ENSAIOS ESPÍRITAS
Carlos Bernardo Loureiro
PORQUE VIVEMOS E PARA QUE VIVEMOS
A moral do Espiritismo, que é a criadora e dinâmica, gira em torno da Lei de Causa e Efeito, sem a qual toda atitude humana carecerá de verdadeiro fundamento. A causalidade responde ao porquê de todas as nossas ações apontando-nos veredas certas para o futuro. O homem consciente, o homem que sabe o que é, saberá, sem grandes esforços de raciocínio, sem maiores sortilégios, o que foi e o que será. A Lei de Causa e Efeito, assim, é a chave do destino humano, da moral humana, no seu sentido particular e coletivo, no seu desdobramento individual e social. Somos o que fomos, através da evolução; seremos o que somos, de acordo com o evolver da nossa personalidade. Passado, presente e futuro são frutos do nosso trabalho, das ações que o indivíduo desenvolver dentro de si mesmo e dentro da Sociedade, nessa lenta e sacrificial caminhada que empreendemos, em encarnações sucessivas.
O homem, portanto, analisando do ponto de vista filosófico, não é mais do que a soma das personalidades vividas adquiridas e realizadas em todas as peregrinações que empreendeu pela face amarga e dolorosa do Planeta. Todos nós sabemos que existem na Natureza leis imutáveis, leis divinas, sobre as quais a nossa vontade não tem conseguido influir: conhecemos, é verdade, a existência de uma lei universal, que faz com que todos os corpos caiam sempre na direção do centro da Terra. Existem, também, leis imutáveis que obrigam os planetas, astros e sistemas planetários a seguir uma rota prefixada, a qual não podem abandonar. Essas são as leis da harmonia universal, sem o que não haveria estabilidade e possibilidade de vida em qualquer plano Cosmo. Para a garantia do conjunto harmônico espiritual, também existe um princípio superior que se relaciona com a vida humana. Pra quem não ignora esse princípio, como nós espíritas, todos os nossos pensamentos, palavras e ações têm uma importância extraordinária, tanto nesta como em existências porvindouras. É graças ao poder divino desse princípio – que se consubstancia na Lei de causa e Efeito – que nosso pensamento medita nas expressões que pretende usar e nas atitudes que procura transformar em atos objetivos. As conseqüências que derivam desse pensamento, palavras e ações constituem o que se denomina de lei de Causalidade.
Para se explicar a vida, em todas as suas nuances, em todas as suas formas de integração e desintegração, de avanços e de recuos aparentes, de glórias e misérias, temos a necessidade de estabelecer um antecedente causal, porque sem causas que influam nas determinações da vontade humana – de acordo com o processo moral de cada indivíduo – nenhuma ação se poderá explicar, e a vida não teria a menor finalidade.
O porquê vivemos e para quê vivemos são expressões com caráter de incógnitas, que só a Doutrina Espírita tem o poder de resolver a aclarar.
A DIALÉTICA ESPÍRITA
Tudo quando existe, do átomo ao homem, segue uma trajetória que se perde no infinito, observada tanto no passado como no porvir. Essa trajetória, porém, tem uma linha progressiva ascendente. Isso quer dizer, de conformidade com a dialética espírita, que todas as coisas e seres estão em constante transformação, que não ocupam um determinado e prefixado lugar, que marcham para estados melhores, estados que conquistarão no tempo e no espaço. Basta observar-se as pronunciadas diferenças que a História registra, no que se refere às plantas, aos animais e aos homens para que se deduza rapidamente que as formas se vão sutilizando, perdendo a casca e a rudeza primitivas, idealizando-se e seguindo sempre para um fim superior que as orienta nesse processo formidável e eterno! Os Espíritos, encarnados ou não, marcham, também, para a conquista de planos cada vez melhores e, pela Lei Suprema, lutam constantemente para desenvolverem os germes divinos que aninham em sua essência imortal. Conclui-se, daí, que a lei de causa e efeito aplicada ao progresso, não é fatalista e nada tem que ver com "olho por olho, dente por dente", predicado no passado bíblico. É claro, é evidente que os seres trazem sua herança espiritual e que pesa sobre eles um determinismo. Mas, também, é certo que seres voltam para tomar formas, a fim de poderem conquistar novos planos, num batalhar tremendo contra a ignorância, contra a dor e contra todas as negações de misérias físicas e moral. Se as cadeias aqui estão atadas às ações e reações se compusessem de argolas exatamente iguais, constituídas de material grosseiro e rude, o processo de evolução de energia estimuladora e progressiva. Se tivéssemos que ser vítimas que fizemos em nosso passado é palingenésico, a Lei de Causalidade teria que criar novos verdugos para o nosso castigo. Esses verdugos, por sua vez, em futuro não muito remeto, teriam que ser vítimas de outros verdugo...e assim por todo sempre! Tal encadeamento, porém, não condiz com a lógica e, o que é mais grave, não se ajusta à lei do progresso. Não é absolutamente necessário que o ato do Espírito origine outro ato análogo, nem que cada situação social do passado exija condição oposta. É ridículo, absurdo e sem mais elementar raciocínio, pensar-se que os pobres de hoje são os ricos de ontem, que o ignorante é o sábio de outrora, que o feio antes foi belo e que o inválido fez abusivo emprego de sua força física. A evolução, ao contrário, faz com que cada ato repercuta especialmente no foro íntimo de cada criatura, na consciência do indivíduo, onde se escreve, indelevelmente, a Lei Divina. Quando o homem começa a compreender essa realidade através da dor, filha direta da ignorância, abre-se a seus passos dialeticamente, o caminho da sabedoria. E enquanto começa o despertar de sua consciência, compreende que aquilo que realizou e fez no passado, que tudo quanto serviu, para prejudicar seus semelhantes, pode-se transformar pelo Amor e pela Virtude; principia, assim, o seu peregrinar pelas estradas da libertação.
Constituir-se-á, então, o homem em paladino das causas nobres e justas; defende a cultura, estimula a vontade; trabalha e luta pelo melhoramento das condições de vida de seu próximo; repele os crimes; combate todas as formas de escravidão e edifica, dentro de si mesmo, uma personalidade criadora, ao lado de uma moral dinâmica. Seus pensamentos, destarte, despertaram para novas e cósmicas verdades!
A FORÇA DA RAZÃO
O célebre naturalista inglês Sir Alfred Russel Wallace (êmulo de Darwin), presidente da Sociedade Britânica de Antropologia, referindo-se aos fenômenos espíritas declarou: "Eu era um materialista tão completo e convicto que não podia haver no meu espírito lugar para existência espiritual e para qualquer outro agente universal, senão a matéria e força. Os fatos, porém, são coisas bem teimosas. A minha curiosidade foi, a princípio, despertada por alguns fenômenos ligeiros, mas inexplicáveis, que se produziam numa família de minhas relações, e o meu desejo de saber e o amor pela verdade forçaram-me a prosseguir nas investigações. Os fatos tornaram-se cada vez mais exatos e variados, e ao mesmo tempo distantes de tudo que a Ciência moderna ensina e de todas as especulações da filosofia atual. Os fatos venceram-me!" Mais tarde, Russel Wallace escreveria: "Le Moderne Spiritism" (edição francesa), livro onde inseriu parte considerável de suas notáveis pesquisas sobre os fenômenos provocados pelos Espíritos. O outro não menos famoso cientista que se dedicou, com acendrado amor às investigações espíritas, foi Sir William Crookes, descobridor do tálium eletroscópio, o fotômetro, o radiômetro e os raios catódios, que dariam origem aos Raios X, de Roetingen. Este cientista brilhante, sem preconceito, realizou por anos, meticulosas pesquisas no campo da fenomelogia mediúnica, obtendo resultados surpreendentes. Afirma ele no livro "Fatos Espíritas": "Os diversos fenômenos que venho atestar são extraordinários e completamente oposto aos mais enraizados pontos do credo científico – entre outros a universal e consagrada ação da força gravitacional". No discurso que o ilustre sábio fez em setembro de 1898 no Congresso da Associação Britânica para o Progresso da Ciência, enfrentando, com coragem própria das grandes almas, uma platéia de crentes e descrentes, reafirma: "trinta anos se passaram desde que publiquei as atas das experiências tendentes a mostrar que fora dos nossos conhecimentos científicos, existe uma força posta em atividade por uma inteligência diferente da inteligência comum a todos os mortais. Nada tenho de que me retratar em relação a essas experiências, quando materializam-se Espíritos à luz do dia, e mantenho as minhas verificações já publicadas, podendo a elas acrescentar novos fatos, decorrentes do aprofundamento de minhas investigações sobre a sobrevivência do Ser após a falência do corpo físico". Mais tarde, o descobridor do tálium declarava, categórico, numa entrevista concedida ao periódico inglês "Two World": "O espírito está cientificamente demonstrado". É deveras importante para a Doutrina Espírita o testemunho de William Crookes. Afinal de contas, o descobridor do quarto estado da matéria tem assegurado, nas páginas da História da Ciência, um lugar ao lado de Newton e do inesquecível Einstein. Modernamente, as postulações transcendentais de Crookes, baseadas na investigação criteriosa dos fatos, foram confirmadas por Berkeley, nestas palavras: "Nenhuma objeto existe fora do Espírito que o percebe. O mundo só se transforma em realidade visível e tangível porque preexiste em nós um ser imortal que reflete conscientemente dando-lhe objetividade".
Aos leitores destes arrazoados, recomendamos, como leitura suplementar, a obra "Provas Científicas da Sabedoria", de Frederic Zollner, professor de Física da Universidade de Leipzig. Este livro poderá ser encontrado na Livraria Bezerra de Menezes, Shopping São Bento, Rua Nova de São Bento, Nazaré.
POR QUE NÃO SE DISCUTIR OS MISTÉRIOS?
Há alguns anos, a pesquisadora Elsie Dubugras escreveu um interessante arquivo, divulgado na Revista O Assunto É..., da Editora Três, de São Paulo, sobre uma série de questionamentos ligados à religião. Ela inicia o referido artigo com esta indagação: "O que é salvação?". Durante muitos anos procurou o significado dessa palavra, tão freqüentemente usada pelos religiosos. E repete: "Que seria salvação?". E ela tenta responder com as seguintes perguntas: "Das doenças? Das dificuldades do dia-a-dia? Dos sofrimentos?"
Como não ficasse satisfeita com sua própria tentativa de encontrar a solução do "mistério", foi em busca da opinião daqueles que julgava capacitados a responder: os religiosos. Com variações na forma de dizer, mas com idêntico conteúdo, afirmavam-lhe "que seria o resgate das penas eternas causadas pelos pecados cometidos". Ela admitiu que a resposta chagara, em princípio ,a lhe causar certa impressão, todavia, ao submetê-la ao crivo de criteriosa e serena reflexão, percebeu o paradoxo, suscitando-lhe a seguinte indagação: "Por que Deus onipotente, onisciente, criador de todas as coisas teria criado seres humanos tão frágeis – seres que forçosamente errariam – e, ao mesmo tempo, criado um inferno onde lançaria por toda a eternidade, a não ser que fossem "salvos" de seus erros através de um esquema que Ele também criara?" Responderam-lhe, prontamente: "É preciso ter fé." E ela: "Mas, como se faz para ter fé? – "É uma graça que Deus concede". E insistiu a pesquisadora, com aquela inquietude própria dos que admitem Deus como a Inteligência suprema – como conseguir esta graça? – Finalizaram, taxativamente: Isto é um mistério". Se as respostas eram, até certo ponto prosaicas, a saída às perguntas da articulista, fora, realmente, inteligente... Justificava-se a explicitação: "Mistério não se discute. Não se deve procurar desvendá-los. E duvidar é pecado. Jamais ela conseguiu, nesse sentido, uma resposta satisfatória, coerente e justa."
"Ante essas dificuldades – declarou – acabei por penetrar no deserto da descrença; mergulhei num vácuo filosófico – religioso onde permaneci durante muito tempo, até que a curiosidade ou o impulso interno renasceu, e resolvi procurar a resposta a essas questões". Lia tudo que lhe caia nas mãos, entrando em contato com pessoas que professavam doutrinas não dogmáticas. Não tardou em vislumbrar uma pálida luz no fim do túnel. Aprendeu, nessa trajetória, e, que prevaleceu o bom senso, "que não é possível barganhar com o Todo Poderoso. Ele não aceita intermediários nem tolera, no seu relacionamento com indivíduos, expedientes tipi "solução brasileira", com o emprego do tão falado "jeitinho" ou "quebra galho". Outra coisa que aprendeu é que milagres não existem. O que chamamos milagres é simplesmente o fruto de certas leis que foram sabiamente acionadas. A "graça", de longe de ser um presente arbitrário que o Criador concede a alguns privilégios, é, na verdade, o produto da fé que nasce do conhecimento da razão. E o que parece ser uma "garça" é, por certo, um teste para o qual poucos estão me condições de responder. A verdadeira fé é essencialmente ativa e não absurdamente passiva. A pesquisadora Elsie Dubugras, nas suas últimas pesquisas, penetrou no terreno sempre fértil do Espiritismo. Não sei se ela percebeu...
A COSMOVISÃO ESPÍRITA
Qual a posição do homem no Universo? A de "simples pó", como proclamou o Eclesiaste? A de "medida de todas as coisas", como pretenderam os surfistas? A de um "deserto da Natureza", como afirmou Nietzche? A de "uma paixão inútil", como querem Sartre e os seguidores? Não. Para a Filosofia Espírita, posição do Homem no Universo decorre do próprio objetivo da encarnação, qual seja, o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. E para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as leis de Deus. É assim que, concorrendo para a sua obra geral, ele próprio se adianta (O Livro dos Espíritos) ou, por outras palavras, a posição do Homem no Universo é a de um autêntico co-criador em plano menor, isto é, alguém condições de, conscientemente, contribuir para a efetivação do Plano da Criação.
O Homem não é, então, segundo a Filosofia Espírita, nem princípio nem final de jornada, mas um momento de inexcedível significação. Consciente, conhece as próprias possibilidades; consciente, sabe que pode e deve mudar as coisas (incluindo-se entre elas). Tal consciência, porém, abre ao Homem perspectivas quase divinas, atribuindo-lhe grande dose de responsabilidade, dono que toma o próprio destino e do mundo que ajuda a construir. Em que se baseará, todavia, para a garantia da execução de sua praxes? Onde o timoneiro seguro para a sua ação? Na Lei Natural, a única verdade para a felicidade do Homem. Ela lhe indica o que deve fazer ou não fazer, e ele só será infeliz porque dela se afasta. E tal Lei Natural, segundo preceitua a obra básica da Doutrina Espírita, se inscreve na nossa Consciência. Por isso que, acreditando (o Homem) poder organizar a Lei de Deus na Terra, para depois refazê-la a seu modo. Com esse ente de razão baseado no orgulho não desorganiza senão a si mesmo e ao próprio mundo!
Resulta indiscutível que a posição do Homem no Universo assume uma grandiosa importância. No mundo é o Homem um Espírito em evolução, que necessita dele para evoluir. Por outro lado, também o mundo não prescinde do Espírito para o seu progresso. O mundo existe, é fora de dúvida. Nós existimos nele, Homem e mundo, porém, não se confundem; interdependem-se. Mas o mundo não é escravo do Homem e o Homem não pode tornar-se escravo do mundo, tanto quanto deve saber usá-lo corretamente. Em síntese: nem escravizá-lo a si, nem escravizar-se a ele.
O PENSAMENTO É UMA SECREÇÃO DO CÉREBRO?
Se a inteligência dos vivos fosse capaz de produzir levitações tomar os tecidos incombustíveis, falar línguas e discorrer sobre temas que jamais aprendeu, premunir acontecimentos próximos ou remotos, compor obras de arte comparáveis aos dos grandes mestres, criar fantasmas de seres reais etc., haver-se-ia de atribuir ao Homem poderes quase divinos.
O professor Charles Henry, no seu livro "O Homem depois da Morte", citado pelo pesquisador Faure da Rosa, não teve dúvidas em proclamar: "A morte de modo nenhum implica a perda da consciência e da personalidade."
Maurice Blondel, que escreveu "Ensaio de uma Crítica da Vida", por sua vez admite: "A inteligência não carece da integridade cerebral para se manifestar." O Dr. Agostinho Itunicha, em discurso da Sociedade Antropológica da La Plata, comunicava que um jovem de 14 anos, tratado pelo Dr. Fernando Ortiz, autor da obra "A Filosofia Penal dos Espíritas", morrerá no pleno uso das suas faculdades intelectuais apesar de ter a
Massa encefálica completamente destacada do bulbo raquidiano, nas mesmas condições que as de um homem realmente decapitado.
Na necropsia que fizeram no cadáver, com a maior estupefação dos cirurgiões, descobriu-se que as meningites estavam cheias de sangue e que um obsesso ocupava uma parte do cérebro e a protuberância cerebral. No entanto, pensava como qualquer pessoa saudável algum tempo antes de morrer.
"Les Annales des Sciences Psychiques" de 1017 referem-se a um caso curioso apresentado por Edmond Perrier à Academia de Ciência de Paris, acerca de uma observação do Dr. L.J. Robson: "Um homem que viveu um ano sem sofrimento, sem nenhuma perturbação aparente pensando, portanto, apesar de ter o cérebro que não era mais que um enorme abcesso purulento."
Um só desses caos, segundo Henri Bergson (1859-1941), autor de "Ensaios sobre os Dados Imediatos da Consciência", citado por Charles Richet, devia ser bastante para demonstrar que a inteligência funciona independentemente da integridade do cérebro. Também para Bergson, ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1927, cérebro e consciência correspondem-se porque ambos medem, um pela complexidade de sua estrutura e o outro pela veemência de sua atividade, o quantitativo de seleção que o ser vivo dispõe. Mas esta correspondência nada tem de equivalência nem paralelismo. Precisamente porque um estado cerebral exprime, simplesmente, o que nada há de ação incipiente no estado do psicológico correspondente; o estado psicológico excede infinitamente o estado cerebral.
De uma maneira mais simples, mais clara e probatória, segundo Faure da Rosa: "A consciência de um ser vivo é solidária com seu cérebro da mesma maneira que uma faca pontiaguda é solidária com sua ponta; o cérebro é a ponta acerada onde a consciência penetra o tecido compacto dos acontecimentos, mais não é co-extensivo à consciência que a ponta o é da faca."
Ainda é H. Bergson que reconhece de uma maneira precisa que o cérebro não é mais que um instrumento de ação.
O cérebro não determina o pensamento; por conseguinte, o pensamento, em grande parte, pelo menos, é independente do cérebro. O cérebro é um órgão de pantomia. O seu papel é minar a vida do espírito... O Espírito ultrapassa o cérebro e a atividade cerebral corresponde, apenas, a uma ínfima parte da atividade mental. Isto quer dizer também que a vida do Espírito não pode ser o efeito da vida do corpo, que tudo se passa ao contrário como se o corpo fosse, simplesmente, utilizado pelo Espírito e que, portanto, nenhuma razão temos se supor que o corpo e o Espírito estejam inseparavelmente ligado um ao outro.
Entre outros testemunhos, Maurice Blondel cita o caso de Claude Bernard, autor da consultadíssima "Introdução ao Estudo da Medicina Experimental":
"Dizer que o cérebro segrega o pensamento eqüivale a dizer que o relógio segrega a idéia de tempo. O cérebro e o relógio são mecanismos, um vivo, o outro inerte: eis toda diferença".
Uma lâmpada elétrica ilumina com a energia que atua o filamento metálico da ampola... exemplifica Blondel. Se esta ampola se quebrar, a luz extingue-se. Segue-se daí que a corrente deixou de existir? A prova de que existe é uma nova lâmpada intacta, ajustada, iluminará imediatamente.
Dá-se o mesmo com a inteligência: "É uma força, uma corrente espiritual que ilumina o nosso cérebro. Se o cérebro morrer, segue-se, daí, que a corrente que o fazia atuar deixou de existir?"
Para Edmond Wietrich, o Espírito não pode conceber-se fora de suas manifestações, de suas múltiplas formas de atividade. É o sinônimo de pensamento, de consciência, de liberdade. O é o indispensável veículo da alma; é a sua mecânica. O corpo permite que a alma tenha uma consciência nítida de si mesma; é o amálgama de estanho que faz a alma um espelho mágico. Sem ele, a alma regressaria à noite do inconsciente...
A PRECE, O PENSAMENTO E VONTADE
Pensamento é a única força, a grande causa. Se toda a humanidade orasse, formar-se-ia sobre o planeta um manto magnético inimaginável em suas propriedades positivas. Haveria mais saúde, mais paz geral. Se já em pequenos locais, onde se costumam seguidamente orar, se sente a energia espiritual das coisas, que seria da Terra se ela fosse um maravilhoso templo de oração constante?
O indivíduo que ora se fortalece mentalmente. E tendo vigor mental, tem vigor físico, férrea e natural conseqüência. Física e espiritualmente, o homem é o que pensa. O que ora, pois, consegue a realização em si do sonhado binômio integral: paz – saúde. Todo o equilíbrio celular é comandado pelo pensamento. Em nós, portanto, está a chave da felicidade. Se a quisermos, obtê-la-emos.
Por outro lado, através da prece podemos aliviar as dores de inúmeros sofredores. Aliás, sobre isso, há já antiquíssimo conhecimento e uso através das civilizações milenares. A alma do povo sente a intuição coletiva, universal, das verdades eternas.
Podemos erradicar vibrações poderosas em benefício de doentes e de Espíritos sofredores. As energias são aproveitadas pelos guias e dirigentes, depois de ampliados e modificados em seu tônus espiritual para objetivos seguros. E quanto maior número de mentes harmonizadas, melhor a sintonia, mais extensa as possibilidades de recursos.
A capacidade volitiva, enfim, é o principal fator do êxito da prece. Deve haver desejo, predisposição `renovar-se. A vontade aumenta com a compreensão e o próprio exercício. A vontade está diretamente vinculada à força da fé. Fé e sublimação da vontade, é confiar, é acreditar, é ter certeza, de que as rogativas sinceras e equilibradas encontrarão a receptividade.
A prece pressupõe fé, e fé compreende vontade!
A prece, finalmente, é uma solene introspecção, isto é, atenção dirigida para o íntimo ser. Há diferentes fases nessa introspecção:
Superficial: que se verifica no período intelectual da prece. A pessoa tenta afastar-se, aos poucos, do mundo objetivo para refugiar-se dentro dela mesma e sentir-se espiritualmente;
Profunda: aquela m que o ser, conseguido o isolamento do mundo exterior busca contatar com Deus. Quanto maior a capacidade atencional – em duração e intensidade – maior ressonância espiritual conseguirá registrar.
Tais procedimentos, entretanto, não anulam as repercussões dolorosas motivadas ao longo da vida-de-relação da pessoa, segundo os atos que praticou, concede-lhe a força de que precisa para enfrentá-las sem queixumes e revoltas considerando-as imprescindíveis ao seu crescimento moral. Não foi sem razão, a propósito, que os gênios tutelares da Codificação do Espiritismo revelaram que a Lei de Deus se encontra registrada no íntimo do ser imortal. É aí que ele vai construir racional ente-de-razão em torno dos seus cruciais problemas do seu destino e de suas dores...
CONFIDÊNCIAS DE UM PSIQUISTA
Por volta de 1884 fundava-se, em Boston (USA), a Sociedade Americana para Pesquisas Psíquicas por iniciativa de um grupo de pesquisadores em que se incluía o psicólogo e o professor William James (1842-1910). A sociedade objetivava "o estudo sistemático das leis da natureza mental". Criaram-se, de início, cinco comissões de estudo: transmissão de pensamento, aparições, casas assombradas, hipnotismo e fenômenos da atividade do médium.
Em 1888, a Comissão relativa à transmissão de pensamento apresenta à apreciação da sociedade o seu relatório sobre as experiência em estudantes da Universidade de Harward pelo professor William James. O relatório suscitou acerba polêmica, chegando a se levantar a hipótese de fraude. Esse revés não abateu o ânimo do ilustre pesquisador. Mais tarde, teria a oportunidade de examinar minudentemente, casos extraordinários de transmissão por escrita automática, tendo como protagonista a médium norte-americana Leonore E. Piper, pesquisada pelo Dr. Richard Hodgson, professor James H. Hyslop, Sir Oliver Lodge, Dra. Mildred Sidgwick (presidente da Sociedade para Pesquisas Psíquicas de Londres), professor Charles Richet (Prêmio Nobel de Medicina) e pelo professor Frederic Myers (autor da magnífica obra "Human Personality and its survival of Bodily Death"). Afirma-se que o professor William James foi, não apenas o introdutor da médium no mundo fantástico da ciência psíquica, mas também se constitui no orientador e amigo da Sra. Piper. Em 1897, já conhecido pela publicação de seus "Princípios de psicologia", William James lança o livro sob o título "A Vontade de Crer e Outros Ensaios", uma coletânea de conferências e artigos diversos. Dela extraímos os trechos seguintes, que traduzem o seu amor pela realidade concreta e fluente:
"Entre os resíduos não classificados, não há nenhum que tenha sido tratado com o maior desprezo científico que o grupo dos fenômenos chamados geralmente místicos. A fisiologia não quer nada com eles. A Psicologia ortodoxa volta-lhe as costas. A Medicina considera-os ‘efeitos da imaginação’ – pura forma evasiva cujo sentido, nesta ordem de idéias, é impossível de precisar. E, entretanto, aí estão apesar de tudo os fenômenos espalhados em toda a extensão da História".
Em outubro de 1909, o "American Magazine" estampa um artigo de autoria de William James, sob o título "Confidências de um Psiquista", onde admite que será através do estudo da fenomenologia supra-normal "que conseguirão levar-se a cabo as maiores conquistas científicas da geração vindoura". A geração evidentemente, do século XXI, quando temos a certeza, terá início a Era do Espírito...
William James desencarnou em 26 de agosto de 1910, em New Hampshire, legando à Humanidade opulenta bibliografia.
CONCEITO DÍNAMO-GENÉTICO DA VIDA
"Estamos muito longe da perfeição" – disse Oliver Lodge ("Evolução Biológica e Espiritual do Homem") – "e cada um de nós é, individualmente, um artigo inacabado... O Homem é, inegavelmente, um ser imperfeito, e está, todavia, em vias de desenvolvimento; mas não se deve perder de vista que nós partimos da idéia de que a criação é uma operação contínua perpetuamente em curso, em movimento, exigindo tempo para atingir a maturidade e dentro da qual todas as coisas aspiram um fim designado e desejado anteriormente".
A história da Terra e a história da Humanidade estão igualmente sujeitas a um processo contínuo de movimento e de transformação, a um perpétuo vir-a-ser, apresentando, destarte, aspectos variados e distintos, cambiantes, completando-se uns aos outros relacionando-se entre si e sucedendo-se no curso dos séculos.
"A substância (vivente) – disse Leon Denis – é um Proteu que reveste mil formas inesperadas... Todos os seres estão unidos uns aos outros e se influem reciprocamente. O Universo inteiro está submetido à lei da Solidariedade" ("O Grande Enigma").
Aristóteles, adiantando-se à sua época (antes de Cristo) concebeu também a unidade e continuidade da vida, não apenas no encadeamento das formas, mas também nos seus caracteres psicológicos e morais.
Em razão dessa monumental e silenciosa progressão evolutiva reconhece-se a necessidade de uma influência que se exerce de uma maneira constante para conduzir os seres e as coisas das fases rudimentares aos estádios mais aperfeiçoados.
Esta influência provém, indiscutivelmente, de uma Causa única, de um dinamismo psíquico superior que abraça e une todas as coisas e seres viventes, a todos os dínamos-psiquismo particulares em sua casualidade e movimento proteiforme. Causa ativa, eficiente, infinitamente sábia, centralizadora e diretriz das distintas atividades universais.
"No Universo" – disse o pensador espírita argentino Manuel S. Porteiro ("Espiritismo Dialético") – "e como causa essencial de sua existência, há, fora de toda dúvida, um princípio inteligente ativo criador e transformador perpétuo."
Assim o têm estabelecido, ainda que de diversas maneiras e sob distintos nomes, todos os filósofos dialéticos, à exceção, entenda-se, dos materialistas, que só admitem a matéria como substância única, como única realidade e causa determinante da vida e do pensamento.
Heráclito, que fora o primeiro filósofo que pensou dialeticamente, que concebeu uma concepção dínamo-genética da Vida e do Universo, afirmou que:
"(...) tudo passa, que nada é, que tudo chega a ser, que nenhum homem se banha duas vezes nas mesmas águas de um rio."
Ele admitiu o princípio do movimento e da transformação constante de tudo o que existe.
Diria, a propósito, Gustave Geley, o genial metapsiquista francês:
"A vida é movimento, a evolução é movimento. O progresso é movimento, movimento ascendente, de transformação, de perfeição e eterno rejuvenescimento."
Leibnitz (Gottfried Wilhelm), o grande filósofo dinamista-espiritualista e sutil dialético, sustentava que há uma tendência em tudo quanto existe trabalhar, modificar-se uma aspiração a um fim mais ou menos permitido:
"O futuro está cheio de presente... Tudo que não se movimenta e se transforma, morre.
Ou mais exatamente, não existe (Quo non agit nee existit)."
E completou o autor de "Novos Ensaios sobre a Compreensão Humana":
"Tudo marcha, tudo move, evoluciona e progride senão em linha reta, mas em ciclos espirais de avanços e recuos, de auroras de acasos, de primaveras e outonos, de vida e de mortes, que, por sua vez recobram nova vida, num caudal de espiritualidade, de consciência infinitamente."
A evolução em geral e em particular, em cada ordem das coisas, tem suas revoluções seu aceleramento e suas rupturas de forma, como resultado do progresso gradual que, ao chegar ao máximo de desenvolvimento cíclico, rompe a resistência das forças que a pressionam e produz mudanças e transformações, não apenas quantitativas, mas, também, qualitativas. Cada vez que há uma mudança na progressividade gradual, produz-se um salto, sem que por isto se origine descontinuidade no progresso da vida, nem alterações biopsíquicas essenciais.
Os trabalhos de Hugo de Vries e de Armando Gautier confirmam, na área da Biologia, como os de Cope, na Paleontologia, a teoria das transformações bruscas ou por saltos, que concebeu o gênio dialético de Hegel, de que se utilizaram Marx e Engels para a formulação do conceito materialista da História, e que o espiritismo, com Gustave Geley, redimensionava-o com o sentido espiritualista da evolução.
Em conclusão: Na Natureza tudo está em contínuo movimento; é um constante devenir, que não há nada absolutamente estático; nada isolado ou desvinculado da causalidade universal e do princípio psicodinâmico que a rege.
OS PROCESSOS VITAIS E DETERMINANTES DA MORFOGÊNESE
A reencarnação é, e será por longo tempo, uma questão em aberto e assaz controvertida. Deve-se admitir, porém, que os dados até agora coligidos são suficientes para demonstrar a realidade paligenésica. Afinal de contas, o acaso (a que se atribui a origem da vida) é apenas uma tese formulada à revelia das leis que regem o mecanismo existencial. A propósito, é oportuno registrar, aqui, a opinião do Prof. Edward Conklin, biólogo da Universidade de Princenton, nos Estados Unidos:
"A probabilidade da vida ter se organizado por acidente é comparável à de um dicionário completo resultar de uma explosão numa gráfica".
A opinião do Dr. Conklin é compartilhada por outros cientistas, muitos dos quais concordam que o ser humano é uma das ambiciosas experiências da Natureza e que faz parte integral da organização universal. Como o Universo é produto da organização e não do acaso, seus campos regulam tudo que nele existe, incluindo os ser humano, que está sujeito às suas leis e participa de sua finalidade. Edward Wriothesley Russel, em sua obra "Reencarnação, o Mistério do Homem", ratifica as concepções do Prof. Conklin e acrescenta:
"O ser humano não é uma relação atômica acidental, nem o resultado de um ensopado cósmico de proteínas, cozido por raios da Terra".
Nossos corpos são o produto de uma organização, e tudo que é organizado foi previsto e tem uma finalidade. O homem é, pois, controlado por um acampo organizador eletromagnético, que E.W. Russel rotulou de campo L (life). A existência desse campo – que é invisível – já foi cientificamente comprovada por meio de instrumentos e testes repetitíveis, que mostraram, também, o que faz e como se conduz. O crédito cabe a dois cientistas americanos, os Professores Harold Saxton Burr e F.S. Northrop, ambos da Universidade de Yale.
Em seu livro "Blueprint for Imortality", H.S. Burr afirma que, utilizando voltímetros para medir campos eletrodinâmicos em seres vivos, comprovou a existência desse campo, o resultado de processos vitais mais determinadores da morfogênese e, portanto, das conseqüências funcionais da estrutura induzida. Esse campo atua na modelação e no funcionamento dos seres vivos: entre outros, sementes, árvores, bactérias, células, animais etc.
É óbvio admitir que, destarte, tais campos já existiam antes do início da organização do embrião no útero, e não há razão para acreditar que desapareçam quando o corpo físico morre.
Ainda conforme as deduções de Edward Wriotheley Russel, se o novo corpo físico necessita de um campo eletromagnético L para organizá-lo, os nossos pensamentos, sentimentos, memórias, etc., não precisariam de algo semelhante? Segundo Russel, a transmissão do pensamento mostra que este tem propriedades semelhantes à de um campo: reage a outros pensamentos, atua a distância, atravessa obstáculos de toda natureza e é tão sensível que, quando é hostil, muitas vezes consegue destruir as experiências sensíveis do fenômeno mental, o que faz com que a mesma facilidade com que a luz vela um filme fotográfico.
PSICOMETRIA E VISÃO PANORÂMICA
A Psicometria guarda certa relação com o fenômeno da Visão Panorâmica dos desencarnantes, tratada por Ernesto Bozzano em seu livro "A Crise da Morte". Na hora que antecede à desencarnação – e às vezes quando está passando por um perigo mortal – a pessoa vê, em tempo rapidíssimo, todos os lances de sua vida terrena, mesmo aqueles que se achavam em total esquecimento. Este curioso fenômeno constitui um constante inevitável em toda desencarnação. Não se trata de um despertamento de memória, como nos casos clássicos de regressão provocada, mas de um visão imposta ao "paciente" quando menos ele espera, qual se lhe fosse apresentada numa verdadeira tela, descortinada em brevíssimos e indimensionados instantes. As experiências realizadas pelo psicólogo Raymond Moody, em mais de em pessoas dadas como mortas, a retrospectiva panorâmica da existência vivida era visão constante, fluente, como se fosse um exame de consciência obrigatório aos que estão prestes a ingressar no mundo espiritual. Não seria nenhum absurdo admitir que tanto a psicometria como a visão panorâmica tenham origem comum nos "clichês astrais".
É de salientar, contudo, que na primeira ocorrência do fenômeno é facultativa, podendo, inclusive, o sensitivo se recusar a entrar em contato com o objeto a ser psicometrado, enquanto na Segunda ela é compulsória. Nesse caso, parece que desconhecido botão de um interruptor é religado de súbito, mostrando sob a luz astral um painel onde estão indelevelmente gravados todos os lances de sua vida. Na psicometria há sempre um objeto que serve de indução entre o sensitivo e as vibrações ligadas ao objeto. Aqui, porém, qual o dispositivo que permite a ligação? Ou, então, "quem" aciona o "botão" do interruptor?
O mistério se apresenta, por enquanto, impenetrável. Mas é detectando-o, pensando nele, que algum dia – e disso não temos a menor dúvida – conseguiremos decifrá-lo. Algumas ilações preciosas, no entanto, já podemos tirar desses estudos. Tanto na visão panorâmica como nas imagens percebidas pelo psicômetros, os agentes não estão sujeitos às limitações do espaço/tempo. Acontecimentos complexos e prolongados, tais como o retrospecto da vida humana, ou detalhes do ambiente de antigo templo, são passados vertiginosamente, à maneira de clarões, o que não impede a total apreensão deles. Experiências como estas têm sabor de verdadeiras "mostras" da natureza de um estado de consciência que mais tarde alcançaremos palmilhando as vias evolutivas. O que hoje representa o vislumbre de uma percepção mais adiantada será o padrão do homem amanhã. A verdade é que experiência válida que nos mostre ser possível um tipo de compreensão sem as grilhetas do espaço e do tempo, nos induz obviamente, que ela só pode ser alcançada fora da bitola tridimensional em que vivemos na Terra. Assim, somos forçados a admitir as especulações sobre uma Quarta dimensão, como também não são desprovidas de cunho científico – graças, principalmente, à psicometria – as hipóteses do continuum da consciência cósmica, de William James; do universo metaetérico, de Frederic Meyers; do continuum espaço-tempo, do Professor Fantappié, ou ainda do akâsa da antiga sabedoria oriental...
GEMAS, AMULETOS E TALISMÃS – INTRIGANTE CAPÍTULO DA PSICOMETRIA
Nos idos de 1937, a "Reveu Spirite" iniciava a publicação de uma série de artigos de autoria do Professor Ernesto Bozzano sob o seguinte e sugestivo título "GEMAS, AMULETOS E TALISMÃS", traduzido pela FEB e transcrito em "reformador" daquele mesmo ano.
No "caput" do artigo, o Prof. Bozzano, confessa que, por longo tempo, hesitou antes que resolvesse tratar do assunto. Ao decidir-se a discorrer sobre o especioso tema, acreditava que as lendas e superstições que o alimentava através dos séculos escondiam inconfundíveis verdades. Afirmaria, então, o nobre pesquisador italiano: "Tudo, em suma, nos induz a supor que a imaginação dos povos jamais criou uma lenda que não tivesse por fundamento uma certa verdade." E sentencia – "Ora, pois que nenhuma dúvida há de que uma parcela de verdade se encontre em todas as lendas e crenças populares, é reconhecer-se que deve haver alguma coisa de verídico na misteriosa virtude, bem ou malfazeja que foi atribuída certas gemas e aos amuletos e talismãs, aos quais conviria mesmo acrescentar as ‘relíquias’ dos santos".
Em seguida, o Professor Bozzano reporta-se às experiências desenvolvidas às expensas da extraordinária faculdade mediúnica de Reverendo Willian Stainton Moses, baseado na narrativa da Sra. Stanhope Speer.
São exemplos de "trazimentos", ou mais exatamente das misteriosas criações de gemas, pela personalidade mediúnica do "Mentor".
"Que as gemas em questão eram ‘criações espíritas’ e não ‘trazimentos’ – esclarece Bozzano – as personalidades mediúnicas constantemente o afirmaram". Essas pedras preciosas possuíam especiais propriedades. A safira que o Espírito "Imperator" trouxe a Stainton Moses, com o fim de lhe facultar uma proteção espiritual, possuía virtudes curativas.
Quando Moses estava doente, a safira se embaciava e perdia toda a transparência e assim permanecia até a cura completa.
Em seguida, Bozzano passa a palavra a Sra. Stanhope Speer, que a relata, o seguinte:
"(...) vimos quase imediatamente formar-se uma auréola de luz em torno do grupo de experimentadores enquanto perfumes deliciosos se espalhavam pela sala. Pouco depois, Franklin se manifestou, dando instruções a cerca das gemas trazidas antes e anunciando que aquela noite com o auxílio de inúmeros Espíritos, iria constituir e trazer uma safira para o médium. Previniu-nos de que se tratava de uma jóia muito preciosa, como igual não existia no mundo. Os Espíritos-Guias a tinham saturado de diferentes espécies de influências favoráveis, que iriam fazer muito bem ao médium, assim como do ponto de vista espiritual, como do ponto de vista físico... No fim da sessão deparamos com belíssima gema prometida a Stainton Moses. Era de viva cor azul, mas ao mesmo tempo, de puríssima água, luminosa. Os Espíritos-Guias previniram a Stainton Moses que a devia guardar como tesouro, com o maior cuidado e tê-la sempre consigo. Notamos que, quase sempre, quando Stainton Moses não estava de boa saúde, a safira se embaciava e mudava de cor".
Em seguida, Stainton Moses relata que fora na Regent Street (famosa rua de Londres), à casa dos joalheiros "Leroy and Son", para mandar montar num anel a safira. Quando os joalheiros lhe entregaram o anel, reuniu-se com Espíritos, tendo à frente o "Imperator", seu guia, afim de expurgar a jóia das ‘influências’ contrárias que absorvera passando por tantas mãos. Este relato com detalhes, pode ser encontrado nos "Proceedings" (Resenhas) das Sociedades de Pesquisas Psíquicas, de Londres, volume XI.
Na Revista Light, 1883, porém vêm contados pela Sra. Speer, os trâmites da sessão a que refere o médium Stainton Moses:
"Haviam-nos dito que mandássemos montar as gemas que tínhamos recebido em outros tantos anéis que traríamos constantemente no dedo. Essa noite pediram-nos que as puséssemos todas a mesa para que pudessem saturar de influências espirituais. O Sr. Moses colocou seu anel no meio da mesa, em um lenço de seda. Logo depois, vimos formar em torno do grupo o habitual luminoso, enquanto que uma rápida série de pancadas era dada ao redor da jóia. Manifestou-se, além do "Imperator", o espírito Benjamim Franklin, anunciando que o anel tinha sido purificado das influências contrárias que absorvera no curso do trabalho de montagem. Depois disso, um orvalho abundantíssimo de deliciosos perfumes começou a cair sobre os anéis e sobre nós mesmos. O lenço que continha o anel de Stainton Moses ficou literalmente ensopado desse orvalho e lhe conservou o perfume por muitos dias. "Imperator" se manifestou, por grandes benefícios que havíamos de tirar deles, sob diferentes aspectos, pois que os Espíritos-Guias reconheceriam sempre e em todos os lugares sua ‘auras’ e não deixariam de afastar de nós o que nos pudesse prejudicar, cercando-nos de influências propiciais... Quando "Imperator" acabou de falar, o médium despertou sobressaltado chegando a perceber ainda a majestosa figura do Guia".
Após essa sessão de purificação e de saturação de energias espirituais, Stainton Moses evoca o Espírito –Guia, com o qual se comunicava através da escrita automática:
"Moses – Desejo comunicar-me com Benjamim Franklin.
"Espírito-Guia – a propósito de que?
"Moses – ele me trouxe uma pedra preciosa e eu queria obter explicações sobre isso.
"Benjamim Franklin – A gema que te foi trazida encerra virtudes magnéticas especiais, que nós lhe transfundimos.
"Moses – infinitamente reconhecido vos sou pela dádiva que me fizeste.
O joalheiro a quem levei para mandar montá-la num anel ficou maravilhado e declarou que jamais vira pedra preciosa de tal beleza. Agora diz-me: esta safira é de origem terrestre? Ou foi criada por vós outros? Será coisa diferente do que temos neste mundo?
"Benjamim Franklin – É diferente das safiras terrenas e muito preciosa. É de valor inestimável, dado que nenhum existe igual no vosso mundo.
O joalheiro não podia notar as diferenças que há entre a vossa safira e as que conhece, porque a pedra que te dei tem a aparência e traços característicos das safiras da terra. Somente pela visão espiritual se chega a distingui-la das outras.
"Moses – Quão grande é a ignorância do mundo, acerca desses mistérios!
"Benjamim Franklin – E assim continuará enquanto se conservar tão material nas suas aspirações. A grande maioria dos homens é excessivamente mundana, vulgar, para perceber as influências espirituais de natureza sutil e apurada... Gemas, perfumes e música são os três grandes veículos da influência espiritual.
O Prof. Ernesto Bozzano retoma a palavra e oferece os seguintes esclarecimentos:
"Os trazimentos de gemas que Stainton Moses obteve, constituíram ‘criações mediúnicas’ e, não ‘trazimentos’ propriamente ditos. Também farei notar que, estivessem em causa jóias terrenas subtraídas a seus proprietários por aquelas personalidades, os jornais da época não teriam deixado de falar de uma série de furtos misteriosos de pedrarias de grande valor, realizadas em joalherias ou em casas particulares.
"Não será inútil previamente, desde já, às insinuações de jocoso que entendesse de levantar a hipótese de que o Reverendo Stainton Moses comprava as jóias que surgiram nos cursos das sessões. Respondo, fazendo notar que o Sr. Moses estava longe de ser rico.
Viveu sempre às expensas dos modestos ganhos que tirava do seu trabalho".
Em seguida, o Prof. Bozzano, pretendendo ao que parece, lançar luzes sobre o inusitado fenômeno, esclarece:
"Os trazimentos de pedras-amuletos que aqui estudamos, apresentam modalidades de manifestação que levo a supor que alguma outra parcela de verdade, de categoria muito diversa, se deveria encontrar oculta e disfarçada no amontoado de superstições que os séculos nos transmitiram".
E prossegue:
"O fenômeno é de natureza a não surpreender os que têm conhecimento da fenomenologia metapsíquica, dado que o fato de uma saturação fluídica dos objetos, alheia aos próprios objetos, está cientificamente provada pela existência de psicometria, nas quais a absorção da ‘aura’ de um indivíduo por objeto qualquer que ele trouxe longamente consigo, constitui o fundamento das experiências em questão. E estes – repito-o – pertencem doravante aos fenômenos metapsíquicos comprovados".
É realmente sabido que as experiências de psicometria demonstram que a matéria, em geral, é susceptível de registrar as vibrações emanantes dos acontecimentos que perto dela se desenrolam, tornando aptos os sensitivos psicômetros revelar os seus trâmites muita vez com surpreendentes detalhes. É assim eu um pequeno fragmento de fóssil da época quaternária pode revelar um episódio da história geológica e paleontológica do seu tempo, tal como se dá no caso de um objeto usado durante muitos anos por um vivo ou um morto, o qual revela ao sensitivo parte dos acontecimentos que o seu dono viveu.
Segue-se que, em princípio, as experiências de psicometria provam a existência de qualidade benéfica ou maléfica registradas e conservadas nas gemas, amuletos e talismãs, graças à intervenção de uma vontade exterior. Fora, todavia mister que esta se caracterizasse por um poder excepcional de irradiação, combinado com uma extraordinária energia volitiva, acrescendo que os objetos assim influenciados teriam de ser eficazes unicamente nos casos de percipientes ultra-sensíveis. A grande maioria dos vivos se conservaria insensível a essa influência. É, aliás o que acontece nas experiências de psicometria, em que somente alguns raros sensitivos chegam a perceber as influências existentes nos objetos.
Essas circunstâncias são de natureza as proporções modestas a eficácia benéfica ou maléfica dos artefatos usados como amuletos e talismãs. Nas instruções dadas pelo Espírito-Guia de Stainton Moses sobre a maneira que devia ser empregada a jóia-amuleto, depara-se com uma observação que limita a sua ação taumatúrgica. Destarte, as propriedades curativas da influência contida na gema mostrou-se especialmente eficazes (no caso de Stainton Moses) por o seu o mesmo sensitivo, do contrário, não seriam experimentados quaisquer efeitos curativos. Entretanto, deve-se ressaltar, à guisa de exceção, os casos que têm com causa um fato auto-sugestivo determinado pela fé cega nas virtudes taumatúrgicas do objeto ou eficácia das práticas religiosas.
O Prof. Bozzano conclui seus arrazoados observando que não se poderia racionalmente, por em dúvida a origem espirítica dos trazimentos de pedras-amuletos obtidos nas experiências de Stainton Moses. Não há no mundo corpóreo pedras preciosas que se embaciem e mudem de cor, quando o respectivo dono está doente. Despontam no particular, as seguintes perguntas: não se podendo negar, no caso de que se trata a existência, nas pedras, de uma situação fluídica de origem exterior, qual seria então a origem dessa influência? Se não é devida à vontade das personalidades espirituais que haviam criado as jóias, qual poderia ser o desconhecido vivo que transmitia a sua influência taumatúrgica? Não tem resposta esta pergunta, a menos que se busque refúgio, ainda uma vez, na cômoda hipótese de subconsciência, que houvera tirado do nada as pedras preciosas para em seguida, as saturar de influência benéficas extraídas de si mesma e que serviriam para curar... a ela mesma e aos outros. É evidente que tudo isso raia ao absurdo. Os que com isso se contentam têm liberdade de fazê-lo, mas com a condição de não falarem em nome de pesquisas científicas, e, sim, em homenagem ao direito de soltarem os freios à fantasia.
Há ainda que destacar: é que uma regra elementar das pesquisas científicas exige que nunca se chegue a conclusões de origem geral com fundamento na análise parcial de um só grupo episódico, destacado do conjunto dos fatos que formam, com ele, uma coisa indivisível. Ora, o fenômeno de trazimento de pedras preciosas mais não é do que um grupo episódico pertencente a um grupo prodigioso de outros grupos episódicos de ordem física e intelectual que, considerado coletivamente, forma um feixe tal de provas indutivas e coletivas, convergentes para uma explicação única – a interpretação espirítica dos fatos – nenhuma dúvida fica sobre a legitimidade dessa interpretação. Unicamente para se chegar a tais conclusões, é preciso haver estudado, analisado, comparado o conteúdo de uma enorme documentação concernente às experiências de que se trata. Os relatos da Sra. Speer a uma série inteira de sessões experimentais, que duravam nove anos, apareceu na revista LIGHT, entre os anos de 1982 à 1983. Nunca foram reunidos em volume, nem mesmo na Inglaterra, e hoje não há como encontrá-los. Contudo, o Prof. Bozzano possuía a coleção completa desses relatos publicados na LIGHT, o que lhe possibilitada emitir juízo com conhecimento de causa. Nessas condições, é manifesto que, se houvesse outros pesquisadores que desejassem a seu turno, julgar destes fatos, pronunciando contra a origem espírita das pedras – tirando da análise parcial de um só grupo episódico conclusões de ordem geral – esses tais cometeriam, pelo menos, um erro imperdoável de metodologia científica.
O Prof. Bozzano chega a esta conclusão: "os famosos trazimentos de gemas-amuletos que se realizavam com o auxílio da mediunidade do Reverendo Stainton Moses, não contribuem apenas para pôr em foco as parcelas de verdade existentes no amontoado informe de superstições que se aglomeram em torno da história dos amuletos e dos talismãs; não servem unicamente para clarear este assunto tão obscuro, legitimando-o em pequena parte e fixando-lhe em limites muitos estreitos a possível influência. Concorrem, também, de maneira eficaz, para demonstrar a intervenção incontestável de entidades espirituais nas manifestações a que nos referimos, o que eqüivale a lhe entender o alcance a todas as grandes manifestações do mesmo gênero".
Deve-se louvar, sem embargo, a atitude corajosa do Prof. Bozzano em tratar de um assunto que, no campo do psiquismo, se conserva menos elucidado, senão em profunda obscuridade, razão, naturalmente, porque também é o que dá lugar a opiniões ou crenças mais extremadas, que vão desde a negação absoluta, até a aceitação e sem reservas de todas as lendas que se têm divulgado em torno da eficácia desses objetos a que, vai para muitos séculos, se atribuem as mais variadas e portentosas virtudes. Mesmo os que se dedicam ao estudo a análise da fenomenologia espírita, diversificam-se nos seus pareceres sobre o momentoso assunto. Aliás, este é um dos pontos menos explícitos se mostraram os Espírito da Codificação, nas revelações e esclarecimentos que transmitiram ao Mestre Allan Kardec, o qual também pouco se demorou em comentá-lo na obra básica do Espiritismo – "O Livro dos Espíritos".
Eis aí um campo vastíssimo que se abre à pesquisa efetivamente inconclusa, a despeito das experiências com o notável médium Stainton Moses...
Os pesquisadores interessados poderão encontrar vasto material sobre a PSICOMETRIA nas obras a seguir assinaladas:
Psychométrie, L. Deinhard, Paris;
A Manual of Psychometriy: The Dawn of a New Civilization, Boston, 1886, J. Rhodes Buchanan (o pioneiro no campo de pesquisas psicométricas);
Traité de Metapsychique, Charles Richet, Paris, 1922;
Nature’s Secret or Psychometric Researchs – W. Dentos e Elisabeth Denton, Londres;
The Soul of Things – W. Denton, Londres;
Enquête Sur des Cas de Psychométrie, La Vue à Distance Dans le Temps te Dans L’espace, Edmond Duchâtel, com prefácio de J. Maxwell, Paris, 1910;
Seeing the Invisible: Pratical Studies in Psychometry, thought transference, telepaphy and allied phenommena, James Cootes, Londres, 1909.
PALIGENESIA ÉTICA E DIALÉTICA
O Prof. Humberto Mariotti, na sua obra "Parapsicologia e Materialismo Histórico", que:
"Se o Homem continuar pensando em sua própria finitude, não há dúvida que a civilização terminará na mais terrível das catástrofes espirituais. Porque, se o homem-que-morre é quem deve reger o desenvolvimento humano, tudo será relativo e tenderá a malograr com a idéia do nada... O homem finito, com seus afetos e aspirações, resultará em tragédia e fatalidade".
Contra esse absurdo, só o ensino e a idéia da doutrina palingenésica podem, realmente, descortinar ao homem seu futuro além dos limites da morte, substituindo a visão do nada pela imortalidade e do progresso infinito.
Com base nesta transcendental e ética perspectiva, cunhou-se o admirável aforismo insculpido no frontispício do dólmn de Allan Kardec, no histórico Cemitério Pére-Lachaise, em Paris:
"Naitre, Mourir, Renaitre encore et progresser sans cesse, telle est la loi".
Destarte, sentencia, por sua vez, o Dr. Gustave Geley:
"As tumbas deixam de ser tumbas: são asilos passageiros para o fim da jornada das ilusões. E, assim como se desvanece, pela idéia palingenésica, o caráter fúnebre da morte, também se implode o monumento de injustiça edificado pelo evolucionismo clássico. Já não há, na evolução, sacrificados e privilegiados. Todos os esforços individuais e coletivos, todos os sofrimentos e amarguras desembocarão na realização da justiça e do bem; mas o bem e a justiça para todos, porque todos teremos contribuído para a justiça e o bem".
Deve-se observar que as concepções geleyanas se identificam com a dialética de Hegel, filósofo idealista do século XIX. Para o célebre autor de "Fenomenologia do Espírito", os fenômenos materiais outra coisa não são que objetivações da idéia, e o mundo subjetivo se desenvolve por uma lei de contradição que se opera através de uma tese, de uma síntese (ou de uma conciliação). Em princípio, a filosofia hegeliana corresponde ao mesmo processo da filosofia palingenésica do Dr. Gustave Geley. Com efeito: o Absoluto de Hegel e o Dinamopsiquismo do Metapsiquista francês, definem na mesma entidade, e as três fases da dialética de Hegel correspondem, respectivamente, à trilogia do nascer, morrer e renascer.
Deve-se concluir que a evolução, como é brilhantemente concebida, não tem o poder de mudar a essencialidade do Ser, supõe ao contrário, uma causalidade essencial, sem a qual não se admite nenhum progresso. Diria a propósito o pensador brasileiro Jacob H. Neto:
"O movimento e o temo não podem criar, por si sós, o que não existe – só envolve o que tem existência potencialmente ou em desenvolvimento".
Evidentemente, não se passa do não-ser ao ser, nem da quantidade a qualidade, senão em virtude de uma existência e de uma qualidade análogas anteriores; de causalidade substancial que as compreenda e as modifique. Não se pode conceber nenhuma transformação, nenhuma mudança morfológica fundamental, sem uma causa essencial persistente, sem continuidade biopsíquica, sem um elemento organizador e diretor da matéria que leve em si mesmo, potencialmente as possibilidades de suas metamorfoses.
Entretanto, a continuidade biopsíquica não implica a continuidade morfológica: as formas passam e desaparecem mas a vida psíquica permanece. É ela que envolvo, emprestando pela reencarnação, progresso e perfeição às formas que cria. As espécies, tanto quanto os indivíduos, podem aparentemente, desaparecer e deixar, nos fósseis, os vestígios de sua existência; mas a vida psíquica que as animava se projeta a outras dimensões para, mais adiante, animar espécies e indivíduos, sem perder sua e essencialidade psicodinâmica.
Em suma: tudo é transito para alcançar formas e qualidades novas; tudo está em perfeito vir-a-ser, sem ser jamais algo definitivamente concluído. Observe-se porém: o que muda e se transforma continuamente, através do processo palingenésico, são as formas e qualidades, e, não, a essência!
Não há, em verdade, descontínuo na evolução biopsíquica. Só a aparência das formas materiais transitórias pode fazer supor tal descontinuidade. Apenas os niilistas, para quem essas formas em si mesmas e suas transformações constituem a única realidade, podem negar a continuidade da vida psíquica, isto é, a sobrevivência do ser após a falência do corpo e sua reencarnação.
Heráclito de Éfeso, que se afirma ter sido o primeiro filósofo a pensar dialeticamente, dizia:
"Tudo passa, nada é, tudo chegar a ser; nenhum homem se banha mais de uma vez nas mesmas águas de um rio..."
O DEVER ESTRITO E SAGRADO DA DOR
O sofrimento é condição inexorável do existir terreno, isto é, atinge e pensa inflexivelmente sobre todas as criaturas que, nesta vida ou em vidas passadas, faltaram ao cumprimento dos preceitos renovadores das leis divinas, e não têm ou não tiveram uma vida limpa de erros, ou seja, a perpetração de atos e de posturas mentais contrários às regras de uma vida equilibrada e justa.
Ambições desmedidas, invejas turvas, orgulho impertinente, ódio transformado em vinganças, egoísmo sustentáculo da cobiça, tudo isso constitui, nas almas, disposições para a maledicência: produto da inveja; para ofensa e espezinhamento dos outros como produto do orgulho; para a prática dos mais degradantes crimes, como produto do ódio; para a prática do roubo e de todas as extensões, que é o caminho sempre percorrido pelos ambiciosos e egoístas.
De todo este estendal de misérias psíquicas resultam desarmonias entre os prevaricadores e suas vítimas, possibilitando quadros obsessivos pertinazes, horrorosos.
Nestas condições, o sofrimento é um providencial estádio de reabilitação das almas, levando-as a refletir sobre os justos ditames da Lei de Deus...
A dor tem levado o homem à elaboração das mais diversas filosofias. Quer dizer que o tem obrigado a pensar. Ora, pelo pensamento, a maior força do Universo, porque força essencialmente divina, é que nos libertamos do escuro cárcere a que nós mesmos nos condenamos, quando cega trazemos consciência. O pensamento, só ele, é exclusivamente nosso, porque cada um de nós é uma mente a atuar no plano das vibrações correspondentes.
De certo, portanto, o pensamento que levou o homem primitivo, maravilhado com o espetáculo da Natureza, a soltar o seu primeiro grito de assombro.
Rodeava-se o mistério e ele, impotente para criar uma que fosse das maravilhas que se lhe ostentavam, pensou num ente superior, oculto à sua vista, e entoou, num arroubo espontâneo de admiração, o seu primeiro hino ao Criador.
Mais tarde, com o conhecimento da própria natureza lhe fosse desvendado as atitudes da Divindade, tornando-a infinitamente maior e, por isso, afastando-lha da retina, acabou confundindo a obra com o artífice.
A própria Natureza, todavia, mostrou-lhe que a dor a todos acompanha, qual sombra do berço ao túmulo ele inquiriu:
"- Mas, como! Se Deus é bom, como pode ter-nos condenado à dor?"
Por outro lado, conceber a onisciência e a onipotência associados à maldade, à iniquidade, à justiça fora absurdo. Mais lógico seria negar-lhe a existência. Tudo descamba no nada!
A dor, porém, continuou, calma e serenamente, a espiritualizá-lo, como quem cumpre dever estrito e sagrado.
OS VÁRIOS MUNDOS E A ESCALA EVOLUTIVA
Os Espíritos Reveladores justificando a diferença entre os vários mundos e os seres que neles vivem, reportam-se à escala evolutiva regulada pela reencarnação, apresentando o seguinte raciocínio:
- Deus cria os Espíritos permanentemente, jamais deixando de criar;
- as possibilidades de cada Espírito, conforme o nível de perfeição
- há diferentes ordens de Espíritos, conforme o nível de evolução a que tenham alcançado;
- as experiências a que estão submetidos, através das reencarnações sucessivas justificam essa evolução;
- após muitas experiências e reencarnações, os Espíritos atingem o estado de perfeição;
- tudo acontece nos mais diferentes mundos, igualmente submetidos a uma hierarquia espiritual;
- passando de um mundo para o outro, o espírito leva consigo as experiências adquiridas nas anteriores.
Prosseguindo em sua investigação, Kardec pergunta aos Reveladores, objetivamente, sem meios termos, se os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos, obtendo esta resposta:
"É fora de dúvida que têm corpos, porque o espírito precisa estar revestido de matéria para atuar sobre a matéria. Esse envoltório, porém, é mais ou menos material, conforme o grau de pureza a que chegaram os Espíritos. É isso que assinala a diferença entre os mundos que temos de percorrer, porquanto muitas moradas há na casa de nosso pai, sendo consequentemente, de muitos graus essas moradas".
Embora recebesse respostas tão claras, Kardec volta a indagar:
"É nos possível conhecer o estado físico e moral dos diferentes mundos?" E os Reveladores disseram: "Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento e que nos achais. Quer dizer que não devemos essas coisas a todos, porque nem todos estão em estado de compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria".
Os estudos da EXOBIOLOGIA vêm confirmar as concepções palingenésicas dos Espíritos da Codificação. O Dr. L. J. Carter, por exemplo, da Sociedade Interplanetária Britânica, em conferência naquela organização científica, fez esta sensacional revelação:
"Fala-se, em geral, na vida com nós a conhecemos. Mas, porque deveria haver somente esta espécie de vida? As descobertas mais recentes não excluem a vida em outros mundos. Poderá haver muitas combinações. Poderá muitas centenas de milhares de formas de vida." Acrescenta, a seguir, que esse estudo, por ser atraente, vai sendo apreciado seriamente, com a criação de um novo ramo de ciência para investigar os seres no espaço. Esse estudo é chamado EXOBIOLOGIA vem sendo ministrado nas melhores universidades da Inglaterra, dos Estados Unidos e da União Soviética.
A verdade é que os homens de ciência sempre predispostos a negar, começam a crer nos mundos habitados, confirmando, destarte, o preceito evangélico de que na "Casa do Pai há muitas moradas".
A PARAPSICOLOGIA E A ALMA
Afirma-se que a Parapsicologia foi uma criação do Prof. Joseph Banks Rhine, la Duke University (USA). Na verdade, Max Dessoir já referia à Parapsicologia em junho de 1889, conforme registro na Revista Luce e Ombra de julho/agosto de 1931. Émile Boirac também fazia menção à disciplina, denominando-a de Psicologia Desconhecida. William Mackenzie, citado por Boirac (L’Avenir des Sciences Psychiques), dirigente da Revista "parapsicologia", afirma que "a sua revista nada tinha de comum com o pensamento de alguns metapsiquistas, que admitem os fenômenos como sendo coisas do além do túmulo". E enfatiza: "Não há nenhuma relação entre o Espírito dos espiritistas e o Espírito da parapsicologia" (!) O Prof. Herculano Pires admite, em seu livro Parapsicologia Hoje e Amanhã (Capítulo 1) que a parapsicologia "É uma disciplina científica, mas não propriamente uma ciência, pois o seu lugar científico é nos quadros da Psicologia" – E afirma adiante: "É necessário compreendermos isso para não atribuirmos à nova disciplina uma posição excepcional no plano do conhecimento, e sobretudo para não lhe darmos um sentido e um caráter misterioso". E, conclusivo: "Colocando as coisas em seu devido lugar, podemos dizer que a Parapsicologia é uma nova forma de desenvolvimento das pesquisas psicológicas". E, Em seguida o ilustre autor de O Espírito e o Tempo cita o Dr. J. B. Rhine e o seu livro New World of the Mind, lançado pela Editorial Paidos, de Buenos Aires, sob o título: El Nuevo Mundo de la Mente, onde o autor afirma, categoricamente: "El tipo de experiência que más lhama la aténcion, es aquel en que la intención que se halla detras del efecto producido es tan peculiarmente la de uma personalidad fallecida que no es razonable atribuir la acción a ningún outro origen". O Prof. Deolindo Amorim, beletrista baiano (de saudosa memória0 reporta-se à orientação seguida pelo Instituto de parapsicologia de Buenos Aires, Argentina, com base nas conclusões de J. Banks Rhine, no livro supracitado: "1) Os fenômenos parapsicológicos evidenciam que existe no homem o fato espiritual; 2) As provas de que o homem é algo mais do que um ente material vêm reafirmar a base de todas as doutrinas religiosas, isto é, a sua natureza espiritual; 3) As experiências de percepção extrasensorial demonstram que a mente
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