26 abril 2009

O FUTURO DAS RELIGIÕES E AS RELIGIÕES DO FUTURO

MÉDICO E DOUTOR EM PSIQUIATRIA DEFENDE "TESE DE DOUTORADO" SOBRE "MÉDIUNS ESPÍRITAS"
http://www.ceca.web.pt/ceca/mm5ent_alexanderalmeida.htm

Entrevista com Alexander Moreira de Almeida
Alexander Moreira de Almeida é médico e doutor em psiquiatria pela USP -
Universidade de São Paulo, coordenador do NEPER - Núcleo de Estudos de ProblemasEspirituais e Religiosos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas daFaculdade de Medicina da USP e director técnico e clínico do HOJE - HospitalJoão Evangelista. O facto de registo, é que o doutor Alexander de Almeida
defendeu sua Tese de Doutorado sobre "Fenomenologia dasexperiênciasmediúnicas,perfil e psicopatologia de médiuns espíritas" recorrendo a dezenas de médiunsespíritas e a varias associações espíritas de São Paulo, onde concedeu uma
entrevista exclusiva ao Jornal de Espiritismo.
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Como médico psiquiatra, o que o levou a escolher tal Tese de trabalho, para o
seu doutoramento: "Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e
psicopatologia de médiuns espíritas"?
A.M.A - A importância que as vivências mediúnicas tiveram e ainda têm nas
diversas civilizações e, mesmo assim, serem praticamente inexploradas no meio
académico.

Como os seus examinadores e a própria Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, viram a sua Tese de Doutorado?
AMA - Muito bem. Sempre recebi todo o apoio do Departamento de Psiquiatria da
USP, da FAPESP (Fundação de Amparo Á Pesquisa do Estado de São Paulo), bem como
a banca teve uma postura muito científica: rigorosa, mas aberta.

E o orientador da Tese de Doutorado? Quem foi?
AMA - Francisco Lotufo Neto, professor livre-docente do Departamento de
Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Quem foram seus examinadores?
AMA - Prof. Dr. Paulo Dalgalarrondo, Doutor pela Universidade de Heildelberg
(Alemanha), livre-docente em Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas); Prof. Dr. Leonardo Caixeta, psiquiatra,
doutor em Neurologia pela Universidade de São Paulo, professor da UFG
(Universidade Federal de Goiás); Prof. Homero Vallada, livre-docente, Professor
de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e da Universidade de Londres,
maior especialista em genética psiquiátrica no Brasil e pelo Prof. Dr. Paulo
Rossi Menezes, psiquiatra e epidemiologista, doutor pela London Universisty,
livre-docente da faculdade de Medicina da USP.

Existiu algum critério específico para a composição da Banca Examinadora?
AMA - Que fossem pesquisadores destacados e que estudassem áreas relacionadas ao
tema da tese.

Durante seu estudo, verificou por certo o grau de escolaridade dos médiuns
espíritas. São eles incultos e ignorantes como se diz?
AMA - 46,5% dos médiuns tinham escolaridade superior ou superior com
pós-graduação. O Censo Brasileiro de 2000 mostrou que o Espiritismo é a única
religião em que a proporção de adeptos aumenta quanto maior o nível educacional
do segmento estudado.

Os médiuns espíritas sofrem de transtornos dissociativos, psicóticos ou
transtornos de personalidade múltipla?
AMA - Eles também podem apresentar estes e outros transtornos mentais, como
qualquer indivíduo, no entanto, a prevalência de problemas psiquiátricos entre
os médiuns estudados foi menor que o encontrado na população geral.

Então os médiuns espíritas não são esquizofrénicos?
AMA - Não, eles são até mais saudáveis que a população geral. Isto, apesar de
terem muitas vivências alucinatórias e de influência que normalmente são
consideradas como sintomas clássicos de esquizofrenia.

Como a mediunidade é vista pela medicina?
A.M.A - Como a expressão de uma manifestação cultural, religiosa, que não
necessariamente é patológica. Sobre a explicação de sua origem, habitualmente é
considerada como um fenómeno dissociativo em que se manifestam conteúdos do
inconsciente do indivíduo. No entanto, estas ideias são baseadas em muitas
opiniões e poucas pesquisas.

A mediunidade é causa de doenças mentais?
AMA - Apesar de, historicamente, nos últimos 150 anos ter se acreditado nisto,
não há evidências a este respeito.

Quais os possíveis mecanismos neurofisiológicos da mediunidade?
AMA - Desconheço estudos a este respeito, tudo que eu dissesse seria meramente
especulativo.

Alguns colegas defendem que a glândula pineal é o órgão sensorial da
mediunidade. Sabemos que essa hipótese não é nova. O espírito de André Luiz
através do respeitado médium Francisco Cândido Xavier trouxe de novo a "lume".
Qual a sua opinião?
AMA - Há uma longa história de associação da pineal com o Espírito, isto vem
desde Descartes. Do ponto de vista científico, desconheço qualquer estudo
trazendo evidências da pineal se relacionar com mediunidade. Entretanto, sem
dúvida é uma interessante hipótese a ser testada.

Sendo médico e doutor em psiquiatria, o que é a mediunidade?
AMA - Penso que a mediunidade é uma manifestação de uma habilidade humana que
tem estado presente na maioria das civilizações ao longo da história. A origem
destas vivências em muitos casos, acredito, podem estar realmente no
inconsciente dos médiuns. Entretanto, há um considerável número de casos em que
esta explicação é insuficiente, apontando para alguma fonte externa ao médium.

Como relaciona psiquiatria, espiritualidade e mediunidade?
AMA - A psiquiatria deve estar interessada numa visão abrangente e multifacetada
do ser humana, assim a espiritualidade deve ser levada em conta, como todas as
demais dimensões da existência humana. Por fim, a mediunidade é uma vivência que
pode nos revelar muito sobre o funcionamento da mente e sua relação com o corpo.
Muitos de nossos trabalhos na área podem ser acessados na página www.hojenet.org
no item "teses & artigos".

Como distingue em seus pacientes "mediunidade" com distúrbios meramente
neuropsicológicos?
AMA - Esta pergunta não admite uma resposta simples. Faz-se necessária uma
avaliação cuidadosa e ampla da pessoa, o que ela tem vivenciado, suas crenças e
seu contexto social e cultural. Em linhas gerais, para uma certa vivência ser
considerada indicativa de um transtorno mental, deve estar associada a
sofrimento, falta de controle sobre sua ocorrência, gerar incapacitação,
coexistir com outros sintomas de transtornos mentais e não ser aceita pelo grupo
cultural ao qual pertence o indivíduo.

Ao receber um paciente portador de faculdade mediúnica, como conduz o caso?
AMA - Trato o transtorno mental existente além de recomendar que o paciente
continue com suas práticas religiosas. No entanto, se ele estiver com
desequilíbrios mais graves, inicio o tratamento farmacológico e psicoterápico e
solicito o afastamento das actividades mediúnicas. No entanto, recomendo que
continue participando das demais actividades religiosas (palestras, orações,
cultos, passes...)

O seu estudo reuniu a maior amostra de médiuns espíritas alguma vez investigada
na área médica no mundo. A sua tese já teve repercussões no meio médico ou em
algum centro de investigação universitário? Quais?
AMA - Tenho apresentado os resultados da tese em congressos científicos no
Brasil e nos EUA, como por exemplo o Congresso Brasileiro de Psiquiatria e
International Conference on Mediumship promovido pela Parapsychology Foundation

Nesses congressos científicos, como os investigadores brasileiros e
norte-americanos reagiram à sua investigação?
AMA - Muito bem, demonstrando bastante interesse.

Como vê a doutrina espírita, codificada por Allan Kardec?
AMA - Como uma proposta bem fundamentada de se fazer uma investigação científica
e com bases empíricas de fenómenos antes considerados metafísicos e fora do
alcance da ciência.

O que é o NEPER - Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo?
AMA - É um grupo de estudos interdisciplinar das relações entre religiosidade
saúde. É composto por psiquiatras, neurologistas, historiadores, psicólogos,
antropólogos, filósofos. Não está vinculado a nenhuma religião, se prende apenas
à rigorosa investigação científica nesta área.

Que mensagem gostaria de deixar aos médicos europeus?
AMA - Na Europa já existem iniciativas muito interessantes na área da
espiritualidade, como a Fundação BIAL em Portugal, a Society for Psychical
Research e muitos médicos britânicos que investigam o tema, bem como a
disciplina de parapsicologia da Universidade de Edimburgo, além de iniciativas
das Associações Médico-Espíritas. Que continuem se interessando e investigando
cada vez mais as desafiadoras e fascinantes relações entre espiritualidade e
ciência.


DADOS DA INVESTIGAÇÃO

Total: 115 médiuns espíritas
Mulheres: 76,5%
Média de Idade: 48 anos
Desemprego: 2,7%
Curso superior: 46,5%
Média de anos no espiritismo: 16 anos
Possuíam mais de 3 tipos de mediunidade;
Incorporação: 72%
Psicofonia: 66%
Vidência: 63%
Audiência: 32%
Psicografia: 23%
Exerciam a mediunidade por semana: 7 a 14 vezes


PRINCIPAIS CONCLUSÕES

1- Os médiuns espíritas diferiam das características de portadores de
transtornos de personalidade múltipla e possuíam uma alta média de sintomas de
primeira ordem para esquizofrenia, mas estes não se relacionavam aos escores de
outros sintomas psiquiátricos e não se relacionavam a problemas no trabalho,
família ou estudos.

2- A maioria teve o início de suas manifestações mediúnicas na infância e estas,
actualmente, se caracterizam por vivências de influência ou alucinatórias que
não necessariamente implicam num diagnóstico de esquizofrenia.

3- A mediunidade provavelmente se constitui numa vivência diferente do
transtorno de personalidade múltipla.

Texto oferecido pelo autor, um deles membro do CECA e publicado no "Jornal de
Espiritismo"da ADEP - Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal

Texto: Luís de Almeida

2 comentários:

  1. É importante essa abordagem de cunho científico a um tema controvérsio, pouco palpável que situa-se entre, muitas vezes, no limiar entre a saúde e a doença mental.
    Parabéns pelo tema!
    Um abraço

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  2. Já conhecia a Tese de Doutorado do Dr. Alexandre. Fabulosa pela isenção. Cabendo salientar que a banca foi de uma equipe extremamente rigorosa. Apesar de um estudo muito bem feito, acredito que essa pesquisa deva continuar o seu seguimento. Precisamos de um número de pacientes bem maior (n) para que realmente toque o coração das autoridades mundiais no tema.
    Muito interessante seria, seguir nessa linha, porém em um estudo multicênctrico, envolvendo vários países. Porquê?? porque teríamos menor chance de erro, devido ao viés de seleção (já que o Brasil é um país substâncialmente místico e onte tem a maioria de espíritas no mundo). Poderia ver a mediunidade, não somente no contexto espírita, mas mundial.
    Brilhante estudo, ainda mais quando envolve um médico tão humano como esse.
    Existe um outro de Dr. André Stroppa, que segue na mesma linha.
    Um grande abraço
    Blog de Um Brasileiro

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