09 junho 2009

ENTREVISTA COM O MÉDIUM E EXPOSITOR ESPÍRITA JOSÉ MEDRADO

O baiano José Medrado é um dos mais conhecidos e carismáticos expositores espíritas da atualidade. Médium, escritor, apresentador de programas de TV, Medrado possui uma maneira contagiante de transmitir a mensagem espírita, sempre com muita alegria e entusiasmo.
Nos dias 07 e 08 de maio de 2005, Medrado esteve em Fortaleza para ministrar o seminário A Arte de Ser Feliz, nesta ocasião a equipe da Terra Espiritual teve oportunidade de entrevistá-lo e abaixo reproduzimos o teor da conversa.

TE – Como o senhor descobriu a Doutrina Espírita?

JM – Eu descobri a Doutrina Espírita aos 15 anos. Na época eu era aluno do colégio da Polícia Militar lá em Salvador e já sentia, digamos assim, a ação da mediunidade e não entendia. Um professor meu de português, certa vez falava com um outro colega meu sobre sintomas da mediunidade e aí eu fui vendo que tudo o que ele dizia era o que eu tinha, então, ali mesmo, ele disse que iria me levar a um centro e eu fui, e já comecei a trabalhar mediunicamente aos 15 anos e com 17 anos eu, esse professor e um grupo de amigos fundamos o centro que eu estou dirigindo até hoje.

TE – Quais os desafios e oportunidades que a mediunidade trouxe par ao senhor?

JM – Eu vejo a mediunidade com bastante naturalidade. Não acho que o médium seja melhor do que ninguém ou que tenha uma missão por desenvolver. Eu acho que é uma tarefa que pode se diferenciar das demais, mesmo com aquela concepção kardequiana de que todos somos médiuns, mas há aqueles que se diferenciam pela peculiaridade da tarefa que tem a desenvolver e, naturalmente, tem me dado muitas alegrias o trato com a mediunidade e a convivência com os espíritos, inclusive aqueles menos esclarecidos, porque nós temos a oportunidade de fazer florescer a esperança naqueles corações que ainda não conseguiram vislumbrar a luz.

TE – Qual a reação de sua família quando o senhor abraçou o Espiritismo?

JM - Minha família é muito católica. Meu pai era carregador de andor, era da irmandade da Conceição da Praia que é a irmandade católica mais antiga do Brasil, então eu sofri um revés muito grande no primeiro momento. Já minha mãe não, minha mãe sempre me apoiou. Mas com o passar do tempo meu nome foi se tornando conhecido e hoje meu pai, meus irmão vão ao centro. Hoje falam de mim com muito orgulho. Meu pai me criou muitas dificuldades, mas hoje quando alguém pergunta ele diz: “não, eu sempre apoiei, sempre apoiei porque sabia que este era o caminho dele.” (risos).

TE – O senhor tem uma agenda muito cheia. Como o senhor lida com a grande disponibilidade de tempo que tem que dedicar aos outros? Isto não pesa, não causa transtornos?

JM – Olha, é verdade, causa. Eu não gosto daquelas opiniões santificadoras, superiores. Eu sou um espírito muito comum. Eu tenho as mesmas qualidades e defeitos que 99% da população do mundo possui. Por exemplo, eu não gosto de viajar. Gosto de estar nos lugares, mas o trajeto em si me cansa.

Eu moro numa casa, eu gosto de cuidar do meu jardim. Eu tenho 4 cachorros, então para mim, ficar afastado deste meu ambiente domestico é um pouco custoso sim, mas eu gosto. Gosto de estar entre amigos, gosto de fazer novos amigos, então eu você se acostuma com o processo e você sente que tem alguma coisa para oferecer. Eu, particularmente, que tenho este trabalho diferenciado dentro do movimento porque trabalho muito a alegria, trabalho muito estar de bem, naquele sentido das pessoas se soltarem. Uso muito a música, então eu termino me integrando aquilo que eu peço que as pessoas façam eu faço também, então me dá um bem-estar muito grande e isto termina compensando este aparente transtorno das viagens.

TE – O senhor veio a Fortaleza para ministrar um seminário sobre felicidade. Por que as pessoas têm tanta dificuldade para sentir felicidade?

JM – É como eu tenho dito aqui: “ É porque as pessoas têm conceitos equivocados, ou melhor, elas não dão atenção ao seus próprios conceitos de felicidade e elegem modelos e referências que, muitas vezes, são referências falsas de felicidade.” As pessoas elegem alguém e esse alguém pode passar marca de felicidade mas, ali por dentro, pode estar uma alma em conflito, uma alma em desespero. Então, as pessoas precisam entender que a felicidade está circunstanciada às suas necessidades. Toda vez que nós satisfazemos uma necessidade nesta luta humana por se buscar felicidade, estamos criando oportunidade de alegria, oportunidade de bem-estar. A felicidade vai ser sempre isto: momentos. E nós sabemos, pela Doutrina Espírita, que não existe a felicidade plena, mas nos podemos usufruir e aproveitar bastante desta felicidade relativa que nos encanta. Eu falei há pouco de estar em casa, cuidando de plantas. Eu adoro mexer em jardins. Eu adoro ficar rolando na grama de minha casa com meus cachorros, eu tenho 4 cachorros. Quer dizer, são momentos de felicidade. Quando estou com meu público também, quando estou fazendo o meu público sorrir, cantar, são momentos de felicidade. Mas eu sei que ao lado disso vou ter que enfrentar resistências de militantes mais ortodoxos, conservadores, que não compreendem esta minha forma de pregação e é isso que eu procuro anular, neutralizar dentro de mim, porque senão me deixaria infeliz. A felicidade é em síntese: saber o que você está necessitando. Ir em busca desta satisfação Lícita (ênfase) e, ao mesmo tempo, neutralizar aquilo que por ventura possa trazer no seu bojo alguma forma de infelicidade ao seu coração.

TE – Como é que este sentimento de felicidade contribui com a saúde e com a transformação do homem para melhor?

JM – Ah, Mas muito! Você sabe, foi realizada uma pesquisa em Nova Iorque, pelo Dr. John Thompsom, onde se comprovou que 10 minutos de sorriso diários levam as pessoas a ter um sistema imunológico mais forte. Foi feita também uma pesquisa na universidade da Virginia, com o sistema límbico profundo, onde se colocaram 10 mulheres para mentalizarem uma coisa alegre, uma passagem alegre de suas vidas, uma triste e uma neutra e se verificou que o sistema límbico profundo esfriava quando da passagem alegre gerando mais endorfina no cérebro que é o hormônio do prazer, como a dopamina também e a serotonina. Quando elas vibravam com a coisa triste, aqueciam esse sistema límbico, que é uma espécie de noz que temos no centro do cérebro, e queimava o que tinha ali armazenado de endorfina, dopamina e serotonina. E quando o pensamento era neutro não mexia nada, quer dizer; comprovou-se efetivamente que a movimentação da alegria pelo corpo gera um bem-estar e uma saúde mais apurada, sem sombra de dúvidas.

TE – Como deve ser a relação entre a razão e a emoção?

JM – Deve ser uma relação de equilíbrio. Normalmente as pessoas infelizes, elas se incomodam com a felicidade das outras. Normalmente as pessoas tristes, elas se sentem agredidas com a alegria das outras. Isso é um fato, você vai ver isso no dia-a-dia da sua casa.então nós precisamos é exatamente aprender a pautar as nossas emoções com razão e a nossa razão com doses de emoção, porque só assim nós conseguiremos realmente viver uma vida, aproveitando os seus momentos de satisfação, de prazer, tirando lições daqueles momentos de dor e aflição e seguindo intimoratamente na direção das nossas propostas evoutivas. Eu acho que é o equilíbrio o grande desafio, que é muito complicado, mas nada que não seja perfeitamente plausível.

TE – O que a Doutrina Espírita trouxe para sua vida?

JM – A Doutrina Espírita trouxe entendimento, trouxe alegria, trouxe felicidade. Tudo dentro do processo relativo. Nem sempre estar no movimento espírita é prazeroso, nem sempre estar no movimento espírita implica em felicidade em razão exatamente das almas em conflito que a gente tem que encontrar ao longo da nossa caminhada. Mas eu acho que tudo isso faz parte desse processo desafiador de nós sempre sermos mais e mais felizes, porque sabemos que o movimento é feito pelos homens e a Doutrina não, ela está ali, perfeita, pura. Então quando eu uso o sorriso, quando eu uso a música, eu não vejo em nenhuma das obras de Allan Kardec nenhuma citação negativa a esses princípios, então a gente consegue compreender que as pessoas que não entendem ou buscam outros caminhos estão vivendo também os seus processos de entendimento pessoal. A Doutrina trouxe isso. Trouxe-me como boa nova, trouxe-me em especial a esperança de estar sempre, a cada dia, melhor.

TE – Quais são seus projetos para o futuro?

JM – Eu sou de uma índole muito irrequieta, eu sempre estou querendo inovar, eu sempre estou querendo empreender. A Cidade da Luz,a instituição que engloba alguns departamentos, nós temos 4 prédios na Cidade da Luz mais um prédio fora e nós sempre estamos criando. Eu estou pensando agora em ver um centro de cultura, colocar um centro de cultura que resgate a tradição do nosso povo, do povo lá da Bahia. Então sempre estou vislumbrando o movimentar, o gerar realmente dinamismo para que as pessoas se sintam motivadas. Eu acho que nós estamos necessitando permanentemente de motivação, porque o marasmo termina criando poeira, dá bolor, ma mofo. Eu acho que a gente tem que estar sempre se movimentando para continuar vivendo bem.

TE – O que foi que transformou uma idéia, um sonho, nesta realidade concreta que é a Cidade da Luz?Foi o otimismo?

JM - Muito pelo contrário, interessante esta pergunta, muito pelo contrário. Foi a miséria que eu passei na minha infância. Eu tive uma infância onde passei fome, tive muitas dificuldades. Minha mãe era pernambucana, órfã. Casou em Belo Horizonte e foi para a Bahia. Meu pai se afastou um pouco da família, constituiu outra família fora. Passamos muitas dificuldades sem médico, os médicos que tínhamos era do antigo INPS que hoje é o SUS, então eu sofri muito por conta disso, minha mãe também. Morávamos numa região de prostituição lá na Ladeira da Preguiça em Salvador, perto da Conceição da Praia. Isso tudo foi gerando em mim uma vontade de ajudar mais as pessoas para que elas não passassem pelo que passei, crianças não sentissem a fome que senti. Isso que foi, em verdade, o meu mote para ajudar a construção da Cidade da Luz e no ano de 2004 a Cidade da Luz realizou mais de 150.000 atendimentos sociais. Isto para mim foi uma conquista muito grande e com muita alegria.

TE – Pediríamos que o senhor deixasse sua mensagem final aos nossos leitores.

JM – Eu penso o seguinte: Eu acho que está na hora, ou talvez já tenha passado da hora de nós nos concentrarmos nos nossos objetivos de felicidade nesta vida. Sei que a vida é difícil, a vida é dolorosa, há momentos em que choramos, mas precisamos nos concentrar nos momento em que sorrimos, nos momentos de alegria para fazermos com que o fardo se torne um pouco mais leve. Além do mais, confiar que “Se o Senhor é meu pastor nada me faltará”, nunca (ênfase). É essa confiança que anima a alma a ter mais força para vencer os desafios.
TE – Obrigado.

Um comentário:

José Medrado disse...

Poxa, legar ver por aqui esta entrevista, só não lembrava vocês me chamando de senhor. Cá prá nós hehehhe. Abraços a todos, José Medrado