07 setembro 2009

O CIÚME

Numa perspectiva mais ampla, que remonta há aproximadamente vinte e quatro séculos atrás, Aristóteles definia o ciúme como o desejo de ter o que outra pessoa possui, isto é, originariamente ele era concebido como uma qualidade boa e se referia ao desejo de imitar uma nobre atitude característica de uma outra pessoa. Nesta acepção, o filósofo pensava o ciúme em termos de uma nobre inveja.
Mais tarde, encontramos nas referências bíblicas ilustrações que denotavam como o ciúme já tinha sido concebido como algo belicoso à boa vivência do amor. Salomão, em seu livro “Cântico dos Cânticos”, acreditava que o amor era forte como a morte e o ciúme, concebido enquanto uma paixão, era cruel como um túmulo.
Treze séculos depois, o autor de epigramas, escritor clássico e moralista francês François de la Rochefoucauld reconhecia no ciúme uma tendência egocêntrica ao dizer: há no ciúme mais amor-próprio do que amor. Este autor ainda identificava o amor como substrato para a gênese do ciúme: O ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele. Rochefoucauld ainda associa o ciúme às grandes mazelas humanas, em suma, para ele, o maior de todos os males.
No século XIX, na Alemanha, o ciúme, era concebido por Freud como um estado emocional. Segundo Freud , “O ciúme é um daqueles estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais” . No texto alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e no homossexualismo, o autor faz uma distinção entre três tipos de ciúmes, o competitivo ou normal, o projetado e o delirante. Então, Freud , escreveu sobre a projeção do ciúme: O ciúme da segunda camada, o ciúme projetado, deriva-se, tanto nos homens quanto nas mulheres, de sua própria infidelidade concreta na vida real ou de impulsos no sentido dela que sucumbiram à repressão. É fato da experiência cotidiana que a fidelidade, especialmente aquele seu grau exigido pelo matrimônio, só se mantém em face de tentações contínuas. Qualquer pessoa que negue essas tentações em si própria sentirá, não obstante, sua pressão tão fortemente que ficará contente em utilizar um mecanismo inconsciente para mitigar sua situação. Pode obter esse alívio - e, na verdade, a absolvição de sua consciência - se projetar seus próprios impulsos à infidelidade no companheiro a quem deve fidelidade. Assim, para este autor, o ciúme poderia estar associado, no próprio ciumento, com as suas próprias traições. Destarte, para Freud é o desejo e a possibilidade virtual de trair o parceiro que engendra em cada parceiro o próprio ciúme. Em Paris, para Stendhal , o ciúme tinha uma conotação negativa e estava atrelado à vaidade quando dizia que o que tornava a dor do ciúme tão aguda era a vaidade que não contribuía para nos ajudar a suportá-la. Observa-se, na literatura científica, que estudos sistemáticos sobre o ciúme aumentaram significativamente a partir de 1977, quando da realização de reuniões anuais científicas que o incluíam como tema de estudo. Isto aconteceu, em especial nos eventos da Midwestern Psychological Association e da American Psychological Association. Atualmente este é uma das temáticas que mais cativa os pesquisadores em todo o mundo . Tanto o amor como o ciúme, possuem uma extensa variedade de formas e explicações, sob diversos prismas. Focalizaremos algumas delas de acordo com os objetivos desta pesquisa. Atualmente, alguns teóricos consideram o ciúme como sendo um sentimento , outros como uma emoção negativa , ou ainda, uma emoção aversiva . Há os que o concebem como um complexo de pensamentos, emoções e ações . Para alguns autores, existem vários tipos de ciúme , diversos graus de ciúme , manifestações de ciúme distintas para homens e mulheres e mais de um tipo de ciúme em relação a uma mesma pessoa amada . As pessoas também podem ficar mais ciumentas durante períodos de fracasso ou perda . E ainda, podem-se ter ciúmes de objetos, coisas, animais e pessoas, em diferentes intensidades e com relação ao mesmo objeto valorizado de múltiplas maneiras .
Os resultados das pesquisas acerca do ciúme não evidenciam claramente que haja diferenças entre homens e mulheres , e há pouco consenso entre os autores, que evidenciam que a mulher, freqüentemente, apresenta mais intensamente ciúme em comparação ao homem. Todavia Buss nos sugere que homens e mulheres são igualmente ciumentos, mas os eventos desencadeadores de ciúme para cada um é que são diferentes: os homens ancestrais tinham um custo elevado com a paternidade, isso porque caso houvesse infidelidade por parte da mulher, eles se arriscariam a desperdiçar tempo, energia e outros investimentos enquanto a cortejaram. Também teriam perdido oportunidades com outras mulheres enquanto se dedicavam a apenas uma, além do esforço materno que teria sido desviado para a prole de um rival, e, principalmente, se arriscariam a dedicar cuidados paternos a essa prole, julgando erroneamente ser sua. E se o homem ancestral fazia um grande investimento ao aderir a um relacionamento amoroso, a mulher fazia um investimento ainda maior com a maternidade, uma vez que cada gravidez durava nove meses. Além disso, se arriscar a perder o investimento ou uma parte do investimento do parceiro que desviasse seus “recursos” à outra mulher (com quem ele tivesse um caso). Isto poderia ser extremamente danoso, pois esse desvio ocorreria à custa da sobrevivência dela e de seus filhos. Isso era muito mais grave, se forem consideradas as épocas ancestrais de frio, estiagem, escassez de alimentos, onde as possibilidades de sobrevivência eram baixas. Para a mulher o indicador mais confiável do desvio de investimento não seria o homem ter sexo com outra mulher, mas ele ter envolvimento emocional com ela. O envolvimento emocional poderia servir para avaliar a qualidade do compromisso. Para as mulheres a posse dos seus homens é ameaçada por rivais que corporificam o que os homens querem. Ainda, ao se discorrer sobre a temática do ciúme é necessário lembrar que para alguns teóricos, como DeSteno & Salovey e Harris & Christenfeld, pelo menos na cultura ocidental, a infidelidade sexual tem diferentes conotações para homens e mulheres. Como o amor geralmente é um pré-requisito para o envolvimento de uma mulher em um relacionamento sexual, isto faz com que se imagine que a infidelidade sexual feminina esteja associada com o envolvimento emocional com outro parceiro . Todavia, consoante Sheets e Wolfe , a infidelidade masculina não tem tal implicação porque os homens têm mais condições de praticar sexo sem amor.
De todas as características que são pesquisadas no que diz respeito à infidelidade, o gênero parece ser o mais consistente dos fatores que predizem: os homens como os que traem mais . E mesmo entre homens que têm casos, em relação às mulheres que também os têm, os homens as superam em termos de quantidade .

3 comentários:

Unknown disse...

O ciume realmente é um sentimento que na minha modesta opinião está ligado muito à mesquinhês e também à falta de confiança. Quanto à traição, acho que acontece é claro muitas vezes por que o relacionamento está encerrado ou está se tentando agarrar a todo tipo de amarras que qualquer relacionamento nos condiociona.
Mas um pouco dele pode até ser saudável.
Abraços.

Blog Espírita Celeiro de Luz disse...

Hum..não sei...penso se o ciúme tem algo haver com amor. Me parece mais falta de confiança, posse, insegurança. Algumas vezes se confunde o cuidado de quem ama, com ciúmes, na minha opinião sempre uma pedra de tropeço nas relaçoes.

Bjokas.

JUREMA disse...

Dizer a palavra decorada "OBRIGADA",é muito pouco pra lhe agradecer pelo material exposto ,já estou sintetizando e preparando para levar ao conhecimento do espirito entrevistador.
Voce aponta algumas diferenciações dos meus pequenos limites armazenados.
Acho que tenho agora uma definição mais exata para dar a conclusão ao meu trabalho espiritual.
Que Deus nosso pai ,continue a ILUMINAR os livros que tu venhas PESQUISAR ,para que eu possa continuar andando com esta tua lanterna sinalizadora , bem mais esclarecida.
Abraços