Um blog onde se respeita a diversidade religiosa,
o livre pensamento e o direito à expressão.
20 novembro 2009
19 novembro 2009
HISTÓRIAS DE CHICO
Na tarde de 28 de março de 1981, chovia muito em Uberaba.Pacientemente, Chico esperava que o aguaceiro passasse.A copa frondosa do abacateiro oferecia precário abrigo para todos os que ali nos reuníamos ávidos por aprender.A reportagem do programa "Fantástico", da TV Globo, do Rio de Janeiro, filmava tudo de dentro de um carro de aluguel.Como sempre, várias caravanas de diversos Estados, estavam presentes, notadamente de Curitiba, Paraná.A chuva amaina e o Sr. Weaker convida-nos ao início da reunião na Vila dos Pássaros Pretos.A prece, como de hábito, é proferida pelo prof. Thomaz.Chico toma a palavra e explica que o culto se divide em duas partes: a primeira, dos comentários em torno de uma página do Evangelho; a segunda, "o encontro com os amigos que nos hospedam..."."O Evangelho Segundo o Espiritismo" convida-nos a examinar o cap. 25, "Buscai e Achareis".Cada companheiro convidado aos comentários por orientação de Chico, não deve exceder ao tempo de quatro minutos, "para que tenhamos um maior número de opiniões em torno do texto lido".Uma confreira, fazendo uso da palavra, observa que "é pelo trabalho que caminhamos rumo à conquista do amor"; alguém assinala que o trabalho, conjugado à oração, constitui excelente antídoto contra a tentação; por nossa vez, acentuamos que o trabalho longe de ser uma expiação, é uma bênção de Deus. Gasparetto, também presente à tarefa, destaca o trabalho como terapia; D. Zibia Gasparetto, médium de psicografia que todos admiramos, adverte-nos para o trabalho de nos conhecermos intimamente; Langerton, o amigo de Peirópolis, diz que "o trabalho é a nossa âncora"; Márcia comenta que o "ajuda-te" é mensagem para que tenhamos iniciativa própria e que "o céu te ajudará" traduz a confiança que devemos depositar na providência divina...Apesar da chuva, os nossos irmãos carentes, entre eles muitas crianças e velhinhos, não arredaram o pé da fila que daí a instantes seria beneficiada com os óbulos da fraternidade, numa demonstração eloquente de que ali estão por necessidade e não por ociosidade, como divulgam alguns adversários da caridade.Agora, era chegado o grande momento: Chico Xavier, inspirado por Emmanuel, ia falar.Apesar de completamente ensopados, inclusive o Chico molhara-se um pouco, procuramos colocar-nos na máxima condição de receptividade para ouvir.Aos beijos do sol, um arco-íris emoldura o templo da natureza.Chico fala:"Estamos aqui reunidos, sob a chuva, para nos conhecer com mais segurança. Estamos numa hora de confrontação...Quantos não gostariam de estar trabalhando sob a chuva? Quantos enfrentam o problema da terra ressequida? A calamidade da seca é comparável a dos terremotos. Há mais de dois anos não chovia em sete Estados da Federação. Em João Molevade, Minas Gerais, centenas de operários lidam com o aço em fogo, nas grutas. Eu conheço moças que trabalham em boates para sustentar mães que estão em sanatórios....os que trabalham no clima da calúnia, em busca do numerário para obtenção do pão de cada dia...Nós não vamos esquecer essa chuva como lição-advertência.Hoje vamos retornar aos nossos lares com um conhecimento mais amplo de uns para com os outros...Pela primeira vez, há quinze dias, aconteceu um desastre com algumas companheiras nossas quando retornavam a São Paulo, após orarmos no Grupo Espírita da Prece. Muitos, certamente, irão falar...Mas estarão se esquecendo de agradecer os milhares de reuniões, dos dias em que não houve nada...A chuva é uma amiga que também veio enfeitar o nosso culto, para termos a sensação dos que estão debaixo das pontes, dos casebres, dos andarilhos...Esta, ao meu ver - encerrou o Chico - é a nossa maior lição desta tarde".Sim, não havia o que reclamar.E a chuva, na voz de Chico Xavier, transformara-se em lição.A água das nuvens lavara-nos o exterior, mas a água dos Céus carreara, com o enxurro, mais alguns dos detritos que enodoam as nossas almas.
(Do livro "Chico Xavier, à Sombra do Abacateiro", de Carlos Baccelli).
17 novembro 2009
TERREMOTO ESPIRITUAL
Tentando evitar tão desastrosa ocorrência, geólogos hábeis, utilizando-se de satélites especialmente equipados para o mapeamento da intimidade do planeta, recorrendo a raios infravermelhos e outros que podem alcançar as estruturas mais profundas, conseguiram identificar as falhas mais perigosas, como outras de menor monta, acompanhando com cuidadosa argúcia as alterações que ocorrem com o tempo, em tentativas de minimizar-lhes a ameaça de destruição. Todavia, periodicamente, sem qualquer prevenção, erupções vulcânicas produzem ressonâncias em várias regiões e terremotos devastadores assolam diferente áreas, reduzindo tudo a pó e destroços.
A inteligência humana, urbanizando lugares inóspitos, alteram-lhes a topografia e erguem cidades de expressiva beleza, lançando pontes grandiosas que atravessam lagos, pântanos e mares, facilitando a comunicação entre diferentes pontos terrestres.
Engenheiros civis e de cálculo constróem edifícios incomparáveis, alcançando as nuvens, e tomam providências para serem evitados desastres sísmicos, utilizando material e tecnologia invulgar.
Recentemente, as torres gêmeas Petronas, de Kuala Lumpar, na Malásia, atingiram a invejável altura de 452 metros, tornando-se o edifício mais alto do mundo...
O empenho humano para vencer as condições adversas que produzem os terremotos, como outros flagelos, é credor do maior respeito e consideração. Apesar disso, a agressão do próprio homem ao ecossistema estarrece, contribuindo para a morte, antes lenta e agora acelerada do planeta que habita, caso providências urgentes não o tornem consciente de sua responsabilidade.
Enquanto o ingente esforço de cientistas e tecnólogos, de estudiosos e trabalhadores cuida da beleza e comodidade externa da Terra, as paixões dissolventes oxidam os sentimentos, como ferrugem corrosiva emperrando equipamentos importantes.
A vulgaridade e o despudor alcançam índices jamais igualados e uma nuvem de miasmas morais intoxica as criaturas, enlouquecendo-as, atirando-as em abismos de dor e de sombra.
O materialismo e o utilitarismo dão-se as mãos e desgovernam as mentes e os corações, que perdem as diretrizes do comportamento, tombando em exaustão nas suas masmorras sem grades, porém, cruéis, de onde não há meio possível de fácil evasão...
Numa análise perfunctória, parece que o caos moral cresce ao lado das conquistas da comodidade e do poder, face à truculência, à bestialidade e ao horror que se desenvolvem e expandem, quase a passe de mágica.
É claro que não se podem ignorar, nesse, báratro, as realizações nobilitantes, as conquistas salvadoras e os passos gigantescos para o encontro com a vida fora da Terra...
São consideráveis os sacrifícios dos idealistas, de todos aqueles que promovem o progresso. No entanto, as hórridas ameaças morais vicejam ao lado, contrabalançando negativamente as elevadas realizações.
Numa revisão histórica, verificamos que, das maravilhas do mundo antigo, somente as pirâmides do Egito permaneceram até então.
O Colosso de Rodes, por exemplo, desapareceu nas águas do mar, após terremoto... e dos Jardins de Samíramis e dos Muros da Babilônia, do Farol de Alexandria, de 400 pés de altura, também varrido do solo, do Túmulo de Mausolo, do Templo de Artêmis em Éfeso, da Estátua de Zeus Olímpico, de Fídias, somente ficaram pedras calcinadas pelo tempo, demonstrando a fragilidade das construções humanas...
Na atualidade podem ser contempladas as suntuosas catedrais que foram erguidas no passado, os palácios e museus formidandos, assim como os edifícios modernos de incomparável beleza e luxo, os cassinos inigualáveis, os monumentos e obras de arte não superados, os engenhos da eletrônica e da cibernética, exaltando a glória da mente que voa no rumo do Infinito...
Concomitantemente, o despautério, a miséria, a hediondez dos vícios das drogas, do sexo, do medo e do pânico, da loucura e da insatisfação, aparecem com predominância, porque, esse ser humano, ainda não se identificou com o Herói Crucificado, o Construtor da Terra, que veio, mas não foi ouvido sequer, nem recebido.
Em Jerusalém, no passado, ante a exclamação dos discípulos emocionados pela grandeza do Templo da Salomão, suas pedras colossais, sua porta extraordinária, suas colunas majestosas seus átrios luminosos, Ele respondeu com tristeza na voz:
— Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada.
E o vaticínio aconteceu, permanecendo a área vazia da antiga e opulenta construção, de alguma coberta com novos edifícios sagrados .
Foram as guerras que se responsabilizaram por fazê-lo, como em muitos outros lugares, qual sucedeu com a Acrópole - ainda teimosamente em pé -, o Areópago, totalmente destruído, e outros...
Sobre essa paisagem trabalhada pelo homem, no entanto, pairam profecias sobre acontecimentos desastrosos, cuja concretização poderá ser evitada, se forem alteradas as condutas mental, moral e comportamental - a força que contribuirá para o equilíbrio do planeta e movimento sem choques das suas placas -, diluindo o anúncio das terríveis tragédias que poderão ocorrer.
Graças ao Espiritismo, vem acontecendo um terremoto que os sismógrafos não conseguiram detectar, mas que o psiquismo vem captando e dando-lhe curso - o de natureza espiritual.
Suave, a princípio, depois irrompendo de forma expressiva, irá derrubar os castelos de sonhos e de pesadelos do materialismo, do utilitarismo perverso, que cederão lugar à fraternidade verdadeira, à solidariedade legítima e ao amor sem fronteiras.
Tremem os alicerces dessas antigas construções que albergam o existencialismo e a negação de Deus, da alma e da Divina Justiça, estimulando ao gozo e à anarquia dos valores éticos.
Sopra já uma brisa de esperança sobre os escombros da mentalidade desvairada, que se desconecta ante as alterações provocadas pelo terremoto espiritual, encarregado de mudar as estruturas do pensamento anterior e ainda vigente, que tem retardado o crescimento moral da sociedade.
Esse está sendo o mais notável acontecimento da humanidade, nos tempos hodiernos, que assinalará época, porque renovará por completo as bases sociais e humanas do comportamento, abrindo espaço para um mundo novo e feliz.
Esse terremoto espiritual, que decorre da vivência digna da mediunidade, pode ser considerado como ajustador das placas colossais, que se movem e se chocam nas camadas profundas do inconsciente do ser, que se libertará dos vulcões do desespero, permitindo que surjam em toda parte as planícies da paz imorredoura, sob o canto sublime das vozes dos imortais.
Enquanto o ingente esforço de cientistas e tecnólogos, de estudiosos e trabalhadores cuida da beleza e comodidade externa da Terra, as paixões dissolventes oxidam os sentimentos, como ferrugem corrosiva emperrando equipamentos importantes.
Leopoldo Machado (espírito )
*Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 01/07/1998. No Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador - BA.
16 novembro 2009
A RAZÃO DE SER DO ESPIRITISMO
Realizando uma revolução silenciosa como poucas jamais ocorridas na História, tornou-se poderosa alavanca para o soerguimento do ser humano, retirando-o do caos do materialismo a que se arrojara ou fora atirado sem a menor consideração, para que adquirisse a dignidade ética e cultural, fundamentada na identificação dos valores morais, indispensável para a identificação dos objetivos essenciais e insuperáveis da paz interna e da consciência de si mesmo durante o trânsito corporal.
Logo depois, no Collège de France, proclamando ser Jesus um homem incomparável, no seu memorável discurso, o acadêmico e imortal Ernesto Renan confirmava, a seu turno, embora sem qualquer contato com a Doutrina nascente, a humanidade do Rabi galileu, rompendo a tradição dogmática do Homem Deus ou do ancestral Deus feito homem.
Sob a ação do escopro inexorável das informações de além-túmulo, o decantado repouso ou punição eterna, o arbitrário julgamento mais punitivo que justiceiro, cediam lugar à consciência da vida exuberante que prossegue morte afora impondo a cada qual a responsabilidade pela conduta mantida durante a trajetória encerrada.
As narrações da sobrevivência tocadas pela legitimidade dos fatos fundamentadas na lógica da indestrutibilidade do ser espiritual, davam colorido diferente às paisagens da Eternidade, diluindo as fantasias e mitos que as adornaram por diversos milênios.
Permitiu que o ser humano se redescobrisse como Espírito imortal que é, preexistente ao berço e sobrevivente ao túmulo, facultando-lhe compreender a finalidade existencial, que é imergir no oceano do inconsciente, onde dormem os atos pretéritos e as construções que projetam diretrizes para o momento e o futuro, a fim de diluir as volumosas barreiras de sombra e de crueldade a que se entregou e que lhe obnubila a compreensão da sua realidade, emergindo em triunfo, para que lobrigue a imarcescível luz da verdade que o há de conduzir pelos infinitos roteiros do porvir.
Intoxicado pelos vapores da organização fisiológica, mergulhado em sombras que lhe impedem o discernimento, vagando pelos dédalos intérminos da busca da realidade, somente ao preço da fé raciocinada e lógica, portadora dos instrumentos que se derivam dos fatos constatados, o homem e a mulher podem avançar com destemor pelas trilhas dos sofrimentos inevitáveis, que são inerentes à sua condição de humanidade, vislumbrando níveis mais nobres que devem ser conquistados.
O Espiritismo traçou novos programas para a compreensão da vida e a mais eficazmaneira de enfrentá-la, desafiando o materialismo no seu reduto e os materialistas no seu cepticismo, oferecendo-lhes mais seguras propostas de comportamento para a felicidade ante as vicissitudes do processo existencial.
Não se compadecendo da presunção dos vazios de sentimento e soberbos de conhecimentos em ebulição de idéias, demonstrou a sua força arrastando desesperados que foram confortados, violentos que se acalmaram, alucinados que recuperaram a razão, delinqüentes que volveram ao culto do dever, perversos que se transformaram, ateus que fizeram as pazes com Deus, ingratos que se reabilitaram perante os seus benfeitores, miseráveis morais que se enriqueceram de esperança e de alegria de viver, construindo juntos o mundo de bem-estar por todos anelado.
O Espiritismo trouxe a perfeita mensagem da justiça divina, por enquanto mal traduzida pela consciência humana, contribuindo para a transformação da sociedade, mas sem a revolução sangrenta das paixões em predomínio, que sempre impõe uma classe poderosa sobre as outras que são debilitadas à medida que vão sendo extorquidos os seus parcos recursos até a exaustão das suas forças, quando novas revoluções do mesmo gênero explodem, produzindo desgraça e ódios que nunca terminam . . .
Trabalhando a transformação moral do indivíduo, propõe-lhe o comportamento solidário e fraternal, a aplicação da justiça corretiva e reeducativa quando delinqüi, conscientizando-o de que as suas ações serão também os seus juízes e que não fugirá de si mesmo onde quer que vá.
Todo esse contributo moral foi retirado do Evangelho de Jesus, especialmente do Seu Sermão da montanha, no qual reformulou os valores humanos até então aceitos, demonstrando que forte não é o vencedor de fora, mas aquele que se vence a si mesmo, e poderoso, no seu sentido profundo, não é aquele que mata corpos, mas não é capaz de evitar a própria morte.
Revolucionando o pensamento ético e abrindo espaço para novo comportamento filosófico, a Sua palavra vibrante e a Sua vivência inigualável, colocaram as pedras básicas para o Espiritismo no futuro alicerçar, conforme ocorreu, os seus postulados morais através da ética do amor sob qualquer ponto de vista considerado.
Nos acampamentos de lutas que se estabeleciam no Século XIX, quando a ciência e a razão enfrentavam a fé cega e a prepotência das Academias e dos seus membros fascinados como Narciso por si mesmo, o Espiritismo surgiu como débil claridade na noite das ambições perturbadoras e lentamente se afirmou como amanhecer de um novo dia para a Humanidade já cansada de aberrações de conduta como fugas da realidade e sonhos de poder transitório, transformados em pesadelos de guerras infames, cujas seqüelas ainda se demoram trucidando vidas e dilacerando sentimentos.
A razão de ser do Espiritismo encontra-se na sua estrutura doutrinária, diversificada nos seus aspectos de investigação científica ao lado das demais correntes da ciência, do comportamento filosófico com a sua escola otimista e realista para o enfrentamento do ser consigo mesmo e da vivência ético-moral-religiosa que se estrutura em Deus, na imortalidade, na justiça divina, na oração, na ação do bem e sobretudo do amor, única psicoterapia preventiva-curativa à disposição da Humanidade atual e do futuro.
Victor Hugo (espírito)
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 7 de junho de 2001, em Paris, França)
13 novembro 2009
SINTOMAS DE MEDIUNIDADE
À medida que se aprimoram os sentidos sensoriais, favorecendo com mais amplo cabedal de apreensão do mundo objetivo, amplia-se a embrionária percepção extrafísica, ensejando o surgimento natural da mediunidade.
Não poucas vezes, é detectada por características especiais que podem ser confundidas com síndromes de algumas psicopatologias que, no passado, eram utilizadas para combater a sua existência.
Não obstante, graças aos notáveis esforços e estudos de Allan Kardec, bem como de uma plêiade de investigadores dos fenômenos paranormais, a mediunidade vem podendo ser observada e perfeitamente aceita com respeito, face aos abençoados contributos que faculta ao pensamento e ao comportamento moral, social e espiritual das criaturas.
Sutis ou vigorosos, alguns desses sintomas permanecem em determinadas ocasiões gerando mal-estar e dissabor, inquietação e transtorno depressivo, enquanto que, em outros momentos, surgem em forma de exaltação da personalidade, sensações desagradáveis no organismo, ou antipatias injustificáveis, animosidades mal disfarçadas, decorrência da assistência espiritual de que se é objeto.
Muitas enfermidades de diagnose difícil, pela variedade da sintomatologia, têm suas raízes em distúrbios da mediunidade de prova, isto é, aquela que se manifesta com a finalidade de convidar o Espírito a resgates aflitivos de comportamentos perversos ou doentios mantidos em existências passadas. Por exemplo, na área física: dores no corpo, sem causa orgânica; cefalalgia periódica, sem razão biológica; problemas do sono - insônia, pesadelos, pavores noturnos com sudorese -; taquicardias, sem motivo justo; colapso periférico sem nenhuma disfunção circulatória, constituindo todos eles ou apenas alguns, perturbações defluentes de mediunidade em surgimento e com sintonia desequilibrada. No comportamento psicológico, ainda apresentam-se: ansiedade, fobias variadas, perturbações emocionais, inquietação íntima, pessimismo, desconfianças generalizadas, sensações de presenças imateriais - sombras e vultos, vozes e toques - que surgem inesperadamente, tanto quanto desaparecem sem qualquer medicação, representando distúrbios mediúnicos inconscientes, que decorrem da captação de ondas mentais e vibrações que sincronizam com o perispírito do enfermo, procedentes de Entidades sofredoras ou vingadoras, atraídas pela necessidade de refazimento dos conflitos em que ambos - encarnado e desencarnado - se viram envolvidos.
Esses sintomas, geralmente pertencentes ao capítulo das obsessões simples, revelam presença de faculdade mediúnica em desdobramento, requerendo os cuidados pertinentes à sua educação e prática.
Nem todos os indivíduos, no entanto, que se apresentam com sintomas de tal porte, necessitam de exercer a faculdade de que são portadores. Após a conveniente terapia que é ensejada pelo estudo do Espiritismo e pela transformação moral do paciente, que se fazem indispensáveis ao equilíbrio pessoal, recuperam a harmonia física, emocional e psíquica, prosseguindo, no entanto, com outra visão da vida e diferente comportamento, para que não lhe aconteça nada pior, conforme elucidava Jesus após o atendimento e a recuperação daqueles que O buscavam e tinham o quadro de sofrimentos revertido.
Grande número, porém, de portadores de mediunidade, tem compromisso com a tarefa específica, que lhe exige conhecimento, exercício, abnegação, sentimento de amor e caridade, a fim de atrair os Espíritos Nobres, que se encarregarão de auxiliar a cada um na desincumbência do mister iluminativo.
Trabalhadores da última hora, novos profetas, transformando-se nos modernos obreiros do Senhor, estão comprometidos com o programa espiritual da modificação pessoal, assim como da sociedade, com vistas à Era do Espírito imortal que já se encontra com os seus alicerces fincados na consciência terrestre.
Quando, porém, os distúrbios permanecerem durante o tratamento espiritual, convém que seja levada em conta a psicoterapia consciente, através de especialistas próprios, com o fim de auxiliar o paciente-médium a realizar o autodescobrimento, liberando-se de conflitos e complexos perturbadores, que são decorrentes das experiências infelizes de ontem como de hoje.
O esforço pelo aprimoramento interior aliado à prática do bem, abre os espaços mentais à renovação psíquica, que se enriquece de valores otimistas e positivos que se encontram no bojo do Espiritismo, favorecendo a criatura humana com alegria de viver e de servir, ao tempo que a mesma adquire segurança pessoal e confiança irrestrita em Deus, avançando sem qualquer impedimento no rumo da própria harmonia.
Naturalmente, enquanto se está encarnado, o processo de crescimento espiritual ocorre por meio dos fatores que constituem a argamassa celular, sempre passível de enfermidades, de desconsertos, de problemas que fazem parte da psicosfera terrestre, face à condição evolutiva de cada qual.
A mediunidade, porém, exercida nobremente se torna uma bandeira cristã e humanitária, conduzindo mentes e corações ao porto de segurança e de paz.
A mediunidade, portanto, não é um transtorno do organismo. O seu desconhecimento, a falta de atendimento aos seus impositivos, geram distúrbios que podem ser evitados ou, quando se apresentam, receberem a conveniente orientação para que sejam corrigidos.
Tratando-se de uma faculdade que permite o intercâmbio entre os dois mundos - o físico e o espiritual - proporciona a captação de energias cujo teor vibratório corresponde à qualidade moral daqueles que as emitem, assim como daqueloutros que as captam e as transformam em mensagens significativas.
Nesse capítulo, não poucas enfermidades se originam desse intercâmbio, quando procedem as vibrações de Entidades doentias ou perversas, que perturbam o sistema nervoso dos médiuns incipientes, produzindo distúrbios no sistema glandular e até mesmo afetando o imunológico, facultando campo para a instalação de bactérias e vírus destrutivos.
A correta educação das forças mediúnicas proporciona equilíbrio emocional e fisiológico, ensejando saúde integral ao seu portador.
É óbvio que não impedirá a manifestação dos fenômenos decorrentes da Lei de Causa e Efeito, de que necessita o Espírito no seu processo evolutivo, mas facultará a tranqüila condução dos mesmos sem danos para a existência, que prosseguirá em clima de harmonia e saudável, embora os acontecimentos impostos pela necessidade da evolução pessoal.
Cuidadosamente atendida, a mediunidade proporciona bem-estar físico e emocional, contribuindo para maior captação de energias revigorantes, que alçam a mente a regiões felizes e nobres, de onde se podem haurir conhecimentos e sentimentos inabituais, que aformoseiam o Espírito e o enriquecem de beleza e de paz.
Superados, portanto, os sintomas de apresentação da mediunidade, surgem as responsabilidades diante dos novos deveres que irão constituir o clima psíquico ditoso do indivíduo que, compreendendo a magnitude da ocorrência, crescerá interiormente no rumo do Bem e de Deus.
Manoel P. de Miranda(espírito)
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 10 de julho de 2000, em Paramirim, Bahia).
11 novembro 2009
A CABANA E O SALÃO
Revista Espírita, dezembro de 1862
Estudo de costumes espíritas.
Reencontramos, em nossa correspondência antiga, a carta seguinte, que vem a propósito depois do artigo precedente.
Paris, 29 de julho de 1860.
Senhor, tomo a liberdade de vos comunicar as reflexões que me sugeriram dois fatos observados por mim mesmo, e que poderiam' corretamente, penso, ser qualificados de estudos de costumes espíritas. Vereis por aí que os fenômenos morais não são sem valor para mim; depois que me entreguei ao estudo do Espiritismo, parece-me que vejo cem vezes mais coisas do que antes; tal fato ao qual não teria dado nenhuma atenção, leva-me hoje a refletir; eu estou, poderia dizer, diante de um espetáculo perpétuo, onde cada indivíduo tem o seu papel, e me oferece um enigma a decifrar; é verdadeiro dizer que os há tão fáceis quando se possui a admirável chave do Espiritismo, que não se tem grande mérito; mas não oferecem senão mais interesse, porque com o Espiritismo encontra-se como num país no qual se compreende a língua. Tornei-me meditativo e observador, porque tudo para mim agora tem a sua causa; os mil e um fatos que outrora me pareciam o produto do acaso e passavam por mim desapercebidos, hoje têm sua razão de ser e sua utilidade; um nada, na ordem moral, atrai minha atenção e me é uma lição. Mas esqueço que é a propósito de uma lição que quero conversar convosco. Sou professor de piano; há algum tempo, indo à casa de uma de minhas alunas que pertence a uma família da sociedade, entrei na portaria, não me lembrando mais por qual motivo. É uma senhora de mão fechada sobre o quadril, que não foi desqualificada nem no físico e nem no moral, ocupando um quarto de porteiro. Eu a vi repreender de importância sua filha, menina de uns quinze anos, cujas maneiras fazem um contraste evidente com a mãe. "Que fez, pois, a senhorita Justine, disse-lhe, para excitar a esse ponto vossa cólera? - Não me faleis disso, senhor, essa resmungona se achou de dar-se ares de duquesa! A senhorita não gosta de lavar a louça; ela acha que isso lhe estraga as mãos, que isso cheira mal, ela que foi educada com as vacas na casa de sua avó; teme de lhe sujar as unhas; e são necessárias essências em seu lenço! Dar-te-ei essências, eu!" Ali, uma vigorosa bofetada fá-la recuar quatro passos. "Ah! é que, vede, meu pequeno senhor, é preciso corrigir as crianças quando são jovens; jamais estraguei os meus, todos os meus rapazes são bons operários, será preciso que esta mulher afetada e ridícula perca seus ares de grande dama." Depois de ter dado alguns conselhos de doçura à mãe e de docilidade à filha, subi para minha aluna sem dar importância a essa cena de família. Lá, por uma singular coincidência, vi a contrapartida. A mãe, mulher da sociedade e de boas maneiras, ralhava também com sua filha, mas por um motivo todo oposto. "Mas, dominai-vos, pois, como é preciso, Sophie, dizia-lhe; tendes um verdadeiro jeito de cozinheira; isso não é de admirar, tendes uma predileção toda particular pela cozinha, onde parece terdes maior prazer do que no salão.
Eu vos asseguro que Justine, a filha do porteiro, vos faria vergonha; verdadeiramente, dirse-ia que vos transformastes em ama-de-leite."
Jamais dera atenção a essas particularidades; foi preciso aproximar as duas cenas para me fazer notá-las. A senhorita Sophie, minha aluna, é uma jovem de dezoito anos, bastante bonita, mas seus traços têm alguma coisa de vulgar; todas as suas maneiras são comuns e sem distinção; seu jeito, seus movimentos têm alguma coisa de pesado e de desajeitado; ignorava seus pendores para a cozinha. Pus-me então a compará-la à pequena Justine de instinto tão aristocráticos, e me perguntava se não estava ali um exemplo surpreendente
das tendências inatas, uma vez que, nessas duas jovens, a educação foi impotente para modificá-las. Por que uma, elevada ao seio da opulência e do bom tom, tem gostos e maneiras vulgares, ao passo que a outra que, desde sua infância, viveu no meio mais rústico, tem o sentimento da distinção e das coisas delicadas, apesar das correções de sua mãe para fazer-lhe perder o hábito? Ó filósofos! que quereis sondar as dobras do coração humano, explicai, pois, esses fenômenos sem as existências anteriores; para mim, é indubitável que essas duas jovens têm os instintos daquilo que foram. Que pensais disto,caro mestre?
Aceitai, D.......
Pensamos que a senhorita Justine, a porteira, podia bem ser uma variante do que disse Charles Fourier: 'Vêem-se todos os dias pessoas irem pedir a caridade à porta dos castelos dos quais foram as proprietárias em suas vidas precedentes." Quem sabe se a senhorita Justine não foi a senhora nessa mansão, e a senhorita Sophie, a grande senhora, sua porteira? Esta idéia é revoltante para certas pessoas que não podem se dar a pensar terem podido ser menos do que são hoje, ou de se tornarem criados de seus criados; por que então em que se tornam a raça de puro sangue, que se tomou tanto cuidado em não casar
em desigualdade? Consolai-vos; o sangue de vossos antepassados pode correr em vossas veias, porque o corpo procede do corpo. Quanto ao Espírito, é outra coisa; mas o que fazer se é assim? Não é porque um homem esteja contrariado com a chuva que isso impedirá de chover. É humilhante, sem dúvida, pensar que o senhor possa se tornar servidor, e o rico, mendigo; mas nada é mais fácil do que impedir que isso seja assim; não há senão que não ser vão e orgulhoso, e não se será rebaixado; de ser bom e generoso, e não se será reduzido a pedir o que se recusou aos outros. Ser punido por onde se pecou, não é a mais justa das justiças? Sim, de grande se pode tornar pequeno, mas quando se foi bom não
pode-se tornar mau; ora, não vale mais ser um honesto proletário do que um rico vicioso?