05 novembro 2009

A FALANGE DO CONSOLADOR

Desde a promessa de Jesus, no Evangelho de João, até a vinda do Consolador, podemos ver, através da História, o trabalho bimilenar de preparação que se realizou, para o seu cumprimento. Bastaria isso para nos mostrar a importância daquele momento em que o Espírito da Verdade se identificou para o Prof. Rivail. Após dois mil anos de fermentação histórica, de doloroso amadurecimento do homem, de criminosas deformações da mensagem cristã, afinal se tornava possível o restabelecimento dos ensinos fundamentais em sua pureza primitiva. De um lado, o Espírito da Verdade se apresentava aos homens, à frente de elevadas entidades espirituais, que voltavam à Terra para completar a obra do Cristo; de outro lado, Allan Kardec se colocava a postos, à frente de criaturas espiritualizadas, dispostas a colaborarem na imensa tarefa. O Céu e a Terra se encontravam e se davam as mãos. A Falange do Consolador não era apenas uma graça que descia do alto, mas também uma equipe de trabalhadores humanos, que se elevava para recebê-la.
A própria intimidade, logo estabelecida entre o Espírito da Verdade e Allan Kardec, as relações afetivas que se desenvolveram entre ambos, prolongando-se na consolidação de uma profunda confiança espiritual, através de quinze anos de intensa atividade, é suficiente para mostrar-nos quanto se acham integrados no mesmo esforço, para a consecução do mesmo objetivo. Se o Espírito da Verdade comandava, por assim dizer, as atividades no plano espiritual, Allan Kardec fazia o mesmo no plano material. A falange do consolador se apresentava, portanto, como aquele grande exército espiritual, de que nos fala Conan Doyle, que tinha à frente uma turma de batedores. Desta vez, porém, os batedores estavam encarnados, constituíam a ponta-de-lança, a vanguarda terrena. E seu chefe, seu comandante seu orientador, era o Prof. Rivail, um homem de cinqüenta anos de idade, largamente experimentado, duramente provado, intensamente preparado para a grande missão. Somente ele, com o discernimento, a serenidade, a acuidade espiritual, o desprendimento, a isenção de ânimo, a coragem e a profunda cultura que o caracterizavam, podia colocar-se à frente da equipe que enfrentaria o "velho mundo", eriçado de preconceito e ambições, para fazer nascer entre os homens a alvorada de um "mundo novo", irradiante de compreensão e de amor.
As pessoas, que dotadas de um certa cultura, entusiasmam-se hoje com a possibilidade da época, e pretendem reformar a obra de Kardec, refundi-la, ou mesmo substituí-la por suas elucubrações pessoais ou por instruções particulares que recebem de espíritos pseudo-sábios, deviam meditar um pouco sobre a grandeza daquele momento em que o Espírito da Verdade se revelou ao Prof. Rivail. O que então se cumpria era uma promessa de Cristo, através de todo um imenso processo de amadurecimento espiritual do homem terreno, Kardec era apenas o instrumento necessário à elaboração do Terceiro Testamento, da codificação da Terceira Revelação, e nunca, jamais, como ele mesmo acentuou, um Revelador, um Profeta, um Messias, ou ainda um Filósofo, que por si mesmo elaborasse um novo sistema de pensamento. De outro lado, o Espírito da Verdade não se dizia o detentor exclusivo da Verdade, nem o Revelador Espiritual, mas o orientador dos trabalhos de toda a Falange do Consolador.
Ao lado do Espírito da Verdade encontramos toda a pléiade de entidades espirituais que subscrevem a mensagem publicada nos "Prolegâmenos" de O Livro dos Espíritos, e as demais que aparecem como autoras das numerosas mensagens transcritas nesse livro bem como no Evangelho Segundo o Espiritismo e nas outras obras da codificação. Além dessas entidades, as que não transmitiram mensagens diretas, mas auxiliaram o advento do Espiritismo, em todo o mundo, através de operações invisíveis, mas tão importantes, ou mais ainda do que as visíveis e ostensivas. Ao lado de Allan Kardec, encontramos os seus colaboradores, desde os que foram incumbidos de desperta-lhe a atenção para os fenômenos, e a que já aludimos várias vezes, até os médiuns que mais diretamente o serviram, com as meninas Baudin, a Srta. Japhet, a Srta. Ermance Dufaux, Camile Flamarion, Victorien Sardou, Tiedeman-Manthese, Bemi Sausse, o editor Didier, Gabriel Delanne, os companheiros da Sociedade Espírita de Paris, aquela que foi sua companheira de vida e de lutas, Amélie Boudet, e tantos outros, inclusive os que, fora da França, em todas as partes do mundo, se dispuseram a auxiliá-lo na grande batalha.
Nem todos os componentes da Falange do Consolador, na sua vanguarda encarnada, exerceram funções de destaque. Entretanto, quantos trabalhadores humildes, que passaram despercebidos aos olhos humanos, brilham felizes nas constelações espirituais. À maneira do que se deu com a divulgação do Cristianismo, conhecemos um grupo de espíritos que desempenharam atividades evidentes e ocuparam posições de grande responsabilidade no trabalho missionário, mas desconhecemos milhares de criaturas que, por toda parte, executaram tarefas de importância fundamental, na obscuridade e na humildade. Da mesma maneira, não conhecemos a extensão dos trabalhos espirituais, desenvolvidos no espaço, e ignoramos os nomes, até mesmo, dos principais Espíritos a serviço da causa. Mas que importam os nomes, se cada qual, no espaço e na Terra, teve a sua recompensa na própria oportunidade de trabalho?
O importante é procurarmos compreender o que foi esse momento histórico e espiritual do advento do Consolador. A publicação de O Livro dos Espíritos, em primeira edição, a 18 de abril de 1857, em Paris, marca o primeiro impacto da Doutrina Espírita no século. Não é ainda o livro definitivo, em sua forma acabada, que só virá a tomar com a Segunda edição. Mas é o primeiro clarão da grande alvorada. Depois, virão O Livro dos Médiuns, em 1861, desenvolvendo e completando o livrinho Instruções Práticas; O Evangelho Segundo o Espiritismo, em 1864, tendo nessa primeira edição o título de "Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo", O Céu e o Inferno, em 1865; A Gênese, os Milagres e as Predições, Segundo O Espiritismo em 1868. Com esse livro, concluía a Codificação. No ano seguintes, a 31 de março, Allan Kardec deixaria o mundo, encerrando sua missão. Mas encerrando-a apenas no tocante aquela existência, pois o seu trabalho se prolongaria pelos séculos, e os próprios Espíritos o advertiram da necessidade de uma nova encarnação, para prosseguimento da obra iniciada.

J. Herculano Pires

2 comentários:

André disse...

Que fascinante esse texto. Tambén, só poderia ser de Herculano Pires, um dos pilares dos espiritismo no Brasil. Realmente, sem a codificação Kardequiana, não somos nada. A essencia do cristianismo está nela e com ela que devemos criar uma raiz sólida e edificante para o futuro do espiritismo. É o alicerce da humanidade.

Jorge disse...

Analisando o Espiritismo, na linguagem de grandes estudiosos e profundos conhecedores do Espiritismo, percebe-se que apenas estamos tangenciando a sua grandeza. Ainda não temos condições de avaliar a grandeza da nossa doutrina.
Creio que Herculano foi dos pouco, nos tempos modernos, a compreender o Espiritismo, de fato.

Amigo, valeu mais este post!!!

Abraços,

Jorge