O PENSAMENTO CONTROVERTIDO DE ORÍGENES
Orígenes nasceu na cidade de Alexandria, em 185 e desencarnou em Cesarceia ou Tiro, no ano de 252, sob severas e perversas torturas patrocinadas pela Igreja.
De suas notáveis obras destacam-se: "Comentários" e as "Homilias sobre as Escrituras" (obra de crítica textual do Antigo Testamento, os "Hexaplos", obra apologética, o "Contra Celso", e uma crítica filosófica sobre os "Princípios".
Orígenes exerceu capital influência no cerne da Igreja primitiva, sendo considerado o mais importante pensador cristão de seu tempo. Apesar de seu prestígio, Orígenes levantou a ira de seus superiores, em função de seus lúcidos ensinamentos acerca da origem e destino da alma.
Afirmava que o relato bíblico da criação era, apenas, uma alegoria. Também dizia que não se pode aceitar, literalmente, tudo o que se encontra nos Evangelhos. Ensinava a preexistência da alma e a reencarnação. Para Orígenes, a reencarnação fazia parte de um sistema de salvação, baseada no esforço individual. Ele até perguntava: "Se as almas não existiam previamente, por que encontramos cegos de nascença que nunca pecaram, enquanto outros nascem sãos?".
Ele mesmo responde à sua pergunta: "É claro que alguns pecados foram cometidos, e, como resultado, cada alma recebe a recompensa de acordo com o seu mérito". Daí se conclui que o destino das pessoas é determinado por suas ações anteriores.
Ele indagava, ainda:
"O que tona as pessoas diferentes – por que uma nasce com boa saúde, gênio e talento e outra surda e ignorante?" No que ele próprio respondia – "seus destinos eram o resultado de seus méritos ou deméritos de alguma vida anterior" ("On First Principles").
As revolucionárias concepções desse Pai da Igreja causariam conturbadas polêmicas. Ele defendia, e verdade, a justiça divina argumentando que as ações de nossas vidas passadas – e não os caprichos de Deus – são a causa da nossa situação atual. Informa, a respeito, Elizabeth Clare Propet, que a Igreja tentou solucionar este dilema defendendo ao mesmo tempo a onipotência e a justiça divina, colocando-se na difícil situação em que até hoje se encontra. A partir daí, o homem passou a ser um súdito servil de um deus-imperador caprichoso.
A idéia de que o homem é responsável pelo seu destino, conduz-nos ao ponto fulcral do pensamento de Orígenes: o LIVRE ARBÍTRIO! Por esse motivo, Orígenes sentiu o látego injusto da prepotência e do arbítrio, de que se valiam os religiosos, para sufocar tudo aquilo que contrariava as suas posturas teológicas absurdas.
Eis o que ele escreveu em uma de suas obras:
"Deus ... fará a salvação de todas as suas criaturas ... ordenou todas estas coisas de tal forma que nenhum espírito ou alma ... possa ser forçado contra a liberdade de sua própria vontade a seguir uma direção diferente daquela a que a sua mente indica, o que lhes retiraria a faculdade do livre-arbítrio (e mudaria a qualidade de sua própria natureza)".
O Patriarca da Igreja, Jerônimo, informa, ainda, Elizabeth C. Propet, "não gostou nada do que Orígenes sugeria, pois seus conceitos viravam a escada do céu de pernas para o ar. Onde estaria a segurança, se os anjos poderiam tornar-se demônios e o demônio poderia tornar-se arcanjo? Jerônimo perturbava-se quando pensava que, segundo Orígenes, ‘teríamos o que temer, nós que agora somos homens, pois podemos depois nascer mulheres e, alguém que hoje é uma virgem, pode vir a ser uma mulher’.
Século depois de sua violenta desencarnação, o pensamento de Orígenes incomodava a Igreja, suscitando acirradas controvérsias. Finalmente, pretendendo livrar-se do constrangimento que provocava ao Clero num rasco de prepotência e medo, submeteu os escritos do notável exegeta a um auto-de-fé, queimando, às escondidas, os mais coerentes e talentosos livros já escritos, no seio da Igreja, sempre distanciada dos valores éticos e transcendentais da Lei de Deus!
CARLOS BERNARDO LOUREIRO
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