26 agosto 2009

CASTIGO DE UM AVARENTO

Revista Espírita, agosto de 1862

François Riquier, homem muito vulgar, era um velho avaro e velho solteirão, morto em C...,
há quatro ou cinco anos, deixando uma fortuna bastante considerável aos seus colaterais.
Fora o senhorio de uma de nossas amigas, senhora F... Esta senhora o havia esquecido
totalmente, quando recentemente sua filha, que é sujeita a crises de catalepsia seguidas de
um sono magnético espontâneo, viu, nesse sonho, o senhor Riquier que, disse ela, queria
se dirigir à sua mãe. Depois de alguns dias, a filha da senhora F..., que além disso é boa
médium escrevente, tendo tomado o lápis, obteve a comunicação seguinte, após a qual
Riquier colocou seu nome e seu endereço com o número. A senhora F..., que não conhecia
esse número, apressou-se em ir verificá-lo e ficou muito surpresa ao ver que a indicação
era perfeitamente exata. Eis esta comunicação, que é um novo exemplo das penas
reservadas aos Espíritos culpados. Como tinha se manifestado espontaneamente e
testemunhado o desejo de falar à senhora F..., dirigiu-lhe esta pergunta: "Que quereis de
nós? - R. Meu dinheiro que mo tomaram, os miseráveis, para partilhá-lo. Venderam minhas
fazendas, minhas casas, tudo, para o partilharem. Dilapidaram meu bem, como se não
fosse meu. Fazei-me fazer justiça, porque, eu, não me escutam, e não quero ver tais
infâmias. Dizem que eu era usurário, e guardam meu dinheiro! Por que não mo querem
devolver, uma vez que acham que é mal adquirido?"P. Mas estais morto, meu bom homem; não tendes mais necessidade de dinheiro. Pedi aDeus ter uma nova existência pobre para expiar a avareza desta. - R. Não, eu não poderiaviver pobre. É preciso meu dinheiro para me fazer viver. Aliás, não tenho necessidade deuma outra vida, uma vez que vivo a presente."P. (A pergunta seguinte foi feita com o objetivo de levá-lo à sua realidade.) - Sofreis? - R.Oh! sim, sofro torturas piores do que a doença mais cruel, porque é minha alma que suporta essas torturas. Tenho sempre presente em meu pensamento a iniqüidade de minha vida, que foi um motivo de escândalo para muitos. Sei bem que sou um miserável indigno de piedade; mas sofro tanto que é preciso me ajudar a sair deste miserável estado."P. Oraremos por vós. - R. Obrigado! Orai para que eu esqueça minhas riquezas terrestres,sem isso não poderia jamais me arrepender. Adeus e obrigado."FRANÇOIS RIQUIER,"Rua da Caridade, n044."

NOTA- Este exemplo e muitos outros análogos provam que o Espírito pode conservar,
durante vários anos, a idéia de que pertence ainda ao mundo corpóreo. Essa ilusão não é,
pois, exclusivamente a própria dos casos de morte violenta; parece ser a conseqüência da
materialidade da vida terrestre, e a persistência do sentimento dessa materialidade, que
não pode ser satisfeita, é um suplício para o Espírito. Além disso, aí encontramos a prova
de que o Espírito é um ser semelhante ao ser corpóreo, embora fluídico, porque, para crer
que ainda está neste mundo, que continua ou crê continuar, poder-se-ia dizer, a ocupar-se
de seus negócios, é preciso que ele se veja uma forma, um corpo, em uma palavra, como
de sua vida. Se não restasse dele senão um sopro, um vapor, uma centelha, não poderia se
equivocar sobre a sua situação. É assim que o estudo dos Espíritos, mesmo vulgares, vem
nos esclarecer sobre o estado real do mundo invisível, e confirmar as mais importantes
verdades.

Um comentário:

JUREMA disse...

Encontramos numerosos depoimentos de espiritos em desencarnes recentes ,acreditando ainda se encontrarem em corpo presente.
Por isso a necessidade de trabalharmos cada vez mais o desapego material e a plena convivção da vida depois desta vida.
obrigada pelo texto.