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o livre pensamento e o direito à expressão.
22 janeiro 2010
DOENÇA MENTAL E ESPIRITISMO
História e a visão materialista
Hoje em dia o termo deficiência mental é preferível à palavra loucura para designar os portadores de algum distúrbio psíquico, isso porque nas últimas décadas a doença mental tem sido tratada de forma mais racional. A classe médica e mesmo a sociedade civil em geral vem mudando a maneira como encara esse distúrbio.
Mas nem sempre foi assim. O francês Michel Foucault (1926-1984), em seu livro clássico sobre a história da loucura, estabeleceu um paralelo interessante entre a loucura e a lepra. A lepra, na Antigüidade, era objeto de exclusão e supressão de elementos da sociedade; o portador da doença era o bode expiatório culpado de causar males aos outros. Os vales dos leprosos eram lugares ermos, afastados das cidades, em que se “depositavam” todos os doentes leprosos escorraçados do convívio social comum. A loucura, sobretudo a partir da Idade Média, viria ocupar o lugar da lepra, como alvo da brutalidade dos homens ditos normais. Seria, nas palavras do autor, o novo “espantalho”, que estabeleceu com a sociedade uma relação de divisão e exclusão.
Na sociedade medieva, ou medieval, temerosa dos poderes espirituais ocultos, a doença mental passa a ser encarada como resultado da presença demoníaca, da força maligna na sua plena ação. O louco era submetido a sessões de tortura física e psicológica; não havia compreensão e um sentimento de ódio e temor rondavam a relação entre os sãos e os doentes.
O desconhecimento quase que completo, levou à busca de tratamentos antiquados e dolorosos aos doentes. A trepanação – o embrião das modernas lobotomias – consistiam na abertura de buracos nos crânios dos doentes de 2,5 a 5 cm de diâmetro, sem anestesia ou assepsia adequadas. Os “doutores” buscavam remover a pierre de folie (pedra da loucura) que acreditavam existir nos cérebros dos doentes. O que acontecia de fato é que eram feitas verdadeiras mutilações que exauriam as forças dos doentes e, por vezes, acabavam por deixar os pacientes privados de certos movimentos.
A partir do século XIX, com o nascimento da psicanálise e as importantes contribuições de Freud, a psiquiatria como um dos braços da medicina pôde avançar em alguns pontos no tratamento da loucura, mas não suficientemente. Freud, com o desenvolvimento da teoria da libido, não conseguiu dar conta do complexo problema da deficiência mental. Jung então questionou a influência capital do aparelho genésico do desenvolvimento do ser, defendido por Freud.
Os tratamentos com eletrochoque, a eletroconvulsoterapia, as convulsões induzidas por metrazol, a indução a febre, enfim, nunca foram completamente bem sucedidos no auxílio aos doentes. Tratamentos por vezes polêmicos e resultados efêmeros levaram a partir das décadas de 60 e 70 a um movimento conhecido por antipsiquiátrico, que questionava as terapias convencionais e o sistema psico-hospitalar tradicional.
Visão Espírita
O fato é que a ciência tradicional nunca soube realmente o que provocava a doença mental. Por que pessoas relativamente sãs em alguma fase da vida começavam a manifestar traços de insanidade? Por que outras já nasciam doentes? E ainda, por que tantas se curavam sem razão aparente?
A psiquiatria tem estado atada, é verdade, pelos limites do cérebro, pelas barreiras do corpo material, fonte que, sabemos, não é a origem principal da doença, mas sim a manifestação de algo que é externo a ele. Vejamos agora no que o Espiritismo contribuiu para o entendimento dessa questão.
Allan Kardec e os Espíritos da Codificação nos apresentaram um elemento primordial para o entendimento do ser humano na sua essência: o Espírito. O ser imortal; aquele que viveu e viverá inúmeras existências através das reencarnações; o ser que possui um histórico de uma vida milenar que não se restringe somente à vida presente. O Espiritismo abalou as estruturas do materialismo vigente, trouxe uma revolução no campo das idéias, inovou os conceitos religiosos e científicos. A idéia da existência do Espírito pôde explicar a gênese de muitos problemas da vida cotidiana.
Através da lei da reencarnação, explicou a questão das causas atuais e passadas das nossas aflições; que como seres imortais, somos fruto do que fizemos anteriormente. Sofremos mais ou somos mais felizes de acordo com o que viemos construindo nas nossas existências nas diversas moradas do Pai.
Uma das idéias mais importantes introduzidas pelo Espiritismo fora a da Lei de causa e efeito, emprestada de certa maneira da lei da física de ação e reação. A Lei de causa e efeito nos deu uma amplidão de visão que nos ajudou a compreender, por exemplo, que nossa vida presente é reflexo do que temos sido até hoje, inclusive de nossas vivências passadas. Nossas faltas anteriores, nossos erros passados surgem hoje como expiações; assim como nossos acertos aparecem-nos como paliativo ou recompensa na vida atual. Plantamos sementes voluntariamente e hoje somos chamados à colheita. É uma lei natural.
A loucura – ou a doença mental, como preferir – deve ser também encarada sob esse prisma, como reflexo de uma atitude passada. Como se manifesta de uma forma negativa, trazendo sofrimento tanto para o doente, como para a família, há que se concluir que seja reflexo de uma falta anterior.
Emmanuel e Joanna de Ângelis nos explicam que são várias as causas da loucura e que, quase sempre, são contraídas por faltas em uma existência anterior. O suicídio, o uso inadequado das faculdades mentais, o envolvimento exagerado com a vida mundana, ou mesmo um progresso intelectual sem a contraparte moral podem ser assinalados como causas anteriores de uma vida atual mergulhada na insanidade.
O Espírito que procedeu assim, no seu desencarne percebe que viveu de forma desequilibrada sente-se ele próprio um criminoso. No seu tribunal de consciência vê que foi causador de uma desarmonia muito grande e na aferição dos males que praticou sente-se culpado. Suas faltas todas, assim como as boas ações também, impregnaram o seu perispírito e ele vê no processo do reencarne a única forma de reparação possível. Busca um mecanismo auto-punitivo que possa absolvê-lo dos males que praticou. Sente que uma nova vida na Terra, num corpo portador de uma doença mental, poderá livrar-lhe do peso das suas ações infelizes.
No processo da reencarnação, o Espírito aplica-se-lhe de forma consciente ou inconsciente, uma punição porque deseja evoluir e sabe que para isso tem de apagar os erros cometidos no passado. Veja que não é uma punição vinda unicamente de Deus, ou um veredicto traçado por um deus vingativo, mas antes disso, um alerta da consciência do próprio Espírito que se sente faltoso com a harmonia universal, pois sabemos que ninguém se escusa da própria consciência.
A partir do momento da permissão do reencarne e a posterior fase da concepção, o Espírito passa a imprimir nas moléculas de DNA do novo corpo físico, as suas necessidades e heranças. Essas impressões materiais serão recursos propiciatórios à sua evolução. Os atos anteriores do Espírito, herdeiro de si mesmo, lhes plasmam o destino futuro e, através do seu desejo de redimir-se, aplica-se-lhe a pena necessária aos crimes que lhe pesam na economia moral.
Notemos que o Espírito não é louco, pois tem a consciência de suas faltas e deseja repará-las. É certo que há Espíritos que têm de ser submetidos a uma reencarnação compulsória, mas mesmo nesses casos o Espírito não é louco, e sim terá em mãos um corpo que não lhe permitirá manifestar todas as suas faculdades.
Na nova vida encarnada a doença poderá manifestar-se desde o nascimento ou poderá ser desencadeada por uma aparente causa material: uma fixação, um trauma, um estresse ou mesmo uma decepção. O que devemos saber é que em ambos, o gérmem da doença mental já estava registrado no perispírito do reencarnante. Da neurose mais simples, passando pelo mongolismo, pela demência, pela esquisofrenia: a gênese é sempre espiritual.
Outro aspecto que temos de considerar é a loucura desencadeada por um processo obsessivo, que também tem por causa um ato anterior. A obsessão é um mecanismo de cobrança do ser desencarnado em relação ao encarnado. Um histórico de disputas e relações não resolvidas envolvem vítima e algoz, agora em papéis trocados. O obsessor acredita que sua má influência e vingança do ofensor encarnado se livrará da dor que carrega, influência essa que pode inclusive levar o obsediado a um diagnóstico equivocado de deficiência mental. Com a devida terapia espírita, mudança de comportamento do encarnado, reforma íntima e amor dos companheiros mais próximos é quase certo que a cura total é possível nesses casos.
A doença mental é expiação ou prova também para os pais que podem ter sido coadjuvantes nas faltas desses espíritos. Eles são agora testados e deverão aplicar todo o amor possível na convivência com o doente, sendo responsáveis pelo ser débil que os acompanha. Sabemos que a cura total é quase sempre impossível porque consta do plano reencarnatório da criatura, mas a dor tanto do doente quanto da família pode ser suavizada se tivermos em mente que nunca estamos sozinhos; se confiarmos e termos a figura divina como nosso norte, espíritos amigos estarão sempre nos inspirando e colaborando em nossa caminhada.
A terapêutica espírita no tratamento da loucura é essencialmente preventiva, pois sugere a resignação ante as vicissitudes da vida que poderiam causar o afloramento da doença. O auto-conhecimento, a busca constante da reforma íntima e a transformação pessoal de cada um constituem meios eficazes de manter a saúde psíquica de todos, já que qualquer um de nós pode ser doente em potencial.
O auto-conhecimento tão bem aplicado por Santo Agostinho é uma das chaves mestras na prevenção de toda e qualquer doença. A auto-observação no dia-a-dia, na busca constante de identificar os pontos a serem melhorados, as fraquezas e más tendências são elementos importantes para assegurar a qualidade de vida. A proposta de renovação íntima, de transformação moral, da mudança dos hábitos mentais, da substituição do pensamento negativo pelo positivo são ferramentas de prevenção ditados pelo Cristo e renovados pelo Espiritismo.
A fé e confiança em Deus deverão nos dar uma natural resignação ante as tribulações cotidianas e o Espiritismo nos faz lembrar que a vida na Terra é sempre passageira; que se passarmos por tudo de forma equilibrada uma sorte mais feliz nos aguardará no plano espiritual.
Se olharmos para a vida eterna do Espírito que somos, veremos que passamos hoje apenas uma fase passageira nessa existência. Que a cruz, embora possa parecer demasiado pesada, pode ser perfeitamente carregada se tivermos força e confiança na providência divina. Todo esforço será recompensado e aos olhos do Pai, cada gota de suor será computada no final.
Nunca há injustiça alguma vinda do céu. Encaremos as dificuldades como oportunidades de progresso. Essa é a proposta do Espiritismo.
Danilo Pastorelli
Bibliografia
FOUCAULT, M.J.P. História da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 1978.
FRANCO, D. P. (Jonna de Ângelis – Espírito). No rumo da felicidade. Santo André: Ed. Centro Espírita Dr. Bezerra de Menezes, 2001.
FRANCO, D. P. (Jonna de Ângelis – Espírito). O ser consciente. Salvador: Centro Espírita Caminho da Redenção, 1993.
KARDEC, A. Revista Espírita. Sobradinho: Edicel. (1890, 1861, 1863, 1864 e 1865).
XAVIER, F.C. (Emmanuel – Espírito). Religião dos Espíritos.
XAVIER, F.C. (André Luiz – Espírito). Ação e reação. Rio de Janeiro: FEB, 1996.
*O autor é atuante no movimento espírita em Ribeirão Preto/SP, coordenador de grupo de estudos e de reunião mediúnica na Sociedade Espírita Unificação Kardecista, além de Historiador formado pela UNESP/Franca e Mestrando em Economia pela UNESP/Araraquara.
15 janeiro 2010
A CURA PELO PERDÃO
12 janeiro 2010
EM TORNO DO QUINTO CENTENÁRIO DO BRASIL
Em várias ocasiões, em paragens diversas, venerandos Prepostos de Jesus Cristo se reuniram com numerosos companheiros, vinculados ao dia-a-dia da nação brasileira, muitos dos quais ainda encarnados no planeta, a fim de avaliar e reavaliar tudo quanto se conseguiu fazer, tudo o que vem sendo feito, e o que está projetado para o porvir dessa terra, esperando as mentes abertas às captações bem-aventuradas e os braços dispostos para as realizações. Foram e têm sido formidáveis encontros de trabalho, com os olhos de todos voltados para o futuro do nosso país.
É certo que essas luminosas Entidades reuniram-se com almas relacionadas ao desenvolvimento dos diversos níveis da vida brasileira, com propósitos renovadores.
Foram enfocadas questões alusivas às reencarnações, às provações e às expiações de indivíduos destacados e do povo; foram levantadas situações graves, com necessidade de soluções urgentes, alusivas às esferas religiosa, administrativa, econômica, política, artística e social.
Cogitou-se da convocação de valorosos instigadores do progresso da brasilidade, que remanescem no Invisível, verificando-se a conveniência de suas reencarnações, com rapidez, nesses tempos definidores da vida do mundo, particularmente, da vida do Brasil, com a intenção de propulsar os movimentos de digna cultura e de espiritualização no seio das massas populares.
Dos nobres seres encarnados, vinculados a compromissos de menor exposição pública, quais deles poderiam ser remanejados para assumir a função honrosa de instrumentos de Jesus, nos destinos futuros da terra em apreço? Por outro lado, quanto aos que estão em ruidosa evidência ante os olhos da sociedade, quais necessitarão do afastamento dessas exposições atuais, a fim de serem internados em necessário isolamento para que tenham ensejo de efetuar profundas meditações? Isso seria providencial para que não se tornem mais e mais carregados de comprometimentos lamentáveis, pelo mau uso das oportunidades que a vida lhes outorgou, entendendo-se que já obtiveram na Terra o galardão que almejavam, como ensinou o Celeste Amigo.
Os rumos do Brasil vêm sendo traçados pelos seus Nobres Guias, a fim de que não se demore mais tempo a assunção brasileira dos compromissos com o bem, que estavam previstos para essa época, e que não foram ainda lobrigados.
A grande ênfase dada pelos Luminosos Imortais incide sobre a educação. É a educação, na sua mais expressiva amplitude, o interesse mais marcante do Mundo Superior para com o povo brasileiro. Todos os progressos, de quaisquer dimensões ou modalidades, somente se efetivarão por meio de bem urdidos processos educativos, que tenham começo na ternura dos lares, que se alastrem pela seriedade das escolas e que se dilatem pelos espaços profissionais, burilando, desse modo, todos os estágios da vida da sociedade.
Os brasileiros devem muito ao Brasil, nos seus quinhentos anos, considerando a generalidade. Sob justificativas de maus governos e maus doutrinadores, de problemas sócio-econômicos, em múltiplos níveis, deixam-se picar pelos venenos da indiferença, do desapreço, dos maus tratos para com seu rincão, passando a valorizar somente o que contatam em outros países, o que ouvem dizer de outros povos, esquecendo ou ignorando, muitas vezes, os episódios de guerras, de asperezas econômicas, de rígidas disciplinas sociais que tiveram que aceitar e vivenciar, para que chegassem aos patamares materiais aos quais chegaram. É lamentável.
Há sido o egoísmo, com todas as suas máscaras, o grande motivo da procrastinação desse tempo feliz para os espíritos aqui renascidos.
Sem embargo, a lei de causalidade não deve ser desconsiderada em nossas reflexões. Muitos vieram retomar novo corpo físico no Brasil, em razão das necessidades provacionais que conduziam, sendo aqui o mais adequado campo de lutas para suas realidades íntimas, segundo as decisões do Infinito.
É por demais alarmante o efeito das concepções e práticas materialistas, assumidas por largas faixas da população, nesses dias presentes, que nem sequer poupam as formações religiosas de diversas cores ou bandeiras onde vemos medrar, como erva daninha, um número assustador de indivíduos superficiais e ansiosos por converter as propostas do Reino de Deus em mônadas materiais. Por conseguinte, as Representações do Cristo, na psicosfera brasileira, decidiram tomar medidas rápidas e consistentes, de modo a não se alterar o projeto firmado pelo próprio Mestre Jesus, junto às Almas Venturosas por Ele situadas à frente dos destinos do Brasil, com vistas aos dias porvindouros dessa terra.
*
O nosso querido companheiro Sebastião Lasneau, inserido no grupo dos baluartes do bem, sentindo-se alcançado pelas emoções evocativas desse importante aniversário, foi elegido por todos nós, os desencarnados que mourejamos junto à Sociedade Espírita Fraternidade, de Niterói, para exprimir, por meio da sua sensibilidade, os nossos sentimentos, uma vez que nos unimos a essas comemorações que vêm tendo lugar nas regiões espirituais, sem os ingredientes imediatistas, tantas vezes anacrônicos, que caracterizam muitas tumultuadas solenidades terrenas.
Por aqui, pelas plagas do Invisível, o que se vê e ouve são alusões à importância desse país, ante as carências gerais que assinalam a maioria dos seus filhos; são referências à gratidão que devemos ao Criador por nos haver concedido esse recorte planetário, tão belo e tão especial, para que nele pudéssemos realizar a trajetória na busca da felicidade; são apelos a um maior acercamento do pensamento do Cristo Excelso, desenvolvendo, com dedicação, os trabalhos da Grande Luz no mundo, a fim de que as Falanges da Desarmonia não logrem vitória por causa da postura descuidada do rebanho desatento do Mestre.
Aqui sabemos que todos os problemas que afetam o Brasil, hoje, tais como a fome, a violência, a criminalidade, o corrompimento, o mau direcionamento das questões políticas, foram criados pelos brasileiros, senão nos dias de hoje, nos dias de antanho, e que por eles, renascidos agora, ou retornados no amanhã, deverão ser solucionados.
Nosso Lasneau esmerou-se. Nas suas abordagens, passa de leve pelas questões controvertidas, sobre as discussões de mil eventos que importam aos encarnados e as suas disposições de lutas. Deteve-se nosso amigo no espírito otimista, gratulatório, no pensamento de louvor e enaltecimento, deixando-nos a certeza de que, no concerto das nações, o nosso Brasil não está abandonado pela Divina Assistência.
Abraçamos o abençoado companheiro desencarnado, que prossegue na expansão do bem e do belo, através da sua poesia, nas evocações justas do primeiro centenário do seu renascimento nas terras brasileiras, e dos trinta e um anos de seu retorno à Pátria Espiritual, após 69 anos de acuradas pelejas expiatórias, vitoriosas, no chão do mundo.
Cantemos com o nosso bom Lasneau as belezas da terra e do povo brasileiros. Unamo-nos a ele nesse hino de exaltação a Deus por nos haver oferecido, como campo de trabalho atual, o solo, o céu e o psiquismo do Brasil, e roguemos ao Grande Pai por esse povo e por esse chão, abraçando, ternamente, o nosso inspirado Poeta, no seu grande centenário.
Oferecemos, assim, aos nossos irmãos sensíveis, esses granetes de ouro retirados por Lasneau dos rios caudalosos e auríferos da vida, com a batéia especial das suas emoções, nascidas das evocações desse penta centenário da descoberta do Brasil.
Mensagem psicografada pelo médium J. Raul Teixeira, em 22.5.2000, na Sociedade Espírita Fraternidade, Niterói-RJ.
Esta é a mensagem de apresentação do livro que está no prelo, Exaltação ao Brasil, ditado pelo espírito Sebastião Lasneau, psicografado por Raul Teixeira.
Camilo (espírito)
08 janeiro 2010
O SUICÍDIO - ESPETÁCULO NA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
A. Schopenhauer[1]
Embora seja um tabu nas conversas do dia-a-dia, o suicídio tende a ser aceito como mais um direito do sujeito contemporâneo. Entretanto, na maioria das vezes, abreviar a própria vida não se trata de um ato sustentado no livre-arbítrio, mas sim em conflitos entre a consciência e o inconsciente, entre o sujeito e o grupo, a fé e a ciência, etc. A partir da segunda metade do século 20, o suicídio tem sido também usado como uma manifestação política e religiosa, causando assim mais desespero e desesperança para o futuro da humanidade.
Dos casos de prática da eutanásia aos homens-bomba, a escolha da própria morte é um acontecimento crescente no mundo todo. Os ataques suicidas, antes noticiados como gesto de fanáticos, após o 11 de setembro de 2001, foram reconsiderados como um ato mais ou menos racional, e imprevisível.
O megaterrorismo deve ser visto também como um suicídio espetacular do sujeito, que é representante de uma cultura dentro de uma sociedade globalizada que faz do espetáculo a sua estética e ética de vida. Ou seja, o que importa nesse terrível ato é ganhar a visibilidade na mídia, não se importando veicular a idéia por meio da palavra, ou o argumento que o sujeito que pensa ser o portador de uma lógica ou de uma mensagem divina.
O suicídio de indivíduos sozinhos ou em grupo deixou de ser um ato puramente privativo para sê-lo em público, como se fosse um show, em nome de uma causa muitas vezes incompreensível, principalmente se esta é direcionada para ser decodificada pela cultura ocidental. O suicido terrorista, podendo acontecer em qualquer parte do mundo e a qualquer momento, mina qualquer forma de segurança preventiva, visto que não existe meio para contê-lo. O ator do gesto suicida atua como se fosse personagem de uma tragédia, como que uma lei acima dele o empurra para o ato final. “É a vitória da pulsão de morte, o triunfo do ódio e do sadismo. Também é o preço muito caro, sempre pago para sustentar inconscientemente uma posição de domínio, na alienação mais radical, pois o sujeito está até mesmo prestes a pagá-la com sua vida” (Chemama, 1995, p.10).
A cultura norte-americana, historicamente violenta, soube projetar nos filmes homicídios e suicídios estetizados, porém, nas últimas décadas está sendo vítima de sua própria violência fabricada pelos meios virtuais, e também pelo estilo de vida que espalha pelo mundo. O suicida-terrorista é atingido por signos e termina também aspirando ter seus 30 segundos de glória macabra nas telas do noticiário da televisão, que ele não pode mais ver, mas pode gozar por antecipação, e, a mídia não tem como evitar.
O gozo de destruir se destruindo é crescente no mundo. E não é produto unicamente de uma determinada cultura religiosa que produz terroristas em série. O suicídio sempre esteve presente na cultura humana. Faltam, porém, reflexões mais profundas, estudos interdisciplinares, além de medidas preventivas mais efetivas, visto que hoje já podemos falar de banalização do suicídio. Antes de 11/9, os homens-bombas que atuavam contra a ocupação israelense tinham se banalizado, eram apenas um efeito local, porém, depois do internacionalismo da Al Qaeda e da ocupação do Iraque encabeçada pela EUA, a prática do suicídio-homicídio promete ser crescente e de proporções inimagináveis no mundo todo.
* * *
Albert Camus (s.d.) escreveu numa época de pessimismo pós-guerra, que só há um problema verdadeiramente filosófico sério: o suicídio. Ou seja, julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia, dizia o existencialista. Se Camus vivesse os nossos dias teria ampliado sua observação, visto que o suicídio cada vez mais é usado para fins políticos[2], religiosos, e existenciais, para abreviar mais uma vida que perde o sentido, comumente aceito como valor maior[3].
Em nossa época, o gesto suicida ocupa uma posição limítrofe, entre a política e os interesses do Eu, entre a ciência e a fé, entre a tradição e a modernidade, entre a aceitação da natural conservação de si e a falta de sentido de existir. Como o sujeito de nossa época não mais acredita na idéia de revolução, deixa-se levar pelos ventos da paixão mística ou niilista, usando a morte do próprio corpo para expressar sua revolta contra um mundo sem coração. Morre o corpo para viver o transcendente. E, os terroristas islâmicos estão na vanguarda desse movimento irracionalista porque escolheram o suicídio como gesto político de sacrifício por uma causa difusa entre o misticismo, a política, a estética e a ética tribal e tradicionalista. O suicídio do terror despreza a vida terrena de si e dos outros, em nome de uma causa mais voltada para a vida dos céus do que a vida da terra. Os ataques suicidas de 11/9 ou de tantos outros que ocorrem na Palestina, no Paquistão, Índia, Chechênia, ou no Iraque não escolhem vítimas. Crianças, mulheres, velhos, civis, militares e homens de governo, empresas, ongs humanitárias, ONU, todos são como que merecedores de morrer e sofrer junto com o suicida.
O suicídio político-religioso da era contemporânea pode até ser criticado como um gesto movido unicamente pela e paixão e fanatismo, porém não pode ser negado, nele, a sua racionalidade, premeditação e cálculo, tanto para causar destruição e impacto no inimigo como também causar visibilidade no mundo, aproveitando-se sempre de uma mídia sedenta de audiência a qualquer preço. Mesmo sendo um ato político que ataca os símbolos do capitalismo ianque, ou da vida ocidentalizada de Israel ou da democracia da Espanha[4], o terrorismo-suicida contemporâneo não é inspirado em uma doutrina de esquerda socialista, nem tem aspiração à democracia pluralista. Pelo contrário. Conforme Rounaet (2001), “são agentes de uma ideologia religiosa de extrema direita, que apaga as fronteiras de classe e nesse sentido funciona como ópio do povo, na mais pura acepção marxista"[5]. O terrorismo-suicida contemporâneo também não deve ser confundido como um movimento de guerrilha, visto que esta [a guerrilha] tende a ser laica, racional, não usa os seus militantes para fins suicidas, e desenvolve uma estratégia de luta visando o poder e não apenas a destruição. As características dos “insurgentes” no Iraque de hoje deve ser considerada mais para um movimento de guerrilha do que de terrorismo.
O suicídio, evidentemente, tem várias motivos: político, amoroso, financeiro, sentimento de culpa ou remorso, doença fatal, reprovação sócio-cultural, um meio de expressar uma causa mítica ou religiosa, etc. Pode ser um gesto individual ou coletivo, de livre-arbítrio ou influenciado por uma causa, líder carismático ou grupo. O suicídio tem sido usado com freqüência por ser uma arma de guerra de baixo custo, e causar grandes danos materiais e efeito moral do inimigo poderoso que está mais preparado para uma guerra convencional.
A ideologia patriótica que tradicionalmente estimulava "morrer pela pátria" presente nas letras dos hinos nacionais, vem sendo cumprida literalmente pelas "ongs" terroristas como resposta desesperada contra uma ordem pervertida da economia, da estética e da ética no mundo contemporâneo. Vandré, na sua canção “Pra não dizer que não falei de flores”, mais conhecida por “Caminhando...”, naquela época (anos 70), cuja luta era contra a ditadura militar, ironizava o princípio de “morrer pela pátria e viver sem razão”. O suicídio político e religioso pode ser interpretado como uma reação desesperada contra um poder imperial – militar e/ou cultural – invasor, que não respeita a cultura, nem a identidade de cada povo. Assim, é preferível morrer do que entregar a alma para eles e viver sem razão...
Uma “morte gloriosa” na história
A prática de autoflagelação pré-suicida vista nas manifestações públicas do Irã, a partir da chegada ao poder da teocracia xiita que atemoriza o ocidente, era comumente aceita pela cultura cristã. Não só no período da chamada Igreja primitiva, e das cruzadas, como até o século 20, suicídios coletivos[6] foram comandados por seitas neocristãs. Desde a Idade Média, a interpretação movida pela fé cristã fazia do sofrimento e da dor um significado redentor. O martírio fundado na fé religiosa não era considerado um suicídio em si, mas um bom gesto de negação material e a conseqüente supervalorização da alma em ascese. Acreditava-se que não era o sujeito que escolhia tal ato, mas este era instrumento do desejo divino ou das circunstâncias que o colocava em teste para com a divindade. No período das cruzadas, os cristãos fervorosos comumente faziam penitências, autoflagelação, martírios de todo tipo, e iam para a guerra quase que se oferecendo para morrer, tudo sustentado pela crença de obtenção de uma vida melhor pós-morte. Os judeus de Massada, também praticaram suicídio coletivo para não serem capturados por seus inimigos, escapando assim da degradação, tortura, assassinado e abjuração de sua fé, além de buscarem com esse gesto uma vida após a morte[7] etc.
Nos estudos multidisciplinares sobre o suicídio não se pode desconsiderar o peso da forte convicção mística ou religiosa de uma vida após a morte. (Um paradoxo tido como “verdade” somente por aqueles que acreditam na existência do além). Muitos suicidas escolhem abreviar sua própria vida na esperança de tê-la novamente em “outra vida”, melhor e menos sofrida. No fundo, “o suicida quer a vida; não está descontente senão das contradições em que a vida se lhe oferece”, escreve Schopenhauer (s.d., p. 167).
Por outro lado, o conceito de suicídio honroso ou suicídio como forma de luta, teria surgido no Japão, através do código de ética samurai. Na 2a. Guerra Mundial, o Japão recrutava e treinava secretamente kamikazes ("vento dos deuses", em japonês) para pilotar e lançar o avião de guerra ou barco, sobre os navios inimigos, no caso eram, os norte-americanos. Consta que a ação mais ousada dos kamikazes aconteceu em 25 de outubro de 1944, quando o almirante Te Aima, lançou um ataque de grandes proporções contra a Força Tarefa 38 dos EUA, do almirante Mitscher, arrasando a esquadra que patrulhava águas filipinas. Foram usados mais de 2 mil aviões em batalha. Ao todo 2.198 pilotos morreram por devoção ao imperador, tido como um deus pelo povo japonês. Informações divulgadas pelo governo americano dão conta de 34 navios foram afundados e 288 danificados com os ataques kamikazes[8].
A morte auto-infligida em combate, portanto, era um recurso extremo que condizia com a tradicional cultura-moral samurai que a valorizava e, por conseguinte, era considerada honrosa e divina pelos pilotos suicidas japoneses[9]. Já o harakiri, mais conhecido como seppuku no Japão, era um antigo ritual suicida de extirpação das entranhas. No seppuku, o suicida, posicionado em ritual, corta seu abdome com uma faca ou espada pequena, da esquerda para a direita. Região essa que tem um significado especial. Segundo a crença dos antigos japoneses é nesse lugar que se encontra a alma humana. No início da era feudal, esse tipo de suicídio foi se ritualizando e, durante o Período Edo (1600-1868), tornou-se uma das cinco categorias de punição dos malfeitores entre a classe dos samurais. Era uma maneira de morrer preservando a honra. O seppuku ficou inalterado na revisão do código penal japonês promulgado em 1873, mas o nacionalismo do Período Miji (1868-1912) contribuiu para a perpetuação da prática, não de forma oficial mas sim como um método corajoso e digno de dar fim à própria vida[10].
No início do século 21, quando o Japão passa por uma crise econômica, faz desencadear uma nova onda de suicídios que preocupa o governo japonês que gastou 2,7 milhões em programas de prevenção ao suicídio. Em 2002 o orçamento para tais programas chega a 4,5 milhões. Comparando o número de suicídios entre 1998 e 2002, houve um alarmante aumento de 50%. Ou seja, mais de 30 mil casos de suicídios, anualmente. Segundo uma pesquisa, os japoneses que mais buscam o suicídio são homens entre 40 e 60 anos de idade, que perderam seus empregos e a perspectiva de prosseguir a carreira profissional; os idosos escolhem o suicídio para evitar serem "pesos" para suas famílias, e os adolescentes escolhem morrer a contar aos pais que foram reprovados nos exames escolares[11]. Observa-se que os suicídios dos japoneses obedecem em parte à tradição cultura e moral, ou seja, cumprem mais ou menos o ritual samurai, é reservado, e foge da encenação de espetáculo geralmente praticada pelo suicídio político-religioso.
No período da guerra do Vietnã, quando os EUA, chegaram a sustentar mais de 500 mil homens lutando na Indochina, principalmente no território vietnamita, tornou-se freqüente ocorrerem suicídios de monges budistas, em protesto contra a guerra que se alongava sem perspectiva de terminar. É comovente a descrição do fato ocorrido no centro da cidade de Saigon (hoje, Ho Chi Minh) feito por um jornalista e documentado em fotos: "os monges formam um círculo em torno de um deles, já idoso, que senta-se numa almofada e cruza as pernas. Dois desses monges despejam gasolina no crânio raspado e no manto amarelo de monge idoso. Logo, esse monge arde em chamas, em posição de lótus, impassível".
Atear fogo às próprias roupas também ocorreu com jovens que protestavam contra a invasão dos tanques soviéticos em Praga em 1968. Alexander Dubcek, embora primeiro-secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia ao chegar ao posto mais importante do governo do país correspondente ao de primeiro-ministro, procurou guiar a Tchecoslováquia para o ocidente democrático, a liberdade de expressão, e rompendo com o isolamento em que seu país tinha caído. Considerado ousado demais, Dubcek encantou o povo tcheco, recebendo adesão dos intelectuais e dos universitários, mas foi considerado “perigoso” e “excessivamente independente” pelo governo soviético. Atear fogo às próprias roupas, portanto, não deixava de ser um gesto de protesto político que usava a mídia para divulgar fotos e filmes das cenas reais de desespero e altruísmo. Talvez o suicídio espetáculo tenha surgido nesse momento na Tchecoslováquia e não com os monges budistas no Vietnã que, embora fosse um ato público, era um gesto manso e sem intenção midiática.
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Influenciados pela tática kamikase dos japoneses, o conceito de "morte gloriosa", do "suicídio como tática de luta" ou "o suicídio por uma causa", teria ressurgido entre os grupos palestinos, e fundamentalistas islâmicos, como forma extrema de protesto por se sentirem alijados do direito de também ter o seu próprio estado [palestino], após a criação do Estado de Israel. O khomeinismo extremista também produziu o movimento dos "bassidjis", jovens voluntários que morriam na guerra contra o Iraque. Nesse período, o mundo ficaria sabendo através do noticiário que homens-bomba eram doutrinados e treinados para se lançarem em carros-bomba contra alvos norte-americanos e israelenses. A escalada do terrorismo suicida internacional parece ter chegado ao seu clímax – pelo menos por enquanto – , no dia 11 de setembro de 2001, quando aviões de passageiros foram usados como bombas para atacar às duas torres gêmeas americanas.
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Existem algumas diferenças entre o suicídio de inspiração islâmica e o suicídio budismo vietnamita. Embora ambos aspiram causar impacto no adversário, o suicídio de inspiração budista o monge vietnamita morria silencioso, manso, introspectivo e não levava mais ninguém com ele para a morte. Já o suicida islâmico doutrinado na ideologia da "guerra santa ou Jihad", é histérico, ruidoso, furioso, catastrófico, e assassino coletivo sem limites. Portanto, ambos usam o suicídio como forma de luta, mas se distinguem no estilo e no efeito de seu gesto, ou seja, enquanto o budista com silêncio conseguiu comover a opinião pública mundial, o segundo – o terrorista-suicida islâmico – até o momento só consegue aterrorizar a opinião pública mundial[12]. Estrategicamente, o suicídio do terror tem se provado ineficaz como forma de luta “racional” e “positiva” na época contemporânea. Existe até o argumento de que Osama Bin Laden foi o principal cabo eleitoral de G. W. Bush, que, após o 11/9, passou a ter um projeto político internacional unilateralista, e internamente camuflou a mediocridade do seu governo conservador. No caso de Israel, idem. Após o atentado aos trens de Madrid, o terror fez mudar a opção do povo por um candidato não beligerante e não alinhado automático dos EUA.
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Ao que pudemos apurar até o momento, o suicida islâmico embora no início não acredite que sua morte poderá ocorrer através do atentado terrorista, a doutrinação fundamentalista o leva a acreditar nos privilégios do paraíso para os mártires da Jihad – a crença na "guerra santa" contra os infiéis - , além de receber a garantia dos grupos organizados para sua família não passar necessidade, ou algum tipo de benefício material, honras de herói-e-mártir, etc. Um ex-terrorista revela sobre esses privilégios depois da morte:
"Falaram-me que o martírio levaria suas famílias para o paraíso, que iria casar com 72 mulheres virgens. Lá no céu, o mártir estará com pessoas pias e com os profetas. E Deus perdoará seus pecados (...). Eles me convenceram dessa verdade. Também disseram que eu ganharia algum dinheiro, uns 6 mil dólares para morrer na explosão. Depois que morremos, nossa família recebe o dinheiro, pois sabemos que nossa família vive em más condições. Disseram-me também que a família e os amigos iam para o paraíso se eu fizesse um ato de martírio" .
Embora alguns teólogos islâmicos rejeitam a tese de que a religião islâmica garante certos privilégios no paraíso, para os fundamentalistas, em particular para os mártires da Jihad, existe a crença fanática baseada numa interpretação distorcida do Alcorão de que sua morte será recompensada no céu e na terra.
O ponto de vista estritamente psicológico entende que esse tipo de suicídio, mesmo isento de intenção sádica, visa obter um certo gozo fundado no delírio psicótico ou parafrênico. A combinação letal do suicídio e terrorismo pode ser analisada como decorrente de um pathos (paixão) mais religioso do que político. Os ataques suicidas podem ser interpretados também como um retrocesso na civilização que possui outros meios políticos mais eficazes e menos letais de luta. Tais atos lembram os movimentos primitivos de reação contra a exploração capitalista (ex: Comuna de Paris), isto é, quando a organização política ainda não tinha sido inventada a massa raivosa quebrava e queimava tudo que encontrava pela frente. Sendo um gesto irracional e brutal, os ataques suicidas apenas usam a explosão como argumento. Os vídeos de Bin Laden não trazem nenhum argumento favorável a sua causa; mostram-no apenas fazendo pregação religiosa[16] onde sua palavra é passada como revelação divina. Não existe projeto político ou pauta de reivindicação minimamente elaborada pela organização Al Qaeda.
Concluindo...
A radicalidade do gesto e a diversidade de motivos que levam uma pessoa ou grupo ato suicida são suficientes para nos impor prudência de raciocínio e modéstia em qualquer reflexão e debate. Portanto, esse artigo não tem pretensão de analisar com profundidade o problema do suicídio, mesmo o suicídio de fundo político e religioso. Nossa intenção foi apenas ‘mostrar’ que na sociedade do espetáculo até a escolha da própria morte pode ser também um espetáculo. Precisamos inventar um método científico para melhor compreender esse novo tipo de suicídio.
Os poetas costumam ser os que primeiro ousam compreender as coisas “demasiadamente humanas”. Fernando Pessoa, além de compreender algumas coisas humanas, faz um importante alerta preventivo aos suicidas potenciais. Diz o poeta:
"[Depois do ato suicida, quando estiveres] verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas.../ Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste,/ Mais nada, mais nada, absolutamente nada./ Duas vezes por ano pensam em ti./ Duas vezes por ano suspiram por ti os que te amaram,/ E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala de ti./ Encara-te a frio, e encara a frio o que somos.../ Se queres matar-se, mata-te.../ [Se pensas que és importante?] És importante para ti, porque é a ti que te sentes/...E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?/ [grifo nosso].
Através de seu heterônomo Álvaro Campos, o grande poeta português ainda faz um convite: devemos transformar os momentos de desespero (trágico), não em ato suicida, mas sim em arte poética. Tal como ele próprio realizou através de sua poesia, propõe que transformemos os normais momentos trágicos em drama, conquistando assim um jeito de levar a existência de modo mais criativo. Em “Bicarbonato de soda” ele se pergunta para em seguida responder:
Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir...
RAYMUNDO DE LIMA
Psicanalista, professor do DFE da Universidade Estadual de Maringá (Pr), e voluntário do CVV-Samaritanos de Maringá (PR)., tel.: [44] 30314111
O QUE A TERAPIA DE VIDA PASSADA E O ESPIRITISMO TÊM EM COMUM?
Flavio Braun Fiorda
07 janeiro 2010
RESPOSTA DO ALÉM
Minha irmã: valho-me do "correio do outro mundo" para responder à sua carta, cheia da sensibilidade do seu coração de mulher.
Pede-me a senhora o concurso de Espírito desencarnado para a solução de problemas domésticos no setor de educação aos filhinhos que Deus lhe confiou. Conforma-me, sobremaneira, a sua generosidade; entretanto, minha amiga, a opinião dos mortos, esclarecidos na realidade que lhes constitui o novo ambiente, será sempre muito diversa do conceito geral.
A verdade que o túmulo nos fornece renova quase todos os preceitos que nos pautavam as atitudes.
Aí no mundo, entrajados no velho manto das fantasias, raros pais conseguem fugir à cegueira do sangue. De orientadores positivos, que deveríamos ser, passamos à condição de servidores menos dignos dos filhos que a providência nos entrega, por algum tempo, ao carinho e ao cuidado.
Na Europa, trabalhada pelo sofrimento, existem coletividades que já se acautelam contra os perigos da inconsciência na educação infantil entre mimos e caprichos satisfeitos. Conhecemos, por exemplo, um rifão inglês que recomenda: - "poupa a vara e entrega a criança". Mas, na América, geralmente, poupamos os defeitos da criança para que o jovem nos deite a vara logo que possa vestir-se sem nós. Naturalmente que os britânicos não são pais desnaturados, nem monstros que atormentem os meninos na calada da noite, mas compreenderam, antes de nós, que o amor, para educar, não prescinde da energia e que a ternura, por mais valiosa, não pode dispensar o esclarecimento.
Dentro do Novo Mundo, e principalmente em nos País, as crianças são pequeninos e detestáveis senhores do lar que, aos poucos, se transformam em perigosos verdugos. Enchemo-las de brinquedos inúteis e de carinhos prejudiciais, sem a vigilância necessária, diante do futuro incerto. Lembro-me, admirado, do tempo em que se considerava herói o genitor que roubasse um guizo para satisfazer a impertinência de algum pequerrucho traquinas e, muitas vezes, recordo, envergonhado, a veneração sincera com que via certas mães insensatas a se debulharem em pranto pela impossibilidade de adquirir uma grande boneca para a filhinha exigente. A morte, todavia, ensinou-me que tudo isso não passa de loucura do coração.
É necessário despertar a alegria e acender a luz da felicidade em torno das almas que recomeçam a luta humana, em corpos tenros e, muita vez, enfermiços. Fora tirania doméstica subtraí-las ao sol, ao jardim, à Natureza. Seria crime cerrar-lhes o sorriso gracioso, com os ralhos inoportunos, quando os seus olhos ingênuos e confiantes nos pedem compreensão. Entretanto, minha amiga, não cogitamos de proporcionar-lhes a alegria construtiva, nem nos preocupamos com a sua felicidade real. Viciamo-lhas simplesmente.
Começamos a tarefa ingrata, habituando-lhes a boca às piores palavras da gíria e incentivando-lhes as mãos pequenas à agressividade risonha. Horrorizamo-nos quando alguém nos fala em corrigenda e trabalho. A palmatória e a oficina destinam-se aos filhos alheios. Convertemos o lar, santuário edificante que a Majestade Divina nos confia na Terra, em fortaleza odiosa, dentro da qual ensinamos o menosprezo aos vizinhos e a guerra sistemática aos semelhantes. Satisfazendo-lhes os caprichos, dispomo-nos a esmagar afeições sublimes, ferindo nossos melhores amigos e descendo aos fundos abismos do ridículo e da estupidez. Fiéis às suas descabidas exigências, falhamos em setenta por cento de nossas oportunidades de realização espiritual na existência terrestre. Envelhecemo-nos prematuramente, contraímos dolorosas enfermidades da alma e, quase sempre, só reconhecem alguma coisa de nossa renúncia vazia, ;quando o matrimônio e a família direta os defrontam, no extenso caminho da vida, dilatando-lhes obrigações e trabalhos. Ainda aí, se a piedade não comparece no quadro de suas concepções renovadas, convertem-nos em avós escravos e submissos.
A morte, porém, colhe nossa alma em sua rede infalível para que nos aconselhemos, de novo, com a verdade. Cai-nos a venda dos olhos e observamos que os nossos supostos sacrifícios não representavam senão amargoso engano da personalidade egoística. Nossas longas vigílias e atritos angustiosos eram, apenas, a defesa improfícua de mentiroso sistema de proteção familiar. E humilhados, vencidos tentamos debalde o exercício tardio da correção. Absolutamente desamparados de nossa lealdade e de nossa indesejável ternura, os filhos do nosso amor rolam, vida afora, aprendendo na aspereza do caminho comum. É que, antes de serem os rebentos temporários de nosso sangue, eram companheiros espirituais do campo a vida infinita, e, se voltaram ao internato da reencarnação, é que necessitavam atender ao resgate, junto de nós outros, adquirindo mais luz no entendimento. Não devíamos cercá-los de mimos inúteis, mas de lições proveitosas, preparando-os, em face das exigências da evolução e do aprimoramento para a vida eterna.
Desse modo, minha amiga, use os seus recursos educativos compatíveis com o temperamento de cada bebê, encaminhando-lhes o passo, desde cedo, na estrada do trabalho e dobem, da verdade e da compreensão, porque as escolas públicas ou particulares instruem a inteligência, mas não se podem responsabilizar pela edificação do sentimento. Em cada cidade do mundo pode haver um Pestalozzi que coopere na formação do caráter infantil, mas ninguém pode substituir os pais na esfera educativa do coração.
Se a senhora, porém, não acreditar em minhas palavras, por serem filhas da realidade indisfarçável e dura, exercite exclusivamente o carinho e espere pela lição do futuro, sem incomodar-se com os meus conselhos, porque eu também, se ainda estivesse envolvido na carne terrestre e se um amigo do "outro mundo" me viesse trazer os avisos que lhe dou, provavelmente não os aceitaria.
Irmão X (espírito )
(Do livro "Luz no Lar" psicografado por Francisco Cândido Xavier)
06 janeiro 2010
05 janeiro 2010
02 janeiro 2010
AS VIDAS SUCESSIVAS. A REENCARNAÇÃO E SUAS LEIS
A lei dos renascimentos explica e completa o princípio da imortalidade. A evolução do ser indica um plano e um fim. Essse fim, que é a perfeição, não pode realizar-se em uma existência só, por mais longa que seja.Devemos ver na pluralidade das vidas da alma a condição necessária de sua educação e de seus progressos. É à custa dos próprios esfoços, de suas lutas, de seus sofrimentos, que ela se redime de seu estado de ignorância e de inferioridade e se eleva, de degrau a degrau, na Terra primeiramente, e, depois , através das inumeráveis estâncias do céu estrelado.
A reencarnação, afirmada pelas vozes de além-túmulo, é a única forma racional por que se pode admitir a reparação das faltas cometidas e a evolução gradual dos seres.Sem ela, não se vê sanção moral satisfatória e completa; não há possibilidade de conceber a existência de um Ser que governe o Universo com justiça.
Se admitirmos que o homem vive atualmente pela primeira e última vez neste mundo, que uma única existência terrestre é o quinhão de cada um de nós, a incoerência e a parcialidade, forçoso seria reconhecê-lo, presidem à repartição dos bens e dos males, das aptidões e das faculdades, das qualidades nativas e dos vícios originais.
Por que para uns a fortuna, a felicidade constante e para outros a miséria, a desgraça inevitável ? para estes a força, a saúde, a beleza; para aqueles a fraqueza, a doença, a fealdade ? Por que a inteligência , o gênio, aqui; e, acolá, a imbecilidade ? Como se encontram tantas qualidades morais admiráveis , a par de tantos vícios e defeitos ? Por que há raças tão diversas ? umas inferiores a tal ponto que parecem que parecem confinar com a animalidade e outras favorecidas com todos os dons que lhe asseguram a supremacia ? E as enfermidades inatas, a cegueira, a idiotia, as deformidades, todos os infortúnios que enchem os hospitais, os albergues noturnos, as casas de correção ? A hereditariedade não explica tudo; na maior parte dos casos, estas aflições naõ podem ser consideradas como resultado de causas atuais.Sucede o mesmo com os favores da sorte. Muitíssimas vezes, os justos parecem esmagados pelo peso da prova, ao passo que os egoístas e os maus prosperam !
Por que também as crianças mortas antes de nascer e as que são condenadas a sofrer desde o berço ? Certas existências acabam em poucos anos, em poucos dias; outras duram quase um século ! Donde vêm também os jovens-prodígio - músicos, pintores, poetas, todos aqueles que, desde a meninice, mostram disposições extraordinárias para as artes ou para as ciências, ao passo que tantos outros ficam na mediocridade toda a vida, apesar de um labor insano ? E igualmente, donde vêm os instintos precoces, os sentimentos inatos de dignidade ou baixeza contrastando às vezes tão estranhamente com o meio em que se manifestam ?
Se a vida individual começa somente com o nascimento terrestre, se, antes dele, nada existe para cada um de nós, debalde se procurarão explicar estas diversidades pungentes, estas tremendas anomalias e ainda menos poderemos conciliá-las com a existência de um poder sábio, previdente, equitativo."
Trecho do livro O problema do ser, do destino e da dor - Léon Denis ( cap XIII , pág 163 )
01 janeiro 2010
UMA MENSAGEM DE ANO NOVO
Para você ganhar um belíssimo Ano Novo,cor de arco-íris ou da cor da sua paz,Ano Novo sem comparação com todo tempo já vivido(mal vivido ou sem sentido)...Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)...Novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,mas com ele se come, se passeia,se ama, se compreende, se trabalha ...Você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,não precisa expedir nem receber mensagens(planta recebe mensagem ? manda telegramas ?)...Não precisa fazer lista de boasintenções para arquivá-la na gaveta.Não precisa chorar de arrependidopelas besteiras consumadas,nem parvamente acreditar que por decreto da esperança,a partir de Janeiro as coisas mudeme seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados,começando pelo direito augusto de viver.Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,você, meu caro, tem de merecê-lo,tem de fazê-lo de novo,eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.É dentro de você que o ANO NOVO cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade