26 agosto 2009

VALOR DA PRECE

Revista Espírita, agosto de 1862

A mesma pessoa da qual o fato precedente foi questão, teve, um dia, a comunicação
espontânea seguinte, da qual não compreendeu imediatamente a origem:
'Vós não me esquecestes, e jamais vosso Espírito teve um sentimento de perdão para mim.
E verdade que vos fiz muito mal; mas disso sou punida há muito tempo. Não parei de
sofrer. Vejo-vos seguir os deveres que cumpris com tanta coragem, para prover às
necessidades de vossa família, a inveja não parou de me devorar o coração. Vossa... (Aqui,
paramos para perguntar o que isso poderia ser. O Espírito acrescenta: "Não me
interrompas; me nomearei quando tiver acabado.")... resignação, que segui, foi um dos
meus maiores males. Tende um pouco de piedade de mim, se sois realmente discípulo do
Cristo. Eu estava muito sozinha sobre a Terra, embora no meio dos meus, e a inveja foi
meu maior vício. Foi pela inveja que dominei vosso marido. Parecíeis retomar o império
sobre ele quando vos conheci, e me coloquei entre vós. Perdoai-me e tende coragem: Deus
terá piedade de vós a seu turno. Minha irmã, que oprimi durante minha vida, é a única que
tem orado por mim; mas são as vossas preces que me faltam. As outras não têm para mim
o selo do perdão. Adeus, perdoai-me.
ANGÈLE ROUGET."
Aquela senhora acrescenta: "Lembrei-me então perfeitamente da pessoa morta, há vinte e
cinco anos, e na qual não havia pensado desde muitos anos. Pergunto-me como ocorre que
as preces de sua irmã, virtuosa e doce criatura, devotada, piedosa e resignada, não sejam
mais frutíferas do que as minhas. Entretanto, pensai que, depois disto, orei e perdoei."
Resposta. - O Espírito deu-lhe a explicação quando disse: "As preces dos outros não têm
para mim o selo do perdão." Com efeito, sendo essa senhora a principal ofendida, e sendo a
que mais sofreu com a conduta daquela mulher, em sua prece havia perdão, o que deveria
mais tocar o Espírito culpado. Sua irmã, orando, não fazia, por assim dizer, senão cumprir
um dever; do outro lado, havia ato de caridade. A ofendida tinha mais direito e mérito para
pedir graça; seu perdão deveria, pois, tranqüilizar muito mais o Espírito. Ora, sabe-se que o
principal efeito da prece é agir sobre o moral do Espírito, seja para acalmá-lo, seja para
conduzi-lo ao bem; conduzindo-o ao bem apressa a clemência do Juiz supremo, que sempre
perdoa ao pecador arrependido.
A justiça humana, toda imperfeita que ela é em comparação com a justiça divina, nos
oferece freqüentes exemplos semelhantes. Que um homem seja levado ante os tribunais
por uma ofensa contra alguém, ninguém não agradará mais em seu favor, e não obterá
mais facilmente a sua graça do que o próprio ofendido vindo generosamente retirar a sua
queixa.
Esta comunicação, tendo sido lida na Sociedade de Paris, deu lugar à seguinte pergunta,
proposta por um de seus membros:"Os Espíritos reclamam sem cessar as preces dos mortais; é que os bons Espíritos não oram também pelos Espíritos sofredores, e nesse caso porque as dos homens são mais eficazes?"
A resposta seguinte foi dada na mesma sessão, por Santo Agostinho; médium, Sr. E. Vézy:
Orai sempre, filhos; já vos disse: a prece é um orvalho benfazejo que deve tornar menos
árida a terra seca. Venho vo-lo repetir ainda, e acrescento-lhe algumas palavras em
resposta à pergunta que dirigis. Por que, pois, dizeis, os Espíritos sofredores vos pedem
preces de preferência a nós? As preces dos mortais são mais eficazes do que as dos bons
Espíritos? - Quem vos disse que nossas preces não tinham a virtude de espalhar a
consolação e dar força aos Espíritos fracos que não podem ir a Deus senão com dificuldade
e, freqüentemente, com desencorajamento? Se imploram vossas preces, é que têm o
mérito das emanações terrestres subindo voluntariamente a Deus, e que, aqueles, gostam
sempre delas, vindo de vossa caridade e de vosso amor.
Para vós, orar, é abnegação; para nós, é dever. O encarnado que ora por seu próximo
cumpre a nobre tarefa dos puros Espíritos; sem ter sua coragem e força, realiza suas
maravilhas. É o próprio de nossa vida, cabe a nós, consolar o Espírito em dificuldade e
sofredor; mas uma de vossas preces, de vós, é o colar que tirais de vosso pescoço para dar
ao indigente; é o pão que retirais de vossa mesa para dá-lo a quem tem fome, e eis porque
vossas preces são agradáveis àqueles que as ouvem. Um pai não aquiesce sempre à prece
do filho pródigo? Não chama todos os seus servidores para matar o vitelo gordo ao redor do
filho culpado? Quanto não faria mais ainda por aquele mesmo que viesse aos seus joelhos
dizer-lhe: "Ó meu pai, sou muito culpado; não vos peço graça, mas perdoai ao meu irmão
arrependido, mais fraco e menos culpado do que eu!" Oh! é então que o pai se enternece; é
então que ele arranca de seu peito tudo o que pode conter de dons e de amor. Ele diz: "Tu
eras cheio de iniqüidades, te disseste criminoso; mas, compreendendo a enormidade de
tuas faltas, não me pediste graça para ti; aceitas o sofrimento de meu castigo, e malgrado
tuas torturas, tua voz tem bastante força para pedir por teu irmão!" Pois bem! o pai não
quer menos caridade do que o filho: ele perdoa a ambos; a um e ao outro estenderá as
mãos para que possam caminhar direito no caminho que conduz à sua glória.
Eis, meus filhos, porque os Espíritos sofredores que vagam ao vosso redor imploram as
vossas preces; nós devemos orar, nós; vós podeis orar. Prece do coração, tu és a alma das
almas, se posso me exprimir assim; quintessência sublime que sobe sempre casta, bela e
radiosa na alma mais vasta de Deus!

SANTO AGOSTINHO.

Um comentário:

JUREMA disse...

Ainda não se encontrou no mundo das fórmulas um antìdoto tão precioso ,quanto ao da prece para aqueles que já não mais possuem a veste carnal é por onde o espírito busca refúgio e os entes queridos permanentes por maior tempo no plano físico usam como refrigério da alma.Abraços