“Os progressos da medicina, principalmente no campo da imunologia, tornaram factíveis intervenções cirúrgicas antes verdadeiramente postas no capítulo da ficção” (cf. Dr. Paulo Sérgio Leite Fernandes), fato que se desencadeou desde as experiências bem sucedidas do Dr. Barnard e foram se desenvolvendo com tal celeridade que evoluiu do transplante possível de órgãos de um ser para outro, até desembocar no assunto delicado da doação (espontânea ou compulsória) de órgãos que domina todos os meios de comunicação de hoje.
Como a Doutrina Espírita se interessa por todos os eventos da vida humana (já que os humanos são os Espíritos mesmos, ora no plano físico, ora no plano espiritual), dada a sua dinâmica progressiva e incessante, não podia nem pode ficar à margem de analisar o problema dos transplantes e doações de órgãos humanos.
Há várias questões que se fazem aos expositores e divulgadores da Doutrina para saber como o Espiritismo encara o assunto, que procuraremos sintetizar no curto espaço desta matéria -- muitas dessas questões levantadas e a nós encaminhadas em um Simpósio patrocinado pela Federação Espírita do Estado de São Paulo na cidade de Cafelândia, de que participamos.
A fundamental questão é: o Espiritismo é contra ou a favor do transplante de órgãos e da doação deles? Apesar de não podermos ser confundidos como a “opinião” da Doutrina, arriscamos nossa própria postura, baseados nos princípios gerais e éticos dos Espíritos: é totalmente a favor, já que representa um avanço científico e visa o benefício e aperfeiçoamento dos seres em sua escalada evolutiva, além de ato fraterno e caridoso, portanto, de amor ao próximo.
Outra: a retirada dos órgãos não poderá acarretar problemas para o Espírito? A verdadeira propriedade do Espírito é o seu patrimônio moral e cultural, jamais a matéria de que é composta o corpo físico, que lhe serve transitoriamente como veículo da encarnação. Se um Espírito diz-se sofrendo por ter “perdido” parte do seu corpo material, creiam que é um sentimento transitório e mera impressão, que se desfará tão logo ele reconheça sua condição de Espírito Imortal e imaterial, que preexiste e sobrevive ao corpo.
E mais uma: Como fica o perispírito do paciente de retirada de órgãos? Respondemos com parte das apropriadas palavras do Dr. Richard Simonetti (Revista Internacional do Espiritismo, nº 01, ano LXXIII): “Nosso perispírito, o corpo espiritual, é afetado pelo que fazemos, não pelo que fazem ao nosso corpo.”
Como deve agir o Espírita perante a legislação recente da doação de órgãos? Resposta do preclaríssimo e até douto Emmanuel (reproduzida em “Manual Espírita do Principiante”, pg. 91), que adotamos pela precisão de conceitos e lucidez de raciocínio: “a doação de órgãos deve ser regida pela consciência individual. Se o desencarnado é muito apegado ao corpo material, poderá sentir-se um tanto perturbado, mas sem gravidade. Tendo notícia do real papel do próprio corpo na trajetória ascensional do espírito, entenderá. Uma vez inútil ao seu trabalho, algo dele serve ao outro, cuja máquina perdeu só um parafuso. Como o carro fundido ou acidentado cede peças sãs a um menos lesado.”
E o mesmo benfeitor espiritual conclama-nos a pensar sobre a alegria do Espírito doador em saber que outro ser que periclitava pôde se beneficiar de um órgão de que aquele não mais necessita, chegando ao ponto de até vir abençoar e amparar o beneficiário em momentos críticos. Além de um bem, é uma consolação... sinal distintivo da Doutrina Espírita.
Não se deve perturbar nossa consciência com o fato do rompimento da vinculação útil do corpo físico com o Espírito que o utiliza, em caso de retirada de órgãos por ocasião da morte daquele; basta que analisemos a clareza meridiana (filosófica e científica) contida na questão nº 155 do Livro dos Espíritos, com a opinião deles para Kardec, quando perguntou como se operaria a separação da alma e do corpo: “Rotos os laços que a retinham, ela se desprende.”
Casos de rejeição do órgão recebido, podem ser atribuídos a causas várias de natureza espiritual, mas não será fantasia adicionar que se algum órgão foi retirado de alguém que se opunha tenazmente à idéia de doar qualquer parte de seu corpo, o órgão vai imantado de fluidos resistentes e negativos que podem provocar a incompatibilização com o restante dos órgãos do receptor. É uma ilação, mas válida, bastando que se consulte a teoria da transmissão dos fluidos deduzida por diversos cientistas e também abraçada por Kardec nas notas à questão nº 70 do Livro dos Espíritos.
Sobre a matéria aqui tratada, convidamos a leitura da excelente obra dos médicos espíritas mineiros no livro “Porque Adoecemos”, especialmente os Capítulos 8 e 9 do inspirado Dr. Roberto Lúcio Vieira de Souza.
Para arrematar, uma pergunta tétrica nossa: Você prefere não praticar o ato fraterno de doar seus órgãos ao seu semelhante, para doá-los aos vermes? Decisão sua... e só sua!
Francisco Aranda Gabilan
fagabilan@uol.com.br
*Os conceitos aqui emitidos não expressam necessariamente a filosofia espírita, sendo de exclusiva responsabilidade de seus autores.
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