30 setembro 2009

NUNCA, A SÓS

Não poucas vezes, no turbilhão da vida moderna de hoje, qual aconteceu na monotonia dos dias transatos, a criatura humana tem a impressão de que se encontra a sós, lutando contra a correnteza dos acontecimentos, que a leva inapelavelmente na direção do abismo.
Falta de estímulo para continuar na faina pela conquista do pão, desinteresse por si mesma, sofrimento interior sem aparente explicação, ausência de compreensão dos amigos, frustração ante as ocorrências que esperava lhe fossem favorecer com plenitude ou paz, tormentos íntimos perturbadores, são fenômenos do dia-a-dia na agenda de incontáveis criaturas, que se sentem desamparadas e solitárias...
A ausência de uma fé religiosa robusta que possa apontar o rumo da imortalidade, abre espaço para comportamentos inquietadores, empurrando para a depressão e para a revolta surda, silenciosa.
As aspirações materialistas, trabalhadas pelos conceitos de felicidade sem jaça e de harmonia sem desafios, transformam-se em desencanto, gerando cepticismo a respeito de qualquer conquista que possa equacionar esses transtornos, submetendo-a ao açodar de ressentimentos da existência e das pessoas à sua volta.
Enquanto o vozerio do prazer enganoso e a gargalhada estentórica da alucinação no gozo imediatista, dominam as paisagens humanas, convidando ao afogamento dos conflitos no mar tumultuado da embriaguez dos sentidos, mais aflição desencadeia em quem se encontra em angústia por ausência de objetivo existencial.
Sucede que o homem da atualidade, após as conquistas externas que persegue, não se preocupou quanto deveria pela autopenetração, descobrindo os valores que se lhe encontram ínsitos, desenvolvendo-os e harmonizando-os com as aquisições de fora. Priorizou demasiadamente a face material em detrimento da realidade espiritual, agonizando, agora, nos favores do poder e do prazer, sem preencher-se de paz, porquanto lhe ocorrem saturação e cansaço, enquanto permanece com sede de realização íntima e de maior contato com a Vida em si mesma.
Confundindo a transitoriedade do corpo com a eternidade do Espírito, desfruta das sensações e das emoções do primarismo orgânico, sem as correspondentes expressões da emotividade superior.
A arte, a cultura, a tecnologia, o pensamento filosófico, vinculados ao impositivo de oferecer respostas imediatas, perdem em beleza o que adquirem em agressividade, expressando o momento moral do planeta, conduzindo à excitação e logo depois à exaustão, sem contribuírem com harmonia, esperança, alegria ou paz.
Não se trata de uma observação pessimista, mas de uma constatação de resultados, contabilizando-se a hediondez do crime e da violência que se multiplica em toda parte, em prejuízo da cultura e da civilização.
***
No passado, quando a Humanidade estorcegava sob a chibata do Império Romano, que dominava praticamente o mundo, e o abuso do poder aliado à desgovernança moral dos indivíduos, fomentavam o sofrimento de milhões de outros, veio Jesus, que inaugurou a Era da esperança, prometendo jamais deixar a sós quem quer que nEle confiasse ou que se entregasse a Deus.
A partir de então, ninguém mais ficou em solidão.
Maria, a pecadora arrependida, que se Lhe dedicou, experimentou vicissitudes diversas, mas nunca ficou ao desamparo.
Pedro, reconhecendo a loucura momentânea da negação, prosseguiu sem desânimo, e jamais deixou de receber-Lhe a presença.
Saulo, tocado pela Sua misericórdia, transformou-se, tornando-se-Lhe arauto incomparável, que O levou a quase todo o mundo do seu tempo.
João, que Lhe permaneceu fiel, prosseguiu amparado, e narrou-Lhe a saga incomparável, visitado pelo Seu psiquismo afável e inspirador.
Mais tarde, Agostinho, travando contato com o Seu pensamento, renovou-se, e fez-se piloti de segurança da Sua mensagem.
Francisco Bernardone, fascinando-se pelo Seu convite, experimentou padecimentos incessantes, nunca, porém, a sós...
Terezinha de Lisieux, tocada pela Sua palavra, dedicou-Lhe a rápida juventude, experimentando o Seu apoio.
Tereza de Calcutá, em Sua homenagem, tomou a cruz dos sofrimentos humanos e carregou-a nos ombros frágeis até o fim da existência, sentindo-Lhe a força revigorante.
... E milhares de outros exemplos, que se Lhe vincularam, conseguiram enfrentar todas as vicissitudes, sem perder o entusiasmo ou jamais recear, com a Sua companhia.
Experimenta, por tua vez, identificar-te com Jesus, penetrar-lhe os ensinamentos, reflexionar nele, assimilá-los, aplicando-os ao comportamento, e verificarás que uma transformação vigorosa se operará em teu ser interior, propiciando-te coragem e valor para prosseguires sem qualquer desânimo ou perturbação.
E quando te advierem as lutas e os testemunhos, que são inevitáveis na economia espiritual de todos os seres que rumam na direção do Infinito, e que não te pouparão, nEle encontrarás amparo e estímulo para o prosseguimento com incomum alegria, aquela que caracteriza todo aquele que se encontra viajando na direção do Grande Lar, e esperam o momento da chegada feliz.
Desse modo, não fujas do mundo nem te atires a ele, buscando soluções que nessa conduta não encontrarás.
Reconsidera, portanto, as tuas atuais atitudes, e experimenta renovação com Jesus, facultando-te uma nova oportunidade para enriquecer-te de alegria de viver e poderes expandir o teu pensamento e as tuas realizações.
***
Quem O visse na cruz, naquela tarde funesta e tenebrosa, entre dois ladrões e sob a zombaria dos trêfegos e aturdidos do mundo, pensaria que estava diante de um vencido e abandonado, que a morte logo iria colher. No entanto, Ele estava em vinculação estreita com Deus, muito além das percepções humanas, cercado por legiões de cooperadores espirituais do Seu reino, preparando-Se para a libertação, a fim de logo mais retornar em gloriosa ressurreição, demonstrando a Sua e a imortalidade de todas as criaturas.
Desse modo, quando te sintas em abandono, aparentemente desamparado e sem amigos, sob sofrimentos e angústias, pensa em Jesus, e jamais experimentarás solidão.

Joanna de Ângelis (espírito)
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na noite de 9 de julho de 2000, em Paramirim, Bahia.)
(Jornal Mundo Espírita )

27 setembro 2009

CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE



CONTINUAÇÃO

SIMPÓSIO INTERNACIONAL - SAÚDE QUÂNTICA E QUALIDADE DE VIDA

A perspectiva de uma abordagem na Saúde que nos conduza a um cuidado integral do ser humano, nas dimensões física, mental, emocional e espiritual, contemplando o domínio pessoal e transpessoal, trazendo o aporte da Ciência, a partir da Física Quântica e Relativística, bem como da Neurociência, Epigenética e Psiconeuroimunologia, convidando-nos a expandir os referenciais reducionistas e materialistas do atual modelo biomédico, ainda focado na supressão dos sintomas das doenças. Buscar as causas das doenças e o aprendizado que sempre é possível ser tirado de qualquer desequilíbrio pelo qual passamos, é a reflexão que nos propomos a fazer no site Saúde Quantum.


CINISMO - DESAPEGO AOS BENS MATERIAIS


A palavra deriva do grego kynismós, chegando até o presente pelo latim cynismu. A origem do termo, porém, é incerta: Alguns autores afirmam que o nome originou-se do local onde Antístenes teria fundado sua Escola, o Ginásio Cinosarge, ao passo que outros afirmam ser um termo derivado da palavra grega para cachorro : kŷőn, kynós, numa analogia com o fato de os cínicos pregarem uma vida como a dos cães, na ótica das pessoas contemporâneas.
Supostamente, o pensamento cínico teve origem numa passagem da vida de Sócrates: estando este a passar pelo mercado de Atenas , teria exarado o comentário: Vejam de quantas coisas precisa o ateniense para viver.
Ao mesmo tempo demonstrava que de nada daquilo dependia. De fato, o que o filósofo propunha era a busca interna da felicidade, que não tem causas externas — aspecto ao qual os cínicos passaram a defender, não somente com palavras, mas pelo modo de vida adotado. Ao contrário da acepção moderna e vulgar da palavra para o cinismo, o objetivo essencial da vida era a conquista da virtude moral, que somente seria obtida eliminando-se da vontade todo o supérfluo, tudo aquilo que fosse exterior. Defendiam um retorno à vida da natureza, errante e instintiva, como a dos cães. Afirmavam que dispunha o homem de tudo que necessitava para viver, independente dos bens materiais. A isto chamavam de Autarcia (ou a variante, porém com outra acepção mais difundida, Autarquia) - condição de auto-suficiência do sábio, a quem basta ser virtuoso para ser feliz. O termo grego original é autárkeia - significando auto-suficiência. Além dos cínicos, foi uma proposição também defendida pelos estóicos . Desacredita nas conquistas da civilização, e suas estruturas jurídicas, religiosas e sociais - elas não trariam qualquer benefício ao homem. Sendo auto-suficiente, tudo aquilo que naturalmente não é dado ao homem pelo nascimento (como o instinto), não pode servir de base para a conceituação da ética . Este pensamento pode ser encontrado no mito do "bom selvagem", de Rousseau . Sua filosofia partia do princípio de que a felicidade não depende de nada externo à própria pessoa, ou seja, coisas materiais, reconhecimento alheio e mesmo a preocupação com a saúde , o sofrimento e a morte, nada disso pode trazer a felicidade. Segundo os Cínicos, é justamente a libertação de todas essas coisas que pode trazer a felicidade que, uma vez obtida, nunca mais poderia ser perdida. Aliado ao discurso, também o modo de vida do cínico deveria ser conforme as idéias defendidas. Para eles a virtude reside, sobretudo, na conduta moral do homem, naquilo que lhe é intrínseco - e não nas conquistas materiais, na aparência exterior. Os cínicos, assim como Sócrates, nada de escrito deixaram. O que se sabe sobre eles foi narrado por outros, em geral críticos de suas idéias. O mais importante representante dessa corrente foi um discípulo de Antístenes chamado Diógenes. Ele vivia dentro de um barril e possuía apenas sua túnica, um cajado e um embornal de pão. Conta-se que um dia Alexandre Magno parou em frente ao filósofo e ofereceu-lhe, como uma prova do respeito que nutria por ele, a realização de um desejo, qualquer que fosse, caso tivesse algum. Diógenes respondeu: "Desejo apenas que te afastes do meu Sol ". Essa resposta ilustra bem o pensamento cínico: Diógenes não desejava nada a mais do que tinha e estava feliz assim (apenas, no momento, gostaria que seu sol fosse desbloqueado). O Sol também pode ser entendido como a Sabedoria ou a fonte do Conhecimento. Platão usou a metáfora do sol em seu mito da Caverna, significando a presença do Conhecimento e da Verdade que ilumina. Assim, Diógenes, quando pede para Alexandre Magno não se interpor entre ele e o Sol, aponta para o fato de que o Filósofo não necessita de nenhum poder situado entre ele e o Conhecimento. Assim como a preocupação com o próprio sofrimento, a saúde, e a morte, a preocupação com a saúde, a morte e o sofrimento dos outros também era algo do qual os cínicos desejavam libertar-se. Por isso que a palavra cinismo adquiriu a conotação que tem hoje em dia, de indiferença e insensibilidade ao sentir e ao sofrer dos outros.

24 setembro 2009

O QUE É SEXO?

Muito se tem escrito e discutido, nos últimos tempos, no movimento espírita a questão homossexual. Mas, a discussão me parece fora do seu problema real. Numa boa aplicação do pensamento lógico, antes de se abordar a parte, deve-se conseguir uma clara visão do todo. Está a se debater o homossexualismo, sem haver sido deslindada a problemática sexual. Cabe "incorporarmos" o método socrático, e sairmos pela imensa "Agora" que e a Web, inquirindo, principalmente dos espíritas que pretendem saber do assunto: "O que e o sexo?" Foi dessa forma que Sócrates desmascarou a pretensa "sabedoria" de muitos dos seus contemporâneos. Estudando a Codificação e as obras espíritas, psicografadas ou não, a que tivemos acesso, e pensamos adequadas, não conseguimos, ate o momento, fazer uma idéia clara do que, em ultima analise, seja "sexo". No Livro dos Espíritos, a única abordagem direta sobre o assunto, e a seguinte: "Les Esprits ont-ils des sexes? 'Non point comme vous l'entendez, car les sexes dependent de l'organisation. Il y a entre eux amour et sympathie, mais fondes sur la similitude des sentiments'" ("Os Espíritos tem sexos? 'Não como vos o entendeis, porque os sexos dependem da organização. Existe entre eles amor e simpatia, porem fundados sobre a similitude dos sentimentos'") (questão 200 - nos ativemos o mais perto possível, na tradução, do original).
Em francês, o termo "organisation" ao tempo de Kardec, tinha os mesmo significados que em português e, também, de "organismo", sendo que, hoje em dia, neste sentido, e empregado, como em nossa língua, com um complemento aclamatório: "organização física, corporal, orgânica" etc.).
Segundo a resposta, os Espíritos estão destituídos de sexo, no sentido biológico, isto e, não possuem aparelho reprodutor, logo, também não tem hormônios sexuais em sua estrutura. E, é claro que não poderiam tê-los, pois não se reproduzem. Ainda, segundo a resposta, eles se vinculam por "sentimento", por afinidade eletiva. Fica, contudo, uma pergunta, sendo que o corpo e estruturado e mantido pela organização perispiritual, de onde vem o impulso que fixa, durante a embriogenese, a definição sexual? Mas, busquemos respostas efetivas, e não "petitio principii", ou floreios verbais muito bonitos, mas sem significação concreta, tais como: "almas passivas e almas ativas", pois ainda cabe perguntar, o que são almas passivas, e porque o são, assim como as ativas.
Como vemos, uma resposta desse tipo e adiar o problema, e não solucioná-lo. Freud concebeu o sexo, em ultima analise, como uma forma de energia, a libido. Os teosofistas e hinduístas também se referem a uma energia sexual, própria da alma que, a semelhança da libido, pode ser "sublimada", ou seja, transferida para outro tipo de atividade do individuo. André Luiz descreve o sexo como uma manifestação de uma energia, o amor, pelo qual os seres se alimentam uns aos outros. Então, deveremos entender que os Espíritos, na Codificação, ao falar de "amor e simpatia", estavam falando de uma energia sexual da alma? Uma espécie de "libido"? Mas, permanece a questão, o que e o sexo? Como ele se diferencia, quando a alma encarna? Creio que este é o melhor caminho para podermos, a partir de princípios solidamente estabelecidos, discutirmos, não só o homossexualismo, mas todas as formas de manifestação da sexualidade.
Inclusive a mais grave: a pratica sexual de forma geral. Porque, senão, estaremos a dividir o mundo entre os certos (os heterossexuais) e os errados (os homossexuais). E será que nós, os heterossexuais estamos corretos pelo simples fato de o sermos? E não falamos apenas de perversões ou sexolatria, mas sim da "normalidade" da pratica sexual. O que é o "normal", neste lado? Existirá um "check list" de atos, atitudes, palavras e pensamentos que podem, ou não, serem realizados durante o ato sexual? O ato sexual entre parceiros sem compromisso matrimonial é certo ou não? Isto sem referencia ao adultério, que eticamente e incorreto. Voltamos a frisar que nos referimos a sexualidade hetero.
Ora, com tantas coisas a resolvermos, que dizem respeito a nossa vivencia sexual, esperamos que os que vivem a "ditar catedra" quanto a homossexualidade, já tenham resolvido estas "simples" questões em suas vidas.
De minha parte, posso dizer que ainda estou meditando sobre elas, e buscando respostas, mesmo aos 57 anos de idade, uma viuvez e dois casamentos, isto sem enfrentar a angustiante problemática da homossexualidade.

Djalma Argollo

(Retirado do Boletim GEAE Número 272 )

21 setembro 2009

TERAPIA DE VIDAS PASSADAS E ESPIRITISMO

O tema Terapia de Vida Passada - TVP - ganhou, ultimamente, grande espaço nos meios de comunicação em geral. Como todo tema polêmico, tem gerado muitos debates e opiniões. Mas por que uma proposta terapêutica como essa pode gerar tanta polêmica? Pelo lado da ciência, o centro da questão está na utilização de uma hipótese de trabalho reencarnacionista, que a ciência ocidental continua julgando um tema religioso ou místico, que não pode ser considerado como objeto de estudo.
Para a Doutrina Espírita, apesar defender a reencarnação como processo natural na vida do ser humano, a questão está na utilização da Regressão de Memória à nossas vidas passadas. O objetivo deste artigo será o de discutir alguns dos principais pontos desta relação entre a Terapia de Vida Passada e o Espiritismo.
Para evitar os “achismos”, resolvemos fazer uma pesquisa a nível nacional, no final de 1998, em que apresentávamos para a população espírita um questionário sobre a Terapia de Vida Passada. Dos 500 que foram respondidos, identificamos algumas das principais preocupações do espírita em relação à Terapia de Vida Passada - TVP - e a Regressão de Memória:
Necessidade do esquecimento do passado;
Não poder interferir no processo de sofrimento causado por problemas no passado;
Fazer Regressão por curiosidade;
Na verdade, o que se pode observar é que a maioria das pessoas tem dúvidas se deveriam ou não utilizar a TVP como recurso, não tem uma informação correta sobre o que é a TVP, hoje.
A TVP se insere na abordagem da Psicologia Transpessoal, um ramo mais recente da Psicologia que considera o componente espiritual como uma das dimensões do ser humano, que interfere no entendimento do homem e de seus sofrimentos. Porém, na TVP consideramos a hipótese de trabalho da reencarnação como base de explicação do conteúdo obtido no processo de Regressão de Memória, isto é, julgamos que os relatos obtidos com os indivíduos em Estado Alterado de Consciência se referem às suas experiências vividas em outras encarnações.
Para a TVP, a maioria dos problemas que temos na vida atual decorrem de situações traumáticas ou bastante desequilibradas que foram vividas pelo indivíduo no passado e que deixaram marcas profundas no seu psiquismo profundo. Todas essas experiências estão registradas nesta instância Inconsciente que o Dr. Jorge Andréa (1) chama de Inconsciente do Pretérito. Algumas situações na vida atual, parecem desencadear o surgimento, na zona mais consciente do psiquismo, desses desequilíbrios, transformando-se em verdadeiras patologias. Podemos citar as fobias, a Síndrome do Pânico, distúrbios de comportamento como os sexuais ou os compulsivos, a depressão, a ansiedade, etc. como algumas que podem se beneficiar com o tratamento pela TVP.
O primeiro passo do processo está em tornar consciente esse conteúdo do passado. É nesse momento que podemos utilizar a Regressão de Memória na identificação da situação do passado geradora do sofrimento atual. Posterior e concomitantemente a essa identificação, teremos que utilizar diversas intervenções específicas para cada caso, visando dissociar a personalidade atual daqueles traumas vividos no passado. Como vimos não basta apenas lembrar o passado. Há uma necessidade de um acompanhamento terapêutico criterioso do delicado conteúdo emocional e psíquico que surge do processo de Regressão. A nossa experiência tem indicado a necessidade da TVP só ser feita por profissional da área de saúde mental que estaria habilitado ao processo de forma integral.
Como podemos ver a finalidade da TVP é terapêutica. Com isso desfaz-se uma das grandes preocupações do público espírita, em particular: a curiosidade. Na verdade o terapeuta, quando executa um trabalho sério, não considera os casos em que as pessoas procuram para saber o que foram ou fizeram de extraordinário em suas vidas passadas. Julgamos que o material que lidamos seja muito delicado para uma finalidade fútil !
Mas, a questão mais delicada do espírita parece ser a de se “levantar o véu que encobre o passado” já que seria uma “dádiva divina”. Se observarmos no contexto da Doutrina, as principais referências sobre o assunto estão em O Livro dos Espíritos na parte 2a., cap. VII, em um item que engloba as perguntas 392 à 399, com o título: O esquecimento do passado. Nesse ponto os Espíritos alertam para os inconvenientes que a lembrança do passado teria para os indivíduos. E nós concordamos inteiramente com isso !!! Vamos observar que este capítulo trata “Da Volta do Espírito à Vida Corporal”. É claro que quando voltamos ao corpo físico necessitamos do esquecimento de nossas vidas pregressas. Como, uma criança conseguiria estruturar uma nova personalidade lembrando simultaneamente de todas as suas vidas passadas? Seria impossível.
Diversas obras na literatura espírita defendem a utilização terapêutica da Terapia de Vida Passada. Dos autores encarnados, citamos o Dr. Jorge Andréa, psiquiatra e pesquisador do psiquismo profundo e da reencarnação com vasta contribuição nessa área. Mesmo entre os desencarnados, através das obras psicografadas, não há uma contra-indicação à utilização da TVP nos casos em que verificamos graves problemas psíquicos, emocionais, físicos ou de comportamento. Pelo contrário. Espíritos como Joanna de Ângelis (2) e Bezerra de Menezes (3) tem ressaltado, através de algumas de suas obras, a importância deste tipo de abordagem científica na minimização do sofrimento humano. Mas é claro que a TVP não é uma panacéia capaz de resolver todos os problemas. Como toda abordagem terapêutica tem suas limitações e dificuldades que somente uma atuação séria e criteriosa poderá superar, ampliando o potencial de cura de sua aplicação.
É o sofrimento o nosso grande objetivo! Para nossa surpresa, muitos espíritas responderam afirmativamente à questão: “o sofrimento é a melhor forma de pagarmos os erros do passado”. Isso pode levar a um entendimento distorcido da finalidade da vida e do sofrimento. A Doutrina Espírita (4) deixa bem claro qual é o objetivo das encarnações sucessivas: o desenvolvimento moral e intelectual do ser. O sofrimento representa um desequilíbrio resultante de um comportamento inadequado do passado que ainda mantém características na personalidade atual. Na medida em que se resolvam as causas cessam-se os efeitos. Em O Livro dos Espíritos, questão 1004, Kardec pergunta sobre o critério de duração dos sofrimentos a que os espíritos respondem ser função da melhora do indivíduo. Na resposta fica clara a finalidade pedagógica do sofrimento, pois quando a pessoa melhora o aspecto desequilibrado o sofrimento perde o sentido, modificando-se ou extinguindo-se.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 5, temos a orientação dos espíritos de que devemos empreender todos os nossos esforços no sentido de minimizar o sofrimento dos homens. Ora se a TVP desponta como um instrumento da ciência que pode ajudar nesse processo de aprimoramento do ser humano pela dura de alguns de seus sofrimentos, por que não utilizá-la? Será que não poderíamos utilizar a TVP para ajudar uma pessoa a superar sua Síndrome do Pânico ou de uma depressão profunda por exemplo, simplesmente porque utilizaremos de suas lembranças pretéritas? Nos parece que se a TVP é uma conquista da Ciência ela está consoante aos desígnios de Deus para o progresso da Humanidade.
A ciência avança no sentido da confirmação do espírito, como origem e princípio básico da vida, e da reencarnação como mecanismo natural fundamental para o entendimento do homem e de seus sofrimentos. A TVP, aplicada de forma séria e criteriosa, demonstra ser um instrumento legítimo deste movimento. Como resultado desta aplicação o indivíduo se reconhece como ser espiritual eterno em passagem temporária de aprendizado pelo corpo. Ao verificar as conseqüências de seus atos passados nos seus problemas atuais pode refletir e decidir sobre quais são os valores existenciais essenciais para o seu espírito hoje e descobre a necessidade de desenvolver o Abrandamento de suas tendências negativas e a Aceitação dos problemas que enfrentamos. Ao final, perceberá a necessidade de reclamar menos e Amar mais, a si mesmo e aos outros.
Referências Bibliográficas:
(1) Palingênese, a Grande Lei - Jorge Andréa
(2) O Homem Integral - Joanna de Angelis/Divaldo Franco;
(3) Loucura e Obsessão - Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco;
(4) O Céu e o Inferno - Kardec - 1a. parte, cap. III, item 8.
(5) O Livro dos Espíritos - Kardec - Questões 392 à 399;
(6) O Evangelho Segundo o Espiritismo - Kardc - Cap. 5;
(7) Terapia de Vida Passada e Espiritismo - Distâncias e Aproximações - Milton Menezes

MILTON MENEZES

Milton Menezes nasceu em Petrópolis - RJ, em 23 de outubro de 1960.Formado em Ciências Econômicas pela UERJ.Formado em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá.Especialização em Terapeuta de Vida Passada pela Sociedade Brasileira de Terapia de Vida Passada - SBTVP em Campinas - SP.Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.Membro fundador do IBRAPE-TVP - Instituto Brasileiro de Pesquisa em TVP do Rio de Janeiro.Pesquisa atualmente a aplicação da TVP na Síndrome do Pânico.

RESUMO:
O grande desafio da TVP é consolidar a reencarnação como hipótese científica de trabalho, introduzindo o conceito de Espírito como capaz de explicar vários aspectos na Psicologia e Medicina.

20 setembro 2009

DROGAS E RESPONSABILIDADE

Álvaro R. Velloso de Carvalho
A Escolha faz o destino (L. Szondi)
Nestes tempos de coletivismo e de massificação, é muito comum ver a mídia alardear "o problema das drogas na juventude brasileira".
É um tema que desperta paixões, move grandes máquinas publicitárias, dá margem a mil explicações sociológicas e ainda serve de tema de campanha para alguns políticos demagógicos. Quem olha a situação de fora pode ser levado a pensar que os jovens da minha geração são pessoas perdidas, sem propósito na vida, mergulhados num mar de hedonismo, em que as ferramentas para a sobrevivência são as drogas, o álcool, o fumo, o sexo desregrado etc. Há vários problemas nesse tipo de abordagem. O primeiro deles é tomar casos isolados como se fossem a expressão da realidade inteira. Como se um jovem drogado fosse uma mônada leibniziana...
Como, então, abordar a questão? Em primeiro lugar, devemos considerar as suas devidas proporções, isto é, delimitar o gênero a que ela pertence. Isso feito, podemos meditar na sua solução. É muito fácil para a mídia alardear um problema maior do que ele realmente é, e traçar uma imagem pejorativa da juventude como um todo. A partir daí, criam-se explicações falaciosas e teorizações absurdas. Como a idéia de que o meio que cerca os jovens os impossibilita de escapar das drogas. Acontece que não basta, para atacar um problema, deter-se na contemplação mórbida de suas vítimas. Se queremos tratar da questão a sério, devemos procurar aqueles que conseguem escapar das drogas. Talvez não importe muito se eles são a maioria ou não, mas o fato é que são sim. O problema, se reduzido a suas devidas proporções, se torna bem menos alarmante. Não é tão fácil assim conseguir drogas, a maioria dos jovens está muito pouco preocupada com essa obtenção, e o fato de que uma pessoa experimentou um tipo de droga uma vez na vida não o torna um viciado – apenas facilita a falsificação das estatísticas. A pergunta, então, não é "o que leva um jovem à droga?", mas sim "o que possibilita que um jovem não se drogue?" Mais do que estudar casos de ex-drogados, tão caros à mídia sensacionalista, é importante estudar casos de não-drogados. Visto que os jovens não-drogados são a maioria, torna-se muito difícil reunir um núcleo de características comuns a todos eles. A resposta seria um painel muito amplo da juventude de nosso tempo, a juventude da qual faço parte, e seria uma ambição desmedida minha pretender oferecê-lo aqui. Posso, porém, retirar alguns exemplos do convívio diário. Convivo com um número bastante grande de jovens, nenhum deles drogado. Devo dizer que, para a maior parte deles, a questão "usar drogas ou não" nem sequer se coloca . O que possibilita isso?O primeiro fator chama-se educação. É o fator mais importante e o mais ignorado. Não se trata daquele blá blá blá todo em torno das terríveis conseqüências do uso das drogas ou dos perigos químicos das mesmas. Trata-se simplesmente da educação baseada na idéia de responsabilidade. O que existe de mais fundamental na vida humana é o princípio de autoria. Eu sou autor de meus próprios atos e não posso fugir das conseqüências deles. O sujeito que cometeu a ação é, fatalmente, o mesmo que sofrerá suas conseqüências. Afirmar o contrário é cair na esquizofrenia. Se a educação ajuda a tornar o jovem consciente de que cada um de seus atos tem implicações para ele e para as pessoas que o ato envolve, sua vida adquire, a seus olhos, uma consistência muito maior. Ele vê a realidade com olhos mais abertos, mais plenos. Se ele se sente responsável pela própria manutenção (não falo num sentido econômico, mas num sentido existencial), suas preocupações estarão voltadas para coisas mais elevadas, mais importantes do que um prazer momentâneo que terá conseqüências destruidoras. Uma cultura, como a nossa, que não enfatiza a responsabilidade individual, que cria culpados abstratos para eximir o indivíduo de toda a culpa, só pode mesmo dar margem a problemas psicológicos sérios. Ora, o culpado por cada uma de minhas ações não é o inconsciente, não é a classe social, não é o maldito capitalismo, não é o meio social, não é a estrutura da linguagem, não é o complexo de Édipo; o culpado sou eu.Todos esses fatores citados existem, mas a instância decisiva é o ego. Quem diz sim ou não sou eu. Quem escolhe o papel que vai representar sou eu. Qualquer tipo de educação que não destaque isso está fadado ao fracasso. Qualquer campanha de prevenção às drogas que esqueça esse fato estará proferindo palavras vazias para um auditório surdo. Compreendido esse fator de responsabilidade pessoal, podemos derivar os outros principais fatores que afastam os jovens das drogas. Entenda-se bem: sem esse primeiro, nada se faz. A partir daí, podemos arrolar outros, como uma sólida formação religiosa, a atenção aos estudos, a dedicação ao trabalho, a satisfação na vida pessoal, a estabilidade do lar. Não conheço um caso sequer de pessoas que vivam em alguma dessas condições e se deixem levar pelas drogas. Se, porém, repetimos o discurso da irresponsabilidade, se colocamos o prazer acima das outras instâncias, se acreditamos na idéia de que erros não devem ser punidos, se, sob o pretexto de aumentar a liberdade, defendemos a liberação das drogas, então estaremos agravando um problema e criando uma juventude verdadeiramente transviada. Estaremos abolindo da juventude a idéia de que existem princípios sólidos a serem seguidos e caindo na armadilha do relativismo e do imoralismo. Os jovens, em geral, têm plena consciência disso. Estão cheios de planos para o futuro e não querem ver suas vidas destruídas por atos inconseqüentes. Tudo o que peço a educadores é que não destruam neles esse senso de responsabilidade. Que não abafem a voz da juventude verdadeira, sob o pretexto de fazer um discurso progressista. Porque o que está em jogo são vidas humanas. E brincar com vidas humanas para defender teorias ou lutar contra o conservadorismo é no mínimo desprezível...
A pergunta, então, não é "o que leva um jovem à droga?", mas sim "o que possibilita que um jovem não se drogue?"

(Jornal Mundo Espírita)

19 setembro 2009

OS ESPÍRITAS E AS ELEIÇÕES

"O Espiritismo não cria a renovação social: a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer outra doutrina para secundar o movimento de regeneração; por isso, é ele contemporâneo desse movimento. Surgiu na hora em que podia ser de utilidade, visto que também para ele os tempos são chegados". (In A Gênese, de Allan Kardec - Ed. FEB). Esclarecem os Espíritos, em O Livro dos Espíritos que o progresso moral decorre do progresso intelectual, porém nem sempre a ele se segue. (Questão n.º 780). Nós espíritas sabemos que temos um compromisso intransferível com a reforma íntima: "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações". (Cap. XVII, item 4, "in fine" de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec). Mas, esse aperfeiçoamento pessoal deve refletir-se em nossa atuação consciente para transformar a sociedade em uma sociedade justa e amorosa, pois advertem os Espíritos: "Numa sociedade organizada segundo as leis do Cristo, ninguém deve morrer de fome" e adita Allan Kardec: "...Quando praticar (o homem) a Lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio será melhor ". (Questão 930 de O Livro dos Espíritos). Destaca-se, então, o compromisso do espírita com uma nova ordem social, fundada no Direito e no Amor. Obviamente, essa transformação dependerá da ação consciente dos bons e ao lado deles, os espíritas atuando com uma "consciência política", fundamentada nos princípios éticos das Leis Morais de O Livro dos Espíritos. Portanto, não pode o espírita alienar-se da sociedade e não agir, com conhecimento e amor, nessa transformação, em importante momento histórico da civilização humana: " Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade". (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XX, item 5º). Observando a ousadia da maldade e a confusão entre bondade e omissão, Allan Kardec indagou aos Espíritos: "Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?
-Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão". (Questão 932 de O Livro dos Espíritos)
A resposta é clara e precisa, não permite dúvidas àqueles que pretendem ser bons. O mundo e, especificamente, a estrutura social brasileira, está precisando de transformações urgentes para coibir a ação dos maus que solapam os bons costumes, que semeiam a miséria, que se utilizam dos instrumentos da corrupção, da fraude e da mentira para atingirem seus objetivos egoísticos e anti-éticos. Momento significativo para a transformação da sociedade é a realização de eleições para os poderes Legislativo e Executivo. Em breve seremos chamados às urnas. O espírita precisa estar consciente da sua responsabilidade nesse momento, seja pleiteando cargos eletivos, seja simplesmente depositando o seu voto na urna. O voto é uma procuração que se passa ao candidato para que, se eleito, ele aja em nosso nome a bem da coletividade. É a maior manifestação de amor ao povo. Não votar, anular o voto, omitir-se é apoiar as forças do mal, é permitir que maus sobrepujem os bons.
Para que o espírita tenha critérios de avaliação do candidato, compare a sua conduta como membro da família, na atividade profissional, seu interesse e envolvimento com a comunidade e os princípios contidos em O Livro do Espíritos - 3ª Parte - Das Leis Morais, onde estão os conceitos sobre: o Bem e o Mal, a Sociedade, o Trabalho, o Progresso e a Igualdade, Justiça e Amor.
Porém, não se pode levar as questões político-partidárias para dentro do Centro ou Instituição Espírita.
Vote consciente. VOTE COM AMOR!

Aylton Paiva
(Jornal Mundo Espírita )

17 setembro 2009

O UMBRAL

"O Umbral começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos."
Narra André Luiz: "Após receber tão valiosas elucidações, aguçava-se-me o desejo de intensificar a aquisição de conhecimentos relativos a diversos problemas que a palavra de Lísias sugeria. As referências a espíritos do Umbral mordiam-me a curiosidade. A ausência de preparação religiosa, no mundo, dá motivo a dolorosas perturbações. Que seria o Umbral? Conhecia, apenas, a idéia do inferno e do purgatório, através dos sermões ouvidos nas cerimônias católico-romanas a que assistira, obedecendo a preceitos protocolares. Desse Umbral, porém, nunca tivera notícias.Ao primeiro encontro com o generoso visitador, minhas perguntas não se fizeram esperar. Lísias ouviu-me, atencioso, e replicou:- Ora, ora, pois você andou detido por lá tanto tempo e não conhece a região?Recordei os sofrimentos passados, experimentando arrepios de horror.- O Umbral - continuou ele, solícito - começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos. Quando o espírito reencarna, promete cumprir o programa de serviços do Pai; entretanto, ao recapitular experiências no planeta, é muito difícil fazê-lo, para só procurar o que lhe satisfaça ao egoísmo. Assim é que mantidos são o mesmo ódio aos adversários e a mesma paixão pelos amigos. Mas, nem o ódio é justiça, nem a paixão é amor. Tudo o que excede, sem aproveitamento, prejudica a economia da vida. Pois bem: todas as multidões de desequilibrados permanecem nas regiões nevoentas, que se seguem aos fluidos carnais. O dever cumprido é uma porta que atravessamos no Infinito, rumo ao continente sagrado da união com o Senhor. É natural, portanto, que o homem esquivo à obrigação justa, tenhaessa bênção indefinidamente adiada.Notando-me a dificuldade para apreender todo o conteúdo do ensinamento, com vistas à minha quase total ignorância dos princípios espirituais, Lísias procurou tornar a lição mais clara:- Imagine que cada um de nós, renascendo no planeta, somos portadores de um fato sujo, para lavar no tanque da vida humana. Essa roupa imunda é o corpo causal, tecido por nossas mãos, nas experiências anteriores. Compartilhando, de novo, as bênçãos da oportunidade terrestre, esquecemos, porém, o objetivo essencial, e, ao invés de nos purificarmos pelo esforço da lavagem, manchamo-nos ainda mais, contraindo novos laços e encarcerando-nos a nós mesmos em verdadeira escravidão. Ora, se ao voltarmos ao mundo procurávamos um meio de fugir à sujidade, pelo desacordo de nossa situação com o meio elevado, como regressar a esse mesmo ambiente luminoso, em piores condições? O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena.A imagem não podia ser mais clara, mais convincente. Não havia como disfarçar minha justa admiração. Compreendendo o efeito benéfico que me traziam aqueles esclarecimentos, Lísias continuou:- O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra. Concentra-se, aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior. E note você que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta. Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação. Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homens encarnados, separados deles apenas por leis vibratórias. Não é de estranhar, portanto, que semelhantes lugares se caracterizem por grandes perturbações. Lá vivem, agrupam-se, os revoltados de toda espécie. Formam, igualmente, núcleos invisíveis de notável poder, pela concentração das tendências e desejosgerais. Muita gente da Terra não recorda que se desespera quando o carteiro não vem, quando o comboio não aparece? Pois o Umbral está repleto de desesperados. Por não encontrarem o Senhor à disposição dos seus caprichos, após a morte do corpo físico, e, sentindo que a coroa da vida eterna é a glória intransferível dos que trabalham com o Pai, essas criaturas se revelam e demoram em mesquinhas edificações. "Nosso Lar" tem umasociedade espiritual, mas esses núcleos possuem infelizes, malfeitores e vagabundos de várias categorias. É zona de verdugos e vítimas, de exploradores e explorados.Valendo-me da pausa, que se fizera espontânea, exclamei, impressionado:- Como explicar? Então não há por lá defesa, organização? Sorriu o interlocutor, esclarecendo:- Organização é atributo dos espíritos organizados. Que quer você? A zona inferior a que nos referimos é qual a casa onde não há pão: todos gritam e ninguém tem razão. O viajante distraído perde o comboio, o agricultor que não semeou não pode colher. Uma certeza, porém, posso dar-lhe: - não obstante as sombras e angústias do Umbral, nunca faltou lá a proteção divina. Cada espírito lá permanece o tempo que se faça necessário. Para isso, meu amigo, permitiu o Senhor se erigissem muitas colônias como esta, consagradas ao trabalho e ao socorro espiritual.- Creio, então - observei -, que essa esfera se mistura quase com a esfera dos homens.- Sim - confirmou o dedicado amigo -, e é nessa zona que se estendem os fios invisíveis que ligam as mentes humanas entre si. O plano está repleto de desencarnados e de formas-pensamento dos encarnados, porque, em verdade, todo espírito, esteja onde estiver, é um núcleo irradiante de forças que criam, transformam ou destroem, exteriorizadas em vibrações que a ciência terrestre presentemente não pode compreender. Quem pensa, estáfazendo alguma coisa alhures. E é pelo pensamento que os homens encontram no Umbral os companheiros que afinam com as tendências de cada um. Toda alma é um ímã poderoso. Há uma extensa humanidade invisível, que se segue à humanidade visível. As missões mais laboriosas do Ministério do Auxílio são constituídas por abnegados servidores, no Umbral, porque se a tarefa dos bombeiros nas grandes cidades terrenas é difícil, pelas labaredase ondas de fumo que os defrontam, os missionários do Umbral encontram fluidos pesadíssimos emitidos, sem cessar, por milhares de mentes desequilibradas, na prática do mal, ou terrivelmente flageladas nos sofrimentos retificadores. É necessário muita coragem e muita renúncia para ajudar a quem nada compreende do auxílio que se lhe oferece.Interrompera-se Lísias. Sumamente impressionado, exclamei:- Ah! como desejo trabalhar junto dessas legiões de infelizes, levando-lhes o pão espiritual do esclarecimento!O enfermeiro amigo fixou-me bondosamente, e, depois de meditar em silêncio, por largos instantes, acentuou, ao despedir-se:- Será que você se sente com o preparo indispensável a semelhante serviço?"
(Nosso Lar, cap. 12, André Luiz/Chico Xavier, FEB)

15 setembro 2009

O CORVO E A RAPOSA

(Sociedade Espírita de Paris, 8 de agosto de 1862. - Médium, Sr. Leymarie.)

Desconfiai dos aduladores: é a raça mentirosa; são as encarnações de dupla cara que riem para vos enganar; infeliz de quem nele crê, os escuta, porque as noções da verdade são logo pervertidas nele. E, no entanto, quantas pessoas se deixam prender nesse engodo mentiroso da adulação! escutam com paciência o velhaco que acaricia suas fraquezas, ao passo que repelem o amigo sincero que lhes diz a verdade e lhes dá sábios conselhos; atraem o falso amigo, ao passo que afastam o amigo verdadeiro e desinteressado; para agradar-lhes, é preciso adulá-los, tudo aprovar, tudo aplaudir, achar tudo bem, mesmo o
absurdo; e, coisa estranha! repelem os conselhos sensatos, e crerão numa mentira do primeiro que chegue, se essa mentira lisonjeia suas idéias. Que quereis? Eles querem ser enganados e o são; e muito tarde, freqüentemente, disso vêem as conseqüências, mas então o mal está feito e, algumas vezes, não tem remédio. De onde vem isso? A causa disto é quase sempre múltipla. A primeira, sem contradita, é o orgulho que os cega sobre a infalibilidade de seu próprio mérito que crêem superior a todo outro; também o tomam sem dificuldade por tipo do senso comum; a segunda prende-se a uma falta de julgamento que não lhes permite ver o forte e o fraco das coisas; mas é ainda
aqui o orgulho que oblitera o julgamento; porque, sem orgulho, eles desconfiariam de si mesmos e disso se reportariam àqueles que possuem mais experiência. Crede bem também que os maus Espíritos nisso não são sempre estranhos; eles gostam de mistificar, de estender armadilhas e quem pode melhor nelas cair do que o orgulhoso que se lisonjeia? O orgulho é para ele o defeito da couraça em uns, como a cupidez é em outros, e sabem habilmente disso aproveitarem, mas evitam com cuidado dirigir-se ao mais fortes do que
eles, moralmente falando. Quereis vos subtrair à influência dos maus Espíritos? Subi, subi tão alto em virtudes que não possam vos alcançar, e então sereis por eles temidos; mas se deixais arrastar uma ponta de corda a ela se agarrarão para vos forçar a descer; chamarvos-ão com sua voz melosa, gabarão vossa plumagem, e fareis como o corvo, deixareis cair o vosso queijo.

SONNET.

14 setembro 2009

O "CAMINHO PERIGOSO" DA MANIPULAÇÃO DAS RELIGIÕES

Numa coisa essencial estiveram de acordo o muçulmano, a judia e o padre católico: as religiões e os seus textos fundadores podem ser manipulados para a violência e a guerra, mas é um "caminho perigoso" tentar encontrar "na essência da religião as causas dos actuais conflitos", como os do Médio Oriente. Esta via, disse Esther Mucznik, vice-presidente da Comunidade Judaica de Lisboa, "desvia as pessoas das verdadeiras causas dos conflitos e atiça a intolerância religiosa". No debate de ontem à tarde sobre o papel das religiões, durante o fórum promovido pela Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), em Lisboa, Mucznik acrescentou que "não é nos fundamentos, mas nos comportamentos religiosos, que devemos encontrar a chave da violência". E citou alguns desses comportamentos perigosos: a "leitura rígida, literal, dos textos" fundadores, como a Bíblia ou o Alcorão; a "pretensão à verdade única e exclusiva"; a "promiscuidade entre religião e política". AbdoolKarim Vakil, muçulmano português e investigador no King's College de Londres, recusou também que em nome do islão se cometam actos violentos ou belicistas. "Repetir que islão é paz, que 'jihad' é um esforço interior" e não a guerra santa, são "actos provocatórios". E, citando várias passagens do Alcorão que sublinham o valor fundamental da paz - "a fé é o refrear de toda a violência; que nenhum crente cometa qualquer acto de violência" -, acrescentou que "o maior desafio do islão", actualmente, é repensar "a relação com o legado islâmico e com os textos do islão". Esse trabalho, desconhecido pela maior parte das pessoas, "está a ser feito em centenas de organizações", não porque os muçulmanos nelas envolvidos são "compelidos a fazê-lo por outros", mas porque esse debate faz parte da própria agenda interna de muitos grupos em todo o mundo. As "apropriações violentas do islão" têm que ser contestadas "dentro do islão", afirmou. "Islão sem paz é um som oco" Para AbdoolKarim Vakil, "o islão desprovido das noções de paz e de perdão é um som oco, não faz sentido." E citou o exemplo dos atentados do passado dia 15, contra duas sinagogas judaicas em Istambul (Turquia), para dizer que "é impossível um muçulmano ficar calado" perante esses actos cometidos em nome do islão. "A violência contra israelitas não pode desculpar os atentados" em nome de uma pretensa solidariedade entre muçulmanos, acrescentou. Esther Mucznik citou uma declaração assinada há quatro dias pelos principais responsáveis do islão e do judaísmo em França para dizer que é necessário ter "coragem de denunciar o extremismo e o fundamentalismo, venha de onde vier". E enumerou quatro condições para romper a manipulação: a liberdade religiosa; a "separação clara de religião e política"; a contribuição dos crentes para o desenvolvimento; e o diálogo inter-religioso como "compromisso no sentido da pacificação". Luís de França, frade católico da Ordem Dominicana, citou investigações antropológicas recentes - como na "Revista Arqueológica Americana" de Agosto - para dizer que a guerra é uma "invenção da espécie humana". "A biologia não condena a humanidade à guerra; a mesma espécie que inventou à guerra é capaz de inventar a paz."
__________________"Meu coração é capaz de todas as formas; o claustro do monje, o templo dos ídolos, o pasto das gazelas, a Caaba do peregrino, as tábuas da Torá, o Corão. Amor é meu credo..." Ibn' Arabî

Fonte: PÚBLICOnline - Portugal

13 setembro 2009

MIDIATRIX - MANIPULAÇÃO DA MÍDIA

Este vídeo chama-se midiatrix, porém é bom pensarmos também na religiatrix que é a manipulação das religiões sobre seus seguidores que precisa ser percebida e a única arma contra este tipo de atitude é o conhecimeto. Por isso Kardec insiste na fé raciocinada e nos aconselha orar e vigiar.A proposta é soltar as amarras católicas que de uma forma ou de outra ainda nos prendem.Para ajudar este rompimento eu sugiro o livro de Léon Denis - Cristianismo e Espiritismo.Não tenham medo de jogar fora os velhos dogmas.



Fonte: soldadonofront.blogspot.com (indicado pelos que fazem este blog)

GIORDANO BRUNO

Giordano Bruno nasceu em Nola (perto de Nápoles), em 1548, e morreu em Roma, a 17 de fevereiro de 1600. Discípulo do filósofo Franscesco Patrizi, membro da Academia Florentina, ingressou na Ordem dos Pregadores aos 17 anos de idade, lá permanecendo por dez anos, chegando a ser ordenado sacerdote e a receber o grau de doutor em Teologia em 1575.Acusado de heresia, Bruno abandonou a ordem e se refugiou no norte da Itália, onde passou a ensinar. Sempre perseguido, viaja pela Suíça (onde se converte ao calvinismo para abandoná-lo pouco depois), Inglaterra, França, Alemanha, voltando a Veneza em 1592.Em Londres, dedicou-se a ensinar na Universidade de Oxford, onde ministrou aulas sobre a cosmologia de Nicolau Copérnico, atacando o sistema aristotélico. Depois de várias discussões, abandonou Oxford e rumou para a França, onde, em 1585, após um debate público no Colégio de Cambrai, foi ridicularizado, atacado fisicamente e, por fim, expulso do país. Nos cinco anos seguintes viveu em inúmeras cidades - Marburgo, Mainz, Wittenberg, Praga, Helmstedt, Frankfurt e Zurique -, dedicando-se a escrever sobre cosmologia, física, magia e a arte da memória. Demonstrou, mesmo utilizando um método errado, que o Sol era maior que a Terra. Já em Veneza, denunciado pelo nobre Giovanni Moncenigo, é novamente acusado de heresia e preso pelo Santo Ofício. Reconhece os seus erros e parece livrar-se da fogueira. Mas, a pedido do papa, as autoridades venezianas, depois de alguma hesitação, o entregam ao tribunal da Inquisição de Roma. Fica encarcerado durante sete anos, negando-se a abjurar suas doutrinas, das quais não se retrata. Foi queimado em 1600.
Deus e matéria: uma mesma substânciaSegundo as palavras do próprio Bruno sobre suas leituras, ele ficara fascinado por Heráclito, Parmênides, Demócrito, Lucrécio e Plotino, entre os antigos; e, entre os modernos, pelo "onisciente" Raimundus Lullus, o "magnânimo" Nicolau Copérnico e o "divino" Nicolau Cusano (ou Nicolau de Cusa).Bruno defende a infinitude do universo, como um conjunto dinâmico que se transforma continuamente, do inferior ao superior, e vice-versa, num movimento constante, por ser tudo uma só e mesma coisa, como manifestação da vida infinita e inesgotável. Como o universo, também Deus é infinito, sendo-lhe imanente e transcendente ao mesmo tempo, sem nenhuma contradição, pois os opostos acabam por coincidir no infinito.Para Bruno, o universo é uma coisa viva, todo ele regido por uma mesma lei, sendo Deus a mônada das mônadas (espécies de átomos orgânicos e viventes), que compõem o organismo do mundo. Deus está presente por toda parte, como poder infinito, sabedoria e amor, cabendo aos homens adorar toda essa infinitude com entusiasmo, numa unidade das crenças religiosas, além de qualquer dogma positivo. A metafísica de Bruno pode ser denominada de monista, pampsiquista e para-materialista, sendo que ele concebe Deus como alma e princípio ativo do mundo - e a matéria como princípio passivo. Deus e matéria nada mais são, portanto, do que dois aspectos da mesma substância. Depois de um longo período de esquecimento, por cerca de dois séculos, Giordano Bruno foi redescoberto nos fins do século 18 e começo do 19, através do pensamento dos românticos alemães, não sendo pequena a dose de sua filosofia nas idéias de Goethe.

Enciclopédia Mirador Internacional//La biblioteca ideale di Giordano Bruno

12 setembro 2009

GENEALOGIA DO ESPÍRITO

"Com a Supervisão Celeste, o princípio inteligente gastou mais ou menos quinze milhões de séculos, a fim de que pudesse, como ser pensante, embora em fase embrionária da razão, lançar as suas primeiras emissões de pensamento contínuo para os Espaços Cósmicos."
Os naturalistas situados no chão do mundo, desde os sacerdotes egípcios que estudavam a origem da vida planetária em conchas fósseis, até os mais eminentes biólogos modernos, atreitos à unilateralidade de observação, compreensivelmente não conseguirão suprir as lacunas existentes no quadro da evolução, não obstante Cuvier, com a Anatomia Comparada, tenha traçado forma básica à sistemática da Paleontologia.Em verdade, porém, para não cairmos nas recapitulações incessantes, em torno de apreciações e conclusões que a ciência do mundo tem repetido à saciedade, acrescentaremos simplesmente que as leis da reprodução animal, orientadas pelos Instrutores Divinos, desde o casulo ferruginoso do leptótrix, através da retração e xpansão da energia nas ocorrências do nascimento e morte da forma, recapitulam ainda hoje, na organização de qualquer veículo humano, na fase embriogênica, a evolução filogenética de todo o reino animal, demonstrando que além da ciência que estuda a gênese das formas, há também uma genealogia do espírito. Com a Supervisão Celeste, o princípio inteligente gastou, desde os vírus e as bactérias das primeiras horas do protoplasma na Terra, mais ou menos quinze milhões de séculos, a fim de que pudesse, como ser pensante, embora em fase embrionária da razão, lançar as suas primeiras emissões de pensamento contínuo para os Espaços Cósmicos.
(Evolução em Dois Mundos, VI, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

EVOLUÇÃO NO TEMPO - É assim que dos organismos monocelulares aos organismos complexos, em que a inteligência disciplina as células, colocando-as a seu serviço, o ser viaja no rumo da elevada destinação que lhe foi traçada do Plano Superior, tecendo com os fios da experiência a túnica da própria exteriorização, segundo o molde mental que traz consigo, dentro das leis de ação, reação e renovação em que mecaniza as próprias aquisições, desde o estímulo nervoso à defensiva imunológica, construindo o centro coronário, no próprio cérebro, através da reflexão automática de sensações e impressões, em milhões e milhões de anos, pelo qual, com o Auxílio das Potências Sublimes, que lhe orientam a marcha, configura os demais centros energéticos do mundo íntimo, fixando-os na tessitura da própria alma.Contudo, para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos, na romagem para o reino angélico, despendeu para chegar aos primórdios da época quaternária, em que a civilização elementar do silex denuncia algum primor de técnica, nada menos que um bilhão e meio de anos. Isso é perfeitamente verificável na desintegração natural de certos elementos radioativos na massa geológica do Globo. E entendendo-se que a Civilização aludida floresceu há mais ou menos duzentos mil anos, preparando o homem, com a bênção do Cristo, para a responsabilidade, somos induzidos a reconhecer o caráter recente dos conhecimentos psicológicos, destinados a automatizar na constituição fisiopsicossomática do espírito humano as aquisições morais que lhe habilitarão a consciência terrestre a mais amplo degrau de ascensão à Consciência Cósmica.
(Evolução em Dois Mundos, III, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

CÉREBRO E ENERGIA

."Sendo o pensamento força sutil e inexaurível do Espírito, podemos categorizá-lo, assim, à conta de corrente viva e exteriorizante, com faculdades de auto-excitação e autoplasticização inimagináveis."

GERADOR DO CÉREBRO - Com alguma analogia, encontramos no cérebro um gerador auto-excitado, acrescido em sua contextura íntima de avançados implementos para a geração, excitação, exteriorização, captação, assimilação e desassimilação da energia mental, qual se um gerador comum desempenhasse não apenas a função de criar força eletromotriz e conseqüentes potenciais magnéticos para fornecê-los em certa direção, mas também todo acervo de recursos dos modernos emissores e receptores de radiotelefonia e televisão, acrescidos de valores ainda ignorados na Terra.Erguendo-se sobre os vários departamentos do corpo, a funcionarem por motores de sustentação, o cérebro, com as células especiais que lhe são próprias, detém verdadeiras usinas microscópicas, das quais as pequenas partículas de germânio, na construção do transistor, nos conjuntos radiofônicos miniaturizados, podem oferecer imperfeita expressão.É aí, nesse microcosmo prodigioso, que a matéria mental, ao impulso do Espírito, é manipulada e expressa, em movimento constante, produzindo correntes que se exteriorizam, no espaço e no tempo, conservando mais amplo poder na aura da personalidade em que se exprime, através de ação e reação permanentes, como acontece no gerador comum, em que o fluxo energético atinge valor mínimo, segundo a resistência integral do campo, diminuindo de intensidade na curva de saturação.Nas reentrâncias de semelhante cabine, de cuja intimidade a criatura expede as ordens e decisões com que traça o próprio destino, temos, no córtex, os centros da visão, da audição, do tato, do olfato, do gosto, da palavra falada e escrita, da memória e de múltiplos automatismos, em conexão com os mecanismos da mente, configurando os poderes da memória profunda, do discernimento, da análise, da reflexão, do entendimento e dos multiformes valores morais de que o ser se enriquece no trabalho da própria sublimação.Nessas províncias fulcros da individualidade, circulam as correntes mentais constituídas a base dos átomos de matéria da mesma grandeza, qual ocorre na matéria física, em que as correntes elétricas resultam dos átomos físicos excitados, formando, em sua passagem, o conseqüente resíduo magnético, pelo que depreendemos, sem dificuldade, a existência do eletromagnetismo tantos nos sistema interatômicos da matéria física, como naqueles em que se evidencia a matéria mental.

CORRENTE DO PENSAMENTO - Sendo o pensamento força sutil e inexaurível do Espírito, podemos categorizá-lo, assim, à conta de corrente viva e exteriorizante , com faculdades de auto-excitação e autoplasticização inimagináveis.À feição do gerador "shunt", se a mente jaz desatenciosa, como que mantendo o cérebro em circuito aberto, forma-se, no mundo intracraniano, reduzida força mentocriativa que não determina qualquer corrente circulante no campo individual; mas, se a mente está concentrada, fazendo convergir sobre si mesma as próprias oscilações, a força mentocriativa gerada produz uma corrente no campo da personalidade que, a seu turno, provoca a formação de energia mental de sentido análogo àquele em que se exprime o magnetismo de resíduo, dilatando o fluxo até que a força aludida atinja o seu valor máximo, de acordo com a resistência do campo a que nos referimos.Surpreendemos, nessa fase, o mesmo fenômeno de elevação da voltagem no gerador elétrico, porquanto, no cosmo fisiopsicossomático, a corrente mentocriativa se alteia até o ponto de saturação, do qual se alonga, com menor expressão de potencial, no rumo dos objetivos a que se afeiçoe, conforme a linha do desejo.

NEGAÇÃO DA CORRENTE MENTAL - Sempre que a corrente mental, ou mentocriativa não possa expandir-se, tal negação se filia a causas diversas, das quais, como acontece na máquina "shunt", assinalamos as mais expressivas:
1) Ausência de magnetismo residual, em se tratando de cérebros primitivos, isto é, de criaturas nos primeiros estágios do pensamento contínuo, no reino hominal, ou de pessoas por lago tempo entregues a profunda e reiterada ociosidade espiritual.
2) Circuitos mentais invertidos, em razão de monoideísmo vicioso, na maioria das vezes agravado por influências obsessivas.
3) Deficiência da aparelhagem orgânica, por motivo de enfermidade ou de perturbações temporárias, oriundas do relaxamento da criatura, no trato com o próprio corpo.
(Mecanismos da Mediunidade, cap. IX, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

11 setembro 2009

PSIQUIATRIA E ESPIRITISMO

O conflito entre Psiquiatria e Espiritismo tomou vulto entre nós, em virtude do crescimento do movimento espírita. O preconceito religioso influi muito na questão, estimulando o preconceito científico. Mas as últimas conquistas das Ciências abriram uma perspectiva de trégua. Na proporção em que o conceito de matéria se pulverizou nas mãos dos físicos e atingiu o plano da antimatéria, verificou-se uma nova revolução copérnica no tocante à concepção do homem. Coube a um famoso psiquiatra norte americano, Ian Stevenson, dar novo impulso às pesquisas sobre a reencarnação. Na URSS o psiquiatra Wladimir Raikov, da Universidade de Moscou, reconheceu o fenômeno de lembranças de vidas anteriores e iniciou pesquisas a respeito, partindo do pressuposto de sugestões telepáticas. Hoje há grande número de psiquiatras espíritas, o que estabelece o diálogo entre os campos opostos.
As pesquisas parapsicológicas com débeis mentais deram razão à tese espírita da distinção entre cérebro e mente. Os débeis mentais agem no plano de psi (fenômenos paranormais) em igualdade de condições com as pessoas normais. Isso parecia mostrar que a debilidade era apenas cerebral e não mental. Quando Rhine sustentou a natureza extrafísica da mente, que Vassiliev tentou refutar sem consegui-lo, o problema se tornou mais claro. Muitos enigmas da Psiquiatria se tornaram mais facilmente equacionáveis para uma solução. Entre eles, talvez o mais complexo, que é o da Esquizofrenia. Certos casos de amnésia, em que os pacientes substituem a memória atual por outra referente a uma possível vida anterior, lançaram nova luz sobre o intrincado problema.
A divisão da mente, a diluição da memória, o afastamento da realidade parecem denunciar uma espécie de nostalgia psíquica que determina a inadaptação do espírito à realidade atual. Teríamos dessa forma um caso típico de auto-obsessão nas modalidades variáveis da Esquizofrenia. Os casos se agravam com a participação de entidades obsessoras geralmente atraídas pelo estado dos pacientes. Eles se encontravam em estado de ambivalência e são forçados a optar pelo passado ante a pressão obsessiva. Este é mais um fato favorável à prática da desobsessão. Psiquiatria e Espiritismo podem ajudar-se mutuamente, ao que parece em futuro bem próximo. Não há razão para condenações psiquiátricas atuais dos processos espíritas de cura dos casos de obsessão.

José Herculano Pires


10 setembro 2009

A RAZÃO DE SER DO ESPIRITISMO

Victor Hugo (espírito)

Quando o obscurantismo da fé dominava as mentes, levando-as ao fanatismo desestruturador da dignidade e do comportamento; quando a cultura, enlouquecida pelas suas conquistas no campo da ciência de laboratório, proclamava a desnecessidade de qualquer preocupação com Deus e com a alma, face à fragilidade com que se apresentavam no proscênio do mundo; quando a filosofia divagava pelas múltiplas escolas do pensamento, cada qual mais arrebatadora e irresponsável, inculcando-se como portadora da verdade que liberta o ser humano de todos os atavismos e limitações; quando a arte rompia as ligações com o clássico, o romântico e a beleza convencional, para expressar-se em formulações modernistas, impressionistas, abstracionistas, traduzindo, ora a angústia da sua geração remanescente dos atavismos e limitações do passado, ora a ansiedade por diferentes paradigmas de afirmação da realidade; quando se tornavam necessários diversos comportamentos sociais e políticos para amenizar a desgraça moral e econômica que avassalava a Humanidade; quando a religião perdia o controle sobre as consciências e tentava rearticular-se para prosseguir com os métodos medievais ultramontanos e insuportáveis; quando as luzes e as sombras se alternavam na civilização, surgiu o Espiritismo com a sua razão de ser para promover o homem e a mulher, a vida e a imortalidade, o amor e o bem a níveis dantes jamais alcançados.
Realizando uma revolução silenciosa como poucas jamais ocorridas na História, tornou-se poderosa alavanca para o soerguimento do ser humano, retirando-o do caos do materialismo a que se arrojara ou fora atirado sem a menor consideração, para que adquirisse a dignidade ética e cultural, fundamentada na identificação dos valores morais, indispensável para a identificação dos objetivos essenciais e insuperáveis da paz interna e da consciência de si mesmo durante o trânsito corporal.
Logo depois, no Collège de France, proclamando ser Jesus um homem incomparável, no seu memorável discurso, o acadêmico e imortal Ernesto Renan confirmava, a seu turno, embora sem qualquer contato com a Doutrina nascente, a humanidade do Rabi galileu, rompendo a tradição dogmática do Homem Deus ou do ancestral Deus feito homem.
Sob a ação do escopro inexorável das informações de além-túmulo, o decantado repouso ou punição eterna, o arbitrário julgamento mais punitivo que justiceiro, cediam lugar à consciência da vida exuberante que prossegue morte afora impondo a cada qual a responsabilidade pela conduta mantida durante a trajetória encerrada.
As narrações da sobrevivência tocadas pela legitimidade dos fatos fundamentadas na lógica da indestrutibilidade do ser espiritual, davam colorido diferente às paisagens da Eternidade, diluindo as fantasias e mitos que as adornaram por diversos milênios.
Permitiu que o ser humano se redescobrisse como Espírito imortal que é, preexistente ao berço e sobrevivente ao túmulo, facultando-lhe compreender a finalidade existencial, que é imergir no oceano do inconsciente, onde dormem os atos pretéritos e as construções que projetam diretrizes para o momento e o futuro, a fim de diluir as volumosas barreiras de sombra e de crueldade a que se entregou e que lhe obnubila a compreensão da sua realidade, emergindo em triunfo, para que lobrigue a imarcescível luz da verdade que o há de conduzir pelos infinitos roteiros do porvir.
Intoxicado pelos vapores da organização fisiológica, mergulhado em sombras que lhe impedem o discernimento, vagando pelos dédalos intérminos da busca da realidade, somente ao preço da fé raciocinada e lógica, portadora dos instrumentos que se derivam dos fatos constatados, o homem e a mulher podem avançar com destemor pelas trilhas dos sofrimentos inevitáveis, que são inerentes à sua condição de humanidade, vislumbrando níveis mais nobres que devem ser conquistados.
O Espiritismo traçou novos programas para a compreensão da vida e a mais eficazmaneira de enfrentá-la, desafiando o materialismo no seu reduto e os materialistas no seu cepticismo, oferecendo-lhes mais seguras propostas de comportamento para a felicidade ante as vicissitudes do processo existencial.
Não se compadecendo da presunção dos vazios de sentimento e soberbos de conhecimentos em ebulição de idéias, demonstrou a sua força arrastando desesperados que foram confortados, violentos que se acalmaram, alucinados que recuperaram a razão, delinqüentes que volveram ao culto do dever, perversos que se transformaram, ateus que fizeram as pazes com Deus, ingratos que se reabilitaram perante os seus benfeitores, miseráveis morais que se enriqueceram de esperança e de alegria de viver, construindo juntos o mundo de bem-estar por todos anelado.
O Espiritismo trouxe a perfeita mensagem da justiça divina, por enquanto mal traduzida pela consciência humana, contribuindo para a transformação da sociedade, mas sem a revolução sangrenta das paixões em predomínio, que sempre impõe uma classe poderosa sobre as outras que são debilitadas à medida que vão sendo extorquidos os seus parcos recursos até a exaustão das suas forças, quando novas revoluções do mesmo gênero explodem, produzindo desgraça e ódios que nunca terminam . . .
Trabalhando a transformação moral do indivíduo, propõe-lhe o comportamento solidário e fraternal, a aplicação da justiça corretiva e reeducativa quando delinqüi, conscientizando-o de que as suas ações serão também os seus juízes e que não fugirá de si mesmo onde quer que vá.
Todo esse contributo moral foi retirado do Evangelho de Jesus, especialmente do Seu Sermão da montanha, no qual reformulou os valores humanos até então aceitos, demonstrando que forte não é o vencedor de fora, mas aquele que se vence a si mesmo, e poderoso, no seu sentido profundo, não é aquele que mata corpos, mas não é capaz de evitar a própria morte.
Revolucionando o pensamento ético e abrindo espaço para novo comportamento filosófico, a Sua palavra vibrante e a Sua vivência inigualável, colocaram as pedras básicas para o Espiritismo no futuro alicerçar, conforme ocorreu, os seus postulados morais através da ética do amor sob qualquer ponto de vista considerado.
Nos acampamentos de lutas que se estabeleciam no Século XIX, quando a ciência e a razão enfrentavam a fé cega e a prepotência das Academias e dos seus membros fascinados como Narciso por si mesmo, o Espiritismo surgiu como débil claridade na noite das ambições perturbadoras e lentamente se afirmou como amanhecer de um novo dia para a Humanidade já cansada de aberrações de conduta como fugas da realidade e sonhos de poder transitório, transformados em pesadelos de guerras infames, cujas seqüelas ainda se demoram trucidando vidas e dilacerando sentimentos.
A razão de ser do Espiritismo encontra-se na sua estrutura doutrinária, diversificada nos seus aspectos de investigação científica ao lado das demais correntes da ciência, do comportamento filosófico com a sua escola otimista e realista para o enfrentamento do ser consigo mesmo e da vivência ético-moral-religiosa que se estrutura em Deus, na imortalidade, na justiça divina, na oração, na ação do bem e sobretudo do amor, única psicoterapia preventiva-curativa à disposição da Humanidade atual e do futuro.
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 7 de junho de 2001, em Paris, França)

09 setembro 2009

O MENESTREL

Este vídeo não permite que se acrescente nada, a não ser pedir que se faça uma profunda reflexão e é este o meu pedido.

MÉDIUNS CURADORES

Um oficial de caçadores, Espírita de longa data, e um dos numerosos exemplos das reformas morais que o Espiritismo pode operar, nos transmite os detalhes seguintes: "Caro mestre, aproveitamos nossas longas horas de inverno para nos entregar com ardor ao desenvolvimento de nossas faculdades medianímicas. A tríade do 4º caçador, sempre unida, sempre vivente, se inspira de seus deveres, e ensaia novos esforços. Sem dúvida, desejais conhecer o objeto de nossos trabalhos, a fim de saber se o campo que cultivamos não é estéril. Disso podereis julgar pelos detalhes seguintes. Há alguns meses nossos trabalhos têm por objetivo o estudo dos fluidos; esse estudo desenvolveu em nós a mediunidade curadora; também, aplicamo-la agora com sucesso. Há alguns dias, uma simples emissão fluídica de cinco minutos com minha mão, bastou para tirar uma nevralgia violenta. "Madame P... estava afetada, há vinte e oito anos, de uma hiperestesia aguda ou sensibilidade exagerada da pele, enfermidade que a retinha em seu quarto há quinze anos. Ela mora numa pequena cidade vizinha, e, tendo ouvido falar de nosso grupo, veio procurar alívio junto a nós. Ao cabo de trinta e cinco dias, voltou completamente curada. Durante esse tempo, recebeu cada dia um quarto de hora de emissão fluídica, com o concurso de nossos guias espirituais. "Dávamos, ao mesmo tempo, nossos cuidados a um epiléptico, atingido por essa terrível enfermidade há vinte e sete anos. As crises se renovavam quase cada noite, e cada vez sua mãe passava longas horas à sua cabeceira. Trinta e cinco dias bastaram para essa cura importante, e que estava feliz, essa mãe, acompanhando seu filho radicalmente curado! Nós revezávamos, todos os três, de oito dias em oito dias, para a emissão fluídica, colocávamos a mão, ora sobre a cavidade do estômago do enfermo, ora sobre a nuca, no início do pescoço. Cada dia o enfermo podia constatar uma melhora; nós mesmos, depois da evocação e durante o recolhimento, sentíamos o fluido exterior nos invadir, passar em nós, e escapar-se de nossos dedos alongados e de nosso braço estendido para o corpo do sujeito que tratávamos. "Dávamos nesse momento nossos cuidados a um segundo epiléptico; desta vez, a enfermidade seria talvez mais rebelde, uma vez que é hereditária. O pai deixou, aos seus quatro filhos, o germe dessa afecção; enfim, com a ajuda de Deus e dos bons Espíritos, esperamos reduzi-la em todos os quatro. "Caro mestre, reclamamos o socorro de vossas preces e as de nossos irmãos de Paris. Esse socorro será para nós um encorajamento e um estímulo aos nossos esforços. Depois, vossos bons Espíritos podem vir em nossa ajuda, tornar o tratamento mais salutar e abreviar-lhe a duração. "Não aceitamos por toda recompensa, como bem o pensais, e ela deve ser suficiente,
senão a satisfação de ter feito nosso dever e de ter obedecido ao impulso dos bons Espíritos. O verdadeiro amor ao próximo carrega consigo uma alegria sem mistura, e deixa em nós alguma coisa de luminosa, que encanta e que eleva a alma. Também procuramos, tanto quanto nossas imperfeições no-lo permitem, nos compenetrar dos deveres do verdadeiro Espírita, que não devem ser senão a aplicação dos preceitos evangélicos. "O Sr. G... de L... deve nos conduzir seu cunhado, que um Espírito malfazejo subjuga há dois anos. Nosso guia espiritual Lamennais nos encarrega do tratamento dessa obsessão rebelde. Deus nos daria também o poder de expulsar os demônios? Se assim for, não teríamos senão que nos humilhar diante de um tão grande favor, em lugar de nos orgulharmos. Quanto maior ainda não seria para nós a obrigação de nos melhorar, para disso testemunhar-lhe nosso reconhecimento e para não perder dons tão preciosos?" Essa interessante carta, tendo sido lida na Sociedade Espírita de Paris, na sua sessão de 18 de dezembro de 1863, um dos nossos bons médiuns obteve espontaneamente, a esse respeito, as duas comunicações seguintes: "A vontade, existindo no homem em diferentes graus de desenvolvimento, serviu, em todas as épocas, seja para curar, seja para aliviar. É lamentável ser obrigado a constatar que ela foi também a fonte de muitos males, mas é uma das conseqüências do abuso que, freqüentemente, o ser faz de seu livre arbítrio. A vontade desenvolve o fluido seja animal, seja espiritual, porque, o sabeis todos agora, há vários gêneros de magnetismo, entre os quais estão o magnetismo animal e o magnetismo espiritual que pode, segundo a ocorrência, pedir apoio ao primeiro. Um outro gênero de magnetismo, muito mais poderoso ainda, é a prece que uma alma pura e desinteressada dirige a Deus. "A vontade foi, freqüentemente, mal compreendida; em geral aquele que magnetiza não pensa senão em desdobrar sua força fluídica, senão em derramar seu próprio fluido sobre o paciente submetido a seus cuidados, sem se ocupar se há ou não uma Providência que nisso se interessa tanto e mais do que ele; agindo só, não pode obter senão o que sua única força pode produzir; ao passo que nossos médiuns curadores começam por elevar sua alma a Deus, e para reconhecer que, por eles mesmos, não podem nada; fazem, por isso mesmo, um ato de humildade, de abnegação; então, confessando-se muito fracos por si mesmos, Deus, em sua solicitude, lhes envia poderosos recursos que não pode obter o primeiro, uma vez que se julga suficiente para a obra empreendida. Deus recompensa sempre a humildade sincera elevando-a, ao passo que rebaixa o orgulho. Esse recurso que envia, são os bons Espíritos que vêm penetrar o médium de seu fluido benfazejo, que este transmite ao enfermo. Também é por isso que o magnetismo empregado pelos médiuns curadores é tão poderoso e produz essas curas qualificadas de miraculosas, e que são devidas simplesmente à natureza do fluido derramado sobre o médium; ao passo que o magnetizador comum se esgota, freqüentemente, em vão, em fazer passes, o médium curador infiltra um fluido regenerador pela única imposição das mãos, graças ao concurso dos bons Espíritos; mas esse concurso não é concedido senão à fé sincera e à pureza de intenção."

MESMER (Médium, Sr. Albert).

Revista Espírita 1864

07 setembro 2009

PRECE DE CÁRITAS

O CIÚME

Numa perspectiva mais ampla, que remonta há aproximadamente vinte e quatro séculos atrás, Aristóteles definia o ciúme como o desejo de ter o que outra pessoa possui, isto é, originariamente ele era concebido como uma qualidade boa e se referia ao desejo de imitar uma nobre atitude característica de uma outra pessoa. Nesta acepção, o filósofo pensava o ciúme em termos de uma nobre inveja.
Mais tarde, encontramos nas referências bíblicas ilustrações que denotavam como o ciúme já tinha sido concebido como algo belicoso à boa vivência do amor. Salomão, em seu livro “Cântico dos Cânticos”, acreditava que o amor era forte como a morte e o ciúme, concebido enquanto uma paixão, era cruel como um túmulo.
Treze séculos depois, o autor de epigramas, escritor clássico e moralista francês François de la Rochefoucauld reconhecia no ciúme uma tendência egocêntrica ao dizer: há no ciúme mais amor-próprio do que amor. Este autor ainda identificava o amor como substrato para a gênese do ciúme: O ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele. Rochefoucauld ainda associa o ciúme às grandes mazelas humanas, em suma, para ele, o maior de todos os males.
No século XIX, na Alemanha, o ciúme, era concebido por Freud como um estado emocional. Segundo Freud , “O ciúme é um daqueles estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais” . No texto alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e no homossexualismo, o autor faz uma distinção entre três tipos de ciúmes, o competitivo ou normal, o projetado e o delirante. Então, Freud , escreveu sobre a projeção do ciúme: O ciúme da segunda camada, o ciúme projetado, deriva-se, tanto nos homens quanto nas mulheres, de sua própria infidelidade concreta na vida real ou de impulsos no sentido dela que sucumbiram à repressão. É fato da experiência cotidiana que a fidelidade, especialmente aquele seu grau exigido pelo matrimônio, só se mantém em face de tentações contínuas. Qualquer pessoa que negue essas tentações em si própria sentirá, não obstante, sua pressão tão fortemente que ficará contente em utilizar um mecanismo inconsciente para mitigar sua situação. Pode obter esse alívio - e, na verdade, a absolvição de sua consciência - se projetar seus próprios impulsos à infidelidade no companheiro a quem deve fidelidade. Assim, para este autor, o ciúme poderia estar associado, no próprio ciumento, com as suas próprias traições. Destarte, para Freud é o desejo e a possibilidade virtual de trair o parceiro que engendra em cada parceiro o próprio ciúme. Em Paris, para Stendhal , o ciúme tinha uma conotação negativa e estava atrelado à vaidade quando dizia que o que tornava a dor do ciúme tão aguda era a vaidade que não contribuía para nos ajudar a suportá-la. Observa-se, na literatura científica, que estudos sistemáticos sobre o ciúme aumentaram significativamente a partir de 1977, quando da realização de reuniões anuais científicas que o incluíam como tema de estudo. Isto aconteceu, em especial nos eventos da Midwestern Psychological Association e da American Psychological Association. Atualmente este é uma das temáticas que mais cativa os pesquisadores em todo o mundo . Tanto o amor como o ciúme, possuem uma extensa variedade de formas e explicações, sob diversos prismas. Focalizaremos algumas delas de acordo com os objetivos desta pesquisa. Atualmente, alguns teóricos consideram o ciúme como sendo um sentimento , outros como uma emoção negativa , ou ainda, uma emoção aversiva . Há os que o concebem como um complexo de pensamentos, emoções e ações . Para alguns autores, existem vários tipos de ciúme , diversos graus de ciúme , manifestações de ciúme distintas para homens e mulheres e mais de um tipo de ciúme em relação a uma mesma pessoa amada . As pessoas também podem ficar mais ciumentas durante períodos de fracasso ou perda . E ainda, podem-se ter ciúmes de objetos, coisas, animais e pessoas, em diferentes intensidades e com relação ao mesmo objeto valorizado de múltiplas maneiras .
Os resultados das pesquisas acerca do ciúme não evidenciam claramente que haja diferenças entre homens e mulheres , e há pouco consenso entre os autores, que evidenciam que a mulher, freqüentemente, apresenta mais intensamente ciúme em comparação ao homem. Todavia Buss nos sugere que homens e mulheres são igualmente ciumentos, mas os eventos desencadeadores de ciúme para cada um é que são diferentes: os homens ancestrais tinham um custo elevado com a paternidade, isso porque caso houvesse infidelidade por parte da mulher, eles se arriscariam a desperdiçar tempo, energia e outros investimentos enquanto a cortejaram. Também teriam perdido oportunidades com outras mulheres enquanto se dedicavam a apenas uma, além do esforço materno que teria sido desviado para a prole de um rival, e, principalmente, se arriscariam a dedicar cuidados paternos a essa prole, julgando erroneamente ser sua. E se o homem ancestral fazia um grande investimento ao aderir a um relacionamento amoroso, a mulher fazia um investimento ainda maior com a maternidade, uma vez que cada gravidez durava nove meses. Além disso, se arriscar a perder o investimento ou uma parte do investimento do parceiro que desviasse seus “recursos” à outra mulher (com quem ele tivesse um caso). Isto poderia ser extremamente danoso, pois esse desvio ocorreria à custa da sobrevivência dela e de seus filhos. Isso era muito mais grave, se forem consideradas as épocas ancestrais de frio, estiagem, escassez de alimentos, onde as possibilidades de sobrevivência eram baixas. Para a mulher o indicador mais confiável do desvio de investimento não seria o homem ter sexo com outra mulher, mas ele ter envolvimento emocional com ela. O envolvimento emocional poderia servir para avaliar a qualidade do compromisso. Para as mulheres a posse dos seus homens é ameaçada por rivais que corporificam o que os homens querem. Ainda, ao se discorrer sobre a temática do ciúme é necessário lembrar que para alguns teóricos, como DeSteno & Salovey e Harris & Christenfeld, pelo menos na cultura ocidental, a infidelidade sexual tem diferentes conotações para homens e mulheres. Como o amor geralmente é um pré-requisito para o envolvimento de uma mulher em um relacionamento sexual, isto faz com que se imagine que a infidelidade sexual feminina esteja associada com o envolvimento emocional com outro parceiro . Todavia, consoante Sheets e Wolfe , a infidelidade masculina não tem tal implicação porque os homens têm mais condições de praticar sexo sem amor.
De todas as características que são pesquisadas no que diz respeito à infidelidade, o gênero parece ser o mais consistente dos fatores que predizem: os homens como os que traem mais . E mesmo entre homens que têm casos, em relação às mulheres que também os têm, os homens as superam em termos de quantidade .

06 setembro 2009

A INVEJA

Revista Espírita, julho de 1858

Dissertação moral ditada pelo Espírito de São Luís ao senhor D.....
São Luís nos havia prometido, em uma das sessões da Sociedade, uma dissertação sobre a Inveja. O senhor D..., que começava a se tornar médium, e que ainda duvidava um pouco, não da Doutrina da qual era um dos mais fervorosos adeptos, e que compreende em sua essência, quer dizer, do ponto de vista moral, mas da faculdade que nele se revelava, evocou São Luís, em seu nome particular, e lhe dirigiu a seguinte pergunta :
- Consentiríeis dissipar minhas dúvidas, minhas inquietações, sobre minha força medianímica, escrevendo, por meu intermédio, uma dissertação que havíeis prometido à Sociedade para a terça-feira, 1º de junho? - R. Sim; para tranqüilizá-lo, consinto.
Foi então que o trecho seguinte lhe foi ditado. Anotaremos que o senhor D... se dirigiu a São Luís com um coração puro e sincero, sem prevenção, condição indispensável para toda boa comunicação! Não era uma prova que fazia: ele não duvidava senão de si mesmo, e Deus permitiu que fosse atendido, a fim de lhe dar os meios de se tornar útil. O senhor D... é hoje um dos médiuns mais completos, não só por uma grande facilidade de execução, mas por sua aptidão para servir de intérprete a todos os Espíritos, mesmo aqueles de ordem mais elevada, que se exprimem fácil e voluntariamente por seu intermédio. Aí estão, sobretudo, as qualidades que se devem procurar num médium, e que este pode sempre adquirir com a paciência, a vontade e o exercício. O senhor D... não teve necessidade de muita paciência; ele tinha em si a vontade e o fervor unidos a uma aptidão natural. Alguns dias bastaram para levar sua faculdade ao mais alto grau. Eis o ditado que lhe foi feito sobre a Inveja:
"Vede este homem: seu Espírito está inquieto, sua infelicidade terrestre está em seu auge; ele inveja o ouro, o luxo, a felicidade aparente ou fictícia de seu semelhante; seu coração está destroçado, sua alma surdamente consumida por essa luta incessante do orgulho, da vaidade não satisfeita; ele carrega consigo, em todos os instantes de sua miserável existência, uma serpente que ele re-aquece, que lhe sugere, sem cessar, os mais fatais pensamentos: "Terei essa volúpia, essa felicidade? Isso me é devido, não obstante, como a estes; sou homem como eles; por que seria deserdado?" E se debate sob sua impotência, vítima dos horríveis suplícios da inveja. Feliz ainda se essas funestas idéias não o levarem para a beira de um abismo. Entrado nesse caminho, ele se pergunta se não deve obter pela violência o que acredita lhe ser devido; se não irá expor, a todos os olhos, o mal horrível que o devora. Se esse infeliz tivesse apenas olhado abaixo de sua posição, teria visto o número daqueles que sofrem sem se lamentar, ainda bendizendo o Criador; porque a infelicidade é um benefício do qual Deus se serve para fazer a pobre criatura avançar para o seu trono eterno.
Fazei vossa felicidade e vosso verdadeiro tesouro sobre a Terra em obras de caridade e de submissão, as únicas que devem contribuir para serdes admitidos no seio de Deus; essas obras do bem farão vossa alegria e vossa felicidade eternas; a Inveja é uma das mais feias e das mais tristes misérias do vosso globo; a caridade e a constante emissão da fé farão desaparecer todos esses males, que se irão um a um à medida que os homens de boa-vontade, que virão depois de vós, se multiplicarem. Amém."

DESPERTAR ESPÍRITA - REFORMA ÍNTIMA

A reforma íntima é a razão pela qual estamos encarnados , é a condição para a evolução do espírito, ou melhor é a própria evolução.

05 setembro 2009

TRANSCOMUNICAÇÃO INSTRUMENTAL


A transcomunicação instrumental é um recurso que permite a comunicação entre encarnados e desencarnados por meio de aparelhos eletrônicos. Segundo os transcomunicadores, ela pode ser utilizada como prova científica de que realmente a morte não existe. As técnicas evoluíram muito desde o início dos experimentos. Segundo Sonia Rinaldi, fundadora da ação Nacional de Transcomunicadores – ANT - e uma das grandes pesquisadoras do assunto, o Brasil tem hoje os melhores resultados do mundo. Sonia passou a se interessar pelo assunto em 1988, quando freqüentava o Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas - IBPP - dirigido pelo dr. Hernani Guimarães Andrade. Foi ele quem sugeriu que iniciasse as gravações, e como naquela época não havia qualquer tipo de orientação, resolveram então seguir a intuição. Os resultados foram positivos, mas foram cerca de 16 anos para alcançar uma evolução notável.

03 setembro 2009

A FÉ

Revista Espírita 1862

Eu sou a irmã mais velha da Esperança e da Caridade, chamo-me a Fé.
Sou grande e forte; aquele que me possui não teme nem o ferro e nem o fogo: é a prova de todos os sofrimentos físicos e morais. Irradio sobre vós com um faixo cujos jatos faiscantes se refletem no fundo dos vossos corações, e vos comunica a força e a vida. Dizse entre vós que ergo as montanhas, e eu vos digo: venho erguer o mundo, porque o Espiritismo é a alavanca que deve me ajudar. Uni-vos, pois, a mim, eu sou a Fé. Eu sou a Fé! Habito, com a Esperança, a Caridade e o Amor, o mundo dos puros Espíritos; freqüentemente, deixei as regiões etéreas, e vim sobre a Terra para vos regenerar, dando-vos a vida do Espírito; mas, à parte os mártires dos primeiros tempos do Cristianismo, e alguns fervorosos sacrifícios, de longe em longe, ao progresso da ciência, das letras, da
indústria e da liberdade, não encontrei, entre os homens, senão indiferença e frieza, e retomei tristemente meu vôo para os céus; vós me crieis em vosso meio, mas vos enganastes, porque a Fé sem as obras é uma aparência de Fé; a verdadeira Fé é a vida e a ação.
Antes da revelação do Espiritismo, a vida era estéril, era uma árvore seca pelos estrondos do raio que não produzia nenhum fruto. Não se me reconhecia pelos meus atos: eu ilumino as inteligências, aqueço e fortaleço os corações; expulso para longe de vós as influências enganadoras e vos conduzo a Deus pela perfeição do espírito e do coração. Vinde vos alinhar sob minha bandeira, sou poderosa e forte: eu sou a Fé. Eu sou a Fé, e o meu reino começa entre os homens; reino pacífico que vai torná-los felizes para o tempo presente e para a eternidade. A aurora de meu advento entre vós é pura e serena; seu sol será resplandescente, e seu deitar virá docemente embalar a Humanidade nos braços das felicidades eternas. Espiritismo! Derrama sobre os homens o teu batismo
regenerador; faço-lhes um apelo supremo: eu sou a Fé.

GEORGES, Bispo de Périgueux.

CEGOS PARA A VERDADE

Jericó era uma cidade encantadora, bordada de flores e de laranjeiras que periodicamente explodiam em festa de perfume, prenunciando a frutescência. Rica em fontes e córregos, situada próxima ao rio Jordão e a Jerusalém, constituía um dos orgulhos da Judéia.
A cidade antiga, hoje reduzida a ruínas calcinadas, data de época mui recuada, a quase VII mil a. C. em pleno período neolítico. Destruída, inúmeras vezes, teve as suas muralhas sempre reconstruídas, tendo sido palco da lenda, que se tornou clássica, em torno das trombetas de Josué, que a teriam derrubado entre os anos de 1.400 a 1.260 a. C. Sempre experimentou terríveis flagelos, como ocorreu por volta do século XVII a. C., quando foi incendiada. Abandonada essa área primitiva, foi reconstruída em lugar próximo por Herodes, que a aformoseou, preservando toda a sua grandeza histórica.
Suas belas residências e mansões hospedavam pessoas ricas e cultas, que se permitiam recepções faustosas e festas retumbantes.
Era quase passagem obrigatória entre a Galiléia e Jerusalém.
Muitas vezes Jesus a visitara, quando das suas jornadas à Cidade Santa para o Seu povo. Ali mantivera contatos comovedores, havendo, oportunamente, penetrado o coração e a mente astuta de Zaqueu, o cobrador de impostos, que se tornara detestado pela cupidez e fortuna amealhada, mas que fora tocado pelas notícias que dEle ouvira, havendo subido em uma figueira, a fim de vê-lO passar, quando foi convocado a recebê-lO no seu lar...
É de uma estrada de Jerusalém, que conduzia a Jericó, que o Mestre comporá a incomparável parábola do Bom samaritano, lecionando bondade sem alarde e amor desinteressado, como recursos essenciais para entrar-se no Reino dos Céus.
Naquela cidade, portanto, famosa também pelas frutas secas e vinho capitoso, Jesus operou fenômenos incomparáveis, tocando a sensibilidade das massas que O acompanhavam, assim como de todos aqueles que ali residiam, e os presenciaram.
*
Pairava no ar o perfume balsâmico da Natureza em festa, e o Sol dourava os campos ornados pelas flores primaveris. Havia uma festa de sons quase inaudíveis, entoados pelo vento e pelo farfalhar das folhas dos arvoredos, enquanto a taça de luz derramava claridade por toda parte.
O pó levantava-se, denunciando o movimento dos viajantes que se acercavam das portas da cidade amuralhada ou que por elas saíam, estuante de beleza.
Formosas figueiras esparramavam suas copas vetustas projetando sombra agradável no chão coberto de gramíneas verdejantes ornadas por miosótis miúdos e azuis. Tudo formava uma bela moldura para os acontecimentos que se desenhavam em perspectiva de felicidade no momento da saída de Jesus, que estava acompanhado de grande massa de gentes de diferentes aldeias e dali mesmo por onde passara...
Ele estivera em Jericó e deixava os seus domínios.
A algaravia e ansiedade bailavam nos lábios e nos corações de todos aqueles que O acompanhavam, como se desejassem expressar os seus ditos indizíveis.
Foi nesse momento, que dois cegos mendicantes à orla do caminho, ouvindo os aranzéis e exclamações, os cânticos de gratidão e de júbilo, começaram a gritar, pedindo socorro ao Mestre. Eles não conheciam as plumas coloridas do Sol, que derramam claridade e cor na Terra, nem a face das pessoas amadas, nem o verde dos campos ou o multicolorido das flores e dos pássaros, mas eram também filhos de Deus, desejosos de participar do banquete de felicidade em que todos ali em movimento se encontravam.
Faziam tal balbúrdia, que foram repreendidos para que se calassem. Como porém, silenciar o sofrimento, perdendo a única oportunidade de libertar-se dele?!
Somente a necessidade sabe quanto é cruel a dor e quão tormentoso para o invidente constitui seguir pela noite interna, sem contato com a luz do Dia.
Aqueles que os repreendiam possuíam visão e estavam disputando-se as moedas de alegria que Ele distribuía. Era natural que também desejassem receber a mesma oferta de felicidade, e não se calaram, antes aumentaram o vozerio, suplicando a piedade do Senhor.
Jesus conhecia aqueles homens inditosos e aflitos. Era o Pastor, e se identificava com todas as ovelhas que Lhe pertenciam.
Não fazia muito, libertara paralíticos da imobilidade, surdos da ausência de sons, loucos da perturbação que os estigmatizava, por que não fazer o mesmo com aqueles infelizes? Deteve-se, então, e aproximou-se deles. Todo luz, irradiava misericórdia em cântico silencioso de amor.
Acercando-se dos requerentes de ajuda, interrogou-os: - Que quereis que vos faça? Era uma indagação lógica e própria do Seu caráter. Nunca se impunha, jamais exigia. Sempre ouvia o problema do sofredor, antes de o ajudar a solucioná-lo. Era o poema de ternura, que nunca perde a docilidade, nem se torna exigente. E eles responderam, imediatamente: - Que nos restituas a visão, permitindo-nos ver a claridade da luz.
Um silêncio incomum tomou conta da multidão. Jamais se cansariam aqueles indivíduos de ver a ação incomum e de ouvir a mensagem libertadora, que não souberam ou não quiseram utilizar conforme deveriam. No entanto, ali estavam, e isso é o que importava.
O Senhor se aproximou suavemente e tocou-lhes os olhos apagados. Uma onda de inexplicável energia penetrou-os, rompeu-lhes o véu da noite e a escuridão cedeu lugar à luz que os invadiu, provocando a princípio uma grande dor, logo seguida de inefável alegria... e O seguiram cantando hosanas!
A epopéia da Boa Nova, toda entretecida de lições verbais e de ações profundas de libertação, alcançava o máximo de realizações, a fim de que todos soubessem quem era o Cantor, e qual a canção que entoava, mas nem todos que O acompanhavam podiam entender e abandonar tudo que lhes constituía cárcere e retenção para O seguir depois em liberdade, embora anelassem por ela...
Jericó vira a cura do cego Bartimeu, que Lhe implorara a claridade exterior, mas não se sabe do que lhe aconteceu depois, se mergulhou no oceano das claridades espirituais ou se tombou nas sombras do prazer e da alucinação.
Zaqueu, também de Jericó, que O recebeu, quando lhe chegou a velhice e se desincumbiu dos deveres familiares, entregou-se-Lhe, tornando-se testemunha dEle, e narrando à posteridade a felicidade que lhe foi concedida ao tê-lO no lar. Os dois cegos do caminho recuperaram a visão, mas não se tem notícia de que se houveram embriagado da luz da imortalidade, ou se volveram à treva densa da alma...
O mundo de ontem, qual ocorre com o de hoje, estava dominado pela cegueira interior para as verdades espirituais, e por isso, os homens e mulheres do passado, perdidos na sombra de si mesmos, retornaram para o grande encontro com a Verdade, que ainda postergam.
A mensagem dEle volve às Suas criaturas distraídas, que lamentavelmente não têm ouvidos nem interesse para introjetá-la, tornando-a lição de vida atuante.
Iluminados pela ciência e pela tecnologia, com arsenais de filosofias e de belezas, centenas de milhões vêem, mas são cegos para seguirem pelo caminho de libertação que Ele continua apontando-lhes, por não identificarem que o seu piso é argamassado pelo amor e as suas bordas são construídas pelo perdão e pela caridade, conduzindo à paz.
Vêem, sim, mas não enxergam. Têm olhos que brilham, mas que ainda não perceberam a luz do discernimento nem da misericórdia.
Dia virá, no entanto, que repetirá para a Humanidade, a cena da Sua saída de Jericó, e os cegos bradarão: - Senhor, tem misericórdia de nós...
E Ele abrirá os olhos da alma de todos para a renovação e a vida eterna, no mundo de hoje, que faz lembrar da Jericó de ontem.

Amélia Rodrigues (espírito)
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 12 de julho de 2000, em Paramirim, Bahia.)
(*) Mateus: 20 - 29 a 34.Nota da Autora espiritual.