26 maio 2009

OS SÍMBOLOS

O vocábulo SÍMBOLO vem do grego SUMBALLEIN, que significa LIGAR ou ATAR (1).
Das mais remotas eras à modernidade, o processo humano de comunicação se realiza através de riquíssima SIMBOLOGIA. Os seres primitivos deixaram nas rochas frias das cavernas os registros indeléveis de seu “modus vivendi” em um meio inóspito e adverso, onde a luta pela sobrevivência identificava-o com os irracionais. E um dos maiores SÍMBOLOS dessas perdidas cidades, o TOTEM, representava, alegoricamente, animais, plantas e fenômenos da Natureza, como a chuva, o raio, etc... Afirma-se que o SÍMBOLO é um MICROCOSMO do que representa:
*Consubstancia, em essência, a força e a energia que lhe deu origem.

O SIMBOLISMO ESOTÉRICO

É no ESOTERISMO que o SÍMBOLO atinge sua justa dimensão. Entre os gregos o ESOTERISMO é ensinado de uma maneira íntima e simbólica, somente aos INICIADOS. Em contrapartida, o ESOTERISMO, acessível a todos, exposto sob forma de diálogos. Essa FILOSOFIA ESOTÉRICA estava contida em obras de fundo não-dialético, mas dogmático. ARISTÓTELES, v.g., dividiu as suas obras em não-esotéricas ou acroamáticas e esotéricas. Esta distinção estaria ligada fundamentalmente à forma e aos processos de exposição. Nas obras NÃO-ESOTÉRICAS os argumentos são claros e mais facilmente inteligíveis; nas obras ESOTÉRICAS os argumentos são obscuros e simbólicos. Essa idéia de uma doutrina misteriosa e emblemática reservada aos iniciados seduziu muitos Espíritos. O ensino do ESOTERISMO era ministrado oralmente ou através de textos; comportava especialmente a EXPLICAÇÃO DOS ARCANOS, as TRADIÇÕES DA CABALA e a MAGIA, o RITO SIMBÓLICO DOS MISTÉRIOS SAGRADOS, assim como os SEGREDOS DA ALQUIMIA.


A EXPRESSÃO ESOTÉRICA DO PENSAMENTO

Afirma-se que o PENSAMENTO, a nível ESOTÉRICO, seria a resposta simbólica do EU (2), que nada mais é do que a MANIFESTAÇÃO OCULTA DO ESPÍRITO (O SER PENSANTE). As idéias, os sentimentos, os caracteres, a sensibilidade, as idiossincrasias, são atributos do SER ESPIRITUAL, que se manifestam, de ordinário, em formas simbólicas inconfundíveis. Não é sem razão que o ESOTERISMO admite que um símbolo é uma representação que oculta ou vela uma verdade subjacente, íntima, de ordem espiritual. Destarte, determinadas figuras ou signos encobrem princípios filosóficos abstratos, e os corpos visíveis são símbolos de Espíritos ou forças invisíveis. Seria, a grosso modo, aquele produto ideoplástico da alma, segundo as teses psicodinâmicas de GUSTAVE GELEY, o gênio metapsiquista francês? Nesse sentido, o homem viria a ser a manifestação estereológica e simbólica da alma, que essencialmente não poderia “EXISTIR” na esfera ponderável, porque esta, a rigor, não lhe é específica...
Ultimamente, vem se constatando um expressivo interesse pelo estudo e interpretação dos SÍMBOLOS, com o advento das pesquisas na área (ainda obscura) do INCONSCIENTE. Direcionam, tais pesquisas, especialmente, para a compreensão dos mecanismos do sonho, seu conteúdo manifesto e sua função. ARTEMIDORO DE ÉFESO, afirmara:
“Sonhos e visões são incutidos nos homens proporcionalmente à sua superioridade e instrução”.
Teria sido esse analista grego o pioneiro no campo da investigação criteriosa dos sonhos, reunindo-a em cinco volumes (ONEIRO-CRÍTICA).
Os escritos de ARTEMIDORO influenciaram, mais tarde, SIGMUND FREUD. Nesse sentido, o “PAI DA PSICANÁLISE” desenvolveu a técnica da “ASSOCIAÇÃO LIVRE DE IDÉIAS” e a tradução de símbolos contidos no material psíquico, em que se capitulam não apenas os contidos no material psíquico, em que se capitulam não apenas os sonhos, mas atos falhos, impulsos, fantasias, ansiedades etc. as idéias da existência de um INCONSCIENTE na estrutura da realidade psíquica, interna, ao tempo dos primeiros trabalhos de FREUD, vinha sendo abordada por diversos pesquisadores, entre os quais destaca-se PIERRE JANET (1859-1947) considerado o fundador da Psicologia clássica, desenvolveu uma teoria do funcionamento psíquico oposta à de seu contemporâneo SIGMUND FREUD – a PSICOLOGIA DOS COMPORTAMENTOS. Escreveu: “O AUTOMOTISMO PSICOLÓGICO”, dado a público em 1889. Não apenas PIERRE JANET discordou das concepções freudianas, mas alguns de seus próprios discípulos, tais como: ALFRED ADLER, CARL GUSTAVE JUNG, OTTO RANK, KAREN HORNEY, enquanto outros aprofundaram as suas idéias: ANA FREUD, S. FERENCZI, MELAINE KLEIN e K. ABRAHAM, em que assume realce o problema da formação, estrutura e atividade do EGO.
C.G. JUNG é, sem dúvida, o maior crítico de Freud, particularmente no que diz respeito à interpretação dos sonhos, oferecendo, às ilações freudianas, as seguintes contestações:
“Da mesma forma que a vida humana não se limita a este ou aquele instrumento básico, abrangendo, ao contrário, uma multiplicidade de instintos, os sonhos não podem ser explicados por este ou por aquele elemento isoladamente, por mais simples e atraente que tal explicação pareça... Jamais uma teoria simplificada dos instintos será capaz de abranger toda essa coisa misteriosa e poderosa que é a PSIQUE HUMANA, e tampouco o sonho, e sua expressão”.
E arremata:
“Os sonhos dão expressão à verdade incontestáveis, a pronunciamentos filosóficos, a fantasias selvagens, a ilusões, a previsões, a experiências irracionais, até mesmo a visões telepáticas e talvez a muito mais”.
Não parece o psiquiatra falando, sempre pragmático, ortodoxo, sistemático; dir-se-ia um espiritualista convicto, ciente das implicações espirituais dos sonhos, que assim nascem, sob variada circunstância, nos refolhos da alma e se projetam insopitáveis, ao consciente; ou decorrem do contato efetivo e inelutável do espírito encarcerado com a alma liberta dos grilhões da carne. Desse intercâmbio, não percebido ou não aceito pelos psicanalistas (repulsa ao eterno) se identifica a gênese dos problemas maiores e profundos do SER, o Ser que venceu a morte, integrando-se à dimensão que lhe é essencialmente específica.
O mistério e o poder da PSIQUE HUMANA seriam investigados por JUNG. Não se limitou à tecer simbólicas e complicadas teorias sobre o psiquismo; investiu, com inusitada ênfase, na área da fenomenologia supranormal, na tentativa de encontrar as respostas de que tanto precisava para a formação de sua doutrina psicanalítica. Diria, a propósito, MARTIN EBON, em “THEY KNEW THE UNKNOWN” (The New American Library, Inc., New York):
“O interesse de JUNG pelo OCULTO, iniciou-se com uma cuidadosa análise da Literatura do séc. XIX. Em 1897, enquanto era ainda um estudante, encontrou, numa biblioteca, pequena história de fundo eminentemente espiritualista, que o impressionou de tal forma que ele iria, mais tarde referir-se à narrativa em suas “MEMÓRIAS”. A partir desse contato com a “QUESTÃO ESPIRITUALISTA”, JUNG busca, o tempo todo, provar, a si mesmo, a verossimilhança dos relatos espíritas. As experiências de dois cientistas, no particular, suscita-lhe especial atenção: JOHANN C.F. ZOLLNER, Professor da Universidade de Leipzig e SIR WILLIAM CROKES, físico inglês de ilibada reputação internacional. ZOLLNER reúne os iniciais frutos de seu trabalho mediúnico na obra “TRANSCENDENTAL PHISICS” (física transcendental) enquanto SIR WILLIAM CROOKES (1832-1919), após reiteradas e frutuosas experiências espíritas, publica várias obras, entre as quais destacam-se “RECHERCHES SUR LÊS PHÉNOMÉNES DU SPIRITUALISME” (edição francesa) e “FATOS ESPÍRITAS”, onde evidencia as notáveis faculdades mediúnicas de FLORENCE COOK, KATE FOX e DANIEL DUNGLAS HOME.
Considera-se o ano de 1916 o ponto alto da crise emocional de JUNG, quando ele começou a ser assediado pelos fantasmas. As referências do psicanalista a respeito são vagas, emblemáticas, obscuras. Mas ainda assim percebe-se o que, no íntimo da narrativa, identificam-se o real, o verossímil. JUNG sentia uma sensação indefinível de intranqüilidade; a casa inteira pareceu-lhe cheia de Espíritos de mortos:
“Havia uma atmosfera sinistra envolvendo-me completamente. Eu tinha a estranha sensação de que o ar estava cheio de entidades fantasmais. Então, foi como se a minha casa começasse a ser assombrada. Minha filha mais velha viu uma figura branca atravessando a sala de jantar”. E outras ocorrências fantasmais aconteceram em uma noite de Sábado na residência de Jung.
No dia seguinte (domingo), Jung sentiu a casa inteira abarrotada de Espíritos”. Este relato é parte da obra “SEPTEM SERMONES AD MORTUS” (Sete Sermões aos Mortos), escrita pelo êmulo de Freud, em, pelo que parece, escrita automática.
“Isso começou a jorrar de mim – afirma – e no transcorrer de três noites a coisa estava escrita”.
Jung chega a admitir que a experiência que vivenciou estaria ligada ao seu estado emocional. Abstraindo-se a fraseologia nebulosa, obscura, eis o que sucedeu ao fundador da PSICOLOGIA ANALÍTICA. Agora, e para ilustrar estes arrazoados sobre “SÍMBOLOS” prestemos bastante atenção na linguagem junguiana, ao concluir o episódio que fora figura coadjuvante entre os principais e invisíveis atores da fascinante trama mediúnica:
“Daquele momento em diante, os mortos se tornaram ainda mais definidos para mim, como as vozes do não-respondido, do não-solucionado e do não-cumprido; pois uma vez que as perguntas e reclamações, que meu destino obrigou-me a responder, não me vieram do exterior, elas devem ter vindo do mundo interior. Estas preleções para os mortos constituíram uma espécie de prelúdio para aquilo que eu tinha para comunicar ao mundo sobre o inconsciente, uma espécie de modelo de ordem e de interpretação do seu conteúdo geral”.
E mais adiante afirma:
“Todas as minhas obras, toda a minha atividade criadora VEIO DESSAS FANTASIAS E SONHSO INICIAIS... Tudo o que realizei posteriormente em minha vida já estava contido nelas, embora no princípio, somente na forma de emoções, símbolos e imagens”.
Seriam esses mortos, na concepção de JUNG, elementos autônomos do INCONSCIENTE? Admite-se que os ‘SETE SERMÕES AOS MORTOS” contém ilustrativas antecipações de idéias que iriam desempenhar importante papel na pesquisa científica posteriormente desenvolvida por JUNG. E arrematam os hermeneutas:
“Possivelmente, estava o consciente educado falando para o inconsciente indagador”...
Três anos depois dos “SETE SERMÕES AOS MORTOS” (1919), JUNG realizou concorrida Conferência na “Sociedade para Pesquisas Psíquicas” (SPR), em Londres, discorrendo sobre “AS BASES PSICOLÓGICAS DA CRENÇA NOS ESPÍRITOS”. Em sua fala, ouvida atentamente por sisudos pesquisadores e seleta assistência, traçou ele um perfil histórico-antropológico do assunto, em que sobressaía uma terminologia realmente esdrúxula, vaga, indefinível, considerando os povos primitivos como presas de “conflitos psicogênicos”, ao se dedicarem à adoração dos ancestrais. A conversão de SAULO DE TARSO, seria devida a “ALUCINAÇÕES AUDITIVAS” (idêntico ponto de vista postula ERNESTO RENAN) e a “COMPLEXOS AUTÔNOMOS”. E, à guisa de conclusão, emitiu o seguinte parecer, baseado, lamentamos dizer, em infundadas especulações:
“Portanto, os Espíritos, vistos de um ângulo psicológico, são complexos autônomos inconscientes, que aparecem com projeções porque não têm associações diretas com cego”.
Na década de 1920, JUNG assistiu, em Munich, a várias sessões de ECTOPLASMIA coordenadas pelo Barão ALBERT VON SCHRECH-NOTZING, tendo como médium o austríaco RUDI SCHNEIDER, o Professor BLEULER também estava presente. E o próprio JUNG, na década de 30 realizaria, juntamente com BLEULER, sessões com o médium suíço OSKAR SCHLAG. Na ocasião ocorreram fenômenos de efeito físico e de materialização de Espíritos. Ainda assim, os comentários do Professor de Zurich, permanecem (pelo menos publicamente) refratários à sobrevivência da alma e a sua comunicação com os “VIVOS”, que continuam sendo, para ele, “TESTEMUNHO DA PSIQUE INCONSCIENTE”.
As dúvidas de C.G. JUNG são, na verdade, compreensíveis: ele não poderia (assim como o próprio FREUD) admitir, psicologicamente, a comunicabilidade dos Espíritos, a existência da dimensão definida por F. ZOLLNER (com quem realizou notáveis experiências), a DIMENSÃO IMPONDERÁVEL, porque iriam por água abaixo a maioria esmagadora dos valores e conceitos psicológicos. Seria o “coup de grânce” da Psicologia.
Em boa hora avisa o pesquisador MARTIN EBON (obra citada): “Que ninguém recorra à JUNG em busca de certeza, muito menos no que diz respeito ao ocultismo”. Ele mesmo falou, no fim de suas “MEMÓRIAS”:
“Estou atônito, desapontado e contente comigo mesmo, estou perturbado, deprimido e entusiasmado. Sou todas essas coisas ao mesmo tempo e não posso tomar as parcelas. Sou incapaz de determinar o que é de suprema importância e o que não tem importância nenhuma... Não existe nada que eu tenha absoluta certeza”...

(1) Um SUMBALLON era um sinal de reconhecimento: um objeto cortado em duas metades, cujo confronto permitia aos portadores de cada parte se reconhecerem sem jamais se terem visto antes.
(2) EU: segundo alguns enciclopedistas, é uma palavra dêictica, vazia de conteúdo semântico, que por papel representa a pessoa que fala. O que constitui a individualidade:
*o Eu de cada um; SUJEITO PENSANTE (filosofia); o EGO (psicanálise).


Carlos Bernardo Loureiro.

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