02 abril 2009

TERRA EM TRANSE

Tomo emprestado o título do filme “Terra em Transe”, produzido por Zelito Viana, com direção e roteiro de Glauber Rocha, lançado no Brasil em 1967 e distribuído pela Difilm, para intitular esta modesta matéria. O filme é uma história de cunho diretamente político, envolvendo um senador, um governador e um poeta de um país fictício, de nome Eldorado.

O objetivo deste artigo, todavia, não tem nenhum sentido político nem tampouco pretensões científicas. Nele, pretendemos abordar um tema muito em voga nos últimos anos do século XX e nos primeiros nove anos deste século XXI: o efeito estufa e o aquecimento global. A Imprensa mundial de todos os segmentos abre espaços com grandes destaques para as ocorrências climáticas anormais que se têm verificado no orbe terrestre, tais como inundações, furacões, tempestades, aumento dos níveis das águas oceânicas, calor e frio excessivos, degelos, nevascas, tsunâmis, etc

Sabemos que o aquecimento global é a resultante do aumento da temperatura terrestre causado, segundo a ciência, pelo uso excessivo de combustíveis fósseis e por processos químicos adotados pelo setor industrial provocando na atmosfera a concentração de gases como dióxido de carbono, metano, óxido de azoto, além dos clorofluorcarbonos. Como o dióxido de carbono tem a capacidade de reter a radiação infravermelha do Sol, estabilizando a temperatura por intermédio do “efeito estufa”, tal fato tem trazido grandes preocupações para a comunidade científica, haja visto o temor das graves conseqüências que poderão advir para a sobrevivência da Humanidade terrena.

O aumento gradual da temperatura na Terra vem sendo observado desde o ano de 1850, embora essa flutuação, segundo os cientistas, já ocorra naturalmente há várias dezenas de milhões de anos. Conforme eles, as oscilações que ora ocorrem se verificaram no século passado e considerando que os séculos XVI e XVII tenham sido anormalmente frios, o clima pode ainda está se recuperando das variações ocorridas. Assim sendo, não podem eles ainda afirmar com segurança que exista uma relação direta entre a elevação da temperatura da Terra com o aumento do efeito estufa. Todavia, se os seus modelos de medição para os próximos séculos estiverem certos, há motivos para nos preocuparmos. Por isso, precavidamente, mesmo que talvez tardiamente, representantes de países desenvolvidos e emergentes, reunidos não - oficialmente em Washington, D.C., EUA, em 15 de fevereiro de 2007, acordaram em reforçar as medidas objetivando a combater o aquecimento da Terra estabelecendo novas metas de redução de emissão dos gases poluidores. Aquele encontro foi, sem dúvida, uma espécie de “mea culpa” reconhecendo ser o homem o responsável pela poluição do Planeta bem como pelas mudanças climáticas nele operadas.

Essas alterações climáticas, essas ocorrências de tsunâmis, de maremotos, de tufões, de degelos, ocorridas nos últimos anos têm nos causado grandes apreensões, principalmente quando se cogita a aproximação do “fim dos tempos”, com fundamento nas previsões apocalípticas, e por via de conseqüência a extinção da Humanidade. Estará próxima a morte do Planeta Terra? É uma interrogação inquietante. Diz-se que a vida é o começo da morte. Como tudo que nasce certamente um dia a Terra também fenecerá. É a Lei Universal. Outra questão que se levanta é: já estará a Terra na sua senectude, morrendo de velhice? Afinal, qual é a sua idade?

Existem correntes religiosas que defendem a teoria de que a Terra tem pouco mais de 4.000 anos de existência, como por exemplo, nos Estados Unidos, onde muitas delas afirmam que a idade do nosso Planeta é de apenas 6.000 anos, chegando ao exagero de exigirem que essa sistematizada opinião seja ensinada nas escolas daquele país, articulada com a hipótese criacionista.

Presumem os cientistas que todos os corpos formadores do Sistema Solar se formaram numa mesma época, perdida nas noites dos tempos, incluindo-se os meteoritos, desgarrados do cinturão de asteróides. Considerando que os meteoritos são corpos vindos de outras plagas do Universo que despencam sobre a Terra, eles podem ser datados. Assim, a idade deles é a mesma da formação do nosso Planeta que teria cerca de 4,56 bilhões de anos, idade essa determinada, pela primeira vez, por Claire Patterson, no ano de 1956, utilizando isótopos de chumbo (Pb).3 Serão esses 4,56 bilhões de anos uma idade muito provecta para um corpo celeste como o que habitamos? Serão as últimas transformações geológicas o prenúncio do “fim do mundo”? A afirmação de Allan Kardec, contida no item “11”-Cataclismos Futuros” – “capítulo IX” – “Revoluções do Globo” – do seu livro “A Gênese-Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo” nos transmite mais tranqüilidade: “Certamente, poderiam se produzir ainda perturbações locais, em conseqüência de erupções vulcânicas, da abertura de alguns novos vulcões, de inundações súbitas de certas regiões; algumas ilhas poderiam sair do mar e outras afundarem-se; mas o tempo de cataclismos gerais, como aqueles que marcaram os grandes períodos geológicos, está passado. A Terra tomou uma posição que, sem ser absolutamente invariável, põe doravante o gênero humano ao abrigo das perturbações gerais, a menos de causas desconhecidas, estranhas ao nosso Globo, e que nada poderia fazer prever.” Prossegue ele no item “13” do mesmo título: “A Terra, todavia, terá um fim; como? É o que está no domínio das conjecturas; como, porém, ela ainda está longe da perfeição que pode alcançar, e da velhice, que seria um sinal de declínio, os seus habitantes atuais estão assegurados de que isso não será no seu tempo.” Devemos lembrar que o livro acima mencionado foi escrito em 1868, portanto, há apenas 139 anos. Diz ele no item “14”, ibidem: “Fisicamente, a Terra teve as convulsões de sua infância; doravante, ela entrou num período de estabilidade relativa: no do progresso pacífico que se cumpre pelo retorno regular dos mesmos fenômenos físicos e o concurso inteligente do homem. Ela, porém, ainda está no meio do trabalho da produção do progresso moral. Aí estará a causa de suas maiores comoções. Até que a Humanidade tenha suficientemente progredido em perfeição pela inteligência, e coloque em prática as leis divinas, as maiores perturbações serão o fato dos homens mais que a Natureza, quer dizer, serão antes morais e sociais do que físicas.”
Sabemos que a causa do aquecimento global não deriva de uma alteração espontânea da Natureza, mas sim de ações praticadas pelo homem, sempre em busca da satisfação dos seus desejos e/ou necessidades materiais, tais como a ganância, a luxúria, a ambição, a busca desmedida pelo lucro financeiro a qualquer preço. Não mede ele as conseqüências de suas atitudes na busca incessante do “ter”, em detrimento do “ser”, preocupando-se tão somente com o seu conforto material e descuidando-se de sua natureza espiritual, esquecendo-se de que ele, somente ele, é o responsável, perante Deus, pelo zelo e conservação do Planeta em que habita. Deste modo, estamos assistindo hoje a implacável aplicação da lei divina de causa e efeito. A Natureza reage à agressão inconseqüente do homem. Colhemos apenas aquilo que semeamos. A semeadura é opcional, mas a colheita é obrigatória. Não sabemos se tardiamente, mas já estamos observando a grande preocupação das autoridades mundiais relativamente à preservação do meio ambiente sob todos os aspectos. Muito embora talvez já não se possam frear os efeitos maléficos dos atos insanos que praticamos contra a Mãe Natureza ao longo dos anos, mormente após a acentuação do desenvolvimento industrial em todo o Mundo, não deixa de ser alvissareiro o fato de se vir adotando medidas de preservação do ambiente no qual habitamos. Fortalecendo o nosso ponto de vista, repetimos novamente o que sabiamente diz Kardec no item “5”-“Sinais dos Tempos”, do “capítulo XVIII”- “Os Tempos são Chegados”, de sua obra acima citada: “A Humanidade cumpriu, até este dia, incontáveis progressos; os homens pela sua inteligência chegaram a resultados que não atingiram jamais em relação às ciências, às artes e ao bem-estar material; resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: é o de fazer reinar entre eles a caridade, a fraternidade e a solidariedade, para assegurar o bem-estar moral. (...) Não é somente o desenvolvimento da inteligência que é preciso aos homens, é a elevação do sentimento, e para isso é necessário destruir tudo o que poderia superexcitar, neles, o egoísmo e o orgulho.” Parece até que ele escreveu isto nos tempos atuais, tal a semelhança com o momento por que passa a Humanidade terrena.

É forçoso reconhecer que vivemos um grave instante de turbulências geológicas, sociais e morais como os muitos já vividos pelos que nos precederam na longa jornada terrena. Certamente, são ajustamentos necessários conforme os desígnios insondáveis da Providência Divina. Resta-nos aceitá-los e compreendê-los à luz dos ensinamentos da Doutrina Espírita.

Para finalizar, ecoamos novamente Kardec no item “7”, ibidem: “Mas uma mudança tão radical quanto a que se elabora não pode se cumprir sem comoção; há luta inevitável entre as idéias. Desse conflito nascerão, forçosamente, perturbações temporárias, até que o terreno seja diluído e o equilíbrio restabelecido, Será, pois, dessa luta das idéias que surgirão os graves acontecimentos anunciados, e não cataclismos, ou catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais eram a conseqüência do estado de formação da Terra; hoje não são as entranhas do Globo que se agitam, são as da Humanidade.”
O transe que a Terra ora vive, certamente é necessário ao melhoramento moral da Humanidade, aos olhos de Deus.

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