Publicado em 21.05.2009, às 08h07
Do Jornal do Commercio
Relatório divulgado nessa quarta-feira (20) na Irlanda acusa padres e freiras de instituições administradas pela Igreja Católica para cuidar de crianças de abusarem sexualmente e maltratarem milhares de meninos e meninas em escolas, reformatórios e orfanatos durante seis décadas.
Além disso, o governo não teria sido capaz de pôr fim ao quadro crônico de estupros, espancamentos e humilhações. Entre 30 mil e 35 mil crianças teriam sido vítimas desses abusos praticados por mais de 800 pessoas.
O documento, de 2.600 páginas, assume quase totalmente o partido dos ex-estudantes, que relatam abusos sofridos em mais de 250 instituições administradas pela Igreja. Conclui que funcionários do clero, cujas identidades não foram reveladas, sempre protegeram da prisão os pedófilos membros de sua ordem para preservar a própria reputação e, segundo papéis encontrados no Vaticano, sabia-se que muitos eram reincidentes seriais.
Responsáveis por pequenos furtos, identificadas como moradoras de rua ou provenientes de famílias desestruturadas, as crianças eram enviadas para a rede de escolas, reformatórios, orfanatos e albergues desde a década de 1930 até o fechamento das últimas instalações, nos anos 90.
De acordo com a Comissão de Inquérito para os Casos de Abuso Infantil da Irlanda, instituída pelo governo para apurar as denúncias, depoimentos consistentes de homens e mulheres ainda traumatizados, hoje com idades entre 50 e 80 anos, demonstram que o sistema tratava as crianças como prisioneiros e escravos e não como cidadãos detentores de direitos humanos.
“Uma atmosfera de medo, criada pelos castigos arbitrários, excessivos e invasivos, permeava a maioria das instituições. Crianças conviveram com o terror diário de não saber quando seria a próxima surra”, conclui o texto.
O arcebispo da Igreja Católica irlandesa, cardeal Sean Brady, pediu desculpas e se declarou “envergonhado”. “O relatório ilumina um período obscuro do passado. A publicação desse extenso documento e análise é um passo bem-vindo e importante para estabelecer a verdade, para dar justiça às vítimas e para assegurar que um abuso como esse não volte a acontecer”, afirmou.
O documento, divulgado pelo juiz do tribunal superior Sean Ryan, diz que casos de abusos e violações eram “endêmicos” em instalações masculinas, administradas principalmente pela ordem da Irmandade Cristã.
As meninas supervisionadas por ordens de freiras eram submetidas a abusos sexuais com frequência menor. “Mas, em algumas escolas, meninas eram espancadas com objetos projetados para maximizar a dor e atingidas em todo o corpo.” O documento diz que muitos, com fome, tinham que procurar comida em latas de lixo. Num dos exemplos de maus-tratos e humilhações, é descrito o castigo de um garoto que teve que lamber excrementos da sola do sapato de um padre.
Muitas vítimas manifestaram indignação pela falta de punição aos responsáveis. Desde o início das investigações – quando o então premiê irlandês Bertie Ahern foi a público pedir desculpas – um esquema de compensações oferecido pelo governo já pagou 1 bilhão em indenizações a mais de 12 mil pessoas que aceitaram abrir mão de processar o Estado e a Igreja. Muitos aceitaram o dinheiro depois que centenas de vítimas perderam processos contra uma ordem religiosa católica na Justiça irlandesa.
Ao meu ver a igreja ganharia mais em jogar esses pedófilos sadomasoquistas na cadeia do que em protege-los.
ResponderExcluirO que eles (A Igreja), tanto escondem, tanto protegem?
Eu acho que tem pessoas que são cegas.