25 junho 2011

POLTERGEIST AINDA UM MISTÉRIO ?


Karl W. Goldstein (Hernani Guimarães Andrade)

"Renascem muitas idéias que caíram; e cairão as que hoje estão em voga".
Horacio

Que vem a ser um poltergeist?

Não e fácil explicar o que seja um poltergeist (pronuncia-se poltergaist). Para ter-se uma idéia, daremos, mais adiante, alguns relatos sumaríssimos de fenômenos de poltergeist, extraídos dos arquivos do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofisicas - IBPP.

O vocábulo poltergeist e de origem alemã e composto por duas palavras germânicas: poltern = batedor, brincalhão, galhofeiro etc., e geist = espírito.

Esta designação e popular e originou-se da crença de que os fenômenos observados seriam provocados por espíritos de desencarna- dos, por duendes, demônios ou outros seres incorpóreos.

Modernamente, há uma apreciável parcela de parapsicólogos que atribui a determinadas pessoas vivas a origem dos fenômenos de poltergeist. Tais indivíduos, denominados epicentro, seriam dotados de excepcional faculdade psicogenética. Em certas ocasiões, essa faculdade se exaltaria em virtude de algum trauma emocional e extravasaria suas energias em forma de ação física sobre os objetos de suas adjacências.

Uma das características do poltergeist seria a repetição periódica dos mesmos fenômenos. Em razão disso , e tendo em vista a sua suposta causa psicogenética, os modernos parapsicólogos passaram a designar os fenômenos de poltergeist pela sigla RSPK, da expressão em inglês: "Recurrent Spontaneous Psychokinesis" (psicocinesia recorrente espontânea). Assim, eliminou-se a conotação metafísica, segundo os parapsicólogos ortodoxos, embutida no vocábulo popular poltergeist.

Não obstante, a palavra poltergeist ainda e muito usada para designar os referidos fenômenos, tal a sua popularização. Mas, para os parapsicólogos considerados ortodoxos, hodiernamente, o termo poltergeist significa RSPK (psicocinesia espontânea) e não a ação Espíritos brincalhões ou seres incorpóreos.

O poltergeist do Paraguai

Em 28 de julho de 1972, o periódico de noticias da colônia japonesa, Jornal Paulista, publicou uma reportagem do jornalista Kazunari Akaki, a respeito de um poltergeist em atividade no Paraguai, próximo a cidade brasileira de Ponta Porã. Os referidos fenômenos tiveram inicio em 1969 e vieram ressurgindo periodicamente ate julho de 1972, quando houve um novo e intenso surto de atividades. (Akaki, 1972).

Esse poltergeist manifestou-se no sitio do sr. Katsumi Okabe. Aquela propriedade media cerca de 100 hectares e estava localizada em solo paraguaio, distante aproximadamente 20 (vinte) quilômetros de Ponta Porã. Os fenômenos constituirá-se, inicialmente, em movimento, sobretudo "apports", de objetos os mais diversos. A natureza dos objetos transportados variava desde pedras de diferentes tamanhos, pneus de caminhão, pedaços de trilhos de aço, carrinhos de mão, rolos de arame, latas, garrafas etc., ate aves (dois papagaios que se achavam encerrados em gaiolas).

O poltergeist do Paraguai (como o designamos comumente) e um dos mais estranhos da nossa coleção. Suas características principais consistem no seguinte:

  1. Sua atividade quase não cessava, permanecendo praticamente dia e noite. Notava-se apenas redução irregular de suas atividades, por pequenos intervalos de tempo, durante os quais ocorriam algumas quedas de pedra, sumiços de objetos etc.
  2. A família do proprietário, sr. Katsumi Okabe, trabalhava no cultivo da terra, em plantação de tomates e outros tipos de hortaliças. As vezes os tomates e pedras eram apanhados e atirados nos trabalhadores. Um dos empregados foi atingido no pe por uma pedrada. O ferimento mostrou-se mais ou menos grave.
  3. Objetos pesados eram transportados de forma misteriosa do pavimento térreo para o superior do grande barracão onde dormiam os membros da família. A escada e a passagem que ligam os dois pavimentos são estreitas, dando apenas para caber uma pessoa. Entretanto, eram trasladados objetos grandes, bicicletas, rolos de malhas de arame, sacos de mantimentos, bujões de gás, macacos de caminhão e outros mais. Tais objetos sumiam do lugar ocupado no piso térreo e iam aparecer no cômodo superior, causando enorme trabalho para recolocá-los de novo nos antigos lugares, pois a passagem pela escada não era suficiente. Tornava-se necessário descê-los pelas janelas.

Quando o repórter do Jornal Paulista esteve naquele local, ele fez algumas experiências para verificar a autenticidade dos fenômenos. Entre elas, ele obteve um cadeado novo (comprado por ele próprio) e uma corrente de ferro. Com esses utensílios, o sr. Akaki (o repórter) prendeu dois pneumáticos a um dos esteios do barracão, na parte do piso inferior. Assim, os pneus ficaram fortemente acorrentados e sujeitos ao esteio pelo robusto cadeado novo, cujas chaves foram guardadas no bolso do próprio sr. Akaki .

O repórter saiu de perto dos pneus por uns instantes e foi o quanto bastou para sumirem dali e aparecerem no cômodo superior. A corrente e o cadeado não foram mais encontrados em parte alguma. Esta "teimosia" do poltergeist em levar todos os objetos volumosos e pesados para o cômodo superior do barracão era uma de suas características típicas.

Outros objetos de menor porte eram conduzidos a outros lugares inimagináveis, ou sumiam misteriosamente para reaparecerem em condições e locais inesperados. Assim, por exemplo, balas e chocolates ganhos pela família e doados por visitantes - entre estes o Cônsul japonês -, depois de desaparecerem de dentro dos invólucros intactos, surgiam a noite e durante o dia, caindo aqui e acolá nos cômodos da casa, como se viessem do teto.

Latas de talco, garrafas de bebida, maços de fósforos, pilhas de lanterna e outros objetos costumavam colocar-se espontânea e inexplicavelmente sobre o tirante de madeira do telhado do barracão.

O jipão Toyota

No sitio achava-se um "jipe Toyota", modelo grande, com carroceria coberta. Quando o jipe era acionado e davam-se voltas com ele ao redor do barracão, ocorria um recrudescimento dos fenômenos, talvez devido ao ruído do motor.

Certa ocasião, o jipe estava lotado e estacionado a uma distancia de cerca de 40 (quarenta) metros da frente de uma tulha. [celeiro; armazém produtos agrícolas] Já era noite. As pessoas da casa e as visitas achavam-se reunidas na casa do sr. Okabe jantando em torno de duas mesas, entre as quais havia um bujão de gás equipado com um tubo longo, na extremidade do qual havia um lampião. De tempos em tempos, ouvia-se o ruído de uma ou outra pedra que inexplicavelmente surgia do ar a uma pequena distancia do bujão e batia no mesmo. Uma das pessoas da família, mais habituada com os fenômenos, alertou os visitantes: "isto e sinal de que o poltergeist ira fazer alguma de suas brincadeiras...".

Não deu outra, dai a instantes todos ouviram um tremendo barulho que assustou as pessoas ali presentes! Saíram munidos de lanterna. Atônitos, verificaram que o enorme jipe havia sido transportado e batera violentamente contra a tulha, vencendo os 40 (quarenta) metros que o separava daquele deposito. O trajeto era em aclive, e o jipe estava lotado, pesando cerca de 2.500 kg! O mais surpreendente foi o fato de não ter deixado no solo as marcas dos pneus! Como teria transposto aquele caminho em ascensão ate a tulha? O impacto foi tão violento que uma das pontas do forte pára-choque de aço do veiculo chegou a entortar!

De onde teria sido extraída a energia para produzir tamanho trabalho?! O jipe estava brecado e com a primeira marcha engatada! Ninguém ouvira qualquer ruído do motor, facilmente perceptível no silencioso ermo daquele sitio e tão próximo como se encontrava o veiculo. Ter-se-ia dado um "apport" semelhante ao ocorrido com os demais objetos transladados de um para outro lugar no barracão? Mistério...

Como começou...

Segundo informações fornecidas por pessoas do local, o sr. Katsumi Okabe teria comprado as terras nos idos de 1962, formando seu sitio a partir dai.

Aproximadamente em 1969, um paraguaio comprou uma dúzia de bananas e sentou-se a beira da estrada para comê-las. Depois de haver comido uma das bananas da penca, notou que haviam desaparecido dali duas delas. Apos ter comido duas bananas, verificou que haviam desaparecido mais quatro. Acreditando que alguém estivesse escondido e roubado-lhe as frutas, o paraguaio tratou de esconder consigo o resto das bananas. Ao tomar esta providencia, sentiu que lhe davam um tremendo soco nas costas, que o fez cair sem sentidos.

Na ocasião em que tal fato ocorrera, uma família paraguaia instalada aproximadamente a meio quilometro da casa do sr. Okabe passou a ser palco de fenômenos inusitados: as camas em que as pessoas estavam dormindo eram levitadas e balançavam de um lado para outro! Temerosos de serem atirados de cima de seus leitos para o solo, os habitantes daquela casa passaram a dormir no chão sob as camas! Mas assim mesmo não tiveram sossego, pois, a noite, enquanto dormiam, eram empurrados para longe dos colchões. Logo mais, os objetos da casa passaram a ser movimentados e atirados para fora, atraindo inúmeros curiosos que vinham assistir aos estranhos fenômenos ali em atividade.

A família paraguaia resolveu mudar-se daquela casa. Porem, lá ficou apenas uma senhora de idade. Esta não quis - não se sabe o porque - deixar a casa. Ao que parece, ela não devia estar se sentindo incomodada. Ela trabalhava na lavoura de tomates do sr. Okabe. Entretanto, aconteceu que ela também recebeu uma saraivada de tomates numa ocasião em que ali se achava trabalhando. A velha ficou brava, pensando que estava sendo vitima de uma brincadeira de mau gosto. Logo apos alguns dias. o filho e a filha do sr. Okabe também foram atingidos por tomates e pepinos, enquanto lá se achavam trabalhando.

A referida horta de tomates distava da casa da velha paraguaia, tanto quanto da casa do sr. Okabe. Os três pontos formam um triângulo quase eqüilátero com cerca de 400m de lado. Era nessa região que ocorriam os fenômenos do poltergeist. Fora desse triangulo, não se observava nenhum fenômeno paranormal.

A mais ou menos 250m distante da casa do sr. Okabe, havia outra construção onde residia outra família paraguaia. Ali jamais se deram fenômenos semelhantes.

Inúmeros outros fenômenos foram registrados durante a atividade desse poltergeist. Mas ficaremos por aqui devido as naturais limitações de espaço disponível nestas colunas.

Há alguma explicação?

Sim, há explicações, mas não são unânimes, pois nem todas conseguem satisfazer as exigências do bom senso.

A teoria mais em voga, adotada atualmente pelos parapsicólogos considerados ortodoxos, e aceita hodiernamente como a mais correta pela maioria dos especialistas, e aquela que atribuía um agente humano a causa de tais fenômenos. Segundo este ponto de vista, o poltergeist e um fenômeno provocado por vivos e não por seres desencarnados, tais sejam: espíritos de mortos, duendes, demônios ou algo semelhante. Portanto, no poltergeist, apenas o agente humano denominado epicentro e o causador dos distúrbios, ruídos, movimento de objetos ("apports"), vozes humanas, levitações, sumiços de objetos etc.

Vejamos as hipóteses " adhoc " necessárias para apoiar a teoria em questão:

  1. O epicentro provoca os fenômenos inconscientemente. Portanto, mesmo no caso em que o epicentro se sinta apavorado com algumas das ocorrências, ou desejando conscientemente que elas não ocorram (casos preocupantes de parapirogenia, em que há perigo de incêndios catastróficos, ou riscos de vida para pessoas amadas etc.), o inconsciente da "pessoa foco" a contraria de maneira insólita e ate desumana, agindo contra suas crenças, seus sentimentos, seus desejos e mesmo contra seu instinto de conservação ou de defesa de si e de sua prole. Por exemplo: nos temos ocorrências em que o marido do epicentro (uma senhora casada) sofreu vários cortes no rosto, provocados pelo poltergeist. Nesse mesmo caso, houve o episodio de uma garotinha golpeada profundamente na perna. (Andrade, 1988, pp. 147-153).
  2. O epicentro fornece ou desenvolve uma energia psicocinética capaz de atuar sobre os objetos materiais ou controlar forcas como a eletricidade, o calor, o magnetismo, a gravidade etc. e, desse modo, provocar os fenômenos observados nos poltergeists. Vai alem, sendo capaz, inconscientemente, de produzir o "apport", com manifestações de transposição - pelo menos assim parece - da matéria através da matéria.

Mencionamos como exemplo o episodio do jipão Toyota de 2.500 kg, no poltergeist do Paraguai que ora relatamos e que teria sido aportado a distancia de 40 metros em aclive as custas da energia do epicentro. Todavia não se observou nenhuma reação em qualquer das pessoas presentes no local, como deveria ocorrer em virtude do tremendo dispêndio de energia ocorrido nesse fenômeno! Onde estaria o epicentro? Ou, se ele existia entre aquelas pessoas - o que parece lógico -, tal agente psicocinético deveria ter tido alguma reação. Será que o principio universal da conservação da energia pode ser derrogado em um caso desses? Ou, então, o epicentro saberia, inconscientemente, produzir a transformação de matéria em energia? Isto e, obter reação nuclear a frio? E, depois disso, aplicá-la no jipão da forma como ocorreu?

Poderíamos estender-nos muito mais, citando outros fatos muito estranhos observados na nossa coleção de poltergeists, porem pedimos licença para ficarmos por aqui.

Infelizmente, somos obrigados a confessar que, pessoalmente, ainda não conhecemos nenhuma explicação satisfatória para os fenômenos poltergeist.

Conclusão

Por mais atraente e mesmo erudita ou "cientifica" que possa parecer uma hipótese explicativa para os casos de poltergeist, não basta que ela ofereça uma formula infalível para fazê-los cessar. E preciso que ela ensine também como produzi-los a vontade, pois há casos de poltergeist que costumam cessar espontaneamente, tão misteriosamente como começaram a ocorrer.

Referencias bibliográficas

  • AKAKI, Kazunari (1972) - "Pedras, bicicletas e jipe 'voam' no sitio de Katsumi Okabe", Jornal Paulista, 28 de julho de 1972, São Paulo.
  • ANDRADE, H.G. (1988) - Poltergeist, Algumas de Suas Ocorrências no Brasil; São Paulo; Pensamento.

Leituras sugeridas

  • FLAMMARION, Camille (1923) - Les Maisons Hantees; Paris: Editions Jai Lu.
  • GAULD, Alan & CORNELL, A.D. (1979) - Poltergeist; London: Routledge & Kegan Paul.
  • OSIS, Karlis & Mc CORMICK, Donna (1982) - "A Poltergeist Case Without an Identifiable Living Agent" - Journal ASPR, Vol.76, no1, January, 1982.
  • PLAYFAIR, Guy Lyon (1976) - This House is Haunted - An Investigation of the Enfield Poltergeist; London: Souvenir Press.
  • ROLL, Willian G. (1974) - The Poltergeist; New York: New American Library.
  • TIZANE, Emile (1962 e 1977) - L'Hote Inconnu dans le Crime Sans Cause; Paris: 1ª edicao, Omnium Litteraire, 2ª edicao, Tchou.
  • TIZANE, Emile (1977) - Le Mystere des Maisons Hantees; Paris: Tchou.
  • TIZANE, Emile (1980) - Les Agressions de L'Invisible; Monaco: du Rocher.
  • VERGNES, Georges (1980) - Quand le Diable Habitait Seron; Paris: Revue du Tarn.

(Artigo de Karl W.Goldstein; Maio de 1997; São Paulo: Jornal FE, enviado ao GEAE por Ogi Mini)

(Retirado do Boletim GEAE Número 267 de 18 de novembro de 1997)



Fonte:

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/poltergeist-ainda-um-misterio.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário