11 janeiro 2009

JOSUÉ DE CASTRO: por um mundo sem fome

Eu não poderia deixar de falar aqui deste recifense arretado,um dos mais importantes intelectuais brasileiro.Infelizmente mais estudado e reconhecido fora do nosso país.Não posso deixar de falar nele pricipalmente por ter estudado e mapeado a fome no nosso país e por ele ter dado à fome a importância que ela tem , também para proporcionar ao leitor deste blog um belo e prazeroso encontro com esse gênio brasileiro.
Deste modo aos 38 anos de idade, Josué de Castro publica sua obra de maior repercussão, Geografia da fome, que veio a ser traduzida em mais de 25 idiomas. Este livro, de 1946, é uma referência fundamental no estudo do tema, e logo foi reconhecido com o Prêmio Pandiá Calógeras, da Associação Brasileira dos Escritores e com o Prêmio José Veríssimo, da Academia Brasileira de Letras. Assim, Josué explica o objetivo de seu trabalho:
"Neste nosso ensaio de natureza ecológica tentaremos, pois, analisar os hábitos alimentares dos diferentes grupos humanos, ligados a determinadas áreas geográficas, procurando, de um lado, descobrir as causas naturais e as causas sociais que condicionaram o seu tipo de alimentação, com suas falhas e defeitos característicos, e, de outro lado, procurando verificar até onde esses defeitos influenciam a estrutura econômico-social dos diferentes grupos estudados. Assim fazendo, acreditamos poder trazer alguma luz explicativa a inúmeros fenômenos de natureza social até hoje mal compreendidos por não terem sido levados na devida conta os seus fundamentos biológicos". O mapeamento do Brasil a partir de suas características alimentares deixou clara a trágica situação da fome no país, que não poderia mais ser atribuída a fenômenos naturais, mas a sistemas econômicos e sociais que poderiam ser transformados para o benefício da população.A área do sertão nordestino é caracterizada pelas secas periódicas que quando ocorrem levam seus habitantes ao limite da inanição. Esta área é denominada por Josué como área de fome epidêmica. Mais do que o clima, o maior problema é a falta de recursos, de meios de transporte e de políticas públicas para a região. Já na região da zona da mata nordestina e em grande parte do território brasileiro, a maior parte da população sofre de uma fome permanente, sofrendo carências na alimentação cotidiana. Denominando este tipo de fome como fome endêmica, Josué também demonstra como ela se manifesta ocultada por outras doenças que se instalam facilmente em organismos enfraquecidos. Ela se faz sentir nas doenças carenciais, tais como beribéri, a pelagra, o raquitismo, de modo muito mais sutil, por insuficiência de proteínas, minerais e vitaminas, que apenas se revelam por lassidão, irritabilidade, nervosismo ou falta de apetite. Se a falta total de alimentos constitui uma causa importante da mortalidade, o número é diminuto comparado às debilidades que o regime alimentar defeituoso provoca.Para explicar o quadro de um país de fome como o nosso e buscar ações para reverter este quadro, não é possível deixar de considerar o desequilíbrio causado pelo modelo de crescimento industrial exclusivo sem alterações na estrutura arcaica da agricultura, e pelo tipo de economia voltado para interesses estrangeiros desde a época do colonialismo até o atual neo-colonialismo do capital internacional.
"É mesmo esta a característica essencial do desenvolvimento econômico do tipo colonialista, bem diferente do desenvolvimento econômico autêntico de tipo nacionalista. O colonialismo promoveu pelo mundo um certa forma de progresso, mas sempre a serviço dos seus lucros exclusivos, ou quando muito associado a um pequeno número de nacionais privilegiados que se desinteressavam pelo futuro da nacionalidade, pelas aspirações políticas, sociais e culturais da maioria. Daí o desenvolvimento anômalo, setorial, limitado a certos setores mais rendosos, de maior atrativo para o capital especulativo, deixando no abandono outros setores básicos, indispensáveis ao verdadeiro progresso social".Com este importante trabalho, Josué de Castro demonstrou que era possível construir uma ciência que teria por objeto de estudo problemas específicos de países subdesenvolvidos e que fosse capaz de explicar a situação destes países sem recorrer aos mitos de inferioridade racial, de fatalismo ou de determinismo geográfico. E já apontava para a necessidade de transformar a estrutura agrária para aumentar a oferta de alimentos. A fome é um flagelo global e responsabilidade de cada um de nós segundo o ensinamento do Cristo.

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