24 fevereiro 2010

NÃO BASTA COMPREENDER A DOUTRINA; É PRECISO ASSIMILÁ-LA.

Não basta aceitar os princípios renovadores da Doutrina dos Espíritos. É preciso vivê-los. Todas as doutrinas são sistemas lógicos, acessíveis à compreensão intelectual. Desse ponto de vista, o Espiritismo pode ser compreendido por qualquer pessoa curiosa e de capacidade mental comum. Trata-se de uma doutrina clara, baseada em princípios de fácil assimilação, embora por baixo dessa simplicidade existam problemas complexos, de ordem científica e filosófica. É tão fácil compreendê-lo, desde que se estude criteriosamente as suas obras básicas.
A simples compreensão de uma doutrina, porém, não implica a sua vivência. Além de compreendê-la, temos de senti-la. Somente quando compreendemos e sentimos o Espiritismo, quando o incorporamos à nossa personalidade, quando o assimilamos profundamente em nosso ser, é que podemos vivê-lo. Daí a razão de Allan Kardec ter afirmado a existência de vários tipos de espíritas, concluindo que “o verdadeiro espírita se conhece pela sua transformação moral”. Espiritismo compreendido e vivido transforma moralmente o homem.
Viver o Espiritismo, entretanto, não é viver no meio espírita, fazendo ou freqüentando sessões, lendo obras doutrinárias ou ouvindo conferências. Pode fazer-se tudo isso, e ainda mais, - pode-se até mesmo gastar muito dinheiro e tempo em obras de assistência social, - atendendo apenas à compreensão intelectual da doutrina, sem vivê-la. Porque viver o Espiritismo é pautar todas as ações pelos princípios doutrinários. É moldar a conduta pela doutrina. É agir, em todas as ocasiões, como o verdadeiro espírita de que fala Allan Kardec.
Ainda neste ponto, porém, é necessário lembrar que não basta a conduta externa. Não basta a aparência. Nada mais avesso, aliás, às aparências, do que o Espiritismo. Anti-formal por excelência, contrário aos convencionalismos sociais e religiosos, o Espiritismo, como dizia Kardec: “é uma questão de fundo e não de forma”. Por isso mesmo, não podemos vivê-lo de maneira externa. Antes da conduta exterior, temos de reformar a nossa conduta interna, modificar nossos hábitos mentais e verbais. Pensar, falar e agir de acordo com os princípios renovadores da moral espírita, que é a própria moral evangélica, racionalmente esclarecida pela Doutrina do Consolador. Surge ainda uma dificuldade, que devemos tentar esclarecer. Chegados a este ponto, muita gente nos perguntará, como sempre acontece, quando falamos a respeito: “O espírita deve então sujeitar-se rigidamente a um molde doutrinário?” Não, pois se assim fizesse estaria impedindo o seu livre desenvolvimento moral. Quando falamos em “moldar a conduta”, fazêmo-lo num sentido de orientação, nunca de esquematização. O espírita deve ser livre, pois, como acentuava o apóstolo Paulo “onde não há liberdade não está o Espírito do Senhor”. Só a liberdade dá responsabilidade, e só a responsabilidade produz a verdadeira moral.
Ao procurar viver o Espiritismo, devemos portanto evitar as atitudes formais que conduzem ao artificialismo, e conseqüentemente à mentira e à hipocrisia. Como se vê, esse é o caminho contrário ao da Doutrina dos Espíritos, é o caminho tortuoso da Doutrina dos Homens, no plano mundano. Devemos ser naturais. E como modificar a nossa natureza inferior, sendo naturais? Primeiro, compreendendo que temos essa natureza inferior e precisamos modificá-la, o que fazemos pela compreensão da doutrina; depois, sentindo a necessidade de modificá-la, o que fazemos pela assimilação emocional da doutrina. Nossa transformação moral deve começar de dentro, e não de fora. Dos pensamentos e sentimentos, e não das atitudes exteriores. Deve ser uma transformação para Deus ver, não para os homens verem.
A falta de compreensão desse problema leva muitos espíritas a posições incômodas dentro da doutrina, e o que é pior, a posições comprometedoras para o movimento doutrinário. E leva também a lamentáveis confusões, principalmente no tocante ao problema religioso. Quando compreendemos, porém, que o Espiritismo não é somente um sistema doutrinário para assimilação intelectual, mas que é sobretudo, vida, norma de vida, e principalmente, seiva renovadora da vida humana na terra, então compreendemos que não é possível separar-se, dos seus aspectos científicos e filosóficos, o seu poderoso aspecto religioso. Lembremos ainda o que dizia Kardec, ou seja, que o Espiritismo é forte justamente por afirmar e esclarecer as mesmas verdades fundamentais da religião.

18 fevereiro 2010

VOCÊ SABE QUEM É, MAS SABE O QUE É?

A morte amedronta tanto o ser humano, que este assume posturas as mais variadas, desde aquelas infantis, em que nega toda a sua maturidade, até outras em que chega a negar a sua condição de ser racional. É profundamente estranho que essa criatura, que se pavoneia de ser o rei da criação, se mostre tão dolorosamente despreparada diante da única certeza comum a todos os seres humanos.

ouviremos como resposta a designação de um local de sua preferência. Ao ser interrogada sobre o destino da sua alma, certamente responderá que irá para o céu. Mas a fragilidade desse posicionamento é facilmente demonstrável dAo interrogarmos uma pessoa onde quer ser enterrada quando morrer, certamenteiante de um simples questionamento: "E se ela não for para o céu e sim para o inferno, que isso importa a você, pois é ela quem vai e não você? Você não disse que deseja ficar enterrado em tal lugar?" Essas perguntas causam perplexidade e levam muitas pessoas, pela primeira vez, a usarem seu raciocínio no exame do assunto morte. Depois de algum tempo, costumam aparecer saídas como esta, ditas até em tom vitorioso: "Não sou eu quem vai ser enterrado em tal lugar; é o meu corpo!" Com essa afirmativa, aoinvés de resolver o problema, agrava-o ainda mais..

O ar de vitória desaparece logo, ao se lembrar à pessoa que ela usou dois possessivos: meu corpo e minha alma. Ora, o possessivo, como bem ensinam as gramáticas, é a palavra que indica posse. Se há posse, há possuidor. Quem é o possuidor daquele corpo e daquela alma? Quem está habilitado a apresentar-se como proprietário e, conseqüentemente, reclamar-lhes a posse?

É exatamente essa falta de racionalidade que leva o homem a fugir do assunto, portando-se como a criança que, ao esconder o rosto atrás das mãos, imagina ter resolvido o problema do seu esconderijo. Ou como o avestruz que, segundo dizem, esconde a cabeça sob a areia, pensando assim fugir do perigo.

A criatura humana recusa-se a pensar, porque pensar na morte dói. Meditar, refletir sobre a questão, só pode revelar-lhe a sua fragilidade, o seu despreparo diante do magno assunto.

E qual a saída para o impasse? A única posição lógica é aquela de o homem assumir a sua condição de Espírito imortal, detentor da posse de um corpo físico, pelo qual ele se manifesta temporariamente, enquanto esse corpo tiver vida. É o Espírito que pensa, que aprende, que odeia, que ama. O corpo é mero instrumento de uso transitório. Pode-se até dizer que é descartável. O Espírito, não. Ele é imortal, indestrutível. É o arquivo vivo de todas as experiências vividas durante a romagem terrena.

Com o fenômeno da morte, o Espírito se afasta do corpo que já não mais lhe serve como instrumento, podendo dizer, na ocasião: "habitei esse corpo, serviu-me ele de vestimenta durante muitos anos". O corpo jamais poderá dizer: "Esse espírito que aí vai foi meu", simplesmente porque o corpo é matéria morta, que começa a decompor-se tão logo ocorra a morte.

Ao conscientizar-se dessa realidade, o homem passa a ter uma verdadeira consciência de imortalidade. Quanto mais medita sobre o assunto – desde que desligado de explicações de determinados teólogos – tanto mais adquire um estado de consciência a que se pode chamar "cidadania espiritual". Passa a sentir-se imortal. A morte já não mais se constitui naquele desastre terrível a bi- ou tripartir-lhe o ser: "Vou para debaixo da terra, minha alma vai para o céu e eu para não sei onde."

Ao assumir a cidadania espiritual, seus horizontes se alargam. Já não é apenas um homem, mas um Ser imortal, cujo destino não se prende apenas à Terra, vez que se sente pertencente ao Universo, às "muitas moradas da casa do Pai", conforme ensinamentos de Jesus. Assim pensando, chegamos à conclusão de que somos essencialmente espíritos, atualmente encarnados. Um dia deixaremos nosso corpo terrestre, como Jesus deixou o seu, conservando apenas o corpo celeste, imortal, conforme o Mestre, de forma genial ensinou e exemplificou!

Fica, entretanto, para muitas pessoas, uma pergunta que invariavelmente aparece quando são feitos estes comentários: Se o túmulo estava vazio e o corpo com que Jesus se apresentava era espiritual, onde ficara seu corpo físico? O Mestre, evidentemente, não podia esclarecer o assunto àqueles com quem convivera, conforme se comprova em suas palavras, já citadas: “Ainda tenho muito a vos dizer, mas não o podeis suportar agora.” (Jo, 16: 12).

Cumprindo a promessa de Jesus, o Consolador vem relembrar as suas lições e explicar muitos fatos que foram registrados pelos Evangelistas, mas que, à época, não foram compreendidos, como as súbitas aparições de Jesus no cenáculo e na pesca, e o seu desaparecimento desconcertante diante dos companheiros de caminhada a Emaús. Tais fatos, tomados por miraculosos por muitos teólogos, encontram no Espiritismo explicações claras e lógicas, não no campo das especulações teológicas, mas dentro da objetividade da Ciência, nas pesquisas do fenômeno de materialização – hoje chamado ectoplasmia pelos parapsicólogos – levado a efeito por vários cientistas, entre os quais se destaca a figura de Sir William Crookes o célebre físico inglês, que pôde provar que o Espírito Katie King, com seu corpo espiritual materializado, limitava-se dentro do plano material como se estivesse encarnado, tornando-se visível, audível e tangível.(“Fatos Espíritas”, William Crookes; “História do Espiritismo”, Arthur Conan Doyle).

Quanto ao desaparecimento do corpo físico de Jesus, pode-se ler esclarecimento sobre a dissipação de fluidos remanescentes em cadáveres, no livro “Obreiros da Vida Eterna”, de André Luiz (caps. 15 e 16). Trata-se de operação piedosa levada a efeito por benfeitores espirituais, que dissipam na atmosfera os fluidos remanescentes no corpo, antes do sepultamento, afim de resguardá-lo de profanação que poderia ser levada a efeito por Espíritos inferiores.

Fazendo-se um paralelo, é lícito supor que o próprio Mestre se haja encarregado de dissipar as energias remanescentes em seu corpo e, ao fazê-lo, desmaterializou-o completamente. É fácil entender que o corpo de Jesus não poderia ficar no túmulo, pois quando se divulgasse a notícia que o Mestre ressurgira da morte, ele seria fatalmente exposto pelos sacerdotes, a fim de negar a ressurreição, que, para quase todos, era apenas física.

E não seria essa a resposta à pergunta crucial deixada no ar pelos cientistas que estudaram exaustivamente o Sudário de Turim, que apresenta impressa a figura de um homem, cujas características coincidem com o que se sabe a respeito do corpo de Jesus, tanto no que tange às características físicas, quanto aos sofrimentos que lhe foram impostos, sem que hajam eles conseguido saber que tipo de fenômeno ocorreu na superfície do tecido para fixar, de maneira impressionante, aquela imagem?

Entretanto, é inegável que essa impressão no tecido não foi provocada por radiação, nem por calor, nem por tintura, nem por pintura. Até hoje não se sabe o que provocou aquelas impressões que permitem a um computador restaurar a figura de um cadáver que fora flagelado e crucificado, antes de ser deposto sobre aquele pano.

Concluindo, pode-se dizer que o Espiritismo, ao decodificar a mensagem de imortalidade deixada por Jesus, esclarece-nos a respeito do que verdadeiramente somos: Espíritos imortais, temporariamente encarnados em corpos mortais!



JOSÉ PASSINI
Passinijose@yahoo.com.br

Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)

17 fevereiro 2010

REFLEXÃO SOBRE FÉ E RELIGIÃO

"... os homens serão verdadeiramente religiosos, racionalmente religiosos sobretudo..."
A Gênese, cap. XIII, item 19.

O olhar filosófico diante do piloti científico, legado pela metodologia racional empregada pelo célebre Codificador do Espiritismo, Allan Kardec, enseja resultados religiosos, porquanto alarga o discernimento do sujeito que reflete, permitindo-lhe albergar em si cosmovisão amplificada.
A fé, desse modo, vai-se solidificando, a pouco e pouco, negando quaisquer métodos hipnóticos ou atitudes que visem proselitismo vulgar.
Quando a crença é impingida por alguém que se julga iniciado, não logra penetrar raízes n'alma, fazendo com que, logo mais, a persona religiosa, piedosa e crente se estilhace, dela irrompendo o homem velho que nunca deixou de existir.
Sob a mais impecável ótica positiva, Immanuel Kant, observando o fenômeno religioso, a posteriori aduziu ao pensamento humano, a existência de duas formas de religião bem definidas, alicerçadas nos interesses dos fiéis e de seus líderes:
A religião da petição de favor, assim nomeada pelo filósofo iluminista, organiza-se visando favores da divindade, não possuindo dinâmica engrandecedora para a criatura. Segundo Kant, a partir dessa modalidade religiosa, surge a fé dogmática, na qual não se exige a reflexão do fiel, mas sua adequação mental, tendo como moldes as "verdades" estabelecidas por seus condutores. A religião moral, por outro lado, prioriza a boa condução na vida, prescrevendo o tornar-se melhor. Nesse campo religioso, de antemão, se concebe um Deus que auxilia, mas ao fiel cabe empreender esforços para fazer-se merecedor da ajuda celeste.
Fruto da religião moral, a fé que reflete opõe-se à fé dogmática, prezando o ser em sua capacidade de discernir, nunca ferindo seu livre arbítrio, facultando-lhe crescimento e libertação perante as amarras da ignorância.
Hodiernamente, percebemos, alardeados pela mídia e procurado por muitos, um sem número de rótulos religiosos que se ajustam ao conceito kantiano em relação à religião da petição de favor. Crenças dessa índole não vêem necessidade da melhoria íntima da criatura humana, bastando realizar as ofertas pecuniárias e as rezas próprias para cada favor almejado, seja a remissão de pecados, seja um qualquer bem material.
Utilizando-se desse atávico pensamento humano diante do transcendente, grande número de oportunistas, esquecendo-se das promessas frente ao ideal do Mestre, quando na erraticidade, há pouco tempo, arvoram-se em "pastores do rebanho de Deus", tornando-se, em verdade, estelionatários da fé, pois com o campo de atuação amplificado pelos meios eletrônicos, lançam mão de expedientes reprocháveis, a fim de concretizar o que podemos chamar de simonia pós-moderna.
Conhecendo as propostas luminíferas da Doutrina Espírita e levando em conta as classificações kantianas, em relação às formas de compreensão do religioso, vemo-la como perfeito arcabouço teórico-prático de finalidade religiosa que, indubitavelmente, é possuidora de caráter moral, geradora de fé racional, coerentemente adquirida através de ação reflexiva. Ao profitente é dada a tarefa de conhecer as Leis do Criador, conhecer-se na condição de co-criador e, a partir disso, buscar trilhar o melhor caminho para alcançar a sabedoria e a felicidade daí advindas.
À criatura que procura instruir-se com o saber teórico, compreendendo conceitos forjados pelas mais lúcidas mentes da humanidade, encarnadas ou não, é facultada uma elevada compreensão de Deus, da natureza e do Espírito.
Adita-se, na religião moral, nesse caso o Espiritismo, a necessidade da iluminação do fiel, adquirida nos campos de atuação da vida, no cotidiano das lutas ásperas, nas dificuldades constantes, pondo em prática seus saberes, demonstrando sua transformação interior. Iluminada, a criatura esparge beleza, ternura e amor, virtudes angariadas pela alma que se alça à moral do Cristo em cada atitude.
A fé que reflete, proposta pela Doutrina Consoladora, é essencialmente concreta, fortalecida pela razão que a elabora sobre bases firmes, porquanto se forja no interior do ser e não em sua superfície.
A fé construída no íntimo, a partir da diretiva moralizante, descrucifica Jesus, visto que não necessita de seu martírio para redimir pecados, ou plasmar complexos de culpa perturbadores.
A fé que reflete se apóia na mensagem do Cristo, nas Suas ações, pois tem Nele o mais puro exemplo de como bem proceder, percebendo-O como Entidade Solar, sublime Modelo e Guia de toda a humanidade.

Cristian Macedo
(Jornal Mundo Espírita )

06 fevereiro 2010

UFOLOGIA

Figuras enigmáticas nas plantações

A partir do inicio da década de 80, misteriosas formações circulares começaram a surgir durante a noite em plantações de cereais no interior da Inglaterra. Essas primeiras formações eram apenas circunferências simples, o que fez com que os fazendeiros locais suspeitassem que as estranhas marcas fossem causadas por helicópteros da Força Aérea Inglesa que, em manobras noturnas, desceriam no meio das plantações deixando os curiosos sinais circulares.
Alguns fazendeiros, mais revoltados com o prejuízo causado em suas colheitas, abriram um processo contra o governo britânico, alegando que ele seria o responsável pelo fenômeno. Isso fez com que o governo Inglês viesse a publico afirmar que não tinha nada a ver com aqueles estranhos acontecimentos, oferecendo um prêmio de cerca de um milhão de libras esterlinas (algo próximo a 2,8 milhões de reais) para quem conseguisse provar ser o responsável pelos misteriosos círculos. Ou que pelo menos desse alguma pista de quem ou o que estaria por trás daquele mistério. Mas até hoje, esse prêmio oferecido pelo governo britânico continua engavetado.
Atrás do prêmio oferecido pelo governo britânico, surgiu uma avalanche de supostos autores, tentando reproduzir os misteriosos círculos.
Um dos primeiros grupos a tentar assumir a autoria dos círculos foi uma equipe de balonistas, que afirmou sair em passeios noturnos e, quando desciam nas plantações, liberavam o ar dos balões para que se formassem tais desenhos.
Outros possíveis autores dos círculos foram a dupla de artistas sexagenários aposentados de Southampton, Doug Bower e David Chorley. Eles afirmaram, perante o publico, serem os responsáveis pelos misteriosos círculos, afirmando que já o faziam a quinze anos, enganando o mundo inteiro. Disseram que iam aos campos munidos de tábuas suspensas por cordas, as quais giravam para que se formassem os círculos nas plantações. Chegaram até a fazer alguns círculos perante a imprensa, mas apenas conseguiram produzir algumas circunferências pequenas, visivelmente toscas e bastante singelas.
Apesar de não terem conseguido chegar nem perto da simetria, dimensão e complexidade dos círculos naturais, essa absurda explicação para o fenômeno correu o mundo e jornais e revistas conceituadas engoliram as alegações como verdadeiras. E assim até hoje os famosos Doug e David são considerados, por pessoas desinformadas, como os verdadeiros responsáveis pelos
círculos.
Apesar da imprensa de um modo geral ter dado o caso por encerrado, acreditando nos "velhinhos ceifadores", com o passar dos anos as figuras foram se tornando cada vez mais complexas. Primeiro eram circunferências simples; depois surgiram circunferências duplas, triplas, quádruplas, quíntuplas, círculos com anéis, figuras triangulares, ovais, espirais etc.
Os círculos viraram símbolos e depois figuras complexas e extraordinárias. E com o aumento na quantidade e complexidade das figuras a cada ano, ficava evidente que aqueles misteriosos desenhos jamais poderiam ser feitos por mãos humanas, pois mesmo que houvesse uma multidão de pessoas desocupadas e interessadas em produzir tal fenômeno não iriam dar conta das centenas de círculos que já viam sendo catalogados em todo o interior da Inglaterra.
É claro que começaram a aparecer grupos tentando falsificar os Círculos, mas esses grupos apenas conseguem produzir desenhos extremamente pequenos, sem simetria e feitos durante a luz do dia, ao contrário dos Círculos originais, que surgem quase que em sua totalidade durante a noite, são desenhos com características semelhantes na sua perfeita geometria e na simetria com que os caules ficam inclinados sem ser danificados, formando uma linha exata que separa os caules que deitam daqueles que continuam em pé.
Esse fenômeno que aparentemente se supunha fosse passageiro, com o passar dos anos vem se tornando cada vez mais extraordinário e inexplicado, atormentando a vida dos fazendeiros da região e intrigando pesquisadores e ufólogos no mundo inteiro.
Alguns pesquisadores passaram a tentar encontrar algumas explicações naturais para desvendar o mistério, como fenômenos climáticos inusitados, casualidades meteorológicas e outras hipóteses mais complexas.
Uma dessas teorias seria de que a Terra liberaria de seu interior uma energia incomum em forma espiral que em contato com nossa atmosfera causaria esse efeito nas plantações.
Também foi levantada a hipótese de que os círculos poderiam se tratar de manifestações de fenômenos poltergeist (expressão que quer dizer "espíritos brincalhões") devido a algumas pessoas relatarem presenciar fenômenos estranhos, alguns auditivos e outros luminosos, quando ficavam acampados nos locais de surgimento de Círculos.
Outra teoria supunha que aqueles desenhos fossem formados por pequenos redemoinhos causados pelos ventos em condições peculiares, esse efeito comprimiria as plantações em pontos específicos e em formatos de círculos.
Ou uma energia plasmática, denominada "plasmavortex", onde nossa atmosfera seria capaz de produzir um distúrbio com fortes propriedades elétricas que quando descem no nível do solo faria um círculo na plantação.
Especulou-se até que tais formações seriam apenas uma conseqüência do buraco que existe na camada de ozônio.
Além de outras teorias absurdas como efeito causado por fungos, porcos-espinhos que depois de comerem cogumelos mágicos saem voando pelo meio da plantação, helicópteros voando de cabeça para baixo, erupções subterrâneas de gás e por aí se vai embora cada um dando asas à sua imaginação.
Mas a cada nova formação que surgia nas plantações, ficava mais evidente que realmente existe alguma inteligência por trás deste maravilhoso mistério, sendo que algumas formações chegaram a se repetir em anos diferentes e em locais distantes.
Os caules das plantações não são amassados, quebrados e nem queimados, eles simplesmente dobram em suas juntas de dentro para fora, como se esses caules tivessem passado por um efeito semelhante ao de microondas. E mesmo depois de inclinados, os caules continuam se desenvolvendo normalmente, as suas juntas também se apresentam inchadas como se tivessem sido aquecidas ou submetidas a uma intensa onda de energia.
Esses desenhos costumam aparecer freqüentemente em plantações de trigo, soja, cevada e milho. E esses cereais afetados chegam a se desenvolver muito mais rápido no interior dos desenhos do que aqueles mais próximos das bordas.
Alguns fazendeiros passaram a construir maquinas agrícolas especializadas em colher os cereais que ficam inclinados para diminuir seus prejuízos na época das colheitas, pois já teve alguns casos de figuras que cobriam uma extensa parte da plantação.
As analises realizadas nas sementes nos cereais do interior dos círculos mostraram que apesar dessas sementes ficarem com uma aparência bastante enrugada, o que não ocorre com as sementes de fora dos desenhos, elas sofrem uma espécie de super adubação e germinam até 40% mais rápidas do que as sementes do lado externo das figuras.
Uma análise através de microscópio mostrou que as paredes internas das células das sementes das plantas do interior dos desenhos também passam por alterações, ficando muito mais esticadas, distorcidas e espaçadas entre si, o que também constata um sinal dessas sementes terem ficado aquecidas durante a formação da figura. Talvez exposta a algum tipo de radiação, dilatando suas pequenas aberturas para a passagem dos íons e eletrólitos.
Todos esses testes também foram feitos nos caules e sementes de Círculos forjados propositadamente, mas nenhuma dessas alterações foi encontrada.
Algumas pessoas achavam que os círculos pudessem ser marcas de pouso de Objetos Voadores Não Identificados, mas diferente das marcas de pouso de OVNIs a plantação onde aparece o círculo não fica queimada ou amassada, coisa bastante comum nos chamados ninhos de UFOS (Marcas de pouso de UFOS). E alguns desenhos chegaram a surgir embaixo de redes elétricas, condição que tornaria bastante complicado para uma nave realizar um pouso.
Mas a ligação com o fenômeno ufológico foi levantada por alguns ufólogos, principalmente pela quantidade de depoimentos de testemunhas que relatam observarem OVNIS nos locais de maior incidência do fenômeno, além de varias fotos e filmagens feitas de sondas ufológicas (Objetos voadores pequenos e não tripulados) sobrevoando as plantações.
Isso nos faz chegar à conclusão de que se não são essas sondas que estão de alguma maneira formando esses desenhos nas plantações, elas também estão bastante interessadas nesses desenhos e estão cada vez se aproximando mais para observá-los.
Apesar do governo inglês não se manifestar sobre o mistério, temos conhecimento que já investiu recursos em pesquisas para desvendar o fenômeno. Mas se chegou a alguma conclusão, ainda não sabemos e até hoje é comum os moradores locais observarem helicópteros negros sobrevoando as plantações onde surgem os desenhos.
Em sua quase totalidade, os desenhos surgem durante a noite, no meio do silêncio e da escuridão nos campos de cereais e pessoas que acampam nos locais de maior incidência, na expectativa de registrar uma dessas figuras se formando, acabam se frustrando por passarem a noite em claro sem conseguir testemunhar nenhuma luz ou som diferente. Algumas vezes acabam se surpreendendo ao ver, com o clarear do dia, que a poucos metros de onde estavam acampados apareceu um desenho, misteriosamente, como se tivesse sido feito por algum tipo de energia invisível ao olho humano.
Existem diversos pesquisadores tentando interpretar o significado dessas figuras, alguns ligando os desenhos a símbolos matemáticos, outros associandos a sistemas astronômicos, além de compará-los à simbologia de civilizações antigas, como Persas, Druídas, Romanos, Celtas, Egípcios etc. Mas conseguem encontrar apenas uma pequena quantidade de desenhos e figuras nesse sentido, o que mostra que o significado dessas figuras talvez seja algo bem mais complexo do que possamos imaginar.
Alguns historiadores ingleses encontraram em uma capa de um tablóide londrino do século XVII, datada do dia 22 de Agosto de 1678, uma narrativa que faz menção à lenda do Demônio Ceifador, relatando misteriosos círculos que apareciam nas plantações inglesas já naquela época, e que os fazendeiros da região atribuíam sua autoria ao demônio. A capa da obra é ilustrada por um desenho de uma figura de um diabo ceifando uma plantação com uma foice nas mãos, e o resultado é bastante semelhante aos círculos encontrados nos dias de hoje.
No dia 21 de Agosto de 1988, o Sr. J. C. Belcher observou que ovelhas que estavam pastando em um campo em Baildon Moor, próximo a Leeds, localizado no condado de Yorkshire na Inglaterra, formavam dois círculos simétricos no meio do pasto, como afirmou Belcher, "parecia como se alguma radiação misteriosa estivesse sendo emanada de cima ou debaixo da pastagem". Será que algum tipo de energia invisível que pode causar aquele efeito nas plantações também pode afetar os animais?
Existem alguns depoimentos de moradores locais, afirmando que seus cães ficam bastante agitados nas noites que surgem as figuras nas plantações, além de ter sido constatado que os gansos parecem evitar sobrevoar os locais onde existem os tais círculos.
Em uma madrugada do mês de julho do ano de 1991, a pesquisadora Rita Goold, acompanhada de outros investigadores do fenômeno dos Círculos nas plantações, durante uma vigília que fazia em um campo próximo à pequena aldeia de Alton Barnes, na Inglaterra –uma região de altíssima incidência do fenômeno– pôde observar, por volta das três horas da madrugada, uma coluna branca bastante luminosa que desceu lentamente de uma nuvem em direção a uma colina próxima do local. Aquela luminosidade envolveu todo o cume da colina, que tem aproximadamente 240 metros de diâmetro, e depois se desfez, desaparecendo repentinamente. O acontecimento durou apenas oito segundos e não deixou nenhum vestígio que pudesse ser encontrado durante o dia no alto da colina.
Outro caso bastante interessante ocorreu nessa mesma época. Dias após surgir um estranho pictograma na noite de 23 de julho de 1991, um jovem com um detetor de metais encontrou três moedas bastante antigas, uma de ouro, outra de prata e uma terceira de bronze, enterradas no interior da figura. E o mais estranho é que nessas moedas estava esculpido o mesmo desenho que havia surgido na plantação. Uma análise feita no metal das moedas constatou um elevadíssimo grau de pureza nos metais, algo praticamente impossível de se conseguir na época em que as moedas haviam sido cunhadas.
A maior quantidade dos Círculos costuma aparecer em plantações localizadas ao redor do local onde esta erguido o monumento de Stonehenge e outros sítios arqueológicos importantes como Avebury e Silbury Hill.
Stonehenge é um monumento de pedras eretas em forma circular muito antigo e está localizado na planície de Salisbury, no sudoeste da Inglaterra. Coincidência ou não, trata-se da região de maior incidência do fenômeno dos Círculos. Essas pedras foram erguidas há milhares de anos (por volta de 3.000 antes de Cristo, segundo alguns arqueólogos) e existem varias lendas atribuindo-lhes poderes místicos. Alguns afirmam que elas se movem sozinhas, transmitem energia às pessoas que ficam em seu interior, fertilizam mulheres estéreis, curam pessoas enfermas, enfeitiçam pessoas más, sussurram previsões etc., da mesma forma que existem lendas antigas que fazem menção ao fenômeno dos círculos, comprovando que esses desenhos já vêm surgindo há muito tempo, o que nos faz especular que supostamente Stonehenge pode ter sido erguido por alguma civilização antiga justamente para imortalizar o fenômeno dos Círculos.
O mistério dos círculos ingleses persiste. A cada ano e a cada nova formação que surge, o fenômeno se torna mais complexo e inexplicável. A simetria e a dimensão dessas figuras são algo extraordinário. Alguns desses desenhos chegam a medir centenas de metros.
O dia que se comprovar que o fenômeno dos círculos tem alguma ligação com o fenômeno ufológico –e tudo leva a crer que sim, em minha modesta opinião– uma foto de um desenho como esses que surgem nas plantações inglesas irá se tornar algo bem mais importante do que uma foto de um Objeto Voador Não Identificado. Isso porque com a foto de um OVNI você estará apenas comprovando que o fenômeno ufológico é autêntico. Mas com uma foto de um desenho desses que surgem misteriosamente nas plantações da Inglaterra você não só estará mostrando que o fenômeno ufológico é real, como também estará constatando que esses seres estão de alguma maneira tentando se comunicar conosco.
O enigma parece não estár próximo de seu final. A cada ano vêm sendo catalogados cerca de trezentos novos desenhos, sempre nos meses de abril, maio, junho, julho e agosto, chegando a um total aproximado de dez mil figuras surgidas na Inglaterra nas décadas de 80 e 90. Esse mistério, junto com o dos Discos Voadores, continua sem uma explicação definitiva, constituindo-se os dois maiores enigmas deste último século. Resta a nós, pesquisadores e pobres mortais, continuarmos tentando buscar respostas para desvendar tais enigmas.
Eu, particularmente, acredito que os círculos realmente são mensagens que estamos recebendo de seres extraterrestres ou seres que habitam uma dimensão paralela e que estão de alguma forma interagindo e tentando se comunicar conosco, passando verdadeiras mensagens cifradas em formas de desenhos nas plantações. Mas infelizmente nossa ignorância ainda é grande a ponto de não nos permitir compreender o significado de tais sinais, e continuamos apenas apreciando a beleza e o mistério dessas sensacionais figuras.

Wallacy Albino
Pesquisador do Grupo de Estudos Ufológicos da Baixada

PSICOSE E REENCARNAÇÃO


Nesta entrevista, o Dr. Mario Sérgio Silveira, psicoterapeuta, explica como o espiritismo pode abrir novas perpectivas no tratamento das doenças mentais.O termo psicose é definido no dicionário como doença mental. Mas o psiquismo humano é algo complexo para ser explicado em poucas palavras, ainda mais quando permite a abordagem espiritual. É bastante comum, também, as pessoas associarem a psicose à loucura. Segundo o psicoterapeuta e assessor técnico do Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro, em Curitiba, dr. Mário Sérgio Silveira, Loucura é uma expressão popular que é utilizada para designar comportamentos que fogem da norma. "As pessoas podem cometer loucuras e não serem necessariamente psicóticas. Deveríamos abandonar este "apelido", tão marcado pelo preconceito", diz Mário Sérgio, que também realizou recentemente uma palestra durante o II Congresso Brasileiro de Psicologia e Espiritismo, sobre o tema Psicose e Estados Alterados da Consciência. De acordo com o especialista, clinicamente os sintomas mais característicos e evidentes da psicose são as alucinações visuais e auditivas e os delírios, que muitas vezes estão associados às alucinações como tentativas que o paciente faz de tentar explicar a invasão alucinatória. Caracteriza-se pela perda de contato com a realidade, entendida como a realidade consensual de nosso nível dimensional, e principalmente, pelo elemento de certeza no que diz respeito ao delírio. É chamada de "crença delirante".Complementa, dizendo que, em investigações no hospital espírita, onde atua, os pesquisadores têm atribuído o fator "influência espiritual" como causa desencadeante em um grande número de casos de psicose.Quais são os critérios utilizados pela psiquiatria para analisar a psicose?Dr. Mário Sérgio Silveira - Além dos critérios da psiquiatria clínica, trabalhamos com a visão psicodinâmica que a psicanálise nos oferece, numa visão estrutural. 0 inconsciente freudiano é estruturado como a linguagem, opera de acordo com as leis da linguagem, através da metáfora e da metonímia. Nesta perspectiva são três grandes estruturas. As neuroses, cujo mecanismo característico é o recalcamento, que funda o inconsciente, separando-o da consciência. Seria o armazenamento de todas as memórias passíveis de serem recuperadas. Aquelas que estão disponíveis de forma mais imediata. É o que chamamos pré-consciente, bastando para isso apenas evocá-Las. A segunda estrutura são as perversões, referentes basicamente à questão da escolha do objeto sexual e da identidade sexual, cujo mecanismo é chamado "denegação". E a terceira estrutura psíquica constitui-se do que chamamos genericamente "as psicoses". Isto significa que o sujeito não dispõe do recurso simbólico da linguagem, pelo menos no que diz respeito às questões essenciais, como a sexualidade, a maternidade, paternidade e a morte. O termo preclusão é emprestado da linguagem jurídica, que significa que uma prova não foi provida em tempo dentro de um processo, ficando, portanto, de fora. Na psicose, o que não foi admitido no simbólico, permanece fora e pode retornar do real na forma de alucinação. Esta é a teoria psicanalítica e tem ainda seu lugar dentre os conhecimentos que devemos considerar na compreensão de algo tão complexo como é o psiquismo humano.Espiritualmente, como a psicose pode ser definida? Como trabalhamos hoje numa perspectiva transdisciplinar, não excluímos nenhum conhecimento. Portanto, reconhecemos a importância das pesquisas da neurociência, uma vez que precisamos entender o funcionamento do "computador cerebral". Reconhecemos que as diversas teorias psicológicas, como a psicologia comportamental, a psicanálise, o psicodrama, a Gestalt, a Bioenergética, as psicologias humanistas e existencialistas e outras mais, têm seu lugar, embora como verdades parciais.No que diz respeito à dimensão espiritual, o próprio Kardec nos convidava a estudar as antigas tradições. Isto posto, quero afirmar que as duas formas de investigação mais produtivas ao alcance de profissionais e cientistas que pretendam conhecer em profundidade o espírito humano é a regressão de memória, que dispõe hoje de diversas técnicas para este fim, e a mediunidade. Fundamentado nos estudos da consciência a partir da física quântica e da psicologia transpessoal, que estuda os diversos níveis e estados de consciência, em investigações realizadas através da terapia regressiva integral e reuniões mediúnicas de desobsessão, podemos afirmar que a psicose é a estrutura psíquica resultante de profundos desequilíbrios do ser em diversas encarnações. Como a estrutura biopsíquica do ser é construída à partir das informações do perispírito, que contém as memórias milenares da caminhada evolutiva do espírito, no encontro com os recursos genéticos e psíquicos de seus futuros pais, podemos compreender que o desequilíbrio energético (informacional), vai repercutir severamente, causando o que chamamos de doenças. No plano psíquico, o sentimento de culpa pode ser devastador, por desajustar a organização mental, além de manter o ser imantado às outras consciências que possa ter prejudicado.Assim, podemos definir a psicose, do ponto de vista espiritual, que constitui a essência do ser, como a "impossibilidade de construir uma personalidade, um "eu atual", em razão da predominância das subpersonalidades anteriores, ainda presas aos dramas ocorridos em outros tempos, incluindo também os demais co-participantes que eventualmente não se libertaram pelo benefício que somente o perdão poderia proporcionar. Deste modo, o ego, esta instância psíquica responsável pela noção de identidade, responsável pelo "critério de realidade", não pode operar, uma vez que não se constituiu, ficou com um "defeito", que chamamos anteriormente "preclusão". Como " a vivência da realidade é função do estado de consciência" (postulado transpessoal) o ser fica à mercê da invasão de "outras vivências de realidade". E aí estamos na experiência psicótica, no que a psiquiatria denomina "delírios e alucinações". Não fosse a interferência dos mecanismos psíquicos, que transformam a apresentação das memórias inconscientes como ocorre nos sonhos, teríamos puras lembranças de vidas passadas. O sujeito dito "normal", que funciona com o ego estruturado de acordo com o recalcamento, tem a capacidade de rememorar vidas ou vivências passadas. Já o psicótico, experimenta este "retorno" na forma de imagens alucinatórias, delírios e confusão mental. Os demais sintomas são decorrências do desmoronamento do mundo simbólico e de sua relação com esta realidade consensual: embotamento afetivo, depressão, sensações corporais estranhas, hipocondria etc.Como identificar um quadro de psicose? Respondendo rapidamente, reconhecemos quando a pessoa entra no que chamamos de "surto", que é um estado de confusão mental, com delírios e alucinações (as mais características são auditivas, quando o paciente refere ouvir vozes), às vezes com liberação de auto e/ou hétero agressividade. Para um diagnóstico mais preciso é necessário a avaliação de um especialista.Existem gêneros específicos de psicose? Quais são os mais comuns?No Brasil, nós utilizamos o Código Internacional de Doenças, que já está em sua décima revisão (CID 10), que é o manual europeu de classificação das doenças. O capítulo V trata dos Transtornos Mentais e Comportamentais, que possui 99 subtítulos. Os mais importantes são: Transtornos mentais orgânicos, transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substâncias psicoativas, as esquizofrenias, transtornos de personalidade, demências e atualmente o mais comum, pelo menos em nossa prática no Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro, os transtornos do humor. A psiquiatria atual preferiu o termo transtorno, para caracterizar um conjunto de sintomas, dentro de certos critérios, inclusive o tempo de duração. Isto é importante, porque conferiu um caráter transitório para os quadros e não mais um rótulo definitivo. Antigamente, tínhamos apenas o diagnóstico de "psicose maníaco-depressiva". Agora, com os transtornos do humor, temos mais nove títulos e dezenas de subtítulo, alguns sem sintomas psicóticos. Isto representa uma segurança muito maior para o paciente, que terá um diagnóstico mais preciso e conseqüentemente uma terapêutica mais adequada. Para melhor esclarecimento, os transtornos do humor variam do pólo depressivo ao eufórico, com ou sem sintomas psicóticos.A psicose pode se manifestar na infância ou "surge" pela primeira vez na idade adulta?É mais raro manifestar-se na infância, embora a estrutura psicótica se estabeleça nesta fase. A primeira infância é fundamental na construção da personalidade. O desencadeamento pode ocorrer na adolescência e na fase adulta, quando alguns fatores podem ser decisivos, como o encontro com a sexualidade, a paternidade, a maternidade ou a morte. Em nossas investigações no hospital, temos atribuído o fator "influência espiritual" como causa desencadeante em um grande número de casos.Existem recursos médicos e espirituais para se evitar ou minimizar um quadro psicótico? A prevenção primária depende da evolução moral da humanidade. Quando pais mais equilibrados recebem em família espíritos em desajuste, maiores chances de recuperação, pois esses espíritos desajustados têm mais possibilidades de construírem uma nova personalidade sadia.Quanto a minimizar, melhor seria dizer tratar, terapeutizar. Neste sentido, os recursos são muito fartos, atualmente, com o avanço das pesquisas psicofarmacológicas, com as antigas e novas psicoterapias, terapia ocupacional, terapias complementares etc. Quanto à dimensão espiritual, penso que os centros espíritas e também os centros de umbanda são grandes centros de profilaxia e tratamento.Em geral, os filmes de terror e suspense mostram os psicóticos como pessoas de personalidade agressiva e imprevisível, que podem matar uma pessoa a qualquer momento. Essas tendências são verdadeiras ou é exagerada pela mídia em geral? Infelizmente, estes casos ocorrem, muitas vezes comandados por vozes que induzem ao homicídio e ao suicídio.Relate alguns casos de pacientes que passaram pelo tratamento e como esses casos se desenvolveram? Vou relatar o caso de uma menina de 14 anos, com o diagnóstico de hebefrenia, ou seja, um quadro psicótico desencadeado ainda na adolescência. Ela chegou no hospital muito prostrada, afeto embotado, confusão mental, ouvindo vozes, apresentando grande dificuldade de contato. Foi medicada com psicofármacos, estimulada a participar de atividades terapêuticas, porém pouco respondia. Seu quadro começou a melhorar quando passou a ser medicada também com homeopatia e seu nome foi incluído no SAE - Serviço de Atendimento Espiritual. No grupo de desobsessão, foi atendida em desdobramento (projeção), o que facilitou muito o contato, pois adquiria maior consciência. Assim, nós soubemos que o tio que a abusou sexualmente, tendo desencadeado seu surto, tinha sido seu marido numa outra existência, quando em estado de embriaguês a matou. O próprio tio, em desdobramento, admitiu que preferia não ter nenhum parentesco, pois a desejava como mulher. Soubemos, também, que o obsesso, desafeto de outra existência, planejou sua vingança agindo sobre seus centros nervosos, de modo a embaralhar suas memórias de vidas passadas, como um arquivo que tivesse suas fichas todas misturadas.Felizmente, tivemos a oportunidade de ajudá-la a acessar estas memórias, revivendo-as e "fechando estas portas", uma a uma, num total de quatro encarnações. O obsessor foi afastado para tratamento e a equipe espiritual relatou a realização de uma espécie de cirurgia nos tecidos sutis de seu perispírito, reconstituindo o "buraco" que havia sido aberto pela aço espiritual. leão é preciso dizer que sua melhora foi surpreendente para os parâmetros da psiquiatria.Em outros casos, encontramos, através do desdobramento, personalidades de outras encarnações que se recusam a aceitar o novo corpo, a família atual, geralmente composta de desafetos de outras existências, e também a condição social que ora se encontram. São "almas" orgulhosas, arrogantes, que não desejavam reencarnar e passar pela experiência retificadora. Provavelmente, se trata de reencarnações compulsórias.Existe cura para a psicose?Existem raros relatos na literatura. O que podemos oferecer é, através do tratamento, a estabilização do quadro e melhor qualidade de vida. Mas se considerarmos que a doença e o sofrimento de hoje fazem parte da cura da alma, temos muito a oferecer.A psicose, analisada espiritualmente, está sempre associada a uma obsessão? Penso que sim, que podemos generalizar, pois todos trazemos dentro de nós personalidades de outras existências muito mal resolvidas, incluindo outras ligações através do ódio e da culpa. Devemos incluir aí a auto obsessão, como nos casos que relatei anteriormente.Qual é o tratamento adequado para o paciente psicótico?O tratamento adequado é interdisciplinar, no mínimo. No Hospital Espírita Bom Retiro caminhamos rumo a transdisciplinariedade, numa visão bio-psico-sóciocultural e espiritual, onde o espiritual ocupa o centro de integração dos diversos saberes, das diversas disciplinas e especialidades. Precisamos superar a divisão, a comparti mentalização, caminhando para uma visão integral. Precisamos abandonar o formalismo, seja científico, filosófico ou religioso. Em suma, o tratamento médico, psicoterápico, ocupacional, familiar, energético e espiritual, de forma integrada.Deixe-nos uma mensagem final.Minha mensagem é de esperança. É necessário que confiemos que todos nós temos um Eu Divino, onde mora a saúde, a paz e principalmente o Amor que tudo equilibra, dentro de um tempo que é transitório e diante da vida que é eterna. A tarefa desta encarnação é a de nos reencontrarmos com o nosso verdadeiro Eu, ainda encoberto pela sombra de nossos enganos na caminhada evolutiva. Evitemos os julgamentos, a culpa e o remorso. Vamos apenas assumir a responsabilidade de "perdoar aos que nos ofenderam, para que o Deus em nós possa nos perdoar".

Notas: (Extraído da Revista Cristã de Espiritismo nº 27, páginas 06-11)

01 fevereiro 2010

A CURA DEFINITIVA

O Espiritismo caminha a passos largos para o cumprimento de seu desiderato na Terra. As idéias propostas na lucidez do pensamento Kardequiano granjeiam novos adeptos, transformando as acanhadas fileiras vitimadas pelas perseguições do passado em multidões de seguidores que quase dão um caráter de modismo ao movimento espírita.
Entretanto, os anseios imediatistas ainda povoam as mentes desprevenidas que esperam encontrar curas miraculosas ao abraçar a crença religiosa.
Lembramo-nos da pergunta de Pedro a Jesus, diante da decepção do jovem rico: "Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos?" (Mt 19-27), e sentimos que, na verdade, ela encontra eco nas expectativas de uma larga legião dos modernos cristãos. Para muitos, o Espiritismo continua a ser a mesma tábua de salvação buscada em outros caminhos, onde todo o mal e toda a dor deveriam desaparecer.
Certa feita, ouvimos uma discussão acirrada, em uma casa espírita que visitávamos, sobre se o Espiritismo cura. Ainda hoje acreditamos ser polêmica essa questão, mas que se define na medida em que constituamos o que se entende, ou melhor, se espera por cura.
Se falamos da cura do corpo, certamente que não. Quem cura são os médiuns curadores, os serviços de passe, a água fluidificada, que utilizamos nos centros espíritas, mas que não são A Doutrina Espírita. São explicados e aplicados por ela, sem que dela se constituam postulado fundamental.
Postulados espíritas são a existência de Deus, a imortalidade da alma, a reencarnação, a pluralidade dos mundos habitados, a comunicabilidade entre os vivos e os chamados mortos. Muitas práticas estão incorporadas às atividades espiritistas por serem correlatas com a sua doutrina, contudo não compreendem uma ideologia, apesar de nela serem elucidadas.
Agora, se falamos da cura da alma, do espírito imortal, nenhum receituário jamais enunciou tantos medicamentos que nos libertassem do sofrimento. Na medida em que esclarece as leis da vida, e sua relação prática com o cotidiano, prepara o retorno ao estabelecimento da saúde espiritual, em toda sua plenitude. Não de inopino, é claro, já que o tempo de recuperação sempre estará ligado ao grau de comprometimento com o erro e ao esforço por se modificar em função da responsabilidade que se adquire com o saber. Dez anos, cinqüenta anos, duas encarnações, não se sabe. Velho provérbio budista afirma que "se não for em sete dias, ou em sete anos, será em sete reencarnações". Como conseqüência do aprimoramento espiritual, as doenças do corpo, que são reflexos das imperfeições do espírito, deixarão de existir, e este encontrará também a saúde.
A diferença está em que enquanto os serviços de passe, os médiuns curadores, a água fluidificada, objetivam atender ao corpo, físico ou espiritual, beneficiando-lhe mas sem imunizá-lo contra a recidiva, a aplicação do pensamento espírita reformula a própria postura do espírito diante da vida, e, como nele se alojam as matrizes primárias das enfermidades, a cura será definitiva.
Como dissemos alguns parágrafos atrás que, se falamos do corpo, certamente o Espiritismo não o cura, acho que acabamos nos contradizendo.
Talvez a Doutrina Espírita cure mesmo. Talvez seja ela a tábua de salvação para as dores do mundo. A questão continua a ser o que na verdade queremos curar; o que precisamos curar. Quanto tempo estamos dispostos a esperar. Quanto sacrifício nos dispomos a doar. E saber, por fim, se queremos a felicidade transitória do mundo ou a paz dos bem-aventurados com Jesus.

João da Silva Carvalho Neto