28 abril 2010

CENTROS VITAIS

"O centro coronário, instalado na região central do cérebro, sede da mente, assimila os estímulos do Plano Superior e orienta a forma, o movimento, a estabilidade, o metabolismo orgânico e a vida consciencial da alma encarnada ou desencarnada, nas cintas de aprendizado que lhe corresponde no abrigo planetário."

Estudado no plano em que nos encontramos, na posição de criaturas desencarnadas, o corpo espiritual ou psicossoma é, assim, o veículo físico, relativamente definido pela ciência humana, com os centros vitais que essa mesma ciência, por enquanto, não pode perquirir e reconhecer.
Nele possuímos todo o equipamento de recursos automáticos que governam os bilhões de entidades microscópicas a serviço da Inteligência, nos círculos de ação em que nos demoramos, recursos esses adquiridos vagarosamente pelo ser, em milênios e milênios de esforço e recapitulação, nos múltiplos setores da evolução anímica.
É assim que, regendo a atividade funcional dos órgãos relacionados pela fisiologia terrena, nele identificamos o centro coronário, instalado na região central do cérebro, sede da mente, centro que assimila os estímulos do Plano Superior e orienta a forma, o movimento, a estabilidade, o metabolismo orgânico e a vida consciencial da alma encarnada ou desencarnada, nas cintas de aprendizado que lhe corresponde no abrigo planetário. O centro coronário supervisiona, ainda, os outros centros vitais que lhe obedecem ao impulso, procedente do Espírito, assim como as peças secundárias de uma usina respondem ao comando da peça-motor de que se serve o tirocínio do homem para concatená-las e dirigi-las.
Desses centros secundários, entrelaçados no psicossoma, e, conseqüentemente, no corpo físico, por redes plexiformes, destacamos o centro cerebral contíguo ao coronário, com influência decisiva sobre os demais, governando o córtice encefálico na sustentação dos sentidos, marcando a atividade das glândulas endocrínicas e administrando o sistema nervoso, em toda a sua organização, coordenação, atividade e mecanismo, desde os neurônios sensitivos até as células afetoras; o centro laríngeo, controlando notadamente a respiração e a fonação; o centro cardíaco, dirigindo a emotividade e a circulação das forças de base; o centro esplênico, determinando todas as atividades em que se exprime o sistema hemático, dentro das variações de meio e volume sanguíneo; o centro gástrico, responsabilizando-se pela digestão e absorção dos alimentos densos ou menos densos que, de qualquer modo, representam concentrados fluidicos penetrando-nos a organização, e o centro genésico, guiando a modelagem de novas formas entre os homens ou o estabelecimento de estímulos criadores, com vistas ao trabalho, à associação e à realização entre as almas.

CENTRO CORONÁRIO - Temos particularmente no centro coronário o ponto de interação entre as forças determinantes do espírito e as forças fisiopsicossomáticas organizadas.
Dele parte, desse modo, a corrente de energia vitalizante formada de estímulos espirituais com ação difusível sobre a matéria mental que o envolve, transmitindo aos demais centros da alma os reflexos vivos de nossos sentimentos, idéias e ações, tanto quanto esses mesmos centros, interdependentes entre si, imprimem semelhantes reflexos nos órgãos e demais implementos de nossa constituição particular, plasmando em nós próprios os efeitos agradáveis ou desagradáveis de nossa influência e conduta.
A mente elabora as criações que lhe fluem da vontade, apropriando-se dos elementos que a circundam, e o centro coronário incumbe-se automaticamente de fixar a natureza da responsabilidade que lhes diga respeito, marcando no próprio ser as conseqüências felizes ou infelizes de sua movimentação consciencial no campo do destino.

ESTRUTURA MENTAL DAS CÉLULAS - É importante considerar, todavia, que nós, os desencarnados, na esfera que nos é própria, estudamos, presentemente, a estrutura mental das células, de modo a iniciarmo-nos em aprendizado superior, com mais amplitude de conhecimento, acerca dos fluidos que nos integram o clima de manifestação, todos eles de origem mental e todos entretecidos na essência da matéria primária, ou Hausto Corpuscular de Deus, de que se compõe a base do Universo Infinito.

CENTROS VITAIS E CÉLULAS - São os centros vitais fulcros energéticos quem sob a direção automática da alma, imprimem às células a especialização extrema, pela qual o homem possui no corpo denso, e detemos todos no corpo espiritual em recursos equivalentes, as células que produzem fosfato e carbonato de cálcio para a construção dos ossos, as que se distendem para a recobertura do intestino, as que desempenham complexas funções químicas no fígado, as que se transformam em filtros do sangue na intimidade dos rins e outras tantas que se ocupam do fabrico de substâncias indispensáveis à conservação e defesa da vida nas glândulas, nos tecidos e nos órgãos que nos constituem o cosmo vivo de manifestação.
Essas células que obedecem às ordens do Espírito, diferenciando-se e adaptando-se às condições por ele criadas, procedem do elemento primitivo, comum, de que todos provimos em laboriosa marcha no decurso dos milênios, desde o seio tépido do oceano, quando as formações protoplásmicas nos lastrearam as manifestações primeiras.
Tanto quanto a célula individual, a personalizar-se na ameba, ser unicelular que reclama ambiente próprio e nutrição adequada para crescer a reproduzir-se, garantindo a sobrevivência da espécie no oceano em que respira, os bilhões de células que nos servem ao veículo de expressão, agora domesticadas, na sua quase totalidade em funções exclusivas, necessitam de substâncias especiais, água, oxigênio e canais de exoneração excretória para se multiplicarem no trabalho específico que nosso espírito lhes traça, encontrando, porém, esse clima, que lhes é indispensável, na estrutura aquosa de nossa constituição fisiopsicossomática, a expressar-se nos líquidos extracelulares, formados pelo líquido interstical e pelo plasma sanguíneo.

EXTERIORIZAÇÃO DOS CENTROS VITAIS - Observando o corpo espiritual ou psicossoma, desse modo, em nossa rápida síntese, como veículo eletromagnético, qual o próprio corpo físico vulgar, reconhecermos facilmente que, como acontece na exteriorização da sensibilidade dos encarnados, operada pelos magnetizadores comuns, os centros vitais a que nos referimos são também exteriorizáveis, quando a criatura se encontre no campo da encarnação, fenômeno esse a que atendem habitualmente os médicos e enfermeiros desencarnados, durante o sono vulgar, no auxílio a doentes físicos de todas as latitudes da Terra, plasmando renovações e transformações no comportamento celular, mediante intervenções no corpo espiritual, segundo a lei de merecimento, recursos esses que se popularizarão na medicina terrestre do grande futuro.

(Evolução em Dois Mundos, cap. II, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

ENTRE A TERRA E O CÉU - UMA AULA PRÁTICA SOBRE OS CENTROS VITAIS:
"Assinalando-nos decerto a curiosidade, de vez que também percebia Hilário interessado em adquirir informações e conhecimentos em torno dos problemas que anotávamos de perto, o instrutor convidou-nos a observar a infortunada criança, comunicando: "Como não desconhecem, o nosso corpo de matéria rarefeita está intimamente regido por sete centros de força, que se conjugam nas ramificações dos plexos e que, vibrando em sintonia unas com os outros, ao influxo do poder diretriz da mente, estabelecem, para nosso uso, um veículos de células elétricas, que podemos definir como sendo um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em circuito fechado. Nossa posição mental determina o peso específico do nosso envoltório espiritual e, consequentemente, o "habitat" que lhe compete. Mero problema de padrão vibratório. Cada qual de nós respira em determinado tipo de onda. Quanto mais primitiva se revela a condição da mente, mais fraco é o influxo vibratório do pensamento, induzindo a compulsória aglutinação do ser às regiões da consciência embrionária ou torturada, onde se reúnem as vidas inferiores que lhes são afins. O crescimento do influxo mental, no veículo eletromagnético em que nos movemos, após abandonar o corpo terrestre, está na medida da experiência adquirida e arquivada em nosso próprio espírito. Atentos à semelhante realidade, é fácil compreender que sublimamos ou desequilibramos o delicado agente de nossas manifestações, conforme o tipo de pensamento que nos flui da vida íntima. Quanto mais nos avizinhamos da esfera animal, maior é a condensação obscurecente de nossa organização, e quanto mais nos elevamos, ao preço de esforço próprio, no rumo das gloriosas construções do espírito, maior é a sutileza de nosso envoltório, que passa a combinar-se facilmente com a beleza, com a harmonia e com a luz reinantes na Criação Divina."
Ouvíamos as preciosas explicações, enlevados, mas Clarêncio, reparando que não nos cabia fugir do quadro ambiente, voltou-se para a garganta enferma de Júlio e continuou:
"Não nos afastemos das observações práticas, para estudar com clareza os conflitos da alma. Tal seja a viciação do pensamento, tal será a desarmonia no centro de força, que rege em nosso corpo a essa ou àquela classe de influxos mentais. Apliquemos à nossa aula rápida, tanto quanto nos seja possível, a terminologia trazida do mundo, para que vocês consigam fixar com mais segurança os nossos apontamentos. Analisando a fisiologia do perispírito, classifiquemos os seus centros de força, aproveitando a lembrança das regiões mais importantes do corpo terrestre. Temos assim, por expressão máxima do veículo que nos serve presentemente, o "centro coronário" que, na Terra, é considerado pela filosofia hindu como sendo o lótus de mil pétalas, por ser o mais significativo em razão de seu alto poder de radiações, de vez que nele assenta a ligação com a mente, fulgurante sede da consciência. Esse centro recebe em primeiro lugar os estímulos do espírito, comandando os demais, vibrando todavia com eles em regime de interdependência, Considerando em nossa exposição os fenômenos do corpo físico, e satisfazendo aos impositivos de simplicidade em nossas definições, devemos dizer que dele emanam as energias de sustentação do sistema nervoso e suas subdivisões, sendo o responsável pela alimentação das células do pensamento e o provedor de todos os recursos eletromagnéticos indispensáveis à estabilidade orgânica. É, por isso, o grande assimilador das energias solares e dos raios da Espiritualidade Superior capazes de favorecer a sublimação da alma. Logo após, anotamos o "centro cerebral", contíguo ao "centro coronário, que ordena as percepções de variada espécie, percepções essa que, na vestimenta carnal, constituem a visão, a audição, o tato e a vasta rede de processos da inteligência que dizem respeito à Palavra, à Cultura, à Arte, ao Saber. É no "centro cerebral" que possuímos o comando do núcleo endocrínico, referente aos poderes psíquicos. Em seguida, temos o "centro laríngeo", que preside aos fenômenos vocais, inclusive às atividades do timo, da tiróide, e das paratiróides. Logo após, identificamos o "centro cardíaco", que sustenta os serviços da emoção e do equilíbrio geral. Prosseguindo em nossas observações, assinalamos o "centro esplênico", que no corpo denso, está sediado no baço, regulando a distribuição e a circulação dos recursos vitais em todos os escaninhos do veículo de que nos servimos. Continuando, identificamos o "centro gástrico, que se responsabiliza pela penetração de alimentos e fluidos em nossa organização e, por fim, temos o "centro genésico", em que se localiza o santuário do sexo, como templo modelador de formas e estímulos."
O instrutor fez pequena pausa de repouso e prosseguiu: "Não podemos olvidar, porém, que o nosso veículo sutil, tanto quanto o corpo de carne, é criação mental no caminho evolutivo, tecido com recursos tomados transitoriamente por nós mesmos aos celeiros do Universo, vaso de que nos utilizamos para ambientar em nossa individualidade eterna a luz divina da sublimação, com que nos cabe demandar as esferas do Espírito Puro. Tudo é trabalho da mente, no espaço e no tempo, a valer-se de milhares de formas, a fim de purificar-se e santificar-se para a Glória Divina."
"Quando a nossa mente, por atos contrários à Lei Divina, prejudica a harmonia de qualquer um desses fulcros de força de nossa alma, naturalmente se escraviza aos efeitos da ação desequilibrante, obrigando-se ao trabalho de reajuste. No caso de Júlio, observamo-lo como autor da perturbação no "centro laríngeo", alteração que se expressa por enfermidade ou desequilíbrio a acompanhá-lo fatalmente à reencarnação."

(Entre a Terra e o Céu, cap. XX, André Luiz/Chico Xavier, FEB)

26 abril 2010

EQUILÍBRIO E PRECE

"No circuito de forças estabelecido com a oração, a alma não apenas se predispõe a regenerar o equilíbrio das células físicas viciadas ou exaustas, através do influxo das energias renovadoras que incorpora, espontaneamente, assimilando os raios da Vida Mais Alta a que se dirige, mas também reflete as sugestões iluminativas das Inteligências desencarnadas de condição mais nobre, com as quais se coloca em relação." André Luiz

É indispensável compreender que a Inteligência encarnada conta com múltiplos meios de preservar o corpo físico em que se demora.
Além dos inestimáveis serviços da pele e da mucosa intestinal que o defendem das intromissões indébitas de elementos físicos e químicos, prontos a lhe arruinarem a estabilidade, o homem consegue mobilizar todo um sistema de quimioterapia bacteriana, atualmente em plena evolução para mais ampla eficiência, com a antibiose ou atuação bacteriostática levada a efeito por determinadas unidades microbianas sobre outras, na vanguarda dos processos imunológicos.
É possível, então, coibir, com relativa segurança, a febre tifóide, as disenterias, a tuberculose, as riquetsioses, a psitacose, as infecções pulmonares e urinárias, etc.; entretanto, não acontece o mesmo, quando nos reportamos à atmosfera psicológica em que toda criatura se submerge na vida social do Planeta.
Visto a distância, o homem, na arena carnal, pode ser comparado a um viajor na selva de pensamentos heterogêneos, aprendendo, por intermédio de rudes exercícios, a encontrar o seu próprio caminho de libertação e ascese. Mentalmente exposto a todas as influ6encias psíquicas, é imperioso se eduque para governar os próprios impulsos, aperfeiçoando-se moral e intelectualmente, para que se lhe aprimorem as projeções.
No que tange à saúde e manutenção do corpo e no que se refere à aquisição de conhecimentos, utiliza a consulta a médicos e nutricionistas, professores e orientadores diversos. É natural, dessa forma, se valha da prece para angariar a inspiração de que precisa, a fim de afinizar-se com as diretrizes superiores.
No circuito de forças estabelecido com a oração, a alma não apenas se predispõe a regenerar o equilíbrio das células físicas viciadas ou exaustas, através do influxo das energias renovadoras que incorpora, espontaneamente, assimilando os raios da Vida Mais Alta a que se dirige, mas também reflete as sugestões iluminativas das Inteligências desencarnadas de condição mais nobre, com as quais se coloca em relação.

PRECE E RENOVAÇÃO - Na floresta mental em que avança, o homem frequentemente se vê defrontado por vibrações subalternas que o golpeiam de rijo, compelindo-o à fadiga e à irritação, sejam elas provenientes de ondas enfermiças, partidas dos desencarnados em posição de angústia e que lhe partilham o clima psíquico, ou de oscilações desorientadas dos próprios companheiros terrestres desequilibrados a lhe respirarem o ambiente. Todavia, tão logo se envolva na vibrações balsâmicas da prece, ergue-se-lhe o pensamento aos planos sublimados, de onde recolhe as ideias transformadoras dos Espíritos benevolentes e amigos, convertidos em vanguardeiros de seus passos, na evolução.

Orar constitui a fórmula básica da renovação íntima, pela qual divino entendimento desce co Coração da Vida para a vida do coração.

Semelhante atitude da alma, porém, não deve, em tempo algum, resumir-se a simplesmente pedir algo ao Suprimento Divino, mas pedir acima de tudo, a compreensão quanto ao plano da Sabedoria Infinita, traçado para o seu próprio aperfeiçoamento, de maneira a aproveitar o ensejo de trabalho e serviço no bem de todos, que vem a ser o bem de si mesma.


(Mecanismos da Mediunidade, XXV, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

25 abril 2010

REENCARNAÇÃO E EVOLUÇÃO

"O progresso pode ser comparado a montanha que nos cabe transpor, sofrendo-se naturalmente os problemas e as fadigas da marcha, enquanto que a recuperação e a expiação podem ser consideradas como essa mesma subida, devidamente recapitulada, através de embaraços e armadilhas, miragens e espinheiros que nós mesmos criamos."

REENCARNAÇÃO E EVOLUÇÃO - Urge reparar em que a reencarnação não é mero princípio regenerativo. A evolução natural nela encontra firme apoio. Criaturas que avultam e bondade, em muitas ocasiões requerem conhecimento nobilitante, e muitas que se agigantaram na inteligência permanecem à mingua de virtude. Outras inumeráveis, embora detendo preciosos valores, nos domínios do coração e do cérebro, após longo estágio no plano extrafísico, sentem fome de progresso renovador por inabilitadas, ainda, a ascensões maiores e renunciam à tranqüilidade a que se integram nos grupos afins, porque, no cadinho efervescente da carne, analisando, de novo, as próprias imperfeições, testando-lhes a amplitude nas rudes experiências da vida humana, obtendo mais avançado ensejo de corrigenda e transformação.
Isso não significa que a consciência desencarnada deixe de encontrar possibilidades de expansão nas cidades espirituais que gravitam em torno da Terra. Outras modalidades de estudo e trabalho aí lhe asseguram novos fatores de evolução; contudo, escassa percentagem de criaturas humanas, além da morte, adquirem acesso definitivo aos planos superiores.
A esmagadora maioria jaz ainda ligada às ideologias e raças, pátrias e realizações, famílias e lares do mundo. É por isso que artistas eméritos, ao notarem o curso diferente das escolas que deixaram no Planeta, sentem-se irresistivelmente atraídos para a reencarnação, a fim de preservar-lhes ou enriquecer-lhes os patrimônios. Cientistas eminentes, interessados na continuidade dos empreendimentos redentores que largaram em mãos alheias, volvem ao trabalho e à experimentação entre os homens, e, no mesmo espírito missionário, religiosos e filósofos, professores e condutores, homens e mulheres que se distinguem por nobres aspirações retornam, voluntariamente, à esfera física, em sagradas lições de auxílio que lhes valem honrosos degraus de sublimação na escalada para a Divina Luz. Entendamos, assim, que tanto a regeneração quanto a evolução não se verificam sem preço. O progresso pode ser comparado a montanha que nos cabe transpor, sofrendo-se naturalmente os problemas e as fadigas da marcha, enquanto que a recuperação e a expiação podem ser consideradas como essa mesma subida, devidamente recapitulada, através de embaraços e armadilhas, miragens e espinheiros que nós mesmos criamos. Se soubermos, porém, suar no trabalho honesto, não precisaremos suar e chorar no resgate justo. E não se diga que todos os infortúnios da marcha de hoje estejam debitados a compromissos de ontem, porque, com a prudência ou imprudência, com a preguiça e o trabalho, com o bem e o mal, melhoramos ou agravamos a nossa situação, reconhecendo-se que todo dia, no exercício de nossa vontade, formamos novas causas, refazendo o destino.

André Luiz (espírito)

22 abril 2010

HITÓRIA DA PAPISA JOANA

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Por : Maurice de Lachatre.
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As provas da existência da papisa

Durante muitos séculos a história da papisa Joana havia sido reputada pelo próprio clero como incontestável e, com o andar dos tempos, os ultramontanos, compreendendo o escândalo e o ridículo que o reinado de uma mulher devia lançar sobre a Igreja, trataram de fábula digna do desprezo dos homens esclarecidos, o pontificado dessa mulher célebre. Autores mais justiceiros defenderam, pelo contrário, a reputação de Joana e provaram com testemunhos autênticos que a papisa havia ilustrado o seu reinado com o brilho das suas luzes e com a prática das virtudes cristãs.

O fanático Baronio considera a papisa um monstro que os ateus e os heréticos tinham evocado do inferno por sortilégios e malefícios; o supersticioso Florimundo Raxmond compara Joana a um segundo Hércules que teria sido enviado do céu para esmagar a Igreja Romana, cujas abominações tinham excitado a cólera de Deus.

Contudo, a papisa foi vitoriosamente defendida por um historiador inglês chamado Alexandre Cook; a sua memória foi por ele vingada das calúnias dos seus adversários e o pontificado de Joana retomou o seu lugar na ordem cronológica da história dos papas. As longas disputas dos católicos e dos protestantes acerca desta mulher deram um atrativo poderoso à sua história e somos obrigados a entrar em todos os detalhes de uma existência tão extraordinária.

Eis aqui narrado, de que maneira o jesuíta Labbé, um dos inimigos da papisa, enviou o seu cartel de desafio aos cristãos reformados: "Dou o mais formal desmentido a todos os heréticos da França, da Inglaterra, da Holanda, da Alemanha, da Suíça e de todos os países da Terra para que possam responder com a mais leve aparência de verdade à demonstração cronológica que publiquei contra a fábula que os heterodoxos narraram sobre a papisa Joana, fábula ímpia cujas bases destruí de um modo invencível". Os protestantes, longe de ficarem intimidados com a imprudência do jesuíta, refutaram vitoriosamente suas alegações, demonstraram todo o edifício das suas astúcias e das suas mentiras e, apesar dos anátemas do padre Labbé, fizeram sair Joana dos espaços imaginários em que o fanatismo a tinha envolvido.

No seu libelo, o padre Labbé acusava João Hus, Jerônimo de Praga, Wiclef, Lutero e Calvino de serem inventores da história da papisa. Porém, provou-se-lhe que, tendo Joana subido à santa sede aproximadamente seis séculos antes da aparição do primeiro desses homens ilustres, era impossível que eles tivessem imaginado essa fábula. De qualquer forma, Mariano, que escreveu sobre a vida da papisa mais de cinqüenta anos antes deles, não poderia tê la copiado de suas obras.

A História, cujas vistas morais se elevam acima dos interesses das seitas religiosas, deve pois ocupar se em fazer triunfar a verdade sem se inquietar com as cóleras sacerdotais. Assim, a existência de Joana não deve ferir de modo algum a dignidade da santa sede, pois ela, no decurso do seu reinado, não imitou as astúcias, as traições e as crueldades dos pontífices do nosso século.

Crónicas contemporâneas estabelecem, com toda a evidência, a época do reinado de Joana. Seus autores, sendo padres e monges, todos zelosos partidários da santa sede, eram interessados em negar a aparição escandalosa de uma mulher no trono de São Pedro. Verdade é que muitos autores do nono século não fazem menção a esta heroína, silêncio que atribui-se com justa razão à barbárie da época e ao embrutecimento do clero.

Uma das provas mais incontestáveis da existência de Joana está exatamente no decreto, publicado pela corte de Roma, que proibiu a sua colocação no catálogo dos papas. "Assim, acrescenta o sensato Launay, não é justo sustentar que o silêncio que se guardou sobre esta história, nos tempos que se seguiram imediatamente ao acontecimento, seja prejudicial à narrativa que mais tarde foi feita.

É verdade que os eclesiásticos contemporâneos de Leão IV e de Bento III, por um zelo exagerado pela religião, não falaram nessa mulher notável; mas os seus sucessores, menos escrupulosos, descobriram afinal o mistério...".

Mais de um século antes de Mariano escrever os manuscritos que deixou a abadia de Fulde, diferentes autores tinham já narrado muitas versões sobre o pontificado da papisa. Porém, foi este sábio religioso que esclareceu todas as dúvidas e suas crônicas foram aceitas como autênticas pelos eruditos conscienciosos, que estabelecem as verdades históricas sobre os testemunhos de homens cuja probidade e luzes são incontestáveis. E com efeito, toda a gente concorda em reconhecer que Mariano era um escritor judicioso, imparcial e verídico; a sua reputação está tão bem estabelecida que a Inglaterra, a Escócia e a Alemanha reivindicam a honra de serem sua pátria. Além disso, o seu caráter de sacerdote e a dedicação que mostrou sempre pela santa sede não permitem que se suspeite de parcialidade contra a igreja católica.

Mariano, longe de ter sido um ente fraco ou um visionário, era muito esclarecido, muito instruído, cheio de firmeza, de religião e tinha dado provas incontestáveis da dedicação que consagrava à corte de Roma, defendendo com grande coragem o papa Gregório VII contra o imperador Henrique IV. Não é possível, pois, recusar a autoridade de um semelhante testemunho; de outro modo, não existiria um único fato histórico ao abrigo das contestações ou que se pudesse considerar como evidente.

Por esta razão, os jesuítas que têm procurado por em dúvida a existência da papisa, compreendendo a força que os escritos deste historiador davam aos seus adversários, quiseram acusar de inexatidão as cópias das obras de Mariano. Mabillon, sobretudo, defende que existem exemplares nos quais não se trata da papisa. Para refutar esta asserção, basta consultar os manuscritos das principais bibliotecas da Alemanha, da França, de Oxford e do Vaticano. Além disso, está provado que os manuscritos autografados pelo religioso, os quais foram conservados na França, durante muitos séculos na biblioteca do Domo, contém realmente a história da papisa.

É igualmente impossível admitir que um homem do caráter de Mariano Scotus tivesse mencionado nas suas crónicas uma aventura tão singular se não fosse verdadeira. Contudo, admitindo que fosse capaz de uma tal impostura, é provável que os papas que governaram então a Igreja tivessem guardado silêncio sobre tal impiedade? Gregório VII, o mais orgulhoso dos pontífices e o mais apaixonado pela pretensão à infalibilidade da santa sede teria permitido que um frade desonrasse a corte de Roma com tanta insolência? Victor III, Urbano II, Paschoal II, contemporâneos de Mariano, teriam deixado impune esse ultraje? Finalmente, os escritores eclesiásticos do seu século, e sobretudo o célebre Alberic do Monte Cassino, tão dedicado aos papas, teriam deixado de se levantar contra uma tal infâmia?

Assim, segundo os testemunhos mais irrecusáveis e mais autênticos, está demonstrado que a papisa Joana existiu no nono século, que ocupou a cadeira de S. Pedro, que foi o vigário de Jesus Cristo na Terra e proclamada soberana pontífice de Roma!!!

Uma mulher assentada na cadeira dos papas, ornando lhe a fronte a tiara e tendo nas mãos as chaves de S. Pedro é um acontecimento extraordinário de que os faustos da história oferecem um único exemplo! E o que mais nos admira não é o fato de uma mulher elevar-se pelos seus talentos acima de todos os homens do seu século, pois que houve heroínas que comandaram exércitos, governaram impérios, encheram o mundo com a fama da sua glória, da sua sabedoria e das suas virtudes. mas que Joana, sem exércitos, sem tesouros, somente com o apoio de sua inteligência, fosse assaz hábil para enganar o clero romano e fazer com que lhe beijassem os pés os orgulhosos cardeais da cidade santa. É isso o que a coloca superior a todas as heroínas, porque nenhuma deIas se aproxima do que há de maravilhoso numa mulher ordenada papa.

O nascimento de Joana

Numa vida tão extraordinária como a de Joana devemos mencionar todos os acontecimentos que nos foram transmitidos pelos historiadores e entrar em detalhes nas ações dessa mulher notável.

Eis a versão de Mariano Scotus sobre o nascimento da papisa: "Em princípios do nono século, Karl, o Grande, depois de ter subjugado os saxônios, empreendeu a conversão desses povos ao cristianismo e pediu à Inglaterra padres eruditos que o pudessem auxiliar nos seus projetos. No número de professores que passaram à Alemanha contava-se um padre inglês acompanhado de uma menina que, estando grávida, roubara à sua família para ocultar esse estado. Os dois amantes foram obrigados a interromper a sua viagem e a parar em Mayence, onde em breve a jovem inglesa deu à luz uma filha cujas aventuras deviam ocupar um dia os séculos futuros; essa criança era Joana."

Não se conhece com exatidão o nome que ela usou na sua infância; a filha do padre inglês é igualmente chamada Agnés por alguns autores. Gerberta ou Gilberta por outros e, finalmente Joana pela maioria . O jesuíta Sevarius pretende que lhe chamem também Isabel, Margarida, Dorotéia e Justa. Não sabemos acerca do sobrenome que ela adotou. Asseguram uns que ela acrescentava ao seu nome a designação de Inglês; querem outros juntá-lo ao nome de Gerberta, e um autor do décimo quarto século chama-lhe de Magnânima na sua crônica, para exprimir certamente a ousadia e a temeridade de Joana, à imitação de Ovídio, que se serve da expressão magnanimus Phaethon.

Esses mesmos autores apresentam menos contradições relativamente ao lugar do seu nascimento: pretendem alguns que ela nascera na Grã Bretanha, outros designam Mayence, outros finalmente Engelkein, cidade do Palatinado, célebre pelo nascimento de Carlos Magno. Mas o maior número reconhece que Joana era de origem inglesa, que foi educada em Mayence e que nasceu em Eugelkein, aldeia situada na vizinhança daquela cidade.

Olivia de Havilland
no filme de 1972: Pope Juan

Os primeiros passos no rumo do trono papal

Joana tornara se uma formosa rapariga e o seu espírito, cultivado pelos cuidados de um pai muito instruído, tomara um desenvolvimento tal que todos os doutores que se aproximavam dela ficavam admirados pelas suas respostas. A admiração que ela inspirava aumentou ainda pela ciência, e aos doze anos a sua instrução se igualava à dos homens mais distintos do Palatinado. Todavia, quando chegou a idade em que as mulheres começam a amar, a ciência foi insuficiente para satisfazer os desejos daquela imaginação ardente e o amor mudou os destinos de Joana.

Um jovem estudante de família inglesa e frade da abadia de Fulde foi seduzido pela sua beleza e apaixonou-se loucamente por ela. "Se ele a amou com extremo, diz a crónica, Joana, pelo seu lado, não foi nem insensível nem cruel". Vencida pelos protestos e arrastada pelas inspirações do seu coração, Joana consentiu em fugir da casa paterna com o seu amante. Deixou o seu nome verdadeiro, vestiu-se de homem e seguiu o jovem abade para a abadia de Fulde, onde o superior, enganado com aquele disfarce, recebeu Joana no seu mosteiro e colocou a sob a direção do sábio Raban Maur.

Algum tempo depois, o constrangimento em que se achavam os dois amantes fez lhes tomar a determinação de saírem do convento e irem para a Inglaterra continuar os seus estudos. Em breve se tornaram os maiores eruditos da Grã Bretanha e resolveram visitar novos países a fim de observarem os costumes dos diferentes povos e estudar-lhes as linguas.

Em primeiro lugar visitaram a França, onde Joana, debaixo sempre do hábito monacal, disputou com os doutores franceses e excitou a admiração de personagens célebres da época, como a famosa duquesa de Septimania, Santo Auscario, o frade Bertram e o abade Lopo de Ferrière. Depois dessa primeira viagem os dois amantes empreenderam visitar a Grécia; atravessaram as Gálias e embarcaram em Marselha num navio que os conduziu á capital dos helenos, a antiga Atenas, que era o foco mais ardente das luzes, o centro das ciências e das belas letras, possuindo ainda escolas e academias citadas em todo o universo pela eloquência dos seus professores e pelo profundo saber dos seus astrônomos e dos seus fisicos.

Quando Joana chegou a esse magnífico país tinha vinte anos e achava-se em todo o esplendor da sua beleza. Porém, o hábito monástico ocultava o seu sexo de todos os olhares, e o seu rosto, empalidecido pelas vigílias e pelo trabalho, dava lhe ares de um formoso adolescente ao invés de uma mulher.

Durante dez anos os dois ingleses viveram sob o formoso eco da Grécia, cercados de todas as ilustrações científicas e prosseguindo os seus estudos em filosofia, teologia, letras divinas e humanas, artes e história sagrada e profana. Joana aprofundara, compreendera e explicara tudo, juntando seus conhecimentos universais a uma eloqüência prodigiosa que enchia de admiração aqueles que eram admitidos a ouvi-la.

No meio dos seus triunfos, Joana foi ferida por um golpe terrível: o companheiro dos seus trabalhos, o seu amante querido, aquele que durante muitos anos estivera junto dela, foi atacado por uma enfermidade súbita e morreu em poucas horas, deixando a desditosa só e abandonada na Terra.

Joana tirou do seu próprio desespero uma nova coragem, venceu a sua aflição e resolveu sair da Grécia. Além disso, era-lhe impossível ocultar por mais tempo o seu sexo num país onde os homens usavam barbas crescidas, escolhendo Roma como o lugar de seu retiro, porque lá o uso ordenava aos homens não usarem barba. Talvez não fosse este unicamente o motivo que determinou a sua preferência pela cidade santa, mas o estado de agitação em que se achava então a capital do mundo cristão podia oferecer à sua ambição um teatro mais vasto do que a Grécia.

Reconhecida em Roma como "Príncipe dos sábios"

Logo que chegou á cidade santa. Joana fez-se admitir na academia a que chamavam escola dos gregos para ensinar as sete artes liberais e, particularmente, a retórica. Santo Agostinho tornara já muito ilustre aquela escola e Joana aumentou-lhe a reputação. Não somente continuou os seus cursos ordinários como também introduziu outros de ciências abstratas que duravam três anos, onde um imenso auditório admirava o seu prodigioso saber. As suas lições, os seus discursos e mesmo os seus improvisos eram feitos com uma eloqüência tão arrebatadora que o jovem professor era citado como o mais belo gênio do século, e que, na sua admiração, os romanos lhe conferiam o título de príncipe dos sábios.

Os senhores, os padres, os monges e sobretudo os doutores honravam-se de serem seus discípulos. “O seu procedimento era tão recomendável como os seus talentos; a modéstia dos seus discursos e das suas maneiras, a regularidade dos seus costumes e sua piedade, como diz Mariano brilhavam como uma luz aos olhos dos homens. Todos estes exteriores eram uma máscara hipócrita sob a qual Joana ocultava projetos ambiciosos e culpados. Por isso, no tempo em que a saúde vacilante de Leão IV permitia aos padres forjarem intrigas e cabalas, um partido poderoso se declarou por ela e publicou altamente pelas ruas da cidade que só ela era digna de ocupar o trono de S. Pedro."

A entronização da papisa

E com efeito, depois da morte do papa, os cardeais, os diáconos, o clero e o povo elegeram-na por unanimidade para governar a Igreja de Roma! Joana foi ordenada na presença dos comissários do imperador, na basílica de São Pedro, por três bispos. Em seguida, tendo revestido as vestes pontificais, dirigiu-se acompanhada de um imenso cortejo ao palácio patriarcal e assentou-se na cadeira apostólica.

Por muito tempo os padres discutiram a seguinte e importante questão: Joana foi elevada ao santo ministério por uma arte diabólica ou por uma direção particular da Providência? Uns pretendem que a Igreja deve sentir uma grande humilhação por ter sido governada por uma mulher. Outros sustentam, pelo contrário, que a elevação de Joana à santa sede, longe de ser um escândalo devia ser glorificada como um milagre de Deus, que permitiu que os romanos procedessem à sua eleição para revelar que haviam sido arrastados pela influência maravilhosa do Espírito Santo.

Joana foi elevada à suprema dignidade da Igreja e exerceu a autoridade infalível de vigário de Jesus Cristo com tão grande sabedoria que se tornou a admiração de toda a cristandade. Conferiu ordens sagradas aos prelados, aos padres e aos diáconos; consagrou altares e basílicas; administrou os sacramentos aos fiéis; permitiu aos arcebispos, abades e príncipes que beijassem seus pés; e, finalmente, desempenhou com honra todos os deveres dos pontífices. Compôs prefácios de missas e grande número de canones, os quais foram interditos pelos seus sucessores. Além disso, dirigiu com grande habilidade os negócios políticos da corte de Roma e foi por conselhos seus que o imperador Lotário, já muito velho, decidiu-se a abraçar a vida monástica e retirou-se para a abadia de Prum a fim de fazer penitência dos crimes com que manchou a sua longa carreira. Em favor do novo monge, a papisa concedeu à sua abadia o privilégio de uma prescrição de cem anos, cujo ato é mencionado na coleção de Graciano. O império passou em seguida para Luis II, que recebeu a coroa imperial das mãos de Joana.

Contudo, essa mulher, que inspirava um tão grande respeito aos soberanos da Terra, que subjugava os povos às suas leis, que atraía a veneração do universo inteiro pela superioridade de suas luzes e pela pureza da sua vida, iria em breve quebrar o pedestal da sua grandeza e espantar Roma com o espetáculo de uma queda terrível!

Por amor, perde o trono e a vida

Algumas crónicas religiosas dizem que o ano de 854 foi assinalado por fenômenos milagrosos em todos os países da cristandade. "A terra tremeu em muitos reinos e uma chuva de sangue caiu na cidade de Bresseneu ou Bresnau.

Na França, nuvens de gafanhotos monstruosos, armados de dentes compridos e acerados, devoraram todas as colheitas das províncias que atravessaram; em seguida, impelidos por um vento sul para o mar, entre Havre e Calais, foram todos submergidos, lançando seus restos impuros nas praias, e lançando no ar uma tal infecção que engendrou uma epidemia que matou uma grande parte dos habitantes.

Na Espanha, o corpo de S. Vicente, que fora arrancado do seu túmulo por um frade sacrílego para o vender em pedaços, voltou, em uma noite, na cidade de Valência, para uma pequena aldeia próxima de Montauban e parou nos degraus da Igreja, pedindo em voz alta para se recolher no seu relicário. Todos esses “sinais”, acrescenta o piedoso legendário, "anunciavam infalivelmente a abominação que devia manchar a cadeira evangélica”.

Joana, entregue a estudos sérios, conservava um procedimento exemplar depois da morte de seu amante. No princípio de seu pontificado praticou virtudes que lhe mereceram o respeito e afeição de todos os romanos. Posteriormente, ou por propensão irresistível ou porque a coroa tenha o privilégio de perverter os mais belos caráteres, Joana entregou-se aos gozos do poder soberano e quis partilhá-los com um homem digno do seu amor. Escolheu um amante, assegurou-se da sua discrição, encheu-o de honras e de riquezas, guardando tão bem o segredo de suas relações que só por conjecturas se podia descobrir o favorito da papisa.

Alguns autores pretendem que ele era camareiro; outros asseveram que era conselheiro ou capelão; o maior número afirma que era cardeal de uma igreja de Roma. Todavia, o mistério dos seus amores permaneceria coberto por um véu impenetrável sem a catástrofe terrível que pos termo às suas noites de voluptuosidade. A natureza zombava de todas as previsões dos dois amantes: Joana estava grávida!

Conta-se que um dia, enquanto presidia ao consistório, foi trazido à sua presença um endemoninhado para ser exorcismado. Depois das cerimônias de uso, perguntou ela ao dernônio em que tempo queria ele sair do corpo daquele possesso. O espírito das trevas respondeu imediatamente: "Eu vo-lo direi, quando vós, que sois pontífice e é o pai dos pais, deixardes ver ao clero e ao povo de Roma uma criança nascida de uma papisa".

Joana, assustada com aquela revelação, apressou-se em terminar o conselho e retirou-se para o seu palácio. No momento em que se recolheu para os seus aposentos interiores, o demônio se apresentou diante dela e lhe disse: "Santíssimo padre, depois do vosso parto, pertencer-me-eis em corpo e alma e apoderar-me-ei de vós para que queimeis comigo no fogo eterno".

Esta ameaça terrível, ao invés de desesperar a papisa, reanimou o seu espírito e fez nascer no seu coração a esperança de acalmar a cólera divina com um arrependimento profundo. Impôs-se rudes penitências, cingiu seus membros delicados com um cilício grosseiro e dormiu sobre as cinzas. Finalmente, os seus remorsos foram tão ferventes que Deus, tocado das suas lágrimas, enviou-lhe uma visão.

Apareceu-lhe um anjo e ofereceu-lhe como castigo de seu crime, em nome de Jesus Cristo, o seu reconhecimento como mulher diante de todo o povo de Roma, ou a sua entrega às chamas eternas. Joana aceitou o opróbrio e esperou corajosamente o castigo que o seu procedimento sacrílego merecera.

Na época das Rogações, que correspondia à festa anual que os romanos chamavam Ambarralia, onde havia uma procissão solene, a papisa, segundo o uso estabelecido, montou acavalo e dirigiu se à igreja de São Pedro. A papisa, revestida com os ornamentos pontificais, saiu da catedral e dirigiu se à basílica de São João de Latrão com um pomposo séquito que a precedia pela cruz e pelas bandeiras sagradas, e seguida pelos metropolitanos, bispos, cardeais, padres, diáconos, senhores, magistrados e por uma grande multidão do povo.

Tendo chegado à praça pública entre a basílica de São Clemente e o anfiteatro de Domiciano, chamado Coliseu, assaltaram na as dores do parto com tal violência que caiu do cavalo. A infeliz retorcita-se pelo chão com gemidos horríveis, até que, conseguindo rasgar os ornamentos sagrados que a cobriam, no meio de convulsões tremendas e na presença de uma grande multidão, a papisa Joana deu a luz uma criança!

A confusão e a desordem que esta aventura escandalosa causou entre o povo exasperou a tal ponto os padres que estes impediram que a socorressem e, sem consideração pelos sofrimentos atrozes que a torturavam, cercaram-na para ocultá-la de todos os olhares e ameaçaram-na com a sua vingança.

Joana não pôde suportar o excesso de sua humilhação e a vergonha de ter sido vista por todo o povo numa situação tão terrível. Fez, assim, um esforço supremo para dizer o último adeus ao cardeal que a amparava nos braços, e a sua alma voou para o céu.

Desta forma, morreu a papisa Joana, no dia das Rogações, em 855. depois de ter governado a igreja de Roma durante mais de dois anos.

A criança foi sufocada pelos padres que cercavam a mãe, mas os romanos, em memória do respeito e da dedicação que durante tanto tempo haviam consagrado a Joana, consentiram em prestar-lhe os últimos deveres e, sem pompa, colocaram o cadáver da criança no seu túmulo. Joana foi enterrada no mesmo lugar onde sucedera aquele trágico acontecimento.

Ali se edificou uma capela, ornada com uma estátua de mármore representando a papisa vestida com hábitos sacerdotais, com a tiara na cabeça, tendo nos braços uma criança. O pontífice Bento III mandou quebrar essa estátua em fins do seu reinado, mas as ruínas da capela viam-se ainda em Roma no décimo quinto século.

Grande número de visionários preocupavam-se gravemente em investigar o castigo que Deus infligiria à papisa depois de sua morte. Uns consideravam a ignomínia dos seus últimos momentos como uma expiação suficiente, o que estava de acordo com a opinião vulgar de que os papas, quaisquer que fossem os seus crimes, não podiam ser condenados. Outros, menos indulgentes que os primeiros, afirmavam que Joana foi condenada por toda a eternidade a ficor suspensa de um dos lados das portas do inferno, com o seu amante do outro, sem nunca poderem se unir.

A prova da cadeira furada

O clero de Roma, ferido na sua dignidade e cheio de vergonha por aquele acontecimento singular, publicou um decreto proibindo aos pontífices atravessarem a praça pública onde tivera lugar o escândalo. Por isso, depois dessa época, no dia das Rogações, a procissão, que devia partir da basílica de São Pedro para se dirigir a Igreja de São João de Latrão, evitava aquele lugar abominável situado no meio do seu caminho, e fazia um longo roteiro.

Estas precauções eram suficientes para manchar a memória da papisa. Porém, o clero, querendo impedir que um semelhante escândalo pudesse renovar-se, imaginou para a entronização dos papas um uso singular e apropriado à circunstância, o qual leve o nome de “a prova da cadeira furada”.

O sucessor de Joana foi o primeiro a se submeter a essa prova, que passou a ser realizada na eleição do pontífice, no momento em que era conduzido ao palácio de Latrão para ser consagrado solenemente. Em primeiro lugar, este assentava se numa cadeira de mármore branco colocada no pórtico da igreja, entre as duas portas de honra; essa cadeira não era furada, e deram lhe esse nome porque o santo padre, ao levantar se dela entoava o seguinte versículo do salmo cento e treze: "Deus eleva do pó o humilde para o fazer assentar acima dos príncipes!"

Em seguida, os grandes dignitários da igreja davam a mão ao papa e conduziam-no á capela de São Silvestre, onde se achava uma outra cadeira de pórfiro, furada no centro, na qual faziam assentar o potitítïce.

Os primeiros historiadores eclesiásticos nunca fizeram menção de uma só cadeira daquela natureza, enquanto os oronistas mais estimados sempre falam em duas cadeiras furadas que designam como sendo do mesmo tamanho, de forma semelhante, ambas de um estilo muito antigo, sem ornatos nem almofadas.

Antes da consagração, os bispos e os cardeais faziam colocar o papa sobre essa segunda cadeira, meio estendido, com as pernas separadas, e permanecia exposto nessa posição, com os hábitos pontífices entreabertos, para mostrar aos assistentes as provas da sua virilidade. Finalmente, aproxiniavam-se dele dois diáconos, asseguravam-se pelo tato de que os olhos não eram iludidos por aparências enganadoras e davam disso testemunho aos assistentes gritando com voz alla: "Temos um papa!".

A assembléia respondia: "Deo gratias", em sinal de reconheciniento e alegria. Então os padres vinham prostrar se diante do pontífice, levantavam-no da cadeira, cingiam-lhe os rins com um cinto de seda, beijavam-lhe os pés e procediam a entronização. A cerimônia terminava sempre com um esplêndido festim e distribuição de dinheiro aos frades e às religiosas.

Essa cerimônia das cadeiras furadas é mencionada na consagração de Honorio III, em 1061; na de Pascoal II, em 1099; na de Urbario VI, eleito no ano de 1378. Alexandre VI, reconhecido publicamente em Roma como pai dos cinco filhos de Rosa Vanozza, sua amante, foi submetido à mesma prova. Finalmente ela subsistiu até o décimo sexto século, e Cressus, mestre de cerimónias de Leão X, refere no jornal de Paris todas as formalidades da prova das cadeiras furadas a que o pontífice foi submetido.

Depois de Leão X, deixou ela de ser praticada, ou porque os padres compreenderam o ridículo de um uso tão inconveniente, ou porque as luzes do século não permitiram mais um espetáculo que ofendia a moral pública. As cadeiras furadas, que não eram mais necessárias, foram tiradas do lugar onde estavam colocadas e levadas para a galeria que conduz à capela, no palácio de Latrão. O padre Mabillori, na sua viagem à Itália em 1685, fez uma descrição dessas duas cadeiras, que examinou com a maior atenção, e afirma que eram de porfiro e semelhantes, na forma, a uma cadeira para enfermos.

Excluída da sucessão dos papas

Os ultramontanos, confundidos pelos documentos autênticos da história e não podendo negar a existência da papisa Joana, consideraram toda a duração do seu pontificado como uma vagatura da santa sede e fazem suceder a Leão IV o papa Bento III, sob o pretexto de que uma mulher não pode desempenhar as funções sacerdotais, administrar os sacramentos e também conferir ordens sagradas. Mais de trinta autores eclesiásticos alegam este motivo para não incluirem Joana no número dos papas; mas um fato essencialmente notável vem dar um desmentido formal à sua opinião.

Catedral de Sienna

Em meados do décimo quinto século, tendo sido restaurada a catedral de Sienna por ordem do príncipe, mandou-se esculturar em mármore os bustos de todos os papas até o Pio II, que reinava então, e colocou-se no lugar da papisa o seu próprio retrato, entre Leão IX e Bento III, com o nome de "João VIII, papa mulher”. Este fato importante autorizaria a contar Joana como o centésimo oitavo pontífice que teria ornado a Igreja. Contudo nem por isso fica menos provado que o reinado da papisa é autêntico e que uma mulher ocupou gloriosaniente a cadeira sagrada dos pontífices de Roma.

Alguns neo católicos rejeitariam ainda a verdade e recusam admitir a autenticidade de todas essas provas, sob o pretexto de que Deus não poderia permitir que a cadeira de S. Pedro, fundada pelo próprio Jesus, fosse assim ocupada por uma mulher impúdica.

Mas então perguntaremos como é que Deus pode sofrer as profanações sacrílegas e as abominações dos bispos de Roma! Não permitiu o Cristo que a santa sede fosse manchada por papas heréticos, apóstatas, incestuosos e assassinos? Não era ariano São Clemente; Anastácio, nestoriano; Honório, monotelita; João XXIII, ateu; e Silvestre II não dizia que vendera a sua alma ao demônio para ser papa?

Barônio, esse defensor zeloso da tiara, diz que Bonifácio VI e Estevão VII eram celerados infames, monstros abomináveis que encheram a casa de Deus com os seus crimes, acusando-os de terem excedido em tudo quanto os mais cruéis perseguidores da igreja fizeram sofrer seus fiéis.

Genebrando, arcebispo de Aix, afirma que aproximadamente em dois séculos a santa sede foi ocupada por papas de um desregramento tão espantoso que eram dignos de serem chamados apostáticos e não apostólicos. E acrescenta que quando as mulheres governavam a Itália a cadeira pontifical se transformara numa roca. Com efeito, as cortesãs Teodora e Marozia, monstros de lubricidade, dispunham segundo o seu capricho do lugar do vigário de Jesus Cristo, colocando no trono de São Pedro os seus amantes ou seus bastardos. Referem-se os cronistas a fatos tão singulares e monstruosos ligados a essas mulheres narrando deboches tão revoltantes que impossível se faz traduzi-los para a nossa história.

Deste modo, visto que a clemência de Deus tolerou todas essas abominações na santa sede, pode, assim, igualmente permitir o reinado de uma papisa.

Outras mulheres em hábitos sacerdotais

Além disso, Joana não é nem a primeira e nem a única mulher que vestiu o hábito sacerdotal; Santa Tecla, disfarçada em trajes eclesiásticos, acompanha São Paulo em todas as viagens; uma cortesã chamada Margarida disfarçou-se de padre e entrou para um convento de homens, onde tomou o nome de frei Pelâgio; Eugênia. filha do célebre Felipe, governador de Alexandria no reinado do imperador Galiano. dirigia um convento de frades e não descobriu o seu sexo senão para se desculpar de uma acusação de sedução que lhe fora intentada por uma rapariga.

A crônica da Lombardia, composta por um monge de Monte Cassino, refere igualmente, segundo um padre chamado Heremberto, que escrevia trinta anos depois da morte de Leão IV, a história de uma mulher que fora patriarca de Constantinopla.

"Um príncipe de Benevente, chamado Arechiso, diz que teve uma revelação divina na qual um anjo o advertiu que o patriarca que ocupava então a sede de Constantinopla era uma mulher. O principe apressou se em instruir o imperador Basilio e o falso patriarca, depois de ter sido despojado de todas as suas vestes diante do clero de Santa Sofia, foi reconhecido como mulher, expulso vergonhosamente da igreja e encerrado num convento de religiosas".

Depois da narração de todos esses fatos, que foram conservados nas legendas para edificação dos fiéis, não deveriam confessar os padres que Deus permitiu o pontificado da papisa para abaixar o orgulho da santa sede e para mostrar que os vigários do Cristo não são infalíveis?

Além disso, a história de Joana não se aproxima da historia da Virgem Maria? A mãe do Cristo não deu à luz sem deixar de ser virgem e não governou sobre o próprio Deus, pois não diz a Escritura que "Jesus Cristo era submisso a sua mãe"?

Se, pois, o criador de todas as coisas não desdenhou obedecer a uma mulher, por que razão queriam ser os seus ministros mais orgulhosos do que Deus todo poderoso e recusarem curvar a fronte diante da papisa?

Além disso, ao sétimo século os fiéis tinham reconhecido sacerdotisas, pois os atos do concilio de Calcedônia dizem formalmente que as mulheres podiam receber as ordens do sacerdócio e serem sagradas solenemente como os leigos. São Clemente, sucessor imediato dos apóstolos de Jesus, fala detalhadamente numa epístola sobre as funções das sacerdotisas; diz que devem celebrar os santos mistérios, pregar o Evangelho aos homens e as mulheres e aptas para os ungir em todo o corpo, na cerimônia do batismo.

Atton, bispo de Verceìl, refere nas suas obras que as sacerdotisas, na igreja primitiva, presidiam nos templos, faziam instruções religiosas e filosóficas e que tinham debaixo das suas ordens diaconisas que as serviam, como os diáconos faziam aos padres. Santo Atanásio, bispo de Alexandria, e São Cipriano explicam mais detaIhadamente ainda acerca dessas mulheres; queixam-se de que muitas dentre elas, afastando-se das suas regras que lhes eram impostas, praticavam a garridice, empregavam os enfeites e os ornatos, pintavam o rosto, não tinham nem reserva nem pudor nas suas palavras, freqüentavam os banhos públicos e banhavam se completamente nuas, junto com padres e jovens diáconos.

Não era, pois, um fato novo para a Igreja a elevação de uma mulher ao sacerdócio quando apareceu a papisa Joana: muitas outras mulheres antes dela haviam sido consagradas sacerdotisas, recebido o dom do Espírito Santo e exercido as funções eclesiásticas. Por que razão procuram os adoradores da púrpura romana contestar a exatidão desses fatos historicos e irrecusáveis? Por que querem aniquilar até a própria recordação da existência de uma mulher célebre? A razão é simples: a majestade do sacerdócio, a infalibilidade pontifical, as pretensões da santa sede à dominação universal, todo esse edifício de superstição e de idolatrias sobre as quais esta colocada a cadeira de São Pedro desaba diante de uma mulher papisa!!!!

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Do livro "Os crimes dos papas",
de Maurice de Lachatre, 1853.

19 abril 2010

A PARAPSICOLOGIA E A ALMA

Afirma-se que a Parapsicologia foi uma criação do Prof. Joseph Banks Rhine, la Duke University (USA). Na verdade, Max Dessoir já referia à Parapsicologia em junho de 1889, conforme registro na Revista Luce e Ombra de julho/agosto de 1931. Émile Boirac também fazia menção à disciplina, denominando-a de Psicologia Desconhecida. William Mackenzie, citado por Boirac (L’Avenir des Sciences Psychiques), dirigente da Revista “parapsicologia”, afirma que “a sua revista nada tinha de comum com o pensamento de alguns metapsiquistas, que admitem os fenômenos como sendo coisas do além do túmulo”. E enfatiza: “Não há nenhuma relação entre o Espírito dos espiritistas e o Espírito da parapsicologia” (!) O Prof. Herculano Pires admite, em seu livro Parapsicologia Hoje e Amanhã (Capítulo 1) que a parapsicologia “É uma disciplina científica, mas não propriamente uma ciência, pois o seu lugar científico é nos quadros da Psicologia” – E afirma adiante: “É necessário compreendermos isso para não atribuirmos à nova disciplina uma posição excepcional no plano do conhecimento, e sobretudo para não lhe darmos um sentido e um caráter misterioso”. E, conclusivo: “Colocando as coisas em seu devido lugar, podemos dizer que a Parapsicologia é uma nova forma de desenvolvimento das pesquisas psicológicas”. E, Em seguida o ilustre autor de O Espírito e o Tempo cita o Dr. J. B. Rhine e o seu livro New World of the Mind, lançado pela Editorial Paidos, de Buenos Aires, sob o título: El Nuevo Mundo de la Mente, onde o autor afirma, categoricamente: “El tipo de experiência que más lhama la aténcion, es aquel en que la intención que se halla detras del efecto producido es tan peculiarmente la de uma personalidad fallecida que no es razonable atribuir la acción a ningún outro origen”. O Prof. Deolindo Amorim, beletrista baiano (de saudosa memória0 reporta-se à orientação seguida pelo Instituto de parapsicologia de Buenos Aires, Argentina, com base nas conclusões de J. Banks Rhine, no livro supracitado: “1) Os fenômenos parapsicológicos evidenciam que existe no homem o fato espiritual; 2) As provas de que o homem é algo mais do que um ente material vêm reafirmar a base de todas as doutrinas religiosas, isto é, a sua natureza espiritual; 3) As experiências de percepção extrasensorial demonstram que a mente

Carlos Bernardo Loureiro

18 abril 2010

O ESPIRITISMO E O FENÔMENO UFO


Uma íntima correlação de fatos que explica manifestações em ambas as disciplinas

O Espiritismo e a Ufologia têm pontos de intersecção significativos que atingem tanto os objetos de seus estudos individuais, quanto as conseqüências diretas de tais práticas no dia a dia

José Marcelo Gonçalves Coelho, escritor convidado

Em 1854, o renomado pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, que mais tarde adotaria o pseudônimo Allan Kardec, recebia a visita do senhor Fortier, seu amigo pessoal, que lhe falava sobre os fenômenos impressionantes que vinha presenciando. Os objetos inanimados, como mesas, cadeiras e copos, ao influxo de um magnetizador, se movimentavam de um lado para outro. E mais, “falavam”, por assim dizer, quando indagados sobre alguma questão. A princípio, Kardec mostrou-se cético, não quanto à movimentação dos objetos, mas quanto ao fato deles se expressarem de maneira inteligente, pois, em suas palavras, não possuíam cérebro para pensar.

Foi numa certa noite de maio de 1855, na casa da senhora Plainemaison que, pela primeira vez, assistiria aos fenômenos das chamadas mesas girantes e da escrita mediúnica. Após aquela noite, de posse de seu feeling investigativo, afirmaria ter visto naquelas aparentes futilidades algo de mais profundo, como uma nova lei que resolvera estudar firmemente. O Espiritismo, como afirmaria Kardec, é uma ciência de observação, com profundas conseqüências filosófico-morais. E, como tal, requer daqueles que se declarem espíritas um estudo aprofundado de tudo que lhe seja apresentado como possibilidade de experimentação. Decorrente desse exame podemos dizer que o caráter religioso do Espiritismo é conseqüência das observações científicas e das questões morais e filosóficas que a ele se apresentam. Fatalmente, esse conjunto nos conduz a uma maior aproximação da Inteligência Suprema, a que chamamos Deus – princípio de toda religião.

A ciência espírita e o crivo da razão

Allan Kardec, em 1859, em meio à obra O Que é o Espiritismo [Federação Espírita Brasileira, 1990], definia a doutrina como sendo uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de sua relação com o mundo corporal. Essa é a chamada Ciência Espírita, propriamente dita, que cuida especificamente de tudo o que se refere ao intercâmbio mediúnico entre encarnados e desencarnados, que configura a influência dos espíritos sobre a humanidade. Ao assumir as rédeas da chamada codificação espírita, que consistiu em reunir em livros os ensinamentos dados pela equipe do Espírito Verdade, Kardec implementou determinados procedimentos racionais que lhe permitiram assegurar a legitimidade das comunicações recebidas. Podemos dizer que ele adotou algumas diretrizes principais, no intuito de nortear o seu trabalho e chegar ao fim com uma bom resultado.

Para isso, escolheu colaboradores insuspeitos. E assim, o fez tanto do ponto de vista moral quanto da pureza das faculdades, por entender que a mediunidade em si, como manifestação dos espíritos desencarnados, não dependeria exclusivamente do aspecto moral do médium. Mas esse aspecto certamente definiria – como define – as companhias espirituais vinculadas ao sensitivo, que o estariam influenciando no decurso das mensagens canalizadas e registrando no papel as suas idéias. Kardec fez, então, uma análise rigorosa das comunicações recebidas. Todas elas, independente da assinatura que identificava o espírito comunicante, eram criteriosamente confrontadas com os avanços científicos da época. Tanto assim que em 1863, ao fazer um balanço das comunicações até então recebidas, chegou ao número de 3.600 mensagens, das quais 3.000 tinham moralidade irretocável, mas somente 300 delas foram consideradas dignas de publicação pelo conteúdo apresentado.

O codificador não parou aí, buscou nas mensagens um consenso universal, por assim dizer, de outros médiuns e outros espíritos, externando um mesmo pensamento evoluído. E somente adotou como princípio doutrinário as informações sobre as quais havia obtido um amplo consenso. Assim o fez, repetindo os questionamentos através de correspondências com diversos médiuns, espalhados por toda a Europa, que jamais tinham entrado em contato entre si. Fez um rigoroso controle dos espíritos comunicantes e de suas mensagens. Não se deixou iludir pelos nomes famosos que as subscreviam, mas verificava, essencialmente, o teor intrínseco das comunicações, ou seja, se o conteúdo era digno de crédito para divulgá-lo. Tais critérios, elaborados de modo científico, ditaram a tônica de seu trabalho. Constantemente, Kardec afirmava que os espíritos, desde o mais simples até o maior, tinham sido para ele meios de informação, e não os reveladores predestinados da verdade oculta.

Hoje, esses critérios racionais, adotados de modo científico, são aplicados nas instituições espíritas, com o fim de não se aceitar comunicações pseudo-sábias, absurdos espirituais ou frutos de crenças infundadas do médium, mensagens destituídas de lógica, de bom senso e de racionalidade. Os registros de médiuns imprevidentes, que se deixam dominar por forças espirituais inferiores, são rejeitados quando se encontram em confronto com os postulados espíritas. E não é incomum que tal procedimento seletivo faça aflorar no médium alguns melindres, como a vaidade ferida pela indignação de ter sua mensagem rejeitada ao crivo do método kardecista. Como registrara Erasto, “melhor rejeitar dez verdades do que aceitar uma só mentira”. É que a verdade firma-se por si só, a qualquer tempo, mas a mentira derruba o divulgador e lança sua obra ao ridículo. Mesmo que aflore no médium os amuos da vaidade, para dar crédito aos seus registros é preciso usar o crivo de Kardec.
Leia esta matéria da íntegra adquirindo a UFO Especial 55 nas bancas


Autor: José Marcelo Gonçalves Coelho
Fonte: UFO Especial 55
Crédito da foto: UFO Especial 55

OS VÁRIOS MUNDOS E A ESCALA EVOLUTIVA

Os Espíritos Reveladores justificando a diferença entre os vários mundos e os seres que neles vivem, reportam-se à escala evolutiva regulada pela reencarnação, apresentando o seguinte raciocínio:

- Deus cria os Espíritos permanentemente, jamais deixando de criar;

- as possibilidades de cada Espírito, conforme o nível de perfeição

- há diferentes ordens de Espíritos, conforme o nível de evolução a que tenham alcançado;

- as experiências a que estão submetidos, através das reencarnações sucessivas justificam essa evolução;

- após muitas experiências e reencarnações, os Espíritos atingem o estado de perfeição;

- tudo acontece nos mais diferentes mundos, igualmente submetidos a uma hierarquia espiritual;

- passando de um mundo para o outro, o espírito leva consigo as experiências adquiridas nas anteriores.

Prosseguindo em sua investigação, Kardec pergunta aos Reveladores, objetivamente, sem meios termos, se os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos, obtendo esta resposta:

“É fora de dúvida que têm corpos, porque o espírito precisa estar revestido de matéria para atuar sobre a matéria. Esse envoltório, porém, é mais ou menos material, conforme o grau de pureza a que chegaram os Espíritos. É isso que assinala a diferença entre os mundos que temos de percorrer, porquanto muitas moradas há na casa de nosso pai, sendo consequentemente, de muitos graus essas moradas”.

Embora recebesse respostas tão claras, Kardec volta a indagar:

“É nos possível conhecer o estado físico e moral dos diferentes mundos?” E os Reveladores disseram: “Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento e que nos achais. Quer dizer que não devemos essas coisas a todos, porque nem todos estão em estado de compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria”.

Os estudos da EXOBIOLOGIA vêm confirmar as concepções palingenésicas dos Espíritos da Codificação. O Dr. L. J. Carter, por exemplo, da Sociedade Interplanetária Britânica, em conferência naquela organização científica, fez esta sensacional revelação:

“Fala-se, em geral, na vida com nós a conhecemos. Mas, porque deveria haver somente esta espécie de vida? As descobertas mais recentes não excluem a vida em outros mundos. Poderá haver muitas combinações. Poderá muitas centenas de milhares de formas de vida.” Acrescenta, a seguir, que esse estudo, por ser atraente, vai sendo apreciado seriamente, com a criação de um novo ramo de ciência para investigar os seres no espaço. Esse estudo é chamado EXOBIOLOGIA vem sendo ministrado nas melhores universidades da Inglaterra, dos Estados Unidos e da União Soviética.

A verdade é que os homens de ciência sempre predispostos a negar, começam a crer nos mundos habitados, confirmando, destarte, o preceito evangélico de que na “Casa do Pai há muitas moradas”.

Carlos Bernardo Loureiro


14 abril 2010

O DEVER ESTRITO E SAGRADO DA DOR

O sofrimento é condição inexorável do existir terreno, isto é, atinge e pensa inflexivelmente sobre todas as criaturas que, nesta vida ou em vidas passadas, faltaram ao cumprimento dos preceitos renovadores das leis divinas, e não têm ou não tiveram uma vida limpa de erros, ou seja, a perpetração de atos e de posturas mentais contrários às regras de uma vida equilibrada e justa.

Ambições desmedidas, invejas turvas, orgulho impertinente, ódio transformado em vinganças, egoísmo sustentáculo da cobiça, tudo isso constitui, nas almas, disposições para a maledicência: produto da inveja; para ofensa e espezinhamento dos outros como produto do orgulho; para a prática dos mais degradantes crimes, como produto do ódio; para a prática do roubo e de todas as extensões, que é o caminho sempre percorrido pelos ambiciosos e egoístas.

De todo este estendal de misérias psíquicas resultam desarmonias entre os prevaricadores e suas vítimas, possibilitando quadros obsessivos pertinazes, horrorosos.

Nestas condições, o sofrimento é um providencial estádio de reabilitação das almas, levando-as a refletir sobre os justos ditames da Lei de Deus...

A dor tem levado o homem à elaboração das mais diversas filosofias. Quer dizer que o tem obrigado a pensar. Ora, pelo pensamento, a maior força do Universo, porque força essencialmente divina, é que nos libertamos do escuro cárcere a que nós mesmos nos condenamos, quando cega trazemos consciência. O pensamento, só ele, é exclusivamente nosso, porque cada um de nós é uma mente a atuar no plano das vibrações correspondentes.

De certo, portanto, o pensamento que levou o homem primitivo, maravilhado com o espetáculo da Natureza, a soltar o seu primeiro grito de assombro.

Rodeava-se o mistério e ele, impotente para criar uma que fosse das maravilhas que se lhe ostentavam, pensou num ente superior, oculto à sua vista, e entoou, num arroubo espontâneo de admiração, o seu primeiro hino ao Criador.

Mais tarde, com o conhecimento da própria natureza lhe fosse desvendado as atitudes da Divindade, tornando-a infinitamente maior e, por isso, afastando-lha da retina, acabou confundindo a obra com o artífice.

A própria Natureza, todavia, mostrou-lhe que a dor a todos acompanha, qual sombra do berço ao túmulo ele inquiriu:

“- Mas, como! Se Deus é bom, como pode ter-nos condenado à dor?”

Por outro lado, conceber a onisciência e a onipotência associados à maldade, à iniquidade, à justiça fora absurdo. Mais lógico seria negar-lhe a existência. Tudo descamba no nada!

A dor, porém, continuou, calma e serenamente, a espiritualizá-lo, como quem cumpre dever estrito e sagrado.

Carlos Bernardo Loureiro

13 abril 2010

PALIGENESIA ÉTICA E DIALÉTICA


O Prof. Humberto Mariotti, na sua obra “Parapsicologia e Materialismo Histórico”, que:

“Se o Homem continuar pensando em sua própria finitude, não há dúvida que a civilização terminará na mais terrível das catástrofes espirituais. Porque, se o homem-que-morre é quem deve reger o desenvolvimento humano, tudo será relativo e tenderá a malograr com a idéia do nada... O homem finito, com seus afetos e aspirações, resultará em tragédia e fatalidade”.

Contra esse absurdo, só o ensino e a idéia da doutrina palingenésica podem, realmente, descortinar ao homem seu futuro além dos limites da morte, substituindo a visão do nada pela imortalidade e do progresso infinito.

Com base nesta transcendental e ética perspectiva, cunhou-se o admirável aforismo insculpido no frontispício do dólmn de Allan Kardec, no histórico Cemitério Pére-Lachaise, em Paris:

“Naitre, Mourir, Renaitre encore et progresser sans cesse, telle est la loi”.

Destarte, sentencia, por sua vez, o Dr. Gustave Geley:

“As tumbas deixam de ser tumbas: são asilos passageiros para o fim da jornada das ilusões. E, assim como se desvanece, pela idéia palingenésica, o caráter fúnebre da morte, também se implode o monumento de injustiça edificado pelo evolucionismo clássico. Já não há, na evolução, sacrificados e privilegiados. Todos os esforços individuais e coletivos, todos os sofrimentos e amarguras desembocarão na realização da justiça e do bem; mas o bem e a justiça para todos, porque todos teremos contribuído para a justiça e o bem”.

Deve-se observar que as concepções geleyanas se identificam com a dialética de Hegel, filósofo idealista do século XIX. Para o célebre autor de “Fenomenologia do Espírito”, os fenômenos materiais outra coisa não são que objetivações da idéia, e o mundo subjetivo se desenvolve por uma lei de contradição que se opera através de uma tese, de uma síntese (ou de uma conciliação). Em princípio, a filosofia hegeliana corresponde ao mesmo processo da filosofia palingenésica do Dr. Gustave Geley. Com efeito: o Absoluto de Hegel e o Dinamopsiquismo do Metapsiquista francês, definem na mesma entidade, e as três fases da dialética de Hegel correspondem, respectivamente, à trilogia do nascer, morrer e renascer.

Deve-se concluir que a evolução, como é brilhantemente concebida, não tem o poder de mudar a essencialidade do Ser, supõe ao contrário, uma causalidade essencial, sem a qual não se admite nenhum progresso. Diria a propósito o pensador brasileiro Jacob H. Neto:

“O movimento e o temo não podem criar, por si sós, o que não existe – só envolve o que tem existência potencialmente ou em desenvolvimento”.

Evidentemente, não se passa do não-ser ao ser, nem da quantidade a qualidade, senão em virtude de uma existência e de uma qualidade análogas anteriores; de causalidade substancial que as compreenda e as modifique. Não se pode conceber nenhuma transformação, nenhuma mudança morfológica fundamental, sem uma causa essencial persistente, sem continuidade biopsíquica, sem um elemento organizador e diretor da matéria que leve em si mesmo, potencialmente as possibilidades de suas metamorfoses.

Entretanto, a continuidade biopsíquica não implica a continuidade morfológica: as formas passam e desaparecem mas a vida psíquica permanece. É ela que envolvo, emprestando pela reencarnação, progresso e perfeição às formas que cria. As espécies, tanto quanto os indivíduos, podem aparentemente, desaparecer e deixar, nos fósseis, os vestígios de sua existência; mas a vida psíquica que as animava se projeta a outras dimensões para, mais adiante, animar espécies e indivíduos, sem perder sua e essencialidade psicodinâmica.

Em suma: tudo é transito para alcançar formas e qualidades novas; tudo está em perfeito vir-a-ser, sem ser jamais algo definitivamente concluído. Observe-se porém: o que muda e se transforma continuamente, através do processo palingenésico, são as formas e qualidades, e, não, a essência!

Não há, em verdade, descontínuo na evolução biopsíquica. Só a aparência das formas materiais transitórias pode fazer supor tal descontinuidade. Apenas os niilistas, para quem essas formas em si mesmas e suas transformações constituem a única realidade, podem negar a continuidade da vida psíquica, isto é, a sobrevivência do ser após a falência do corpo e sua reencarnação.

Heráclito de Éfeso, que se afirma ter sido o primeiro filósofo a pensar dialeticamente, dizia:

“Tudo passa, nada é, tudo chegar a ser; nenhum homem se banha mais de uma vez nas mesmas águas de um rio...”

Carlos Bernardo Loureiro


12 abril 2010

GEMAS, AMULETOS E TALISMÃS - INTRIGANTE CAPÍTULO DA PSICOMETRIA

Nos idos de 1937, a “Reveu Spirite” iniciava a publicação de uma série de artigos de autoria do Professor Ernesto Bozzano sob o seguinte e sugestivo título “GEMAS, AMULETOS E TALISMÃS”, traduzido pela FEB e transcrito em “reformador” daquele mesmo ano.

No “caput” do artigo, o Prof. Bozzano, confessa que, por longo tempo, hesitou antes que resolvesse tratar do assunto. Ao decidir-se a discorrer sobre o especioso tema, acreditava que as lendas e superstições que o alimentava através dos séculos escondiam inconfundíveis verdades. Afirmaria, então, o nobre pesquisador italiano: “Tudo, em suma, nos induz a supor que a imaginação dos povos jamais criou uma lenda que não tivesse por fundamento uma certa verdade.” E sentencia – “Ora, pois que nenhuma dúvida há de que uma parcela de verdade se encontre em todas as lendas e crenças populares, é reconhecer-se que deve haver alguma coisa de verídico na misteriosa virtude, bem ou malfazeja que foi atribuída certas gemas e aos amuletos e talismãs, aos quais conviria mesmo acrescentar as ‘relíquias’ dos santos”.

Em seguida, o Professor Bozzano reporta-se às experiências desenvolvidas às expensas da extraordinária faculdade mediúnica de Reverendo Willian Stainton Moses, baseado na narrativa da Sra. Stanhope Speer.

São exemplos de “trazimentos”, ou mais exatamente das misteriosas criações de gemas, pela personalidade mediúnica do “Mentor”.

“Que as gemas em questão eram ‘criações espíritas’ e não ‘trazimentos’ – esclarece Bozzano – as personalidades mediúnicas constantemente o afirmaram”. Essas pedras preciosas possuíam especiais propriedades. A safira que o Espírito “Imperator” trouxe a Stainton Moses, com o fim de lhe facultar uma proteção espiritual, possuía virtudes curativas.

Quando Moses estava doente, a safira se embaciava e perdia toda a transparência e assim permanecia até a cura completa.

Em seguida, Bozzano passa a palavra a Sra. Stanhope Speer, que a relata, o seguinte:

“(...) vimos quase imediatamente formar-se uma auréola de luz em torno do grupo de experimentadores enquanto perfumes deliciosos se espalhavam pela sala. Pouco depois, Franklin se manifestou, dando instruções a cerca das gemas trazidas antes e anunciando que aquela noite com o auxílio de inúmeros Espíritos, iria constituir e trazer uma safira para o médium. Previniu-nos de que se tratava de uma jóia muito preciosa, como igual não existia no mundo. Os Espíritos-Guias a tinham saturado de diferentes espécies de influências favoráveis, que iriam fazer muito bem ao médium, assim como do ponto de vista espiritual, como do ponto de vista físico... No fim da sessão deparamos com belíssima gema prometida a Stainton Moses. Era de viva cor azul, mas ao mesmo tempo, de puríssima água, luminosa. Os Espíritos-Guias previniram a Stainton Moses que a devia guardar como tesouro, com o maior cuidado e tê-la sempre consigo. Notamos que, quase sempre, quando Stainton Moses não estava de boa saúde, a safira se embaciava e mudava de cor”.

Em seguida, Stainton Moses relata que fora na Regent Street (famosa rua de Londres), à casa dos joalheiros “Leroy and Son”, para mandar montar num anel a safira. Quando os joalheiros lhe entregaram o anel, reuniu-se com Espíritos, tendo à frente o “Imperator”, seu guia, afim de expurgar a jóia das ‘influências’ contrárias que absorvera passando por tantas mãos. Este relato com detalhes, pode ser encontrado nos “Proceedings” (Resenhas) das Sociedades de Pesquisas Psíquicas, de Londres, volume XI.

Na Revista Light, 1883, porém vêm contados pela Sra. Speer, os trâmites da sessão a que refere o médium Stainton Moses:

“Haviam-nos dito que mandássemos montar as gemas que tínhamos recebido em outros tantos anéis que traríamos constantemente no dedo. Essa noite pediram-nos que as puséssemos todas a mesa para que pudessem saturar de influências espirituais. O Sr. Moses colocou seu anel no meio da mesa, em um lenço de seda. Logo depois, vimos formar em torno do grupo o habitual luminoso, enquanto que uma rápida série de pancadas era dada ao redor da jóia. Manifestou-se, além do “Imperator”, o espírito Benjamim Franklin, anunciando que o anel tinha sido purificado das influências contrárias que absorvera no curso do trabalho de montagem. Depois disso, um orvalho abundantíssimo de deliciosos perfumes começou a cair sobre os anéis e sobre nós mesmos. O lenço que continha o anel de Stainton Moses ficou literalmente ensopado desse orvalho e lhe conservou o perfume por muitos dias. “Imperator” se manifestou, por grandes benefícios que havíamos de tirar deles, sob diferentes aspectos, pois que os Espíritos-Guias reconheceriam sempre e em todos os lugares sua ‘auras’ e não deixariam de afastar de nós o que nos pudesse prejudicar, cercando-nos de influências propiciais... Quando “Imperator” acabou de falar, o médium despertou sobressaltado chegando a perceber ainda a majestosa figura do Guia”.

Após essa sessão de purificação e de saturação de energias espirituais, Stainton Moses evoca o Espírito –Guia, com o qual se comunicava através da escrita automática:

“Moses – Desejo comunicar-me com Benjamim Franklin.

“Espírito-Guia – a propósito de que?

“Moses – ele me trouxe uma pedra preciosa e eu queria obter explicações sobre isso.

“Benjamim Franklin – A gema que te foi trazida encerra virtudes magnéticas especiais, que nós lhe transfundimos.

“Moses – infinitamente reconhecido vos sou pela dádiva que me fizeste.

O joalheiro a quem levei para mandar montá-la num anel ficou maravilhado e declarou que jamais vira pedra preciosa de tal beleza. Agora diz-me: esta safira é de origem terrestre? Ou foi criada por vós outros? Será coisa diferente do que temos neste mundo?

“Benjamim Franklin – É diferente das safiras terrenas e muito preciosa. É de valor inestimável, dado que nenhum existe igual no vosso mundo.

O joalheiro não podia notar as diferenças que há entre a vossa safira e as que conhece, porque a pedra que te dei tem a aparência e traços característicos das safiras da terra. Somente pela visão espiritual se chega a distingui-la das outras.

“Moses – Quão grande é a ignorância do mundo, acerca desses mistérios!

“Benjamim Franklin – E assim continuará enquanto se conservar tão material nas suas aspirações. A grande maioria dos homens é excessivamente mundana, vulgar, para perceber as influências espirituais de natureza sutil e apurada... Gemas, perfumes e música são os três grandes veículos da influência espiritual.

O Prof. Ernesto Bozzano retoma a palavra e oferece os seguintes esclarecimentos:

“Os trazimentos de gemas que Stainton Moses obteve, constituíram ‘criações mediúnicas’ e, não ‘trazimentos’ propriamente ditos. Também farei notar que, estivessem em causa jóias terrenas subtraídas a seus proprietários por aquelas personalidades, os jornais da época não teriam deixado de falar de uma série de furtos misteriosos de pedrarias de grande valor, realizadas em joalherias ou em casas particulares.

“Não será inútil previamente, desde já, às insinuações de jocoso que entendesse de levantar a hipótese de que o Reverendo Stainton Moses comprava as jóias que surgiram nos cursos das sessões. Respondo, fazendo notar que o Sr. Moses estava longe de ser rico.

Viveu sempre às expensas dos modestos ganhos que tirava do seu trabalho”.

Em seguida, o Prof. Bozzano, pretendendo ao que parece, lançar luzes sobre o inusitado fenômeno, esclarece:

“Os trazimentos de pedras-amuletos que aqui estudamos, apresentam modalidades de manifestação que levo a supor que alguma outra parcela de verdade, de categoria muito diversa, se deveria encontrar oculta e disfarçada no amontoado de superstições que os séculos nos transmitiram”.

E prossegue:

“O fenômeno é de natureza a não surpreender os que têm conhecimento da fenomenologia metapsíquica, dado que o fato de uma saturação fluídica dos objetos, alheia aos próprios objetos, está cientificamente provada pela existência de psicometria, nas quais a absorção da ‘aura’ de um indivíduo por objeto qualquer que ele trouxe longamente consigo, constitui o fundamento das experiências em questão. E estes – repito-o – pertencem doravante aos fenômenos metapsíquicos comprovados”.

É realmente sabido que as experiências de psicometria demonstram que a matéria, em geral, é susceptível de registrar as vibrações emanantes dos acontecimentos que perto dela se desenrolam, tornando aptos os sensitivos psicômetros revelar os seus trâmites muita vez com surpreendentes detalhes. É assim eu um pequeno fragmento de fóssil da época quaternária pode revelar um episódio da história geológica e paleontológica do seu tempo, tal como se dá no caso de um objeto usado durante muitos anos por um vivo ou um morto, o qual revela ao sensitivo parte dos acontecimentos que o seu dono viveu.

Segue-se que, em princípio, as experiências de psicometria provam a existência de qualidade benéfica ou maléfica registradas e conservadas nas gemas, amuletos e talismãs, graças à intervenção de uma vontade exterior. Fora, todavia mister que esta se caracterizasse por um poder excepcional de irradiação, combinado com uma extraordinária energia volitiva, acrescendo que os objetos assim influenciados teriam de ser eficazes unicamente nos casos de percipientes ultra-sensíveis. A grande maioria dos vivos se conservaria insensível a essa influência. É, aliás o que acontece nas experiências de psicometria, em que somente alguns raros sensitivos chegam a perceber as influências existentes nos objetos.

Essas circunstâncias são de natureza as proporções modestas a eficácia benéfica ou maléfica dos artefatos usados como amuletos e talismãs. Nas instruções dadas pelo Espírito-Guia de Stainton Moses sobre a maneira que devia ser empregada a jóia-amuleto, depara-se com uma observação que limita a sua ação taumatúrgica. Destarte, as propriedades curativas da influência contida na gema mostrou-se especialmente eficazes (no caso de Stainton Moses) por o seu o mesmo sensitivo, do contrário, não seriam experimentados quaisquer efeitos curativos. Entretanto, deve-se ressaltar, à guisa de exceção, os casos que têm com causa um fato auto-sugestivo determinado pela fé cega nas virtudes taumatúrgicas do objeto ou eficácia das práticas religiosas.

O Prof. Bozzano conclui seus arrazoados observando que não se poderia racionalmente, por em dúvida a origem espirítica dos trazimentos de pedras-amuletos obtidos nas experiências de Stainton Moses. Não há no mundo corpóreo pedras preciosas que se embaciem e mudem de cor, quando o respectivo dono está doente. Despontam no particular, as seguintes perguntas: não se podendo negar, no caso de que se trata a existência, nas pedras, de uma situação fluídica de origem exterior, qual seria então a origem dessa influência? Se não é devida à vontade das personalidades espirituais que haviam criado as jóias, qual poderia ser o desconhecido vivo que transmitia a sua influência taumatúrgica? Não tem resposta esta pergunta, a menos que se busque refúgio, ainda uma vez, na cômoda hipótese de subconsciência, que houvera tirado do nada as pedras preciosas para em seguida, as saturar de influência benéficas extraídas de si mesma e que serviriam para curar... a ela mesma e aos outros. É evidente que tudo isso raia ao absurdo. Os que com isso se contentam têm liberdade de fazê-lo, mas com a condição de não falarem em nome de pesquisas científicas, e, sim, em homenagem ao direito de soltarem os freios à fantasia.

Há ainda que destacar: é que uma regra elementar das pesquisas científicas exige que nunca se chegue a conclusões de origem geral com fundamento na análise parcial de um só grupo episódico, destacado do conjunto dos fatos que formam, com ele, uma coisa indivisível. Ora, o fenômeno de trazimento de pedras preciosas mais não é do que um grupo episódico pertencente a um grupo prodigioso de outros grupos episódicos de ordem física e intelectual que, considerado coletivamente, forma um feixe tal de provas indutivas e coletivas, convergentes para uma explicação única – a interpretação espirítica dos fatos – nenhuma dúvida fica sobre a legitimidade dessa interpretação. Unicamente para se chegar a tais conclusões, é preciso haver estudado, analisado, comparado o conteúdo de uma enorme documentação concernente às experiências de que se trata. Os relatos da Sra. Speer a uma série inteira de sessões experimentais, que duravam nove anos, apareceu na revista LIGHT, entre os anos de 1982 à 1983. Nunca foram reunidos em volume, nem mesmo na Inglaterra, e hoje não há como encontrá-los. Contudo, o Prof. Bozzano possuía a coleção completa desses relatos publicados na LIGHT, o que lhe possibilitada emitir juízo com conhecimento de causa. Nessas condições, é manifesto que, se houvesse outros pesquisadores que desejassem a seu turno, julgar destes fatos, pronunciando contra a origem espírita das pedras – tirando da análise parcial de um só grupo episódico conclusões de ordem geral – esses tais cometeriam, pelo menos, um erro imperdoável de metodologia científica.

O Prof. Bozzano chega a esta conclusão: “os famosos trazimentos de gemas-amuletos que se realizavam com o auxílio da mediunidade do Reverendo Stainton Moses, não contribuem apenas para pôr em foco as parcelas de verdade existentes no amontoado informe de superstições que se aglomeram em torno da história dos amuletos e dos talismãs; não servem unicamente para clarear este assunto tão obscuro, legitimando-o em pequena parte e fixando-lhe em limites muitos estreitos a possível influência. Concorrem, também, de maneira eficaz, para demonstrar a intervenção incontestável de entidades espirituais nas manifestações a que nos referimos, o que eqüivale a lhe entender o alcance a todas as grandes manifestações do mesmo gênero”.

Deve-se louvar, sem embargo, a atitude corajosa do Prof. Bozzano em tratar de um assunto que, no campo do psiquismo, se conserva menos elucidado, senão em profunda obscuridade, razão, naturalmente, porque também é o que dá lugar a opiniões ou crenças mais extremadas, que vão desde a negação absoluta, até a aceitação e sem reservas de todas as lendas que se têm divulgado em torno da eficácia desses objetos a que, vai para muitos séculos, se atribuem as mais variadas e portentosas virtudes. Mesmo os que se dedicam ao estudo a análise da fenomenologia espírita, diversificam-se nos seus pareceres sobre o momentoso assunto. Aliás, este é um dos pontos menos explícitos se mostraram os Espírito da Codificação, nas revelações e esclarecimentos que transmitiram ao Mestre Allan Kardec, o qual também pouco se demorou em comentá-lo na obra básica do Espiritismo – “O Livro dos Espíritos”.

Eis aí um campo vastíssimo que se abre à pesquisa efetivamente inconclusa, a despeito das experiências com o notável médium Stainton Moses...

Os pesquisadores interessados poderão encontrar vasto material sobre a PSICOMETRIA nas obras a seguir assinaladas:


Psychométrie, L. Deinhard, Paris;

A Manual of Psychometriy: The Dawn of a New Civilization, Boston, 1886, J. Rhodes Buchanan (o pioneiro no campo de pesquisas psicométricas);

Traité de Metapsychique, Charles Richet, Paris, 1922;

Nature’s Secret or Psychometric Researchs – W. Dentos e Elisabeth Denton, Londres;

The Soul of Things – W. Denton, Londres;

Enquête Sur des Cas de Psychométrie, La Vue à Distance Dans le Temps te Dans L’espace, Edmond Duchâtel, com prefácio de J. Maxwell, Paris, 1910;

Seeing the Invisible: Pratical Studies in Psychometry, thought transference, telepaphy and allied phenommena, James Cootes, Londres, 1909.

Carlos Bernardo Loureiro