O problema da disciplina no Centro Espírita é dos mais melindrosos e deve ser encarado entre as coordenadas da ordem e da tolerância. Não se pode estabelecer e manter no Centro uma disciplina rígida, de tipo militar.
O Centro é, além de tudo o que já vimos, um instrumento coordenador das atividades espirituais. No esquema das suas sessões teóricas e práticas a questão do horário é imperiosa, mas não deve sobrepor-se às exigências do amor fraterno.
Não é justo deixarmos fora da sessão companheiros dedicados ou necessitados, porque chegaram dois ou três minutos atrasados. Vivemos num mundo material e não espiritual, em que as pessoas lutam com dificuldades várias no tocante à locomoção, aos embaraços de compromissos diversos, e é justo que se dê uma pequena margem de tolerância no horário.
Essa margem não deve também ser estabelecida com rigor, mas deixada ao critério do dirigente dos trabalhos, que saberá dosar as coisas de acordo com as conveniências.
O rigor exagerado na questão de horário, mormente nas cidades mais populosas, causa aborrecimentos e mágoas a pessoas sensíveis que, depois de aflição e correria para chegar na hora certa, viram-se impedidas de participar da reunião por alguns segundos ou minutos, Temperando-se as exigências da ordem cronológica com o dever da atenção aos companheiros podemos evitar aborrecimentos perfeitamente superáveis.
Claro que esse é um problema a ser sempre esclarecido nas reuniões, para que todos possam ter conhecimento da flexibilidade possível no horário. O simples fato de haver essa flexibilidade, já tira à disciplina o seu aspecto opressivo.
Essa mesma dosagem de ordem e tolerância deve ser aplicada a outros problemas, de maneira a assegurar-se, o mais possível, um ambiente geral sem prevenções, que muito ajudará na realização dos trabalhos.
Tratamos das almas frágeis no capítulo anterior. Devemos agora tratar das almas fortes, as mais apegadas ao problema disciplinar. As almas fortes são aquelas que procedem de linhas evolutivas em que os espíritos se aperfeiçoam no uso da independência e da coragem .
Por isso mesmo trazem consigo um condicionamento disciplinar que não aceita facilmente as concessões a que aludimos. Uma palavra rude de uma alma forte, embora não intencional, pode ferir a susceptibilidade de uma alma frágil, prejudicando-a no seu equilíbrio por uma insignificância.
Ora, segundo a regra geral das relações humanas, o forte deve proteger e amparar o fraco, para ajudá-lo a se fortalecer. Os dirigentes de trabalhos devem cuidar de evitar esses pequenos atritos que não raro têm conseqüências muito maiores do que se pensa. Por outro lado, as almas fortes precisam controlar os seus impulsos pelo pedido consciencial da fraternidade.
Há pessoas que, por se sentirem mais fortes, decisivas e poderosas que as outras, embriagam-se com a ilusão do poder, desrespeitando os direitos alheios e sobrepondo-se, com rompança às opiniões dos outros.
Atitudes dessa natureza, no meio espírita e no Centro, causam má impressão e constrangimento no ambiente, fomentado malquerenças desnecessárias. Em se tratando de Espiritismo, tudo se deve fazer para manter-se um ambiente de compreensão e fraternidade, sem exageros, tocado o quanto possível de alegria e camaradagem.
Num ambiente assim arejado, desprovido de tensões, a espiritualidade flui com facilidade e os Espíritos orientadores encontram mais oportunidades de tocar os corações e iluminar as mentes.
Por menor que seja, o Centro dispõe sempre de mais de um setor de atividades. Deve-se fazer o possível para que em todos eles reine um ambiente fraterno, que é o mais poderoso antídoto dos desentendimentos.A disciplina desses trabalhos, mesmo quando exija maior severidade, como no caso das sessões de desobsessão, deve ser tocada pela boa-vontade e a compreensão fraterna. Sem isso, particularmente conseguiríamos resultados satisfatórios.
Mas a franqueza também é elemento importante na boa solução dos problemas, Quando necessário, o dirigente deve chamar o obsedado em particular e expor-lhe com clareza o que observou a seu respeito, aconselhando-o a mudar de comportamento par poder melhorar.
A verdade deve estar presente em todos os momentos das atividades espirituais, mas a verdade nunca pode ser agressiva, sob pena de produzir o contrário do que se deseja.
Não queremos esmiuçar todos os problemas e todas as situações no funcionamento de um Centro, pois isso seria cansativo e desnecessário. Tocamos apenas em alguns pontos para abrir diretrizes aproveitáveis, segundo a experiência de longos anos nas lides doutrinárias.
Outros, com mais capacidade e mais penetração, poderão complementar o nosso trabalho com suas contribuições. Nosso desejo é apenas ajudar os companheiros que tantas vezes se aturdem com as dificuldades encontradas.
Não propomos regras como possível autoridade, que não somos e ninguém o é, num campo de experiências em que quanto mais se aprofunda mais se tem a aprender.
A disciplina de um Centro Espírita é principalmente moral e espiritual, abrangendo todos os seus aspectos, mas tendo por constante e invariável a orientação e a pureza de intenções.
Os que mais contribuem para o Centro são os que trabalham, freqüentam, estudam e procuram seguir um roteiro de fidelidade à Codificação Kardeciana. Muito estardalhaço, propaganda, agitação só pode prejudicar as atividades básicas e essenciais do Centro, humanitárias e espirituais, portanto recatadas e silenciosas.
Os problemas do Centro são de ordem profunda no campo do espírito. Mas apesar disso não se pode desprezar as oportunidades de divulgação e principalmente de orientação doutrinária para o povo em geral. Não precisamos de aumentar forçadamente os nossos grupos, somos contrários ao proselitismo, sabemos que nem todos podem aceitar os nossos princípios, mas sabemos também que a Verdade deve sempre ser posta ao alcance de todos.
Quem quiser encontrá-la não precisará procurar lugares especiais, deve encontrá-la em qualquer parte em que um jornal, um programa de rádio, um livro, um folheto estiver ao seu alcance. Não convertemos nem devemos tentar converter ninguém, pois, como ensinava Kardec, nem todos estão em condições de afinar-se espiritualmente na compreensão dos problemas novos que o Espiritismo apresenta ao mundo em renovação. Mas aqueles que amadureceram na idade espiritual serão úteis na batalha para o amadurecimento de outros.
A disciplina autoritária e rígida teve a sua função na disciplina dos povos bárbaros após a queda do Império romano. Essa coerção prosseguiu pelos tempos sombrios do Medievalismo. Mas a era da Razão, que surgiu da noite medieval, reivindicou os direitos individuais do homem, na linha ateniense do esclarecimento cultural.
O domínio natural da Igreja esgotou-se nos albores do Renascimento, mas o domínio artificial, fundado nos poderes políticos e econômico-financeiros da organização clerical estenderam-se aos tempos modernos e ainda se exerce, embora enfraquecidos e estropiado, no mundo contemporâneo, em pleno alvorecer da Era Cósmica.
Essa anomalia histórica, nos entrechoques contraditórios da fase de transição, resolve-se aos nossos olhos num desvio violento provocado pelas forças conjugadas dos interesses em jogo, voltando-se para a tradição de Esparta.
A força e a violência se sobrepuseram aos ideais atenienses e o indivíduo esmagado pelo peso das massas acarneiradas refugiou-se na servidão medieval, nas aposições inócuas e na revolta do desespero insensato.
As leis históricas seguem o seu curso regular, mas quando as acumulações dos fatores a-históricos, como os lastros esmagadores dos instintos primitivos, acumulados nos socavãos do inconsciente coletivo, as obrigam a sair dos canais naturais, elas se desviam à procura dos pontos de retorno. A volta a Esparta, que marcou a fase instintiva das explosões totalitárias, mergulhou o mundo no delírio do arbítrio e da violência.
Um terremoto a-histórico rompeu o chão rompeu em que florescia a Belle-Epoque, a fase lírica e romântica que Stephan Zweig descreveu em O Mundo que eu Vi, precipitando no abismo todos os valores culturais e humanistas dos séculos XVII e XIX.
O próprio Zweig imolou-se, a seguir, no desespero do suicídio. Os abismos da Terra lacerada impediram-nos o acesso a Atenas. Mas restou um passagem secreta, um ponte sobre o abismo, sustentada pelas rochas inabaláveis do Evangelho, orientada pelos sinaleiros subjetivos dos arquétipos de Jung nos rumos da transcendência.
Essa ponte era a do Novo Renascimento do homem e do mundo pelas mãos do Cristo. Era o Espiritismo, que das ruínas da catástrofe histórica fazia ressurgir, ainda cambaleante, a figura fantasmal de Lázaro.
O Mundo Contemporâneo é Lázaro redivivo, ainda envolto em mortalha, com a boca amarrada, os braços e os pés atados, mas atendendo ao chamado do Cristo para reintegrar-se no processo histórico interrompido.
Marta e Maria o restabelecem na paz de Betânia, cercada pelas guerras furiosas e as atrocidades produzidas na Terra, no Céu e no Mar pela inconformação e a revolta dos homens. Nessa hora trágica, dantesca (não apenas na imagem do Inferno de Dante, mas na sua própria essência real) a consciência humana desperta para a busca de si mesma.
O Centro Espírita, na sua singeleza, na sua humildade e na sua pobreza – pequenina semente que os abismos ameaçam tragar – sustenta a chama da esperança cristã-humanista e trabalha em silêncio na restauração da verdade.
Solitário, desprezado pela ignorância arrogante é o Centro – o ponto ótico ou visual para o qual convergem todas as possibilidades da Ressurreição do Planeta assassinado. Temos necessidade urgente de compreender esse momento histórico, decifrar os seus signos para que a Esfinge não os devore.
A rotina dos trabalhos do Centro, a monotonia das doutrinações exaustivas, a repetição dos ensinos que chegam a parecer inúteis, a insistência das obsessões agressivas, a inquietação dos que se afastam em busca do socorro ilusório de ciências psíquicas ainda informes e retornam desiludidos e cansados – todo esse ritornelo atordoante pode desanimar os que lutam contra a voragem das trevas. Mas é preciso resistir e continuar, é necessário enfrentar a ignorância petulante dos sábios que ainda não aprenderam a lição socrática da humildade intelectual, do sábio que só é sábio quando sabe que nada sabe.
A hora espírita do Mundo é de agonia e desespero. Mas foi agonizando na cruz, injustiçado pelos sábios do seu tempo, que Jesus nos ensinou a lição da ressurreição e da imortalidade espiritual.
O Centro Espírita é a cruz da paciência que Jesus nos deixou como herança do seu martírio. Ele nos livra da cruz que o Mestre enfrentou entre ladrões, salvando, morrendo com eles para salvá-los – um através da conformação difícil da dor, outro através da revolta e da indignação que levam ao arrependimento e à reparação.
Por isso a disciplina do Centro não pode ser a dos homens, mas a dos anjos que servem ao Senhor tatalando no Céu as asas simbólicas da Esperança. Deixemos de lado a disciplina exigente, para podermos manter no Centro a disciplina do amor e da tolerância.
Não lidamos com soldados e guerreiros, mas com doentes da alma. Nossa disciplina não deve ser exógena, imposta de fora pela violência, mas a do coração. Tem de ser a disciplina endógena, que nasce da consciência lentamente esclarecida aos chamados de Deus em nossa acústica da alma.
A evolução humana se processa no concreto em direção ao abstrato, o que vale dizer da matéria para o espírito ou do corpo para a alma. Na linguagem platônica diríamos: do sensível para o inteligível. Na era cósmica que se inicia com as façanhas da Astronáutica essa evolução se define em termos de ciência e tecnologia.
O homem das cavernas saiu de sua toca de bicho para dominar a Terra, edificar casas, palácios e torres, templos que apontam para as estrelas, e agora, depois de se librar na atmosfera com asas e hélices, projeta-se além da estratosfera, mergulha no Cosmos, pousa na Lua e regressa à Terra, servindo-se de propulsores terrenos e das forças da gravidade, como se tivesse nascido nos espaços siderais e não do barro do planeta.
Quem não vê nesse esquema gigantesco e dinâmico o roteiro da evolução humana? De outro lado, rompemos os véus misteriosos de Ísis nas pesquisas da Física, em que a matéria nos revela as estruturas atômicas da realidade aparentemente compacta e opaca, que se mostra fluída e transparente, e nas pesquisas psíquicas descobrimos que a nossa natureza não é concreta, mas abstrata, pois não somos corpos, mas espíritos.Sobre os escombros do passado em ruínas, das civilizações mortas, das certeza materiais e sólidas transformadas em pó e ante a ameaça dos cogumelos atômicos desintegrantes, vemos de maneira inegável que a essência de toda a realidade tangível é na verdade intangível.
Reconhecemos os enganos produzidos pela ilusão dos sentidos materiais em nosso senso abstrato e somos obrigados a compreender que malbaratamos o tempo nas encarnações desvairadas. As fachadas suntuosas das catedrais, os gigantescos edifícios da Instituições científicas, os Edifícios do Saber em todos os campos – todo esse acervo de grandiosidade efêmera se reduz a esboços de uma verdade simples que se escondia por milênios na humildade de um casebre de arrabalde ou de uma choupana da roça – O CENTRO ESPÍRITA.
Só ali encontramos, entre criaturas anônima, na intuição dos simples, a Verdade que buscávamos. Assim também aconteceu nas gr4andes civilizações do passado, que renegaram os ensinos de um carpinteiro galileu.
Na penumbra do Centro Espírita, suspeita para os sábios e os poderosos, Deus escondera a chave do mistério.
Autor: J. Herculano Pires
Livro: O Centro Espírita
Um blog onde se respeita a diversidade religiosa,
o livre pensamento e o direito à expressão.
28 junho 2010
25 junho 2010
A DESFIGURAÇÃO DO CRISTO
O interesse em desfigurar o Cristo vem dos planos inferiores do mundo espiritual e se manifesta de várias formas: pelas comunicações mediúnicas inferiores, pelas intuições dadas a adeptos do Cristianismo e do Espiritismo para introduzirem teorias e práticas ridicularizantes no meio doutrinário, sempre atribuindo a Jesus posições, palavras e atitudes que o coloquem em situação crítica pelas pessoas de bom senso. Para isso, as entidades mistificadoras se aproveitam da ignorância e da vaidade de criaturas autoritárias e arrogantes, que facilmente se deixam levar por elogios e posições lisonjeiras que podem exaltá-las na instituição a que pertencem.
A gigantesca luta empreendida pelo apóstolo Paulo, após a sua conversão, para preservar a pureza dos ensinos de Jesus e da sua excelsa figura, em meio aos próprios apóstolos do Mestre, revela de maneira eloqüente, a dificuldade dos homens para compreenderem a Verdade Cristã.
Os gnósticos-docetas do primeiro século sustentavam que Jesus não tinha realidade física, que o seu corpo era apenas aparente. Sua posição contrariava as teses da encarnação do Cristo, apresentando-o como uma espécie de Deus mitológico, sob a influência das idéias helenísticas. O Docetismo exerceu grande influência em Alexandria, propagando-se a Éfeso, onde o apóstolo João instalara a sua Escola Cristã. João refutou a tese doceta como herética, pois além de não corresponder à realidade histórica, transformava o Cristo num falsário.
A fábula dos docetas ( como o apóstolo Paulo a classificou) apresentava-se como uma das mais estranhas desfigurações do Cristo, fornecendo elementos ricos e valiosos aos mitólogos para negarem a existência real e histórica de Jesus de Nazaré.
Essa teoria absurda reapareceu na França, através de uma obra confusa e carregada de pesado misticismo ridicularizante. Um advogado de Bordeaux, Jean Baptiste Roustaing, elaborou essa obra através de comunicações mediúnicas atribuídas a Moisés, os Apóstolos e os Evangelistas. Um grupo místico do Rio de janeiro adotou com entusiasmo essa obra, conseguindo apossar-se da Federação Espírita Brasileira, e até hoje a propaga e sustenta, contra a maioria das instituições espíritas do Brasil e do mundo. É inacreditável o fanatismo dos roustainguistas, o que se justifica pela sua mentalidade anti-racional, apegada aos resíduos do passado mágico e mitológico, portanto contrária à posição racional, apegada aos resíduos do passado mágico e mitológico, portanto contrária à posição racional do Cristianismo e do Espiritismo. Esses defensores do absurdo chegam a citar a obra mistificadora Os quatro evangelhos, como uma das dez mais importantes da literatura mundial, e Roustaing, como uma das maiores figuras da Humanidade. Kardec condenou essa obra, o que provocou um revide de Roustaing.
Hoje só existe um símbolo para o Cristo: o da Ressurreição. Provada cientificamente a existência do corpo espiritual, provada a continuidade da vida triunfante após a morte, provada a herança de Deus na imensidade do Cosmos povoado de mundos, provada a ineficácia das instituições religiosas e seus métodos para levar os homens a Deus, pois que a maioria se afastou de Deus e o considera como superstição estúpida, só a figura do Cristo Ressuscitado, triunfando sobre a veleidade do poderes terrenos e confirmando em si mesmo a verdade dos seus ensinos, poderá libertar as consciências do apego às coisas perecíveis, dando-lhes a confiança no poder superior do espírito. Se somos espíritos não apenas um corpo material, e se temos a certeza de que o Cristo continua vivo e a nos inspirar em nossas lutas no caminho do bem, por que cultivamos a morte e até mesmo as imagens de um cadáver que não foi encontrado no túmulo?
A desfiguração do Cristo atingiu o máximo nessas imagens frias que dormem o ano inteiro nas criptas das Igrejas, à espera do seu enterro anual, com luto, choro e velas acesas. O sadismo humano se revela num automatismo consciencial que o perpetua nas gerações sucessivas. Chegou o momento de compreendermos que o Cristo está diante de nós, na plenitude de sua vida e seu poder, procurando despertar-nos do pesadelo da morte.
Autor: J. Herculano Pires
Harmonia - Revista Espírita nº 64 - Fevereiro/2000
A gigantesca luta empreendida pelo apóstolo Paulo, após a sua conversão, para preservar a pureza dos ensinos de Jesus e da sua excelsa figura, em meio aos próprios apóstolos do Mestre, revela de maneira eloqüente, a dificuldade dos homens para compreenderem a Verdade Cristã.
Os gnósticos-docetas do primeiro século sustentavam que Jesus não tinha realidade física, que o seu corpo era apenas aparente. Sua posição contrariava as teses da encarnação do Cristo, apresentando-o como uma espécie de Deus mitológico, sob a influência das idéias helenísticas. O Docetismo exerceu grande influência em Alexandria, propagando-se a Éfeso, onde o apóstolo João instalara a sua Escola Cristã. João refutou a tese doceta como herética, pois além de não corresponder à realidade histórica, transformava o Cristo num falsário.
A fábula dos docetas ( como o apóstolo Paulo a classificou) apresentava-se como uma das mais estranhas desfigurações do Cristo, fornecendo elementos ricos e valiosos aos mitólogos para negarem a existência real e histórica de Jesus de Nazaré.
Essa teoria absurda reapareceu na França, através de uma obra confusa e carregada de pesado misticismo ridicularizante. Um advogado de Bordeaux, Jean Baptiste Roustaing, elaborou essa obra através de comunicações mediúnicas atribuídas a Moisés, os Apóstolos e os Evangelistas. Um grupo místico do Rio de janeiro adotou com entusiasmo essa obra, conseguindo apossar-se da Federação Espírita Brasileira, e até hoje a propaga e sustenta, contra a maioria das instituições espíritas do Brasil e do mundo. É inacreditável o fanatismo dos roustainguistas, o que se justifica pela sua mentalidade anti-racional, apegada aos resíduos do passado mágico e mitológico, portanto contrária à posição racional, apegada aos resíduos do passado mágico e mitológico, portanto contrária à posição racional do Cristianismo e do Espiritismo. Esses defensores do absurdo chegam a citar a obra mistificadora Os quatro evangelhos, como uma das dez mais importantes da literatura mundial, e Roustaing, como uma das maiores figuras da Humanidade. Kardec condenou essa obra, o que provocou um revide de Roustaing.
Hoje só existe um símbolo para o Cristo: o da Ressurreição. Provada cientificamente a existência do corpo espiritual, provada a continuidade da vida triunfante após a morte, provada a herança de Deus na imensidade do Cosmos povoado de mundos, provada a ineficácia das instituições religiosas e seus métodos para levar os homens a Deus, pois que a maioria se afastou de Deus e o considera como superstição estúpida, só a figura do Cristo Ressuscitado, triunfando sobre a veleidade do poderes terrenos e confirmando em si mesmo a verdade dos seus ensinos, poderá libertar as consciências do apego às coisas perecíveis, dando-lhes a confiança no poder superior do espírito. Se somos espíritos não apenas um corpo material, e se temos a certeza de que o Cristo continua vivo e a nos inspirar em nossas lutas no caminho do bem, por que cultivamos a morte e até mesmo as imagens de um cadáver que não foi encontrado no túmulo?
A desfiguração do Cristo atingiu o máximo nessas imagens frias que dormem o ano inteiro nas criptas das Igrejas, à espera do seu enterro anual, com luto, choro e velas acesas. O sadismo humano se revela num automatismo consciencial que o perpetua nas gerações sucessivas. Chegou o momento de compreendermos que o Cristo está diante de nós, na plenitude de sua vida e seu poder, procurando despertar-nos do pesadelo da morte.
Autor: J. Herculano Pires
Harmonia - Revista Espírita nº 64 - Fevereiro/2000
24 junho 2010
23 junho 2010
O TEU DOM
“Não desprezas o dom que há em ti.” - Paulo. (I TIMÓTEO, 4:14.).
Em todos os setores de organização da fé cristã, nos quadros do espiritismo contemporâneo, há sempre companheiros dominados por nocivas inquietações.
O problema da mediunidade principalmente, é dos mais ventilados, esquecendo-se, não raro, o impositivo essencial do serviço.
Aquisições psíquicas não constituem realizações mecânicas.
É indispensável aplicar nobremente as bençãos já recebidas, a fim de que possamos solicitar concessões novas.
Em toda parte, há insopitável ansiedade por recolher dons do Céu, sem nenhuma disposição sincera de espalhá-los, a benefício de todos em nome do divino doador.
Entretanto, o campo de lutas e experiências terrestres é a obra extensa do Cristo, dentro da qual a cada trabalhador se impõe certa particularidade de serviço.
Diariamente, haverá mais farta distribuição de luz espiritual em favor de quantos se utilizam da luz que já lhes foi concedida, no engrandecimento e na paz da comunidade.
Não é razoável, porém, conferir instrumentos novos a mãos ociosas, que entregam enxadas à ferrugem.
Recorda, pois, meu amigo, que podes ser o intermediário do Mestre, em qualquer parte.
Basta que compreendas a obrigação fundamental, no trabalho do bem, e atendas a vontade do Senhor, agindo, incessantemente, na concretização dos Celestes Desígnios.
Não te aflijas, portanto, se ainda não recebeste a credencial para o intercâmbio direto com o plano invisível, sob o ponto de vista fenonênico. Se suspiras pela comunicação franca com os espíritos desencarnados, lembra-te de que também és um espírito imortal, temporariamente na Terra, com o dever de aplicar o sublime dom de servir que há em ti mesmo.
Autor: Emmanuel
Psicografia de Chico Xavier
Em todos os setores de organização da fé cristã, nos quadros do espiritismo contemporâneo, há sempre companheiros dominados por nocivas inquietações.
O problema da mediunidade principalmente, é dos mais ventilados, esquecendo-se, não raro, o impositivo essencial do serviço.
Aquisições psíquicas não constituem realizações mecânicas.
É indispensável aplicar nobremente as bençãos já recebidas, a fim de que possamos solicitar concessões novas.
Em toda parte, há insopitável ansiedade por recolher dons do Céu, sem nenhuma disposição sincera de espalhá-los, a benefício de todos em nome do divino doador.
Entretanto, o campo de lutas e experiências terrestres é a obra extensa do Cristo, dentro da qual a cada trabalhador se impõe certa particularidade de serviço.
Diariamente, haverá mais farta distribuição de luz espiritual em favor de quantos se utilizam da luz que já lhes foi concedida, no engrandecimento e na paz da comunidade.
Não é razoável, porém, conferir instrumentos novos a mãos ociosas, que entregam enxadas à ferrugem.
Recorda, pois, meu amigo, que podes ser o intermediário do Mestre, em qualquer parte.
Basta que compreendas a obrigação fundamental, no trabalho do bem, e atendas a vontade do Senhor, agindo, incessantemente, na concretização dos Celestes Desígnios.
Não te aflijas, portanto, se ainda não recebeste a credencial para o intercâmbio direto com o plano invisível, sob o ponto de vista fenonênico. Se suspiras pela comunicação franca com os espíritos desencarnados, lembra-te de que também és um espírito imortal, temporariamente na Terra, com o dever de aplicar o sublime dom de servir que há em ti mesmo.
Autor: Emmanuel
Psicografia de Chico Xavier
A PESQUISA DA REENCARNAÇÃO
"O Espiritismo deve ter existido desde a origem dos tempos; sempre nos esforçamos por provar que os seus traços são encontrados na mais alta Antiguidade." Allan kardec , Revista Espírita, out. 1858.
A reencarnação é um fato!
Sabemos que Pitágoras havia haurido a idéia entre os hindus e os egípcios. Assim, não é de admirar que chegou aos nossos dias trazendo em seu bojo o conhecimento humano desenvolvido através dos milênios, comprovando não ser nenhuma teoria moderna. Com o desenvolvimento das ciências positivas a partir do século XIX a idéia da reencarnação deixou de ser uma crença para ter a força de uma verdade científica.
Mas por que via a idéia da reencarnação veio naqueles tempos imemoriais? Por intuição ou revelação? O conhecimento humano e a ciência tinham limitações infinitamente maiores. A reencarnação só poderia ser aceita por Espíritos de escol que preparavam o árduo caminho do progresso das inteligências. Nos dias de hoje temos a possibilidade de ser esclarecidos também pelos avanços científicos. Em que pese a grande quantidade de almas ainda reticentes e apegadas a interesses temporais.
E é também com a pesquisa científica que o Espiritismo pode derrubar as paredes que o prendem às casas Espíritas. Pode contribuir para a mudança de paradigma e a criação de uma consciência reencarnatória onde os postulados espíritas sejam aceitos por toda a sociedade, sendo difundido entre as massas e contribuindo para o esclarecimento humano, deixando de ser a reencarnação uma questão de crença. Desta forma serão compreendidos como princípios eminentemente lógicos e poderão ser aceitos sem nenhuma forma de violência à razão pois terão sido exaustivamente pesquisados e confirmados por inúmeros investigadores de qualidade.
Mas, e o esquecimento do passado? Não estaríamos agindo contrário aos ensinamentos Espíritas? Vamos deixar que nosso insigne codificador responda. "Deus permite a lembrança retrospectiva, de vez em quando, a fim de trazer os homens ao conhecimento da grande lei da pluralidade das existências, a única que explica a origem das qualidades boas ou más, mostra-lhe a justiça das misérias que suporta aqui e lhe traça a rota do futuro", conforme exposto na Revista Espírita de novembro de 1864.
Allan Kardec também pesquisou a reencarnação, conforme vemos na Revista Espírita de julho de 1860. Ali buscou compreender em detalhes a vida anterior do Sr. V..., oficial da marinha francesa, que teria sido São Bartolomeu. Em uma das perguntas deixa claro o móvel da pesquisa: "Não se trata de satisfazer uma vã curiosidade, mas de constatar, se possível, um fato interessante para a ciência Espírita, o da recordação de sua vida anterior". Fica evidente que devido ao gênero da morte as lembranças, apesar de muito raras, são possíveis e úteis para o estudo e a pesquisa.
Mas Kardec não parou por ai, como vemos na Revista Espírita de 1866 meses de junho e julho, onde estudou as vidas passadas do Dr. Cailleux, chegou novamente a conclusões reveladoras quando diz que "Essa lembrança é mais ou menos precisa ou confusa, às vezes nula, segundo a natureza do Espírito e segundo a Providência julga a propósito apagá-la ou reavivá-la, como recompensa, punição ou instrução". Mais adiante compara a diferença que existe no processo de consciência de vidas passadas e diz que "as coisas nele (Dr. Cailleux) se passaram de maneira diferente do que nos outros, sem dúvida por motivos de utilidade para ele e para nós é um motivo de ensinamento, pois nos mostra um dos lados do mundo espiritual".
Como bem demonstrou nosso codificador, a pesquisa da reencarnação não tem a preensão de tentar derrogar nenhuma Lei Natural. As lembranças reencarnatórias, ou insights, ou clarões são espontâneos assim como são naturais as BirthMarks e tudo que serve de indício de comprovação de vidas passadas. A pesquisa apenas a resgata, organiza com metodologia própria e busca na medida do possível compreender as Leis que regem o fenômeno. É pelo estudo positivo dos efeitos que se remonta a apreciação das causas.
A pesquisa da reencarnação deve organizar-se de forma que indique claramente critérios que possam ser aceitos pela comunidade científica. Achismos e meras opiniões pessoais nada esclarecem, muito ao contrário. Temos na literatura Espírita uma profusão imensa de exemplos que o codificador nos deixou do que seja uma mentalidade científica. Entre outras coisas ele nos diz que "na ausência de fatos a dúvida é a opinião sábia e prudente".
Também a comunicação mediúnica não pode ser, pela simples razão de ser mediúnica, considerada fonte confiável, conforme nos alerta Kardec na Revista Espírita em abril 1860: "São, por vezes, heresias científicas tão patentes, que seria preciso ser cego ou muito ignorante para não as perceber". E para evitar tamanha armadilha criou método próprio, exposto no Evangelho Segundo o Espiritismo denominado Controle Universal do Ensinamento dos Espíritos - CUEE. Alí, entre outras coisas, fica evidente a importância do uso da razão, do bom senso e a necessidade do consenso entre as comunicações recebidas.
Não se trata aqui de reproduzir mecanicamente metodologia de uma ciência que sabemos incompetente para pronunciar-se nas questões do Espírito. As observações requerem condições diferenciadas, especiais e um outro ponto de partida. A pesquisa espírita deve, excluindo-se o que não lhe convém e adaptando-se o que for necessário, apropriar-se de meios de observação, métodos de trabalho, critérios de análise comparativa e elaboração de resultados da ciência oficial; para que seu protocolo de pesquisa tenha a legitimidade do avanço científico de nossa época.
O pesquisamento Espírita da reencarnação deve ser a busca minuciosa para averiguação da realidade espiritual, com investigação e estudo minudente e sistemático, com o fim de descobrir fatos ou princípios relativos a este campo de pesquisa. A produção de resultados com a conseqüente formação de banco de dados para facilitar novas pesquisas é permitir a democratização das informações ali contidas para que um maior número de pesquisadores tenham a possibilidade de acessa-las.
Não cabe em nossas singelas reflexões elencarmos pesquisadores ou citarmos pioneiros em pesquisa da reencarnação. Mas seria imperdoável não lembrarmos de Albert de Rochas e do Dr. Hernani G. Andrade, que em nossas terras deixou alguns tímidos seguidores. Hermínio Miranda no livro A Memória e o Tempo descreve detalhadamente o que teria sido a metodologia aplicada pelo pesquisador francês e suas minuciosas e preciosas observações.
Dr. Hernani no livro Reencarnação no Brasil, assim como no brilhante Renasceu por Amor também deixa explicito seu método de trabalho com protocolo de pesquisa de forma clara e acessível. Não podemos nos esquecer ainda das inúmeras pesquisas com caráter científico que são feitas com técnicas diversas. É o caso da Transcomunicação Instrumental - TCI, das Experiências de Quase Morte - EQM e da Terapia de Vidas Passadas - TVP. Todas elas, a sua maneira, contribuindo para que os postulados Espíritas possam ser aceitos nem que seja como um conjunto de evidências experimentais pelos mais céticos dos imortais.
Considerando que o pesquisador já tenha conhecimento suficiente da Doutrina Espírita e dos experimentos científicos realizados neste campo do conhecimento, através de revisão bibliográfica; que já tenha determinado o problema da pesquisa; que tenha conhecimento suficiente de Filosofia da Ciência, epistemologia e Sociologia do Saber. Considerando ainda que o pesquisador tenha plena clareza das questões éticas e morais envolvidas na pesquisa e na relação com o pesquisado; restaria ainda árduo trabalho de pesquisa onde a metodologia aplicada deveria sempre ser adaptada a cada caso concreto, muito antes de podermos afirmar quem é quem no processo reencarnatório.
Abaixo alguns poucos itens que fariam parte de um procedimento de pesquisa muito mais amplo e fundamentado:
Coleta de documentos (certidões/cartas/fotos/recorte jornais).
Registro dos dados coletados verbalmente com o pesquisado através de várias entrevistas e preenchimento de formulários (áudio, vídeo e relatórios).
Transcrição onde os dados serão classificados conforme: Experiências Iniciais. Informações Secundárias. Registros Físicos. Fatores Psíquicos.
Depoimento de terceiros - testemunhas da época, parentes e pessoas envolvidas (áudio e vídeo)
Visita aos locais envolvidos na memória extra-cerebrais para investigar depoimentos.
Consulta a pelo menos 3 fontes mediúnicas em locais diferentes, preferencialmente na mesma data e horário.
Detalhamento do Perfil Psicológico (comparativo presente/passado)
Cruzamento comparativo de dados segundo critérios cronológicos e qualitativos.
Depois do Histórico completo, partiria-se para a Análise das Evidências.
E, por final, a análise do caso pesquisado através de todas as Hipóteses Explicativas possíveis.
Para o bom caminhar e desenvolvimento das pesquisas com sua conseqüente aceitação pelo público alvo, restaria ainda algumas atitudes, como:
Desenvolvimento de Linguagem apropriada e relacionamento com a comunidade científica.
Publicação regular e sistemática em livros, jornais e revistas especializadas.
Participação em congressos acadêmicos internacionais.
Relacionamento com pesquisadores de áreas correlatas como Jim Tucker. Banerjee. Stevenson, etc.
Estudo sistemático das matérias técno-científicas que dão suporte à pesquisa.
Acompanhamento dos progressos científicos nesta área.
Parcerias com Centros de Pesquisa.
Ainda assim, em nossas conclusões deveríamos divulgar como um Caso que tem Fortes Evidências que Sugerem Reencarnação. Desta forma poderemos contribuir para a satisfação moral que naturalmente advém a todos aqueles que compreendem e praticam os conhecimentos adquiridos. Conhecimentos estes em inteligência, em saber e em moralidade que nunca se perdem; quer morramos jovens ou velhos, quer tenhamos ou não tempo de o aproveitar na existência presente, colheremos os frutos em existências subseqüentes. Estaremos assim colaborando para uma verdadeira revolução nas crenças e nas idéias, muito além das fronteiras de nossa casa Espírita.
Não esperemos que a pesquisa da reencarnação tenha o suporte de projetos governamentais com desembaraço alfandegário e liberação de taxas de importação para material científico; criação de leis de incentivo fiscal para aplicação de recursos privados em ciência; apoio do CNPq, Capes, Fapesp ou aprovação no congresso de investimento governamental para pesquisa da reencarnação.
A pesquisa da reencarnação deve ter antes de mais nada o apoio da própria comunidade espírita. Se faz urgente entendermos o caráter científico que deve ter o Espiritismo e a importância que este terá para a difusão de seu corpo doutrinário e compreensão da realidade espiritual para toda a sociedade. Enquanto as pesquisas não se desenvolvem satisfatoriamente, nossa opinião a respeito de qualquer reencarnação deverá ser sempre a dúvida, que é a opinião mais sábia e prudente.
Autor: Milton B. Piedade
(Retirado do Boletim GEAE Número 460 de 29 de julho de 2003)
A reencarnação é um fato!
Sabemos que Pitágoras havia haurido a idéia entre os hindus e os egípcios. Assim, não é de admirar que chegou aos nossos dias trazendo em seu bojo o conhecimento humano desenvolvido através dos milênios, comprovando não ser nenhuma teoria moderna. Com o desenvolvimento das ciências positivas a partir do século XIX a idéia da reencarnação deixou de ser uma crença para ter a força de uma verdade científica.
Mas por que via a idéia da reencarnação veio naqueles tempos imemoriais? Por intuição ou revelação? O conhecimento humano e a ciência tinham limitações infinitamente maiores. A reencarnação só poderia ser aceita por Espíritos de escol que preparavam o árduo caminho do progresso das inteligências. Nos dias de hoje temos a possibilidade de ser esclarecidos também pelos avanços científicos. Em que pese a grande quantidade de almas ainda reticentes e apegadas a interesses temporais.
E é também com a pesquisa científica que o Espiritismo pode derrubar as paredes que o prendem às casas Espíritas. Pode contribuir para a mudança de paradigma e a criação de uma consciência reencarnatória onde os postulados espíritas sejam aceitos por toda a sociedade, sendo difundido entre as massas e contribuindo para o esclarecimento humano, deixando de ser a reencarnação uma questão de crença. Desta forma serão compreendidos como princípios eminentemente lógicos e poderão ser aceitos sem nenhuma forma de violência à razão pois terão sido exaustivamente pesquisados e confirmados por inúmeros investigadores de qualidade.
Mas, e o esquecimento do passado? Não estaríamos agindo contrário aos ensinamentos Espíritas? Vamos deixar que nosso insigne codificador responda. "Deus permite a lembrança retrospectiva, de vez em quando, a fim de trazer os homens ao conhecimento da grande lei da pluralidade das existências, a única que explica a origem das qualidades boas ou más, mostra-lhe a justiça das misérias que suporta aqui e lhe traça a rota do futuro", conforme exposto na Revista Espírita de novembro de 1864.
Allan Kardec também pesquisou a reencarnação, conforme vemos na Revista Espírita de julho de 1860. Ali buscou compreender em detalhes a vida anterior do Sr. V..., oficial da marinha francesa, que teria sido São Bartolomeu. Em uma das perguntas deixa claro o móvel da pesquisa: "Não se trata de satisfazer uma vã curiosidade, mas de constatar, se possível, um fato interessante para a ciência Espírita, o da recordação de sua vida anterior". Fica evidente que devido ao gênero da morte as lembranças, apesar de muito raras, são possíveis e úteis para o estudo e a pesquisa.
Mas Kardec não parou por ai, como vemos na Revista Espírita de 1866 meses de junho e julho, onde estudou as vidas passadas do Dr. Cailleux, chegou novamente a conclusões reveladoras quando diz que "Essa lembrança é mais ou menos precisa ou confusa, às vezes nula, segundo a natureza do Espírito e segundo a Providência julga a propósito apagá-la ou reavivá-la, como recompensa, punição ou instrução". Mais adiante compara a diferença que existe no processo de consciência de vidas passadas e diz que "as coisas nele (Dr. Cailleux) se passaram de maneira diferente do que nos outros, sem dúvida por motivos de utilidade para ele e para nós é um motivo de ensinamento, pois nos mostra um dos lados do mundo espiritual".
Como bem demonstrou nosso codificador, a pesquisa da reencarnação não tem a preensão de tentar derrogar nenhuma Lei Natural. As lembranças reencarnatórias, ou insights, ou clarões são espontâneos assim como são naturais as BirthMarks e tudo que serve de indício de comprovação de vidas passadas. A pesquisa apenas a resgata, organiza com metodologia própria e busca na medida do possível compreender as Leis que regem o fenômeno. É pelo estudo positivo dos efeitos que se remonta a apreciação das causas.
A pesquisa da reencarnação deve organizar-se de forma que indique claramente critérios que possam ser aceitos pela comunidade científica. Achismos e meras opiniões pessoais nada esclarecem, muito ao contrário. Temos na literatura Espírita uma profusão imensa de exemplos que o codificador nos deixou do que seja uma mentalidade científica. Entre outras coisas ele nos diz que "na ausência de fatos a dúvida é a opinião sábia e prudente".
Também a comunicação mediúnica não pode ser, pela simples razão de ser mediúnica, considerada fonte confiável, conforme nos alerta Kardec na Revista Espírita em abril 1860: "São, por vezes, heresias científicas tão patentes, que seria preciso ser cego ou muito ignorante para não as perceber". E para evitar tamanha armadilha criou método próprio, exposto no Evangelho Segundo o Espiritismo denominado Controle Universal do Ensinamento dos Espíritos - CUEE. Alí, entre outras coisas, fica evidente a importância do uso da razão, do bom senso e a necessidade do consenso entre as comunicações recebidas.
Não se trata aqui de reproduzir mecanicamente metodologia de uma ciência que sabemos incompetente para pronunciar-se nas questões do Espírito. As observações requerem condições diferenciadas, especiais e um outro ponto de partida. A pesquisa espírita deve, excluindo-se o que não lhe convém e adaptando-se o que for necessário, apropriar-se de meios de observação, métodos de trabalho, critérios de análise comparativa e elaboração de resultados da ciência oficial; para que seu protocolo de pesquisa tenha a legitimidade do avanço científico de nossa época.
O pesquisamento Espírita da reencarnação deve ser a busca minuciosa para averiguação da realidade espiritual, com investigação e estudo minudente e sistemático, com o fim de descobrir fatos ou princípios relativos a este campo de pesquisa. A produção de resultados com a conseqüente formação de banco de dados para facilitar novas pesquisas é permitir a democratização das informações ali contidas para que um maior número de pesquisadores tenham a possibilidade de acessa-las.
Não cabe em nossas singelas reflexões elencarmos pesquisadores ou citarmos pioneiros em pesquisa da reencarnação. Mas seria imperdoável não lembrarmos de Albert de Rochas e do Dr. Hernani G. Andrade, que em nossas terras deixou alguns tímidos seguidores. Hermínio Miranda no livro A Memória e o Tempo descreve detalhadamente o que teria sido a metodologia aplicada pelo pesquisador francês e suas minuciosas e preciosas observações.
Dr. Hernani no livro Reencarnação no Brasil, assim como no brilhante Renasceu por Amor também deixa explicito seu método de trabalho com protocolo de pesquisa de forma clara e acessível. Não podemos nos esquecer ainda das inúmeras pesquisas com caráter científico que são feitas com técnicas diversas. É o caso da Transcomunicação Instrumental - TCI, das Experiências de Quase Morte - EQM e da Terapia de Vidas Passadas - TVP. Todas elas, a sua maneira, contribuindo para que os postulados Espíritas possam ser aceitos nem que seja como um conjunto de evidências experimentais pelos mais céticos dos imortais.
Considerando que o pesquisador já tenha conhecimento suficiente da Doutrina Espírita e dos experimentos científicos realizados neste campo do conhecimento, através de revisão bibliográfica; que já tenha determinado o problema da pesquisa; que tenha conhecimento suficiente de Filosofia da Ciência, epistemologia e Sociologia do Saber. Considerando ainda que o pesquisador tenha plena clareza das questões éticas e morais envolvidas na pesquisa e na relação com o pesquisado; restaria ainda árduo trabalho de pesquisa onde a metodologia aplicada deveria sempre ser adaptada a cada caso concreto, muito antes de podermos afirmar quem é quem no processo reencarnatório.
Abaixo alguns poucos itens que fariam parte de um procedimento de pesquisa muito mais amplo e fundamentado:
Coleta de documentos (certidões/cartas/fotos/recorte jornais).
Registro dos dados coletados verbalmente com o pesquisado através de várias entrevistas e preenchimento de formulários (áudio, vídeo e relatórios).
Transcrição onde os dados serão classificados conforme: Experiências Iniciais. Informações Secundárias. Registros Físicos. Fatores Psíquicos.
Depoimento de terceiros - testemunhas da época, parentes e pessoas envolvidas (áudio e vídeo)
Visita aos locais envolvidos na memória extra-cerebrais para investigar depoimentos.
Consulta a pelo menos 3 fontes mediúnicas em locais diferentes, preferencialmente na mesma data e horário.
Detalhamento do Perfil Psicológico (comparativo presente/passado)
Cruzamento comparativo de dados segundo critérios cronológicos e qualitativos.
Depois do Histórico completo, partiria-se para a Análise das Evidências.
E, por final, a análise do caso pesquisado através de todas as Hipóteses Explicativas possíveis.
Para o bom caminhar e desenvolvimento das pesquisas com sua conseqüente aceitação pelo público alvo, restaria ainda algumas atitudes, como:
Desenvolvimento de Linguagem apropriada e relacionamento com a comunidade científica.
Publicação regular e sistemática em livros, jornais e revistas especializadas.
Participação em congressos acadêmicos internacionais.
Relacionamento com pesquisadores de áreas correlatas como Jim Tucker. Banerjee. Stevenson, etc.
Estudo sistemático das matérias técno-científicas que dão suporte à pesquisa.
Acompanhamento dos progressos científicos nesta área.
Parcerias com Centros de Pesquisa.
Ainda assim, em nossas conclusões deveríamos divulgar como um Caso que tem Fortes Evidências que Sugerem Reencarnação. Desta forma poderemos contribuir para a satisfação moral que naturalmente advém a todos aqueles que compreendem e praticam os conhecimentos adquiridos. Conhecimentos estes em inteligência, em saber e em moralidade que nunca se perdem; quer morramos jovens ou velhos, quer tenhamos ou não tempo de o aproveitar na existência presente, colheremos os frutos em existências subseqüentes. Estaremos assim colaborando para uma verdadeira revolução nas crenças e nas idéias, muito além das fronteiras de nossa casa Espírita.
Não esperemos que a pesquisa da reencarnação tenha o suporte de projetos governamentais com desembaraço alfandegário e liberação de taxas de importação para material científico; criação de leis de incentivo fiscal para aplicação de recursos privados em ciência; apoio do CNPq, Capes, Fapesp ou aprovação no congresso de investimento governamental para pesquisa da reencarnação.
A pesquisa da reencarnação deve ter antes de mais nada o apoio da própria comunidade espírita. Se faz urgente entendermos o caráter científico que deve ter o Espiritismo e a importância que este terá para a difusão de seu corpo doutrinário e compreensão da realidade espiritual para toda a sociedade. Enquanto as pesquisas não se desenvolvem satisfatoriamente, nossa opinião a respeito de qualquer reencarnação deverá ser sempre a dúvida, que é a opinião mais sábia e prudente.
Autor: Milton B. Piedade
(Retirado do Boletim GEAE Número 460 de 29 de julho de 2003)
22 junho 2010
A MORTE DIVIDE AS FASES DA NOSSA VIDA
"Necessário vos é nascer de novo" (Jesus a Nicodemos)
Entre inúmeros benefícios que decorrem do estudo e da assimilação da Doutrina Espírita, podemos indicar, sem dificuldade, aquele que orienta o homem acerca do milenário problema da Morte.
Inegavelmente, sem qualquer partidarismo, somos levados a compreender que só o Espiritismo estuda o velho problema, com riqueza de pormenores, uma vez que sobre tal assunto muito pouco, ou que nada, disseram as demais religiões, que se limitaram, simplesmente, a admitir e anunciar a existência do Mundo Espiritual.
Sem as consoladores luzes da nossa amada Doutrina, marcharia o homem para o túmulo - diremos melhor; para a Pátria da Verdade - sem idéia segura do que lhe acontecerá após o choque biológico do desenlace.
Nenhuma noção da morte.
Nenhum conhecimento das leis admiráveis que rege a vida no plano espiritual.
Nenhuma informação sobre o que sucede a ama durante e depois da desencarnação.
Em suma, verdadeiro cego, ante o mundo grandioso que o aguarda; um indígena, atônito, perplexo nos pórticos de estranha, quão maravilhosa civilização.
Essa ignorância, praticamente total, a respeito de tão importante problema, é a triste herança de velhas e novas religiões mestras no ocultar e fantasiar a realidade da vida além das fronteiras terrenas.
Religiões que procederam e procedem à maneira dos cronistas sociais modernas: depois eu conto¼
O Espiritismo é profundamente, intensamente realista, tanto nesse como em todos os assuntos de interesse da alma eterna.
Identificando a criatura, sem subterfúgio de qualquer espécie, com os seus postulados, fazendo-a absorver a parcela de verdade que ela suporta, torna-se tranqüila ante a perspectiva da desencarnação.
Não cremos, nem anunciamos um Céu grandioso, adquirível à custa de promessas, espórtulas, louvaninhas ou petitórios, nem um inferna tenebroso, eterno, de onde jamais sairemos.
O nosso conceito a respeito da morte e de suas conseqüências, se alicerça no Evangelho: "A cada um será dado de acordo com as suas obras".
Seria, naturalmente, leviandade afirmarmos que o Espiritismo já revelou, em toda a sua extensão e plenitude, a vida no plano extrafísico.
Expressando, todavia, a misericórdia divina, vem erguendo gradualmente, em doses nem sempre homeopáticas, a cortina que separa o mundo físico do mundo espiritual, consentindo estendamos o olhar curioso, indagativo, sobre o belo panorama da vida além da carne.
O espírita convicto não teme a morte, nem para si nem para os outros, mas procurar cumprir, da melhor maneira possível, apesar de suas imperfeições, imperfeições que não desconhece, os deveres que lhe cabem na erra, aguardando, assim, confiante, a qualquer tempo, hora e lugar, o momento da Grande Passagem.
Não a considera pavorosa, lúgubre, terrificante, tampouco a define por suave e milagrosa porta de redenção e felicidade.
O Espiritismo ensina, com apoio no Cristianismo, que não há das vidas, mas sim duas fases, que se prolongam, de uma só vida.
Se a Doutrina preleciona: "nascer, morre, renascer ainda, progredir continuamente" Jesus notifica a Nicodemos: "necessário vos é nascer de novo".
A uma daquelas fases, dá-se o nome de Etapa Corporal. Vai do berço ao túmulo. À outra, dá-se o nome de Etapa Espiritual. Vai do túmulo ao berço.
A nossa alma é como o Sol, que se esconde no horizonte, ao pôr de um dia, para, no alvorecer de novo dia, retornar pelo mesmo caminho.
A vida, em si mesma, é sublime cadeia de experiências que se repetem, séculos e mais séculos, até que obtenhamos a perfeição.
Maravilhosa cadeia, cujos elos se entrelaçam, se entrosam, se harmonizam, justapostos...
Pensando atuando dentro da conceituação, estranha para muitos, por enquanto, porém muito lógica e racional para nós, sabe o espírita, em tese, o que a Morte, como fenômeno simplesmente transitivo, lhe reservará.
Sabe que o sistema de vida adotado aqui na Terra, o seu comportamento ético, terá justa e equânime correspondência no mundo espiritual que é indefectivamente, um prolongamento do terráqueo.
Boas sementes, bons frutos produzem.
Más sementes, amargos frutos produzem.
Seremos, aqui e em qualquer parte, o resultado de nós mesmos, de nossos atos, pensamentos e palavras, sem embargo da generosas intercessões de amigos que se nos anteciparam na Grande Viagem.
Proporcionando alegria e amparo, alimento e instrução, aqui na Terra, aos nossos semelhantes, a Lei nos assegurará, no Plano Espiritual, instrução e alimento, amparo e alegria.
Tais noções, hauridas no Espiritismo, tornam o homem mais responsável e mais cuidadoso, mais esclarecido e mais consciente, compelindo-o a passos mais seguros, dentro da Vida - em suas duas faces - para que a Vida lhe sorria, agora e sempre.
Evidentemente, sem subestimar, nem sobreestimar a morte, o espírita caminha, luta, sofre, trabalha e evolui conscientemente, na direção do Infinito Bem, felicidade, os renas cimentos, sucessivos a que se referiu Jesus, no diálogo com Nicodemos.
Autor: Martins Peralva
Entre inúmeros benefícios que decorrem do estudo e da assimilação da Doutrina Espírita, podemos indicar, sem dificuldade, aquele que orienta o homem acerca do milenário problema da Morte.
Inegavelmente, sem qualquer partidarismo, somos levados a compreender que só o Espiritismo estuda o velho problema, com riqueza de pormenores, uma vez que sobre tal assunto muito pouco, ou que nada, disseram as demais religiões, que se limitaram, simplesmente, a admitir e anunciar a existência do Mundo Espiritual.
Sem as consoladores luzes da nossa amada Doutrina, marcharia o homem para o túmulo - diremos melhor; para a Pátria da Verdade - sem idéia segura do que lhe acontecerá após o choque biológico do desenlace.
Nenhuma noção da morte.
Nenhum conhecimento das leis admiráveis que rege a vida no plano espiritual.
Nenhuma informação sobre o que sucede a ama durante e depois da desencarnação.
Em suma, verdadeiro cego, ante o mundo grandioso que o aguarda; um indígena, atônito, perplexo nos pórticos de estranha, quão maravilhosa civilização.
Essa ignorância, praticamente total, a respeito de tão importante problema, é a triste herança de velhas e novas religiões mestras no ocultar e fantasiar a realidade da vida além das fronteiras terrenas.
Religiões que procederam e procedem à maneira dos cronistas sociais modernas: depois eu conto¼
O Espiritismo é profundamente, intensamente realista, tanto nesse como em todos os assuntos de interesse da alma eterna.
Identificando a criatura, sem subterfúgio de qualquer espécie, com os seus postulados, fazendo-a absorver a parcela de verdade que ela suporta, torna-se tranqüila ante a perspectiva da desencarnação.
Não cremos, nem anunciamos um Céu grandioso, adquirível à custa de promessas, espórtulas, louvaninhas ou petitórios, nem um inferna tenebroso, eterno, de onde jamais sairemos.
O nosso conceito a respeito da morte e de suas conseqüências, se alicerça no Evangelho: "A cada um será dado de acordo com as suas obras".
Seria, naturalmente, leviandade afirmarmos que o Espiritismo já revelou, em toda a sua extensão e plenitude, a vida no plano extrafísico.
Expressando, todavia, a misericórdia divina, vem erguendo gradualmente, em doses nem sempre homeopáticas, a cortina que separa o mundo físico do mundo espiritual, consentindo estendamos o olhar curioso, indagativo, sobre o belo panorama da vida além da carne.
O espírita convicto não teme a morte, nem para si nem para os outros, mas procurar cumprir, da melhor maneira possível, apesar de suas imperfeições, imperfeições que não desconhece, os deveres que lhe cabem na erra, aguardando, assim, confiante, a qualquer tempo, hora e lugar, o momento da Grande Passagem.
Não a considera pavorosa, lúgubre, terrificante, tampouco a define por suave e milagrosa porta de redenção e felicidade.
O Espiritismo ensina, com apoio no Cristianismo, que não há das vidas, mas sim duas fases, que se prolongam, de uma só vida.
Se a Doutrina preleciona: "nascer, morre, renascer ainda, progredir continuamente" Jesus notifica a Nicodemos: "necessário vos é nascer de novo".
A uma daquelas fases, dá-se o nome de Etapa Corporal. Vai do berço ao túmulo. À outra, dá-se o nome de Etapa Espiritual. Vai do túmulo ao berço.
A nossa alma é como o Sol, que se esconde no horizonte, ao pôr de um dia, para, no alvorecer de novo dia, retornar pelo mesmo caminho.
A vida, em si mesma, é sublime cadeia de experiências que se repetem, séculos e mais séculos, até que obtenhamos a perfeição.
Maravilhosa cadeia, cujos elos se entrelaçam, se entrosam, se harmonizam, justapostos...
Pensando atuando dentro da conceituação, estranha para muitos, por enquanto, porém muito lógica e racional para nós, sabe o espírita, em tese, o que a Morte, como fenômeno simplesmente transitivo, lhe reservará.
Sabe que o sistema de vida adotado aqui na Terra, o seu comportamento ético, terá justa e equânime correspondência no mundo espiritual que é indefectivamente, um prolongamento do terráqueo.
Boas sementes, bons frutos produzem.
Más sementes, amargos frutos produzem.
Seremos, aqui e em qualquer parte, o resultado de nós mesmos, de nossos atos, pensamentos e palavras, sem embargo da generosas intercessões de amigos que se nos anteciparam na Grande Viagem.
Proporcionando alegria e amparo, alimento e instrução, aqui na Terra, aos nossos semelhantes, a Lei nos assegurará, no Plano Espiritual, instrução e alimento, amparo e alegria.
Tais noções, hauridas no Espiritismo, tornam o homem mais responsável e mais cuidadoso, mais esclarecido e mais consciente, compelindo-o a passos mais seguros, dentro da Vida - em suas duas faces - para que a Vida lhe sorria, agora e sempre.
Evidentemente, sem subestimar, nem sobreestimar a morte, o espírita caminha, luta, sofre, trabalha e evolui conscientemente, na direção do Infinito Bem, felicidade, os renas cimentos, sucessivos a que se referiu Jesus, no diálogo com Nicodemos.
Autor: Martins Peralva
FALTA DE FORMAÇÃO DOUTRINÁRIA
Sem a formação doutrinária, não teremos um movimento espírita coeso e coerente. E, sem coesão e coerência, não teremos Espiritismo. Essa a razão por que os Espíritos Superiores confiaram às mãos de Kardec o pesado trabalho da Codificação. Kardec teve de arcar, sozinho, com a execução dessa obra gigantesca. Porque só ele estava em condições de realizá-la. Depois de Kardec, o que vimos? Léon Denis foi o único dos seus discípulos que conseguiu manter-se à altura do mestre, contribuindo vigorosamente para a consolidação da Doutrina. Era, aparentemente, o menos indicado. Não tinha a formação cultural de Kardec, residia na província, não convivera com ele, mas soubera compreender a posição metodológica do Espiritismo e não a confundia com os desvarios espiritualistas da época.
Depois de Denis, foi o dilúvio. A Revista Espírita virou um saco de gatos. A sociedade Parisiense naufragou em águas turvas. A Ciência e a Filosofia Espíritas ficaram esquecidas. O aspecto religioso da Doutrina transviou-se na ignorância e no fanatismo. Os sucessores de Kardec fracassaram inteiramente na manutenção da chama espírita, na França. E, quando a Arvore do Evangelho foi transplantada para o Brasil, segundo a expressão de Humberto de Campos, veio carregada de parasitas mortais que, ao invés de extirpar, tratamos de cultivar e aumentar com as pragas da terra.
Tudo isso por quê? Por falta pura e simples de formação doutrinária. A prova está aí, bem visível, no fluidismo e no obscurantismo que dominam o nosso movimento no Brasil e no Mundo. Os poucos estudiosos, que se aprofudaram no estudo de Kardec, vivem como náufragos num mar tempestuoso, lutando, sem cessar, com os mesmos destroços de sempre. Não há estudo sistemático e sério da Doutrina. E o que é mais grave, há evidente sintoma de fascinação das trevas, em vastos setores representativos que, por incrível que pareça, combatem por todos os meios o desenvolvimento da cultura espírita.
Enquanto não compreendermos que Espiritismo é cultura, as tentativas de unificação do nosso movimento não darão resultados reais. Darão aproximações arrepiadas de conflitos, aumento quantitativo de adeptos ineptos, estimulação perigosa de messianismos individuais e de grupos. Flamarion, que nunca entendeu realmente a posição de Kardec, e chegou a dizer que ele fez obra um tanto pessoal, como se vê no seu famoso discurso ao pé do túmulo, teve, entretanto, uma intuição feliz quando o chamou de bom senso encarnado.
Esse bom senso é que nos falta. Parece haver se desencarnado com Kardec, e volatizado com Denis. Hoje, estamos na era do contra-senso. Os mesmos órgãos de divulgação doutrinária que pregam o obscurantismo, exibem pavoneios de erudição personalista, em nome de uma cultura inexistente. Porque cultura não é erudição, livros empilhados nas estantes, fichário em ordem para consultas ocasionais. Cultura è assimilação de conhecimentos e bom senso em ação.
O que fazer diante dessa situação? Cuidar da formação espírita das novas gerações, sem esquecer a alfabetização de adultos. Mobral: esse o recurso. Temos de organizar o Mobral do Espírito. E começar tudo de novo, pelas primeiras letras. Mas, isso em conjunto, agrupando elementos capazes, de mente arejada e coração aberto. Foi por isso que propus a criação das Escolas de Espiritismo, em nível universitário, dotadas de amplos currículos de formação cultural espírita.
Podem dizer que há contradições entre Mobral e nível universitário. Mas, nota-se, que falamos de Mobral do Espírito. A Cultura Espírita é o desenvolvimento da cultura acadêmica, é o seguimento natural da cultura atual, em que se misturam elementos cristãos, pagãos e ateus. Para iniciar-se na cultura espírita, o estudante deve possuir as bases da cultura anterior. "Tudo se encadeia no Universo", como ensina, repetidamente, O Livro dos Espíritos. Quem não compreende esse encadeamento, tem de iniciar pelo Mobral. Não há outra forma de adaptá-lo às novas exigências da nova cultura.
A verdade nua e crua é que ninguém conhece Espiritismo. Ninguém, mesmo, no Brasil e no Mundo. Estamos todos aprendendo, ainda, de maneira canhestra.
E se me permito escrever isto, é porque aprendi, a duras penas, a conhecer a minha própria indigência. No Espiritismo, como já se dava no Cristianismo e na própria filosofia grega, o que vale é o método socrático.
Temos, antes de tudo, de compreender que nada sabemos. Então, estaremos, pelo menos, conscientes de nossa ignorância e capazes de aprender.
Mas, aprender com quem? Sozinhos, como autodidatas, tirando nossas próprias lições dos textos, confiantes nas luzes da nossa ignorância? Recebendo lições de outros que tateiam como nós, mas que estufam o peito de auto-suficiência e pretensão? Claro que não. Ao menos isso devemos saber. Temos de trabalhar em conjunto, reunindo companheiros sensatos, bem intencionados, não fascinados por mistificações grosseiras e evidentes, capazes de humildade real, provada por atos e atitudes. Assim conjugados, poderemos aprender de Kardec, estudando suas obras, mergulhando em seus textos, lembrando-nos de que foi ele e só ele o incumbido de nos transmitir o legado do Espírito da Verdade.
Kardec é a nossa pedra de toque. Não por ser Kardec, mas por ser o intérprete humilde que foi, o homem sincero e puro a serviço dos Espíritos Instrutores.
É o que devemos ter nas Escolas de Espiritismo.
Não Faculdades, nem Academias, mas, simplesmente, Escolas. O sistema universitário implica pesquisas, colaboração entre professores e alunos, trabalho conjugado e sem presunção de superioridade de parte de ninguém. O simpósio e o seminário, o livre-debate, enfim, é que resolvem, e não o magister do passado. O espírito universitário, por isso mesmo, é o que melhor corresponde à escola espírita. Num ambiente assim, os Espíritos Instrutores disporão de meios para auxiliar os estudantes sinceros e despretensiosos.
A formação espírita exige ensino metódico mas, ao mesmo tempo, livre. Foi o que os Espíritos deram a Kardec: um ensino de que ele mesmo participava, interrogando os mestres e discutindo com eles. Por isso, não houve infiltração de mistificadores na obra inteiriça, nesse bloco de lógica e bom senso, que abrange os cinco livros fundamentais de Codificação, os volumes introdutórios e os volumes da Revista Espírita, redigidos por ele durante quase doze anos de trabalho incessante.
Essa obra gigantesca é a plataforma do futuro, o alicerce e o plano de um novo mundo, de uma nova civilização. Seria absurdo pensar que podemos dominar esse vasto acervo de conhecimentos novos, de conceitos revolucionários, através de simples leituras individuais, sem método e sem pesquisa. Nosso papel, no Espiritismo, tem sido o de macacos em loja de louças. E incrível a leviandade com que oradores e articulistas espíritas tratam de certos temas, com uma falsa suficiência de arrepiar, lançando confusões ridículas no meio doutrinário. Temos de compreender que isso não pode continuar. Chega de arengas melífluas nos Centros, de oratória descabelada, de auditórios basbaques, batendo palmas e palavreado pomposo. Nada disso é Espiritismo. Os conferencistas espíritas precisam ensinar Espiritismo - que ninguém conhece - mas para isso precisam, primeiro aprendê-lo.
Precisamos de expositores didáticos, servidos por bom conhecimento doutrinário, arduamente adquirido em estudos e pesquisas. Expor os temas fundamentais da Doutrina, não é falar bonito, com tropos pretensamente literários, que só servem para estufar vaidade, à maneira da oratória bacharelesca do século passado.
Esse palavrório vazio e presunçoso não constrói nada e só serve para ridicularizar o Espiritismo ante a mentalidade positiva e analítica do nosso tempo.
Estamos numa fase avançada da evolução terrena.
Nossa cultura cresceu espantosamente nos últimos anos e já está chegando à confluência dos princípios espíritas em todos os campos. A nossa falta de formação cultural espírita não nos permite enfrentar a barreira dos preconceitos para demonstrar ao mundo que Espiritismo, como escreveu Humberto Mariotti, é uma estrela de amor que espera no horizonte do mundo o avanço das ciências. E curiosa e ridícula a nossa situação.
Temos o futuro nas mãos e ficamos encravados no passado mitológico e nas querelas medievais.
Mas, para superar essa situação, temos de aprender com Kardec. Os que pretendem superar Kardec, não o conhecem. Se o conhecessem, não assumiriam a posição ridícula de críticos e inovadores do que, na verdade, ignoram. Chegamos a uma hora de definições.
Precisamos definir a posição cultural espírita perante a nova cultura dos tempos novos. E só faremos isso através de organismos culturais bem estruturados, funcionais, dotados de recursos escolares capazes de fornecer, aos mais aptos e mais sinceros, a formação cultural de que todos necessitamos, com urgência.
Autor: J. Herculano Pires
Texto retirado do livro O Mistério do Bem e do Mal.
Depois de Denis, foi o dilúvio. A Revista Espírita virou um saco de gatos. A sociedade Parisiense naufragou em águas turvas. A Ciência e a Filosofia Espíritas ficaram esquecidas. O aspecto religioso da Doutrina transviou-se na ignorância e no fanatismo. Os sucessores de Kardec fracassaram inteiramente na manutenção da chama espírita, na França. E, quando a Arvore do Evangelho foi transplantada para o Brasil, segundo a expressão de Humberto de Campos, veio carregada de parasitas mortais que, ao invés de extirpar, tratamos de cultivar e aumentar com as pragas da terra.
Tudo isso por quê? Por falta pura e simples de formação doutrinária. A prova está aí, bem visível, no fluidismo e no obscurantismo que dominam o nosso movimento no Brasil e no Mundo. Os poucos estudiosos, que se aprofudaram no estudo de Kardec, vivem como náufragos num mar tempestuoso, lutando, sem cessar, com os mesmos destroços de sempre. Não há estudo sistemático e sério da Doutrina. E o que é mais grave, há evidente sintoma de fascinação das trevas, em vastos setores representativos que, por incrível que pareça, combatem por todos os meios o desenvolvimento da cultura espírita.
Enquanto não compreendermos que Espiritismo é cultura, as tentativas de unificação do nosso movimento não darão resultados reais. Darão aproximações arrepiadas de conflitos, aumento quantitativo de adeptos ineptos, estimulação perigosa de messianismos individuais e de grupos. Flamarion, que nunca entendeu realmente a posição de Kardec, e chegou a dizer que ele fez obra um tanto pessoal, como se vê no seu famoso discurso ao pé do túmulo, teve, entretanto, uma intuição feliz quando o chamou de bom senso encarnado.
Esse bom senso é que nos falta. Parece haver se desencarnado com Kardec, e volatizado com Denis. Hoje, estamos na era do contra-senso. Os mesmos órgãos de divulgação doutrinária que pregam o obscurantismo, exibem pavoneios de erudição personalista, em nome de uma cultura inexistente. Porque cultura não é erudição, livros empilhados nas estantes, fichário em ordem para consultas ocasionais. Cultura è assimilação de conhecimentos e bom senso em ação.
O que fazer diante dessa situação? Cuidar da formação espírita das novas gerações, sem esquecer a alfabetização de adultos. Mobral: esse o recurso. Temos de organizar o Mobral do Espírito. E começar tudo de novo, pelas primeiras letras. Mas, isso em conjunto, agrupando elementos capazes, de mente arejada e coração aberto. Foi por isso que propus a criação das Escolas de Espiritismo, em nível universitário, dotadas de amplos currículos de formação cultural espírita.
Podem dizer que há contradições entre Mobral e nível universitário. Mas, nota-se, que falamos de Mobral do Espírito. A Cultura Espírita é o desenvolvimento da cultura acadêmica, é o seguimento natural da cultura atual, em que se misturam elementos cristãos, pagãos e ateus. Para iniciar-se na cultura espírita, o estudante deve possuir as bases da cultura anterior. "Tudo se encadeia no Universo", como ensina, repetidamente, O Livro dos Espíritos. Quem não compreende esse encadeamento, tem de iniciar pelo Mobral. Não há outra forma de adaptá-lo às novas exigências da nova cultura.
A verdade nua e crua é que ninguém conhece Espiritismo. Ninguém, mesmo, no Brasil e no Mundo. Estamos todos aprendendo, ainda, de maneira canhestra.
E se me permito escrever isto, é porque aprendi, a duras penas, a conhecer a minha própria indigência. No Espiritismo, como já se dava no Cristianismo e na própria filosofia grega, o que vale é o método socrático.
Temos, antes de tudo, de compreender que nada sabemos. Então, estaremos, pelo menos, conscientes de nossa ignorância e capazes de aprender.
Mas, aprender com quem? Sozinhos, como autodidatas, tirando nossas próprias lições dos textos, confiantes nas luzes da nossa ignorância? Recebendo lições de outros que tateiam como nós, mas que estufam o peito de auto-suficiência e pretensão? Claro que não. Ao menos isso devemos saber. Temos de trabalhar em conjunto, reunindo companheiros sensatos, bem intencionados, não fascinados por mistificações grosseiras e evidentes, capazes de humildade real, provada por atos e atitudes. Assim conjugados, poderemos aprender de Kardec, estudando suas obras, mergulhando em seus textos, lembrando-nos de que foi ele e só ele o incumbido de nos transmitir o legado do Espírito da Verdade.
Kardec é a nossa pedra de toque. Não por ser Kardec, mas por ser o intérprete humilde que foi, o homem sincero e puro a serviço dos Espíritos Instrutores.
É o que devemos ter nas Escolas de Espiritismo.
Não Faculdades, nem Academias, mas, simplesmente, Escolas. O sistema universitário implica pesquisas, colaboração entre professores e alunos, trabalho conjugado e sem presunção de superioridade de parte de ninguém. O simpósio e o seminário, o livre-debate, enfim, é que resolvem, e não o magister do passado. O espírito universitário, por isso mesmo, é o que melhor corresponde à escola espírita. Num ambiente assim, os Espíritos Instrutores disporão de meios para auxiliar os estudantes sinceros e despretensiosos.
A formação espírita exige ensino metódico mas, ao mesmo tempo, livre. Foi o que os Espíritos deram a Kardec: um ensino de que ele mesmo participava, interrogando os mestres e discutindo com eles. Por isso, não houve infiltração de mistificadores na obra inteiriça, nesse bloco de lógica e bom senso, que abrange os cinco livros fundamentais de Codificação, os volumes introdutórios e os volumes da Revista Espírita, redigidos por ele durante quase doze anos de trabalho incessante.
Essa obra gigantesca é a plataforma do futuro, o alicerce e o plano de um novo mundo, de uma nova civilização. Seria absurdo pensar que podemos dominar esse vasto acervo de conhecimentos novos, de conceitos revolucionários, através de simples leituras individuais, sem método e sem pesquisa. Nosso papel, no Espiritismo, tem sido o de macacos em loja de louças. E incrível a leviandade com que oradores e articulistas espíritas tratam de certos temas, com uma falsa suficiência de arrepiar, lançando confusões ridículas no meio doutrinário. Temos de compreender que isso não pode continuar. Chega de arengas melífluas nos Centros, de oratória descabelada, de auditórios basbaques, batendo palmas e palavreado pomposo. Nada disso é Espiritismo. Os conferencistas espíritas precisam ensinar Espiritismo - que ninguém conhece - mas para isso precisam, primeiro aprendê-lo.
Precisamos de expositores didáticos, servidos por bom conhecimento doutrinário, arduamente adquirido em estudos e pesquisas. Expor os temas fundamentais da Doutrina, não é falar bonito, com tropos pretensamente literários, que só servem para estufar vaidade, à maneira da oratória bacharelesca do século passado.
Esse palavrório vazio e presunçoso não constrói nada e só serve para ridicularizar o Espiritismo ante a mentalidade positiva e analítica do nosso tempo.
Estamos numa fase avançada da evolução terrena.
Nossa cultura cresceu espantosamente nos últimos anos e já está chegando à confluência dos princípios espíritas em todos os campos. A nossa falta de formação cultural espírita não nos permite enfrentar a barreira dos preconceitos para demonstrar ao mundo que Espiritismo, como escreveu Humberto Mariotti, é uma estrela de amor que espera no horizonte do mundo o avanço das ciências. E curiosa e ridícula a nossa situação.
Temos o futuro nas mãos e ficamos encravados no passado mitológico e nas querelas medievais.
Mas, para superar essa situação, temos de aprender com Kardec. Os que pretendem superar Kardec, não o conhecem. Se o conhecessem, não assumiriam a posição ridícula de críticos e inovadores do que, na verdade, ignoram. Chegamos a uma hora de definições.
Precisamos definir a posição cultural espírita perante a nova cultura dos tempos novos. E só faremos isso através de organismos culturais bem estruturados, funcionais, dotados de recursos escolares capazes de fornecer, aos mais aptos e mais sinceros, a formação cultural de que todos necessitamos, com urgência.
Autor: J. Herculano Pires
Texto retirado do livro O Mistério do Bem e do Mal.
20 junho 2010
A OBRA DE KARDEC E KARDEC DIAN TE DE SUA OBRA
Sempre haverá muito que aprender na obra de Allan Kardec, não apenas aqueles que se iniciam no estudo da Doutrina Espírita, como também os que dela já têm conhecimento mais profundo. Isso porque os livros que divulgam idéias construtivas — e especialmente idéias novas — nunca se esgotam como fonte de onde fluem continuamente motivações para novos arranjos e, portanto, de progresso espiritual, sem abandonar a contextura filosófica sobre as quais se apóiam.
Para usar linguagem e terminologia essencialmente espíritas, diríamos que o perispírito da doutrina permanece em toda a sutileza e segurança de sua estrutura, ao passo que o espírito da Doutrina segue à frente, em busca de uma expansão filosófica, sujeito que está ao constante embate com a tremenda massa de informação que hoje nos alcança, vinda de todos os setores da especulação humana.
De fato, a Doutrina Espírita está exposta às mais rudes confrontações, por todos os seus três flancos ao mesmo tempo: o filosófico, o científico e o religioso. A cada novo pronunciamento significativo da filosofia, da ciência ou da especulação religiosa, a doutrina se entrega a um processo introspectivo de auto-análise para verificar como se saiu da escaramuça.
Isso tem feito repetida mente e num ritmo cada vez mais vivo, durante mais de um século. E com enorme satisfação, podemos verificar que nossas posições se revelaram inexpugnáveis.
Até mesmo idéias e conceitos em que a Doutrina se antecipou aos tempos começam a receber a estampa confirmatória das conquistas intelectuais como, para citar apenas dois exemplos a reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados. Poderíamos citar ainda a existência do perispírito que vai cada dia mais tornando-se uma necessidade científica, para explicar fenômenos que a biologia clássica não consegue entender.
Quando abrimos hoje revistas, jornais e livros sintonizados com as mais avançadas pesquisas e damos com o nome de importantes cientistas examinando a sério a doutrina palingenésica ou a existência de vida inteligente fora da Terra, somos tomados por um legítimo sentimento de segurança e de crescente respeito pelos postulados da doutrina que os Espíritos vieram trazer-nos. Tamanha era a certeza de Kardec sobre tais aspectos que escreveu que o Espiritismo se modificava nos pontos em que entrasse em conflito com os fatos científicos devidamente comprovados.
Essa observação do Codificador, que poderia parecer a muitos a expressão de um receio ou até mesmo uma gazua para eventual saída honrosa, foi, ao contrário, uma declaração corajosa de quem pesou bem a importância do que estava dizendo e projetou sobre o futuro a sua própria responsabilidade. O tempo deu-lhe a resposta que ele antecipou: não, não há o que reformular, mas se algum dia houver, será em aspectos secundários da doutrina e jamais nas suas concepções estruturais básicas, como a existência de Deus, a sobrevivência do Espírito. a reencarnação e a comunicabilidade entre vivos e ‘mortos “.
O que acontece é que a doutrina codificada não responde a todas as nossas indagações, e nem as de Kardec foram todas resolvidas nos seus mínimos pormenores e implicações. “O Livro dos Espíritos” é um repositório de princípios fundamentais de onde emergem inúmeras “tomadas” para outras tantas especulações e conquistas e realizações.
Nele estão os germes de todas as grandes idéias que a humanidade sonhou pelos tempos afora, mas os Espíritos não realizam por nós o nosso trabalho. Em nenhum outro cometimento humano vê-se tio claramente os sinais de uma inteligente, consciente e preestabelecida coordenação de esforços entre as duas faces da vida —a encarnada e a desencarnada. Tudo parece — e assim o foi — meticulosamente planejado e escrupulosamente executado. A época era aquela mesma, como também o meio ambiente e os métodos empregados.
Para a carne vieram os espíritos incumbidos das tarefas iniciais e das que se seguiram, tudo no tempo e no lugar certos. Igualmente devem ter sido levadas em conta a fragilidade e as imperfeições meramente humanas, pois que também alternativas teriam sido planejadas com extremo cuidado.
Há soluções opcionais para eventuais falhas, porque o trabalho era importante demais para ficar ao sabor das imperfeições humanas e apoiado apenas em dois ou três seres, por maiores que fossem. Ao próprio Kardec, o Espírito da Verdade in forma que é livre de aceitar ou não o trabalho que lhe oferecem. O eminente professor é esclarecido, com toda a honestidade e sem rodeios, que a tarefa é gigantesca e, como ser humano, seria arrastado na lama da iniqüidade, da calúnia, da mentira, da infâmia.
Que todos os processos são bons para aqueles que se opõem à libertação do homem. Que ele, Kardec, poderia também falhar. Seu engajamento seria, pois, de sua livre escolha e que, se recusasse a tarefa, outros havia em condições de levá-la a bom termo.
O momento é dramático.
É também a hora da verdade suprema, pois o plano de trabalho não poderia ficar comprometido por atitudes dúbias e meias-palavras. Aquilo que poderia parecer rudeza de tratamento é apenas ditado pote seriedade do trabalho que se tinha a realizar no plano humano. Kardec aceitou a tarefa e arrostou, com a bravura que lhe conhecemos, a dureza das aflições que sobre ele desabaram, como estava previsto. Tudo lhe aconteceu, como anunciado; os amigos espirituais seriam incapazes de glamourizar a sua colaboração e minimizar as dificuldades apenas para induzi-lo a aceitar a incumbência.
Por outro lado, se ele era, entre os homens, o chefe do movimento,pois alguém Unha que o liderar, compreendeu logo que não era o dono da doutrina e jamais desejou sê-lo.
Quando lhe comunicam que foi escolhido para esse trabalho gigantesco, sente com toda a nitidez e humildade a grandiosidade da tarefa que lhe oferecem e declara que de simples adepto e estudioso a missionário e chefe vai uma distância considerável, diante da qual ele medita, não propriamente temeroso, mas preocupado, dado que era homem de profundo senso de responsabilidade.
Do momento em que toma a incumbência, no entanto, segue em frente com uma disposição e uma coragem inquebrantáveis.
Esse aspecto da sua atuação jamais deve ser esquecido a consciência que tem da sua posição de coordenador do movimento e não de seu criador.
Não deseja que a doutrina nascente seja ligada ao seu nome. Apaga-se deliberadamente e tenazmente para que a obra surja como planejada, isto é, uma doutrina formulada pelos Espíritos e transmitida aos homens pelos Espíritos, contida numa obra que fez questão de intitular “O Livro dos Espíritos”. Por outro lado, não é intenção dos mensageiros espirituais — ao que parece — ditar um trabalho pronto e acabado, como um “flash” divino, de cima para baixo.
Deixam a Kardec a iniciativa de elaborar as perguntas e conceber não a essência do trabalho, mas o plano geral da sua apresentação aos homens. A obra não deve ser um monólogo em que seres superiores pontificam eruditamente sobre os grandes problemas do ser e da vida; é um diálogo no qual o homem encarnado busca aprender com os irmãos mais experimentados novas dimensões da verdade.
E preciso, pois, que as questões e as dúvidas sejam levantadas do ponto de vista humano, para que o mundo espiritual as esclareça na linguagem simples da palestra, dentro do que hoje se chamaria o contexto da psicologia específica do ser encarnado. Por isso, Kardec não se julga o criador da Doutrina, mas é infinitamente mais do que um mero copista ou um simples colecionador de pensamentos alheios. Deseja apagar-se individualmente para que a obra sobreleve às contingências humanas; a Doutrina não deve ficar “ligada” ao seu nome pessoal como, por exemplo, a do super-homem a Nietszche, o islamismo a Maomé, o positivismo a Augusto Comte ou a teoria da relatividade a Einstein; é, no entanto, a despeito de si mesmo, mais do que simples colaborador, para alcançar o estágio de um co-autor quanto ao plano expositivo e às obras subseqüentes.
Os Espíritos deixam-lhe a iniciativa da forma de apresentação. A princípio, nem ele mesmo percebe que já está elaborando ‘O Livro dos Espíritos”; parece-lhe estar apenas procurando respostas às suas próprias interrogações.
Homem culto, objetivo, esclarecido e com enormes reservas às doutrinas religiosas e filosóficas da sua época, tem em mente inúmeras indagações para as quais ainda não encontrara resposta. Ao mesmo tempo em que vai registrando as observações dos Espíritos, vai descobrindo um mundo inteiramente novo e insuspeitado e tem o bom senso, de não se deixar fascinar pelas suas descobertas.
E, pois, ao sabor de sua controlada imaginação que organiza o esquema das suas perguntas e quando dá conta de si tem anotações metódicas, lúcidas, simples de entender e, no entanto, do mais profundo e transcendental sentido humano. Sem o saber, havia coligido um trabalho que, pela sua extraordinária importância, não poderia ficar egoisticamente preso à sua gaveta; era preciso publicá-lo e isso mesmo lhe dizem os Espíritos. Assim o fez e sabemos de sua surpresa diante do sucesso inesperado da obra.
Daí em diante, isto é, a partir de “O Livro dos Espíritos”, seus amigos assistem-no, como sempre o fizeram, mas deixam-no prosseguir com a sua própria metodologia e nisso também ele era mestre consumado, por séculos de experiência didática.
As obras subseqüentes da Codificação não surgem mais do diálogo direto com os Espíritos e sim das especulações e conclusões do próprio Kardec, sem jamais abandonar, não obstante, o gigantesco painel desenhado a quatro mãos em “O Livro dos Espíritos”.
Conversando uma vez, em nosso grupo, sobre o papel de certos espíritos na história, disse-nos um amigo espiritual que é muito importante para todos nós o trabalho daqueles a quem ele chamou Espíritos ordenadores.
São os que vêm imcumbidos de colocar em linguagem humana, acessível, as grandes idéias. Sem eles, muito do que se descobre, se pensa e se realiza ficaria perdido no caos e na ausência de perspectiva e hierarquia. São eles —Espíritos lúcidos, objetivos e essencialmente organizadores — que disciplinam as idéias, descobrindo-lhes as conexões, implicações e conseqüências, colocando-as ordenadamente ao alcance da mente humana, de modo facilmente acessível e assimilável, sob a forma de novas sínteses do pensamento.
São eles, portanto, que resumem um passado de conquistas e preparam um futuro de realizações. Sem eles, o conhecimento seria um amontoado caótico de idéias que se contradizem, porque invariavelmente vem joio com o trigo, na colheita, e ganga com ouro, na mineração.
São eles os faiscadores que tudo tomam, examinam, rejeitam, classificam e colocam no lugar certo, no tempo certo, altruisticamente, para que quem venha depois possa aproveitar-se das estratificações do conhecimento e sair para novas sínteses, cada vez mais amplas, mais nobres, mais belas, ad infinitum.
Allan Kardec é um desses espíritos. Não diremos que seja um privilegiado porque essa classificação implica idéia de prerrogativa mais ou menos indevida e as suas virtudes são conquistas legítimas do seu espírito, amadurecidas ao longo de muitos e muitos séculos no exercício constante de uma aguda capacidade de julgamento — é, pois, um direito genuinamente adquirido pelo esforço pessoal do espírito e não uma concessão arbitrária dos poderes superiores da vida.
O trabalho que realizou pela Doutrina Espírita é de inestimável relevância. Para avaliar a sua importância basta que nos coloquemos, por alguns instantes, na posição em que ele estava nos albores do movimento. Era um homem de 50 -anos de idade, professor e autor de livros didáticos.
Sua atenção é solicitada para os fenômenos, mas ele não é de entregar-se impulsivamente aos seus primeiros entusiasmos. Quer ver primeiro, observar, meditar e concluir, antes de um envolvimento maior. Quando recebe a incumbência e percebe o vulto da tarefa que tem diante de si, nem se intimida, nem se exalta. É preciso, porém, formular um plano de trabalho. Por onde começar? Que conceitos selecionar? Que idéias têm precedência sobre outras? Serão todas as comunicações autênticas? Será que os Espíritos sabem de tudo? Poderão dizer tudo o que sabem?
É tudo novo, tudo está por fazer e já lhe preveniram que o mundo vai desabar sobre ele. O cuidado tem de ser redobrado, para que o edifício da doutrina não tenha uma rachadura, um fresta, um ponto fraco, uma imperfeição; do contrário, poderá ruir, sacrificando toda a obra. Os representantes das trevas estão atentos e dispostos a tudo. Os Espíritos o ajudam e o inspiram e o incentivam, embora sejam extremamente parcimoniosos em elogios e um tanto enérgicos nas advertências.
Quando notam um erro de menor importância numa exposição de Kardec, não indicam o ponto fraco; limitam-se a recomendar-lhe que releia o texto, que ele próprio encontrará o engano.
Do lado humano, encarnado, da vida, é um trabalho solitário. Não tem a quem recorrer para uma sugestão, um conselho, um debate. Os amigos espirituais somente estão à sua disposição por algum tempo, restrito, sob limitadas condições, durante as horas que consegue subtrair ao seu repouso, porque as outras são destinadas a ganhar a vida, na dura atividade de modesto guarda-livros.
Sem dúvida alguma, trata-se de um trabalho de equipe, tarefa pioneira, reformadora, construtora de um novo patamar para a escalada do ser na direção de Deus.
As velhas doutrinas religiosas não satisfazem mais, a filosofia anda desgovernada pelos caminhos da negação e a ciência desgarrada de tudo, aspirando ao trono que o dogmatismo religioso deixou vago.
No meio de tudo isso, o homem que pensa e busca um sentido para a vida se atormenta e se angustia, porque não vê suporte onde escorar sua esperança. A nova doutrina vem trazer-lhe o embasamento que faltava, propor uma total reformulação dos conceitos dominantes.
Ciência e religião não se eliminam, como tantos pensavam; ao contrário, se completam, coexistindo com a filosofia. O homem que raciocina também pode crer e o crente pode e deve exercer, em toda a extensão, o seu poder de análise e de crítica. Isso não é apenas tolerado, senão estimulado, pois entende Kardec que a fé só merece confiança quando passada pelos filtros da razão. Se não passar, é espúria e deve ser rejeitada.
Concluindo, assim, o trabalho que lhe competia junto aos Espíritos ainda lhe resta
muito a fazer, e o tempo urge. Incumbe-lhe agora inserir a nova doutrina no contexto do pensamento de seu tempo — como se diria hoje. Terminou o recital a quatro mãos e começa o trabalho do solista, porque o mestre ainda está sozinho entre os homens, embora cercado do carinho e da amizade de seus companheiros espirituais. Atira-se, pois, ao trabalho.
A luz do seu gabinete arde até altas horas da noite. E preciso estudar e expor aos homens os aspectos experimentais implícitos na Doutrina dos Espíritos. Desses aspectos, o mais importante, sem dúvida, é a prática da mediunidade, instrumento de comunicação entre os dois mundos. Sem um conhecimento metodizado da faculdade mediúnica, seria impossível estabelecer as bases experimentais da doutrina. Daí, o “O Livro dos Médiuns”.
Em seguida, é preciso dotar o Espiritismo de uma estrutura ética. Não é necessário criar uma nova moral; já existe a do Cristo. O trabalho é~,enorme e exige tudo de seu notável poder ordenador. E que o ensinamento de Jesus, com a passagem dos séculos e ao sopro de muitas paixões humanas, ficara soterrado em profunda camada de impurezas. Kardec decidiu reduzir ao mínimo os atritos e controvérsias, buscando nos Evangelhos apenas o ensinamento moral, sem se deter, portanto, na análise dos milagres, nem dos episódios da vida pública do Cristo, ou dos aspectos que foram utilizados para a elaboração dos dogmas.
Dentro dessa idéia diretora, montou com muito zelo e amor “O Evangelho segundo o Espiritismo”. O problema dos dogmas — pelo menos os principais —ficaria para “O Céu e o Inferno” e sobre as questões científicas ainda voltaria a escrever em “A Gênese”.
E assim concluía mais uma etapa da sua tarefa. O começo, onde andaria? Em que tempo e em que ponto cósmico? Era — e é — um espírito reformador, ordenador, preparador de novas veredas.
A continuação, seus amigos espirituais deixaram-no entrevê-la ao anunciar-lhe que se aproximava o término da existência terrena, mas não dos seus encargos: voltaria encarnado noutro corpo, lhe disseram, para dar prosseguimento ao trabalho. Ainda precisavam dele e cada vez mais.
Nada eram as alegrias que experimentava ao ver germinar as sementes que ajudara a semear; aquilo eram apenas os primeiros clarões de uma nova madrugada de luz. Quando voltasse, teria a alegria imensa de ver transformadas em árvores majestosas as modestas sementeiras das suas vigílias, regadas por dores muitas.
Não seria mais o vulto solitário a conversar com os Espíritos e a escrever no silêncio das horas mortas —teria companheiros espalhados por toda a Terra, entregues ao mesmo ideal supremo de trabalhar sem descanso na seara do Cristo, cada qual na sua tarefa, conforme seus recursos, possibilidades e limitações, dado que o trabalho continua entregue a equipes, onde o personalismo não pode ter vez para que as paixões humanas não o invalidem.
“De modo que — dizia Paulo — nem o que planta é alguém, nem o que rega, senão Deus que a faz crescer.
E o que planta e o que rega são iguais; se bem que cada um receberá o seu salário segundo seu próprio trabalho, já que somos colaboradores de Deus e vós, campo de Deus, edificação de Deus” (1 Coríntios, 3:7 a 9).
Trabalhadores de Deus desejamos ser e o seremos toda vez que apagarmos o nosso nome na glória suprema do anonimato, para que o nosso trabalho seja de Deus, que faz germinar a semente e crescer a árvore, e não nosso, que apenas confiamos a semente ao solo. Somos portadores da mensagem, não seus criadores, porque nem homens nem espíritos criam; apenas descobrem aquilo que o Pai criou.
São essas as dominantes do espírito de Kardec.
Sua vitória é a vitória do equilíbrio e do bom senso, é a vitória do anonimato e da humildade, notável forma de humildade que não se anula, mas que luta e vence. Como figura humana, nem sequer aparece nos livros que relatam a saga humana. Para o historiador leigo, quem foi Kardec? Seu próprio nome civil, Hippolyte-Léon Denizard Rivail, ele o apagou para publicar seus livros com o nome antigo de um obscuro sacerdote druida.
De modo que não é somente a obra realizada por Kardec que devemos estudar, é também sua atitude perante a obra, porque tudo neste espírito é uma lição de grandeza em quem não deseja ser grande.
Autor: Hermínio C. Miranda
Para usar linguagem e terminologia essencialmente espíritas, diríamos que o perispírito da doutrina permanece em toda a sutileza e segurança de sua estrutura, ao passo que o espírito da Doutrina segue à frente, em busca de uma expansão filosófica, sujeito que está ao constante embate com a tremenda massa de informação que hoje nos alcança, vinda de todos os setores da especulação humana.
De fato, a Doutrina Espírita está exposta às mais rudes confrontações, por todos os seus três flancos ao mesmo tempo: o filosófico, o científico e o religioso. A cada novo pronunciamento significativo da filosofia, da ciência ou da especulação religiosa, a doutrina se entrega a um processo introspectivo de auto-análise para verificar como se saiu da escaramuça.
Isso tem feito repetida mente e num ritmo cada vez mais vivo, durante mais de um século. E com enorme satisfação, podemos verificar que nossas posições se revelaram inexpugnáveis.
Até mesmo idéias e conceitos em que a Doutrina se antecipou aos tempos começam a receber a estampa confirmatória das conquistas intelectuais como, para citar apenas dois exemplos a reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados. Poderíamos citar ainda a existência do perispírito que vai cada dia mais tornando-se uma necessidade científica, para explicar fenômenos que a biologia clássica não consegue entender.
Quando abrimos hoje revistas, jornais e livros sintonizados com as mais avançadas pesquisas e damos com o nome de importantes cientistas examinando a sério a doutrina palingenésica ou a existência de vida inteligente fora da Terra, somos tomados por um legítimo sentimento de segurança e de crescente respeito pelos postulados da doutrina que os Espíritos vieram trazer-nos. Tamanha era a certeza de Kardec sobre tais aspectos que escreveu que o Espiritismo se modificava nos pontos em que entrasse em conflito com os fatos científicos devidamente comprovados.
Essa observação do Codificador, que poderia parecer a muitos a expressão de um receio ou até mesmo uma gazua para eventual saída honrosa, foi, ao contrário, uma declaração corajosa de quem pesou bem a importância do que estava dizendo e projetou sobre o futuro a sua própria responsabilidade. O tempo deu-lhe a resposta que ele antecipou: não, não há o que reformular, mas se algum dia houver, será em aspectos secundários da doutrina e jamais nas suas concepções estruturais básicas, como a existência de Deus, a sobrevivência do Espírito. a reencarnação e a comunicabilidade entre vivos e ‘mortos “.
O que acontece é que a doutrina codificada não responde a todas as nossas indagações, e nem as de Kardec foram todas resolvidas nos seus mínimos pormenores e implicações. “O Livro dos Espíritos” é um repositório de princípios fundamentais de onde emergem inúmeras “tomadas” para outras tantas especulações e conquistas e realizações.
Nele estão os germes de todas as grandes idéias que a humanidade sonhou pelos tempos afora, mas os Espíritos não realizam por nós o nosso trabalho. Em nenhum outro cometimento humano vê-se tio claramente os sinais de uma inteligente, consciente e preestabelecida coordenação de esforços entre as duas faces da vida —a encarnada e a desencarnada. Tudo parece — e assim o foi — meticulosamente planejado e escrupulosamente executado. A época era aquela mesma, como também o meio ambiente e os métodos empregados.
Para a carne vieram os espíritos incumbidos das tarefas iniciais e das que se seguiram, tudo no tempo e no lugar certos. Igualmente devem ter sido levadas em conta a fragilidade e as imperfeições meramente humanas, pois que também alternativas teriam sido planejadas com extremo cuidado.
Há soluções opcionais para eventuais falhas, porque o trabalho era importante demais para ficar ao sabor das imperfeições humanas e apoiado apenas em dois ou três seres, por maiores que fossem. Ao próprio Kardec, o Espírito da Verdade in forma que é livre de aceitar ou não o trabalho que lhe oferecem. O eminente professor é esclarecido, com toda a honestidade e sem rodeios, que a tarefa é gigantesca e, como ser humano, seria arrastado na lama da iniqüidade, da calúnia, da mentira, da infâmia.
Que todos os processos são bons para aqueles que se opõem à libertação do homem. Que ele, Kardec, poderia também falhar. Seu engajamento seria, pois, de sua livre escolha e que, se recusasse a tarefa, outros havia em condições de levá-la a bom termo.
O momento é dramático.
É também a hora da verdade suprema, pois o plano de trabalho não poderia ficar comprometido por atitudes dúbias e meias-palavras. Aquilo que poderia parecer rudeza de tratamento é apenas ditado pote seriedade do trabalho que se tinha a realizar no plano humano. Kardec aceitou a tarefa e arrostou, com a bravura que lhe conhecemos, a dureza das aflições que sobre ele desabaram, como estava previsto. Tudo lhe aconteceu, como anunciado; os amigos espirituais seriam incapazes de glamourizar a sua colaboração e minimizar as dificuldades apenas para induzi-lo a aceitar a incumbência.
Por outro lado, se ele era, entre os homens, o chefe do movimento,pois alguém Unha que o liderar, compreendeu logo que não era o dono da doutrina e jamais desejou sê-lo.
Quando lhe comunicam que foi escolhido para esse trabalho gigantesco, sente com toda a nitidez e humildade a grandiosidade da tarefa que lhe oferecem e declara que de simples adepto e estudioso a missionário e chefe vai uma distância considerável, diante da qual ele medita, não propriamente temeroso, mas preocupado, dado que era homem de profundo senso de responsabilidade.
Do momento em que toma a incumbência, no entanto, segue em frente com uma disposição e uma coragem inquebrantáveis.
Esse aspecto da sua atuação jamais deve ser esquecido a consciência que tem da sua posição de coordenador do movimento e não de seu criador.
Não deseja que a doutrina nascente seja ligada ao seu nome. Apaga-se deliberadamente e tenazmente para que a obra surja como planejada, isto é, uma doutrina formulada pelos Espíritos e transmitida aos homens pelos Espíritos, contida numa obra que fez questão de intitular “O Livro dos Espíritos”. Por outro lado, não é intenção dos mensageiros espirituais — ao que parece — ditar um trabalho pronto e acabado, como um “flash” divino, de cima para baixo.
Deixam a Kardec a iniciativa de elaborar as perguntas e conceber não a essência do trabalho, mas o plano geral da sua apresentação aos homens. A obra não deve ser um monólogo em que seres superiores pontificam eruditamente sobre os grandes problemas do ser e da vida; é um diálogo no qual o homem encarnado busca aprender com os irmãos mais experimentados novas dimensões da verdade.
E preciso, pois, que as questões e as dúvidas sejam levantadas do ponto de vista humano, para que o mundo espiritual as esclareça na linguagem simples da palestra, dentro do que hoje se chamaria o contexto da psicologia específica do ser encarnado. Por isso, Kardec não se julga o criador da Doutrina, mas é infinitamente mais do que um mero copista ou um simples colecionador de pensamentos alheios. Deseja apagar-se individualmente para que a obra sobreleve às contingências humanas; a Doutrina não deve ficar “ligada” ao seu nome pessoal como, por exemplo, a do super-homem a Nietszche, o islamismo a Maomé, o positivismo a Augusto Comte ou a teoria da relatividade a Einstein; é, no entanto, a despeito de si mesmo, mais do que simples colaborador, para alcançar o estágio de um co-autor quanto ao plano expositivo e às obras subseqüentes.
Os Espíritos deixam-lhe a iniciativa da forma de apresentação. A princípio, nem ele mesmo percebe que já está elaborando ‘O Livro dos Espíritos”; parece-lhe estar apenas procurando respostas às suas próprias interrogações.
Homem culto, objetivo, esclarecido e com enormes reservas às doutrinas religiosas e filosóficas da sua época, tem em mente inúmeras indagações para as quais ainda não encontrara resposta. Ao mesmo tempo em que vai registrando as observações dos Espíritos, vai descobrindo um mundo inteiramente novo e insuspeitado e tem o bom senso, de não se deixar fascinar pelas suas descobertas.
E, pois, ao sabor de sua controlada imaginação que organiza o esquema das suas perguntas e quando dá conta de si tem anotações metódicas, lúcidas, simples de entender e, no entanto, do mais profundo e transcendental sentido humano. Sem o saber, havia coligido um trabalho que, pela sua extraordinária importância, não poderia ficar egoisticamente preso à sua gaveta; era preciso publicá-lo e isso mesmo lhe dizem os Espíritos. Assim o fez e sabemos de sua surpresa diante do sucesso inesperado da obra.
Daí em diante, isto é, a partir de “O Livro dos Espíritos”, seus amigos assistem-no, como sempre o fizeram, mas deixam-no prosseguir com a sua própria metodologia e nisso também ele era mestre consumado, por séculos de experiência didática.
As obras subseqüentes da Codificação não surgem mais do diálogo direto com os Espíritos e sim das especulações e conclusões do próprio Kardec, sem jamais abandonar, não obstante, o gigantesco painel desenhado a quatro mãos em “O Livro dos Espíritos”.
Conversando uma vez, em nosso grupo, sobre o papel de certos espíritos na história, disse-nos um amigo espiritual que é muito importante para todos nós o trabalho daqueles a quem ele chamou Espíritos ordenadores.
São os que vêm imcumbidos de colocar em linguagem humana, acessível, as grandes idéias. Sem eles, muito do que se descobre, se pensa e se realiza ficaria perdido no caos e na ausência de perspectiva e hierarquia. São eles —Espíritos lúcidos, objetivos e essencialmente organizadores — que disciplinam as idéias, descobrindo-lhes as conexões, implicações e conseqüências, colocando-as ordenadamente ao alcance da mente humana, de modo facilmente acessível e assimilável, sob a forma de novas sínteses do pensamento.
São eles, portanto, que resumem um passado de conquistas e preparam um futuro de realizações. Sem eles, o conhecimento seria um amontoado caótico de idéias que se contradizem, porque invariavelmente vem joio com o trigo, na colheita, e ganga com ouro, na mineração.
São eles os faiscadores que tudo tomam, examinam, rejeitam, classificam e colocam no lugar certo, no tempo certo, altruisticamente, para que quem venha depois possa aproveitar-se das estratificações do conhecimento e sair para novas sínteses, cada vez mais amplas, mais nobres, mais belas, ad infinitum.
Allan Kardec é um desses espíritos. Não diremos que seja um privilegiado porque essa classificação implica idéia de prerrogativa mais ou menos indevida e as suas virtudes são conquistas legítimas do seu espírito, amadurecidas ao longo de muitos e muitos séculos no exercício constante de uma aguda capacidade de julgamento — é, pois, um direito genuinamente adquirido pelo esforço pessoal do espírito e não uma concessão arbitrária dos poderes superiores da vida.
O trabalho que realizou pela Doutrina Espírita é de inestimável relevância. Para avaliar a sua importância basta que nos coloquemos, por alguns instantes, na posição em que ele estava nos albores do movimento. Era um homem de 50 -anos de idade, professor e autor de livros didáticos.
Sua atenção é solicitada para os fenômenos, mas ele não é de entregar-se impulsivamente aos seus primeiros entusiasmos. Quer ver primeiro, observar, meditar e concluir, antes de um envolvimento maior. Quando recebe a incumbência e percebe o vulto da tarefa que tem diante de si, nem se intimida, nem se exalta. É preciso, porém, formular um plano de trabalho. Por onde começar? Que conceitos selecionar? Que idéias têm precedência sobre outras? Serão todas as comunicações autênticas? Será que os Espíritos sabem de tudo? Poderão dizer tudo o que sabem?
É tudo novo, tudo está por fazer e já lhe preveniram que o mundo vai desabar sobre ele. O cuidado tem de ser redobrado, para que o edifício da doutrina não tenha uma rachadura, um fresta, um ponto fraco, uma imperfeição; do contrário, poderá ruir, sacrificando toda a obra. Os representantes das trevas estão atentos e dispostos a tudo. Os Espíritos o ajudam e o inspiram e o incentivam, embora sejam extremamente parcimoniosos em elogios e um tanto enérgicos nas advertências.
Quando notam um erro de menor importância numa exposição de Kardec, não indicam o ponto fraco; limitam-se a recomendar-lhe que releia o texto, que ele próprio encontrará o engano.
Do lado humano, encarnado, da vida, é um trabalho solitário. Não tem a quem recorrer para uma sugestão, um conselho, um debate. Os amigos espirituais somente estão à sua disposição por algum tempo, restrito, sob limitadas condições, durante as horas que consegue subtrair ao seu repouso, porque as outras são destinadas a ganhar a vida, na dura atividade de modesto guarda-livros.
Sem dúvida alguma, trata-se de um trabalho de equipe, tarefa pioneira, reformadora, construtora de um novo patamar para a escalada do ser na direção de Deus.
As velhas doutrinas religiosas não satisfazem mais, a filosofia anda desgovernada pelos caminhos da negação e a ciência desgarrada de tudo, aspirando ao trono que o dogmatismo religioso deixou vago.
No meio de tudo isso, o homem que pensa e busca um sentido para a vida se atormenta e se angustia, porque não vê suporte onde escorar sua esperança. A nova doutrina vem trazer-lhe o embasamento que faltava, propor uma total reformulação dos conceitos dominantes.
Ciência e religião não se eliminam, como tantos pensavam; ao contrário, se completam, coexistindo com a filosofia. O homem que raciocina também pode crer e o crente pode e deve exercer, em toda a extensão, o seu poder de análise e de crítica. Isso não é apenas tolerado, senão estimulado, pois entende Kardec que a fé só merece confiança quando passada pelos filtros da razão. Se não passar, é espúria e deve ser rejeitada.
Concluindo, assim, o trabalho que lhe competia junto aos Espíritos ainda lhe resta
muito a fazer, e o tempo urge. Incumbe-lhe agora inserir a nova doutrina no contexto do pensamento de seu tempo — como se diria hoje. Terminou o recital a quatro mãos e começa o trabalho do solista, porque o mestre ainda está sozinho entre os homens, embora cercado do carinho e da amizade de seus companheiros espirituais. Atira-se, pois, ao trabalho.
A luz do seu gabinete arde até altas horas da noite. E preciso estudar e expor aos homens os aspectos experimentais implícitos na Doutrina dos Espíritos. Desses aspectos, o mais importante, sem dúvida, é a prática da mediunidade, instrumento de comunicação entre os dois mundos. Sem um conhecimento metodizado da faculdade mediúnica, seria impossível estabelecer as bases experimentais da doutrina. Daí, o “O Livro dos Médiuns”.
Em seguida, é preciso dotar o Espiritismo de uma estrutura ética. Não é necessário criar uma nova moral; já existe a do Cristo. O trabalho é~,enorme e exige tudo de seu notável poder ordenador. E que o ensinamento de Jesus, com a passagem dos séculos e ao sopro de muitas paixões humanas, ficara soterrado em profunda camada de impurezas. Kardec decidiu reduzir ao mínimo os atritos e controvérsias, buscando nos Evangelhos apenas o ensinamento moral, sem se deter, portanto, na análise dos milagres, nem dos episódios da vida pública do Cristo, ou dos aspectos que foram utilizados para a elaboração dos dogmas.
Dentro dessa idéia diretora, montou com muito zelo e amor “O Evangelho segundo o Espiritismo”. O problema dos dogmas — pelo menos os principais —ficaria para “O Céu e o Inferno” e sobre as questões científicas ainda voltaria a escrever em “A Gênese”.
E assim concluía mais uma etapa da sua tarefa. O começo, onde andaria? Em que tempo e em que ponto cósmico? Era — e é — um espírito reformador, ordenador, preparador de novas veredas.
A continuação, seus amigos espirituais deixaram-no entrevê-la ao anunciar-lhe que se aproximava o término da existência terrena, mas não dos seus encargos: voltaria encarnado noutro corpo, lhe disseram, para dar prosseguimento ao trabalho. Ainda precisavam dele e cada vez mais.
Nada eram as alegrias que experimentava ao ver germinar as sementes que ajudara a semear; aquilo eram apenas os primeiros clarões de uma nova madrugada de luz. Quando voltasse, teria a alegria imensa de ver transformadas em árvores majestosas as modestas sementeiras das suas vigílias, regadas por dores muitas.
Não seria mais o vulto solitário a conversar com os Espíritos e a escrever no silêncio das horas mortas —teria companheiros espalhados por toda a Terra, entregues ao mesmo ideal supremo de trabalhar sem descanso na seara do Cristo, cada qual na sua tarefa, conforme seus recursos, possibilidades e limitações, dado que o trabalho continua entregue a equipes, onde o personalismo não pode ter vez para que as paixões humanas não o invalidem.
“De modo que — dizia Paulo — nem o que planta é alguém, nem o que rega, senão Deus que a faz crescer.
E o que planta e o que rega são iguais; se bem que cada um receberá o seu salário segundo seu próprio trabalho, já que somos colaboradores de Deus e vós, campo de Deus, edificação de Deus” (1 Coríntios, 3:7 a 9).
Trabalhadores de Deus desejamos ser e o seremos toda vez que apagarmos o nosso nome na glória suprema do anonimato, para que o nosso trabalho seja de Deus, que faz germinar a semente e crescer a árvore, e não nosso, que apenas confiamos a semente ao solo. Somos portadores da mensagem, não seus criadores, porque nem homens nem espíritos criam; apenas descobrem aquilo que o Pai criou.
São essas as dominantes do espírito de Kardec.
Sua vitória é a vitória do equilíbrio e do bom senso, é a vitória do anonimato e da humildade, notável forma de humildade que não se anula, mas que luta e vence. Como figura humana, nem sequer aparece nos livros que relatam a saga humana. Para o historiador leigo, quem foi Kardec? Seu próprio nome civil, Hippolyte-Léon Denizard Rivail, ele o apagou para publicar seus livros com o nome antigo de um obscuro sacerdote druida.
De modo que não é somente a obra realizada por Kardec que devemos estudar, é também sua atitude perante a obra, porque tudo neste espírito é uma lição de grandeza em quem não deseja ser grande.
Autor: Hermínio C. Miranda
17 junho 2010
O PROGRESSO II
[...] Com o desfalecimento dos conceitos religiosos, que ficaram à margem do homem e da Ciência, o conhecimento de Deus permaneceu retido nas velhas afirmações dos "pais da Igreja", no passado, ou nos ensaios filosóficos, que se foram desvitalizando à medida que se sucediam os tempos.
Divorciada da indagação científica e arbitrariamente adversária da sistemática filosófica, a Religião fez-se dominadora cruel e impôs os seus postulados enquanto o homem se demorava na infância cultural.
Conquanto sedento de fé e de explicações para os inúmeros enigmas que lhe perturbavam as elucubrações, recebeu após o Cristianismo respostas prontas e a elas submeteu-se demoradamente.
À medida, porém, que os horizontes se descortinavam ampliados pelas revelações da pesquisa científica comprovada e da razão que lhe era concorde, afastou-se insensivelmente de Deus e da alma, deixando-se conduzir por novos métodos de análise, não obstante a aceitação tácita e plácida das teorias religiosas, com as quais se acomodava ética e socialmente, no concerto da comunidade em que se situava.
Herdeiro de si mesmo, pelas sucessivas reencarnações, conservou o sentimento de fé, porém, cresceu para outras considerações filosóficas e metafísicas, com o próprio desenvolvimento das conquistas novas e fascinantes.
Os fenômenos anímicos, que sempre estiveram presentes em todas as culturas dos tempos, fascinavam-no.
Proibido, no entanto, de cultivá-los, pelas imposições da fé arbitrária, arrefeceu-lhe o entusiasmo e supôs que os mesmos desapareceram com o suceder das Eras.
As belas e comovedoras histórias que antes o levavam às lágrimas, subitamente deixaram-no de sensibilizar, despertando, por fim, cansado de crer, mas necessitado de investigar.
Procurando os pugnadores da religião, encontrou-os ainda mais descrentes, mais atormentados, envergando a indumentária de conceitos cômodos, que, no entanto, não constituíam para eles, conforme supunha, base da existência espiritual.
Tornou-se, por essa razão, religioso na forma e ateu na realidade.
Cuidou da aparência e descurou da essência.
Arregimentou consolidação externa e desagregou-se interiormente.
A proclamação do novo dogma da "morte de Deus" não lhe causou qualquer surpresa.
Antes, pelo contrário, tranqüilizou-o, porque o libertou do esforço de manter-se aparentando a aceitação de todo um patrimônio que para ele se encontrava destituído de valor.
Desvelado e descomprometido com as prosaicas posições religiosas, atirou-se avidamente ao campo do gozo e agora se encontra semi-asfixiado no imenso vau do prazer, sob a anestesia do cansaço e da indiferença.
Deus, no entanto, hoje como outrora, não se encontra nas catedrais da religião: veio às ruas, adentrou o âmago das almas, avançou na direção dos sofrimentos, interpenetrou-se na alma universal.
Das galáxias reluzentes e consteladas aos vermes asquerosos, o espírito de Deus tudo vitaliza e a mecânica aflitiva das novas e engenhosas conquistas, ao impacto dos sucessos atuais, volta a inquirir ante a perfeição que depara em toda a parte: Quem? Quando? Como? Onde? E recebe somente uma resposta, que é a de sempre: Deus!
Léon Denis
Do livro Sol de Esperança. psicografado por Divaldo Franco
Divorciada da indagação científica e arbitrariamente adversária da sistemática filosófica, a Religião fez-se dominadora cruel e impôs os seus postulados enquanto o homem se demorava na infância cultural.
Conquanto sedento de fé e de explicações para os inúmeros enigmas que lhe perturbavam as elucubrações, recebeu após o Cristianismo respostas prontas e a elas submeteu-se demoradamente.
À medida, porém, que os horizontes se descortinavam ampliados pelas revelações da pesquisa científica comprovada e da razão que lhe era concorde, afastou-se insensivelmente de Deus e da alma, deixando-se conduzir por novos métodos de análise, não obstante a aceitação tácita e plácida das teorias religiosas, com as quais se acomodava ética e socialmente, no concerto da comunidade em que se situava.
Herdeiro de si mesmo, pelas sucessivas reencarnações, conservou o sentimento de fé, porém, cresceu para outras considerações filosóficas e metafísicas, com o próprio desenvolvimento das conquistas novas e fascinantes.
Os fenômenos anímicos, que sempre estiveram presentes em todas as culturas dos tempos, fascinavam-no.
Proibido, no entanto, de cultivá-los, pelas imposições da fé arbitrária, arrefeceu-lhe o entusiasmo e supôs que os mesmos desapareceram com o suceder das Eras.
As belas e comovedoras histórias que antes o levavam às lágrimas, subitamente deixaram-no de sensibilizar, despertando, por fim, cansado de crer, mas necessitado de investigar.
Procurando os pugnadores da religião, encontrou-os ainda mais descrentes, mais atormentados, envergando a indumentária de conceitos cômodos, que, no entanto, não constituíam para eles, conforme supunha, base da existência espiritual.
Tornou-se, por essa razão, religioso na forma e ateu na realidade.
Cuidou da aparência e descurou da essência.
Arregimentou consolidação externa e desagregou-se interiormente.
A proclamação do novo dogma da "morte de Deus" não lhe causou qualquer surpresa.
Antes, pelo contrário, tranqüilizou-o, porque o libertou do esforço de manter-se aparentando a aceitação de todo um patrimônio que para ele se encontrava destituído de valor.
Desvelado e descomprometido com as prosaicas posições religiosas, atirou-se avidamente ao campo do gozo e agora se encontra semi-asfixiado no imenso vau do prazer, sob a anestesia do cansaço e da indiferença.
Deus, no entanto, hoje como outrora, não se encontra nas catedrais da religião: veio às ruas, adentrou o âmago das almas, avançou na direção dos sofrimentos, interpenetrou-se na alma universal.
Das galáxias reluzentes e consteladas aos vermes asquerosos, o espírito de Deus tudo vitaliza e a mecânica aflitiva das novas e engenhosas conquistas, ao impacto dos sucessos atuais, volta a inquirir ante a perfeição que depara em toda a parte: Quem? Quando? Como? Onde? E recebe somente uma resposta, que é a de sempre: Deus!
Léon Denis
Do livro Sol de Esperança. psicografado por Divaldo Franco
16 junho 2010
ALMA AO SOCIALISMO
Em todos os tempos, as almas sensíveis, emocionadas pelo espetáculo das prolongadas tribulações e das negras misérias da Humanidade, assim como as que por si mesmas conheceram o infortúnio ddiasos maus, hão ideado sistemas mais ou menos práticos, capazes de pôr termo aos sofrimentos dos homens. Desde que, porém, se pretendeu aplicá-los, os que o tentaram em decepções esbarraram, bem amargas. E' que se não havia levado muito em conta o papel, da Terra na grande harmonia universal, nem sabido adaptar ao grau de sua evolução as reformas, necessárias, mas, amiúde, prematuras.
As revoluções só têm feito, as mais das vezes, deslocar os abusos. Num progresso lento, contínuo e, sobretudo, na educação do povo, é que, principalmente, se encontra o "processus" mais eficiente para que neste mundo se realizem os aperfeiçoamentos entrevistos.
O Socialismo atual, também, quer estabelecer uma ordem de coisas que seja um composto de justiça e progresso. Mas, para isso, terá, antes de tudo, que se inspirar num ideal elevado, numa doutrina espiritualista, que constitua como que o cimento que ligue os seus elementos diversos, a fim de com eles formar um sistema homogêneo, uma força viva e benfazeja. Isso, entretanto, o de que sempre careceram as teorias socialistas, por demais impregnadas de materialismo.
Ora, esse ideal a Doutrina, a Revelação dos Espíritos lhes vem oferecer, mediante as provas experimentais demonstrativas da existência e da sobrevivência da alma.
O moderno espiritualismo traz ao Socialismo a revelação da vida universal e de suas leis, leis cujo conhecimento é indispensável a todos os que trabalham pelo progresso social. Não sendo mais que um dos aspectos, uma das formas da vida universal, a vida humana tem que se adaptar a esta, tomando-a no seu sentido profundo e no seu objetivo, sob pena de ver todas as obras sociais atacadas de impotência e de esterilidade, porquanto nada de durável se pode edificar fora da lei geral de evolução e de harmonia.
Para o materialista, a vida terrena, sem precedentes e sem conseqüentes, curtíssima duração empresta aos sentimentos e aos liames que unem os homens. Porém, graças aos testemunhos dos defuntos, ampliam-se ao infinito as perspectivas. O nosso destino se desdobra, através dos tempos, numa sucessão de existências inumeráveis, cada uma das quais é um meio de educação, de ascensão gradativa, de evolução do ser, no sentido do bom, do perfeito.
Desde logo, pois, a vida adquire maior valor e o destino toma uma amplitude que escapa a toda e qualquer mensuração. A solidariedade e a fraternidade, que constituem os princípios essenciais
do Socialismo, já não ligam somente os homens no presente, mas em todas as fases de sua imensa evolução. A fraternidade se torna uma das leis da vida universal, resultando daí ficarem as instituições, as obras humanas, fecundadas e como que iluminadas.
Vem depois o conhecimento do que somos, da nossa dupla natureza, perecível uma, a outra imortal, e, conseguintemente, a solução dos problemas até aqui insolúveis, da vida, do livre arbítrio e da responsabilidade, a conseqüência dos atos a recair sobre seus autores, a demonstração da justiça e o aperfeiçoamento de todos, pelo trabalho, pelo estudo, pela utilização das forças morais inatas no homem.
Tais são os dados capitais desse ensino, dessa revelação, ao mesmo tempo científica, experimental e filosófica, que não pode ser abafada, desnaturada, falsificada, porque tem por intérpretes os milhões de vozes que se elevam 'fie todos os pontos do Globo e que, fazendo umas a contraprova do que dizem as outras, nos informam das condições da vida futura e das suas leis.
Esse ensino penetra em todos os domínios do pensamento, toma pouco a pouco o lugar do dogmatismo dos séculos passados, das formas materiais, apoiado exclusivamente na consciência e na razão. E, unicamente a partir do dia em que o houver adotado, é que o Socialismo se achará em condições de trabalhar eficazmente na educação do povo, na reforma do ser humano, a fim de reprimir as paixões e o egoísmo, os ódios de classes, até hoje o maior obstáculo à realização de seus objetivos.
Adotando esta dilatada doutrina espiritualista é que o Socialismo alcançará o seu máximo de irradiação, toda a sua potencialidade regeneradora e logrará implantar na Terra um estado de coisas conforme a suprema lei de progresso e de justiça. Conservar-se-á estéril, enquanto ao programa das reformas materiais não juntar as forças do Espírito.
E' preciso dar uma alma ao Socialismo!
Cada vez mais acerba e ardorosa se faz à luta pela vida, por motivo de que, em vez de restringirem as necessidades materiais, o que seria o remédio melhor, os homens as multiplicam à porfia. Todos os dias se criam necessidades fictícias, imaginárias, que mais pesado tornam o jugo da matéria, do mesmo passo que são desprezadas as necessidades espirituais, os tesouros da inteligência e do coração, para cuja aquisição viemos especialmente a este mundo. Daí resulta que, para a maioria dos homens, perdido ficou o objetivo da existência, cumprindo-lhes recomeçá-la em condições mais penosas, mais dolorosas.
Ignorante da conseqüência de seus atos, que sobre ela recaem, e das leis do destino, a Humanidade prepara dias sombrios para o seu amanhã, dias que perdurarão até que a luz do Alto e a Revelação dos Espíritos lhe venham, enfim, clarear o caminho.
O papel do Espiritismo na educação social tem que se patentear, porque constitui uma inovação, necessária do ponto de vista filosófico, e se torna assim correlativo com os trabalhos dos sábios, orientados para o estudo das ondas que formam parte integrante dos feixes da vida universal.
Filosofia e Ciência têm que chegar, paralelamente, num sentido abstrato e concreto, aos mesmos resultados: dilatação do pensamento humano e extra-humano, do ponto de vista filosófico, por efeito de uma visão científica, precisa, clara e racional.
Diante desses vastos domínios da vida universal, em face da meta sublime que a alma colima através de suas peregrinações, que significação têm as vãs distinções de castas e os preconceitos da riqueza?
A noção das responsabilidades pode preservar de muitas quedas e atenuar muitos ódios. Uma vaga de igualdade aproxima todas as situações. Compreender-se-á que a injustiça da sorte é apenas aparente, que as provações têm sua razão de ser para a reparação das faltas do passado e a conquista de melhor futuro.
Então, a malevolência, a inveja e o egoísmo poderão ceder lugar ao altruísmo, e a fraternidade deixará de ser uma palavra carente de sentido, por isso que perceberemos quão intimamente estamos ligados uns aos outros, em a nossa eterna ascensão.
E o mal? perguntarão.
O mal não é senão o estado de inferioridade dos seres e dos mundos. Enfraquece com a evolução geral e acaba por desaparecer. Na sua fadigosa subida para o bem, para a luz, o próprio ser constrói sua consciência, sua personalidade, e na sua mesma elevação encontra a alegria e a recompensa.
Léon denis
As revoluções só têm feito, as mais das vezes, deslocar os abusos. Num progresso lento, contínuo e, sobretudo, na educação do povo, é que, principalmente, se encontra o "processus" mais eficiente para que neste mundo se realizem os aperfeiçoamentos entrevistos.
O Socialismo atual, também, quer estabelecer uma ordem de coisas que seja um composto de justiça e progresso. Mas, para isso, terá, antes de tudo, que se inspirar num ideal elevado, numa doutrina espiritualista, que constitua como que o cimento que ligue os seus elementos diversos, a fim de com eles formar um sistema homogêneo, uma força viva e benfazeja. Isso, entretanto, o de que sempre careceram as teorias socialistas, por demais impregnadas de materialismo.
Ora, esse ideal a Doutrina, a Revelação dos Espíritos lhes vem oferecer, mediante as provas experimentais demonstrativas da existência e da sobrevivência da alma.
O moderno espiritualismo traz ao Socialismo a revelação da vida universal e de suas leis, leis cujo conhecimento é indispensável a todos os que trabalham pelo progresso social. Não sendo mais que um dos aspectos, uma das formas da vida universal, a vida humana tem que se adaptar a esta, tomando-a no seu sentido profundo e no seu objetivo, sob pena de ver todas as obras sociais atacadas de impotência e de esterilidade, porquanto nada de durável se pode edificar fora da lei geral de evolução e de harmonia.
Para o materialista, a vida terrena, sem precedentes e sem conseqüentes, curtíssima duração empresta aos sentimentos e aos liames que unem os homens. Porém, graças aos testemunhos dos defuntos, ampliam-se ao infinito as perspectivas. O nosso destino se desdobra, através dos tempos, numa sucessão de existências inumeráveis, cada uma das quais é um meio de educação, de ascensão gradativa, de evolução do ser, no sentido do bom, do perfeito.
Desde logo, pois, a vida adquire maior valor e o destino toma uma amplitude que escapa a toda e qualquer mensuração. A solidariedade e a fraternidade, que constituem os princípios essenciais
do Socialismo, já não ligam somente os homens no presente, mas em todas as fases de sua imensa evolução. A fraternidade se torna uma das leis da vida universal, resultando daí ficarem as instituições, as obras humanas, fecundadas e como que iluminadas.
Vem depois o conhecimento do que somos, da nossa dupla natureza, perecível uma, a outra imortal, e, conseguintemente, a solução dos problemas até aqui insolúveis, da vida, do livre arbítrio e da responsabilidade, a conseqüência dos atos a recair sobre seus autores, a demonstração da justiça e o aperfeiçoamento de todos, pelo trabalho, pelo estudo, pela utilização das forças morais inatas no homem.
Tais são os dados capitais desse ensino, dessa revelação, ao mesmo tempo científica, experimental e filosófica, que não pode ser abafada, desnaturada, falsificada, porque tem por intérpretes os milhões de vozes que se elevam 'fie todos os pontos do Globo e que, fazendo umas a contraprova do que dizem as outras, nos informam das condições da vida futura e das suas leis.
Esse ensino penetra em todos os domínios do pensamento, toma pouco a pouco o lugar do dogmatismo dos séculos passados, das formas materiais, apoiado exclusivamente na consciência e na razão. E, unicamente a partir do dia em que o houver adotado, é que o Socialismo se achará em condições de trabalhar eficazmente na educação do povo, na reforma do ser humano, a fim de reprimir as paixões e o egoísmo, os ódios de classes, até hoje o maior obstáculo à realização de seus objetivos.
Adotando esta dilatada doutrina espiritualista é que o Socialismo alcançará o seu máximo de irradiação, toda a sua potencialidade regeneradora e logrará implantar na Terra um estado de coisas conforme a suprema lei de progresso e de justiça. Conservar-se-á estéril, enquanto ao programa das reformas materiais não juntar as forças do Espírito.
E' preciso dar uma alma ao Socialismo!
Cada vez mais acerba e ardorosa se faz à luta pela vida, por motivo de que, em vez de restringirem as necessidades materiais, o que seria o remédio melhor, os homens as multiplicam à porfia. Todos os dias se criam necessidades fictícias, imaginárias, que mais pesado tornam o jugo da matéria, do mesmo passo que são desprezadas as necessidades espirituais, os tesouros da inteligência e do coração, para cuja aquisição viemos especialmente a este mundo. Daí resulta que, para a maioria dos homens, perdido ficou o objetivo da existência, cumprindo-lhes recomeçá-la em condições mais penosas, mais dolorosas.
Ignorante da conseqüência de seus atos, que sobre ela recaem, e das leis do destino, a Humanidade prepara dias sombrios para o seu amanhã, dias que perdurarão até que a luz do Alto e a Revelação dos Espíritos lhe venham, enfim, clarear o caminho.
O papel do Espiritismo na educação social tem que se patentear, porque constitui uma inovação, necessária do ponto de vista filosófico, e se torna assim correlativo com os trabalhos dos sábios, orientados para o estudo das ondas que formam parte integrante dos feixes da vida universal.
Filosofia e Ciência têm que chegar, paralelamente, num sentido abstrato e concreto, aos mesmos resultados: dilatação do pensamento humano e extra-humano, do ponto de vista filosófico, por efeito de uma visão científica, precisa, clara e racional.
Diante desses vastos domínios da vida universal, em face da meta sublime que a alma colima através de suas peregrinações, que significação têm as vãs distinções de castas e os preconceitos da riqueza?
A noção das responsabilidades pode preservar de muitas quedas e atenuar muitos ódios. Uma vaga de igualdade aproxima todas as situações. Compreender-se-á que a injustiça da sorte é apenas aparente, que as provações têm sua razão de ser para a reparação das faltas do passado e a conquista de melhor futuro.
Então, a malevolência, a inveja e o egoísmo poderão ceder lugar ao altruísmo, e a fraternidade deixará de ser uma palavra carente de sentido, por isso que perceberemos quão intimamente estamos ligados uns aos outros, em a nossa eterna ascensão.
E o mal? perguntarão.
O mal não é senão o estado de inferioridade dos seres e dos mundos. Enfraquece com a evolução geral e acaba por desaparecer. Na sua fadigosa subida para o bem, para a luz, o próprio ser constrói sua consciência, sua personalidade, e na sua mesma elevação encontra a alegria e a recompensa.
Léon denis
15 junho 2010
OBSESSÃO E LOUCURA
Autor: Caírbar Schutel
Sob o ponto de vista Espírita o desequilíbrio das funções cerebrais se traduz pelas duas palavras: Obsessão e Loucura.
Obsessão é o domínio que os maus Espíritos exercem sobre certas pessoas no intuito de submetê-las à sua vontade, pelo simples prazer de fazerem mal, ou exercerem uma vingança.
Loucura é um estado mórbido dos órgãos que se traduz as mais das vezes por uma lesão; é, portanto uma moléstia tísica em sua causa, ainda que seja mental na maior parte dos seus efeitos.
Na obsessão se distingue a sugestão, a fascinação e subjugação - como na loucura se verificam a monomania, a mania, a demência e a idiotismo.
A sugestão é o que chamamos obsessão simples; - o indivíduo conhece uma força estranha que sobre ele atua, procura livrar-se e se tem à força moral precisa para vencer o inimigo, dele se desembaraça com mais ou menos dificuldade.
A fascinação tem conseqüências muito mais graves: o Espírito conduz aquele a quem domina como quem conduz um cego e pode excitá-lo a proceder de modo ridículo, comprometedor e até perigoso.
A subjugação é uma pressão que paralisa a vontade daquele que a sofre, e o faz proceder contra a sua vontade. Acha-se verdadeiramente sob um jugo.
A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso o subjugado é solicitado a tomar determinações absurdas e comprometedoras, que por uma espécie de ilusão julga sensatas: é uma espécie de fascinação em alto grau. No segundo caso o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários.
É bastante se ter assistido uma sessão de Hipnotismo para compreender a cena que invisivelmente se desenrola ante nós e que deixamos desapercebida por não afetar os nossos sentidos materiais.
Assim também o cego de nascença negará a ação hipnótica exercida de um indivíduo a outro.
O hábito mata a sensação: o costume de ver loucos e de não buscar as causas que engendraram a loucura nos faz encarar por um outro prisma os desarranjos mentais que têm encerrado nos manicômios tantos infelizes.
Voltando ao hipnotismo é preciso lembrar que neste também se observa diversas fases ou estado: 1 ° Sugestão; 2° Fascinação; 3° Catalepsia; 4° Estado Sonambúlico; 5° Estado Letárgico; 6° Sonambulismo lúcido; 7° Extático.
A este último sucede o desdobramento da pessoa.
Quem hipnotiza não é o corpo e sim o indivíduo - o ser pensante - o Espírito. Claro está que sendo o homem imortal ele pode continuar a hipnotizar no estado invisível em que se acha, exercendo com mais facilidade o seu império, visto a sua invisibilidade - é o que chamamos obsessão.
Hipnotiza-se um indivíduo violentando-lhe à vontade, aniquilando-lhe a liberdade; é nisto que o hipnotismo se diferencia do magnetismo. A hipnotização de um para , outro homem é uma obsessão intervivos
Hipnotizáveis são, mais ou menos, todas as pessoas e com mais forte razão aquelas que abdicam a liberdade - o livre arbítrio que por Deus lhe foi concedido obedecem cegamente os preconceitos e as imposições que lhes são sugeridas. Donde se pode concluir que é difícil hipnotizar um espírita verdadeiro: um homem que pensa, que raciocina, que discute, que analisa, que compreende, e sabe discenir o bom do mau - a verdade da falsidade.
O espírita médium não se deixa hipnotizar, e quando ele fica mediunizado é que se deixou magnetizar e não hipnotizar, palavras mui distintas e de significação mui diversa.
São raríssimos os casos de obsessão espírita e o testemunho desta verdade tios dá o grande alienista e neuro-patologista dr. Henrique Marselli - professor de clínica mental e nervosa na Universidade de Gênova, quando diz em seu livro:
"É meu dever declarar que deploráveis casos de nevrose "espírita" são muito raros; na minha carreira e entre milhares de doentes, apenas me recordo de quatro ou cinco. Todos as espíritas que melhor conheço me pareceram todos de um caráter equilibrado, duma inteligência cultivada e de uma excelente saúde"
Sob o ponto de vista Espírita o desequilíbrio das funções cerebrais se traduz pelas duas palavras: Obsessão e Loucura.
Obsessão é o domínio que os maus Espíritos exercem sobre certas pessoas no intuito de submetê-las à sua vontade, pelo simples prazer de fazerem mal, ou exercerem uma vingança.
Loucura é um estado mórbido dos órgãos que se traduz as mais das vezes por uma lesão; é, portanto uma moléstia tísica em sua causa, ainda que seja mental na maior parte dos seus efeitos.
Na obsessão se distingue a sugestão, a fascinação e subjugação - como na loucura se verificam a monomania, a mania, a demência e a idiotismo.
A sugestão é o que chamamos obsessão simples; - o indivíduo conhece uma força estranha que sobre ele atua, procura livrar-se e se tem à força moral precisa para vencer o inimigo, dele se desembaraça com mais ou menos dificuldade.
A fascinação tem conseqüências muito mais graves: o Espírito conduz aquele a quem domina como quem conduz um cego e pode excitá-lo a proceder de modo ridículo, comprometedor e até perigoso.
A subjugação é uma pressão que paralisa a vontade daquele que a sofre, e o faz proceder contra a sua vontade. Acha-se verdadeiramente sob um jugo.
A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso o subjugado é solicitado a tomar determinações absurdas e comprometedoras, que por uma espécie de ilusão julga sensatas: é uma espécie de fascinação em alto grau. No segundo caso o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários.
É bastante se ter assistido uma sessão de Hipnotismo para compreender a cena que invisivelmente se desenrola ante nós e que deixamos desapercebida por não afetar os nossos sentidos materiais.
Assim também o cego de nascença negará a ação hipnótica exercida de um indivíduo a outro.
O hábito mata a sensação: o costume de ver loucos e de não buscar as causas que engendraram a loucura nos faz encarar por um outro prisma os desarranjos mentais que têm encerrado nos manicômios tantos infelizes.
Voltando ao hipnotismo é preciso lembrar que neste também se observa diversas fases ou estado: 1 ° Sugestão; 2° Fascinação; 3° Catalepsia; 4° Estado Sonambúlico; 5° Estado Letárgico; 6° Sonambulismo lúcido; 7° Extático.
A este último sucede o desdobramento da pessoa.
Quem hipnotiza não é o corpo e sim o indivíduo - o ser pensante - o Espírito. Claro está que sendo o homem imortal ele pode continuar a hipnotizar no estado invisível em que se acha, exercendo com mais facilidade o seu império, visto a sua invisibilidade - é o que chamamos obsessão.
Hipnotiza-se um indivíduo violentando-lhe à vontade, aniquilando-lhe a liberdade; é nisto que o hipnotismo se diferencia do magnetismo. A hipnotização de um para , outro homem é uma obsessão intervivos
Hipnotizáveis são, mais ou menos, todas as pessoas e com mais forte razão aquelas que abdicam a liberdade - o livre arbítrio que por Deus lhe foi concedido obedecem cegamente os preconceitos e as imposições que lhes são sugeridas. Donde se pode concluir que é difícil hipnotizar um espírita verdadeiro: um homem que pensa, que raciocina, que discute, que analisa, que compreende, e sabe discenir o bom do mau - a verdade da falsidade.
O espírita médium não se deixa hipnotizar, e quando ele fica mediunizado é que se deixou magnetizar e não hipnotizar, palavras mui distintas e de significação mui diversa.
São raríssimos os casos de obsessão espírita e o testemunho desta verdade tios dá o grande alienista e neuro-patologista dr. Henrique Marselli - professor de clínica mental e nervosa na Universidade de Gênova, quando diz em seu livro:
"É meu dever declarar que deploráveis casos de nevrose "espírita" são muito raros; na minha carreira e entre milhares de doentes, apenas me recordo de quatro ou cinco. Todos as espíritas que melhor conheço me pareceram todos de um caráter equilibrado, duma inteligência cultivada e de uma excelente saúde"
A DESENCARNAÇÃO DE ALLAN KARDEC
Autor: E. Muller
No dia em que Allan Kardec desencarnava, constituindo este fato dolorosa surpresa para todos os amigos e para os espíritas em geral, nesse mesmo dia o Sr. E. Muller, grande amigo do Codificador e de sua digna esposa assim se expressava por carta ao Sr. Finet:
Paris, 31 de março de 1869
Amigo:
“ Agora, que já estou um pouco mais calmo, eu vos escrevo. Enviando-vos meu aviso, como o fiz, talvez tenha agido um tanto brutalmente, mas me parecia que devíeis receber a comunicação imediata desse falecimento.
Eis alguns pormenores:
Ele morreu essa manhã, entre onze e doze horas, subitamente, ao entregar um número da Revue a um caixeiro de livraria que acabava de comprá-lo; ele se curvou sobre si mesmo, sem proferir uma única palavra: estava morto.
Sozinho em sua casa(Rua de Sant’ana), Kardec punha em ordem seus livros e papéis para a mudança que vinha processando e que deveria terminar amanhã. Seu empregado, aos gritos da criada e do caixeiro, acorreu ao local, ergueu-o... nada, nada mais. Delanne acudiu com toda a presteza, friccionou-o, magnetizou-o, mas em vão. Tudo estava acabado.
Venho de vê-lo. Penetrando a casa, com móveis e utensílios diversos atravancando a entrada, pude ver pela porta aberta da grande sala de sessões, a desordem que acompanha os preparativos para uma mudança de domicílio; introduzido numa pequena sala de visitas, que conheceis bem, com seu tapete encarnado e seus móveis antigos, encontrei a Sra. Allan Kardec assentada no canapé, de face para a lareira; ao seu lado, o Sr. Delanne; diante deles sobre dois colchões colocados no chão, junto à porta da pequena sala de jantar, jazia o corpo, restos inanimado daquele que todos amamos. Sua cabeça, envolta em parte por um lenço branco atado sob o queixo, deixava ver toda a face, que parecia repousar docemente e experimentar a suave e serena satisfação do dever cumprido.
Nada de tétrico marcara a passagem de sua morte; se não fosse a parada da respiração, dir-se-ia que ele estava dormindo.
Cobria-lhe o corpo uma coberta de lã branca, que, junto aos ombros dele, deixava perceber a gola do robe de chambre, a roupa que ele vestia quando fora fulminado; a seus pés, como que abandonadas, suas chinelas e meias pareciam possuir ainda o calor do corpo dele.
Tudo isto era triste, e, entretanto, um sentimento de doce quietude penetrava-nos a alma; tudo na casa era desordem, caos, morte, mas tudo aí parecia calmo, risonho e doce, e, diante daqueles restos , forçosamente meditamos no futuro..
Eu vos disse que na sexta-feira é que o enterraríamos, mas ainda não sabemos a que horas; esta noite seu corpo esta sendo velado por Desliens e Tailleur; amanhã será por Delanne e Morin.
Procuram-se entre os seus papéis, suas últimas vontades, se é que ele as escreveu; de qualquer forma, o enterro será puramente civil.
Escrever-vos-ei, dando-vos os pormenores da cerimônia.
Amanhã, creio eu, cuidaremos em nomear uma comissão de espíritas mais ligados à causa, aqueles que melhor conhecem as necessidades dela, a fim de aguardar e de saber o que se irá fazer.
De todo o coração, vosso amigo,
(a) Muller.”
A segunda carta de Muller é igualmente preciosa. É assim vazada:
Paris, 4 de abril de 1869
Amigos.
Uma grande folha de papel! Enchê-la-ei eu esta noite?
Curvado, abatido, começo apenas a despertar de uma emoção muito natural.
Parece-me ter estado a sonhar, entretanto tal não ocorreu e não posso ter o consolo de uma ilusão. Tudo é realidade, verdade brutal, sancionada por um fato. Mas sou feito de molde a que meu pensamento não pode se acostumar à idéia de que ele já não existe1 Que já não existe! Compreendei bem o que minha pena deseja dizer? Pois o que penso, o meu coração desmente o que ela exprime. Entretanto é bem verdade! Sexta-feira nos dirigimos ao campo de repouso, conduzindo seus despojos mortais; e o lúgubre ruído da terra, cobrindo seu caixão, repercutiu em ecos em meu coração. Que vos direi?... que sofri, e que não chorei?
Minha intenção – a triste cerimônia fúnebre realizada! – era a de vos escrever logo em seguida, porém o meu pensamento paralisado e o meu organismo abatido não permitiram que meu coração tivesse esse doce consolo; eu não pude faze-lo!
Eis, entretanto, na medida em que minhas lembranças podem ser exatas, as circunstâncias da cerimônia:
Precisamente ao meio-dia o cortejo se pôs a caminho, um carro mortuário modesto, um único, abria-o, arrastando após si, docemente comprimida , a multidão numerosa composta por todos aqueles que puderam se encontrar nessa última reunião. O acompanhamento fúnebre foi conduzido pelo Sr. Levent, vice-presidente da Sociedade Espírita de Paris; em seguida a multidão de amigos, simpatizantes, os interessados de toda espécie; os empregados e pessoas desocupadas fechavam o cortejo, ao todo mil ou mil e duzentas pessoas.
O carro fúnebre seguiu pela Rua de Grammont, atravessou os grandes “boulevards”, a Rua Laffite, Notre-Dame-des-Lorrettes, a Rua Fontaine, as avenidas exteriores de Clichy e penetrou no Cemitério de Montmartre, em meio a multidão que o seguia. Bem longe, lá no fundo, mais longe ainda, nos limites do cemitério, uma vala escancarada aguardava o seu ocupante, e os curiosos romperam as filas para ouvir os discursos (pobres criaturas!). As cordas do coveiro envolveram o caixão que desceu lentamente ao fundo do abismo. Um grande silêncio se fez. O vice-presidente da Sociedade se aproximou da vala e sua voz emocionada, compenetrada, convicta, em nome da entidade, solicitou ao morto o prosseguimento de seus conselhos e lhe disse, não um adeus mas uma até breve. Camille Flammarion, sobre um pequeno cômoro, ali existente por acaso, tomou da palavra em nome da ciência unida ao Espiritismo e, da enérgica maneira afirmou aos olhos de todos, a fé que o anima. Em seguida foi a vez de Delanne, que falando em nome dos irmãos da província, prometeu ao Espírito de Allan Kardec que todos seguiríamos a rota por ele tão laboriosamente traçada. Um quarto e último discurso foi pronunciado por nosso colega Sr. Barrot. Cada orador, dirigindo-se ao Espírito Allan Kardec, lhe dizia: “Velai por nós, velai por vossas obras, vós que possuís a liberdade”.
Nada nas palavras desses oradores lembrava essas tristes orações fúnebres que fazem o coração desesperar por suas palavras: “Adeus, eu não te reverei mais, nunca mais!”. Longe de nós esse triste pensamento; o Espiritismo oferece-nos uma consolação maior e todos os discursos pronunciado sobre a tumba do Mestre terminaram por animadoras palavras: Até logo, querido amigo de nossos corações, até nos revermos em um mundo melhor! E possamos nós, como tu cumprimos com nossa missão na Terra!
Em seguida a multidão se dispersou, retornando aos seus afazeres ou às suas reflexões. A Sociedade deveria se reunir à Rua Sant’Anne, para solicitar uma evocação: assim sendo, os membros individualmente para lá voltavam com apressuramento.
Seis comunicações foram ali obtidas.
Muito vosso
Muller
Aí estão, fiéis quanto possível, as traduções dos documentos copiados em Lyon por Sausse e cujos originais, como quase tudo talvez, se perdeu. Verifica-se que Allan Kardec não foi sepultado no Père-Lachaise, mas sim , no velho cemitério de Montmartre e, em seguida, transladado para o dolmen mais tarde construído e onde foi também sepultada a Sra. Allan Kardec.
È bom relacionar que o Sr. Delanne, várias vezes mencionado, não é o celebre escritor espírita, Gabriel, na época pouco mais do que uma criança, mas seu pai o Sr. Alexandre Delanne, fiel amigo do Professor Rivail.
Quanto ao mais, além do discurso de Camille Flammarion, tudo se perdeu na voragem do tempo. Nem mesmo o previdente Muller pudemos obter qualquer notícia. Ele assinava-se M. E. Muller e foi, como dissemos, o encarregado pela família do ilustre desencarnado, de dirigir-lhe as últimas palavras de despedida. Além disso há o retrato de Henri Sausse, o primeiro biógrafo de Kardec, existente milagrosamente nos arquivos de Cairbar Schutel. Tudo o mais é a própria obras imperecível de Kardec.
Fonte: Reformador e Revista Internacional de Espiritismo
No dia em que Allan Kardec desencarnava, constituindo este fato dolorosa surpresa para todos os amigos e para os espíritas em geral, nesse mesmo dia o Sr. E. Muller, grande amigo do Codificador e de sua digna esposa assim se expressava por carta ao Sr. Finet:
Paris, 31 de março de 1869
Amigo:
“ Agora, que já estou um pouco mais calmo, eu vos escrevo. Enviando-vos meu aviso, como o fiz, talvez tenha agido um tanto brutalmente, mas me parecia que devíeis receber a comunicação imediata desse falecimento.
Eis alguns pormenores:
Ele morreu essa manhã, entre onze e doze horas, subitamente, ao entregar um número da Revue a um caixeiro de livraria que acabava de comprá-lo; ele se curvou sobre si mesmo, sem proferir uma única palavra: estava morto.
Sozinho em sua casa(Rua de Sant’ana), Kardec punha em ordem seus livros e papéis para a mudança que vinha processando e que deveria terminar amanhã. Seu empregado, aos gritos da criada e do caixeiro, acorreu ao local, ergueu-o... nada, nada mais. Delanne acudiu com toda a presteza, friccionou-o, magnetizou-o, mas em vão. Tudo estava acabado.
Venho de vê-lo. Penetrando a casa, com móveis e utensílios diversos atravancando a entrada, pude ver pela porta aberta da grande sala de sessões, a desordem que acompanha os preparativos para uma mudança de domicílio; introduzido numa pequena sala de visitas, que conheceis bem, com seu tapete encarnado e seus móveis antigos, encontrei a Sra. Allan Kardec assentada no canapé, de face para a lareira; ao seu lado, o Sr. Delanne; diante deles sobre dois colchões colocados no chão, junto à porta da pequena sala de jantar, jazia o corpo, restos inanimado daquele que todos amamos. Sua cabeça, envolta em parte por um lenço branco atado sob o queixo, deixava ver toda a face, que parecia repousar docemente e experimentar a suave e serena satisfação do dever cumprido.
Nada de tétrico marcara a passagem de sua morte; se não fosse a parada da respiração, dir-se-ia que ele estava dormindo.
Cobria-lhe o corpo uma coberta de lã branca, que, junto aos ombros dele, deixava perceber a gola do robe de chambre, a roupa que ele vestia quando fora fulminado; a seus pés, como que abandonadas, suas chinelas e meias pareciam possuir ainda o calor do corpo dele.
Tudo isto era triste, e, entretanto, um sentimento de doce quietude penetrava-nos a alma; tudo na casa era desordem, caos, morte, mas tudo aí parecia calmo, risonho e doce, e, diante daqueles restos , forçosamente meditamos no futuro..
Eu vos disse que na sexta-feira é que o enterraríamos, mas ainda não sabemos a que horas; esta noite seu corpo esta sendo velado por Desliens e Tailleur; amanhã será por Delanne e Morin.
Procuram-se entre os seus papéis, suas últimas vontades, se é que ele as escreveu; de qualquer forma, o enterro será puramente civil.
Escrever-vos-ei, dando-vos os pormenores da cerimônia.
Amanhã, creio eu, cuidaremos em nomear uma comissão de espíritas mais ligados à causa, aqueles que melhor conhecem as necessidades dela, a fim de aguardar e de saber o que se irá fazer.
De todo o coração, vosso amigo,
(a) Muller.”
A segunda carta de Muller é igualmente preciosa. É assim vazada:
Paris, 4 de abril de 1869
Amigos.
Uma grande folha de papel! Enchê-la-ei eu esta noite?
Curvado, abatido, começo apenas a despertar de uma emoção muito natural.
Parece-me ter estado a sonhar, entretanto tal não ocorreu e não posso ter o consolo de uma ilusão. Tudo é realidade, verdade brutal, sancionada por um fato. Mas sou feito de molde a que meu pensamento não pode se acostumar à idéia de que ele já não existe1 Que já não existe! Compreendei bem o que minha pena deseja dizer? Pois o que penso, o meu coração desmente o que ela exprime. Entretanto é bem verdade! Sexta-feira nos dirigimos ao campo de repouso, conduzindo seus despojos mortais; e o lúgubre ruído da terra, cobrindo seu caixão, repercutiu em ecos em meu coração. Que vos direi?... que sofri, e que não chorei?
Minha intenção – a triste cerimônia fúnebre realizada! – era a de vos escrever logo em seguida, porém o meu pensamento paralisado e o meu organismo abatido não permitiram que meu coração tivesse esse doce consolo; eu não pude faze-lo!
Eis, entretanto, na medida em que minhas lembranças podem ser exatas, as circunstâncias da cerimônia:
Precisamente ao meio-dia o cortejo se pôs a caminho, um carro mortuário modesto, um único, abria-o, arrastando após si, docemente comprimida , a multidão numerosa composta por todos aqueles que puderam se encontrar nessa última reunião. O acompanhamento fúnebre foi conduzido pelo Sr. Levent, vice-presidente da Sociedade Espírita de Paris; em seguida a multidão de amigos, simpatizantes, os interessados de toda espécie; os empregados e pessoas desocupadas fechavam o cortejo, ao todo mil ou mil e duzentas pessoas.
O carro fúnebre seguiu pela Rua de Grammont, atravessou os grandes “boulevards”, a Rua Laffite, Notre-Dame-des-Lorrettes, a Rua Fontaine, as avenidas exteriores de Clichy e penetrou no Cemitério de Montmartre, em meio a multidão que o seguia. Bem longe, lá no fundo, mais longe ainda, nos limites do cemitério, uma vala escancarada aguardava o seu ocupante, e os curiosos romperam as filas para ouvir os discursos (pobres criaturas!). As cordas do coveiro envolveram o caixão que desceu lentamente ao fundo do abismo. Um grande silêncio se fez. O vice-presidente da Sociedade se aproximou da vala e sua voz emocionada, compenetrada, convicta, em nome da entidade, solicitou ao morto o prosseguimento de seus conselhos e lhe disse, não um adeus mas uma até breve. Camille Flammarion, sobre um pequeno cômoro, ali existente por acaso, tomou da palavra em nome da ciência unida ao Espiritismo e, da enérgica maneira afirmou aos olhos de todos, a fé que o anima. Em seguida foi a vez de Delanne, que falando em nome dos irmãos da província, prometeu ao Espírito de Allan Kardec que todos seguiríamos a rota por ele tão laboriosamente traçada. Um quarto e último discurso foi pronunciado por nosso colega Sr. Barrot. Cada orador, dirigindo-se ao Espírito Allan Kardec, lhe dizia: “Velai por nós, velai por vossas obras, vós que possuís a liberdade”.
Nada nas palavras desses oradores lembrava essas tristes orações fúnebres que fazem o coração desesperar por suas palavras: “Adeus, eu não te reverei mais, nunca mais!”. Longe de nós esse triste pensamento; o Espiritismo oferece-nos uma consolação maior e todos os discursos pronunciado sobre a tumba do Mestre terminaram por animadoras palavras: Até logo, querido amigo de nossos corações, até nos revermos em um mundo melhor! E possamos nós, como tu cumprimos com nossa missão na Terra!
Em seguida a multidão se dispersou, retornando aos seus afazeres ou às suas reflexões. A Sociedade deveria se reunir à Rua Sant’Anne, para solicitar uma evocação: assim sendo, os membros individualmente para lá voltavam com apressuramento.
Seis comunicações foram ali obtidas.
Muito vosso
Muller
Aí estão, fiéis quanto possível, as traduções dos documentos copiados em Lyon por Sausse e cujos originais, como quase tudo talvez, se perdeu. Verifica-se que Allan Kardec não foi sepultado no Père-Lachaise, mas sim , no velho cemitério de Montmartre e, em seguida, transladado para o dolmen mais tarde construído e onde foi também sepultada a Sra. Allan Kardec.
È bom relacionar que o Sr. Delanne, várias vezes mencionado, não é o celebre escritor espírita, Gabriel, na época pouco mais do que uma criança, mas seu pai o Sr. Alexandre Delanne, fiel amigo do Professor Rivail.
Quanto ao mais, além do discurso de Camille Flammarion, tudo se perdeu na voragem do tempo. Nem mesmo o previdente Muller pudemos obter qualquer notícia. Ele assinava-se M. E. Muller e foi, como dissemos, o encarregado pela família do ilustre desencarnado, de dirigir-lhe as últimas palavras de despedida. Além disso há o retrato de Henri Sausse, o primeiro biógrafo de Kardec, existente milagrosamente nos arquivos de Cairbar Schutel. Tudo o mais é a própria obras imperecível de Kardec.
Fonte: Reformador e Revista Internacional de Espiritismo
14 junho 2010
A DESENCARNAÇÃO E A LEI
Para os Planos Espirituais, a desencarnação, tão temida na Terra é simplesmente, a transferência de plano, mudança de habitação.
A chegada ao término de uma existência, condiciona a volta aos planos espirituais, para a averiguação do aproveitamento no labor no estudo, nas provas e nas experimentações.
Um curso valioso faz a alma no corpo denso.
Sob a tutela do Mundo Espiritual e sob as bênçãos do Pai, ingressa o espírito, múltiplas vezes no escrínio do corpo com a incumbência de crescer e multiplicar a sua estatura espiritual e os seus conhecimentos respectivamente.
A lei o ampara sob várias tutelas, quer no campo físico, quer no plano astral.
O aprendiz é envolvido nas vibrações da Luz Superior, porquanto é sempre um filho de Deus Altíssimo a caminho de sua evolução.
Com o estudo das Leis Doutrinárias que nos visitam sob a misericórdia do Alto, sabemos que "a cada um é dado segundo suas obras".
Lei de compensação e justiça emanada dos Altos Planos.
Ao espírita acostumado ao estudo do Evangelho à luz do Consolador, cabe restaurar em toda a sua pureza e verdade, as condições do desenlace físico, para que o espírito imortal se aperceba de sua responsabilidade face às leis sábias e eternas.
Cabe ao espírita o comportamento exemplar junto aqueles que deixam o corpo, levando-lhes a prece sincera, a gratidão de companheiros e o silêncio caridoso sob quaisquer circunstâncias.
Ao espírita, cabe informar, sistematicamente, sobre a misericórdia de Deus com relação aos seus filhos, que não os condena, mas ampara, consola, redime e reajusta sempre que preciso.
A desencarnação é acontecimento sublime para os Planos Maiores, quando a alma liberta do cativeiro terreno se apresta ao vôo espiritual, coroando-se de luzes pelo merecimento adquirido.
Estudemos o Evangelho de Senhor, alcemos-nos à Fonte Excelsa da Luz meditando sobre os acontecimentos que nos cercam, formando a visão exata para nossa mente em evolução e vivendo de acordo com a Vontade Suprema que nos dirige os passos para as regiões infinitas da Eterna Claridade, através de várias existências.
Busquemos Luz, cientes de que "a cada um será dado de acordo com suas obras".
Trabalhemos por implantar na Terra a serenidade a submissão às Leis Soberanas, ajustando-nos à Vontade excelsa do Criador.
Que Ele nos abençoe.
BEZERRA DE MENEZES
13 junho 2010
DEPOIS DA MORTE
O homem é um ser complexo. Nele se combinam três elementos para formar uma unidade viva, a saber:
O corpo, envoltório material temporário, que abandonamos na morte como vestuário usado;
O perispírito, invólucro fluídico permanente, invisível aos nossos sentidos naturais, que acompanha a alma em sua evolução infinita, e com ela se melhora e purifica;
A alma, princípio inteligente, centro da força, foco da consciência e da personalidade.
A alma, desprendida do corpo material e revestida do seu invólucro sutil, constitui o Espírito, ser fluídico, de forma humana, liberto das necessidades terrestres, invisível e impalpável em seu estado normal. O Espírito não é mais que um homem desencarnado. Todos tornaremos a ser Espíritos. A morte restitui-nos à vida do espaço.
Que se passa no momento da morte?
Como se desprende o Espírito da sua prisão material?
Que impressões, que sensações o esperam nessa ocasião temerosa?
É isso o que interessa a todos conhecer, porque todos cumprem essa jornada. A vida foge-nos a todo instante: nenhum de nós escapará a morte.
Deixando sua residência corpórea, o Espírito purificado pela dor e pelo sofrimento, vê sua existência passada recuar, afastar-se pouco a pouco com seus amargores e ilusões; depois, dissipar-se como as brumas que a aurora encontra estendidas sobre o solo e que a claridade do dia faz desaparecer. O Espírito acha-se, então, como que suspenso entre duas sensações: a das coisas materiais que se apagam e a da vida nova que se lhe desenha à frente. Entrevê essa vida como através de um véu, cheia de encanto misterioso, temida e desejada ao mesmo tempo. Após, expande-se a luz, não mais a luz solar que nos é conhecida, porém uma luz espiritual, radiante, por toda parte disseminada.
Pouco a pouco o inunda, penetra-o, e, com ela, um tanto de vigor, de remoçamento e de serenidade. O Espírito mergulha nesse banho reparador. Aí se despoja de suas incertezas e de seus temores. Depois, seu olhar destaca-se da Terra, dos seres lacrimosos que cercam seu leito mortuário, e dirige-se para as alturas. Divisa os céus imensos e outros seres amados, amigos de outrora, mais jovens, mais vivos, mais belos que vêm recebê-lo, guiá-lo no seio dos espaços. Com eles caminha e sobe às regiões etéreas que seu grau de depuração permite atingir. Cessa, então, sua perturbação, despertam faculdades novas, começa o seu destino feliz.
A entrada em uma vida nova traz impressões tão variadas quanto o permite a posição moral dos Espíritos.
Léon Denis
12 junho 2010
PENSAMENTO E PERISPÍRITO
Autor: Manoel Philomeno de Miranda (espírito)
Portador de expressiva capacidade plasmadora, o perispírito registra todas as ações do Espírito através dos mecanismos sutis da mente que sobre ele age, estabelecendo os futuros parâmetros de comportamento, que serão fixados por automatismos vibratórios nas reencarnações porvindouras.
Corpo intermediário entre o ser pensante, eterno, e os equipamentos físicos, transitórios, por ele se processam as imposições da mente sobre a matéria e os efeitos dela em retomo à causa geratriz.
Captando o impulso do pensamento e computando a resposta da ação, a ele se incorporam os fenômenos da conduta atual do homem, assim programando os sucessos porvindouros, mediante os quais serão aprimoradas as conquistas, corrigidos os erros e reparados os danos destes últimos derivados.
Constituído por campos de forças mui especiais, ele irradia vibrações específicas portadoras de carga própria, que facultam a perfeita sintonia com energias semelhantes, estabelecendo amas de afinidade e repulsão de acordo com as ondas emitidas.
Assim, quando por ocasião da reencarnação o Espírito é encaminhado por necessidade evolutiva aos futuros genitores, no momento da fecundação o gameta masculino vitorioso esteve impulsionado pela energia do perispírito do reencarnante, que naquele espermatozóide encontrou os fatores genéticos de que necessitava para a programática a que se deve submeter.
A partir desse momento, os códigos genéticos da hereditariedade, em consonância com o conteúdo vibratório dos registros perispirituais, vão organizando o corpo que o Espírito habitará.
Como é certo que, em casos especiais, há toda uma elaboração de programa para o reencarnante, na generalidade, os automatismos vibratórios das Leis de Causalidade respondem pela ocorrência, que jamais tem lugar ao acaso.
Todo elemento irradia vibrações que lhe tipificam a espécie e respondem pela sua constituição.
Espermatozóides e óvulos, em conseqüência, possuem campo de força especifico, que propele os primeiros para o encontro com os últimos, facultando o surgimento da célula ovo.
Por sua vez, cada gameta exterioriza ondas que correspondem à sua fatalidade biológica, na programação genética de que se faz portador.
Desse modo, o perispírito do reencarnante sincroniza com a vibração do espermatozóide que possui a mesma carga vibratória, sobre ele incidindo e passando a plasmar no óvulo fecundado o como compatível com as necessidades evolutivas, como decorrência das catalogadas ações pretéritos. Equilíbrio da forma ou anomalia, habilidades e destreza, ou incapacidade, inteligência, memória e lucidez, ou imbecilidade, atraso mental, oligofrenia serão estabelecidos desde já pela incidência das conquistas espirituais sobre o embrião em desenvolvimento.
Sem descartarmos a hereditariedade nos processos da reencarnação, o seu totalitarismo, conforme pretendem diversos estudiosos da Embriogenia e outras áreas da ciência, não tem razão de ser.
Cada Espírito é legatário de ú mesmo. Seus atos e sua vida anterior são os plasmadores da sua nova existência corporal, impondo os processos de reabilitação, quando em dívida, ou de felicidade, se em crédito, sob os critérios da Divina Justiça.
Certamente, caracteres físicos, fisionômicos e até alguns comportamentais resultam das heranças genéticas e da convivência em família, jamais os de natureza psicológica que afetam o destino, ou de ordem fisiológica no mapa da evolução.
Saúde e enfermidade, beleza e feiúra, altura e pequenez, agilidade e retardamento, como outras expressões da vida física, procedem do Espírito que vem recompor e aumentar os valores bem ou mal utilizados nas existências pretéritas.
Além desses, os comportamentos e as manifestações mentais, sexuais, emocionais decorrem dos atos perpetrados antes e que a reencarnação traz de volta para a indispensável canalização em favor do progresso de cada ser.
As alienações, os conflitos e traumas, as doenças congênitas, as deformidades físicas e degenerativas, assim como as condições morais, sociais e econômicas, são capítulos dos mecanismos espirituais, nunca heranças familiares, qual se a vida estivesse sob injunções do absurdo e da inconseqüência.
A aparente hereditariedade compulsória, assim como a injunção moral atuante em determinado indivíduo, fazendo recordar algum ancestral, explica-se em razão de ser aquele mesmo Espírito, ora renascido no clã, para dar prosseguimento a realizações que ficaram incompletas ou refazer as que foram perniciosas. Motivo este que libera "o filho de pagar pelos pais" ou avós, o que constituiria, se verdadeiro, uma terrível e arbitrária imposição da Justiça que, mesmo na Terra, tem código penalógico mais equilibrado.
Os pensamentos largamente cultivados levam o indivíduo a ações inesperadas, como decorrência da adaptação mental que se permitiu. Desencadeada a ação, os efeitos serão incorporados ao modus vivendi posterior da criatura.
E mesmo quando não se convertem em atitudes e realizações por falta de oportunidade, aquelas aspirações mentais, vividas em clima interior, apresentam-se como formas e fantasmas que terão de ser diluídos por meio de reagentes de diferente ordem, para que se restabeleça o equilíbrio do conjunto espiritual.
Conforme a constância mental da idéia, aparece uma correspondente necessidade da emoção.
Todos esses condicionamentos estabelecem o organograma físico, mental e moral da futura empresa reencarnacionista a que o Espírito se deve submeter, ante o fatalismo da evolução.
O conjunto - Espírito ou mente, perispírito ou psicossoma e corpo ou soma - é tão entranhadamente conjugado no processo da reencarnação que, em qualquer período da existência, são articulados ou desfeitos sucessivos equipamentos que procedem da ação de um sobre o outro. O Espírito aspira e o perispírito age sobre os implementos materiais, dando surgimento a respostas orgânicas ou a fatos que retomam à fonte original, como efeito da ação física que o mesmo corpo transfere para o ser eterno, concedendo-lhe crédito ou débito que se incorpora à economia da vida planetária.
O mundo mental, das aspirações e ideais, é o grande agente modelador do mundo físico, orgânico. Conforme as propostas daquele, têm lugar as manifestações neste.
Assim se compreende porque a Terra é mundo de "provas e expiações", considerando-se que os Espíritos que nela habitam estagiam na sua grande generalidade em faixas iniciais, inferiores, portanto, da evolução.
À medida que o ser evolve, melhores condições estatui para o próprio crescimento, dentro do mesmo critério da lei do progresso, que realiza com mais segurança os mecanismos de desenvolvimento, de acordo com as conquistas logradas. Quanto mais adiantado um povo, mais fáceis e variados são-lhe os recursos para o seu avanço.
O pensamento, desse modo, é um agente de grave significado no processo natural da vida, representando o grau de elevação ou inferioridade do Espírito, que, mediante o seu psicossoma ou órgão intermediário, plasma o que lhe é melhor e mais necessário para marchar no rumo da libertação.
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Temas da Vida e da Morte.
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