18 abril 2009

ENTREVISTA DE HERMÍNIO C.MIRANDA A REVISTA ESPÍRITA-CRISTÃ DO TERCEIRO MILÊNIO

HERMÍNIO C. MIRANDA - Formado em ciências contábeis, o conhecido escritor Hermínio C. Miranda já tem publicados mais de trinta livros, alguns deles verdadeiros best sellers. Sua pesquisa mais recente voltou-se para as vidas de Fénelon, Espírito que participou ativamente da codificação da Doutrina Espírita. Tendo trabalhado durante muitos anos em Nova York, o Dr. Hermínio domina a língua inglesa e dela tem tirado enorme proveito para aprofundar seus conhecimentos. Conhecedor das técnicas de regressão a vidas passadas, ele as utiliza apenas com propósitos científicos.


P: - Qual é a sua atividade profissional?
R: - Minha formação profissional foi em ciências contábeis. Aposentei-me em 1980, após 43 anos de trabalho, 38 dos quais na Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda- onde nasci, em Nova York e no Rio.

P: - E como o senhor participa do movimento espírita?
R: - Do movimento propriamente dito posso dizer que não participo no sentido de estar ligado a tarefas administrativas em uma ou mais das numerosas instituições ou centros, espalhados por toda parte. Se é que o escritor pode ser considerado participante, então, sim, estou nele profundamente envolvido. Tive que fazer tal opção, pois dificilmente poderia me dedicar ao movimento simultaneamente com a tarefa de escritor. Uma delas ou ambas, sairiam prejudicadas.

P: - O senhor viveu algum tempo fora do país. Como foi essa experiência, no que concerne à atividade espírita?
R: - Eu ainda não era espírita ao tempo que trabalhei no escritório da CSN, em Nova York, na década de 50. Foi somente depois de regressar ao Brasil, no final de 1954, após cinco anos nos Estados Unidos, que comecei a estudar a Doutrina dos Espíritos. Não há dúvida, no entanto, de que permanência na América foi muito enriquecedora como experiência de vida, tanto para a minha família como para mim pessoalmente. Para citar apenas um aspecto positivo, além do impulso que minha carreira profissional tomou, o inglês passou a ser minha segunda língua, o que muito me tem ajudado na busca do conhecimento.

P: - Sabemos que o senhor desenvolveu pesquisas de regressão a vidas passadas, inclusive naquela que resultou em um livro em parceria com o Luciano dos Anjos. Como o senhor explica essas regressões?
R: - Em primeiro lugar é necessário esclarecer que não cuidamos, em nossas pesquisas, de promover regressões por mera curiosidade e nem com finalidade terapêutica. Nosso objetivo num pequeno grupo foi, basicamente, o de estudar mecanismos da memória. Do que resultou, aliás, o livro A Memória e o Tempo, hoje em quinta edição. A pesquisa com Luciano dos Anjos, pelo que depreendemos, foi um projeto combinado na dimensão espiritual. O livro Eu sou Camille Desmoulins não apenas demonstra convincentemente a realidade da reencarnação, como constitui um singular documento histórico sobre a Revolução Francesa.

P: - Qual é a sua atual linha de pesquisas espíritas?
R: - Terminei há pouco um livro sobre Fénelon, um dos integrantes da equipe espiritual que trabalhou, como se sabe, junto de Kardec na elaboração da Doutrina dos Espíritos. A idéia surgiu enquanto eu realizava a pesquisa para escrever Alquimia da Mente. Mas eu desejava, antes do estudo sobre Fénelon, que exigiria demoradas consultas bibliográficas, escrever o livro intitulado Guerrilheiros da Intolerância e mais o recém-lançado volume sobre o autismo (Autismo - Uma Leitura Espiritual), duas obras igualmente trabalhosas em termos de pesquisa. É que me chegaram ao conhecimento seis existências de Fénelon, desde o tempo do Cristo, e a curiosidade me levou a mergulhar no tema. Especificamente sobre Fénelon, por exemplo, foi necessário discorrer sobre ele na condição de Arcebispo de Cambrai, ao tempo de Luís XIV e, posteriormente, como Espírito. Como entidade desencarnada ele participou ativamente junto de Kardec, com vimos, mas também no grupo de Bordeaux, onde atuava a Sra. W. Krell, conhecida por sua excelente mediunidade. Foi esse o grupo que recebeu a muita conhecida Prece de Cáritas. Esse valioso material figura no livro Rayonnements de La Vie Spirituelle, edição da Union Spirite Belge, em 1949. Encontramos também comunicações mediúnicas de Fénelon-Espírito no raro livro La Survie, de 1897, coordenado por Rufina Noeggerath. Meu livro deveria intitular-se As Seis Vidas de Fénelon. Depois de concluído, no entanto, descobrimos, “por acaso”, que Lavater também poderia ser considerado uma possível existência da mesma entidade que vivera como Fénelon. Tenho outros projetos a desenvolver, mas no momento estou dando uma trégua a mim mesmo.

P: - Quantos livros o senhor já escreveu?
R: - São mais de trinta livros publicados. Alguns deles são de interesse específico do movimento espírita - aquele tipo de livro que dificilmente o leitor compraria, como Diálogo com as Sombras ou Diversidade dos Carismas, que cuidam da teoria e da prática da doutrinação e da mediunidade. Outros, sem excluir, evidentemente, o leitor espírita, podem interessar a um público mais amplo, não necessariamente espírita. Então neste caso A Memória e o Tempo, Alquimia da Mente, Eu sou Camille Desmoulins, Guerrilheiros da Intolerância e Autismo - Uma Leitura Espiritual, ou Cristianismo, a mensagem esquecida (editado pela Casa Editora O Clarim), bem como Nossos Filhos são Espíritos, livrinho despretensioso que se tornou inesperado best seller. Procuro, com estes últimos, oferecer uma leitura espírita de aspectos paralelos da realidade espiritual como um todo.

P: - Qual a sua opinião acerca de transplante e da doação de órgãos?
R: - Tive, de início, ao tempo em que os transplantes começaram a ser feitos, algumas dúvidas sobre o assunto, perante o qual ainda me vejo um tanto dividido. Não me parece que possamos contar com padrões éticos suficientes confiáveis para lidar com algo tão complexo como isso. Numa sociedade perfeitamente esclarecida e convicta da realidade espiritual, esse aspecto seria minimizado, mas, lamentavelmente, ainda estamos bem longe disso, com sabemos. Esses temores já emergiam em escritos meus publicados há quase trinta anos, como Uma Ética para a Genética e outros. Não só eu temia pela mercantilização do sistema, e até pela implantação de um câmbio negro de órgãos, como não me parecia suficientemente examinado o componente espiritual envolvido. Ainda penso assim. Um amigo médico me enviou, há pouco, artigos publicados no exterior, nos quais são relatados casos de influenciações e interferências psíquicas em pessoas que receberam transplantes. Por outro lado, não me parecem suficientemente seguros os critérios reguladores da extração dos órgãos e sua distribuição. Impressionou-me de maneira dramática um filme, ficção, mas assustadora - no qual um cardiologista “encomendava” corações para uma verdadeira máfia que escolhia o involuntário doador segundo especificações bem estudadas e o executava friamente. As implicações do processo me parecem, pois, amplas e profundas demais para um contexto em que a pessoa humana é tida como máquina biológica em vez de um a entidade espiritual reencarnada. Quanto à doação em si mesma, não tenho, em princípio qualquer objeção a oferecer. Doar é sempre um gesto de generosidade, especialmente quando se trata de propiciar condições de vital importância para que alguém continue por mais algum tempo a usufruir do privilégio da vida na carne. Mesmo assim, contudo, penso que não conseguimos ainda regulamentar o procedimento adequadamente. Com se viu, recentemente, no recuo de certas determinações legais.

P: - E sobre a clonagem de seres humanos?
R: - A clonagem inclusive, a meu ver, se situa no mesmo contexto de insegurança mencionado a pouco. Não me parece que os pesquisadores estejam conscientes das enormes responsabilidades que assumem ao interferir com os processos da vida. Os instrutores da Codificação advertiram sobre os riscos de tais interferências. Clonar seres humanos para ter peças de reposição é evidente temeridade. Somos espíritos encarnados e não engenhocas biológicas. É claro que sempre que forem criadas em laboratório condições para que o corpo físico se forme, alguma entidade espiritual estará presente para reencarnar-se naquele corpo. Não é isso contudo, que a gente lê, ouve e vê na mídia. Há muita gente por aí tentando “brincar de ser DEUS”. Ainda não sabemos ao certo como ser gente!

P: - Como o senhor está vendo a imprensa espírita na atualidade, incluindo o rádio, a televisão e a Internet?
R: - Penso que a divulgação do modelo de vida contido no Espiritismo precisa ser amplamente difundido, claro, mas não atabalhoadamente. O Espiritismo não tem uma “mercadoria” para vender, mas uma proposta muito séria de comportamento, uma visão nobre e inteligente da vida e da chamada morte. A Doutrina Espírita não deve e não precisa entrar na disputa de espaço na mídia a qualquer preço, a custa do sensacionalismo. Claro, contudo, que deve recorrer aos recursos disponibilizados pela tecnologia moderna. Imprensa, rádio, TV, Internet e toda a parafernália periférica estão aí para isso e a mensagem que temos para divulgar é da melhor qualidade. Mais do que isso, o grande público precisa desesperadamente dela para retomar o rumo perdido.

2 comentários:

  1. Hermínio Miranda sempre foi uma voz sensata. Atuante de forma intelectual. Eu mesmo já leio seus livros desde a adolescência. De um equilíbrio e coerência incríveis. Sou seu fã.

    Mas discordo de suas "reticências" quanto ao transplante de órgãos. Concordo que tudo que é humano pode degenerar em máfia, mas por isso, a idéia do transplante não deve gerar tanta polêmica.

    Luciano dos Anjos também é alguém bastante polêmico.

    Mas Hermínio Miranda é o máximo

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  2. Oi vim agradecer a visita e descobri que moramos na mesma cidade!

    Vc é espírita?

    Gosto muito dessa doutrina. Inclusive já li o livro dos espíritos todinho.

    Espero poder trocar informações.

    Um abraço!

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