Nos idos de 1937, a “Reveu Spirite” iniciava a publicação de uma série de artigos de autoria do Professor Ernesto Bozzano sob o seguinte e sugestivo título “GEMAS, AMULETOS E TALISMÃS”, traduzido pela FEB e transcrito em “reformador” daquele mesmo ano.
No “caput” do artigo, o Prof. Bozzano, confessa que, por longo tempo, hesitou antes que resolvesse tratar do assunto. Ao decidir-se a discorrer sobre o especioso tema, acreditava que as lendas e superstições que o alimentava através dos séculos escondiam inconfundíveis verdades. Afirmaria, então, o nobre pesquisador italiano: “Tudo, em suma, nos induz a supor que a imaginação dos povos jamais criou uma lenda que não tivesse por fundamento uma certa verdade.” E sentencia – “Ora, pois que nenhuma dúvida há de que uma parcela de verdade se encontre em todas as lendas e crenças populares, é reconhecer-se que deve haver alguma coisa de verídico na misteriosa virtude, bem ou malfazeja que foi atribuída certas gemas e aos amuletos e talismãs, aos quais conviria mesmo acrescentar as ‘relíquias’ dos santos”.
Em seguida, o Professor Bozzano reporta-se às experiências desenvolvidas às expensas da extraordinária faculdade mediúnica de Reverendo Willian Stainton Moses, baseado na narrativa da Sra. Stanhope Speer.
São exemplos de “trazimentos”, ou mais exatamente das misteriosas criações de gemas, pela personalidade mediúnica do “Mentor”.
“Que as gemas em questão eram ‘criações espíritas’ e não ‘trazimentos’ – esclarece Bozzano – as personalidades mediúnicas constantemente o afirmaram”. Essas pedras preciosas possuíam especiais propriedades. A safira que o Espírito “Imperator” trouxe a Stainton Moses, com o fim de lhe facultar uma proteção espiritual, possuía virtudes curativas.
Quando Moses estava doente, a safira se embaciava e perdia toda a transparência e assim permanecia até a cura completa.
Em seguida, Bozzano passa a palavra a Sra. Stanhope Speer, que a relata, o seguinte:
“(...) vimos quase imediatamente formar-se uma auréola de luz em torno do grupo de experimentadores enquanto perfumes deliciosos se espalhavam pela sala. Pouco depois, Franklin se manifestou, dando instruções a cerca das gemas trazidas antes e anunciando que aquela noite com o auxílio de inúmeros Espíritos, iria constituir e trazer uma safira para o médium. Previniu-nos de que se tratava de uma jóia muito preciosa, como igual não existia no mundo. Os Espíritos-Guias a tinham saturado de diferentes espécies de influências favoráveis, que iriam fazer muito bem ao médium, assim como do ponto de vista espiritual, como do ponto de vista físico... No fim da sessão deparamos com belíssima gema prometida a Stainton Moses. Era de viva cor azul, mas ao mesmo tempo, de puríssima água, luminosa. Os Espíritos-Guias previniram a Stainton Moses que a devia guardar como tesouro, com o maior cuidado e tê-la sempre consigo. Notamos que, quase sempre, quando Stainton Moses não estava de boa saúde, a safira se embaciava e mudava de cor”.
Em seguida, Stainton Moses relata que fora na Regent Street (famosa rua de Londres), à casa dos joalheiros “Leroy and Son”, para mandar montar num anel a safira. Quando os joalheiros lhe entregaram o anel, reuniu-se com Espíritos, tendo à frente o “Imperator”, seu guia, afim de expurgar a jóia das ‘influências’ contrárias que absorvera passando por tantas mãos. Este relato com detalhes, pode ser encontrado nos “Proceedings” (Resenhas) das Sociedades de Pesquisas Psíquicas, de Londres, volume XI.
Na Revista Light, 1883, porém vêm contados pela Sra. Speer, os trâmites da sessão a que refere o médium Stainton Moses:
“Haviam-nos dito que mandássemos montar as gemas que tínhamos recebido em outros tantos anéis que traríamos constantemente no dedo. Essa noite pediram-nos que as puséssemos todas a mesa para que pudessem saturar de influências espirituais. O Sr. Moses colocou seu anel no meio da mesa, em um lenço de seda. Logo depois, vimos formar em torno do grupo o habitual luminoso, enquanto que uma rápida série de pancadas era dada ao redor da jóia. Manifestou-se, além do “Imperator”, o espírito Benjamim Franklin, anunciando que o anel tinha sido purificado das influências contrárias que absorvera no curso do trabalho de montagem. Depois disso, um orvalho abundantíssimo de deliciosos perfumes começou a cair sobre os anéis e sobre nós mesmos. O lenço que continha o anel de Stainton Moses ficou literalmente ensopado desse orvalho e lhe conservou o perfume por muitos dias. “Imperator” se manifestou, por grandes benefícios que havíamos de tirar deles, sob diferentes aspectos, pois que os Espíritos-Guias reconheceriam sempre e em todos os lugares sua ‘auras’ e não deixariam de afastar de nós o que nos pudesse prejudicar, cercando-nos de influências propiciais... Quando “Imperator” acabou de falar, o médium despertou sobressaltado chegando a perceber ainda a majestosa figura do Guia”.
Após essa sessão de purificação e de saturação de energias espirituais, Stainton Moses evoca o Espírito –Guia, com o qual se comunicava através da escrita automática:
“Moses – Desejo comunicar-me com Benjamim Franklin.
“Espírito-Guia – a propósito de que?
“Moses – ele me trouxe uma pedra preciosa e eu queria obter explicações sobre isso.
“Benjamim Franklin – A gema que te foi trazida encerra virtudes magnéticas especiais, que nós lhe transfundimos.
“Moses – infinitamente reconhecido vos sou pela dádiva que me fizeste.
O joalheiro a quem levei para mandar montá-la num anel ficou maravilhado e declarou que jamais vira pedra preciosa de tal beleza. Agora diz-me: esta safira é de origem terrestre? Ou foi criada por vós outros? Será coisa diferente do que temos neste mundo?
“Benjamim Franklin – É diferente das safiras terrenas e muito preciosa. É de valor inestimável, dado que nenhum existe igual no vosso mundo.
O joalheiro não podia notar as diferenças que há entre a vossa safira e as que conhece, porque a pedra que te dei tem a aparência e traços característicos das safiras da terra. Somente pela visão espiritual se chega a distingui-la das outras.
“Moses – Quão grande é a ignorância do mundo, acerca desses mistérios!
“Benjamim Franklin – E assim continuará enquanto se conservar tão material nas suas aspirações. A grande maioria dos homens é excessivamente mundana, vulgar, para perceber as influências espirituais de natureza sutil e apurada... Gemas, perfumes e música são os três grandes veículos da influência espiritual.
O Prof. Ernesto Bozzano retoma a palavra e oferece os seguintes esclarecimentos:
“Os trazimentos de gemas que Stainton Moses obteve, constituíram ‘criações mediúnicas’ e, não ‘trazimentos’ propriamente ditos. Também farei notar que, estivessem em causa jóias terrenas subtraídas a seus proprietários por aquelas personalidades, os jornais da época não teriam deixado de falar de uma série de furtos misteriosos de pedrarias de grande valor, realizadas em joalherias ou em casas particulares.
“Não será inútil previamente, desde já, às insinuações de jocoso que entendesse de levantar a hipótese de que o Reverendo Stainton Moses comprava as jóias que surgiram nos cursos das sessões. Respondo, fazendo notar que o Sr. Moses estava longe de ser rico.
Viveu sempre às expensas dos modestos ganhos que tirava do seu trabalho”.
Em seguida, o Prof. Bozzano, pretendendo ao que parece, lançar luzes sobre o inusitado fenômeno, esclarece:
“Os trazimentos de pedras-amuletos que aqui estudamos, apresentam modalidades de manifestação que levo a supor que alguma outra parcela de verdade, de categoria muito diversa, se deveria encontrar oculta e disfarçada no amontoado de superstições que os séculos nos transmitiram”.
E prossegue:
“O fenômeno é de natureza a não surpreender os que têm conhecimento da fenomenologia metapsíquica, dado que o fato de uma saturação fluídica dos objetos, alheia aos próprios objetos, está cientificamente provada pela existência de psicometria, nas quais a absorção da ‘aura’ de um indivíduo por objeto qualquer que ele trouxe longamente consigo, constitui o fundamento das experiências em questão. E estes – repito-o – pertencem doravante aos fenômenos metapsíquicos comprovados”.
É realmente sabido que as experiências de psicometria demonstram que a matéria, em geral, é susceptível de registrar as vibrações emanantes dos acontecimentos que perto dela se desenrolam, tornando aptos os sensitivos psicômetros revelar os seus trâmites muita vez com surpreendentes detalhes. É assim eu um pequeno fragmento de fóssil da época quaternária pode revelar um episódio da história geológica e paleontológica do seu tempo, tal como se dá no caso de um objeto usado durante muitos anos por um vivo ou um morto, o qual revela ao sensitivo parte dos acontecimentos que o seu dono viveu.
Segue-se que, em princípio, as experiências de psicometria provam a existência de qualidade benéfica ou maléfica registradas e conservadas nas gemas, amuletos e talismãs, graças à intervenção de uma vontade exterior. Fora, todavia mister que esta se caracterizasse por um poder excepcional de irradiação, combinado com uma extraordinária energia volitiva, acrescendo que os objetos assim influenciados teriam de ser eficazes unicamente nos casos de percipientes ultra-sensíveis. A grande maioria dos vivos se conservaria insensível a essa influência. É, aliás o que acontece nas experiências de psicometria, em que somente alguns raros sensitivos chegam a perceber as influências existentes nos objetos.
Essas circunstâncias são de natureza as proporções modestas a eficácia benéfica ou maléfica dos artefatos usados como amuletos e talismãs. Nas instruções dadas pelo Espírito-Guia de Stainton Moses sobre a maneira que devia ser empregada a jóia-amuleto, depara-se com uma observação que limita a sua ação taumatúrgica. Destarte, as propriedades curativas da influência contida na gema mostrou-se especialmente eficazes (no caso de Stainton Moses) por o seu o mesmo sensitivo, do contrário, não seriam experimentados quaisquer efeitos curativos. Entretanto, deve-se ressaltar, à guisa de exceção, os casos que têm com causa um fato auto-sugestivo determinado pela fé cega nas virtudes taumatúrgicas do objeto ou eficácia das práticas religiosas.
O Prof. Bozzano conclui seus arrazoados observando que não se poderia racionalmente, por em dúvida a origem espirítica dos trazimentos de pedras-amuletos obtidos nas experiências de Stainton Moses. Não há no mundo corpóreo pedras preciosas que se embaciem e mudem de cor, quando o respectivo dono está doente. Despontam no particular, as seguintes perguntas: não se podendo negar, no caso de que se trata a existência, nas pedras, de uma situação fluídica de origem exterior, qual seria então a origem dessa influência? Se não é devida à vontade das personalidades espirituais que haviam criado as jóias, qual poderia ser o desconhecido vivo que transmitia a sua influência taumatúrgica? Não tem resposta esta pergunta, a menos que se busque refúgio, ainda uma vez, na cômoda hipótese de subconsciência, que houvera tirado do nada as pedras preciosas para em seguida, as saturar de influência benéficas extraídas de si mesma e que serviriam para curar... a ela mesma e aos outros. É evidente que tudo isso raia ao absurdo. Os que com isso se contentam têm liberdade de fazê-lo, mas com a condição de não falarem em nome de pesquisas científicas, e, sim, em homenagem ao direito de soltarem os freios à fantasia.
Há ainda que destacar: é que uma regra elementar das pesquisas científicas exige que nunca se chegue a conclusões de origem geral com fundamento na análise parcial de um só grupo episódico, destacado do conjunto dos fatos que formam, com ele, uma coisa indivisível. Ora, o fenômeno de trazimento de pedras preciosas mais não é do que um grupo episódico pertencente a um grupo prodigioso de outros grupos episódicos de ordem física e intelectual que, considerado coletivamente, forma um feixe tal de provas indutivas e coletivas, convergentes para uma explicação única – a interpretação espirítica dos fatos – nenhuma dúvida fica sobre a legitimidade dessa interpretação. Unicamente para se chegar a tais conclusões, é preciso haver estudado, analisado, comparado o conteúdo de uma enorme documentação concernente às experiências de que se trata. Os relatos da Sra. Speer a uma série inteira de sessões experimentais, que duravam nove anos, apareceu na revista LIGHT, entre os anos de 1982 à 1983. Nunca foram reunidos em volume, nem mesmo na Inglaterra, e hoje não há como encontrá-los. Contudo, o Prof. Bozzano possuía a coleção completa desses relatos publicados na LIGHT, o que lhe possibilitada emitir juízo com conhecimento de causa. Nessas condições, é manifesto que, se houvesse outros pesquisadores que desejassem a seu turno, julgar destes fatos, pronunciando contra a origem espírita das pedras – tirando da análise parcial de um só grupo episódico conclusões de ordem geral – esses tais cometeriam, pelo menos, um erro imperdoável de metodologia científica.
O Prof. Bozzano chega a esta conclusão: “os famosos trazimentos de gemas-amuletos que se realizavam com o auxílio da mediunidade do Reverendo Stainton Moses, não contribuem apenas para pôr em foco as parcelas de verdade existentes no amontoado informe de superstições que se aglomeram em torno da história dos amuletos e dos talismãs; não servem unicamente para clarear este assunto tão obscuro, legitimando-o em pequena parte e fixando-lhe em limites muitos estreitos a possível influência. Concorrem, também, de maneira eficaz, para demonstrar a intervenção incontestável de entidades espirituais nas manifestações a que nos referimos, o que eqüivale a lhe entender o alcance a todas as grandes manifestações do mesmo gênero”.
Deve-se louvar, sem embargo, a atitude corajosa do Prof. Bozzano em tratar de um assunto que, no campo do psiquismo, se conserva menos elucidado, senão em profunda obscuridade, razão, naturalmente, porque também é o que dá lugar a opiniões ou crenças mais extremadas, que vão desde a negação absoluta, até a aceitação e sem reservas de todas as lendas que se têm divulgado em torno da eficácia desses objetos a que, vai para muitos séculos, se atribuem as mais variadas e portentosas virtudes. Mesmo os que se dedicam ao estudo a análise da fenomenologia espírita, diversificam-se nos seus pareceres sobre o momentoso assunto. Aliás, este é um dos pontos menos explícitos se mostraram os Espírito da Codificação, nas revelações e esclarecimentos que transmitiram ao Mestre Allan Kardec, o qual também pouco se demorou em comentá-lo na obra básica do Espiritismo – “O Livro dos Espíritos”.
Eis aí um campo vastíssimo que se abre à pesquisa efetivamente inconclusa, a despeito das experiências com o notável médium Stainton Moses...
Os pesquisadores interessados poderão encontrar vasto material sobre a PSICOMETRIA nas obras a seguir assinaladas:
Psychométrie, L. Deinhard, Paris;
A Manual of Psychometriy: The Dawn of a New Civilization, Boston, 1886, J. Rhodes Buchanan (o pioneiro no campo de pesquisas psicométricas);
Traité de Metapsychique, Charles Richet, Paris, 1922;
Nature’s Secret or Psychometric Researchs – W. Dentos e Elisabeth Denton, Londres;
The Soul of Things – W. Denton, Londres;
Enquête Sur des Cas de Psychométrie, La Vue à Distance Dans le Temps te Dans L’espace, Edmond Duchâtel, com prefácio de J. Maxwell, Paris, 1910;
Seeing the Invisible: Pratical Studies in Psychometry, thought transference, telepaphy and allied phenommena, James Cootes, Londres, 1909.
Carlos Bernardo Loureiro
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