Poucos são os registros acerca das características físicas de Allan Kardec. Raras as fotos. Mais conhecidas as que o mostram no vigor dos seus anos juvenis e a outra, na madureza, já então em sua fase espírita.
Chamado de "o bom senso encarnado", quais suas características psicológicas?
Miss Anna Blackwell(1), responsável pela tradução das obras de Allan Kardec para a língua inglesa, teve oportunidade de assim deixar registradas suas impressões a respeito do Codificador:
"Pessoalmente Allan Kardec era de estatura média. Compleição forte, com uma cabeça grande, redonda, maciça, feições bem marcadas olhos pardos, claros, mais se assemelhando a um alemão do que a um francês. Enérgico e perseverante, mas de temperamento calmo, cauteloso e não imaginoso até a frieza, incrédulo por natureza e por educação, pensador seguro e lógico, e eminentemente prático no pensamento e na ação. Era igualmente emancipado do misticismo e do entusiasmo... Grave, lento no falar, modesto nas maneiras, embora não lhe faltasse uma certa calma dignidade, resultante da seriedade e da segurança mental, que eram traços distintos de seu caráter. Nem provocava nem evitava a discussão mas nunca fazia voluntariamente observações sobre o assunto a que havia devotado toda a sua vida, recebia com afabilidade os inúmeros visitantes de toda a parte do mundo que vinham conversar com ele a respeito dos pontos de vista nos quais o reconheciam um expoente, respondendo a perguntas e objeções, explanando as dificuldades, e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava com liberdade e animação, de rosto ocasionalmente iluminado por um sorriso genial e agradável, conquanto tal fosse a sua habitual seriedade de conduta que nunca se lhe ouvia uma gargalhada.(...)"
Do mundo espiritual, Guaracy Paraná Vieira(3), assim teceu o perfil de Allan Kardec: " Portador de um caráter diamantino, a verdade nele transparecia no raciocínio e na ação.
Prudente, não se permitia avançar sem a segurança do êxito.
Em uma época de transição cultural e de afirmação da ciência, ele permaneceu fiel ao compromisso com Jesus, contribuindo para a libertação das criaturas, oferecendo-lhes os recursos do laboratório e do pensamento fixados nas bases morais do Evangelho.
Agredido, desculpou; caluniado, não revidou; perseguido, compreendeu.
No entanto, nunca se acovardou, e a sua foi uma existência digna, pura, trabalhadora, rica de experiências luminosas.
Não se permitindo o repouso antes do tempo, desencarnou sob o excesso de esforço, deixando incorruptível a Doutrina Espírita que lhe perpetua o nome, a vida e a missão.
Allan Kardec é o apóstolo dos tempos novos, de todos os tempos futuros, exemplo de herói discreto e de abnegado missionário de Jesus na Terra."
A outra face do codificador - O homem do lar
De sua parte, Léon Denis(2), que o conheceu e com ele teve contato pessoal por três vezes, assim relata a conferência de Allan Kardec em Tours:
"Para recebê-lo e ouvi-lo tínhamos alugado uma sala na rua Paul-Louis Courrier e solicitado à Prefeitura alvará para uma concentração, pois no tempo do Segundo Império qualquer reunião de mais de vinte pessoas era rigorosamente proibida por lei. No momento fixado para a reunião, o nosso pedido foi formalmente indeferido. Fui então encarregado de ficar na porta do local, avisar os convidados de que a reunião tinha sido transferida para a Spirite-Ville, na casa do Sr. Rebondin, rua do Sentier, onde a assembléia iria realizar-se no jardim.
Éramos mais ou menos trezentos ouvintes, de pé, apinhados sob as árvores, pisando nos canteiros do nosso hospedeiro. Sob a luz das estrelas, elevava-se a voz grave e suave de Allan Kardec, e a sua fisionomia meditativa, iluminada por pequena lâmpada colocada sobre uma mesinha, no centro do jardim, assumia aspecto fantástico.(...)
No dia seguinte, voltei à Spirite-Ville para visitar o Mestre. Encontrei-o de pé sobre pequeno banco, junto a uma grande cerejeira, a colher frutos que atirava à Sra. Allan Kardec. Era uma cena bucólica, contrastando alegremente com as suas graves preocupações."
1. Doyle, Arthur Conan. História do Espiritismo. Cap. 21
2. Luce, Gaston. Léon Denis, vida e obra. pt. 1ª Cap. I
3. Franco, Divaldo Pereira. Perfis da vida. Cap. 1
(Fonte: Jornal Mundo Espírita )
Nenhum comentário:
Postar um comentário