Dois americanos são as estrelas de uma nova especialização da advocacia:
processos contra os abusos sexuaiscometidos por padres
Cena do filme Má Educação, do espanhol Pedro Almodóvar, que trata da pedofilia entre o clero: problema mundial
Nada demonstra melhor as agruras pelas quais passa a Igreja Católica do que o surgimento de uma nova e bastante rentável especialidade na advocacia americana: a representação de vítimas de abuso sexual cometido por padres. A maior estrela da categoria é Jeff Anderson, advogado em Saint Paul, cidade do Meio-Oeste, com mais de 1.000 clientes e 150 milhões de dólares em indenizações recebidas só da Igreja Católica – sim, ele também já processou pelo mesmo motivo outras confissões religiosas –, dos quais embolsou 60 milhões de dólares a título de honorários. Outro advogado bastante requisitado é o nova-iorquino John Aretakis, com 250 clientes. Como muitos de seus casos acabam em acordo e vêm acompanhados de uma cláusula de sigilo, ele não divulga o valor das indenizações. Contudo, em seu primeiro caso, em 1996, ele tirou 1 milhão de dólares da diocese de Albany, no estado de Nova York. De modo geral, as indenizações ficam entre 50.000 e 150 000 dólares.
A pedofilia é o crime que está na base da quase totalidade dos processos. São avanços de padres contra crianças e adolescentes, quase sempre do sexo masculino. Os escândalos envolvendo padres pedófilos varrem sacristias da França à Irlanda, do México ao Brasil. Mas por várias razões os Estados Unidos são um caso especial. Uma é a enorme quantidade de casos denunciados. Pelo menos 4.000 americanos já se apresentaram à Justiça na condição de vítimas de predadores sexuais camuflados por vestes sacerdotais. Outra razão é a tenacidade bem americana com que as vítimas levam seus casos à Justiça e exigem compensações. Uma terceira é a presteza com que a cúpula da Igreja Católica nos Estados Unidos recorreu ao talão de cheques para compensar os queixosos, pelos menos até os pedidos de indenização se tornarem uma avalanche no início desta década.
O acordo judicial nem sempre é capaz de apaziguar o sofrimento. O que mais horroriza os advogados não é o relato de como o sacerdote se aproveitou da autoridade conferida pela batina para tirar proveito da vulnerabilidade de meninos e adolescentes – e sim a quantidade de vítimas que se suicida, incapaz de conviver com a memória do abuso sofrido na infância. "Tive clientes que se mataram enquanto seu processo ainda estava em curso", disse Aretakis a VEJA. Na semana passada, um dos clientes de Anderson cometeu suicídio. Ambos os advogados sustentam que seus processos – e a sangria que provocam nos cofres da Igreja – têm o saudável efeito de impedir que outras crianças e adolescentes sejam molestados pelo clero. "Nós temos o poder da verdade e eles têm o dinheiro", costuma dizer Anderson a seus clientes.
"Luteranos, mórmons, testemunhas-de-jeová, evangélicos... Diga-me o nome de qualquer grupo religioso e eu provavelmente já o processei", disse Anderson a VEJA. Mas a Igreja Católica é, de longe, o principal alvo de seu escritório. O primeiro processo, de 1983, rendeu indenização de 1,5 milhão de dólares, paga pela arquidiocese de Minneapolis pelos crimes cometidos por um padre que havia se aproveitado da amizade e da confiança de uma família de sua paróquia para abusar sexualmente de uma criança. Quando se deram conta do que estava ocorrendo, os pais do menino foram se queixar ao bispo. Em lugar de manifestar surpresa, o prelado puxou do talão de cheques. Indignado, o casal recusou o dinheiro e procurou Anderson para que a punição fosse exemplar.
Nos Estados Unidos, os crimes de abuso sexual contra crianças têm prazo de prescrição na maioria dos estados. Como as vítimas em geral só tomam coragem para falar sobre o assunto quando já são adultas, os advogados têm dificuldade para levar os processos adiante. Uma saída é comprovar em juízo que os superiores do padre pedófilo tinham conhecimento e esconderam da polícia e da sociedade o seu comportamento criminoso. Dessa forma, o processo é movido contra a Igreja Católica, sem risco de prescrição. "A exigência do celibato, a discrição que envolve os negócios da Igreja e a preocupação dos bispos com a própria carreira criaram uma cultura do silêncio", avalia Anderson. Seu caso mais famoso, contra o padre James Porter, é um exemplo clássico de acobertamento por seus pares. O comportamento sexual de Porter era conhecido de seus superiores. Durante duas décadas, eles reagiram às denúncias de abuso sexual transferindo o sacerdote de um estado para outro – o que ajudou a aumentar o número de vítimas.
A sangria nos cofres e a humilhação pública obrigaram a Igreja Católica a rever seu comportamento. "Desde 2002, quando houve uma onda de denúncias envolvendo padres, os bispos passaram a cooperar mais com a polícia, informando as ocorrências", disse a VEJA o padre John Allan Loftus, professor de psicologia para o clero do Boston College. Quanto aos casos antigos, bem, precisam ser discutidos com os advogados. Dono de um escritório que emprega cinco advogados, luterano de formação, casado e pai de seis filhos (três deles do segundo casamento), Jeff Anderson já deu mais importância à bebida do que à família. Parou de beber há dez anos, quando percebeu que era hora de viver de acordo com os valores morais que defendia nos tribunais. Envolveu-se de tal forma com o drama dos clientes que chegou a considerar a hipótese de ele próprio ter sido violentado na infância. Recorreu a centenas de horas de psicoterapia em busca de alguma recordação escondida na memória – e nada.
John Aretakis era um advogado especializado em processos por erro médico ou acidentes quando, em 1996, aceitou o caso de um ex-colega de escola recusado por outros advogados. Dos 11 aos 17 anos de idade, o queixoso fora forçado quase diariamente a fazer sexo com um padre, em Albany, a capital do estado de Nova York. Como o crime de abuso sexual já tinha prescrito, Aretakis ameaçou processar diretamente a diocese de Albany e obteve uma indenização. Seu mais recente cliente é um padre que acusa o bispo local de encobrir casos de abuso sexual de crianças para não expor a própria atividade homossexual. Um grego ortodoxo que raramente vai à missa, Aretakis trabalha sozinho em um escritório de Manhattan (nem sequer tem secretária) e, vez ou outra, participa de protestos diante da diocese de Albany, o principal foco de seus processos. No início do ano, a diocese conseguiu uma liminar obrigando o advogado a manter uma distância de 90 metros de sua sede. Não é assim, evidentemente, que vai se livrar do caçador de pedófilos
fonte:VEJA on-line
é verdade!!! tá ai um dos crimes mais nojentos que pode-se cometer contra o ser humano - pedofilia
ResponderExcluirParabéns pela postagem amigo,e com disse o rapaz que me antecedeu este é um dos crimes que deveria ser punido com a pena de morte no meu modo de pensar.
ResponderExcluirInclusive estou preparando uma matéria em que um grande da igreja católica defende este ato.
Na verdade gostei de todas as suas matérias,parabéns pelo blog.
Um abraço e seja feliz.