JESUS e A Autenticidade dos
Evangelhos - Em Busca da Verdade
(Por Carlos Bernardo Loureiro)
Caro internauta, para a boa compreensão da Doutrina Espírita é fundamental a análise ponderada da figura histórica de Jesus, a exemplo da que é feita por dedicados estudiosos do mundo inteiro. Nesta seção serão quinzenalmente expostos textos curiosos e provocantes a respeito da vida e do legado do mestre Jesus.
A feição européia foi idealizada pelos delirantes padres da Igreja Católica. Na verdade, a imagem de Jesus, tanto como a de Maria, tiveram essa metamorfose em função, acreditamos, de preconceito racial, visto que o semita, na verdade, tem uma tez escura.
No século II, Celso, citado por Léon Denis, acusava os cristãos de retocarem, constantemente, os Evangelhos e eliminarem, no dia seguinte, o que havia sido escrito na véspera!
SOBRE A AUTENTICIDADE DOS EVANGELHOS
Um atento exame dos textos demonstra que, em meio das discussões e das perturbações que agitaram, nos primeiros séculos, o mundo cristão, não hesitou em aduzir argumentos, desvirtuar os fatos, falsear o verdadeiro sentido dos Evangelhos. Celso, desde o século II, no Discurso Verdadeiro, lançava aos cristãos a acusação de retocarem constantemente os Evangelhos e eliminarem, no dia seguinte, o que havia sido escrito na véspera.
Muitos fatos parecem imaginários e acrescentados posteriormente. Tais, por exemplo, o nascimento em Belém, a degolação dos inocentes, de que a História não faz menção alguma, a fuga para o Egito, a dupla genealogia, contraditória em tantos pontos, de Lucas a Mateus.
Léon Denis – in: “Cristianismo e Espiritismo”, edição FEB.
INTRODUÇÃO
Este é um trabalho de pesquisa bibliográfica, em que despontam teólogos e exegetas de notória credibilidade. Não se trata de simples compilação, uma vez que o autor se permitiu tecer comentários sobre os temas analisados. É uma visão diferente, conquanto inquietante, daquela divulgada pela Religião, através do tempo, acerca da vida, pensamento e obra do Mestre Jesus, que nada escreveu e jamais imaginou que suas palavras fossem, mais tarde, registradas de forma tão desencontrada e duvidosa. É justamente por isso que se escreveu esta monografia, numa tentativa de levar aos espíritas versões diversificadas sobre os Evangelhos, baseando-se em fontes autorizadas. Não nos moveu, de modo nenhum, a pretensão de confundir as pessoas, nem refutar nada, mas de apresentar os fatos sobre prismas não-ortodoxos, em que prevalece um flagrante espírito de sistema.
As críticas aqui formuladas, têm sua sustentação no bom senso e na lógica, e não em levianas e injustificadas interpretações, buscando sérias respostas a certas e cruciais perguntas, que jamais foram respondidas à luz clarificante da Verdade Histórica. Não pretendemos desafiar a Religião Ocidental. Mas, sentimo-nos imbuídos do dever de tentar esclarecer, o que é válido e desprezível no contexto das distorcidas interpretações, adições e supressões perpetradas por tendenciosas facções que se arvoraram proprietárias exclusivas dos Evangelhos.
A FARSA DO BATISMO
Existem raríssimas fontes de informações sobre Jesus, fora dos quatro Evangelhos canônicos. “Paulo e Josefo”, escreve John P. Meier em Um Judeu Marginal, oferecem muito pouco de concreto. “Resta-nos esmiuçar a tradição histórica baseando-se nos Evangelhos. A tarefa é assaz difícil, porquanto os mesmos sofreram acerbas e infundadas análises, na segunda metade de século I, d.C.
Escritos à altura de quarenta a setenta anos após a desencarnação de Jesus, exige, do historiógrafo, um exame criterioso do material que oferecem, esperando-se que se obtenha resultados confiáveis.
Jesus aparece pela primeira vez no palco da História
Inicia-se na vida pública após o batismo a que se submeteu, sob as expensas do carismático João Batista. Há exegetas respeitáveis que questionam a real existência do batismo.
Flavius Josefo, por exemplo, em seu livro Antiguidades não menciona qualquer conexão ou encontro entre os dois, quanto mais João batizando Jesus. Conforme, pois, a concepção do notável historiador judeu Jesus e João, na verdade, jamais se cruzaram um com o outro.
Há, ainda, um outro forte motivo para se duvidar da historicidade do batismo de Jesus: a narrativa de Marcos está sopesada de interpretação teológica(Interpolação?).
A grande teofania (manifestação divina) que se segue ao batismo (E logo, quando saía da água, viu os céus se abrirem, e o Espírito, qual pomba, a descer sobre ele) domina a maior parte da narrativa do fato. Com essa evidente interpolação teológica eclipsando o suposto evento batismal, leva-nos a duvidar, firmemente, da natureza não-histórica da tradição do batismo de Jesus por João.
Ademais, argumenta-se que o episódio do batismo (se verdadeiro fora) apresenta Jesus colocado numa situação de inferioridade perante João, ao aceitar deste um batismo que é, em síntese, um arrependimento pelo perdão dos pecados. A própria narrativa, por que interpolada, vai de encontro ao desejo de todos os evangelistas de mostrar historicamente João apenas como precursor, anunciador, profeta ou testemunha de Jesus. Ainda mais por que Jesus, considerado sem pecado e fonte de salvação dos pecados da humanidade, nivela-se aos pecadores ao submeter-se a um batismo de arrependimento pelo perdão dos pecados.
Apesar dos evangelistas Mateus, Lucas e Marcos registrarem o episódio do batismo, João é completamente omisso. Na verdade, e segundo o pensamento lúcido de João, como poderia o verbo eterno, feito carne, receber o batismo de João? Nesse sentido, não aparece nenhum relato de Jesus, sendo batizado, com ou sem João Batista, embora seja mantida a teofania com o Espírito descendo como uma pomba (João 1:32), sem seu tradicional apoio numa narrativa do batismo de Jesus.
Indaga-se: por que motivo os exegetas teriam interpolado o batismo nos três primeiros evangelhos? Parece-nos que pretenderam estabelecer os pródromos do messianismo cristão. Antes do “batismo”, Jesus era um honrado carpinteiro em Nazaré. “Tanto a família” – esclarece John P. Meier (in: “A Marginal Jew: Rething the Historical Jesus”) “como os vizinhos ficaram chocados com ele. Após ter iniciado seu ministério”. Seu “batismo”, pois, afigurou-se para os exegetas, de fundamental importância, transformando-se, destarte, no único sinal externo dessa “virada” – sua “conversão” no sentido original da palavra.
1 Historiador judeu (Jerusalém 37-Roma-100), cujo nome verdadeiro é José Bem Mathias. Suas duas obras essenciais são A Guerra dos Judeus, que constitui um depoimento único sobre os acontecimentos 66-70, e As Antiguidades Judáicas, preciosa para a história dos últimos séculos anteriores à era cristã.
2 A essa conclusão, após acuradas pesquisas, chegaram Ernest Haenchen (“Der Weg Jesu”, Berlim, 1968) e Morton S. Enslin (“John and Jesus”, N.Y. 1975)
3 Jesus como sem pecado, vide: 2 Cor. 5:21, Hb 4:15, Jo 8:46. Jesus como fonte da salvação: 1 Cor. 15:3, Rm 3:23 –26, Ef 1:7, Mc 2:1-12, Mateus 1:21, 26, 28. Lc 7:36 – 49, 24: 46-47, Jo 1:29.
4 João, o evangelista, é claro, ao referir-se à superioridade de Jesus: “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio como testemunha...Ele não era a luz...Pois a verdadeira Luz, que alumia a todo o homem, estava chegando.(Por Carlos Bernardo Loureiro)
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