01 fevereiro 2009

TALENTOS DO INCONSCIENTE

O mundo dos sonhos.Quantas vezes as pessoas procedem de maneira esquisita "sem saber por quê". Quantas vezes muitas pessoas estão tristes e não sabem o motivo. Numa boa porcentagem dessas ocasiões uma análise profunda descobriria os motivos inconscientes de ordem intelectual. Sensações inconscientes e fatos arquivados no inconsciente, se associam.
Na fase sonambúlica da hipnose comprova-se facilmente a associação inconsciente. A memória se exalta reproduzindo com pasmosa exatidão cenas, pormenores, conhecimentos que pareciam totalmente esquecidos. A imaginação, por sua vez, aviva-se também, a linguagem atinge um brilho e colorido notáveis. Nada, pois, tem de estranho que a atividade intelectual inconsciente se exalte também ao máximo. Os casos que o comprovaram são numerosíssimos.Para citar um caso concreto, eis, tomado quase ao acaso, o que refere Renaud:No estado de sonambulismo hipnótico um parente do próprio Renaud resolvia fácil e elegantemente um problema de trigonometria. Antes e também depois da hipnose, porém, via-se embaraçado com o problema, na realidade difícil.O inconsciente estava atualizado e combinava mais dados, resolvendo o problema com notável facilidade.

DORMINDO SOMOS MAIS INTELIGENTES DO QUE ACORDADOS
O talento do inconsciente é, às vezes, tão grande, que alguns autores foram levados erroneamente a atribuir responsabilidade ao sono. Freud o fez, por exemplo, e Grünewald.O problema já é antigo. O famoso teólogo e filósofo Caramuel endereçava em Wurzburg no ano 1645, uma carta sobre o assunto ao famoso cientista da época, Pe. Atanásio Kircher S.J., professor na Universidade Gregoriana. Defendia a "responsabilidade nos sonhos, porque havia neles inteligência" (!). O aspecto da inteligência é o que nos interessa: "Examinando muitos sonhos meus e de outros, encontro circunstâncias nas quais não se pode descobrir imaginação ou fantasia. Ainda mais, neles se percebe inteligência bastante cultivada e sutil". Em continuação, refere um exemplo dentre os sucedidos a ele mesmo: Caramuel sonhava que assistia a uma discussão solene. Nela, convidado a impugnar as teses defendidas, o fez com todo vigor e eficiência e com argumentos inéditos. Ao acordar, impressionado, examinou os argumentos empregados no sonho. Comprovou que eram perfeitos e certamente inéditos.O inconsciente, com os conhecimentos do sábio teólogo e filósofo, os elaborara. Em vigília dificilmente teria conseguido esse resultado. A carta conclui: "O entendimento do homem dormindo não descansa, mas trabalha sempre e, às vezes, perfeitissimamente. Mais ainda, com mais perfeição do que na vigília". O descobrimento do talento do inconsciente é, pois , muito anterior a Freud. E inclusive antes de Caramuel o descobrira Platão, como veremos. Depois de Freud, o reconhecimento do talento nos sonhos é bastante geral. Assim, por exemplo, Erich Fromm concluía nas suas aulas no Instituto de Psiquiatria William A. White e no Bennington College de New York que "nos sonhos produzem-se operações intelectuais superiores às que realizamos estando acordados".

INTUIÇÔES - A intuição é uma visão intelectual que parece vir do fundo da alma, uma revelação provinda do interior e que não depende do esforço mental. De repente, percebemos alguma coisa que, depois, freqüentemente comprovamos ser preciosa e verdadeira. Pasteur, como conclusão de uma ampla pesquisa, dizia que as grandes intuições só eram dadas aos que se preparavam para recebê-las. O investigador, o experimentador, o filósofo, tem de repente uma intuição genial, sem saber de onde proveio, mas antes tinham empregado muito tempo e energia em procura da solução que agora se apresenta súbita, "irracional", "sem lógica". O Dr. Irving Langmuir, no discurso pronunciado a 16 de dezembro de 1942 ao deixar o cargo de presidente da "American Association for the Advancement of Science", comunicou: "Freqüentemente subestimamos a importância da intuição. Em quase todos os problemas científicos, inclusive naqueles que nos tomaram dias e meses de trabalho, a solução final se apresentou ao nosso espírito numa fração de segundos, por um processo que, conscientemente, não deve nada ao raciocínio". È o resultado de um raciocínio inconsciente. Persigout, matemático, demonstrou que Descartes, como Kepler, Pascal e outros deveram uma grande parte das suas descobertas ao trabalho do inconsciente.

INTELIGENTES REALIZAÇÕES DO INCONSCIENTE - Eis em rápidas pinceladas alguns dos muitos casos de manifestações inteligentes do inconsciente recolhidos por diversos autores:Zwinger refere o caso de dois senhores que, de noite, se levantavam dormindo e escreviam versos. "Um deles, escreve Voronff, traduzia-os do alemão para o latim; o outro, professor de poesia grega, fatigado por ter passado escrevendo o dia todo versos gregos, deixou a poesia por concluir. Qual não seria, porém, a sua surpresa na manhã seguinte quando, levantando-se para terminar a sua obra, descobriu que o trabalho já estava concluído e com a sua própria letra!" Da mesma maneira escreveu também versos gregos Woehmer von Göttingen. A versificação latina e grega é muito complicada...Mais ainda: La Fontaine e Condillac escreveram trabalhos inteiros de noite, sonâmbulos, sem deixar de dormir. Coleridge afirmou ter escrito o "Kublai Khan" enquanto dormia sob a influência de um analgésico.Do mesmo modo, um filósofo estóico escreveu livros em várias etapas, segundo nos afirma o historiador Diógenes Laertius. Trata-se de uma obra literária e de outras filosóficas: precisa-se grande trabalho intelectual. Voltaire relata que um canto inteiro da sua "Henriade" lhe ocorreu durante um sonho. "No meu sonho eu disse coisas, que dificilmente teria pronunciado na véspera. Passavam-me pela mente pensamentos concebidos sem que eu tivesse tomado parte (consciente) neles. Não tendo nem vontade nem liberdade (no mecanismo inconsciente do sonho) combinei idéias inteligentes e até com certa genialidade". Trata-se de idéias até geniais!O investigador francês Fehr assinalou que os sábios mais produtivos da sua época realizaram de 75 a 100 por cento de suas descobertas e invenções por intuição ou por sonho: Um caso muito conhecido de descoberta durante o sonho é o da cadeia benzínica. O descobridor, F. A. Kekule von S., tinha durante muito tempo procurado inutilmente a fórmula química do benzeno. Uma noite a viu em sonho. Teve sorte de lembrar-se dela ao acordar. O médico canadense F. G. Banting trabalhou arduamente no assunto da diabete. Estudou as mais diversas soluções que a medicina apontava para explicar e dominar o mal. Nada o satisfazia. Um dia trabalhou desenfreadamente para encontrar uma solução. Inútil. Cansado, esgotado já, foi dormir de mau humor porque no dia seguinte deveria pronunciar uma conferência sobre o diabete e lamentava não poder oferecer uma solução satisfatória, embora pressentisse que esta solução tinha que existir. Durante a noite, sonâmbulo, levantou-se e escreveu numa beirada de papel estas palavras: "Ligar o conduto deferente do pâncreas de um cão de laboratório, esperar algumas semanas até que a glândula se atrofie, cortar, lavar e filtrar a secreção". De manhã não tinha a menor idéia de ter-se levantado nem de ter escrito, nem sequer de ter encontrado a solução que procurava. Só ao ver a anotação compreendeu o que se passara. Assim foi como o mundo ganhou a insulina.

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