13 abril 2010

PALIGENESIA ÉTICA E DIALÉTICA


O Prof. Humberto Mariotti, na sua obra “Parapsicologia e Materialismo Histórico”, que:

“Se o Homem continuar pensando em sua própria finitude, não há dúvida que a civilização terminará na mais terrível das catástrofes espirituais. Porque, se o homem-que-morre é quem deve reger o desenvolvimento humano, tudo será relativo e tenderá a malograr com a idéia do nada... O homem finito, com seus afetos e aspirações, resultará em tragédia e fatalidade”.

Contra esse absurdo, só o ensino e a idéia da doutrina palingenésica podem, realmente, descortinar ao homem seu futuro além dos limites da morte, substituindo a visão do nada pela imortalidade e do progresso infinito.

Com base nesta transcendental e ética perspectiva, cunhou-se o admirável aforismo insculpido no frontispício do dólmn de Allan Kardec, no histórico Cemitério Pére-Lachaise, em Paris:

“Naitre, Mourir, Renaitre encore et progresser sans cesse, telle est la loi”.

Destarte, sentencia, por sua vez, o Dr. Gustave Geley:

“As tumbas deixam de ser tumbas: são asilos passageiros para o fim da jornada das ilusões. E, assim como se desvanece, pela idéia palingenésica, o caráter fúnebre da morte, também se implode o monumento de injustiça edificado pelo evolucionismo clássico. Já não há, na evolução, sacrificados e privilegiados. Todos os esforços individuais e coletivos, todos os sofrimentos e amarguras desembocarão na realização da justiça e do bem; mas o bem e a justiça para todos, porque todos teremos contribuído para a justiça e o bem”.

Deve-se observar que as concepções geleyanas se identificam com a dialética de Hegel, filósofo idealista do século XIX. Para o célebre autor de “Fenomenologia do Espírito”, os fenômenos materiais outra coisa não são que objetivações da idéia, e o mundo subjetivo se desenvolve por uma lei de contradição que se opera através de uma tese, de uma síntese (ou de uma conciliação). Em princípio, a filosofia hegeliana corresponde ao mesmo processo da filosofia palingenésica do Dr. Gustave Geley. Com efeito: o Absoluto de Hegel e o Dinamopsiquismo do Metapsiquista francês, definem na mesma entidade, e as três fases da dialética de Hegel correspondem, respectivamente, à trilogia do nascer, morrer e renascer.

Deve-se concluir que a evolução, como é brilhantemente concebida, não tem o poder de mudar a essencialidade do Ser, supõe ao contrário, uma causalidade essencial, sem a qual não se admite nenhum progresso. Diria a propósito o pensador brasileiro Jacob H. Neto:

“O movimento e o temo não podem criar, por si sós, o que não existe – só envolve o que tem existência potencialmente ou em desenvolvimento”.

Evidentemente, não se passa do não-ser ao ser, nem da quantidade a qualidade, senão em virtude de uma existência e de uma qualidade análogas anteriores; de causalidade substancial que as compreenda e as modifique. Não se pode conceber nenhuma transformação, nenhuma mudança morfológica fundamental, sem uma causa essencial persistente, sem continuidade biopsíquica, sem um elemento organizador e diretor da matéria que leve em si mesmo, potencialmente as possibilidades de suas metamorfoses.

Entretanto, a continuidade biopsíquica não implica a continuidade morfológica: as formas passam e desaparecem mas a vida psíquica permanece. É ela que envolvo, emprestando pela reencarnação, progresso e perfeição às formas que cria. As espécies, tanto quanto os indivíduos, podem aparentemente, desaparecer e deixar, nos fósseis, os vestígios de sua existência; mas a vida psíquica que as animava se projeta a outras dimensões para, mais adiante, animar espécies e indivíduos, sem perder sua e essencialidade psicodinâmica.

Em suma: tudo é transito para alcançar formas e qualidades novas; tudo está em perfeito vir-a-ser, sem ser jamais algo definitivamente concluído. Observe-se porém: o que muda e se transforma continuamente, através do processo palingenésico, são as formas e qualidades, e, não, a essência!

Não há, em verdade, descontínuo na evolução biopsíquica. Só a aparência das formas materiais transitórias pode fazer supor tal descontinuidade. Apenas os niilistas, para quem essas formas em si mesmas e suas transformações constituem a única realidade, podem negar a continuidade da vida psíquica, isto é, a sobrevivência do ser após a falência do corpo e sua reencarnação.

Heráclito de Éfeso, que se afirma ter sido o primeiro filósofo a pensar dialeticamente, dizia:

“Tudo passa, nada é, tudo chegar a ser; nenhum homem se banha mais de uma vez nas mesmas águas de um rio...”

Carlos Bernardo Loureiro


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