23 março 2011

TESE DE DOUTORADO SOBRE MEDIUNIDADE

Acompanhando as pesquisas que dizem respeito a mediunidade, encontramos nos registros da USP, a Tese de Doutorado do médico psiquiatra Alexander Moreira de Almeida, defendida no dia 22/fevereiro/2005.

Médiuns têm perfil diferente daquele apresentado na literatura científica

Estudo com 115 médiuns kardecistas de São Paulo indica que a maioria possui alto nível sócio educacional, perfil que se enquadra no último censo do IBGE. Segundo a pesquisa, eles não apresentam problemas mentais.

Na literatura científica, muitas vezes os médiuns (que se comunicam com espíritos) são descritos como pessoas de baixa escolaridade e renda. Sua mediunidade deve ser entendida como um "mecanismo de defesa contra as opressões sociais", ou como manifestação de algum quadro dissociativo ou psicótico.

No entanto, um estudo realizado pelo médico psiquiatra Alexander Moreira de Almeida com médiuns espíritas da cidade de São Paulo mostrou um perfil diferente: os médiuns apresentaram um alto nível socioeducacional e uma prevalência de transtornos mentais menor do que a encontrada na população em geral.

Dr. Almeida constatou que:

46,5% das pessoas tinham curso superior,

76,5% eram mulheres,

menos de 3% estavam desempregados,

e a idade média era de 48 anos.

A maioria era espírita há mais de 16 anos, vieram de famílias não-espíritas e as vivências mediúnicas começaram na infância.

"Esse perfil sociodemográfico se encaixa no último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra um crescimento da proporção de espíritas conforme aumenta a escolaridade da população", comenta o psiquiatra, que apresentou sua tese de doutorado à Faculdade de Medicina (FMUSP), com orientação do professor Francisco Lotufo Neto.

Os participantes do estudo atuam em nove centros espíritas kardecistas da Capital, pertencentes à Aliança Espírita Evangélica. O médico aplicou um questionário sóciodemográfico a 115 médiuns antes e depois das sessões espíritas. Eles também responderam a questões referentes à atividade mediúnica. Dr. Almeida ainda utilizou os questionários SRQ (Self-ReportPsychiatric Screening Questionnaire), que rastreia a presença de transtornos mentais, e o EAS (Escala de Adequação Social), que mostra como a pessoa se relaciona em sociedade.

A partir dos resultados foram selecionados 24 médiuns. Eles foram analisados pelo SCAN (Schedules for Clinical Assessment in Neuropsychiatry), um tipo de entrevista psiquiátrica padrão e pelo DDIS (Dissociative Disorders Interview Schedule), um questionário que detecta transtornos dissociativos (quando uma parte da mente funciona de forma independente). "É nessa categoria que os transes mediúnicos são habitualmente encaixados", explica o médico.

Transes X esquizofrenia
A escala DDIS investiga a presença de 11 sintomas de primeira ordem para o diagnóstico de esquizofrenia - vozes dialogando na sua cabeça, vozes comentando as suas ações, ter suas ações produzidas ou controladas por alguém ou algo fora de você, entre outros. "Os médiuns apresentaram, em média, quatro deles, mas a presença dos sintomas não indicou a existência de nenhuma doença mental", afirma. "Além disso, eles também apresentaram uma boa adequação social e demonstraram ter uma saúde mental melhor que a da população em geral". Não houve correlação entre freqüência de atividade mediúnica e problemas mentais ou desajuste social.

O médico ressalva que os resultados da pesquisa se referem especificamente a médiuns em atividades regulares em centros espíritas. "Para eles trabalharem nos centros são necessários dois anos de cursos, além da participação semanal nas reuniões mediúnicas", afirma.

Dr. Almeida é membro do Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos (Neper) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. O núcleo tem como objetivo estudar as questões religiosas e espirituais segundo o enfoque científico, sem vínculo com nenhuma corrente filosófica ou religiosa.

"Durante muito tempo a Psiquiatria encarou a mediunidade como um transtorno mental", conta. "Só a partir das décadas de 50 e 60 é que houve uma mudança de mentalidade, e essas manifestações passaram a ser vistas como sendo não-patológicas quando vivenciadas dentro de uma religião." De acordo com Dr. Almeida, o último censo do IBGE mostrou que o espiritismo ocupa a quarta posição entre as religiões praticadas no Brasil, país com a maior população espírita do mundo. A tese está disponível para consultas no Portal Conhecimento.

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