30 julho 2011

SE KARDEC APERECESSE POR AQUI

Há muito tempo eu venho imaginando: Se Allan Kardec resolvesse se materializar, formar um corpo físico e aparecer mesmo, como um fenômeno, pra todo mundo ver, e desse na cabeça dele de visitar centros espíritas e federações espíritas, o que você acha que poderia acontecer?

Não estou falando da gente sonhar que ele apareceu por aqui, estou levantando uma hipótese dele aparecer mesmo, num corpo, carnal ou fluídico, não importa, de forma que todo mundo pudesse vê-lo, tocá-lo, abraçá-lo e conversar normalmente, independente de ser médium ou não.

Alguns talvez me respondem:

- “Bom, Alamar, se fosse o verdadeiro Allan Kardec, com certeza ele seria muito bem recebido em qualquer centro espírita.”

Será?

Já que criamos o hábito de pensar, para tirarmos conclusões racionais e não nos deixar levar por um provável formador de opinião, vamos questionar então diversas hipóteses de visitas do Codificador em várias casas espíritas.

Vamos às suas visitas

Faz de conta que ele trouxesse livros, com novos ensinamentos, que seria uma espécie de continuação das obras básicas, já que não foi possível ele concluir, posto que desencarnou cedo, em 1869. Ele ficou preparando o material no mundo espiritual, mandou imprimir numa gráfica qualquer, por aqui, ainda sem se revelar, pagou tudo com o dinheiro do bolso dele, como fez da vez passada.

Do mesmo jeito que fez na sua “Viagem Espírita”, acontecida na outra época, onde saía pela França proferindo conferências e vendendo as suas obras, faria agora novamente. Proporia a algumas pessoas que realizassem eventos, obviamente esperando contar com muita gente, pela força do seu nome e, nesses eventos, colocaria os seus livros à venda.

Quais seriam as reações de muitos espíritas, em relação a ele?

Muitos o criticariam, veementemente, sob a acusação de que estaria fazendo “industrialização de eventos espíritas” e não o aceitariam sob argumentação alguma. Iriam querer que ele desse os livros de graça, sem dar a menor importância ao fato dele ter PAGO a uma gráfica para imprimi-los.

Primeira proibição - Ele seria proibido de falar nos centros dirigidos por essas cabeças que acham que TUDO tem que ser dado de graça, até mesmo o que não foi conseguido de graça.

Mas ele continuaria andando por aí, em outras casas.

Outros baixariam o malho, porque não podem admitir que surja qualquer nova revelação, em se falando de Espiritismo. Afinal de contas, a Doutrina já está pronta, é infalível, é imutável, é sagrada e “imexível”.

Segunda proibição – Não lhe seria permitido falar nos centros que acham que a doutrina está pronta e que ninguém tem mais nada a ensinar nem a aprender.

Aí ele resolveria ir em outros centros e, em alguns, encontraria pessoas que se entusiasmariam para recebê-lo e o convidariam para bater um papo informal em alguma reunião com um monte de gente curiosa e com várias perguntas a ele:

- “Kardec, conta pra gente como foi a sua experiência naquele tempo. Você deve ter um monte de coisas pra dizer, que não constam nos livros”

Aí ele, com a sua naturalidade, sempre sendo ele mesmo, abriria a boca e diria:

- “Muitas coisas, sim. EU passei noites em claro, para organizar aqueles ensinamentos que os espíritos passavam para MIM. EU viajei muito por toda a França, para fazer as palestras. Imaginem só: Eu chegava numa cidade e fazia uma palestra para uma platéia que tinha apenas umas 30 pessoas, mas, quando voltava na mesma cidade, um ano depois, já eram mais de 300 pessoas na platéia e, inclusive, eu era muito aplaudido”.

- “Eu mandava imprimir os livros com MEU dinheiro, tinha um cuidado enorme com aqueles livros”.

Qual seria a reação do pessoal?

- “Ele é muito metido a besta, presunçoso e não tem um pingo de humildade. Repararam que ele só fala na primeira pessoa? Diz EU, quando deveria dizer NÓS. Faz questão de dizer que ELE fez, ELE mandou imprimir os livros, faz questão de dizer que os livros foram impressos com MEUdinheiro. Reparou o quanto é vaidoso? Fez questão de dizer que quando voltou à cidade o público aumentou 10 vezes e que ainda o aplaudiu. Ele se acha o máximo”.

Terceira proibição – Neste centro ele não falaria mais, sob a argumentação de ser presunçoso e vaidoso.

Mas continuaria a sua peregrinação pelos centros.

Numa outra casa espírita, cairia na besteira de dizer que “A obra de Roustaing deve ser lida pelos espíritas sérios”.

Misericórdia!!! Vocês já imaginaram as conseqüências que ele sofreria por uma afirmativa desta?

Seu tivesse do lado dele, eu o diria: "Tu és doido, Kardec, de falar uma coisa desta nos dias atuais? Tu tens idéia do que podem fazer contigo, só por falares uma coisa desta? Calma, eu sei que tu afirmastes isto, mas, se queres evitar problemas, é preferível desconversar, inventar que foi algum mal entendido e evitar este assunto. Estou lhe avisando."

Quarta proibição – Aqui ele não fala nunca mais, porque é roustanguista.

Continuaria a sua peregrinação, chegaria a outro centro espírita e era convidado, gentilmente, para participar da mediúnica.

Aí proporia a evocação de espíritos e ele mesmo evocaria algum espírito com o qual desejava se comunicar.

Seria chamado à atenção pela direção dos trabalhos:

- “Esta casa não admite a evocação de espíritos, pedimos ao senhor, meu irmão, a gentileza de respeitar a disciplina da casa. Por favor, mantenha-se em prece e concentrado.”

Quinta proibição – Nunca mais seria chamado para mediúnicas naquela casa.

E continuaria andando por aí, visitando outros centros espíritas, já que ele é daqueles que não desistem nunca.

Foi a um centro grande, que tem uma considerável movimentação financeira, e propôs que investissem recursos na divulgação da doutrina.

Toda a diretoria seria contra ele:

- “A diretoria da casa não admite acatar essa sua idéia. Todo o dinheiro que arrecadamos é para manter a nossa creche e o trabalho social que temos aqui aos sábados, quando distribuímos farnéis para os pobres. Respeitamos o nosso estatuto.”

Sexta proibição - Ali ele não era admitido mais, porque as suas idéias não são compatíveis com os estatutos da casa.

Diante das dificuldades enfrentadas, resolveria que o melhor mesmo era trabalhar sozinho e desenvolver o seu projeto de divulgação da doutrina.

Iria à EMBRATEL, contrataria um espaço de satélite num determinado dia da semana, para fazer um programa de TV falando de Espiritismo, o programa passaria a ser visto em todo o Brasil, o público passaria a gostar dele, os seus livros passariam a ser vendidos, as suas palestras se constituiriam em casas cheias e ele passaria a ser aplaudido de pé em todos os lugares onde chegava, pela sensibilidade e a educação do povo.

O que iria acontecer? Quais seriam os comentários no movimento?

- “Está fazendo movimento espírita paralelo. Quer fazer tudo sozinho, não admite trabalhar em equipe.”

- “Tá querendo é aparecer. Isso é promoção pessoal”.

-“Será que vocês não perceberam que os interesses dele é vender livros? Está mercantilizando a doutrina! Está ficando rico à custa da doutrina!”

Decidia, então, que deveria dar prosseguimento à “Revista Espírita”. Mas, como homem de vanguarda que sempre foi, atualizado, criterioso e de bom gosto, é óbvio que ele não iria procurar uma tipografiazinha vagabunda, para imprimir a revista em papel sem qualidade. Optaria por procurar a Editora Abril ou a Editora Globo, para verificar qual seria a melhor proposta para fazerem a revista circular em todas as bancas do País.

Faria uma revista linda e maravilhosa, com aquele seu bom gosto, com aquela sua capacidade jornalística de escrever, escreveria energicamente respondendo aos detratores da doutrina, usaria, como sempre usou, as palavras “ridículos”, “hipócritas”, “medíocres” e outras no mesmo tom.

Quais seriam as reações?

A revista seria proibida de circular em vários centros, sob várias “justificativas”:

1) As suas cores eram consideradas agressão à humildade, a disposição de estar em todas as bancas do Brasil era considerado como mania de grandeza, presunção, megalomania e certamente deveria ter outros interesses por trás.

2) Ele seria considerado agressivo, pois espíritas jamais pode utilizar de palavras como ridículos, hipócritas e medíocres.

3) Comentariam que ele certamente deveriam estar ficando rico, considerando o tamanho de revista, em todas as bancas do Brasil.

Sétima proibição – É bom evitar falar sobre essa revista.

Em determinado momento aceitaria debater com padres, pastores, críticos, céticos e qualquer detrator ou questionador da doutrina. Ele debateria de forma enérgica, sem máscaras e não admitiria ficar se passando de bonzinho, apenas de aparência. Trataria as pessoas com educação e com respeito, mas não ficaria naquela de chamar os detratores de “meu irmãozinho”.

Oitava proibição - Passaria a sofrer restrições em vários centros, sob a argumentação de ser polêmico e de se envolver em polêmicas.

Mas insistiria em realizar eventos espíritas, voltados ao grande público e venderia os livros espíritas, obviamente ao preço de mercado.

Receberia pesadas críticas e muitas matérias circulariam pela internet, acusando-o de vender livros espíritas “caros”, ainda na acusação de que ele estaria querendo ficar rico à custa da doutrina.

Sem acreditar direito no que estava vendo, quanto ao comportamento de muitos espíritas da atualidade, ele, que sempre gostou de escrever, resolveria, também, escrever na internet, tentando explicar.

- “Meus amigos espíritas: Eu voltei sob um entendimento de que o movimento espírita estivesse praticando um Espiritismo, conforme aquilo que eu coloquei nas Obras Básicas, depois de incontáveis horas de diálogos com os Espíritos, coordenados pelo Espírito da Verdade. Sobre esta questão de ter que vender livros espíritas baratos, eu coloquei para vocês o meu ponto de vista, sobre isto, nunca aceitando esta idéia que espíritas da minha época já alimentavam. O livro espírita, em respeito à grandeza da doutrina, deve ser vendido ao preço de mercado e não ter que ser desvalorizado, para poder chegar ao povo...”

Aí um diretor de centro o interromperia:

- “Meu irmão, não se pode mercantilizar a doutrina, o livro espírita deve ser em preços acessíveis para chegar aos mais pobres...”

- “Mas os livros espíritas não são editados apenas para as pessoas pobres e sim para todas as pessoas que gostam de ler e estão dispostas a ler...”

- “O senhor não pode querer transgredir a disciplina do movimento. Existem normas estabelecidas que devem ser obedecidas e não podemos fazer da doutrina um comércio”.

Ele não teria qualquer força de argumento e o fato de ser o próprio Allan Kardec, não teria importância nenhuma, posto que o que prevalece é o que pensam os dirigentes da instituição, conceitos que são imutáveis.

Imagine se ele fizesse o que fez da vez passada, quando mandava imprimir fotografias suas e as vendia para as pessoas.

Meus amigos leitores: Eu escreveria dez vezes o tamanho deste artigo, demonstrando inúmeras outras dificuldades que Allan Kardec teria com o movimento espírita de hoje e ainda cito um fato: Ele não seria acusado apenas de morar em mansão, de ter tapetes persas em sua casa e carruagens com seis cavalos, não, ele sofreria um gigantesco processo de difamação, seria proibido de falar em muitos centros espíritas, de aparecer em canal de televisão espírita e seria recomendado a estudar e a procurar um trabalho de desobsessão.

Talvez o centro espírita que você trabalha e participa não o trataria de forma tão cruel, mas não tenha dúvidas de que em muitos, em muitos mesmo, ele não seria aceito, de forma alguma e comeria o pão que o diabo amassou

Alamar Régis Carvalho

27 julho 2011

UMA ÉTICA PARA A GENÉTICA

Todo um universo de insuspeitadas dimensões está surgindo da penetração da pesquisa pelos domínios da Biologia.

Tamanha é a massa de informações que está sendo colhida e tão extraordinário o seu conteúdo que muitos cientistas, fascinados pela excitação intelectual do êxito, imaginam-se novos deuses capazes de criar a vida à sua imagem e semelhança. Não sabem que longe disso, estão apenas começando a descobrir os maravilhosos segredos que Deus coloca nas coisas que faz.

O nosso futuro está sendo jogado em partidas pesadas nos laboratórios do presente, por homens e mulheres de ciência que têm o seu próprio código de ética, que talvez não seja o que melhor convém à sociedade humana. É que nesse verdadeiro exército de cientistas são percentagem desprezível aqueles que têm consciência da grandeza de Deus e do sentido espiritual da vida. Vendo-os trabalharem nos seus magníficos laboratórios, concentrados no estudo do homem, ocorre a nós, que estamos voltados para a realidade espiritual, a nítida expressão de que estão estudando os componentes materiais de marionetes, mas ignorando totalmente a consciência e as motivações que fazem os bonecos se moverem. Ah! Que falta nos fazem cientistas espíritas que se dediquem, com reverência e amor, ao estudo das forças que impulsionam a vida e que lhe dão forma e sentido, não apenas dos componentes materiais em que ela se apóia!

Surgem, por isso, dilemas atrozes que envolvem milhões de seres. "Se permitirmos que os fracos e os deformados vivam - diz o doutor Theodosius Dobzhansky - e propaguem a sua espécie, teremos que enfrentar um crepúsculo genético. Mas, se os deixarmos morrerem ou sofrerem quando podemos salvá-los, enfrentaremos a certeza de um crepúsculo moral".

A equação não está bem armada porque a pesquisa ainda não recebeu o impulso certo na direção correta. O pensamento deve ser reformulado. Que processos espirituais ou psicossomáticos desencadeiam deficiências físicas? Podem ser revertidos? Podem ser evitados? Podemos impedir que se propaguem? Certamente que essas possibilidades poderão ser exploradas com segurança, a partir do instante em que o cientista se convencer de que o homem não é meramente um mecanismo biológico, mas um ser espiritual. O problema é realmente difícil para aquele que não aceita nem como hipótese de trabalho, a realidade espiritual. É que, para atuar no mundo material, o espírito precisa ter na matéria os contatos e as "tomadas" necessárias, junto aos quais atua através do seu perispírito.

Até que assuma tal posição, no entanto, muita desorientação ainda há de provocar danos imprevisíveis aos processos da vida e, por conseguinte, ao homem das futuras gerações. É que, sem o saber, a ciência está interferindo em alguns dos dispositivos da própria reencarnação, ao manipular genes, na tentativa de acelerar ou provocar desvios no sistema evolucionista da vida. O homem moderno tem pressa; não quer esperar pela sabedoria das leis divinas. Está, assim, tentando obrigar a natureza a dar saltos, coisa que ele nunca fez. Os planos são muitos e cada qual mais mirabolante. Ainda na infância espiritual, os homens de ciência descobriram no universo do ser um imenso e imprevisto quarto de brinquedos, os brinquedos da vida. Os projetos são inúmeros e o limite é a imaginação de cada um. Um deles é aumentar a caixa craniana para ter homens mais inteligentes. E fazer o que com a inteligência? - perguntamos nós. Os astronautas não precisam de pernas, portanto, vamos mexer nos genes para criar homens sem pernas. A mulher deseja filhos? Ë fácil: faça-se nela a inseminação com material genético devidamente estudado e preparado. Quer filhos, mas não deseja a gravidez? Implante-se seu óvulo em mãe mercenária. Quer filhos homens, de olhos azuis e cabelos louros? Basta alterar os genes, no ponto certo, tirando partículas e acrescentando outras. Se homens e mulheres desejarem conservar do sexo apenas o prazer momentâneo, então os seres poderão ser criados em úteros artificiais, em série, fabricados em incubadeiras coletivas, às quais qualquer um poderá encomendar seus filhos pelo crediário, com rígidas especificações, com se fosse um novo automóvel. Se o país precisa de um novo exército, "gera-se" um, clonizando células de grandes militares. Para transmitir conhecimentos, basta injetar as "células da memória" de um ser que sabe noutro que não sabe. Para preservar a vida física indefinidamente, pensam os biologistas emclonizar seres humanos de reserva, que ficariam cuidadosamente depositados em congeladores para fornecerem "sobressalentes", tais como coração, pulmões, rins, braços ou pernas, e até cabeças novas para aqueles desgastados pelo uso ou abuso.

Há planos para criar um monstro meio homem meio máquina, chamado "cyborg", que seria um cérebro vivo, ligado a um mecanismo que apenas servisse às suas limitadíssimas necessidades. Já se pratica a técnica da criogenia, segundo a qual se congelam as pessoas doentes ou desgostosas da vida para no futuro, quando for possível resolver os seus problemas biológicos ou psicológicos , sejam trazidas de volta à vida ativa. E o Espírito? Disso ninguém cuida, dele ninguém sabe, por ele ninguém se interessa.

Os centros das sensações estão sendo identificados e "mapeados" nas ignotas regiões do cérebro. A introdução de eletrodos em determinados pontos provoca sensações novas e extraordinárias. Experiências feitas em ratos levaram os pobres animais a uma completa alucinação na busca desesperada do prazer, até a morte por exaustão, completamente desinteressados de tudo o mais, inclusive alimentação e atividade sexual. Descobertas como estas criam problemas imprevisíveis de comportamento futuro. Já há quem preveja "centros de experimentação" em substituição às drogas aos bares e aos cafés, onde as criaturas se reuniriam para viver horas de prazeres nunca dantes experimentados, ligados a uma aparelhagem verdadeiramente diabólica.(...)

Acham outros cientistas que, retirando de um indivíduo alguns componentes genéticos, podem reproduzi-lo à vontade, com todas as suas características físicas - cor de pele, dos olhos e dos cabelos - e, ainda, com absoluta identidade mental e espiritual. Seria, assim, fácil criar um milhão ou dois de novos Lincolns ou Esteins. é claro que, se isso fosse possível, não faltaria quem desejasse criar uma quadrilha inteira de Al Capones ou nação de Hitlers. Nesse ponto, o embriologista Robert T. Francoeur, diz um basta! - que é um brado de alerta: "Xerox de gente? Não deveria ser praticada em laboratório, nem mesmo uma só vez, com seres humanos".

A questão é que os cientistas escolhem seus métodos e decidem sua própria ética. E é por isso que já se pensa nos Estados Unidos, a sério, na proposição de leis que instituam um código ético básico para traçar limites ao que pode ou não pode ou não deve ser realizado, em laboratórios com o ser humano. O problema é, no entanto, muitíssimo mais complexo, porque a tais atitudes respondem muitos cientistas declarando a impossibilidade de pesquisar dentro de faixas rigidamente estabelecidas por legisladores que não estão preparados para decidir questões de âmbito científico.

Por outro lado, mesmo que seja possível estabelecerem, os próprios cientistas um código voluntário de ética, quem poderá assegurar a aplicação ética das descobertas que forem realizadas? Isso porque a ciência pura não se interessa - em princípio - pela utilização de seus "achados". Os homens que começaram a desvendar os segredos do átomo talvez não permitissem que se atirassem bombas sobre populações indefesas, se para isso tivessem autoridade política e militar, mas os que jogam bombas não são os mesmos que descobrem os processos de liberação da energia nuclear.

Não é minha intenção, neste brevíssimo e incompleto sumário, inquietar ou assustar o leitor, mas creio que é útil a todos nós dar essa espiada ligeira em alguns dos problemas que estão ocupando os melhores intelectuais do mundo moderno. Não podemos, no entanto, livrar-nos de uma pesada e opressiva sensação de melancolia, ao vermos que tanto esforço, tempo, dinheiro e talento, são colocados na tentativa infantil de "corrigir" a obra de Deus. Nesta atmosfera de ficção, onde tudo é possível para o cientista, onde está o espírito? Onde está Deus? Vemos, desalentados, que essas entidades não são tomadas em consideração nem mesmo como hipóteses de trabalho, para ajudar o raciocínio ou testar experimentações incompreensíveis, quando deveriam ser a base, o princípio dominante de toda a especulação em torno dos fenômenos da vida, manifestação legítima da grandeza de infinita de Deus.

Ao contrário, o que vemos nessas pesquisas e nesses estudos, são homens brilhantíssimos, donos das mais respeitáveis técnicas, trabalhando nos mais avançados laboratórios, mas de cabeça baixa, voltados para a matéria, só matéria, matéria sempre, sem saberem que o átomo é apenas o suporte transitório da vida, muleta de que o ser precisa por algum tempo, no início da sua carreira evolutiva na sua escalda para o infinito, na direção de Deus.

Para tomar um só exemplo, vejamos o que está sendo pesquisado em torno da memória. A história começa com a sensacional descoberta do RNA (ácido ribonucleico) e do DNA (ácido desoxirribonucleico), ingredientes básicos do gene existente nas células de todos os organismos vivos. Esse achado científico foi considerado tão importante quanto a desintegração atômica, porque foi surpreender fenômenos da vida nas suas bases de sustentação e propagação. Na realidade, as pesquisas vão de tal forma adiantadas que Arthur Kornberg, da Universidade de Stanford, conseguiu produzir uma fieira de moléculas de DNA capaz de reproduzir-se, tal como um vírus.

Experiências posteriores, partindo do conhecimento obtido acerca do conhecimento obtido acerca do comportamento do RNA, sugerem a possibilidade de transferir informações armazenadas na memória de um ser para a memória de outro, mas os próprios cientistas ainda têm muitas dúvidas sobre a validade dos dois testes feitos, que não acham bastante conclusivo. No entanto, já se partiu para a especulação das possibilidades e perspectivas resultantes da experimentação. Alguém imaginou as "pílulas do conhecimento" que, compradas na drogaria ali na esquina, poderiam proporcionar àquele que as ingerisse conhecimento de línguas, de arte ou de matemática. A coisa, porém, não é tão simples assim, porque então, como diz James Mac Connell, psicólogo da Universidade de Michigan, para que desperdiçar todo o vasto conhecimento adquirido por um eminente professor? Em lugar de aposentá-lo ao cabo de uma vida de trabalho, a solução melhor seria os alunos comerem o mestre...

Brincadeira, ou não, o certo é que as aventuras no domínio da genética e da biologia prosseguem na ignorância total da condição espiritual do homem.

Wilder Penfield, um cirurgião canadense, ao realizar uma operação cerebral com anestesia local descobriu que certos pontos do cérebro, eletricamente estimulados, levavam o paciente a ouvir uma canção antiga, ou a reviver, com todos os seus vívidos pormenores, uma esquecida cena da infância, ou uma senhora a experimentar, novamente as sensações de uma antiga gravidez. Daí, concluíram alguns cientistas que o cérebro tem capacidade para registrar e conservar com precisão incrível todas as sensações que recebe, por menos importantes que sejam. O ESPIRITISMO sabe disso há muito tempo, ensinando que esse registro se faz no perispírito, mesmo porque as memórias que guardamos não são apenas as desta vida, mas as das anteriores também, até onde alcançar a nossa consciência. A demonstração disso está no fenômeno da regressão da memória. (...)

Abismado pelas complexidades e grandezas da biologia molecular, o homem ainda não aprendeu a ser humilde diante da obra de Deus e perguntar, como George W. Carver, o que desejou o Criador dizer com as maravilhosas coisas que fez. Em lugar disso, o homem quer criar e corrigir a obra da natureza, uma obra da qual ele ainda não entendeu sequer os princípios fundamentais.

Todas essas descobertas e debates estão preocupando os pensadores, teólogos e filósofos dos tempos modernos. Que vai sair desses laboratórios ameaçadores? Um ser artificial? Um "cyborg" a ditar ordens implacáveis? Multidõesclonizadas por cópias, como xerox? Seres sem alma? Nada disso! Se forem criadas artificialmente as condições existentes na mais profunda e sagrada intimidade do organismo materno, o espírito aí se encarnará, mas o homem não poderá criar a vida, isto é, um ser humano pensante, mesmo que tente copiá-lo de um já existente! (...)

Esse é o quadro que a biologia molecular e a genética estão compondo neste exato momento em que o leitor lê estas linhas. O homem está brincando é de aprendiz de feiticeiro e se os poderes espirituais não tomassem as medidas necessárias, no tempo oportuno, a civilização moderna se suicidaria em poucos decênios. Muitas dores por certo ainda hão de vir enquanto brilhar a inteligência divorciada da moral, mas não está muito longe o dia em que Deus vai mostrar, mais uma vez, que o Universo que Ele criou não anda à matroca, nem precisa de correções, a não ser aquelas que forem necessárias para corrigir os desvios provocados pela vaidade humana.

Há, pois, uma urgente necessidade, neste ponto de civilização: uma ética para a genética.

O nosso futuro está sendo jogado em partidas pesadas nos laboratórios do presente, por homens e mulheres de ciência que têm o seu próprio código de ética

Hermínio C. Miranda

Da Revista Reformador jun/1971

25 julho 2011

PERFIS DE CARDEC

Poucos são os registros acerca das características físicas de Allan Kardec. Raras as fotos. Mais conhecidas as que o mostram no vigor dos seus anos juvenis e a outra, na madureza, já então em sua fase espírita.

Chamado de "o bom senso encarnado", quais suas características psicológicas?

Miss Anna Blackwell(1), responsável pela tradução das obras de Allan Kardec para a língua inglesa, teve oportunidade de assim deixar registradas suas impressões a respeito do Codificador:

"Pessoalmente Allan Kardec era de estatura média. Compleição forte, com uma cabeça grande, redonda, maciça, feições bem marcadas olhos pardos, claros, mais se assemelhando a um alemão do que a um francês. Enérgico e perseverante, mas de temperamento calmo, cauteloso e não imaginoso até a frieza, incrédulo por natureza e por educação, pensador seguro e lógico, e eminentemente prático no pensamento e na ação. Era igualmente emancipado do misticismo e do entusiasmo... Grave, lento no falar, modesto nas maneiras, embora não lhe faltasse uma certa calma dignidade, resultante da seriedade e da segurança mental, que eram traços distintos de seu caráter. Nem provocava nem evitava a discussão mas nunca fazia voluntariamente observações sobre o assunto a que havia devotado toda a sua vida, recebia com afabilidade os inúmeros visitantes de toda a parte do mundo que vinham conversar com ele a respeito dos pontos de vista nos quais o reconheciam um expoente, respondendo a perguntas e objeções, explanando as dificuldades, e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava com liberdade e animação, de rosto ocasionalmente iluminado por um sorriso genial e agradável, conquanto tal fosse a sua habitual seriedade de conduta que nunca se lhe ouvia uma gargalhada.(...)"

Do mundo espiritual, Guaracy Paraná Vieira(3), assim teceu o perfil de Allan Kardec: " Portador de um caráter diamantino, a verdade nele transparecia no raciocínio e na ação.

Prudente, não se permitia avançar sem a segurança do êxito.

Em uma época de transição cultural e de afirmação da ciência, ele permaneceu fiel ao compromisso com Jesus, contribuindo para a libertação das criaturas, oferecendo-lhes os recursos do laboratório e do pensamento fixados nas bases morais do Evangelho.

Agredido, desculpou; caluniado, não revidou; perseguido, compreendeu.

No entanto, nunca se acovardou, e a sua foi uma existência digna, pura, trabalhadora, rica de experiências luminosas.

Não se permitindo o repouso antes do tempo, desencarnou sob o excesso de esforço, deixando incorruptível a Doutrina Espírita que lhe perpetua o nome, a vida e a missão.

Allan Kardec é o apóstolo dos tempos novos, de todos os tempos futuros, exemplo de herói discreto e de abnegado missionário de Jesus na Terra."

A outra face do codificador - O homem do lar

De sua parte, Léon Denis(2), que o conheceu e com ele teve contato pessoal por três vezes, assim relata a conferência de Allan Kardec em Tours:

"Para recebê-lo e ouvi-lo tínhamos alugado uma sala na rua Paul-Louis Courrier e solicitado à Prefeitura alvará para uma concentração, pois no tempo do Segundo Império qualquer reunião de mais de vinte pessoas era rigorosamente proibida por lei. No momento fixado para a reunião, o nosso pedido foi formalmente indeferido. Fui então encarregado de ficar na porta do local, avisar os convidados de que a reunião tinha sido transferida para a Spirite-Ville, na casa do Sr. Rebondin, rua do Sentier, onde a assembléia iria realizar-se no jardim.

Éramos mais ou menos trezentos ouvintes, de pé, apinhados sob as árvores, pisando nos canteiros do nosso hospedeiro. Sob a luz das estrelas, elevava-se a voz grave e suave de Allan Kardec, e a sua fisionomia meditativa, iluminada por pequena lâmpada colocada sobre uma mesinha, no centro do jardim, assumia aspecto fantástico.(...)

No dia seguinte, voltei à Spirite-Ville para visitar o Mestre. Encontrei-o de pé sobre pequeno banco, junto a uma grande cerejeira, a colher frutos que atirava à Sra. Allan Kardec. Era uma cena bucólica, contrastando alegremente com as suas graves preocupações."

1. Doyle, Arthur Conan. História do Espiritismo. Cap. 21
2. Luce, Gaston. Léon Denis, vida e obra. pt. 1ª Cap. I
3. Franco, Divaldo Pereira. Perfis da vida. Cap. 1

(Fonte: Jornal Mundo Espírita )

18 julho 2011

AMAR AO PRÓXIMO

O testamento de Léon de Tolstoi (1828 - 1910)

Publicado por Caibar Schutel na Revista Internacional de Espiritismo de 15 de abril de 1936

Eu não poderia me deter nem contemporizar mais. É inútil vacilar e pensar mais sobre o que tenho que dizer. A vida não espera. Minha existência declina e de repente posso desaparecer. Se me é dado ainda prestar alguns serviços aos homens, se posso fazer-me perdoar os meus pecados, minha vida ociosa e material, não será senão fazendo saber aos homens meus irmãos o que me foi dado compreender mais claramente que eles; o que me tortura e martiriza o coração há muitos anos.

Todos os homens sabem, como eu, que nossa vida não é o que deveria ser e que nos fazemos mutuamente desgraçados.

Sabemos que para ser felizes e fazer ditosos os outros, é preciso amar o nosso próximo como a nós mesmos; se nos é impossível fazer ao nosso semelhante o que quiséramos que ele nos fizesse, pelo menos não lhe façamos o que não queremos que ele não nos faça.

É isto que ensinam as religiões de todos os povos; é o que mandam que façamos, a nossa razão e a nossa consciência.

A morte do invólucro corporal que nos ameaça a cada instante, recorda-nos o caráter efêmero dos nossos atos; assim, a única coisa que podemos fazer e que pode levar-nos à felicidade e à serenidade, é obedecer a cada instante o que nos ordenam a nossa razão e consciência, se não crermos na revelação ou no ensino do Cristo.

Em outros termos: se não podemos fazer ao nosso próximo o que quiséramos que ele nos fizesse, ao menos não lhe façamos o que não desejamos para nós.

Embora todos conheçamos há muito tempo esta verdade, em vez de realizá-la, os homens se matam, roubam, violentam. E assim, em vez de viverem na alegria, na tranqüilidade, no amor, sofrem, penam e não sentem senão ódio e medo uns dos outros. Por toda a parte, em toda a superfície da Terra, os homens tratam de dissimular sua vida insensata, esquecerem-se de si mesmos, sofrear seu sofrimento, sem poderem conseguir; o número dos desgraçados que perdem a razão e se suicidam aumenta todos os anos, porque é superior às suas forças suportar uma vida contrária à natureza humana.

Mas, dir-se-á, talvez, é necessário que a vida seja assim; é necessária a existência dos imperadores, dos reis, dos governos, dos parlamentos que mandam milhões de homens, providos de fuzis e de canhões, atirarem-se uns sobre os outros; necessárias as fábricas e os estabelecimentos que produzem objetos inúteis e prejudiciais, e onde milhões de homens, mulheres e crianças são transformadas em máquinas, sofrendo 10,12 e 15 horas por dia; necessário o despovoamento crescente das cidades e a invasão das mesmas com asilos noturnos, seus refúgios de crianças, seus hospitais; necessário o aprisionamento de milhares de homens.

Acaso é necessário que a doutrina do Cristo, que ensina a concórdia, o perdão das ofensas, o amor ao próximo, ao inimigo; seja inculcada aos homens por sacerdotes de várias e numerosas seitas em luta contínua, e sob fórmulas de fábulas estúpidas e imorais sobre a criação do mundo e do homem, sobre seu castigo e sua redenção pelo Cristo, e sobre tal ou qual rito, tal ou qual sacramento? Talvez, semelhante estado de coisas seja natural ao homem, como é natural às formigas e às abelhas viverem em seus formigueiros e em suas colmeias em contínua luta e sem outro ideal. Assim, de fato, é que dizem muitos.

Mas o coração humano não quer crer. Sempre se sobrelevou contra a vida mentirosa e tem sempre convidado aos homens a se deixarem levar pela razão e pela consciência; e nos nossos dias faz tal chamamento mais urgente do que nunca.

Já sabemos demasiadamente que nossa vida não abarca séculos, milhares de anos, uma eternidade, e entretanto, nos achamos na Terra vivendo, pensando, amando, gozando a vida...

E agora podemos passar estes setenta anos - se chegarmos a tal idade, porque podemos não viver senão alguns dias, algumas horas - no desgosto, no ódio, ou na alegria e no amor; podemos viver com a consciência de estar fazendo o mal, ou bem, de realizar, ainda imperfeitamente, o que podemos crer que seja nosso dever.

" - Andai preparados, andai preparados, andai preparados" - dizia, aos homens, João Batista.

" - Andai preparados" - dizia o Cristo.

" - Andai preparados" - diz a voz de Deus, tanto como a voz da consciência e da razão.

Entretanto, distingamos as nossas ocupações, cada um dos nossos prazeres, e perguntemos a nós mesmos: fazemos o que devemos, ou gastamos inutilmente nossa vida, (...)

Bem sei que basta uma vista de olhos, como um cavalo que faz voltear uma roda; nos parece impossível deter-nos para refletir um instante, dizendo:

"Nada de tantas reflexões; atos sim".

E outros afirmam:

"Não é preciso, cada um pensar em si mesmo, em nossos desejos, quando a obra, a cujo serviço nos achamos, é a nossa família, a arte, a ciência, a sociedade, tudo pelo interesse geral".

Outros garantem:

"Tudo está pensado e experimentado há muito tempo e ninguém encontrou algo melhor; sigamos, pois, nossa vida e nada mais".

Outros, enfim, pretendem:

"Refletir ou não refletir, tudo é a mesma coisa; vive-se e depois se morre; o melhor é, pois, viver para o prazer. Quando se quer refletir, vê-se que a vida é pior do que a morte e atenta-se sobre os seus próprios dias. Assim, basta de reflexões, vivamos como pudermos".

Não ouçais essas vozes; para todos aqueles raciocínios, responderei simplesmente:

"Atrás de mim vejo a eternidade, tempo em que eu ainda não existia; diante de mim pressinto a mesma noite infinita na qual a morte pode, repentinamente tragar-me. Agora vivo e posso, eu sei que posso, fechar voluntariamente os olhos para uma existência cheia de misérias; mas sei que abrindo-os para olhar em redor de mim, posso escolher o melhor e o que é mais belo. Assim, digam o que quiserem as vozes, sejam quais forem as seduções que me atraem, forçado que esteja à obra que tenha começado e arrastado pela vida que me rodeia; eu me detenho, examino e reflito".

Eis o que eu tinha de lembrar aos meus semelhantes antes de passar para o infinito...

Léon Tolstoi

10 julho 2011

HEREDITARIEDADE

"Só a inteligência consegue traçar linhas inteligentes.
Em razão disso, e atendendo-se aos objetivos finalistas do Universo, não será possível esquecer o Plano Divino, quando se trate de qualquer imersão mais profunda na Genética, ainda mesmo que isso repugne aos cultores da ciência materialista."

PRINCÍPIO INTELIGENTE E HEREDITARIEDADE - Reportando-nos à lei da hereditariedade, é imperioso, de certo modo, recordar a Geometria para simplificar-lhes os conceitos.
Considerando a Geometria por ciência que estuda as propriedades do espaço limitado, vamos encontrar a hereditariedade como lei que define a vida, circunscrita à forma que se externa.
Só a inteligência consegue traçar linhas inteligentes.
Em razão disso, e atendendo-se aos objetivos finalistas do Universo, não será possível esquecer o Plano Divino, quando se trate de qualquer imersão mais profunda na Genética, ainda mesmo que isso repugne aos cultores da ciência materialista.
Como se estruturam os cromatídeos nos cromossomos é problema que, de todo, por enquanto, nos escapa ao sentido, mas sabemos que os Arquitetos Espirituais, entrosados à Supervisão Celeste, gastaram longos séculos preparando as células que serviriam de base ao reino vegetal, combinando nucleoproteínas a glúcides e a outros elementos primordiais, a fim de que se estabelecesse um nível seguro de forças constantes, entre a bagagem do núcleo e do citoplasma.
Com semelhante realização, o princípio inteligente começa a desenvolver-se do ponto de vista fisiopsicossomático.
Não apenas a forma física do futuro promete então revelar-se, mas também a forma espiritual.

HEREDITARIEDADE E AFINIDADE - Nas épocas remotas, os Semeadores Divinos guiavam a elaboração das formas, traçando diretrizes ao mundo celular, em favor do principio inteligente, então conduzido ante a sociedade espiritual como a criança irresponsável ante a sociedade humana; todavia, á medida que se lhe alteia o conhecimento, passa a responsabilizar-se por si mesmo, pavimentando o caminho que o investirá na posse da herança Celestial no regaço da Consciência Cósmica.
Com alicerces na hereditariedade, toma a forma física e se desvencilha dela, para retorna-la em nova reencarnação capaz de elevar-lhe o nível cultural ou moral, quando não seja para refazer tarefas que deixou viciadas ou esquecidas na retaguarda.
Contudo, ligado inevitavelmente aos princípios de seqüência, é compelido a renascer na Terra, ou a viver além da morte, com raras exceções, entre os seus próprios semelhantes, porquanto hereditariedade e afinidade no plano físico e no pIano extrafísico, respectivamente, são leis inelutáveis, sob as quais a alma se diferencia para a Esfera Superior, por sua própria escolha, aprendendo com larga soma de esforço a reger-se pelo bem invariável, que, em lhe assegurando equilíbrio, também lhe confere poder sobre os fatores circunstanciais do próprio ambiente, a fim de criar valores mais nobres para os seus impulsos de perfeição

GEOMETRIA TRANSCENDENTE - Chegada a essa eminência, a criatura submete-se à lei da hereditariedade, com o direito de alterar-lhe as disposições fundamentais até ponto não distante do limite justo, segundo o merecimento de que disponha. Para ajudar aos semelhantes na escalada a mais amplas aquisições na senda evolutiva, recolhe, assim, concurso precioso dos Organizadores do Progresso, na mitose do ovo que lhe facultara novo corpo no mundo, de vez que toda permuta de cromossomos, no vaso uterino, está invariavelmente presidida por agentes magnéticos ordinários ou extraordinários, conforme o tipo da existência que se faz ou refaz, com as chaves da hereditariedade atendendo aos seus fins
Eis porque, interpretando os cromossomos à guisa de caracteres em que a mente inscreve, nos corpúsculos celulares que a servem, as disposições e os significados dos seus próprios destinos, caracteres que são constituídos pelos genes, como as linhas são formadas de pontos, genes aos quais se mesclam os elementos chamados bióforos, e tomando os bióforos, nesses pontos, como sendo os grânulos de tinta que os colorem, será licito comparar os princípios germinativos, nos domínios inferiores, aos traços da Geometria elementar, que apenas cogita de linhas e figuras simples da evolução, para encontrar, nesses mesmos princípios, nos domínios superiores da alma, a Geometria transcendente, aplicada aos cálculos diferenciais e integrais das questões de causa e efeito.

HEREDITARIEDADE E CONDUTA - Portanto, como é fácil de sentir e apreender, o corpo herda naturalmente do corpo, segundo as disposições da mente que se ajusta a outras mentes, nos circuitos da afinidade, cabendo, pois, ao homem responsável reconhecer que a hereditariedade relativa mas compulsória lhe talhará o corpo físico de que necessita em determinada encarnação, não lhe sendo possível alterar o plano de serviço que mereceu ou de que foi incumbido, segundo as suas aquisições e necessidades, mas pode, pela própria conduta feliz ou infeliz, acentuar ou esbater a coloração dos programas que lhe indicam a rota, através dos bióforos ou unidades de forca psicossomática que atuam no citoplasma, projetando sobre as células e, conseqüentemente, sobre o corpo os estados da mente, que estará enobrecendo ou agravando a própria situação, de acordo com a sua escolha do bem ou do mal.



(Cap. completo em Evolução em Dois Mundos, VII, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

05 julho 2011

CENTROS VITAIS

"O centro coronário, instalado na região central do cérebro, sede da mente, assimila os estímulos do Plano Superior e orienta a forma, o movimento, a estabilidade, o metabolismo orgânico e a vida consciencial da alma encarnada ou desencarnada, nas cintas de aprendizado que lhe corresponde no abrigo planetário."

Estudado no plano em que nos encontramos, na posição de criaturas desencarnadas, o corpo espiritual ou psicossoma é, assim, o veículo físico, relativamente definido pela ciência humana, com os centros vitais que essa mesma ciência, por enquanto, não pode perquirir e reconhecer.
Nele possuímos todo o equipamento de recursos automáticos que governam os bilhões de entidades microscópicas a serviço da Inteligência, nos círculos de ação em que nos demoramos, recursos esses adquiridos vagarosamente pelo ser, em milênios e milênios de esforço e recapitulação, nos múltiplos setores da evolução anímica.
É assim que, regendo a atividade funcional dos órgãos relacionados pela fisiologia terrena, nele identificamos o centro coronário, instalado na região central do cérebro, sede da mente, centro que assimila os estímulos do Plano Superior e orienta a forma, o movimento, a estabilidade, o metabolismo orgânico e a vida consciencial da alma encarnada ou desencarnada, nas cintas de aprendizado que lhe corresponde no abrigo planetário. O centro coronário supervisiona, ainda, os outros centros vitais que lhe obedecem ao impulso, procedente do Espírito, assim como as peças secundárias de uma usina respondem ao comando da peça-motor de que se serve o tirocínio do homem para concatená-las e dirigi-las.
Desses centros secundários, entrelaçados no psicossoma, e, conseqüentemente, no corpo físico, por redes plexiformes, destacamos o centro cerebral contíguo ao coronário, com influência decisiva sobre os demais, governando o córtice encefálico na sustentação dos sentidos, marcando a atividade das glândulas endocrínicas e administrando o sistema nervoso, em toda a sua organização, coordenação, atividade e mecanismo, desde os neurônios sensitivos até as células afetoras; o centro laríngeo, controlando notadamente a respiração e a fonação; o centro cardíaco, dirigindo a emotividade e a circulação das forças de base; o centro esplênico, determinando todas as atividades em que se exprime o sistema hemático, dentro das variações de meio e volume sanguíneo; o centro gástrico, responsabilizando-se pela digestão e absorção dos alimentos densos ou menos densos que, de qualquer modo, representam concentrados fluidicos penetrando-nos a organização, e o centro genésico, guiando a modelagem de novas formas entre os homens ou o estabelecimento de estímulos criadores, com vistas ao trabalho, à associação e à realização entre as almas.

CENTRO CORONÁRIO - Temos particularmente no centro coronário o ponto de interação entre as forças determinantes do espírito e as forças fisiopsicossomáticas organizadas.
Dele parte, desse modo, a corrente de energia vitalizante formada de estímulos espirituais com ação difusível sobre a matéria mental que o envolve, transmitindo aos demais centros da alma os reflexos vivos de nossos sentimentos, idéias e ações, tanto quanto esses mesmos centros, interdependentes entre si, imprimem semelhantes reflexos nos órgãos e demais implementos de nossa constituição particular, plasmando em nós próprios os efeitos agradáveis ou desagradáveis de nossa influência e conduta.
A mente elabora as criações que lhe fluem da vontade, apropriando-se dos elementos que a circundam, e o centro coronário incumbe-se automaticamente de fixar a natureza da responsabilidade que lhes diga respeito, marcando no próprio ser as conseqüências felizes ou infelizes de sua movimentação consciencial no campo do destino.

ESTRUTURA MENTAL DAS CÉLULAS - É importante considerar, todavia, que nós, os desencarnados, na esfera que nos é própria, estudamos, presentemente, a estrutura mental das células, de modo a iniciarmo-nos em aprendizado superior, com mais amplitude de conhecimento, acerca dos fluidos que nos integram o clima de manifestação, todos eles de origem mental e todos entretecidos na essência da matéria primária, ou Hausto Corpuscular de Deus, de que se compõe a base do Universo Infinito.

CENTROS VITAIS E CÉLULAS - São os centros vitais fulcros energéticos quem sob a direção automática da alma, imprimem às células a especialização extrema, pela qual o homem possui no corpo denso, e detemos todos no corpo espiritual em recursos equivalentes, as células que produzem fosfato e carbonato de cálcio para a construção dos ossos, as que se distendem para a recobertura do intestino, as que desempenham complexas funções químicas no fígado, as que se transformam em filtros do sangue na intimidade dos rins e outras tantas que se ocupam do fabrico de substâncias indispensáveis à conservação e defesa da vida nas glândulas, nos tecidos e nos órgãos que nos constituem o cosmo vivo de manifestação.
Essas células que obedecem às ordens do Espírito, diferenciando-se e adaptando-se às condições por ele criadas, procedem do elemento primitivo, comum, de que todos provimos em laboriosa marcha no decurso dos milênios, desde o seio tépido do oceano, quando as formações protoplásmicas nos lastrearam as manifestações primeiras.
Tanto quanto a célula individual, a personalizar-se na ameba, ser unicelular que reclama ambiente próprio e nutrição adequada para crescer a reproduzir-se, garantindo a sobrevivência da espécie no oceano em que respira, os bilhões de células que nos servem ao veículo de expressão, agora domesticadas, na sua quase totalidade em funções exclusivas, necessitam de substâncias especiais, água, oxigênio e canais de exoneração excretória para se multiplicarem no trabalho específico que nosso espírito lhes traça, encontrando, porém, esse clima, que lhes é indispensável, na estrutura aquosa de nossa constituição fisiopsicossomática, a expressar-se nos líquidos extracelulares, formados pelo líquido interstical e pelo plasma sanguíneo.

EXTERIORIZAÇÃO DOS CENTROS VITAIS - Observando o corpo espiritual ou psicossoma, desse modo, em nossa rápida síntese, como veículo eletromagnético, qual o próprio corpo físico vulgar, reconhecermos facilmente que, como acontece na exteriorização da sensibilidade dos encarnados, operada pelos magnetizadores comuns, os centros vitais a que nos referimos são também exteriorizáveis, quando a criatura se encontre no campo da encarnação, fenômeno esse a que atendem habitualmente os médicos e enfermeiros desencarnados, durante o sono vulgar, no auxílio a doentes físicos de todas as latitudes da Terra, plasmando renovações e transformações no comportamento celular, mediante intervenções no corpo espiritual, segundo a lei de merecimento, recursos esses que se popularizarão na medicina terrestre do grande futuro.

(Evolução em Dois Mundos, cap. II, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

ENTRE A TERRA E O CÉU - UMA AULA PRÁTICA SOBRE OS CENTROS VITAIS:
"Assinalando-nos decerto a curiosidade, de vez que também percebia Hilário interessado em adquirir informações e conhecimentos em torno dos problemas que anotávamos de perto, o instrutor convidou-nos a observar a infortunada criança, comunicando: "Como não desconhecem, o nosso corpo de matéria rarefeita está intimamente regido por sete centros de força, que se conjugam nas ramificações dos plexos e que, vibrando em sintonia unas com os outros, ao influxo do poder diretriz da mente, estabelecem, para nosso uso, um veículos de células elétricas, que podemos definir como sendo um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em circuito fechado. Nossa posição mental determina o peso específico do nosso envoltório espiritual e, consequentemente, o "habitat" que lhe compete. Mero problema de padrão vibratório. Cada qual de nós respira em determinado tipo de onda. Quanto mais primitiva se revela a condição da mente, mais fraco é o influxo vibratório do pensamento, induzindo a compulsória aglutinação do ser às regiões da consciência embrionária ou torturada, onde se reúnem as vidas inferiores que lhes são afins. O crescimento do influxo mental, no veículo eletromagnético em que nos movemos, após abandonar o corpo terrestre, está na medida da experiência adquirida e arquivada em nosso próprio espírito. Atentos à semelhante realidade, é fácil compreender que sublimamos ou desequilibramos o delicado agente de nossas manifestações, conforme o tipo de pensamento que nos flui da vida íntima. Quanto mais nos avizinhamos da esfera animal, maior é a condensação obscurecente de nossa organização, e quanto mais nos elevamos, ao preço de esforço próprio, no rumo das gloriosas construções do espírito, maior é a sutileza de nosso envoltório, que passa a combinar-se facilmente com a beleza, com a harmonia e com a luz reinantes na Criação Divina."
Ouvíamos as preciosas explicações, enlevados, mas Clarêncio, reparando que não nos cabia fugir do quadro ambiente, voltou-se para a garganta enferma de Júlio e continuou:
"Não nos afastemos das observações práticas, para estudar com clareza os conflitos da alma. Tal seja a viciação do pensamento, tal será a desarmonia no centro de força, que rege em nosso corpo a essa ou àquela classe de influxos mentais. Apliquemos à nossa aula rápida, tanto quanto nos seja possível, a terminologia trazida do mundo, para que vocês consigam fixar com mais segurança os nossos apontamentos. Analisando a fisiologia do perispírito, classifiquemos os seus centros de força, aproveitando a lembrança das regiões mais importantes do corpo terrestre. Temos assim, por expressão máxima do veículo que nos serve presentemente, o "centro coronário" que, na Terra, é considerado pela filosofia hindu como sendo o lótus de mil pétalas, por ser o mais significativo em razão de seu alto poder de radiações, de vez que nele assenta a ligação com a mente, fulgurante sede da consciência. Esse centro recebe em primeiro lugar os estímulos do espírito, comandando os demais, vibrando todavia com eles em regime de interdependência, Considerando em nossa exposição os fenômenos do corpo físico, e satisfazendo aos impositivos de simplicidade em nossas definições, devemos dizer que dele emanam as energias de sustentação do sistema nervoso e suas subdivisões, sendo o responsável pela alimentação das células do pensamento e o provedor de todos os recursos eletromagnéticos indispensáveis à estabilidade orgânica. É, por isso, o grande assimilador das energias solares e dos raios da Espiritualidade Superior capazes de favorecer a sublimação da alma. Logo após, anotamos o "centro cerebral", contíguo ao "centro coronário, que ordena as percepções de variada espécie, percepções essa que, na vestimenta carnal, constituem a visão, a audição, o tato e a vasta rede de processos da inteligência que dizem respeito à Palavra, à Cultura, à Arte, ao Saber. É no "centro cerebral" que possuímos o comando do núcleo endocrínico, referente aos poderes psíquicos. Em seguida, temos o "centro laríngeo", que preside aos fenômenos vocais, inclusive às atividades do timo, da tiróide, e das paratiróides. Logo após, identificamos o "centro cardíaco", que sustenta os serviços da emoção e do equilíbrio geral. Prosseguindo em nossas observações, assinalamos o "centro esplênico", que no corpo denso, está sediado no baço, regulando a distribuição e a circulação dos recursos vitais em todos os escaninhos do veículo de que nos servimos. Continuando, identificamos o "centro gástrico, que se responsabiliza pela penetração de alimentos e fluidos em nossa organização e, por fim, temos o "centro genésico", em que se localiza o santuário do sexo, como templo modelador de formas e estímulos."
O instrutor fez pequena pausa de repouso e prosseguiu: "Não podemos olvidar, porém, que o nosso veículo sutil, tanto quanto o corpo de carne, é criação mental no caminho evolutivo, tecido com recursos tomados transitoriamente por nós mesmos aos celeiros do Universo, vaso de que nos utilizamos para ambientar em nossa individualidade eterna a luz divina da sublimação, com que nos cabe demandar as esferas do Espírito Puro. Tudo é trabalho da mente, no espaço e no tempo, a valer-se de milhares de formas, a fim de purificar-se e santificar-se para a Glória Divina."
"Quando a nossa mente, por atos contrários à Lei Divina, prejudica a harmonia de qualquer um desses fulcros de força de nossa alma, naturalmente se escraviza aos efeitos da ação desequilibrante, obrigando-se ao trabalho de reajuste. No caso de Júlio, observamo-lo como autor da perturbação no "centro laríngeo", alteração que se expressa por enfermidade ou desequilíbrio a acompanhá-lo fatalmente à reencarnação."

(Entre a Terra e o Céu, cap. XX, André Luiz/Chico Xavier, FEB)