Não estou falando da gente sonhar que ele apareceu por aqui, estou levantando uma hipótese dele aparecer mesmo, num corpo, carnal ou fluídico, não importa, de forma que todo mundo pudesse vê-lo, tocá-lo, abraçá-lo e conversar normalmente, independente de ser médium ou não.
Alguns talvez me respondem:
- “Bom, Alamar, se fosse o verdadeiro Allan Kardec, com certeza ele seria muito bem recebido em qualquer centro espírita.”
Será?
Já que criamos o hábito de pensar, para tirarmos conclusões racionais e não nos deixar levar por um provável formador de opinião, vamos questionar então diversas hipóteses de visitas do Codificador em várias casas espíritas.
Vamos às suas visitas
Faz de conta que ele trouxesse livros, com novos ensinamentos, que seria uma espécie de continuação das obras básicas, já que não foi possível ele concluir, posto que desencarnou cedo, em 1869. Ele ficou preparando o material no mundo espiritual, mandou imprimir numa gráfica qualquer, por aqui, ainda sem se revelar, pagou tudo com o dinheiro do bolso dele, como fez da vez passada.
Do mesmo jeito que fez na sua “Viagem Espírita”, acontecida na outra época, onde saía pela França proferindo conferências e vendendo as suas obras, faria agora novamente. Proporia a algumas pessoas que realizassem eventos, obviamente esperando contar com muita gente, pela força do seu nome e, nesses eventos, colocaria os seus livros à venda.
Quais seriam as reações de muitos espíritas, em relação a ele?
Muitos o criticariam, veementemente, sob a acusação de que estaria fazendo “industrialização de eventos espíritas” e não o aceitariam sob argumentação alguma. Iriam querer que ele desse os livros de graça, sem dar a menor importância ao fato dele ter PAGO a uma gráfica para imprimi-los.
Primeira proibição - Ele seria proibido de falar nos centros dirigidos por essas cabeças que acham que TUDO tem que ser dado de graça, até mesmo o que não foi conseguido de graça.
Mas ele continuaria andando por aí, em outras casas.
Outros baixariam o malho, porque não podem admitir que surja qualquer nova revelação, em se falando de Espiritismo. Afinal de contas, a Doutrina já está pronta, é infalível, é imutável, é sagrada e “imexível”.
Segunda proibição – Não lhe seria permitido falar nos centros que acham que a doutrina está pronta e que ninguém tem mais nada a ensinar nem a aprender.
Aí ele resolveria ir em outros centros e, em alguns, encontraria pessoas que se entusiasmariam para recebê-lo e o convidariam para bater um papo informal em alguma reunião com um monte de gente curiosa e com várias perguntas a ele:
- “Kardec, conta pra gente como foi a sua experiência naquele tempo. Você deve ter um monte de coisas pra dizer, que não constam nos livros”
Aí ele, com a sua naturalidade, sempre sendo ele mesmo, abriria a boca e diria:
- “Muitas coisas, sim. EU passei noites em claro, para organizar aqueles ensinamentos que os espíritos passavam para MIM. EU viajei muito por toda a França, para fazer as palestras. Imaginem só: Eu chegava numa cidade e fazia uma palestra para uma platéia que tinha apenas umas 30 pessoas, mas, quando voltava na mesma cidade, um ano depois, já eram mais de 300 pessoas na platéia e, inclusive, eu era muito aplaudido”.
- “Eu mandava imprimir os livros com MEU dinheiro, tinha um cuidado enorme com aqueles livros”.
Qual seria a reação do pessoal?
- “Ele é muito metido a besta, presunçoso e não tem um pingo de humildade. Repararam que ele só fala na primeira pessoa? Diz EU, quando deveria dizer NÓS. Faz questão de dizer que ELE fez, ELE mandou imprimir os livros, faz questão de dizer que os livros foram impressos com MEUdinheiro. Reparou o quanto é vaidoso? Fez questão de dizer que quando voltou à cidade o público aumentou 10 vezes e que ainda o aplaudiu. Ele se acha o máximo”.
Terceira proibição – Neste centro ele não falaria mais, sob a argumentação de ser presunçoso e vaidoso.
Mas continuaria a sua peregrinação pelos centros.
Numa outra casa espírita, cairia na besteira de dizer que “A obra de Roustaing deve ser lida pelos espíritas sérios”.
Misericórdia!!! Vocês já imaginaram as conseqüências que ele sofreria por uma afirmativa desta?
Seu tivesse do lado dele, eu o diria: "Tu és doido, Kardec, de falar uma coisa desta nos dias atuais? Tu tens idéia do que podem fazer contigo, só por falares uma coisa desta? Calma, eu sei que tu afirmastes isto, mas, se queres evitar problemas, é preferível desconversar, inventar que foi algum mal entendido e evitar este assunto. Estou lhe avisando."
Quarta proibição – Aqui ele não fala nunca mais, porque é roustanguista.
Continuaria a sua peregrinação, chegaria a outro centro espírita e era convidado, gentilmente, para participar da mediúnica.
Aí proporia a evocação de espíritos e ele mesmo evocaria algum espírito com o qual desejava se comunicar.
Seria chamado à atenção pela direção dos trabalhos:
- “Esta casa não admite a evocação de espíritos, pedimos ao senhor, meu irmão, a gentileza de respeitar a disciplina da casa. Por favor, mantenha-se em prece e concentrado.”
Quinta proibição – Nunca mais seria chamado para mediúnicas naquela casa.
E continuaria andando por aí, visitando outros centros espíritas, já que ele é daqueles que não desistem nunca.
Foi a um centro grande, que tem uma considerável movimentação financeira, e propôs que investissem recursos na divulgação da doutrina.
Toda a diretoria seria contra ele:
- “A diretoria da casa não admite acatar essa sua idéia. Todo o dinheiro que arrecadamos é para manter a nossa creche e o trabalho social que temos aqui aos sábados, quando distribuímos farnéis para os pobres. Respeitamos o nosso estatuto.”
Sexta proibição - Ali ele não era admitido mais, porque as suas idéias não são compatíveis com os estatutos da casa.
Diante das dificuldades enfrentadas, resolveria que o melhor mesmo era trabalhar sozinho e desenvolver o seu projeto de divulgação da doutrina.
Iria à EMBRATEL, contrataria um espaço de satélite num determinado dia da semana, para fazer um programa de TV falando de Espiritismo, o programa passaria a ser visto em todo o Brasil, o público passaria a gostar dele, os seus livros passariam a ser vendidos, as suas palestras se constituiriam em casas cheias e ele passaria a ser aplaudido de pé em todos os lugares onde chegava, pela sensibilidade e a educação do povo.
O que iria acontecer? Quais seriam os comentários no movimento?
- “Está fazendo movimento espírita paralelo. Quer fazer tudo sozinho, não admite trabalhar em equipe.”
- “Tá querendo é aparecer. Isso é promoção pessoal”.
-“Será que vocês não perceberam que os interesses dele é vender livros? Está mercantilizando a doutrina! Está ficando rico à custa da doutrina!”
Decidia, então, que deveria dar prosseguimento à “Revista Espírita”. Mas, como homem de vanguarda que sempre foi, atualizado, criterioso e de bom gosto, é óbvio que ele não iria procurar uma tipografiazinha vagabunda, para imprimir a revista em papel sem qualidade. Optaria por procurar a Editora Abril ou a Editora Globo, para verificar qual seria a melhor proposta para fazerem a revista circular em todas as bancas do País.
Faria uma revista linda e maravilhosa, com aquele seu bom gosto, com aquela sua capacidade jornalística de escrever, escreveria energicamente respondendo aos detratores da doutrina, usaria, como sempre usou, as palavras “ridículos”, “hipócritas”, “medíocres” e outras no mesmo tom.
Quais seriam as reações?
A revista seria proibida de circular em vários centros, sob várias “justificativas”:
1) As suas cores eram consideradas agressão à humildade, a disposição de estar em todas as bancas do Brasil era considerado como mania de grandeza, presunção, megalomania e certamente deveria ter outros interesses por trás.
2) Ele seria considerado agressivo, pois espíritas jamais pode utilizar de palavras como ridículos, hipócritas e medíocres.
3) Comentariam que ele certamente deveriam estar ficando rico, considerando o tamanho de revista, em todas as bancas do Brasil.
Sétima proibição – É bom evitar falar sobre essa revista.
Em determinado momento aceitaria debater com padres, pastores, críticos, céticos e qualquer detrator ou questionador da doutrina. Ele debateria de forma enérgica, sem máscaras e não admitiria ficar se passando de bonzinho, apenas de aparência. Trataria as pessoas com educação e com respeito, mas não ficaria naquela de chamar os detratores de “meu irmãozinho”.
Oitava proibição - Passaria a sofrer restrições em vários centros, sob a argumentação de ser polêmico e de se envolver em polêmicas.
Mas insistiria em realizar eventos espíritas, voltados ao grande público e venderia os livros espíritas, obviamente ao preço de mercado.
Receberia pesadas críticas e muitas matérias circulariam pela internet, acusando-o de vender livros espíritas “caros”, ainda na acusação de que ele estaria querendo ficar rico à custa da doutrina.
Sem acreditar direito no que estava vendo, quanto ao comportamento de muitos espíritas da atualidade, ele, que sempre gostou de escrever, resolveria, também, escrever na internet, tentando explicar.
- “Meus amigos espíritas: Eu voltei sob um entendimento de que o movimento espírita estivesse praticando um Espiritismo, conforme aquilo que eu coloquei nas Obras Básicas, depois de incontáveis horas de diálogos com os Espíritos, coordenados pelo Espírito da Verdade. Sobre esta questão de ter que vender livros espíritas baratos, eu coloquei para vocês o meu ponto de vista, sobre isto, nunca aceitando esta idéia que espíritas da minha época já alimentavam. O livro espírita, em respeito à grandeza da doutrina, deve ser vendido ao preço de mercado e não ter que ser desvalorizado, para poder chegar ao povo...”
Aí um diretor de centro o interromperia:
- “Meu irmão, não se pode mercantilizar a doutrina, o livro espírita deve ser em preços acessíveis para chegar aos mais pobres...”
- “Mas os livros espíritas não são editados apenas para as pessoas pobres e sim para todas as pessoas que gostam de ler e estão dispostas a ler...”
- “O senhor não pode querer transgredir a disciplina do movimento. Existem normas estabelecidas que devem ser obedecidas e não podemos fazer da doutrina um comércio”.
Ele não teria qualquer força de argumento e o fato de ser o próprio Allan Kardec, não teria importância nenhuma, posto que o que prevalece é o que pensam os dirigentes da instituição, conceitos que são imutáveis.
Imagine se ele fizesse o que fez da vez passada, quando mandava imprimir fotografias suas e as vendia para as pessoas.
Meus amigos leitores: Eu escreveria dez vezes o tamanho deste artigo, demonstrando inúmeras outras dificuldades que Allan Kardec teria com o movimento espírita de hoje e ainda cito um fato: Ele não seria acusado apenas de morar em mansão, de ter tapetes persas em sua casa e carruagens com seis cavalos, não, ele sofreria um gigantesco processo de difamação, seria proibido de falar em muitos centros espíritas, de aparecer em canal de televisão espírita e seria recomendado a estudar e a procurar um trabalho de desobsessão.
Talvez o centro espírita que você trabalha e participa não o trataria de forma tão cruel, mas não tenha dúvidas de que em muitos, em muitos mesmo, ele não seria aceito, de forma alguma e comeria o pão que o diabo amassou
Alamar Régis Carvalho