes, enveredando pelo alcoolismo, pela toxicomania, pela perversão de conduta nos vícios sexuais, vivendo nos escuros porões que lhes servem de refúgio.
Perdida a dignidade humana, eles relutam para permanecer nesses sítios de vergonha e sombras, sendo denominados como criminosos, mesmo que crime algum hajam cometido.
Rotulados de lixo, criminosos, excluídos, gentalha, perdem a identidade e não se encorajam a recuperar a sua humanidade, que lhe foi tirada e nunca devolvida.
Afirma-se que esses irmãos da agonia se recusam a sair dos porões onde se encontram, e que, ao serem retirados, fogem de retorno aos mesmos lugares onde se entregam aos disparates da vergonha moral. Talvez tenham razão com a exceção, jamais com a totalidade.
Ocorre, muitas vezes, que se encontram enfermos, sem autoconfiança, sem nenhuma auto-estima, e autopunem-se, após haverem sido torturados, estuprados, pervertidos. A sua terapia de recuperação é lenta, quanto o foi a imposição da degradação, da perda de sentido existencial.
É impressionante observar como poucos cristãos dão-se conta do que está ocorrendo a sua volta e poderá atingir o seu castelo de refúgio e de ilusão. Mesmo quando vêm à superfície as denúncias contra a dignidade violada do seu próximo e ele aparece como fantasma apavorante, esses cristãos cerram os olhos para não o ver e tapam os ouvidos, a fim de não escutar o clamor da sua voz, porque isso os perturba e inquieta, tirando-lhes alguns momentos de sono ou de excesso de alimentos.
...E confessam a crença em Deus, a Quem dizem amar, em Jesus, que tomam por modelo teórico, mas não lhe seguem os ensinamentos libertadores.
Perfumados e bem vestidos evitam o contato com eles, nunca se permitem ir aos porões, temem-nos e abandonam-nos, quando os deveria visitar e amar, procurando conviver com eles, trazendo-os à luz do dia da compreensão de todos.
Eles ficam nos seus porões e os cristãos nos seus esconderijos de luxo e de proteção com medo deles, aqueles a quem Jesus procurou trazer para o centro, retirando-os do abismo escuro em que se refugiavam.
*
Felizmente, nem todos os cristãos se escondem do seu próximo retido nos porões. Eles denunciam a sua existência, tentam arrancá-los dos sórdidos lugares onde jazem, esquecidos e perseguidos, recordando-se de Jesus, e imitando-O.
Raia uma luz na treva em favor dos excluídos, ainda muito débil é certo, mas que se expandirá como o rosto brilhante da manhã após a noite renitente, que vai devorada pela claridade.
O novo Cristianismo propõe que se acabem com os porões, que se recicle o lixo social mediante os mecanismos do amor, que se traga para o centro da comunidade todos aqueles que têm sido excluídos, de forma que a sociedade se torne verdadeiramente digna do Mestre e Senhor, que é Modelo e Guia para todos através dos evos...

Joanna de Ângelis (espírito)
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 13 de julho de 2000, em Paramirim, Bahia).

22 outubro 2009

EVOLUÇÃO E DESTINO

O mal está determinado no conteúdo do nosso destino?
Ninguém nasce destinado ao mal, porque semelhante disposição derrogaria os fundamentos do Bem Eterno sobre os quais se levanta a Obra de Deus.O Espírito renascente no berço terrestre traz consigo a provação expiatória a que deve ser conduzido ou a tarefa redentora que ele próprio escolheu, de conformidade com os débitos contraídos.Prevalece aí o mesmo princípio que vige para as sociedades terrestres, pelo qual, se o homem é malfeitor confesso, deve ser segregado em estabelecimento correcional adequado para a reeducação precisa, e, se é apenas aprendiz no campo da experiência, com dívidas e créditos, sem falta grave a resgatar, é justo possa pedir às autoridades superiores, que lhe presidem os movimentos, o gênero de trabalho ou de luta em que se sinta mais apto ao serviço de auto-aperfeiçoamento. Entendamos, porém, que, se perpetrou delito passível de dolorosa punição, não é ele internado na penitenciária ou no trabalho reparador para que se desmande, deliberadamente, em delitos maiores, o que apenas lhe agravaria as culpas já formadas perante a Lei.É natural que o devedor, nessa ou naquela forma de resgate, venha a sofrer fortes impulsos a recidivas no erro em que faliu, tanto maiores quão mais extenso lhe tenham sido o transviamento moral; entretanto, a provação deve ser assimilada como recurso de emenda, nunca por válvula de expansão das dívidas assumidas.Desse modo, ninguém recebe do Plano Superior a determinação de ser relapso ou vicioso, madraço ou delinqüente, com passagem justificada no latrocínio ou na dipsomania, no meretrício ou na ociosidade, no homicídio ou no suicídio. Padecemos, sim, nesse ou naquele setor da vida, durante a recapitulação de nossas próprias experiências, o impulso de enveredar por esse ou aquele caminho menos digno, mas isso constitui a influência de nosso passado em nós, instilando-nos a tentação, originariamente toda nossa, de tornar a ser o que já fomos, em contraposição ao que devemos ser.
Qual a relação percentual de tempo existente entre os estágios que o Espírito de elevação mediana vive como encarnado e como desencarnado?
A percentagem de tempo no plano espiritual para as criaturas de elevação mediana varia com o grau de aproveitamento de tempo no estágio recente que desfrutaram no corpo físico.Quão mais vasta a provisão de conhecimento e maior a aquisição de virtudes, por parte do Espírito, mais largo período desfruta na Esfera Superior para obtenção de mais nobres recursos para mais alta ascensão.
Poderíamos identificar algum elo da evolução que existe no Plano Extrafísico e que é desconhecido na Terra?
Além do plano físico, a investigação humana encontrará material valioso de observação para elucidar os variados problemas concernentes à evolução do ser.
Ainda na atualidade, os Instrutores Espirituais intervém na melhoria das formas evolutivas inferiores nas quais o princípio inteligente estagia?
Sim, porque todos os campos da Natureza contam com agentes da Sabedoria Divina para a formação e expansão dos valores evolutivos.
Dentre todos os animais superiores, abaixo do homem, qual é o detentor de mais dilatas ideias-fragmentos?
O assunto demanda longo estudo técnico na esfera da evolução, porque há ideias-fragmentos de determinado sentido mais avançados em certos animais que em outros. Ainda assim, nomearemos o cão e o macaco, o gato e o elefante, o muar e o cavalo como elementos de vossa experiência usual mais amplamente dotados de riqueza mental, como introdução ao pensamento contínuo.

(Evolução em Dois Mundos, cap. XVIII, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

21 outubro 2009

ENTREVISTA COM DIVALDO PEREIRA FRANCO

A respeito do Movimento Espírita

01. É correto, em nome da caridade, erguerem-se instituições de amparo e socorro a necessitados de ordem material, sem recursos que as possam devidamente sustentar, optando na continuidade por leilões, bingos, quermesses e loterias para sua manutenção?
Parece-me que o momento atual convida-nos, aos espíritas, para uma atividade mais profunda em torno do conceito da caridade, que é a busca dos meios capazes de exterminar as causas geradoras da miséria econômica, decorrente do egoísmo, das injustiças sociais. A educação das novas gerações apresenta-se-nos como de caráter urgente, a fim de que o futuro possa caracterizar-se pela ausência dessa terrível chaga moral da Humanidade.
Assim pensando, não me parece justo que sejam erguidas novas Instituições sem que possuam o respaldo dos recursos financeiros para levá-las adiante, recorrendo-se a expedientes perturbadores, quais sejam: o bingo, as rifas, os leilões, as quermesses e as loterias, que são disfarces que escondem os denominados "jogos de azar" de nefastas conseqüências.
Seria ideal que os interessados em servir, apoiassem as Instituições existentes, que lutam com muitas dificuldades para se manterem, evitando que novas frentes de socorro se apresentem impossibilitadas de seguir adiante.
02. Os companheiros que compomos as equipes de trabalho no Movimento Espírita, traçamos as linhas mestras de tal encontro e tal tarefa, na Espiritualidade?
Quando estamos preparando-nos para a reencarnação e temos consciência das responsabilidades que pesarão sobre os nossos ombros, face às maravilhosas possibilidades de auto-soerguimento, elegemos algumas das tarefas que gostaríamos de executar na Terra, por serem mais compatíveis com o nosso temperamento e estrutura espiritual. Noutras vezes, mais raramente, somos convidados pelos Mentores espirituais a desenvolvermos labores que nos serão valiosos recursos de crescimento interior, enquanto contribuiremos para o processo de aceleração do progresso da Humanidade.
03. Temos observado um crescente número de obras mediúnicas portarem nomes veneráveis nos campos do bem, da ciência e das artes. Quando tais obras se situam muito aquém do que produziram quando encarnados aquelas personalidades, você tem registros de como encaram essa má utilização dos seus nomes os espíritos?
Allan Kardec, com a sua sobriedade e sabedoria, advertiu-nos a todos quanto às mistificações dos Espíritos zombeteiros e perturbadores, mas também, a respeito dos médiuns inescrupulosos e levianos, que trabalham em favor do próprio ego, abordando as conseqüências de uma como de outra atitude. Não obstante, vemos com muita freqüência a repetição de comportamentos incompatíveis com as diretrizes da Doutrina, no campo da mediunidade, mais particularmente da publicação de Obras (livros, peças de teatro, pinturas e músicas), que são firmadas por nomes respeitáveis e nobres, apresentando qualidade muito inferior ao que esses Autores produziram quando reencarnados anteriormente.
É natural que esses Espíritos se sintam constrangidos com a ocorrência, lamentando a insensatez de que são tomados os indivíduos que lhes utilizam a memória indevidamente, mas não se afligem, porque reconhecem que a responsabilidade é de cada qual, deixando os irresponsáveis semeando o futuro que os aguarda...
04. A literatura mediúnica mais recente tem trazido ao conhecimento do público histórias e relatos de pessoas que nos foram contemporâneas, detalhando suas experiências post mortem e suas tarefas assumidas na Espiritualidade, na sequência. Tal postura não pode ser prejudicial, criando oportunidades de endeusamentos?
Uma das características mais marcantes do ser evoluído é a humildade, que se revela através da discrição em torno de si mesmo, e de acontecimentos nos quais foram envolvidos, evitando evocá-los com objetivos de autopromoção e de vaidade, que prosseguem lutando para desses vícios morais despojar-se totalmente.
Se examinarmos os romances biográficos escritos por nobres Espíritos, como Emmanuel, Victor Hugo, Rochester, Charles, através de médiuns seguros, encontraremos relatos de alguma das suas experiências passadas, convidando, porém, os leitores a reflexões acuradas, a fim de que se dêem conta do que lhes aconteceram, evitando que o mesmo lhes suceda.
05. No mundo espiritual, quanto na Terra, existe um Movimento Espírita Jovem, permitindo que os jovens desencarnados prossigam em labores ou os espíritos optam por tarefas, independentemente do período que foram colhidos pela desencarnação?
Existe, sim, no mundo espiritual, um Movimento Espírita Jovem, que recebe aqueles que desencarnam em nossas fileiras ainda na quadra juvenil, estimulando-os ao prosseguimento do bom combate e preparando-os para futuros renascimentos. Quando porém, se trata de Espíritos mais elevados, transcorrido algum tempo após a desencarnação, eles reassumem a postura que independe de faixa etária e se integram nas atividades gerais do processo de evolução desenhado para o planeta terrestre assim como para eles mesmos.

(Jornal Mundo Espírita )


16 outubro 2009

A CIÊNCIA ADMIRÁVEL

1. OS CAMINHOS DA CIÊNCIA - Assim como a religião pode ser de natureza dedutiva ou indutiva, também a ciência pode seguir um desses caminhos. As ciências da antigüidade podem ser consideradas de natureza dedutiva. Partiam de princípios gerais, de ensinos tradicionais, para aplicações dedutivas a casos particulares. O exemplo mais esclarecedor deste tipo de ciência é o que nos oferece o princípio teológico da "ciência infusa", que é recebida sem aprendiizagem. Adão, o "primeiro homem", a teria recebido, e também Jesus Cristo, como homem a possuía sem ter estudado. Ciência revelada, que vem do Alto, inspiração divina, que o homem recebe e aplica às coisas da terra.
A tradição escolástica medieval é o exemplo clássico da ciência dedutiva, aristotélica, contra a qual se processou a revolução indutiva de Francis Bacon e a revolução racionalista de René Descartes. A experiência baconiana e a razão cartesiana representam as duas reações contra a autoridade da Mística e da Tradição, despertando o homem para a necessidade de verificar a exatidão e a segurança de seus pretensos conhecimentos. Dois poderes foram postos em choque, de maneira definitiva, por essas duas formas de reação: o poder da Mística Oriental, que se apresentava como revelação divina, e o poder da Tradição Aristotélica, que se definia como sujeição da razão humana àquela revelação.
A partir daquilo que podemos chamar "a revolução metódica", ou ainda "a revolução do método"- pois tanto Bacon quanto Descartes partiram da necessidade de um método para a conquista do conhecimento verdadeiro - os caminhos da ciência foram modificados. Já não bastavam a sanção das antigas escrituras sagradas, dos livros de Aristóteles ou da tradição cultural, para que a ciência se impusesse e pudesse ser transmitida como verdade. Cabia ao homem equacionar de novo os velhos problemas, para encontrar as soluções mais seguras. Já vimos o que isso representa, no processo geral da evolução humana. Mas o que agora nos importa é colocar nesse quadro o problema da ciência espírita.
Tomemos para exemplo a classificação das ciências, de Augusto Comte, que data da época de Kardec. Vemos que ela se constitui de seis ciências, correspondentes às fases da evolução fixadas na lei dos três estados. São as seguintes: 1) a Matemática, de tipo dedutivo, a mais antiga e mais simples, ao mesmo tempo a mais abstrata; 2) a Astronomia, que não poderia aparecer sem o desenvolvimento da matemática; 3) a Física, que decorre da existência das duas anteriores, e que embora tendo por objeto o concreto, depende dos conceitos abstratos da matemática; 4) a química, que não poderia existir sem o aparecimento das anteriores; 5) a Biologia, que parece nascer diretamente das duas últimas: 6) a Sociologia, que é ao mesmo tempo uma física, uma química e uma biologia social, e por isso mesmo a mais complexa e a mais recente das ciências.
Para Comte, não existia a Psicologia, uma vez que a alma se explicava como simples conseqüência do dinamismo orgânico. A Sociologia, rainha das ciências, representava o acabamento do edifício do saber. Não obstante, no volume quarto da "Revue Spirite", de abril de 1858, Kardec publica, precedido de breve comentário, interessante trecho da carta que lhe dirigira um leitor perguntando-lhe se um novo período não estava surgindo para as ciências, com a investigação dos fenômenos espíritas. Kardec concorda com o missivista, admitindo que o Espiritismo iniciou o "período psicológico". Podemos dizer que a visão comteana do desenvolvimento científico limitou-se ao plano existencial, e, portanto do concreto, do material. Da Matemática à Sociologia, tudo se passa no campo das leis físicas, materiais. Daí a razão porque Comte não admitia a Psicologia, pois esta, na verdade, nada mais era que o estudo de um epifenômeno: o conjunto de reações orgânicas da matéria.
Ao referir-se a um "período psicológico", que se iniciava com o Espiritismo, Kardec acentuou a importância moral do mesmo. O homem se destacava da matéria, libertava-se da estrutura fatalista das leis físicas, para recuperar, no próprio desenvolvimento das ciências, a sua natureza extrafísica. Convém lembrarmos a "lei dos três estados", que o Espiritismo modifica para "lei dos quatro estados". Segundo o Positivismo, a evolução humana teria sido realizada através de três fases: a teológica, a metafísica e a positiva, sendo que a primeira corresponderia a mentalidade mitológica; a Segunda, a do desenvolvimento do pensamento abstrato; a terceira, a do desenvolvimento das ciências. Já estudamos essas fases na seqüência dos horizontes culturais. Kardec acrescenta a fase psicológica, em que as ciências se abrem para a descoberta e a afirmação do psiquismo como fenômeno (e não mais como simples epifenômeno), reconhecendo-lhe a autonomia e a realidade positiva, verificável, susceptível de comprovação experimental.
Vemos a confirmação desse pensamento de Kardec ao longo de toda a sua obra. O Espiritismo é apresentado como ciência, porque, explica o mestre em A Gênese, capítulo primeiro: "Como meio de elaboração, o espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, aplicando o método experimental." E logo mais, no mesmo período, item 14: "As ciências só fizeram progressos importantes depois que basearam os seus estudos no método experimental. Até então, acreditava-se que esse método só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas." Essa posição de Kardec está hoje confirmada pelo desenvolvimento da Parapsicologia, a primeira ciência positiva, segundo afirmava o Prof. Joseph Banks Rhine, da Duke University, EE.UU., cognominado "Pai da Parapsicologia", a romper os limites da concepção física do Universo e a provar a existência do extrafísico. Como se o Espiritismo já não o tivesse feito.
Com o espiritismo, portanto, a ciência mais complexa, a da alma, que Augusto Comte não considerava possível, abandonou também o caminho das deduções, como o fizeram as anteriores, para entrar no caminho das induções. É da observação dos fatos positivos que o Espiritismo parte para a comprovação da realidade extrafísica. Kardec ainda afirma, no mesmo período citado: "Não foram os fatos que confirmaram, a posteriori, a teoria, mas a teoria que veio, subseqüentemente, explicar e resumir os fatos."
2. DUALIDADE NA UNIDADE - Chegamos assim a uma constatação curiosa: o desenvolvimento científico leva as próprias ciências à dicotomia que elas insistentemente rejeitam. A dualidade cartesiana, hoje considerada herética, tanto nas ciências quanto na filosofia volta a se impor, no momento mesmo em que as ciências parecem dominar soberanamente o mundo do conhecimento. Quando a realidade extrafísica era mais fortemente repudiada, para sustentar-se, como base única da certeza do conhecimento e da segurança do homem, apenas a realidade física, eis que esta desmorona, ao impacto das investigações parapsicológicas, que nada mais são do que o desenvolvimento, no plano material, das pesquisas espíritas e metapsíquicas.
Mas além desse impacto, outro ainda mais forte vem atingir a sólida muralha dos conceitos físicos: a própria Física, para progredir, se desfaz em Energética. O desenvolvimento da Física Nuclear nada mais é do que a negação da matéria, segundo as próprias expressões de Albert Einstein, Arthur Compton, e outros físico eminente. Assim, em dois sentidos diversos: nas ciências do homem e nas ciências da natureza, o Materialismo e o Positivismo se desfazem, como simples miragens científicas. E, em lugar de ambos, impõe-se a realidade da Ciência Espírita.
Kardec afirmou, há mais de cem anos, em O Livro dos Espíritos, com a serenidade do homem que realmente sabia o que estava escrevendo: "O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual, bem como as suas relações com o mundo corpóreo." Vemos isso no item 5° do capítulo 10, do livro citado. E logo mais, no item 8°, acentuou: "A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana. Uma revela as leis do mundo material, e a outra as do mundo moral, tendo, no entanto, umas e outras, o mesmo princípio: Deus; razão porque não podem contradizer-se".
Como Ciência nova, última da escala das ciências, o Espiritismo abre uma nova era na história do conhecimento. E como todas as eras novas, esta se apresenta confusa, aparentemente cheia de contradições. A primeira e a mais forte dessas contradições, a que mais perturba os homens de ciência, é precisamente a da dicotomia a que já nos referimos. Como admitir-se depois dos próprios esforços de Einstein para provar a unidade das leis naturais, através de sua teoria do campo unificado, a dualidade que ora se apresenta? Temos então dois campos: um físico e outro extrafísico; e consequentemente duas formas de ciência, as físicas e as não físicas? Voltamos à dualidade cartesiana, ou o que parece ainda pior, à dualidade primitiva das superstições tribais ou do período metafísico?
Kardec explica, nos capítulos VII e VIII da "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita", que a ciência propriamente dita, ou seja, as chamadas ciências positivas, tem por objeto a matéria. O Espiritismo, entretanto, tem por objeto o Espírito, ou princípio inteligente do Universo". E acrescenta: "A ciência propriamente dita, como ciência é, portanto, incompetente para se pronunciar a respeito da questão do Espiritismo: não lhe compete ocupar-se do assunto, e o julgamento, qualquer que ele seja, favorável ou não, não teria nenhuma importância".
É que, enquanto o Espiritismo é uma forma de concepção geral do Universo e da Vida, as ciências não podem abranger o conjunto. Que fazem elas, senão enfrentar os problemas concernentes ao plano existencial? Quando estamos nesse plano, encarado apenas como o da realidade física, não percebemos o outro. Aliás, a própria fragmentação da Ciência, em tantas ciências quanto os campos específicos que tiveram de enfrentar, obrigou-as a buscar uma forma de reunificação no plano filosófico, com a Filosofia das Ciências. Não é esta, também, uma forma de volta à Metafísica, embora com os dados da Física? A dicotomia, como se vê, é um fantasma permanente, que nenhum exorcismo científico conseguiu afastar.
Os esforços do Reflexiologismo russo e do Condutismo norte-americano em Psicologia, para reduzirem o psiquismo a um simples epifenômeno, foram superados violentamente pelo desenvolvimento da Psicanálise e do que hoje denominamos Psicologia Profunda. Os esforços da Física, para dominar todo o campo das ciência, naturais e humanas, foram inúteis, quando ela mesma superou os seus próprios quadros, revelando a inexistência da matéria como tal. Mas essa mesma revelação, que para as ciências positivas parece um golpe de morte, para o Espiritismo não é mais do que a confirmação da unidade na dualidade, que ele sustentou desde o princípio. Não há dualidade, mas multiplicidade, pluralismo, uma riqueza infinita e inconcebível de planos de manifestação, mas esta manifestação é a de uma realidade única, a espiritual, princípio e fundamento de tudo. Por isso, Kardec advertiu que a Ciência e a Religião tem um mesmo princípio e não podem contradizer-se.
Compreendendo essa verdade, mas em plena era metafísica a Escolástica medieval quis subordinar a revelação científica, então entendida como filosófica, à dogmática teológica. Não sendo possível nem admissível a contradição, a ciência humana tinha de servir à ciência divina, e a filosofia devia conservar-se na posição de serva da teologia. Basta pensarmos na divisão do conhecimento humano, feita por Santo Agostinho, em "iluminação" e "experiência", para entendermos a subordinação lógica da razão à revelação. Mas Kardec demostra a existência de duas formas de revelação: a divina e a humana, ambas conjugadas num mesmo processo cognitivo. A raiz, aliás, se mostra no próprio plano etimológico: revelar é apenas por às claras o que estava oculto, e isso, tanto no referente às coisas materiais, quanto às espirituais. Ainda aqui, a dualidade na unidade.
Mas nem por isso podemos deixar de respeitar a dualidade como uma realidade que se impõe à condição humana. E assim como, nas próprias ciências positivas, encontramos a multiplicidade de objetos e métodos - não apenas dualidade, mas multiplicidade - assim também, no tocante ao Espiritismo, como ciência do espiritual, e às ciências positivas, como ciências do material, temos de considerar a necessidade de métodos diferentes, para objetos diversos. É o problema da moderna ontologia do objeto. Da mesma maneira por que os métodos da experimentação física não serviram à pesquisa psicológica ou sociológica, os métodos cientifico positivos são insuficientes para a investigação espírita. A ciência espírita tem os seus próprios métodos. E tanto isso é necessário e cientificamente válido, que, atualmente, a Física se desdobra em Física Nuclear ou Para-Física, e a Psicologia em Parapsicologia.
3. ESPÍRITO E MATÉRIA - A ciência espírita não procede por exclusão, mas procura a síntese. As ciências positivas, até agora, procederam por exclusão. Não podendo admitir a existência do espírito, deixaram-no à margem das suas cogitações, e acabaram por tentar excluí-lo definitivamente da realidade universal. Apesar disso, tiveram sempre de admiti-lo, na forma de um epifenômeno. Não era possível negar a evidência do espírito, tanto no processo individual da manifestação humana, quanto no processo coletivo, da vida social. Daí o aparecimento da Psicologia, que os mais renitentes materialistas procuraram reduzir à Fisiologia, e o aparecimento da Sociologia, que acabou exigindo a formulação de uma Para-Sociologia, com a Psicologia Social.
Espírito e matéria, como sustenta a ciência espírita, são duas constantes da realidade universal. Por isso, Kardec declara no item 16 do capítulo primeiro de A Gênese: "O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente. A Ciência, sem o Espiritismo, não pode explicar certos fenômenos, somente pelas leis da matéria. O Espiritismo, sem a Ciência, careceria de apoio e confirmação." Ao fazer essa declaração, Kardec teve em mira o pensamento positivo e a possibilidade de comprovar-se a existência do espírito através dos fenômenos físicos.
Seria possível essa comprovação? Tanto o Espiritismo, como a Ciência Psíquica inglesa e Metapsíquica de Richet já o demonstraram, no século passado. Hoje, coube à Parapsicologia reafirmar aquelas demonstrações e procurar aprofundá-las, dentro das próprias exigências metodológicas das ciências positivas. Que estas exigências não se adaptam à natureza diversa do objeto, como dizia Kardec, também se comprova. As investigações parapsicológicas apenas arranham o litoral do imenso continente do espírito, e a todo momento se emaranham em dúvidas e controvérsias. Mas o espírito se afirma, independentemente das interpretações diversas, como uma realidade fenomênica.
Parece haver uma contradição nessa curiosa posição da fenomenologia paranormal. Mas a contradição decorre apenas da posição mental dos pesquisadores. Porque, se a realidade se constitui de espírito e matéria, e se o espírito se manifesta no existencial através da matéria, a própria realidade nada mais é do que uma manifestação paranormal. Tudo quanto existe é fenômeno, mas o é em função do número kantiano, da essência espiritual que se manifesta na existência. Dizer, pois, que o Espiritismo, em vez de espiritualizar os homens, materializa espíritos, é simplesmente sofismar. Não se pode espiritualizar os homens sem lhes dar a consciência de sua natureza espiritual, não através de uma imposição dogmática, hoje inadequada e perigosa, - que leva a maioria das pessoas à dúvida ou ao ceticismo - mas através da prova científica.
Como ciência do espírito, e portanto do elemento espiritual constitutivo do Universo, o Espiritismo procede de maneira analítica, no plano fenomênico. Mas, ao se elevar às conclusões indutivas, atinge, natural e fatalmente, o plano da síntese. É esse o motivo porque Richet considerou Kardec excessivamente crente, ingênuo, precipitado. Para o fisiologista que era Richet, a síntese das verificações fenomênicas não poderia jamais superar o plano da realidade fisiológica. Teria de ser uma síntese parcial, uma conclusão tirada apenas dos dados positivos, que no caso seriam os dados materiais da investigação. Para o espírita Kardec, dava-se exatamente o contrário. A síntese tinha de ser completa, uma vez que os dados materiais revelavam a presença do espiritual, a sua manifestação.
Impõe-se, neste caso, a observação de Descartes, de que é mais fácil conhecermos o nosso espírito do que o nosso corpo. A realidade espiritual nos é mais acessível, porque é a da nossa própria natureza. A realidade material é-nos estranha e quase inacessível. Quando o cientista da matéria observa os fenômenos, procurando explicações no plano dos seus conceitos habituais, acaba emaranhando-se nas dúvidas e perplexidades que aturdiram tantos investigadores. Quando, porém, como no caso de William Crookes ou Alfred Russell Wallace, o cientista da matéria não se esquece da sua natureza espiritual, a realidade transparece nos dados materiais da investigação.
Nosso conhecimento das coisas materiais é extremamente mutável, em virtude da própria natureza mutável dessas coisas. Mas nosso conhecimento de nós mesmos, ou das coisas espirituais, é estável, e podemos mesmo considerá-lo imutável. Por que esse conhecimento nos é dado por intuição direta, por uma percepção que coincide com a própria natureza do percipiente. Sujeito e objeto se confundem no processo da relação cognitiva. Tocamos de novo o problema que dividiu os filósofos jônicos e eleatas, na Grécia clássica: a realidade móvel de Heráclito e a estável de Zenon. O que nos mostra, mais uma vez, a acuidade intuitiva dos gregos, pois os dois aspectos universais continuam a aturdir-nos.
Certas pessoas querem negar a natureza científica do Espiritismo, por considerarem a "crença" espiritual uma simples superstição. Alegam que desde as eras mais remotas os homens acreditaram em espíritos. Mas não é o fato de sempre haverem acreditado o que importa, e sim o fato das próprias investigações científicas modernas confirmarem essa crença. Enquanto, por exemplo, a concepção geocêntrica do universo, tão arraigada, teve de modificar-se, diante da evidência científica, a concepção espiritual do homem, pelo contrário, mostrar-se irredutível. A ciência espírita só tem motivos para firmar-se nos seus conceitos, e não para ceder aos conceitos mutáveis das ciências materiais.
4. SEMENTES DE FOGO - Podemos dizer, diante da validade dos princípios espirituais, afirmados e reafirmados através do tempo, como dizia Descartes: "temos em nós sementes de ciências, como o sílex tem sementes de fogo". Kardec citou, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Sócrates e Platão como precursores da Doutrina. Essa citação não nos impede, pelo contrário nos estimula, a verificar a existência de outros precursores no campo da ciência e da filosofia, antigas e modernas. Entre eles, não há dúvida que devemos colocar René Descartes, na própria França em que surgiria mais tarde o Consolador.
Na noite de 10 para 11 de novembro de 1619, Descartes, então jovem soldado acampado em Ulm, na Alemanha, sentiu-se tomado por intensas agitações. Seu amigo, biógrafo e correspondente, o Abade Baillet, diria mais tarde que ele: "entregou-se a uma espécie de entusiasmo, dispondo de tal maneira do seu espírito já cansado, que o pôs em estado de receber as impressões dos sonhos e das visões". De fato, Descartes, que se preocupava demasiado com a incerteza dos conhecimentos humanos, transmitidos tradicionalmente, deitou-se para dormir e teve nada menos de três sonhos, que considerou bastante significativos. O mais curioso é que esses sonhos já lhe haviam sido preditos pelo Demônio, que à maneira do que se verificava com Sócrates, o advertia de coisas por acontecer.
A importância desses sonhos, como sempre acontece quando se trata de ocorrências paranormais, não foi até hoje apreciada pelos historiadores e pelos intérpretes do filósofo. Mas Descartes declarou que eles lhe haviam revelado "os fundamentos da ciência admirável", uma espécie de conhecimento universal, válido para todos os homens e em todos os tempos. Essa ciência não seria elaborada apenas por ele, pois tratava-se de "uma obra imensa, que não poderia ser feita por um só". Comentando o episódio, acentua Gilbert Mury "Esse homem voluntarioso e frio tem qualquer coisa de um profeta. Anuncia a Boa Nova. Escolheu a rota da sabedoria, e nela permanecerá."
Descartes sentiu-se de tal maneira empolgado pelos sonhos que acreditou haver sido inspirado pelo Espírito da Verdade. O Abade Baillet registra esse fato em sua biografia do filósofo. Foi tal a clareza da intuição recebida, em forma onírica, que Descartes se considerou capaz de pulverizar a velha e falsa ciência escolástica, que lhe haviam impingido desde criança. Pediu a Deus que o amparasse, que lhe desse forças para realizar a tarefa que lhe cabia, na grande obra a ser desenvolvida. Rogou a Deus que o confirmasse no propósito de elaborar um método seguro para a boa direção do espírito humano. E desse episódio originou-se toda a sua obra, que abriu os caminhos da ciência moderna.
Não tinha Descartes, nessa ocasião, mais do que 23 anos .
Julgou-se, por isso mesmo, demasiado jovem para tão grande e perigosa empreitada. Não obstante, como um verdadeiro vidente, empenhou, dali por diante, todos os seus esforços, no sentido de adquirir conhecimentos e condições para o trabalho entrevisto. E dezoito anos depois lançou o "Discurso do Método", que rasgaria os novos caminhos da ciência. Cauteloso, diante dos perigos que ameaçavam os pensadores livres da época, Descartes não deixou, entretanto, de cumprir o seu trabalho, que Espinosa prosseguiria mais tarde, e que mais tarde ainda se completaria com a dedicação de Kardec.
A epopéia do "cógito", realizada no silêncio da meditação é uma indicação de rumos à nova ciência. Descartes mergulhou em si mesmo, negando toda a realidade material, inclusive a do próprio corpo, na procura de alguma realidade positiva, que se afirmasse por si mesma, de maneira indubitável. Foi então que descobriu a realidade inegável do espírito, proclamando, no limiar da nova era: "Cógito, ergo sum", ou seja: "Penso, logo existo." E no mesmo instante em que reconheceu essa verdade, julgou-se isolado do universo, perdido em si mesmo. Só podia afirmar a sua própria existência. Nada mais sabia, nem podia saber.
A maneira por que Descartes retoma contato com a realidade exterior é outra indicação de rumos. Descobre no fundo do "cógito", no seu próprio pensamento, a realidade suprema de Deus. Essa descoberta lhe devolve o Universo perdido. O filósofo da negação se converte no cientista da afirmação. Deus existe e o Universo é real. Espinosa escreverá a "Ética", mais tarde, sua obra máxima, a partir de uma premissa fixada por Descartes: a existência de Deus. É fácil compreendermos que a ciência admirável tinha um fundamento sólido, poderoso e amplo, que a ciência materialista rejeitou posteriormente. Mas, depois disso, quando a ciência admirável conseguiu, apesar da repulsa dos homens, novamente firmar-se em França, o fez de braços abertos para todos os fragmentos em que se partira a ciência da matéria.
Este é um tema que os estudiosos do Espiritismo precisam desenvolver. Num curso de introdução doutrinária, é bom que o coloquemos, a título de orientação para os estudantes e de sugestão para as suas futuras investigações. A chamada revolução cartesiana foi precursora da revolução espírita. A ciência admirável de Descartes é a mesma ciência espiritual de Kardec, ainda em desenvolvimento, por muito tempo, em nosso planeta. J. Herculano Pires

15 outubro 2009

O ENSINO ESPÍRITA E O ESTÍMULO À LEITURA

A LEITURA COMO INSTRUMENTO DE ESTUDO
Para que o homem se aproprie de modo mais completo do patrimônio cultural constituído coletiva e historicamente necessita se instrumentalizar para proceder àquela apropriação. O domínio das diversas linguagens culturais é fundamental ao processo de socialização/ humanização/ iluminação humana, alargando vistas e descerrando possibilidades de integração/ ação/ crescimento no contexto em que o homem – ser imortal opera seu processo de aperfeiçoamento intelecto-moral.
Longe de invalidar o valor da oralidade no processo de transmissão/ assimilação do conteúdo doutrinário, o Espiritismo requer, para ser melhor conhecido e criticado, que o adepto ou estudioso se torne o leitor crítico. E isto a distingue de qualquer outra proposta de caráter religioso cuja característica primordial em sua quase totalidade tem sido a não aceitação da crítica racional.
Nesse sentido é que o Movimento Espírita através de suas bases, as casas espíritas, preocupa-se com o estudo e a divulgação doutrinária em especial através do livro, fato este registrado pela última pesquisa do IBGE que aponta como o maior leitor brasileiro, o espírita, em sua maioria quantitativa.
Ler não é apenas decodificar mas criar, produzir sentidos a partir da interação do leitor com o texto. O que faz o leitor no ato de ler? Que dispositivos e estratégias coloca em ação para atribuir sentido(s) ao texto? Ao ler de forma dinâmica – e não mecânica – o leitor de forma íntima e silenciosa, se orienta, imagina, cria, dialoga, recorda, projeta, evoca, conclui, numa atitude de interação com o texto.
Reconhecendo a excelência da afirmativa do Espírito de Verdade: "Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo", nós, os espíritas, temos atuado de modo significativo no estímulo à leitura e no estudo bem como no acesso à alfabetização e ao letramento daqueles a quem foi retirado o direito à escola e, conseqüentemente, ao domínio dos processos de leitura e escrita, essenciais para o acesso à cultura simbólica-escrita onde também se encontra a mensagem espiritista.

NECESSIDADE DO ESTUDO
A Doutrina Espírita exposta em suas bases nas obras da Codificação Kardequiana é doutrina que requer o estudo e a reflexão de todo aquele que a conhecer no seu tríplice aspecto de ciência, filosofia e religião.
Qualquer ciência requisita da parte daquele que pretenda dominar seus fundamentos um estudo sério, contínuo e aprofundado para que de fato haja a apropriação/ assimilação do conteúdo que lhe constitui o estatuto epistemológico.
Se isso ocorre em todas as áreas do conhecimento humano por que seria diferente com a Doutrina Espírita, doutrina eminentemente educativa que pretende proporcionar aos homens um novo olhar sobre a Vida, sua origem e destinação, as leis que a regem tanto no plano físico como no plano moral, sua vinculação com o chamado mundo dos mortos. "Instruí-vos...", recomenda o Espírito de Verdade corroborando o caráter educativo do Espiritismo.

Fonte: Jornal Mundo Espírita

13 outubro 2009

FÍSICA QUÂNTICA E ESPIRITALIDADE



O professor Laércio B. Fonseca, físico e especializado em astrofísica, acaba de concluir seu mais recente livro sobre ufologia: FÍSICA QUÂNTICA E ESPIRITUALIDADE. Essa obra contém uma análise extremamente científica dos fenômenos paranormais e espirituais. Utilizando as mais modernas teorias científicas da atualidade o professor desenvolve modelos, capaz de explicar com clareza esses fenômenos, bem como funcionam os mecanismos mediúnicos. Temos a certeza que esse livro trará para todos uma nova vertente de pesquisa e estudo bem como levando esses assuntos, pela primeira vez, a um status científico dessa natureza. O professor Laércio pretende demonstrar quantitativamente todas essas questões e abrir um campo, pela primeira vez, de se discutir espiritualidade dentro de parâmetros altamente técnicos e dentro de modelos científicos aceitáveis a toda ciência atual. Queremos inaugurar, com isso, uma nova fase da parapsicologia mundial que está sendo incorporada a ciência moderna. Essa Nova Ciência está fundamentada em uma corrente científica nos meios da física denominada NOVA FÍSICA. A Nova Física é uma vertente dentro da física atual que leva em consideração a consciência como parte integrante das teorias físicas, ou seja, é imprescindível que a vida, a consciência integre daqui para frente qualquer modelo científico para explicar qualquer fenômeno no universo.

11 outubro 2009

LICANTROPIA

Licantropia é uma palavra que têm origem num vocábulo grego composto de Lykos (lobo) e tropos (forma). Significa, segundo a crença popular, a transformação de um homem num lobo ou a metamorfose, de que determinados seres humanos se transformavam em lobisomem. Esta crença popular é antiga e teve sua origem na Idade Média, e segundo estudiosos está ligada diretamente a bruxarias. Existem alguns espiritualistas, que comprovada esta materialização de espíritos, em várias partes do mundo, experiências ou experimentações, já debatidas por alguns curiosos, é o que pode se chamar de um fenômeno ainda insuficiente esclarecido. Pode-se também classificar a idéia como lendas ou rumores. Supunha-se que esses lobos eram feiticeiras, possuídas do segredo de se transformarem em bestas, graças aos seus poderes mágicos. Milhares de pessoas, supostas de se entregarem a essas metamorfoses diabólicas, foram queimadas nesse período. Queimaram-se até mesmo alguns “espíritos mais fortes”, que se recusaram a aceitar a existência dos lobisomens como um tal Guilherme de Lure em Poitiers, na França, segundo relato do escritor francês Ruffat em La Superstition a travers lês ages (1977). Em 1573 um decreto do parlamento de Dôle na França, (região do Jura, (perto da fronteira com a Suíça) determinava que fossem abatidos os lobisomens. Claude Seignolle em Lês evangiles du Diable (1967) conta que no Perigord (perto de Burdeos) determinados homens, notadamente os filhos de padres, eram forçados, a cada lua cheia, a se transformarem em lobisomens. Era nessa noite que o mal os atingia. Eles só retornavam à forma humana depois de terem agredido ou assassinado suas vítimas. Existe alguma realidade nestes relatos? Seguramente a transformação do homem em lobo jamais existiu, mas temos fatos até recentes que nos oferecem certas explicações. O mais famoso licântropo de que temos referências históricas é o rei armênio Tiridat III (287- 330?), que foi curado pelo patriarca Gregório, o Iluminador. Mas escutemos a medicina atual).
Licantropia, ou Zoantropia, fenômeno de materialização do corpo astral ou perispiritual de determinadas pessoas, e que surge por desejo próprio ou sem desejo algum. É o que foi denominado pelo povo de “lobisomem” (Lobishomem). Como é sabido e notório para que exista o fenômeno da materialização, se faz necessário à presença de médium doador da substância condenável a que foi dado o nome de ectoplasma. Dizem, que esse revestimento tanto pode acontecer com espíritos desencarnados, entidades que não possuem corpo físico, como também com a alma semiliberta do próprio doador da substância. Descontado o quanto houver de fantasia em alguns casos, chega-se a acreditar não ser assim tão absurda a popular crença na existência de lobisomem. Você acredita? Ou não? É, certo, que existe uma doença da qual temos conhecimento de alguns relatos históricos que confirmam esta crença. No castelo de Ambras, perto de Innsbruck, no Tirol austríaco, se conservam vários quadros que representam um adulto e duas crianças com o rosto coberto de cabelos e uma expressão feroz. Não são mitos ou imagens.
Os protagonistas destes retratos viveram realmente. O adulto chamava-se Pedro González e nasceu no seio de uma família, acomodada faz 400 anos, das ilhas Canárias. Apenas alcançada a puberdade, experimentou os sintomas de um hirsutismo feroz, uma hipertricose (crescimento de pêlos anormal do grego thrichós gernitivo de thrix pelo) desmesurada que cobriu inteiramente seu corpo de pêlos. O hirsutismo é o aumento de pêlos terminais como os pêlos da barba masculinos. Pode acompanhar uma anormalidade endócrina. A hipertricose é o aumento de pêlos locais sem causa hormonal e sem predileção especial por lugar de aparecimento. Pode ser idiopático (sem causa notável) ou decorrente de doenças ou remédios. Que fique bem claro, não estamos afirmando que seja verdadeiro o fenômeno, mas como fez corajosamente o sábio inglês, William Crookes, a respeito de materialização de espíritos, porque nunca executamos tal experiência, porém, ressalte-se: a sua possibilidade é aceitável diante dos procedentes. Corpo, matéria e espírito (alma) são componentes do homem e corpo plástico (perispírito ou corpo astral), esse corpo espiritual plástico que pode desprender-se e apresentar-se a muitos quilômetros de distância, depois de materializado toma a forma do pensamento ou vontade do sensitivo. Esse desprendimento pode acontecer no estado inconsciente e é suscetível de receber sugestão.
Voltando ao caso de Pedro, como resultado de sua enfermidade todos se afastava dele. O chamava feto do diabo, aborto do inferno . Aos 25 anos viajou a Paris donde diziam havia um doutor que poderia curar sua doença. Não deu certo. As pessoas fugiam atemorizadas, as crianças choravam ao vê-lo, e os cachorros o perseguiam latindo. Somente uma mulher teve compaixão dele e devido à sua doçura e carinho recuperou a auto-estima e casou com ela. Mas o drama continuou porque os dois filhos nasceram com a mesma enfermidade por herdar os genes paternos. Recorreu Pedro ao professor Félix Plater de Basiléia, um dos melhores especialistas da época. Mas tudo foi inútil. Não houve outro jeito a não ser se tornarem bobos da corte do Imperador Fernando II da Áustria que mandou imortalizá-los em respectivas pinturas a óleo. Modernamente dá-se importância à outra doença mais comum: o lupus eritematoso (lobo vermelho). Não que transformasse todo o corpo, mas em razão de que esta doença ataca o rosto, contornando-o como se fosse uma máscara de carnaval avermelhada em forma de borboleta, ou deixando as pessoas com aparência de lobos. Um outro aspecto é o das convulsões devido à desordem neurológica que acompanha a doença, causando psicoses desequilibrantes.
A doença afeta hoje a 1,4 milhão de americanos e um de cada 250 mulheres afro-americanas entre 18 e 65 anos. Além de seu aspecto, semelhante ao de um lobo, origem da designação, os doentes afetados por esta doença só saiam à noite pois as radiações solares agravam suas lesões. Além disso, essa doença é acompanhada às vezes, pelo hirsutismo. Era suficiente vislumbrar um paciente, à noite, para acreditar no lobisomem, que na literatura oriental seriam homens-tigre. Até o século XIX era hábito entre os camponeses evitar os passeios durante as noites de lua cheia. Acreditava-se que, além de correrem o risco de encontrarem um lobisomem, poderiam também se transformar em um deles. Com base neste mito, Stevenson (+1886) escreveu o seu romance The Strange case of Doutor Jekill and Mr Hyde. Segundo certos especialistas, como Jung, a influência do ciclo lunar sobre os impulsos sexuais agressivos pode ser explicada cientificamente. Mas no lupus trata-se das doenças chamadas porfirinas grupo de enfermidades genéticas cuja causa é o mau funcionamento da seqüência enzimática do grupo HEM ou HEMO da hemoglobina, o pigmento vermelho do sangue. Este grupo é o que transporta o oxigênio às células do organismo. Este grupo é um composto ferroso com protoporfirinas e de acordo com as leis de Mendel é dominante de modo que qualquer erro na herança produz as doenças chamadas de PORFÍRIAS.
Os resultados destas doenças são: Foto-sensibilidade, produto da acumulação das porfirinas metálicas na pele ocasionando sérias lesões. HIRSUTISMO: para se proteger da luz o organismo faz com que cresçam pelos no dorso das mãos nas bochechas, no nariz. O doente foge da luz do dia e, se sai, será à noite. As porfirinas da pele absorvem a energia luminosa e transmitem essa energia ao oxigênio que provém da circulação. Com o excesso de porfirinas se libera oxigênio atômico ou monoatômico que é altamente reativo e produz a destruição dos tecidos à pele apresenta zonas de coloração e de descoloração e os dentes se tornam vermelhos; tudo o que o aproximava do lobo. Por outra parte, o lobo era temido na Europa pela doença da raiva. Os lobos provinham da Polônia ou da Baviera e eram capazes de percorrer grandes distâncias em poucos dias. Após atravessar a Alemanha, entravam na França pela “via dos lobos”, situada entre Wissemburg e Sarreguermine (região das Ardennes perto de Metz), antes de se espalhar por todo o território. É precisamente donde se deu a maioria dos casos de bruxaria na França e Alemanha. Não quero com essas afirmações que sou médico por usar essas terminologias científicas, mas sim fruto de minha curiosidade e de pesquisador que sou, aliás todo jornalismo com o passar do tempo se torna grande pesquisador, hoje a maior parte dos estudiosos são pesquisadores por excelência.
André Luis, espírito de escol, que nos tem dado belíssimas e instrutivas mensagens através do saudoso Francisco de Paula Cândido Xavier, conta-nos o caso de um espírito que tomou momentaneamente a força de um lobo, por forte sugestão de outro espírito. Se uma pessoa de instinto animalesco ou animal, se materializa, provoca ou não, no seu corpo astral impressões aparentes de lobo, cão ou mula (burro). A sugestão é capaz de provocar muitas alterações, inclusive doenças graves. Precisamente os lobos furiosos eram considerados como animais venenosos, segundo esta prece dirigida a S. Humberto: “Protegei-me dos lobos loucos, dos cachorros loucos e das víboras”. E o santo era o padroeiro da região das Ardennes. A mesma doença que é chamada de hidrofobia. Como lemos em alguns relatos sobre o acesso de raiva de Pierre Boureville (1783) ao olhar este pequeno regato ficou assustado e sentiu todo o corpo estremecer e não podia conter o movimento que o agitava. Morriam 4 ou 6 dias, contados após o início dos sintomas. Pierre estremecia e emitia gritos que assustava a todos. Diante destas considerações vemos como o medo pode aumentar e até distorcer os fatos atribuindo a causas demoníacas coisas que hoje sabemos serem doenças biológicas.
Um exemplo: o epiléptico do evangelho (Lc 9, 37-43). Por outra parte as manchas coloridas e os pelos nascidos fora dos lugares comuns davam razão aos que diziam serem marcas do diabo. Na Bíblia temos o caso de Esaú a quem sua mãe imitou cobrindo os braços e pescoço do filho mais novo Jacó com uma pele de cabrito. O fato se explica caso Esaú tivesse a doença da hipertricose ou do hirsutismo idopático. O mito do Homem-Lobo se registra desde a Idade Média até nossos dias. Na Idade Média se cometia grande quantidade de crimes sádicos e sexuais que sempre terminavam por ser atribuído a seres sobrenaturais, devido à superstição e ao medo da gente. Alguns trabalhos curiosos comparam esses delitos sobrenaturais antigos com os crimes sexuais seriais executados por criminais contemporâneos, identificando as violações e os assassinatos atribuídos aos temidos homens-lobo com as barbaridades e sevícias levadas a cabo pelos assassinos de hoje.
Em psiquiatria, a licantropia aparece como uma enfermidade mental com tendência canibal, onde o doente se imagina estar transformado em lobo e, inclusive, imitando seus grunhidos. Em alguns casos graves esses pacientes se negam a comer outro alimento que não seja carne crua e bem sanguinolenta. Isoladamente, tanto as tendências eminentemente sociológicas, quanto às psicológicas e orgânicas fracassaram. Hoje em dia fala-se no elemento bio-psico-social. Volta a tomar força os estudos de endocrinologia, que associam a agressividade do delinqüente, à testosterona (hormônio masculino), os estudos de genética ao tentar identificar no genoma humano um possível "gene da criminalidade".Esses transtornos, normalmente diagnosticados como severas psicoses, apresentam concomitantemente um alto grau de histerismo, cursando com idéias delirantes e mudança total da pessoalidade e, como outras psicoses, não sendo possível separar a realidade do imaginado.
Voltando ao que estamos citando anteriormente antes, quando sucede o paciente assim transitoriamente transformado em animal sair ferido por haver entrado em luta com alguém, o seu corpo material recebe o mesmo ferimento, podendo sobrevir-lhe a morte. É que o corpo astral mantém-se ligado ao corpo físico por um fio invisível (cordão de prata) aos nossos olhos. Aliás, nas sessões espíritas já se tem notado que o choque recebido por um espírito materializado repercute no médium de forma cruel ou crudelíssima. A respeito dessa transmissão de sensibilidade , vejamos o que escreveu o Dr. J. Lawrence em seu livro “Ocultismo Prático”: “Assim, Maria de Agreda sentia desagradavelmente o calor ou o clima do país ao qual se transportava”. Santa Lidwina recebia sobre o corpo material as impressões recebidas ao longe pelo seu corpo fluídico. Passou vários dias sem poder caminhar , porque seu duplo fluídico tivera uma entorse no pé. Em outra oportunidade, atravessando espinheiros, seu duplo fluídico picou-se na mão, e a santa, ao sair do êxtase, notou que um espinho achava-se metido na mão correspondente à do ferimento. Com Catarina Emmerich aconteceram fenômenos semelhantes.
Os sonâmbulos, ou passivos, sentem não só as picadas que se fazem sobre as figuras de cera previamente por eles sensibilizadas, mais ainda ficam em seu corpo material com os sinais dessas picadas. A licantropia é um fenômeno anímico, todavia não se deve pensar que todos os outros sejam. Nem tudo é animismo e as provas do que colocamos aqui, existem milhares. Nada melhor para atestar a existência de espíritos do que o fato de haver no homem uma alma que agita independentemente do corpo material. O animismo é a comprovação do Espiritismo, como muito bem acentuou e explicou o professor Ernesto Bozzano, por experiência própria e apoiada em estudos de outros cientistas. Quando resolvi pesquisar sobre licantropia e durante a execução da mesma e as explanações aqui colocadas uma palavra me chamou a atenção, as porfirias. Antigamente, sendo as psicoses de difícil tratamento, proliferavam psicóticos esquizofrênicos e outros doentes mentais, como os sádicos, necrófilos e psicopatas em geral, os quais ocorriam a licantropia como via de saída para seus delírios ou seus instintos mórbidos. Estes doentes se valiam, como ainda hoje, dos personagens da cultura e do folclore para solidificar a crença em poder transformar-se em lobo, e que, nas noites de lua cheia, seu corpo se cobria de pelo, seus dentes se tornavam pontiagudos e suas unhas cresciam até converter-se em garras.
Possuídos por tais delírios, os doentes vagavam pelas ruas assediando suas vítimas, atacando, mordendo e, em algumas ocasiões, esquartejando e comendo partes de seu corpo.Hoje em dia a medicina conhece outros tipos de doenças que poderiam explicar parte do mito da licantropia, como por exemplo a Porfiria Congênita. Esta doença se caracteriza por problemas cutâneos, foto-sensibilidade e depósitos de porfirina, um pigmento dos glóbulos vermelhos que escurece os dentes e a urina, dando a impressão que o paciente esteve bebendo sangue. Outras doenças, como por exemplo a Hipertricose ou o Hirsutismo, as quais provocam o crescimento exagerado de pelos por todo o corpo, incluindo a face, eram interpretadas, antigamente, como qualidades sobrenaturais onde os pacientes podiam converter-se em bestas. Mas, por outro lado, ao longo da historia tem surgido alguns criminosos considerados "homens-lobo" devido aos seus métodos canibais de matar a vítima. As Porfirias são um grupo de doenças genéticas cuja causa é um mau funcionamento da seqüência enzimática do grupo Heme da Hemoglobina (a HEMOGLOBINA é o pigmento do sangue que faz que este seja vermelho e é composta pelo grupo Heme e varias classes de GLOBINAS, segundo circunstâncias , normais, que agora não vêem ao caso). O grupo Heme é quem transporta o oxigênio dos pulmões ao resto das células do organismo e é um complexo férrico (em estado ferroso). Qualquer erro na hereditariedade que interfere na síntese do grupo Heme é capaz de produzir as doenças chamadas Porfirias.
Os sintomas das Porfirias são:1) Fotosensibilidade, que se apresenta em todos tipos, menos na chamada Forma Aguda Intermitente. Esta fotosensibilidade é o resultado do acúmulo de porfirinas livres de metal na pele produzindo sérias lesões: 1.a) Hirsutismo. Para o organismo proteger-se da luz, o pelo cresce exageradamente e em lugares não habituais, como no vão dos dedos e dorso das mãos, nas bochechas, no nariz, enfim, nos lugares mais expostos à luz. Evidentemente esses pacientes devem sair quase que exclusivamente à noite. 1.b) Pigmentação. A pele pode apresentar também zonas de pigmentação ou de despigmentação e os dentes podem ser vermelhos fazendo que o aspecto do doente se afaste cada vez mais do ser humano normal e se aproxime da idéia de um monstro. 2) As porfirinas acumuladas na pele, podem absorver luz do sol em qualquer longitude, tanto no espectro ultravioleta, como no espectro visível e logo transferir sua energia ao oxigênio que provêem da respiração. O oxigênio normalmente não é tóxico, mas com o excesso de energia transferido pelas porfirinas, o oxigênio se libera sob a forma de oxigênio altamente reativo. Este oxigênio altamente reativo, produz destruição dos tecidos, predominantemente os mais distais e mais expostos, como é o caso das pontas dos dedos, o nariz, etc, oxidando essas áreas de forma violenta, com severa inflamação em forma de queimação. Assim sendo, quando esses pacientes se expõem à luz, suas mãos se convertem em garras e sua face, peluda em sua totalidade, mostra uma boca permanentemente aberta por lesões repetitivas dos lábios.
Estando os dentes descobertos, adquirem aparência maior sugerindo presas. As narinas, pelos mesmos motivos das lesões, se apresentam voltadas mais para cima e como orifícios tétricos e escuros. Dessa forma teremos o lobisomem tal qual descrito pelo mito do Homem-Lobo. Imaginemos agora, na metade do século XIV, a possibilidade de encontrarmos em meio de una noite escura, esse tipo de paciente que sai de noite para evitar o dano que produz a luz, com a aparência descrita acima. A natureza genética das porfirias, juntamente com alguns costumes endogâmicos (casamento entre membros de uma mesma família) em alguns grupos étnicos da Europa Oriental e entre a nobreza européia em geral, poderia ter desencadeado a doença em pessoas geneticamente ligadas. Pode vir daí a lenda da maldição familiar dos Lobisomens e/ou de ser Lobisomem o sexto ou sétimo filho do casal ou coisas assim. Aqui encerro este trabalho de pesquisa citando que além do que escrevi consultei as obras de Dr. J. Lawrence em seu livro “Ocultismo Prático”, algumas observações do irmão e confrade Cristovam Marques Pessoa de seu livro “O Além e O Aquém”, editora e Gráfica “ABC do interior”, caixa postal nº. 8, 18.570.000-Conchas-São Paulo e muitos ensinamentos de oonlightbeasts.tripod.com, inclusive as fotos.

Antônio Paiva Rodrigues
Fonte : Terra Espiritual

08 outubro 2009

HEREDITARIEDADE MORAL

Revista Espírita, julho de 1862

Um de nossos assinantes nos escreve de Wiesbaden:
"Senhor, estudo com cuidado o Espiritismo em todos os vossos livros, e apesar da clareza que deles decorre, dois pontos importantes não parecem bem explicados aos olhos de certas pessoas, eles são: 1o as faculdades hereditárias; 2o os sonhos. "Como conciliar, com efeito, o sistema da anterioridade da alma com a existência das faculdades hereditárias? Elas existem, no entanto, embora de maneira não absoluta; cada a somos disso tocados na vida privada, e vemos também, numa ordem mais elevada, os talentos sucederem aos talentos, a inteligência à inteligência. O filho de Racine foi poeta; Alexandre Dumas tem por filho um autor distinguido; na arte dramática, vemos a tradição
dos talentos numa mesma família, e na arte da guerra uma raça, tal qual a dos duques de Brunswick, por exemplo, fornece uma série de heróis. Mesmo a inépcia, o vício, o crime conservam sua tradição. Eugène Sue cita famílias onde várias gerações, sucessivamente, passaram pela morte na guilhotina. A criação da alma por indivíduo explicaria ainda menos essas dificuldades, eu o compreendo, mas é preciso confessar que uma e outra doutrina dão margem aos golpes dos materialistas, que não vêem em toda faculdade senão uma
concentração de forças nervosas. "Quanto aos sonhos, a Doutrina Espírita não concilia bastante o sistema das peregrinações da alma durante o sono com a opinião vulgar, que dele faz simplesmente o reflexo das impressões percebidas durante a vigília. Esta última opinião poderia parecer a verdadeira
explicação dos sonhos, ao passo que a peregrinação não seria senão um caso excepcional. (Seguem vários exemplos em apoio). "Está bem entendido, senhor presidente, que não pretendo fazer aqui nenhuma objeção em meu nome pessoal, mas me parece útil que a Revista Espírita se ocupasse destas questões, não fora senão para dar os meios de responder aos incrédulos; quanto a mim, sou crente e não procuro senão a minha instrução." A questão dos sonhos será examinada ulteriormente num artigo especial; não nos ocuparemos hoje senão da hereditariedade moral, que deixaremos ser tratada pelos Espíritos, limitando-nos a algumas observações preliminares. O que se possa dizer a esse respeito, os materialistas dele não estarão mais convencidos
por isso, porque, não admitindo o princípio, não podem admitir-lhe as conseqüências; seria preciso, antes de tudo, torná-los espiritualistas; ora, não é por esta questão que seria preciso começar; não podemos, pois, nos ocupar com as suas objeções. Tomando por ponto de partida a existência de um princípio inteligente fora da matéria, de outro modo dito, a existência da alma, a questão é saber se as almas procedem das almas, ou se elas são independentes. Cremos já ter demonstrado, em outro artigo sobre os Espíritos e o brasão, publicado no número do mês de março último, as impossibilidades que existem para a criação da alma pela alma; com efeito, se a alma da criança fosse uma parte da do pai, ela deveria sempre dele ter as qualidades e as imperfeições, em virtude do axioma de que a parte é da mesma natureza do todo; ora, e experiência prova ao contrário cada dia. Citam-se, é verdade, exemplos de semelhanças morais e intelectuais que parecem devidas à hereditariedade, de onde seria preciso concluir que houve transmissão; mas então, por que essa transmissão não ocorre sempre? Por que se vêem, diariamente, pais essencialmente bons, terem filhos instintivamente viciosos, e vice-versa. Uma vez que é impossível fazer, da hereditariedade moral, uma regra geral, trata-se de explicar, com o
sistema da independência recíproca das almas, a causa das semelhanças. Isto poderia ser quando muito uma dificuldade, mas que não pre-julgaria nada contra a doutrina da anterioridade da alma e da pluralidade das existências, tendo em vista que esta doutrina está provada por cem outros fatos concludentes, e contra os quais é impossível levantar
alguma objeção séria. Deixemos falar os Espíritos que consentiram tratar a questão. Eis as duas comunicações que obtivemos a este respeito:
(Sociedade Espírita de Paris, 23 de maio de 1862. - Médium, Sr. d'Ambel.)
Já foi dito, com freqüência, que não seria preciso amontoar sistemas sobre simples aparências, e foi um sistema dessa natureza o que deduziu das semelhanças familiares umateoria contrária à que demos da existência das almas anteriormente à sua encarnação terrestre. É positivo que, muito freqüentemente, estes jamais tiveram relações diretas com
os meios, com as famílias nas quais se encarnam neste mundo. Já repetimos, a miúdo, que as semelhanças corpóreas prendem-se a uma questão material e fisiológica, inteiramente fora da ação espiritual, e que, pelas aptidões e pelos gostos semelhantes, resultam não na procriação da alma por uma alma já nascida, mas do que os Espíritos similares se atraem; daí as famílias de heróis ou de raças de bandidos. Admiti, pois, em princípio, que os bons Espíritos escolhem, de preferência, para sua nova etapa terrestre, o meio em que o terreno já está preparado, a família de Espíritos avançados onde estão seguros de encontrar os materiais necessários ao seu adiantamento futuro; admiti, igualmente, que os Espíritos atrasados, ainda inclinados aos vícios e aos apetites animais, fogem dos grupos elevados, das famílias morais, e se encarnam, ao contrário, lá onde esperam reencontrar os meios de
satisfazer as paixões que ainda os dominam. Assim, pois, em tese geral, as semelhanças espirituais vêm de que os semelhantes atraem seus semelhantes, ao passo que as semelhanças corpóreas ligam-se à procriação. Agora, é preciso acrescentar isto: é que, muito freqüentemente, nascem nas famílias, dignas sob todos os aspectos do respeito de seus concidadãos, indivíduos viciosos e maus que ali são enviados para serem a pedra de toque destes; como algumas vezes ainda aqui vêm de sua plena vontade, na esperança de sair da rotina onde são arrastados até então, e se aperfeiçoarem sob a influência desses meios virtuosos e morais. Ocorre o mesmo com Espíritos já avançados moralmente que, a exemplo daquela jovem mulher de Saint-Étienne, de que se falou no último ano, se encarnam em famílias obscuras, entre Espíritos atrasados, afim de lhes mostrar o caminho que conduz ao progresso. Não esquecestes, estou certo disto, aquele anjo de asas brancas em que ela apareceu transfigurada aos olhos daqueles que a amaram sobre a Terra, quando estes reentraram, por sua vez, no mundo dos Espíritos. (Revista Espírita, de junho de 1861, página 179: Senhora Gourdon). ERASTO.

(Outra; mesma sessão. - Médium, senhora Costel.)
Venho vos explicar a importante questão da hereditariedade das virtudes e dos vícios na raça humana. Esta transmissão faz hesitar aqueles que não compreendem a imensidade do princípio revelado pelo Espiritismo. Os mundos intermediários são povoados de Espíritos esperando a prova da encarnação, ou aí se preparando de novo, segundo seu grau de adiantamento. Os Espíritos, nesses viveiros da vida eterna, estão agrupados e divididos em grandes tribos, uns adiante, outros em atraso no progresso, e cada um escolhe, entre os
grupos humanos, aqueles que correspondem simpaticamente às suas faculdades adquiridas, os quais progridem e não podem retrogradar.O Espírito que se encarna escolhe o pai cujo exemplo o fará avançar no caminho preferido,
e repercute, elevando-lhes ou enfraquecendo-lhes, os talentos daquele que lhe deu a vida corpórea; nos dois casos, a conjunção simpática existe anteriormente ao nascimento, e é desenvolvida em seguida nas relações da família, pela imitação e pelo hábito. Depois da hereditariedade familiar, quero, meus amigos, vos revelar a origem da discordância que separa os indivíduos de uma mesma raça, de repente notável ou desonrado por um de seus membros que ficou estranho entre ela. O grosseiro viciado que está encarnado num centro elevado, e o Espírito luminoso que se encarna entre os seres grosseiros, ambos obedecem à misteriosa harmonia que aproxima as partes divididas de
um todo, e faz concordar o infinitamente pequeno com a suprema grandeza. O Espírito culpado, apoiado sobre as virtudes adquiridas de seu procurador terrestre, espera se fortalecer por elas, e se sucumbe ainda nas provas, adquire pelo exemplo o conhecimento do bem, e retorna à erraticidade menos carregado de ignorância e melhor preparado para sustentar uma nova luta.
Os Espíritos avançados entrevêem a glória de Jesus e queimam consumindo depois o cálice da ardente caridade; depois dele também querem guiar a Humanidade para o objetivo sagrado do progresso, e eles nascem no baixo mundo social onde se debatem, acorrentados um ao outro, a ignorância e o vício dos quais são alternativamente os vencedores e os mártires. Se esta resposta não satisfaz todas as vossas dúvidas, interrogai-me, meus amigos.
SÃO LUÍS.

06 outubro 2009

DESENCARNAÇÃO

Podemos considerar a desencarnação da alma, em plena infância, como sendo uma punição das Leis Divinas, na maioria das vezes?
Muitas existências são frustradas no berço, não por simples punição externa da Lei Divina, mas porque a própria Lei Divina funciona em nós, desde que todos existimos no hausto do Criador.Freqüentemente, através do suicídio, integralmente deliberado, ou do próprio desregramento, operamos em nossa alma calamitosos desequilíbrios, quais tempestades ocultas, que desencadeamos, por teimosia, no campo da natureza íntima.Cargas venenosas, instrumentos perfurantes, projéteis fulminatórios, afogamentos, enforcamentos, quedas calculadas de grande altura e multiformes viciações com que as criaturas responsáveis arruínam o próprio corpo ou o aniquilam, impondo-lhe a morte prematura, com plena desaprovação da consciência, determinam processos degenerativos e desajustes nos centros essenciais do psicossoma, notadamente naqueles que governam o córtex encefálico, as glândulas de secreção interna, a organização emotiva e o sistema hematopoético.Ante o impacto da desencarnação provocada, semelhantes recursos da alma entram em pavoroso colapso, sob traumatismo profundo, para o qual não há termo correlato na diagnose terrestre.Indescritíveis flagelações que vão da inconsciência descontínua à loucura completa, senhoreiam essas mentes torturadas, por tempo variável, conforme as atenuantes e agravantes da culpa, induzindo as autoridades superiores a reinterná-las no plano carnal, quais enfermos graves, em celas físicas de breve duração, para que se reabilitem, gradativamente, com a justa cooperação dos Espíritos reencarnados, cujos débitos com eles se afinem.Eis porque um golpe suicida no coração, acompanhado pelo remorso, causará comumente diátese hemorrágica, com perda considerável da protombina do sangue, naqueles que renascem para tratamento de recuperação do corpo espiritual em distonia; o auto-envenenamento ocasionará, nas mesmas condições, deploráveis desarmonias nas regiões psicossomáticas correspondentes à medula vermelha, conturbando o nascimento das hemácias, tanto em sua evolução intravascular, dentro dos sinusóides, como também na sua constituição extravascular, no retículo, gerando as distrofias congênitas do eritrônio com hemopatias diversas; os afogamentos e enforcamentos, em identidade de circunstancias, impõem naqueles que os provocam os fenômenos da incompatibilidade materno-fetal, em que os chamados fatores Rh, de modo geral, após a primeira gestação, permitem que a hemolisina alcancem a fronteira placentária, sintonizando-se com a posição mórbida da entidade reencarnante, a se externarem na eritroblastose fetal, em suas variadas expressões; e o voluntário esfacelamento do crânio, a queda procurada de grande altura e as viciações do sentimento e do raciocínio estabelecem no veículo espiritual múltiplas ocorrências de arritmia cerebral, a se revelarem nos doentes renascituros, através da eclampsia e da tetania dos lactentes, da hidrocefalia, da encefalite letárgica, das encefalopatias crônicas, da psicose epilética, da idiotia, do mongolismo e de várias morboses oriundas da insuficiência glandular.Claro está que não relacionamos nessa sucinta relação os problemas do suicídio associado ao homicídio, os quais, muita vez, se fazem seguidos, em reencarnação posterior do infeliz ato, por lamentáveis reações, com a morte acidental ou violenta na infância, traduzindo estação inevitável no ciclo do resgate.No que tange, porém, às moléstias mencionadas, surgem todas elas nos mais diferentes períodos, crestando a existência do veículo físico, via de regra, desde a vida "in útero" até os dezoito e vinte anos de experiência recomeçante, e, como vemos, são doenças secundárias, porquanto a etiologia que lhes é própria reside na estrutura complexa da própria alma.Urge ainda considerar que todos os enfermos dessa espécie são conduzidos a outros enfermos espirituais - os homens e as mulheres que corromperam os próprios centros genésicos pela delinqüência emotiva ou pelos crimes reiterados do aborto provocado, em existências do pretérito próximo, para que, servindo na condição de atendentes e guardiães de companheiros que também se conspurcaram perante a Eterna Justiça, se recuperem, a seu turno, regenerando a si mesmos pelo amoroso devotamento com que lutam e choram, no amparo aos filhinhos condenados à morte, ou atormentados desde o berço.Segundo observamos, portanto, as existências interrompidas no alvorecer do corpo denso, raramente constituem balizas terminais de prova indispensáveis na senda humana, porque, na maioria dos sucessos em que se evidenciam, representam cursos rápidos de socorro ou tratamento do corpo espiritual desequilibrado por nossos próprios excessos e inconseqüências, compelindo-nos a reconhecer, com o Apóstolo Paulo (I Coríntios, 6:19-20 - Nota do autor), que o nosso instrumento de manifestação, seja onde for, é templo da Força Divina, por intermédio do qual, associando corpo e alma, nos cabe a obrigação de aperfeiçoar-nos, aprimorando a vida, na exaltação constante a Deus.
Há casos de desencarnação estando o Espírito desdobrado, por exemplo, nas zonas umbralinas e o corpo em estado comatoso?
Isso pode acontecer perfeitamente, do ponto de vista da exteriorização do pensamento, porque céu e inferno, exprimindo equilíbrio e perturbação, alegria e dor, começam invariavelmente em nós mesmos.
Os Espíritos encarnados que sofreram desequilíbrio mental de alta expressão voltam imediatamente à lucidez espiritual após a desencarnação?
Isso nunca sucede, porquanto a perturbação dilatada exige a convalescença indispensável, cuja duração naturalmente varia com o grau de evolução do enfermo em reajuste.

(Evolução em Dois Mundos, Parte II, Cap. XVII, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

04 outubro 2009

GENTE FAZENDO SERÃO

Ao credenciar a equipe de 70 pessoas para divulgar os conceitos básicos de Sua filosofia de vida, o Cristo lamentou que não houvesse maior disponibilidade de servidores. Ante a enormidade da tarefa a realizar, a vastidão da seara, a farta colheita de almas sedentas de luz e paz, que era aquele pequenino grupo de seres, já de si mesmos tão precários e frágeis, que Ele mandava como ovelhas para a convivência com lobos?
Não são estes, adverte-nos a Bíblia de Jerusalém, os que costumavam seguir à frente para "prepararem hospedagem e alimento" como está em Lucas 9:52, mas "para lhe servirem de precursores espirituais".
Para isso Ele recomenda aos próprios servidores que peçam a Deus - o Dono da Colheita - que envie mais trabalhadores, cada vez mais, para que quanto antes se implante na terra o reino de Deus.
E assim tem sido feito. No entanto, as mensagens que nos chegam do Mundo Espiritual nos dizem, reiteradamente, que a seara é cada vez mais ampla, as necessidades cada vez mais agudas e persiste a escassez de servidores, enquanto a colheita se perde, em grande parte, pelos campos da vida. Vemos, também, quantos daqueles que ainda há pouco estavam conosco e partiram, voltarem para dizer de mil maneiras diferentes a mesma coisa de sempre, ou seja, que poderiam ter feito um pouco mais ou um pouco melhor o que fizeram, ou poderiam ter feito o que deixaram de fazer.
Enquanto isso, dizem-nos Amigos Espirituais que inúmeros servidores estão sendo enviados, perfeitamente programados para as tarefas renovadoras, dotados de recursos pessoais preciosos, comprometidos com as mais nobres realizações do bem e, não obstante, aqui chegados, perdem-se no tumulto do mundo, nos envolvimentos, nos arrastamentos, nas ilusões, no desencanto. E ainda que encaminhados, dirigidos à Seara Espírita, buscam nela não o serviço para o qual se prepararam, muitas vezes, humilde e singelo, mas as posições, o destaque, o brilho, a posse, a liderança para a qual não estão preparados e na qual já fracassaram repetidamente. Ou nada fazem e ficam a contemplar o vai-e-vem dos que fazem.
Os desvios são muitos. Em cada curva da estrada espreita uma forma diferente de tentação; em cada esquina da vida, um apelo sutil e mentiroso que redunda em fracasso da tarefa programada.
E os testemunhos? Beleza física, riqueza, posição social, inteligência, oportunidades de cultivo da mente, o verbo fácil e eloqüente, a palavra fluente...E começam a pensar que isso lhes foi dado para brilharem, para se mostrarem, para conquistarem maior soma de poder, em termos humanos. Não que a grandeza seja um erro em si mesma. Quem é maior do que o Cristo em nosso contexto humano? Só que a grandeza não se destina a oprimir, é um instrumento a mais de trabalho, para servir.
Por isso tudo nos dizia ainda há pouco um Amigo Espiritual, que os Planos mais altos da vida decidiram reter um pouco mais na Terra aqueles trabalhadores que estejam empenhados em alguma tarefa útil, conscientes de suas responsabilidades e empenhados em se desincumbirem dela da melhor maneira possível. A vida lhes vai sendo prorrogada, estendida até os limites do possível e novas tarefas lhes estão sendo atribuídas. Muitos deles já ultrapassaram de muito a época prevista para o ansiado retorno à Pátria Espiritual. Já poderiam estar gozando as delícias de uma existência livre das agonias e limitações da matéria. Os corpos físicos estão cansados e cheios de mazelas próprias da idade. São muitas as saudades de companheiros amados que os aguardam no plano mais sutil - aquilo que costumo chamar de "saudade do futuro"... Já o crespúsculo de suas vidas desceu sobre eles, mas o Dono da Colheita lhes pede que trabalhem mais algumas horas, em regime de serão, pois há enorme carência de gente disposta a empunhar as ferramentas
Hermínio C. Miranda

02 outubro 2009

OS BONS MÉDIUNS

Inerente a todos os seres humanos, a faculdade mediúnica expressa-se de maneira variada, conforme a estrutura evolutiva, os recursos morais, as conquistas espirituais de cada indivíduo.
Incipiente em uns e ostensiva noutros, pode ser considerada com a peculiaridade psíquica que permite a comunicação dos homens com os Espíritos, mediante cujo contributo inúmeras interrogações e enigmas encontram respostas e elucidações claras para o entendimento dos reais mecanismos da existência física na Terra.
Distúrbios psíquicos inexplicáveis, desequilíbrios orgânicos injustificáveis, transtornos comportamentais e dificuldades nos relacionamentos sociais e afetivos, malquerenças e aflições íntimas destituídas de significado, exaltação e desdobramentos da personalidade, algumas alucinações visuais e auditivas, na mediunidade encontram seu campo de expansão, refletindo os dramas espirituais do ser, que procedem das experiências anteriores à atual existência física, alguns transformados em fenômenos obsessivos profundamente perturbadores.
Mal compreendida por largo tempo através da História, foi envolta em mitos e cercada de superstições, que nada têm a ver com a sua realidade.
Sendo uma percepção da alma encarnada cujo conteúdo as células orgânicas decodificam, não significa manifestação de angelitude ou de santificação, como também não representa punição imposta por Deus, a fim de alcançar os calcetas e endividados perante as Soberanas Leis.
Existente igualmente no ser espiritual, é uma faculdade do Espírito que, através dos delicados equipamentos sutis do seu perispírito, faculta o intercâmbio entre os desencarnados de diferentes esferas da Erraticidade.
Dessa maneira, não se trata de um calvário de padecimentos intérminos em cujo curso a tristeza e o sofrimento dão-se as mãos, como pretendem alguns portadores de comportamento masoquista, mas também não é característica de superioridade moral, que distingue o seu possuidor em relação às demais pessoas.
Pode ser considerada como a moderna escada de Jacó, que permite a ascensão espiritual daquele que se lhe dedica com abnegação e devotamento.
Semelhante às demais faculdades do ser humano, exige cuidados especiais, quais aqueles que se dispensam à inteligência, à memória, às aptidões artísticas e culturais...
O conhecimento do seu mecanismo torna-se indispensável para que seja exercida com seriedade, ao lado de cuidados outros que se lhe fazem essenciais, quais sejam, a identificação da lei dos fluidos, a aplicação dos dispositivos morais para o aperfeiçoamento incessante, a disciplina dos equipamentos nervosos, as disposições superiores para o bem, o nobre e o edificante.
Neutra, sob o ponto de vista ético-moral, qual ocorre com as demais faculdades, é direcionada pelo seu portador, que se encarrega de orientá-la conforme as próprias aspirações, perseguindo os objetivos elevados, que são a meta essencial da reencarnação.
À medida que o médium introjeta reflexões em torno do seu conteúdo valioso, mais se lhe dilatam as possibilidades, que, disciplinadas, facultam ensejo para a produção de resultados compatíveis com o direcionamento que se lhe aplique.
A observação cuidadosa dos sintomas através dos quais se expressa, favorece a perfeita identificação daqueles que se comunicam e podem contribuir em favor do progresso moral do medianeiro.
O hábito do silêncio interior e da quietação emocional faculta-lhe a captação das ondas que permitem o intercâmbio equilibrado, ampliando-lhe a área de serviços espirituais.
Concessão divina para a Humanidade, é a ponte que traz de volta aqueles que abandonaram o corpo físico ou que dele foram expulsos, sem que deixassem a vida, comprovando-lhes a imortalidade em triunfo.
Ante a impossibilidade de ser alcançada a perfeição mediúnica, face à condição predominante de mundo de provações que caracteriza o planeta terrestre e tipifica os seus habitantes por enquanto, cada servidor deve lutar para adquirir a qualidade de bom médium, isto é, aquele que comunica com facilidade, que se faz instrumento dócil aos Espíritos que o utilizam sob a orientação do seu Mentor.
Nunca se acreditando imaculado, sabe que pode ser vítima da mistificação dos zombeteiros e maus, não a temendo, mas trabalhando por sutilizar as suas percepções psíquicas e emocionais, e elevando-se moralmente para atingir patamares mais enobrecidos nas faixas da evolução.
A facilidade com que os desencarnados o utilizam, especialmente por estar disponível sempre que necessário, propicia-lhe maior sensibilidade e o credencia ao apoio dos Guias da Humanidade, que o cercam de carinho e o inspiram para a ascensão contínua.
Consciente dos próprios limites e das infinitas possibilidades da Vida, reconhece o quanto necessita de transformar-se interiormente para melhor, a fim de ser enganado menos vezes e jamais enganar aos outros, pelo menos conscientemente.
A disciplina e o equilíbrio moral, os pensamentos e as ações honoráveis, o salutar hábito da oração e da meditação, precatam-no das investiduras dos maus e perversos que pululam em toda parte, preservando-lhe os sutis equipamentos mediúnicos dos choques de baixo teor vibratório que lhes são inerentes, ajudando-o, assim, a manter contato com esses infelizes, quando necessário, porém, sob o controle dos Guias que os conduzem, jamais ao paladar e apetite da loucura que os avassala.
O bom médium é simples e sem as complexidades do agrado da ignorância, do egoísmo e da presunção, cujas conquistas são internas e que irradia os valores morais de dentro para fora, qual antena que possui os requisitos próprios para a captação das ondas que serão transformadas em imagens sonoras, visuais ou portadoras de força motriz para muitas finalidades.
Quando esteja açodado pelas conjunturas difíceis ou afligido pelas provações iluminativas, que fazem parte do seu processo de evolução, nunca deve desanimar, nem esperar fruir de privilégios, que os não possui, seguindo fiel e tranqüilo no desempenho da tarefa que lhe diz respeito, preservando a alegria de viver, servir e amar.
O trabalho edificante será sempre o seu apoio de segurança, que o fortalecerá em todos os momentos da existência física, nunca se refugiando na inoperância, que é geradora de mil males que sempre perturbam.
Porque identifica as próprias deficiências, não se jacta da faculdade que possui, reconhecendo que ela pode ser bloqueada ou retirada, empenhando-se para torná-la uma ferramenta de luz a serviço do Amor em todos os instantes.
Os bons médiuns, que escasseiam, em razão da momentânea inferioridade humana, são os instrumentos hábeis para contribuírem em favor do Mundo Novo de amanhã, quando a mediunidade, melhor compreendida e mais bem exercida, se tornará uma conquista valiosa do espírito humano credenciado para a felicidade que já estará desfrutando.

Manoel Philomeno de miranda( espírito )
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão mediúnica da noite de 08 de agosto de 2001, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)
(Jornal Mundo Espírita )