08 junho 2009

ENTREVISTA COM CARLOS DE BRITO IMBASSAHY

Escritor e conferencista espírita, bacharel em ciências exatas, engenheiro civil, filósofo, instrumentista (musical), jornalista e professor de física aposentado, colaborador e articulista de vários veículos de divulgação espírita, inclusive da Terra Espiritual, o carioca, de Niterói, Carlos de Brito Imbassahy é um dos mais destacados membros do movimento espírita. Trabalhador incansável é um dos grandes incentivadores do estudo dentro do movimento espírita.

A Terra Espiritual convidou o professor Imbassahy para conceder uma entrevista, com a qual ele gentilmente concordou e cujo conteúdo reproduzimos abaixo:



TE - O senhor tendo nascido em berço espírita, teve contato muito cedo com a Doutrina, numa época em que ela ainda era muito perseguida. Como foi o seu início no Espiritismo?

CBI - Praticamente, sentia-me muito à vontade e nunca percebi que seria diferente. O Espiritismo sempre representou algo familiar, tal como aprender a falar, a andar, a ler e tudo mais.

TE - Como o senhor avalia a evolução do movimento espírita daquela época até os dias de hoje?

CBI - Tem acontecido de tudo. No meu tempo havia mais seriedade; impostores que se fizessem passar por médiuns, não eram execrados, mas banidos do meio. Esta orgia que existe atualmente não encontrava guarida. Além disso, era uma elite (no sentido de estudo) que primava por Kardec e conhecia a doutrina. Hoje, o que tem de mensagem mediúnica (falsa?) completamente contrária ao Espiritismo, é uma grandeza.

TE - Por que o Espiritismo não consegue crescer muito no Brasil e principalmente em outros países?

CBI - Exatamente porque é uma doutrina que exige estudo (quase ninguém quer estudar), critério (o que mais falta atualmente) e perseverança nos trabalhos. Hoje todos querem, apenas receber as glórias do nada que fazem, na esperança de que o Cristo faça por eles.

TE - O senhor, tanto pela sua formação, como pelo seu trabalho científico, deve conviver com muitos cientistas não espíritas. O que falta, para que a ciência tradicional aceite os postulados científicos do Espiritismo?

CBI - Falta, apenas, que os Espíritas deixem esse evangelismo de lado, que está invadindo nossas fileiras, para estudarem, de fato, a codificação em suas linhas, a fim de que os cientistas possam dar crédito a nós. Caso contrário, o Espiritismo será visto como sendo mais uma igreja cristã.

TE - A ciência convencional já atingiu o estágio de, realmente, acrescentar novos conhecimentos ao Espiritismo?

CBI - Pelo contrário: o Espiritismo é que poderá dar largas contribuições à Ciência, com seus esclarecimentos, já que os pesquisadores do LEP admitem que exista o mundo material que é o Universo e um domínio de existência dos agentes estruturadores. Estão a um passo da aceitação tácita da existência da Espiritualidade, mas os fantasistas, os falsos médiuns a pintar uma Espiritualidade à moda da casa e outros absurdos fazem com que os cientistas não nos levem a sério.

TE - Para que se possa ter uma boa compreensão de kardec é necessário muito estudo. Num país onde muitos não têm acesso a livros e à leitura, não pode isso prejudicar a propagação do Espiritismo?

CBI - É, o que, de fato, está acontecendo. Além disso, a liderança do nosso movimento não é fiel a Kardec, pregando falsa doutrina.

TE - Como difundir os princípios espíritas com fidelidade num país tão extenso e com tantas diferenças?

CBI - Seria a coisa mais fácil do mundo se não houvesse interferência dos "espiritólicos" que continuam com sua mentalidade voltada para os princípios da Igreja, Porque, então, os que, de fato quisessem estudar a doutrina teriam onde se apoiar. É preferível uma turma de escol do que esta massa de fanáticos que invadem as igrejas. Cada qual virá a seu tempo.

TE - Para alguém que está iniciando o estudo das obras de Kardec, o senhor recomendaria alguma seqüência de leitura dos livros?

CBI - Eu seguiria o que o próprio Kardec recomenda, no item 5, cap. III, do Livro dos Médiuns: 1 - Começar pelo livro "O Que é o Espiritismo"; 2 - O Livro dos Espíritos; 3 - O Livro dos Médiuns; 4 - Coletânea de artigos selecionados pelo próprio Kardec extraídos da Revista Espírita. Depois que tiver amplo domínio destas quatro obras, ler as demais em qualquer ordem, antes de se preocupar com mensagens mediúnicas de qualquer natureza.

TE - Além dos livros de kardec, que outras obras e/ou autores o senhor recomendaria?

CBI - De um modo geral, devemos ler de tudo, a fim de termos nossos próprios julgamentos, porém, seria sempre prudente comparar cada obra com o que Kardec diz, porque tem muita coisa e muita mensagem dita mediúnica que contraria a Codificação. Kardec é suficiente para se conhecer a doutrina. O resto é complementar.

TE - O que o Espiritismo trouxe para sua vida?

CBI - Estudo, estudo, estudo.

TE - O senhor é um dos mais atuantes divulgadores da Doutrina Espírita. Quais são os meios de divulgação que o senhor considera mais eficientes? E o que o senhor diria à alguém que deseja seguir seu exemplo?

CBI - Eu exerci o magistério durante 40 anos, por isso, a exposição, para mim, é a forma mais precisa de se transmitir algo. Quer pelo rádio, pela TV, pela Internet ou em platéias ao vivo, principalmente. Hoje pouco se lê. Não aconselho ninguém a seguir meu exemplo, porque vivi em outra época. Tudo está diferente. Fui jornalista no tempo em que sentávamos na mesa de redação, abríamos o tampo e surgia uma Remington para datilografarmos nossos textos. Hoje, não há mais nenhuma editora que aceite material datilografado: ou é em disquete, ou pela Internet.

TE - Que outras atividades (dentro e fora do movimento espírita) o senhor desenvolve atualmente?

CBI - Cuido da família. Já são dezoito netos. Faço o que posso para que todos os meus sigam o bom caminho. Não tenho condições de ir além. Atuo no Paltalk, Group Wellcome Brazil, sala filosofia espírita, expondo, às sextas-feiras, um tema sobre fenômenos paranormais e aos domingos, apresento os estudos correlatos com "A Gênese" de kardec.

TE - Quais são seus projetos para o futuro?

CBI - Já cheguei no futuro. Com 72 anos, resta-me aguardar a volta para casa, isto é, a Espiritualidade.

TE - Como o senhor vê o futuro do Espiritismo?

CBI - Meu pai*, recentemente, veio me dizer que eu não me preocupasse com o destino que essa turma estava dando ao Espiritismo porque não era esta a minha tarefa. Para isso, havia uma plêiade de Espíritos responsáveis pelo Espiritismo e que, no momento oportuno, agiriam para colocar as coisas no lugar. Baseado nesta informação, o que prevejo é que, no momento certo, o Espiritismo vai surgir com suas verdadeiras posturas, para que os que, de fato, queiram seguir nossa doutrina, tenham seus portais abertos.

TE - Gostaríamos que o senhor deixasse sua mensagem final aos leitores da Terra Espiritual.

CBI - O que cabe dizer, sem medo de errar, é repetir, aqui, aquele lema: "A cada um segundo seus méritos". Por isso, o que se pode afirmar é que devemos sempre estar atentos aos nossos deveres, quer familiares, quer com a doutrina e até mesmo com a sociedade. Não nos deixarmos levar pelo fanatismo, muito menos pela fascinação de falsas glórias, a fim de que não sejamos desmascarados mais tarde. E, finalmente, que nada acontece em vão: o determinismo é o grande corretor do nosso livre arbítrio.



TE - Obrigado




* Dr. Carlos Imbassahy (1884 – 1969), advogado, jornalista, orador espírita, incentivador junto de Leopoldo Machado do Teatro Espírita, foi redator da revista O Reformar, publicada pela FEB, e um dos mais importantes defensores e divulgadores do Espiritismo.

2 comentários:

O Profeta disse...

Mil caminhos
Esta viagem sem velas nem vento
Este barco na bolina das ondas
Esta chuva miúda transborda sentimento

Amarras prendem o gesto
Arrocham um coração que bate incerto
Uma gaivota retoca as penas com espuma
Levanta voo em rumo concreto

Partilha comigo “100 Anos de Ilusão”


Mágico beijo

Carlos Ossola disse...

OHá obras importantíssimas que complementam a codificação e seria andar pra trás apenas nos apegarmos fanaticamente a Kardec, como os evangélicos se apegam à Bíblia. Kardec ouvia espíritos limitados, com conhecimentos circunscritos à mentalidade da época. Não faremos mal algum em questionarmos o que for questionável na Obra codificada por Kardec, tendo em mente que muitas infantilidades, preconceitos e informações desatualizadas são o que podem motivar as críticas dos modernos cientistas. Será que me fiz entender?