Revista Espírita, julho de 1862
Não há ninguém que não tenha notado o quanto as coisas mudam de aspecto, segundo o ponto de vista sob o qual são consideradas; não é somente o aspecto que se modifica, mas ainda a própria importância da coisa. Que se coloque no centro de um meio qualquer, fosse ele pequeno, parece imenso; que se coloque fora, parecerá todo outro. Tal que vê uma coisa do alto de uma montanha a acha insignificante, enquanto que, na base da montanha, lhe parece gigantesca.
Isto é um efeito de ótica, mas que se aplica igualmente às coisas morais. Ficai um dia inteiro no sofrimento, ele vos parecerá eterno; à medida que esse dia se afasta de vós, vos admirais de ter podido vos desesperar por tão pouco. Os pesares da infância têm também sua importância relativa, e, para a criança, são todos tão amargos quanto os da idademadura. Por que, pois, nos parecem tão fúteis? Porque não o somos mais, ao passo que a criança o é inteiramente, e não vê além de seu pequeno círculo de atividade; ela os vê do interior, nós os vemos do exterior. Suponhamos um ser colocado, em relação a nós, na posição em que estamos em relação à criança, ele julgará nossos cuidados do mesmo ponto
de vista, e os achará pueris.
Um carreteiro é insultado por um carreteiro; eles discutem e se batem; que um grande senhor seja injuriado por um carreteiro, com isso não se crera ofendido, e não se baterá com ele. Por que isto? Porque se coloca fora de sua esfera: Crê-se de tal modo superior que a ofensa não pode atingi-lo; mas que ele desça ao nível de seu adversário, que se coloque, pelo pensamento, no mesmo meio, e se baterá. O Espiritismo nos mostra uma aplicação desse princípio, se bem que de outro modo importante em suas conseqüências. Faz-nos ver a vida terrestre por aquilo que ela é, nos colocando no ponto de vista da vida futura; pelas provas materiais que dela nos fornece, pela intuição límpida, precisa, lógica que dela nos dá, pelos exemplos que coloca sob nossos olhos, e a ela nos transporta pelo pensamento: é vista, é compreendida; não é mais essa noção vaga, incerta, problemática, que se nos ensina do futuro, e que, involuntariamente, deixa dúvidas; para o Espírita, é uma certeza adquirida, é uma realidade.
Faz mais ainda: mostra-nos a vida da alma, o ser essencial, uma vez que é o ser pensante, remontando no passado a uma época desconhecida, e se estendendo indefinidamente no futuro, de tal sorte que a vida terrestre, fosse ela de um século, não é mais do que um ponto nesse longo percurso. Se a vida inteira é tão pouca coisa, comparada à vida da alma, que serão, pois, os incidentes da vida? E, no entanto, o homem, colocado no centro desta vida, com ela se preocupa como se devesse durar sempre; tudo toma para ele proporções colossais: a menor pedra que o choque lhe parece um rochedo; uma decepção o desespera;
um fracasso o abate; uma palavra coloca-o furioso. Sua visão, limitada ao presente, ao que o toca imediatamente, lhe exagera a importância dos menores incidentes; um negócio não realizado lhe tira o apetite; uma questão de precedência é um negócio de Estado; uma injustiça coloca-o fora de si. Conseguir é o objetivo de todos os seus esforços, objeto de todas as suas combinações; mas, para a maioria, o que é conseguir? É, se não se tem do
que viver, se criar, por meios honestos, uma existência tranqüila? E a nobre emulação de adquirir talento e desenvolver sua inteligência? É o desejo de deixar, depois de si, um nome justamente honrado, e realizar trabalhos úteis para a Humanidade? Não; conseguir, é superar seu vizinho, eclipsá-lo, é afastá-lo, transtorná-lo mesmo, para se colocar em seu lugar; e, por esse belo triunfo, do qual a morte não deixará talvez gozar vinte e quatro horas, que de cuidados, que de tributações! Quanto de gênio mesmo dispensa, algumas
vezes, que teria podido ser mais utilmente empregado! Depois, quanto de raiva, quanto de insônias se não se triunfa! Que febre de ciúme causa o sucesso de um rival! Então, prendese à sua má estrela, à sua sorte, à sua chance fatal, ao passo que a má estrela, o mais freqüentemente, é a imperícia e a incapacidade. Dir-se-á, verdadeiramente, que o homem toma a tarefa de tornar tão penosos quanto possível os poucos instantes que deve passar sobre a Terra, e dos quais não é senhor, uma vez que o dia de amanhã jamais está assegurado.
Quanto todas essas coisas mudam de face, quando, pelo pensamento, o homem sai do estreito vale da vida terrestre, e se eleva na radiosa, esplêndida e incomensurável vida de além-túmulo! Quanto então, toma em piedade os tormentos que se criou à toa! Quanto, então, lhe parecem mesquinhas e pueris as ambições, os ciúmes, as suscetibilidades, as vãs satisfações do orgulho! Parece-lhe da idade madura considerar as brincadeiras da infância; do alto de uma montanha, considerar os homens no vale. Partindo deste ponto de vista,
torna-se, voluntariamente, o joguete de uma ilusão? Não; ao contrário, está na realidade, na verdade, e a ilusão, para ele, é quando vê as coisas do ponto de vista terrestre. Com efeito, não há ninguém sobre a Terra que não ligue mais importância ao que, para ele, deve durar muito tempo, do que ao que não deve durar senão um dia; que não prefere uma felicidade durável a uma alegria efêmera. Inquieta-se pouco com um desagrado passageiro; o que interessa acima de tudo é a situação normal. Se pois, eleva-se seu pensamento de
modo a abarcar a vida da alma, forçosamente, chega-se a esta conseqüência, de que assim se percebe a vida terrestre como uma estação momentânea; que a vida espiritual é a vida real, porque ela é indefinida; que a ilusão é a de tomar a parte pelo todo, quer dizer, a vida do corpo, que não é senão transitória, pela vida definitiva. O homem que não considera as coisas senão do ponto de vista terrestre é como aquele que, estando no interior de uma casa, não pode julgar nem da forma, nem da importância do edifício; julga sobre as falsas aparências, porque não pode ver tudo; ao passo que aquele que vê de fora, só ele podendo
julgar o conjunto, julga mais sadiamente. Para ver as coisas desta maneira, dir-se-á, é preciso uma inteligência pouco comum, um espírito filosófico que não se saberia encontrar nas massas; de onde seria preciso concluir que, com poucas exceções, a Humanidade se arrastará sempre no terra-a-terra. É um erro;
para se identificar com a vida futura não é preciso uma inteligência excepcional, nem grandes esforços de imaginação, porque cada um dela leva consigo a intuição e o desejo; mas a maneira pela qual se a apresenta, geralmente, é muito pouco sedutora, uma vez que oferece por alternativa as chamas eternas ou uma contemplação perpétua, o que faz com que muitos achem o nada preferível; de onde a incredulidade absoluta em alguns, e a
dúvida na maioria. O que faltou até o presente foi a prova irrecusável da vida futura, e esta prova o Espiritismo vem dá-la, não mais por uma teoria vaga, mas por fatos patentes. Bem mais, mostra tal como a razão, a mais severa, pode aceitá-la, porque explica tudo, justifica tudo, e resolve todas as dificuldades. Por isso mesmo é que ela é clara e lógica, e está ao alcance de todo o mundo; eis porque o Espiritismo conduz à crença tantas pessoas que dela tinham se afastado. A experiência demonstra, cada dia, que o simples artesão, que os
camponeses sem instrução, compreendem esse raciocínio sem esforços; colocam-se nesse novo ponto de vista tanto mais de boa vontade quanto nele encontram, como todas as pessoas infelizes, uma imensa consolação, e a única compensação possível em sua penosa e laboriosa existência. Se esta maneira de encarar as coisas terrestres se generalizasse, não teria por conseqüência destruir a ambição, estimulando grandes empreendimentos, trabalhos mais úteis, mesmo obras de gênio? Se a Humanidade inteira não pensasse mais senão na vida futura tudo não periclitaria neste mundo? Que fazem os monges nos conventos, se não é se ocupar exclusivamente do céu? Ora, em que se tornaria a Terra se todo mundo se fizesse monge?
Um tal estado de coisas seria desastroso, e os inconvenientes maiores do que se pensa, porque os homens a perderiam sobre a Terra e não ganhariam nada dela no céu; mas o resultado do princípio que expomos é inteiramente outro para quem não a compreenda pela metade, assim como a explicamos. A vida corpórea é necessária ao Espírito, ou à alma, o que é a mesma coisa, para que possa cumprir no mundo material as funções que lhe são destinadas pela Providência: é um dos órgãos da harmonia universal. A atividade que está forçada a desdobrar nas funções que exerce com o seu desconhecimento, crendo não agir senão por si mesma, que ajuda o desenvolvimento de sua inteligência e facilita seu adiantamento. A felicidade do Espírito na vida espiritual, sendo proporcional ao seu adiantamento e ao bem que pôde fazer como homem, disso resulta que quanto mais a vida espiritual adquire importância aos olhos do
homem, mais ele sente a necessidade de fazer o que for possível para nela assegurar o melhor lugar possível. A experiência daqueles que viveram vem provar que uma vida terrestre inútil ou mal empregada é sem proveito para o futuro, e que aqueles que não procuram neste mundo senão as satisfações materiais as pagam bem caro, seja pelos seus sofrimentos no mundo dos Espíritos, seja pela obrigação, em que estão, de recomeçar sua tarefa em condições mais penosas do quê no passado, e tal é o caso de muitos daqueles
que sofrem sobre a Terra. Portanto, considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extra-corpóreo, o homem, longe de ser excitado pela negligência e pela ociosidade, compreende melhor a necessidade do trabalho. Falando do ponto de vista terrestre, esta necessidade é uma injustiça, aos seus olhos, quando se compara com aqueles que podem viver sem fazer nada: tem-lhes ciúme, os inveja. Falando do ponto de vista espiritual, esta necessidade tem sua razão de ser, sua utilidade, e a aceita sem murmurar, porque compreende que, sem trabalho, ficaria indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade suprema a que aspira, e que não saberia esperar se não se desenvolve
intelectualmente e moralmente. Sob este aspecto, muitos monges nos parecem mal compreenderem o objetivo da vida terrestre, e ainda menos as condições da vida futura. Pela seqüestração, se privam dos meios de se tornarem úteis aos seus semelhantes, e muitos daqueles que estão hoje no mundo dos Espíritos, nos confessaram estar estranhamente enganados, e sofrer as conseqüências de seus erros. Este ponto de vista tem para o homem uma outra conseqüência imensa e imediata: é a de lhe tornar mais suportáveis as tribulações da vida. Que ele procure se proporcionar o bemestar, a passar o mais agradavelmente possível o tempo de sua existência sobre a Terra, é muito natural e nada o proíbe. Mas, sabendo que não está neste mundo senão momentaneamente, que um futuro melhor o espera, atormenta-se pouco com as decepções que experimenta, e, vendo as coisas do alto, toma seus fracassos com menos amargura; permanece indiferente aos tormentos dos quais é alvo da parte dos invejosos e dos
ciumentos; reduz ao seu justo valor os objetos de sua ambição, e se coloca acima das pequenas suscetibilidades do amor-próprio. Livre dos cuidados que se crê o homem que não sai de sua estreita esfera, pela perspectiva grandiosa que se abre diante dele, não é senão mais livre para se entregar a um trabalho proveitoso para si mesmo e para os outros. As afrontas, as diatribes, as maldades de seus inimigos não são para ele senão imperceptíveis nuvens num imenso horizonte; não se inquieta mais do que as moscas que zumbem aos
seus ouvidos, porque sabe que delas logo estará livre; também todas as pequenas misérias que se lhe suscita, escorregam sobre ele como a água sobre o mármore. Colocando-se do ponto de vista terrestre, com isso se irritaria, disso se vingaria talvez; do ponto de vista extra-terrestre, os despreza como salpicos de um mal-estar passageiro. Esses são espinhos lançados sobre sua senda, e sobre os quais passa, sem mesmo se dar ao trabalho de afastálos, para não demorar sua caminhada para o objetivo mais sério que se propôs alcançar.
Longe de querer o mesmo aos seus inimigos, ele lhes sabe agradecer por fornecer-lhe a ocasião de exercer a sua paciência a e sua moderação, em proveito de seu adiantamento futuro, ao passo que disso perderia o fruto se se rebaixasse em represálias. Lamenta-os por se darem a tantas penas inúteis, e se diz que são eles mesmos que caminham sobre os espinhos pelos cuidados que tomam para fazer o mal. Tal é o resultado da diferença do ponto de vista sob o qual se considera a vida: um vos dá confusões e ansiedade; o outro a calma e a serenidade. Espíritas que sentis decepções, deixai um instante a Terra, pelo
pensamento; subi às regiões do infinito e olhai do alto: vereis o que elas serão.
Diz-se algumas vezes. Vós que sois infelizes, olhai abaixo de vós e não acima, e com isso vereis mais infelizes ainda. Isto é muito verdadeiro, mas muitas pessoas se dizem que o mal dos outros não cura o seu. O remédio não está sempre senão na comparação, e ocorre para os quais é difícil não olhar para o alto e dizer-se: "Por que este tem o que não tenho?" Ao passo que se colocando no ponto de vista do qual falamos, aquele em que, forçosamente, estaremos um pouco à frente, se está, muito naturalmente, acima daqueles que poderíamos invejar, porque, daí, os maiores parecem bem pequenos. Lembramo-nos de ter visto representar no Odéon, há uns quarenta anos, uma peça em um ato, intitulada lês Ephémères, não sabemos mais de que autor; mas, embora jovem então, ela nos causou uma viva impressão. A cena se passava no país dos Ephémères, cujos habitantes não vivem senão vinte e quatro horas. No espaço de um ato, se os vê passar do berço à adolescência, à juventude, à idade madura, à velhice, à decrepitude e à morte. Nesse intervalo, cumprem todos os atos da vida: batismo, casamento, negócios civis e governamentais, etc.; mas como o tempo é curto e as horas contadas, é preciso se apressar; também tudo se faz com uma rapidez prodigiosa, o que não lhes impede de se ocupar de intrigas, e de se darem muito trabalho para satisfazer sua ambição, e se
superarem uns aos outros. Esta peça, como se vê, encerrava um pensamento
profundamente filosófico, e involuntariamente o espectador, que via num instante se desenrolar todas as fases de uma existência bem cheia, se punha a dizer: Quanto essas pessoas são tolas em se darem tanto mal por tão pouco tempo que têm para viver! Que lhes resta das confusões de uma ambição de algumas horas? Não fariam melhor viveremem paz? Está bem aí o quadro da vida humana vista do alto. A peça, no entanto, não viveu pouco mais que seus heróis: não foi compreendida. Se o autor vivesse ainda, o que ignoramos , provavelmente hoje seria espírita.
A.K.
Um blog onde se respeita a diversidade religiosa,
o livre pensamento e o direito à expressão.
02 setembro 2009
01 setembro 2009
CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM TÚMULO
Revista Espírita, junho de 1862
Sr. Sanson.
(Sociedade Espírita de Paris, 25 de abril de 1862. - Médium, Sr. Leymarie. Segunda entrevista. Vide a Revista de maio de 1862).
1. Evocação. - R. Meus amigos, estou junto a vós. 2. Estamos bem felizes com a conversa que tivemos convosco no dia de vossosepultamento, e uma vez que o permitis, estamos encantados em completá-la para nossa instrução. - R. Estou todo preparado, feliz por que pensais em mim. 3. Tudo o que pode nos esclarecer sobre o estado do mundo invisível, e nos fazer compreendê-lo, é de um alto ensinamento, porque é a idéia falsa que dele se faz que, o mais freqüentemente, leva à incredulidade. Não vos surpreendais com as perguntas que poderemos vos dirigir. - R. Com elas não ficarei admirado, e espero as vossas perguntas.
4. Descrevestes com uma luminosa claridade a passagem da vida à morte; dissestes que no momento em que o corpo dá seu último suspiro, a vida se rompe, e que a visão do Espírito se extingue. Esse momento é acompanhado de uma sensação penosa, dolorosa? - R. Sem dúvida, porque a vida é uma seqüência contínua de dores, e a morte é o complemento de todas as dores; daí um dilaceramento violento, como se o Espírito tivesse que fazer um esforço sobre-humano para escapar de seu envoltório, e é esse esforço que absorve todo o nosso ser e lhe faz perder o conhecimento do que se torna.
Nota. - Este caso não é geral. A separação pode se fazer com um certo esforço, mas a experiência prova que nem todos os Espíritos dela têm consciência, porque muitos perdem todo conhecimento antes de expirar; as convulsões da agonia são, o mais freqüentemente, puramente físicas. O Sr. Sanson apresentou um fenômeno bastante raro, o de ser, por assim dizer, testemunha de seu último suspiro.
5. Sabeis se há Espíritos para os quais esse momento é mais doloroso? É mais penoso, por exemplo, para o materialista, para aquele que crê que tudo acaba nesse momento para ele? - R. Isto é certo, porque o Espírito preparado já esqueceu o sofrimento, ou antes, dele tem o hábito, e a quietude com a qual vê a morte, impede-o de sofrer duplamente, uma vez que sabe o que o espera. A pena moral é a mais forte, e sua ausência no instante da morte é uma alívio bem grande. Aquele que não crê assemelha-se a esse condenado à pena capital, e cujo pensamento vê a faca e o desconhecido. Há semelhança entre essa morte e a do ateu.
6. Há materialistas bastante endurecidos para crerem seriamente que, nesse momento supremo, vão ser mergulhados no nada? - R. Sem dúvida, até a última hora há os que crêem no nada; mas no momento da separação, o Espírito tem um retorno profundo; a dúvida se apodera dele e o tortura, porque a si mesmo pergunta o que vai acontecer; quer agarrar qualquer coisa e não o pode. A separação não pode se fazer sem essa impressão.
Nota. -Um Espírito nos deu, numa outra circunstância, o quadro seguinte do fim do incrédulo. "O incrédulo endurecido experimenta, nos últimos momentos, as angústias desses pesadelos terríveis onde se vê à beira de um precipício, quase a cair no abismo; fazem-se inúteis esforços para fugir, e não se pode caminhar; se quer pendurar em alguma coisa, agarrar um ponto de apoio, e sente-se escorregar; se quer chamar e não se pode articular nenhum som; é então que se vê o moribundo se torcer, se crispar as mãos e soltar gritos abafados, sinais certos do pesadelo de que é vítima. No pesadelo comum, o despertar nos tira da inquietação, e vos sentis felizes em reconhecer que não experimentastes senão um sonho; mas o pesadelo da morte se prolonga, freqüentemente, por muito tempo, anos mesmo, além do decesso, e o que torna a sensação mais penosa ainda para o Espírito, são as trevas em que, algumas vezes, está mergulhado.
Fomos capazes de observar vários casos semelhantes e que provam que esta pintura nadatem de exagerada.
7. Dissestes que, no momento de morrer, não víeis mais, mas que pressentíeis. Não víeis mais corporalmente, isto se compreende; mas antes que a vida estivesse extinta, já entrevíeis a claridade do mundo dos Espíritos? - R. Foi o que eu disse precedentemente: o instante da morte dá a clarividência ao Espírito; os olhos não vêem mais, mas o Espírito, que possui uma visão muito mais profunda, descobre instantaneamente um mundo desconhecido, e a verdade lhe aparecendo, subitamente, lhe dá, momentaneamente, é verdade, ou uma alegria profunda, ou um pesar inexprimímel, segundo o estado de sua consciência e a lembrança de sua vida passada.
Nota. - É questão do instante que precede aquele em que o Espírito perde conhecimento, o que explica o emprego da palavra momentaneamente, porque as mesmas impressões, agradáveis ou penosas, prosseguem no despertar.
8. Quereis nos dizer o que vistes, no instante em que vossos olhos se reabriram à luz. Quereis nos pintar, se for possível, o aspecto das coisas que se vos ofereceram. - R. Quando pude rever-me, e ver o que tinha diante dos olhos, estava como deslumbrado, e não dava muita conta de mim, porque a lucidez não retorna instantaneamente. Mas Deus, que me deu uma prova profunda de sua bondade, permitiu que recobrasse minhas faculdades. Vi-me cercado de numerosos e fiéis amigos. Todos os Espíritos protetores que vêm vos assistir me cercavam e me sorriam; uma alegria sem igual os animava, e eu mesmo, forte e saudável, podia, sem esforços, me transportar através do espaço. O que vi não tem nome nas línguas humanas.
Virei, de resto, vos falar mais amplamente de todas as minhas alegrias, sem ultrapassar, no entanto, o limite que Deus exige. Sabei que a felicidade, tal como a entendeis entre vós, é uma ficção. Vivei sabiamente, santamente, no espírito de caridade e de amor, e vos tereis preparado impressões que os vossos maiores poetas não saberiam descrever.
Nota. - Os contos de fadas, sem dúvida, estão cheios de coisas absurdas; mas não seriam, em alguns pontos, a pintura do que se passa no mundo dos Espíritos? A narração do Sr. Sanson não parece a de um homem que, adormecido numa pobre e escura cabana, despertasse num palácio esplêndido, no meio de uma cor brilhante?
(Terceira entrevista; 2 de maio de 1862.)
9. Sob qual aspecto os Espíritos se vos apresentaram? Foi sob o de uma forma humana? -R. Sim, meu caro amigo, os Espíritos nos ensinaram sobre a Terra que conservavam, no outro mundo, a forma transitória que tinham no vosso mundo; e é a verdade. Mas que diferença entre a máquina informe, que se arrasta penosamente, com seu cortejo de provas, e a fluidez maravilhosa do corpo dos Espíritos! A fealdade não existe mais, porque os traços perderam a dureza de expressão que forma o caráter distintivo da raça humana. Deus beatificou todos esses corpos graciosos, que se movem com todas as elegâncias da forma; a linguagem tem entonações intraduzíveis para vós, e o olhar a profundidade de uma estrela. Tratai, pelo pensamento de ver o que Deus pode fazer em sua onipotência, ele, o arquiteto dos arquitetos, e tereis feito uma fraca idéia da forma dos Espíritos.
10. Por vós, como vedes? Reconheceis uma forma limitada, circunscrita, embora fluídica? Sentis uma cabeça, um tronco, braços, pernas? - R. O Espírito, tendo conservado sua forma humana, mas divinizada, idealizada, sem contradita, tem todos os membros de que falais.
Sinto perfeitamente as pernas e os dedos, porque podemos, por nossa vontade, vos aparecer ou vos apertar as mãos. Estou perto de vós, e apertei a mão de todos meus amigos, sem que disso tivessem a consciência; porque nossa fluidez pode estar por toda parte sem dificultar o espaço, sem dar nenhuma sensação, se isso for o nosso desejo. Neste momento, tendes as mãos cruzadas e tenho as minhas nas vossas. Eu vos digo: eu vos amo, mas meu corpo não toma lugar, a luz o atravessa, e o que chamaríeis um milagre, se fosse visível, é para os Espíritos a ação continuada de todos os instantes.
A visão dos Espíritos não tem relação, do mesmo modo que seu corpo não tem semelhança real, porque tudo está mudado no conjunto e no fundo. O Espírito, eu vo-lo repito, tem uma perspicácia divina que se estende a tudo, uma vez que pode mesmo adivinhar vosso pensamento; também pode a propósito tomar a forma que melhor o pode recordar às vossas lembranças. Mas no fato de o Espírito superior que terminou suas provas, gosta ele da forma que pôde conduzi-lo junto a Deus.
11. Os Espíritos não têm sexo; entretanto, como há poucos dias ainda éreis homem, tendes em vosso novo estado antes a natureza masculina do que a natureza feminina? Ocorre o mesmo com um Espírito que tivesse deixado seu corpo há muito tempo? - R. Não temos que ser de natureza masculina ou feminina: os Espíritos não se reproduzem. Deus os cria à sua vontade, e se, por seus objetivos maravilhosos, quis que os Espíritos se reencarnem sobre a Terra, deveu acrescentar a reprodução das espécies para macho e a fêmea. Mas o sentis, sem que seja necessária nenhuma explicação, os Espíritos não podem ter sexo.
Nota. Sempre foi dito que os Espíritos não têm sexo; os sexos não são necessários senão para a reprodução dos corpos; porque os Espíritos não se reproduzem, os sexos seriam inúteis para eles. Nossa pergunta não tinha por objetivo constatar o fato, mas em razão da morte muito recente do Sr. Sanson, queríamos saber se lhe restava uma impressão de seu estado terrestre. Os Espíritos depurados se dão perfeitamente conta de sua natureza, mas, entre os Espíritos inferiores, não desmaterializados, há muitos deles que se crêem ainda que estão sobre a Terra, e conservam as mesmas paixões e os mesmos desejos; aqueles se crêem ainda homens ou mulheres, e eis porque há os que disseram que os Espíritos têm sexos. É assim que certas contradições provêm do estado mais ou menos avançado dos Espíritos que se comunicam; o erro não é dos Espíritos, mas daqueles que os interrogam e não se dão ao trabalho de aprofundarem as perguntas.
12. Entre os Espíritos que estão aqui, vedes nosso presidente espiritual São Luís? - R. Está sempre junto a vós, e quando está ausente, sabe sempre aí deixar um Espírito superior, que o substitui.
13. Não vedes outros Espíritos? - R. Perdão; o Espírito de Verdade, Santo Agostinho, Lamennais, Sonnet, São Paulo, Luís e outros amigos que evocais, estão sempre em vossas sessões.
14. Que aspecto a sessão vos apresenta? É para a vossa nova visão o que vos parecia quando vivo? As pessoas têm para vós a mesma aparência? Tudo é tão claro, tão limpo? -R. Bem mais claro, porque posso ler no pensamento de todos, e estou muito feliz, ora! da boa impressão que me deixa a boa vontade de todos os Espíritos reunidos. Desejo que o mesmo entendimento possa se fazer não só em Paris, pela reunião de todos os grupos, mas também em toda a França, onde grupos se separam e se invejam, impelidos pelos Espíritos trapalhões, que se comprazem com a desordem, ao passo que o Espiritismo deve ser o esquecimento completo, absoluto do eu.
15. Dissestes que ledes em nosso pensamento; poderíeis nos fazer compreender como se opera essa transmissão de pensamento? - R. Isto não é fácil; para vos dizer, vos explicar esse prodígio singular da visão dos Espíritos, seria preciso vos abrir todo um arsenal de agentes novos, e serieis tão sábios quanto nós, o que não se pode, uma vez que as vossas faculdades estão limitadas pela matéria. Paciência! tornai-vos bons, e a isto chegareis; não tendes atualmente senão o que Deus vos concede, mas com a esperança de progredir continuamente; mais tarde sereis como nós. Tratai, pois, de bem morrer para saber muito.
A curiosidade, que é o estimulante do homem pensante, vos conduz tranqüilamente até a morte, vos reservando a satisfação de todas vossas curiosidades passadas, presentes e futuras. À espera disso, eu vos direi, para responder tanto bem quanto mal à vossa pergunta: O ar que vos cerca, impalpável como nós, transporta o caráter de vosso pensamento; o sopro que exalais é, por assim dizer, a página escrita de vossos pensamentos; eles são lidos, comentados pelos Espíritos que vos tropeçam sem cessar; são os mensageiros de uma telegrafia divina, à qual nada escapa.
16. Vedes, meu caro Sr. Sanson, que nós usamos largamente da permissão, que nos destes, de fazer a vossa autópsia espiritual. Disso não abusaremos; uma outra vez, se o quiserdes, faremos perguntas de uma outra ordem. - R. Ficarei sempre muito feliz em me tornar útil aos meus antigos colegas e ao seu digno presidente.
Sr. Sanson.
(Sociedade Espírita de Paris, 25 de abril de 1862. - Médium, Sr. Leymarie. Segunda entrevista. Vide a Revista de maio de 1862).
1. Evocação. - R. Meus amigos, estou junto a vós. 2. Estamos bem felizes com a conversa que tivemos convosco no dia de vossosepultamento, e uma vez que o permitis, estamos encantados em completá-la para nossa instrução. - R. Estou todo preparado, feliz por que pensais em mim. 3. Tudo o que pode nos esclarecer sobre o estado do mundo invisível, e nos fazer compreendê-lo, é de um alto ensinamento, porque é a idéia falsa que dele se faz que, o mais freqüentemente, leva à incredulidade. Não vos surpreendais com as perguntas que poderemos vos dirigir. - R. Com elas não ficarei admirado, e espero as vossas perguntas.
4. Descrevestes com uma luminosa claridade a passagem da vida à morte; dissestes que no momento em que o corpo dá seu último suspiro, a vida se rompe, e que a visão do Espírito se extingue. Esse momento é acompanhado de uma sensação penosa, dolorosa? - R. Sem dúvida, porque a vida é uma seqüência contínua de dores, e a morte é o complemento de todas as dores; daí um dilaceramento violento, como se o Espírito tivesse que fazer um esforço sobre-humano para escapar de seu envoltório, e é esse esforço que absorve todo o nosso ser e lhe faz perder o conhecimento do que se torna.
Nota. - Este caso não é geral. A separação pode se fazer com um certo esforço, mas a experiência prova que nem todos os Espíritos dela têm consciência, porque muitos perdem todo conhecimento antes de expirar; as convulsões da agonia são, o mais freqüentemente, puramente físicas. O Sr. Sanson apresentou um fenômeno bastante raro, o de ser, por assim dizer, testemunha de seu último suspiro.
5. Sabeis se há Espíritos para os quais esse momento é mais doloroso? É mais penoso, por exemplo, para o materialista, para aquele que crê que tudo acaba nesse momento para ele? - R. Isto é certo, porque o Espírito preparado já esqueceu o sofrimento, ou antes, dele tem o hábito, e a quietude com a qual vê a morte, impede-o de sofrer duplamente, uma vez que sabe o que o espera. A pena moral é a mais forte, e sua ausência no instante da morte é uma alívio bem grande. Aquele que não crê assemelha-se a esse condenado à pena capital, e cujo pensamento vê a faca e o desconhecido. Há semelhança entre essa morte e a do ateu.
6. Há materialistas bastante endurecidos para crerem seriamente que, nesse momento supremo, vão ser mergulhados no nada? - R. Sem dúvida, até a última hora há os que crêem no nada; mas no momento da separação, o Espírito tem um retorno profundo; a dúvida se apodera dele e o tortura, porque a si mesmo pergunta o que vai acontecer; quer agarrar qualquer coisa e não o pode. A separação não pode se fazer sem essa impressão.
Nota. -Um Espírito nos deu, numa outra circunstância, o quadro seguinte do fim do incrédulo. "O incrédulo endurecido experimenta, nos últimos momentos, as angústias desses pesadelos terríveis onde se vê à beira de um precipício, quase a cair no abismo; fazem-se inúteis esforços para fugir, e não se pode caminhar; se quer pendurar em alguma coisa, agarrar um ponto de apoio, e sente-se escorregar; se quer chamar e não se pode articular nenhum som; é então que se vê o moribundo se torcer, se crispar as mãos e soltar gritos abafados, sinais certos do pesadelo de que é vítima. No pesadelo comum, o despertar nos tira da inquietação, e vos sentis felizes em reconhecer que não experimentastes senão um sonho; mas o pesadelo da morte se prolonga, freqüentemente, por muito tempo, anos mesmo, além do decesso, e o que torna a sensação mais penosa ainda para o Espírito, são as trevas em que, algumas vezes, está mergulhado.
Fomos capazes de observar vários casos semelhantes e que provam que esta pintura nadatem de exagerada.
7. Dissestes que, no momento de morrer, não víeis mais, mas que pressentíeis. Não víeis mais corporalmente, isto se compreende; mas antes que a vida estivesse extinta, já entrevíeis a claridade do mundo dos Espíritos? - R. Foi o que eu disse precedentemente: o instante da morte dá a clarividência ao Espírito; os olhos não vêem mais, mas o Espírito, que possui uma visão muito mais profunda, descobre instantaneamente um mundo desconhecido, e a verdade lhe aparecendo, subitamente, lhe dá, momentaneamente, é verdade, ou uma alegria profunda, ou um pesar inexprimímel, segundo o estado de sua consciência e a lembrança de sua vida passada.
Nota. - É questão do instante que precede aquele em que o Espírito perde conhecimento, o que explica o emprego da palavra momentaneamente, porque as mesmas impressões, agradáveis ou penosas, prosseguem no despertar.
8. Quereis nos dizer o que vistes, no instante em que vossos olhos se reabriram à luz. Quereis nos pintar, se for possível, o aspecto das coisas que se vos ofereceram. - R. Quando pude rever-me, e ver o que tinha diante dos olhos, estava como deslumbrado, e não dava muita conta de mim, porque a lucidez não retorna instantaneamente. Mas Deus, que me deu uma prova profunda de sua bondade, permitiu que recobrasse minhas faculdades. Vi-me cercado de numerosos e fiéis amigos. Todos os Espíritos protetores que vêm vos assistir me cercavam e me sorriam; uma alegria sem igual os animava, e eu mesmo, forte e saudável, podia, sem esforços, me transportar através do espaço. O que vi não tem nome nas línguas humanas.
Virei, de resto, vos falar mais amplamente de todas as minhas alegrias, sem ultrapassar, no entanto, o limite que Deus exige. Sabei que a felicidade, tal como a entendeis entre vós, é uma ficção. Vivei sabiamente, santamente, no espírito de caridade e de amor, e vos tereis preparado impressões que os vossos maiores poetas não saberiam descrever.
Nota. - Os contos de fadas, sem dúvida, estão cheios de coisas absurdas; mas não seriam, em alguns pontos, a pintura do que se passa no mundo dos Espíritos? A narração do Sr. Sanson não parece a de um homem que, adormecido numa pobre e escura cabana, despertasse num palácio esplêndido, no meio de uma cor brilhante?
(Terceira entrevista; 2 de maio de 1862.)
9. Sob qual aspecto os Espíritos se vos apresentaram? Foi sob o de uma forma humana? -R. Sim, meu caro amigo, os Espíritos nos ensinaram sobre a Terra que conservavam, no outro mundo, a forma transitória que tinham no vosso mundo; e é a verdade. Mas que diferença entre a máquina informe, que se arrasta penosamente, com seu cortejo de provas, e a fluidez maravilhosa do corpo dos Espíritos! A fealdade não existe mais, porque os traços perderam a dureza de expressão que forma o caráter distintivo da raça humana. Deus beatificou todos esses corpos graciosos, que se movem com todas as elegâncias da forma; a linguagem tem entonações intraduzíveis para vós, e o olhar a profundidade de uma estrela. Tratai, pelo pensamento de ver o que Deus pode fazer em sua onipotência, ele, o arquiteto dos arquitetos, e tereis feito uma fraca idéia da forma dos Espíritos.
10. Por vós, como vedes? Reconheceis uma forma limitada, circunscrita, embora fluídica? Sentis uma cabeça, um tronco, braços, pernas? - R. O Espírito, tendo conservado sua forma humana, mas divinizada, idealizada, sem contradita, tem todos os membros de que falais.
Sinto perfeitamente as pernas e os dedos, porque podemos, por nossa vontade, vos aparecer ou vos apertar as mãos. Estou perto de vós, e apertei a mão de todos meus amigos, sem que disso tivessem a consciência; porque nossa fluidez pode estar por toda parte sem dificultar o espaço, sem dar nenhuma sensação, se isso for o nosso desejo. Neste momento, tendes as mãos cruzadas e tenho as minhas nas vossas. Eu vos digo: eu vos amo, mas meu corpo não toma lugar, a luz o atravessa, e o que chamaríeis um milagre, se fosse visível, é para os Espíritos a ação continuada de todos os instantes.
A visão dos Espíritos não tem relação, do mesmo modo que seu corpo não tem semelhança real, porque tudo está mudado no conjunto e no fundo. O Espírito, eu vo-lo repito, tem uma perspicácia divina que se estende a tudo, uma vez que pode mesmo adivinhar vosso pensamento; também pode a propósito tomar a forma que melhor o pode recordar às vossas lembranças. Mas no fato de o Espírito superior que terminou suas provas, gosta ele da forma que pôde conduzi-lo junto a Deus.
11. Os Espíritos não têm sexo; entretanto, como há poucos dias ainda éreis homem, tendes em vosso novo estado antes a natureza masculina do que a natureza feminina? Ocorre o mesmo com um Espírito que tivesse deixado seu corpo há muito tempo? - R. Não temos que ser de natureza masculina ou feminina: os Espíritos não se reproduzem. Deus os cria à sua vontade, e se, por seus objetivos maravilhosos, quis que os Espíritos se reencarnem sobre a Terra, deveu acrescentar a reprodução das espécies para macho e a fêmea. Mas o sentis, sem que seja necessária nenhuma explicação, os Espíritos não podem ter sexo.
Nota. Sempre foi dito que os Espíritos não têm sexo; os sexos não são necessários senão para a reprodução dos corpos; porque os Espíritos não se reproduzem, os sexos seriam inúteis para eles. Nossa pergunta não tinha por objetivo constatar o fato, mas em razão da morte muito recente do Sr. Sanson, queríamos saber se lhe restava uma impressão de seu estado terrestre. Os Espíritos depurados se dão perfeitamente conta de sua natureza, mas, entre os Espíritos inferiores, não desmaterializados, há muitos deles que se crêem ainda que estão sobre a Terra, e conservam as mesmas paixões e os mesmos desejos; aqueles se crêem ainda homens ou mulheres, e eis porque há os que disseram que os Espíritos têm sexos. É assim que certas contradições provêm do estado mais ou menos avançado dos Espíritos que se comunicam; o erro não é dos Espíritos, mas daqueles que os interrogam e não se dão ao trabalho de aprofundarem as perguntas.
12. Entre os Espíritos que estão aqui, vedes nosso presidente espiritual São Luís? - R. Está sempre junto a vós, e quando está ausente, sabe sempre aí deixar um Espírito superior, que o substitui.
13. Não vedes outros Espíritos? - R. Perdão; o Espírito de Verdade, Santo Agostinho, Lamennais, Sonnet, São Paulo, Luís e outros amigos que evocais, estão sempre em vossas sessões.
14. Que aspecto a sessão vos apresenta? É para a vossa nova visão o que vos parecia quando vivo? As pessoas têm para vós a mesma aparência? Tudo é tão claro, tão limpo? -R. Bem mais claro, porque posso ler no pensamento de todos, e estou muito feliz, ora! da boa impressão que me deixa a boa vontade de todos os Espíritos reunidos. Desejo que o mesmo entendimento possa se fazer não só em Paris, pela reunião de todos os grupos, mas também em toda a França, onde grupos se separam e se invejam, impelidos pelos Espíritos trapalhões, que se comprazem com a desordem, ao passo que o Espiritismo deve ser o esquecimento completo, absoluto do eu.
15. Dissestes que ledes em nosso pensamento; poderíeis nos fazer compreender como se opera essa transmissão de pensamento? - R. Isto não é fácil; para vos dizer, vos explicar esse prodígio singular da visão dos Espíritos, seria preciso vos abrir todo um arsenal de agentes novos, e serieis tão sábios quanto nós, o que não se pode, uma vez que as vossas faculdades estão limitadas pela matéria. Paciência! tornai-vos bons, e a isto chegareis; não tendes atualmente senão o que Deus vos concede, mas com a esperança de progredir continuamente; mais tarde sereis como nós. Tratai, pois, de bem morrer para saber muito.
A curiosidade, que é o estimulante do homem pensante, vos conduz tranqüilamente até a morte, vos reservando a satisfação de todas vossas curiosidades passadas, presentes e futuras. À espera disso, eu vos direi, para responder tanto bem quanto mal à vossa pergunta: O ar que vos cerca, impalpável como nós, transporta o caráter de vosso pensamento; o sopro que exalais é, por assim dizer, a página escrita de vossos pensamentos; eles são lidos, comentados pelos Espíritos que vos tropeçam sem cessar; são os mensageiros de uma telegrafia divina, à qual nada escapa.
16. Vedes, meu caro Sr. Sanson, que nós usamos largamente da permissão, que nos destes, de fazer a vossa autópsia espiritual. Disso não abusaremos; uma outra vez, se o quiserdes, faremos perguntas de uma outra ordem. - R. Ficarei sempre muito feliz em me tornar útil aos meus antigos colegas e ao seu digno presidente.
31 agosto 2009
INFLUENCIAÕES SUTIS
Tudo se irradia em a Natureza, produzindo vibrações específicas que se identificam umas com as outras, estabelecendo vínculos que se transformam em harmonia do conjunto.
No que tange ao ser humano, esse processo é mais expressivo em razão das ondas de simpatia ou de antipatia que decorrem da presença ou ausência de afinidade entre os mesmos.
Há, no entanto, uma influenciação sutil, que passa despercebida e merece consideração.
Referimo-nos à identificação de idéias e propósitos, que certos indivíduos recebem noutros, passando a receber-lhes o magnetismo e deixando-se impregnar.
Quando essa força se exterioriza de pessoa boa, nobre e generosa, produz salutar efeito sobre aquele que se deixa arrastar, assimilando-lhe as vibrações e os exemplos edificantes de que passam a dar mostras após o convívio estabelecido.
Quando, porém, se trata de criatura enferma do caráter, portadora de imperfeições morais danosas, a sua subjugação se transforma em efeito nefasto para quem lhe padece a injunção.
Sentindo-se atraído pela influenciação daquele com quem convive, cabe a cada um desidentificar-se desse arrastamento e sintonizar com Jesus, que é o único modelo para a humanidade terrestre.
Assimilar as boas impressões é muito importante, mantendo, porém, a própria individualidade, desde que, cada Espírito possui específico patrimônio, e tem por meta, em razão dos seus atos passados, a renovação interior e a auto-recuperação conforme as forças de que disponha.
O tarefeiro possui compromisso pessoal intransferível com a realização que deve operar. Os estímulos que recebe constituem-lhe valiosa contribuição que o não deve afastar do dever sob fascínio diferente.
Outrossim, deixando-se conduzir pelas interferências negativas, quando é portador de discernimento e razão, torna-se-lhe o fato um gravame perturbador.
Nesse panorama, todavia, ocorre uma influenciação que merece ser examinada com cuidado.
Quando se exterioriza de uma pessoa saudável, os Bons Espíritos a utilizam discretamente, a fim de auxiliar os seus pupilos e aprendizes, influenciando-lhes ânimo e orientações com que os auxiliam ao fortalecimento e à coragem para a luta de crescimento interior e de auto-iluminação.
Velando por eles, quando não os conseguem alcançar diretamente, os induzem às boas companhias, aos convívios edificantes.
Por outro lado, aqueles que se afinam com os maus, igualmente passam a receber influenciações perturbadoras dos Espíritos perversos, que se comprazem em perseguir e infelicitar por prazer, por inveja ou por desforço injustificado.
Iniciam-se, nesse caso, obsessões de uns encarnados por outros, por sua vez vítimas também de sutis interferências espirituais perniciosas.
Conforme a condição moral e mental de cada indivíduo, a sintonia é feita na mesma faixa vibratória.
Eis porque a todos cumpre manter-se em atitude vigilante para bem discernir e em freqüência de oração, de modo a elevar-se vibratoriamente, ascendendo em aspirações e idéias, portanto, em campos vibratórios de influenciações felizes.
Simão Pedro, interrogado por Jesus, a respeito da Sua procedência, respondeu emocionado, em sintonia com o psiquismo superior, que Ele era o Messias aguardado.
Logo depois, porque o Benfeitor Celeste informasse que deveria descer a Jerusalém para sofrer e dar o testemunho, ficou atemorizado, e disse, intempestivo: - Nós não o deixaremos...
Advertindo-o, e aos demais companheiros, o Mestre exprobou-lhe a conduta: - Afasta-te de mim, satanás, e não tentes o teu Senhor, referindo-se, naturalmente, ao Espírito insensato e leviano que tomara o pescador invigilante.
Procura, desse modo, também tu, identificar a onda de influenciação que te envolve e descobrir-lhe a procedência, a fim de elegeres aquela que te beneficie, sem que interfira ou perturbe a tua individualidade ou a tua tarefa.
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 31-03-1997, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA).
"Assimilar as boas impressões é muito importante, mantendo, porém, a própria individualidade"
Joana de Ângelis (espírito)
No que tange ao ser humano, esse processo é mais expressivo em razão das ondas de simpatia ou de antipatia que decorrem da presença ou ausência de afinidade entre os mesmos.
Há, no entanto, uma influenciação sutil, que passa despercebida e merece consideração.
Referimo-nos à identificação de idéias e propósitos, que certos indivíduos recebem noutros, passando a receber-lhes o magnetismo e deixando-se impregnar.
Quando essa força se exterioriza de pessoa boa, nobre e generosa, produz salutar efeito sobre aquele que se deixa arrastar, assimilando-lhe as vibrações e os exemplos edificantes de que passam a dar mostras após o convívio estabelecido.
Quando, porém, se trata de criatura enferma do caráter, portadora de imperfeições morais danosas, a sua subjugação se transforma em efeito nefasto para quem lhe padece a injunção.
Sentindo-se atraído pela influenciação daquele com quem convive, cabe a cada um desidentificar-se desse arrastamento e sintonizar com Jesus, que é o único modelo para a humanidade terrestre.
Assimilar as boas impressões é muito importante, mantendo, porém, a própria individualidade, desde que, cada Espírito possui específico patrimônio, e tem por meta, em razão dos seus atos passados, a renovação interior e a auto-recuperação conforme as forças de que disponha.
O tarefeiro possui compromisso pessoal intransferível com a realização que deve operar. Os estímulos que recebe constituem-lhe valiosa contribuição que o não deve afastar do dever sob fascínio diferente.
Outrossim, deixando-se conduzir pelas interferências negativas, quando é portador de discernimento e razão, torna-se-lhe o fato um gravame perturbador.
Nesse panorama, todavia, ocorre uma influenciação que merece ser examinada com cuidado.
Quando se exterioriza de uma pessoa saudável, os Bons Espíritos a utilizam discretamente, a fim de auxiliar os seus pupilos e aprendizes, influenciando-lhes ânimo e orientações com que os auxiliam ao fortalecimento e à coragem para a luta de crescimento interior e de auto-iluminação.
Velando por eles, quando não os conseguem alcançar diretamente, os induzem às boas companhias, aos convívios edificantes.
Por outro lado, aqueles que se afinam com os maus, igualmente passam a receber influenciações perturbadoras dos Espíritos perversos, que se comprazem em perseguir e infelicitar por prazer, por inveja ou por desforço injustificado.
Iniciam-se, nesse caso, obsessões de uns encarnados por outros, por sua vez vítimas também de sutis interferências espirituais perniciosas.
Conforme a condição moral e mental de cada indivíduo, a sintonia é feita na mesma faixa vibratória.
Eis porque a todos cumpre manter-se em atitude vigilante para bem discernir e em freqüência de oração, de modo a elevar-se vibratoriamente, ascendendo em aspirações e idéias, portanto, em campos vibratórios de influenciações felizes.
Simão Pedro, interrogado por Jesus, a respeito da Sua procedência, respondeu emocionado, em sintonia com o psiquismo superior, que Ele era o Messias aguardado.
Logo depois, porque o Benfeitor Celeste informasse que deveria descer a Jerusalém para sofrer e dar o testemunho, ficou atemorizado, e disse, intempestivo: - Nós não o deixaremos...
Advertindo-o, e aos demais companheiros, o Mestre exprobou-lhe a conduta: - Afasta-te de mim, satanás, e não tentes o teu Senhor, referindo-se, naturalmente, ao Espírito insensato e leviano que tomara o pescador invigilante.
Procura, desse modo, também tu, identificar a onda de influenciação que te envolve e descobrir-lhe a procedência, a fim de elegeres aquela que te beneficie, sem que interfira ou perturbe a tua individualidade ou a tua tarefa.
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 31-03-1997, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA).
"Assimilar as boas impressões é muito importante, mantendo, porém, a própria individualidade"
Joana de Ângelis (espírito)
A PRECE E A OBSESSÃO
Na obra "Religião", no derradeiro Capítulo, registra-se um substancial estudo sobre a prece, estudo magnífico que o Dr. Carlos Imbassahy apóia na evidência dos fatos por ele mesmo observados e trazidos ao conhecimento do público.
Um desses fatos é o que nos permitimos reproduzir, sem omissão de uma vírgula. Ouçamos o beletrista baiano:
"Numa sessão, aliás teórica, falávamos sobre pontos evangélicos, quando uma jovem presente toma o aspecto de louca furiosa e quer rasgar-se.
Depois, investe contra os assistentes. Houve pânico, que aumentou quando a vimos querer atirar-se de uma janela.
Uns a seguravam; outros davam-lhe passes; outros traziam-lhe coisas para cheirar; cada qual alvitrava um meio, todos inteiramente inúteis, todos lamentavelmente ineficazes.
Fizemos que se retirassem os curiosos; e nós, cercado de um grupo de médiuns, procuramos dar passes na possessa. Estes contribuíram para enfurecê-la ainda mais; ela se lançava a nós, dizendo-nos impropérios, arranhava-nos, esbofeteava-nos.
Já estávamos exaustos.
Os amigos entreolhavam-se pasmados, desanimados. Era preciso chamar uma ambulância.
Mas seria o escândalo. Seria a confissão completa da falência de todos os nossos processos.
As lágrimas vieram-nos aos olhos. Compreendemos, então, a extensão imensa de nossas fraquezas. E apelamos para o Pai. E oramos.
E orávamos e chorávamos. Por que negar a nossa fragilidade? Éramos o responsável pela reunião. Chorávamos e orávamos.
E quando um dos médiuns já ia descer as escadas em busca de socorro psiquiátrico, diz a jovem, com voz mudada, com timbre masculino:
- Ah! Puderam mais do que eu, desta vez!
E se acalmou. Acordou. E perguntou-nos, sorridente, ingênua, ignorante de tudo que se passara:
- Que foi? Que houve? ...
Estava curada. Estava curada pela prece".
O caso que acabamos de transcrever faz-nos lembrar o que se conta nos Evangelhos, acerca de um moço possesso de um Espírito perverso, cujo genitor suplicara a Jesus que o curasse, depois de o terem tentado, sem nenhum sucesso, os próprios discípulos do Mestre de Nazaré.
Vendo estes que, a uma ordem de Jesus, o terrível obsessor deixara imediatamente o jovem, que dantes vivia metido em correntes, como louco indomável, aproximaram-se do Senhor, em particular, e indagaram:
"- Por que não pudemos nós expulsá-lo?"
"- Esta casta de Espíritos", respondeu Jesus, "só se consegue expelir à força da oração..."(Marcos, 9;14-29; Mateus, 17;14-21).
Carlos Bernardo Loureiro
Um desses fatos é o que nos permitimos reproduzir, sem omissão de uma vírgula. Ouçamos o beletrista baiano:
"Numa sessão, aliás teórica, falávamos sobre pontos evangélicos, quando uma jovem presente toma o aspecto de louca furiosa e quer rasgar-se.
Depois, investe contra os assistentes. Houve pânico, que aumentou quando a vimos querer atirar-se de uma janela.
Uns a seguravam; outros davam-lhe passes; outros traziam-lhe coisas para cheirar; cada qual alvitrava um meio, todos inteiramente inúteis, todos lamentavelmente ineficazes.
Fizemos que se retirassem os curiosos; e nós, cercado de um grupo de médiuns, procuramos dar passes na possessa. Estes contribuíram para enfurecê-la ainda mais; ela se lançava a nós, dizendo-nos impropérios, arranhava-nos, esbofeteava-nos.
Já estávamos exaustos.
Os amigos entreolhavam-se pasmados, desanimados. Era preciso chamar uma ambulância.
Mas seria o escândalo. Seria a confissão completa da falência de todos os nossos processos.
As lágrimas vieram-nos aos olhos. Compreendemos, então, a extensão imensa de nossas fraquezas. E apelamos para o Pai. E oramos.
E orávamos e chorávamos. Por que negar a nossa fragilidade? Éramos o responsável pela reunião. Chorávamos e orávamos.
E quando um dos médiuns já ia descer as escadas em busca de socorro psiquiátrico, diz a jovem, com voz mudada, com timbre masculino:
- Ah! Puderam mais do que eu, desta vez!
E se acalmou. Acordou. E perguntou-nos, sorridente, ingênua, ignorante de tudo que se passara:
- Que foi? Que houve? ...
Estava curada. Estava curada pela prece".
O caso que acabamos de transcrever faz-nos lembrar o que se conta nos Evangelhos, acerca de um moço possesso de um Espírito perverso, cujo genitor suplicara a Jesus que o curasse, depois de o terem tentado, sem nenhum sucesso, os próprios discípulos do Mestre de Nazaré.
Vendo estes que, a uma ordem de Jesus, o terrível obsessor deixara imediatamente o jovem, que dantes vivia metido em correntes, como louco indomável, aproximaram-se do Senhor, em particular, e indagaram:
"- Por que não pudemos nós expulsá-lo?"
"- Esta casta de Espíritos", respondeu Jesus, "só se consegue expelir à força da oração..."(Marcos, 9;14-29; Mateus, 17;14-21).
Carlos Bernardo Loureiro
30 agosto 2009
AMAR AO PRÓXIMO
O testamento de Léon Tolstoi (1828 - 1910)
Publicado por Caibar Schutel na Revista Internacional de Espiritismo de 15 de abril de 1936
Eu não poderia me deter nem contemporizar mais. É inútil vacilar e pensar mais sobre o que tenho que dizer. A vida não espera. Minha existência declina e de repente posso desaparecer. Se me é dado ainda prestar alguns serviços aos homens, se posso fazer-me perdoar os meus pecados, minha vida ociosa e material, não será senão fazendo saber aos homens meus irmãos o que me foi dado compreender mais claramente que eles; o que me tortura e martiriza o coração há muitos anos.
Todos os homens sabem, como eu, que nossa vida não é o que deveria ser e que nos fazemos mutuamente desgraçados.
Sabemos que para ser felizes e fazer ditosos os outros, é preciso amar o nosso próximo como a nós mesmos; se nos é impossível fazer ao nosso semelhante o que quiséramos que ele nos fizesse, pelo menos não lhe façamos o que não queremos que ele não nos faça.
É isto que ensinam as religiões de todos os povos; é o que mandam que façamos, a nossa razão e a nossa consciência.
A morte do invólucro corporal que nos ameaça a cada instante, recorda-nos o caráter efêmero dos nossos atos; assim, a única coisa que podemos fazer e que pode levar-nos à felicidade e à serenidade, é obedecer a cada instante o que nos ordenam a nossa razão e consciência, se não crermos na revelação ou no ensino do Cristo.
Em outros termos: se não podemos fazer ao nosso próximo o que quiséramos que ele nos fizesse, ao menos não lhe façamos o que não desejamos para nós.
Embora todos conheçamos há muito tempo esta verdade, em vez de realizá-la, os homens se matam, roubam, violentam. E assim, em vez de viverem na alegria, na tranqüilidade, no amor, sofrem, penam e não sentem senão ódio e medo uns dos outros. Por toda a parte, em toda a superfície da Terra, os homens tratam de dissimular sua vida insensata, esquecerem-se de si mesmos, sofrear seu sofrimento, sem poderem conseguir; o número dos desgraçados que perdem a razão e se suicidam aumenta todos os anos, porque é superior às suas forças suportar uma vida contrária à natureza humana.
Mas, dir-se-á, talvez, é necessário que a vida seja assim; é necessária a existência dos imperadores, dos reis, dos governos, dos parlamentos que mandam milhões de homens, providos de fuzis e de canhões, atirarem-se uns sobre os outros; necessárias as fábricas e os estabelecimentos que produzem objetos inúteis e prejudiciais, e onde milhões de homens, mulheres e crianças são transformadas em máquinas, sofrendo 10,12 e 15 horas por dia; necessário o despovoamento crescente das cidades e a invasão das mesmas com asilos noturnos, seus refúgios de crianças, seus hospitais; necessário o aprisionamento de milhares de homens.
Acaso é necessário que a doutrina do Cristo, que ensina a concórdia, o perdão das ofensas, o amor ao próximo, ao inimigo; seja inculcada aos homens por sacerdotes de várias e numerosas seitas em luta contínua, e sob fórmulas de fábulas estúpidas e imorais sobre a criação do mundo e do homem, sobre seu castigo e sua redenção pelo Cristo, e sobre tal ou qual rito, tal ou qual sacramento? Talvez, semelhante estado de coisas seja natural ao homem, como é natural às formigas e às abelhas viverem em seus formigueiros e em suas colmeias em contínua luta e sem outro ideal. Assim, de fato, é que dizem muitos.
Mas o coração humano não quer crer. Sempre se sobrelevou contra a vida mentirosa e tem sempre convidado aos homens a se deixarem levar pela razão e pela consciência; e nos nossos dias faz tal chamamento mais urgente do que nunca.
Já sabemos demasiadamente que nossa vida não abarca séculos, milhares de anos, uma eternidade, e entretanto, nos achamos na Terra vivendo, pensando, amando, gozando a vida...
E agora podemos passar estes setenta anos - se chegarmos a tal idade, porque podemos não viver senão alguns dias, algumas horas - no desgosto, no ódio, ou na alegria e no amor; podemos viver com a consciência de estar fazendo o mal, ou bem, de realizar, ainda imperfeitamente, o que podemos crer que seja nosso dever.
" - Andai preparados, andai preparados, andai preparados" - dizia, aos homens, João Batista.
" - Andai preparados" - dizia o Cristo.
" - Andai preparados" - diz a voz de Deus, tanto como a voz da consciência e da razão.
Entretanto, distingamos as nossas ocupações, cada um dos nossos prazeres, e perguntemos a nós mesmos: fazemos o que devemos, ou gastamos inutilmente nossa vida, (...)
Bem sei que basta uma vista de olhos, como um cavalo que faz voltear uma roda; nos parece impossível deter-nos para refletir um instante, dizendo:
"Nada de tantas reflexões; atos sim".
E outros afirmam:
"Não é preciso, cada um pensar em si mesmo, em nossos desejos, quando a obra, a cujo serviço nos achamos, é a nossa família, a arte, a ciência, a sociedade, tudo pelo interesse geral".
Outros garantem:
"Tudo está pensado e experimentado há muito tempo e ninguém encontrou algo melhor; sigamos, pois, nossa vida e nada mais".
Outros, enfim, pretendem:
"Refletir ou não refletir, tudo é a mesma coisa; vive-se e depois se morre; o melhor é, pois, viver para o prazer. Quando se quer refletir, vê-se que a vida é pior do que a morte e atenta-se sobre os seus próprios dias. Assim, basta de reflexões, vivamos como pudermos".
Não ouçais essas vozes; para todos aqueles raciocínios, responderei simplesmente:
"Atrás de mim vejo a eternidade, tempo em que eu ainda não existia; diante de mim pressinto a mesma noite infinita na qual a morte pode, repentinamente tragar-me. Agora vivo e posso, eu sei que posso, fechar voluntariamente os olhos para uma existência cheia de misérias; mas sei que abrindo-os para olhar em redor de mim, posso escolher o melhor e o que é mais belo. Assim, digam o que quiserem as vozes, sejam quais forem as seduções que me atraem, forçado que esteja à obra que tenha começado e arrastado pela vida que me rodeia; eu me detenho, examino e reflito".
Eis o que eu tinha de lembrar aos meus semelhantes antes de passar para o infinito...
Léon Tolstoi
Publicado por Caibar Schutel na Revista Internacional de Espiritismo de 15 de abril de 1936
Eu não poderia me deter nem contemporizar mais. É inútil vacilar e pensar mais sobre o que tenho que dizer. A vida não espera. Minha existência declina e de repente posso desaparecer. Se me é dado ainda prestar alguns serviços aos homens, se posso fazer-me perdoar os meus pecados, minha vida ociosa e material, não será senão fazendo saber aos homens meus irmãos o que me foi dado compreender mais claramente que eles; o que me tortura e martiriza o coração há muitos anos.
Todos os homens sabem, como eu, que nossa vida não é o que deveria ser e que nos fazemos mutuamente desgraçados.
Sabemos que para ser felizes e fazer ditosos os outros, é preciso amar o nosso próximo como a nós mesmos; se nos é impossível fazer ao nosso semelhante o que quiséramos que ele nos fizesse, pelo menos não lhe façamos o que não queremos que ele não nos faça.
É isto que ensinam as religiões de todos os povos; é o que mandam que façamos, a nossa razão e a nossa consciência.
A morte do invólucro corporal que nos ameaça a cada instante, recorda-nos o caráter efêmero dos nossos atos; assim, a única coisa que podemos fazer e que pode levar-nos à felicidade e à serenidade, é obedecer a cada instante o que nos ordenam a nossa razão e consciência, se não crermos na revelação ou no ensino do Cristo.
Em outros termos: se não podemos fazer ao nosso próximo o que quiséramos que ele nos fizesse, ao menos não lhe façamos o que não desejamos para nós.
Embora todos conheçamos há muito tempo esta verdade, em vez de realizá-la, os homens se matam, roubam, violentam. E assim, em vez de viverem na alegria, na tranqüilidade, no amor, sofrem, penam e não sentem senão ódio e medo uns dos outros. Por toda a parte, em toda a superfície da Terra, os homens tratam de dissimular sua vida insensata, esquecerem-se de si mesmos, sofrear seu sofrimento, sem poderem conseguir; o número dos desgraçados que perdem a razão e se suicidam aumenta todos os anos, porque é superior às suas forças suportar uma vida contrária à natureza humana.
Mas, dir-se-á, talvez, é necessário que a vida seja assim; é necessária a existência dos imperadores, dos reis, dos governos, dos parlamentos que mandam milhões de homens, providos de fuzis e de canhões, atirarem-se uns sobre os outros; necessárias as fábricas e os estabelecimentos que produzem objetos inúteis e prejudiciais, e onde milhões de homens, mulheres e crianças são transformadas em máquinas, sofrendo 10,12 e 15 horas por dia; necessário o despovoamento crescente das cidades e a invasão das mesmas com asilos noturnos, seus refúgios de crianças, seus hospitais; necessário o aprisionamento de milhares de homens.
Acaso é necessário que a doutrina do Cristo, que ensina a concórdia, o perdão das ofensas, o amor ao próximo, ao inimigo; seja inculcada aos homens por sacerdotes de várias e numerosas seitas em luta contínua, e sob fórmulas de fábulas estúpidas e imorais sobre a criação do mundo e do homem, sobre seu castigo e sua redenção pelo Cristo, e sobre tal ou qual rito, tal ou qual sacramento? Talvez, semelhante estado de coisas seja natural ao homem, como é natural às formigas e às abelhas viverem em seus formigueiros e em suas colmeias em contínua luta e sem outro ideal. Assim, de fato, é que dizem muitos.
Mas o coração humano não quer crer. Sempre se sobrelevou contra a vida mentirosa e tem sempre convidado aos homens a se deixarem levar pela razão e pela consciência; e nos nossos dias faz tal chamamento mais urgente do que nunca.
Já sabemos demasiadamente que nossa vida não abarca séculos, milhares de anos, uma eternidade, e entretanto, nos achamos na Terra vivendo, pensando, amando, gozando a vida...
E agora podemos passar estes setenta anos - se chegarmos a tal idade, porque podemos não viver senão alguns dias, algumas horas - no desgosto, no ódio, ou na alegria e no amor; podemos viver com a consciência de estar fazendo o mal, ou bem, de realizar, ainda imperfeitamente, o que podemos crer que seja nosso dever.
" - Andai preparados, andai preparados, andai preparados" - dizia, aos homens, João Batista.
" - Andai preparados" - dizia o Cristo.
" - Andai preparados" - diz a voz de Deus, tanto como a voz da consciência e da razão.
Entretanto, distingamos as nossas ocupações, cada um dos nossos prazeres, e perguntemos a nós mesmos: fazemos o que devemos, ou gastamos inutilmente nossa vida, (...)
Bem sei que basta uma vista de olhos, como um cavalo que faz voltear uma roda; nos parece impossível deter-nos para refletir um instante, dizendo:
"Nada de tantas reflexões; atos sim".
E outros afirmam:
"Não é preciso, cada um pensar em si mesmo, em nossos desejos, quando a obra, a cujo serviço nos achamos, é a nossa família, a arte, a ciência, a sociedade, tudo pelo interesse geral".
Outros garantem:
"Tudo está pensado e experimentado há muito tempo e ninguém encontrou algo melhor; sigamos, pois, nossa vida e nada mais".
Outros, enfim, pretendem:
"Refletir ou não refletir, tudo é a mesma coisa; vive-se e depois se morre; o melhor é, pois, viver para o prazer. Quando se quer refletir, vê-se que a vida é pior do que a morte e atenta-se sobre os seus próprios dias. Assim, basta de reflexões, vivamos como pudermos".
Não ouçais essas vozes; para todos aqueles raciocínios, responderei simplesmente:
"Atrás de mim vejo a eternidade, tempo em que eu ainda não existia; diante de mim pressinto a mesma noite infinita na qual a morte pode, repentinamente tragar-me. Agora vivo e posso, eu sei que posso, fechar voluntariamente os olhos para uma existência cheia de misérias; mas sei que abrindo-os para olhar em redor de mim, posso escolher o melhor e o que é mais belo. Assim, digam o que quiserem as vozes, sejam quais forem as seduções que me atraem, forçado que esteja à obra que tenha começado e arrastado pela vida que me rodeia; eu me detenho, examino e reflito".
Eis o que eu tinha de lembrar aos meus semelhantes antes de passar para o infinito...
Léon Tolstoi
29 agosto 2009
AUTOCONSCIÊNCIA
Joanna de Ângelis (espírito)
À medida que o ser amadurece psicologicamente, podendo discernir o que deve e pode fazer em relação ao que pode mas não deve ou deve porém não pode realizar, surge a autoconsciência que o predispõe ao crescimento interior livre de conflitos e tribulações.
Normalmente, nos períodos primordiais do desenvolvimento moral e espiritual, predominam em sua faculdade de agir os conceitos que lhe chegam do exterior, as opiniões conflitivas que o cercam, as diretrizes que são estabelecidas por outras pessoas que se acreditam possuidoras de valores que podem orientar vidas. Não raro, porém, esses comportamentos contraditórios que se chocam uns contra os outros, mais confundem as pessoas do que as direcionam para os fins enobrecidos da existência, por estarem quase sempre assinalados pelas paixões pessoais, nas quais predomina o ego em detrimento dos sentimentos solidários.
O principiante, manipulado por uns e outros, em tais circunstâncias perde-se no báratro estabelecido e sem experiência ruma em direções confusas, descobrindo-se enganado, desconsiderado nos ideais que busca, logo tombando, não poucas vezes, na descrença e no desencanto.
Quando, porém, aprende a ouvir e a reflexionar, examinando as informações ministradas e cotejando-as com o conhecimento exarado na experiência do século, realizando suas próprias investigações, torna-se capaz de avaliar os exageros que defluem dos entusiasmos inoportunos, as precauções descabidas que são comuns aos temperamentos tímidos ou cépticos, passando a construir os alicerces para as suas crenças na lógica, na vivência pessoal, e a todos respeitando, mas não os levando em consideração naquilo que diz respeito às suas opiniões e caprichos informativos.
Esse processo demanda tempo e experiência, mediante os quais são avaliadas as propostas do conhecimento e as necessidades do sentimento.
Estagiando cada indivíduo em nível de consciência diferente, que corresponde às conquistas pessoais da emoção e do desenvolvimento intelectual, o mesmo acontecimento é visto de maneira mui pessoal, conforme o grau de percepção e análise individual.
Eis porque as experiências podem ser apresentadas a todos de maneira uniforme, mas cada um é convidado a vivenciá-las de forma própria e de acordo com os recursos que lhe estão disponíveis.
Nunca se apresentam duas experiências iguais para tipos diferentes. O acontecimento pode ter características semelhantes, mas sucederá de maneira bem especial de cada um, face à diversidade de enfrentamento que surge no momento de executá-lo.
A autoconsciência desvela recursos inesgotáveis que permanecem adormecidos, aguardando o momento hábil para manifestar-se. É semelhante ao agradável calor que faz desabrochar a vida, amadurecer os frutos e alegrar os corações após invernia demorada e destrutiva.
*
Aprende a observar para agir com segurança.
Não te permitas influenciar por opiniões apressadas e sem estrutura lógica mesmo que aureoladas por atraentes configurações.
Águas paradas não refletem apenas paz, mas ocultam estagnação e morte.
A experiência é estrada atraente e desafiadora, que cada pessoa deve percorrer com os próprios pés.
Os atavismos que remanescem na conduta e na reflexão mental, tendem a conduzir o individuo às repetições de comportamentos já vivenciados, sem permitirem o despertar de maior interesse pelas novas expressões da realidade.
Os hábitos da meditação em torno dos pensamentos vitalizados deve constituir um processo de amadurecimento das idéias, a fim de que passem a ter significado útil propiciador de crescimento íntimo.
Passo a passo, a mente se dilata e a compreensão dos objetivos existenciais se faz mais clara, ensejando mais harmonia interna e encantamento exterior em relação aos quadros de incomparável beleza que emolduram as paisagens.
Nesse crescimento íntimo, os fatores que geram medo, amargura, insegurança, ansiedade, são diluídos pela autoconsciência que se firma nos painéis delicados do Espírito, tornando-se mecanismo de segurança e de harmonia.
Herdeiro das realizações do passado, o ser desperta sob os camartelos dos atos perturbadores, mas também sob a inspiração das idéias enobrecidas que passearam pela sua mente e, de alguma forma, constituíram motivo de iluminação e de razão.
Havendo predominância das heranças nefastas, ressumam como conflitos e tormentos, que podem ser decodificados pela claridade dos ensinamentos morais do Evangelho de Jesus, que convida a mudanças de comportamento através de bem sucedida sintonia com os ideais de beleza, de fraternidade, de caridade.
Descobre que o seu é o destino estelar e que marcha inexoravelmente no rumo da Grande Ventura, sendo os impedimentos momentâneos desafios que lhe cumpre vencer.
Sem abandonar os valiosos contributos que lhe vêm do mundo externo, vivencia as nobres expressões do pensamento, superando obstáculos e superando-se no que diz respeito às tendências para a sombra, o vulgar, o já realizado...
A autoconsciência desabrocha e a vida adquire sentido profundo e encantador.
O mal dos maus já não faz qualquer mal.
As perseguições da inveja e da inferioridade não mais atingem os sentimentos enobrecidos.
A calúnia não encontra ressonância nos painéis da emoção.
A maledicência não cria embaraços impeditivos.
E o ser avança autoconsciente do que deve fazer, porque realizá-lo e para que esforçar-se para a preservação da sua paz pessoal e, por extensão, pela de todos.
*
Um homem desejou construir um lar para viver tranqüilamente com a família.
Mandou um engenheiro e um arquiteto planejarem a casa e os detalhes que lhe pareciam mais convenientes para uma residência cômoda e prazenteira.
Quando começou a construção, recebeu a visita de um amigo, que apresentou várias sugestões mudando o plano inicial.
Entusiasmado com as opiniões, pediu aos técnicos que corrigissem os alicerces, redesenhassem algumas linhas e, com despesas a mais, conseguiu alterar o primeiro projeto.
Posteriormente, outro amigo, e mais tarde outro mais, trouxeram opiniões descabidas que redundaram em alterações absurdas e gastos exagerados.
Ao terminar a construção, a mesma se tornou inabitável, estranha.
Calmamente, ele convocou os mesmos engenheiro e arquiteto e disse como desejava a sua futura casa.
Iniciada a obra, veio alguém apresentar-lhe sugestão, ao que ele contestou:
— Esta casa é para mim e irei fazê-la conforme acredito ser comodidade após ouvir os especialistas em construção. Não alterarei nada, a fim de atender às descabidas opiniões dos amigos, porque a casa dos amigos é aquele monstrengo que abandonei. Está será a minha casa conforme penso e desejo...
A autoconsciência tem dimensão do que é melhor para quem o deseja.
À medida que o ser amadurece psicologicamente, podendo discernir o que deve e pode fazer em relação ao que pode mas não deve ou deve porém não pode realizar, surge a autoconsciência que o predispõe ao crescimento interior livre de conflitos e tribulações.
Normalmente, nos períodos primordiais do desenvolvimento moral e espiritual, predominam em sua faculdade de agir os conceitos que lhe chegam do exterior, as opiniões conflitivas que o cercam, as diretrizes que são estabelecidas por outras pessoas que se acreditam possuidoras de valores que podem orientar vidas. Não raro, porém, esses comportamentos contraditórios que se chocam uns contra os outros, mais confundem as pessoas do que as direcionam para os fins enobrecidos da existência, por estarem quase sempre assinalados pelas paixões pessoais, nas quais predomina o ego em detrimento dos sentimentos solidários.
O principiante, manipulado por uns e outros, em tais circunstâncias perde-se no báratro estabelecido e sem experiência ruma em direções confusas, descobrindo-se enganado, desconsiderado nos ideais que busca, logo tombando, não poucas vezes, na descrença e no desencanto.
Quando, porém, aprende a ouvir e a reflexionar, examinando as informações ministradas e cotejando-as com o conhecimento exarado na experiência do século, realizando suas próprias investigações, torna-se capaz de avaliar os exageros que defluem dos entusiasmos inoportunos, as precauções descabidas que são comuns aos temperamentos tímidos ou cépticos, passando a construir os alicerces para as suas crenças na lógica, na vivência pessoal, e a todos respeitando, mas não os levando em consideração naquilo que diz respeito às suas opiniões e caprichos informativos.
Esse processo demanda tempo e experiência, mediante os quais são avaliadas as propostas do conhecimento e as necessidades do sentimento.
Estagiando cada indivíduo em nível de consciência diferente, que corresponde às conquistas pessoais da emoção e do desenvolvimento intelectual, o mesmo acontecimento é visto de maneira mui pessoal, conforme o grau de percepção e análise individual.
Eis porque as experiências podem ser apresentadas a todos de maneira uniforme, mas cada um é convidado a vivenciá-las de forma própria e de acordo com os recursos que lhe estão disponíveis.
Nunca se apresentam duas experiências iguais para tipos diferentes. O acontecimento pode ter características semelhantes, mas sucederá de maneira bem especial de cada um, face à diversidade de enfrentamento que surge no momento de executá-lo.
A autoconsciência desvela recursos inesgotáveis que permanecem adormecidos, aguardando o momento hábil para manifestar-se. É semelhante ao agradável calor que faz desabrochar a vida, amadurecer os frutos e alegrar os corações após invernia demorada e destrutiva.
*
Aprende a observar para agir com segurança.
Não te permitas influenciar por opiniões apressadas e sem estrutura lógica mesmo que aureoladas por atraentes configurações.
Águas paradas não refletem apenas paz, mas ocultam estagnação e morte.
A experiência é estrada atraente e desafiadora, que cada pessoa deve percorrer com os próprios pés.
Os atavismos que remanescem na conduta e na reflexão mental, tendem a conduzir o individuo às repetições de comportamentos já vivenciados, sem permitirem o despertar de maior interesse pelas novas expressões da realidade.
Os hábitos da meditação em torno dos pensamentos vitalizados deve constituir um processo de amadurecimento das idéias, a fim de que passem a ter significado útil propiciador de crescimento íntimo.
Passo a passo, a mente se dilata e a compreensão dos objetivos existenciais se faz mais clara, ensejando mais harmonia interna e encantamento exterior em relação aos quadros de incomparável beleza que emolduram as paisagens.
Nesse crescimento íntimo, os fatores que geram medo, amargura, insegurança, ansiedade, são diluídos pela autoconsciência que se firma nos painéis delicados do Espírito, tornando-se mecanismo de segurança e de harmonia.
Herdeiro das realizações do passado, o ser desperta sob os camartelos dos atos perturbadores, mas também sob a inspiração das idéias enobrecidas que passearam pela sua mente e, de alguma forma, constituíram motivo de iluminação e de razão.
Havendo predominância das heranças nefastas, ressumam como conflitos e tormentos, que podem ser decodificados pela claridade dos ensinamentos morais do Evangelho de Jesus, que convida a mudanças de comportamento através de bem sucedida sintonia com os ideais de beleza, de fraternidade, de caridade.
Descobre que o seu é o destino estelar e que marcha inexoravelmente no rumo da Grande Ventura, sendo os impedimentos momentâneos desafios que lhe cumpre vencer.
Sem abandonar os valiosos contributos que lhe vêm do mundo externo, vivencia as nobres expressões do pensamento, superando obstáculos e superando-se no que diz respeito às tendências para a sombra, o vulgar, o já realizado...
A autoconsciência desabrocha e a vida adquire sentido profundo e encantador.
O mal dos maus já não faz qualquer mal.
As perseguições da inveja e da inferioridade não mais atingem os sentimentos enobrecidos.
A calúnia não encontra ressonância nos painéis da emoção.
A maledicência não cria embaraços impeditivos.
E o ser avança autoconsciente do que deve fazer, porque realizá-lo e para que esforçar-se para a preservação da sua paz pessoal e, por extensão, pela de todos.
*
Um homem desejou construir um lar para viver tranqüilamente com a família.
Mandou um engenheiro e um arquiteto planejarem a casa e os detalhes que lhe pareciam mais convenientes para uma residência cômoda e prazenteira.
Quando começou a construção, recebeu a visita de um amigo, que apresentou várias sugestões mudando o plano inicial.
Entusiasmado com as opiniões, pediu aos técnicos que corrigissem os alicerces, redesenhassem algumas linhas e, com despesas a mais, conseguiu alterar o primeiro projeto.
Posteriormente, outro amigo, e mais tarde outro mais, trouxeram opiniões descabidas que redundaram em alterações absurdas e gastos exagerados.
Ao terminar a construção, a mesma se tornou inabitável, estranha.
Calmamente, ele convocou os mesmos engenheiro e arquiteto e disse como desejava a sua futura casa.
Iniciada a obra, veio alguém apresentar-lhe sugestão, ao que ele contestou:
— Esta casa é para mim e irei fazê-la conforme acredito ser comodidade após ouvir os especialistas em construção. Não alterarei nada, a fim de atender às descabidas opiniões dos amigos, porque a casa dos amigos é aquele monstrengo que abandonei. Está será a minha casa conforme penso e desejo...
A autoconsciência tem dimensão do que é melhor para quem o deseja.
28 agosto 2009
DA ORIGEM DA LINGUAGEM
(Sociedade Espírita de Paris. - Médium, Sr. d'Ambel.)
Hoje me pedis, caros e bem amados ouvintes, para ditar, ao meu médium, a história da
origem da linguagem; vou tratar de vos satisfazer; mas devereis compreender que me será
impossível, em algumas linhas, tratar inteiramente esta séria questão, à qual se liga,
forçosamente, a mais importante ainda da origem das raças humanas.
Que Deus todo-poderoso, tão benevolente para os Espíritas, conceda-me a lucidez
necessária para podar, de minha dissertação, toda confusão, toda obscuridade e,
sobretudo, todo erro.
Entro na matéria vos dizendo: Admitamos primeiro em princípio esta eterna verdade: é que
o Criador deu a todos os seres da mesma raça um modo especial, mas seguro, para se
entenderem e se compreenderem entre eles. No entanto, esse modo de comunicação, essa
linguagem foi tanto mais restrita quanto as espécies eram mais inferiores. É em virtude
dessa verdade, dessa lei que os selvagens e as populações pouco civilizadas têm línguas de
tal modo pobres, que uma multidão de termos usados nos países favorecidos pela
civilização, ali não encontram nenhuma palavra correspondente; e é para obedecer a essa
mesma lei que essas nações que progridem criam novas expressões para novas
descobertas, para novas necessidades.
Assim como já disse em outro lugar: a Humanidade já atravessou três grandes períodos: a
fase bárbara, a fase hebraica e paga e a fase cristã. A esta última sucederá o grande
período espírita, do qual lançamos no presente, entre vós, os primeiros assentamentos.
Examinemos, pois, a primeira fase e os começos da segunda, e não posso senão repetir
aqui o que já disse. A primeira fase humana, que se pode chamar ante-hebraica ou
bárbara, se arrasta lenta e longamente em todos os horrores e convulsões de uma horrível
barbárie. O homem nela é peludo como a fera animal e se escondia nas cavernas e nos
bosques. Vivia de carne crua e se repastava de seu semelhante como de um excelente
animal de caça. É o reino da antropofagia mais absoluta. Nada de sociedade! nada de
família! Alguns grupos dispersos aqui e ali, vivendo desordenadamente uma promiscuidade
completa e sempre prontos a se entre devorarem: tal é o quadro desse cruel período.
Nenhum culto, nenhuma tradição, nenhuma idéia religiosa! Nada mais que as necessidades
animais a satisfazer, e depois é tudo! A alma, prisioneira numa matéria entorpecida,
permanece morna e latente em sua prisão carnal; nada pode contra as paredes grosseiras
que a encerram, e sua inteligência pode se mover com dificuldade nos compartimentos de
um cérebro limitado. O olhar é terno, a pálpebra pesada, o lábio é espesso o crânio
achatado, e alguns sons guturais bastam à linguagem; nada faz pressagiar que desse
animal bruto sairá o pai das raças hebraicas e pagas. No entanto, com o tempo, sentem a
necessidade de se sustentarem contra os outros carniceiros, contra o leão e o tigre, cujos
caninos temíveis e cujas garras cortantes tinham facilmente vencido os homens isolados: é
assim que se cumpre o primeiro progresso social. No entanto, o reino da matéria e da força
bruta se manteve durante toda essa fase cruel. Não procureis, pois, no homem dessa época
nem sentimento, nem razão, nem linguagem propriamente dita; ele não obedece senão à
sua grosseira sensação e não tem senão um objetivo: beber, comer e dormir; fora disso,
nada! Pode-se dizer que o homem inteligente nele está em germe, mas que não existe
ainda. Entretanto, é necessário constatar que já, entre essas raças brutais, aparecem
alguns seres superiores, Espíritos encarnados, encarregados de conduzir a Humanidade
para seu objetivo e apressar o advento da era hebraica e paga. Devo acrescentar que fora
desses Espíritos encarnados, o globo terrestre era freqüentemente visitado por esses
ministros de Deus, cuja tradição consagrou a memória sob o nome de anjos e arcanjos, e
que estes se punham quase que diariamente em relação com os seres superiores, Espíritos
encarnados dos quais acabo de falar. A missão de alguns desses anjos continuou durante
uma grande parte da segunda fase humanitária. Devo acrescentar que o quadro rápido que
acabo de fazer, dos primeiros tempos da Humanidade, vos ensina, mais ou menos, a que
leis rigorosas estão submetidos os Espíritos que ensaiam a vida nos planetas de formação
recente.
A linguagem propriamente dita, como ávida social, não começa a ter um caráter certo
senão a partir da era hebraica e paga, durante a qual o Espírito encarnado, sempre
escravizado à matéria, começa, no entanto, a se revoltar e quebrar alguns anéis da sua
pesada corrente. A alma fermenta e se agita em sua prisão carnal; por seus esforços
reiterados ela reage energicamente contra as paredes do cérebro, do qual ela sensibiliza a
matéria; melhora e aperfeiçoa, por um trabalho constante, o jogo de suas faculdades das
quais, consequentemente, os órgãos físicos se desenvolvem; enfim, o pensamento se deixa
ler num olhar límpido e claro. Estamos já longe das frontes achatadas! É que a alma se
sente, ela se reconhece, tem a consciência de si mesma, e começa a compreender que é
independente do corpo. Também, desde esse momento, ela luta com ardor para se
desembaraçar dos apertos de sua robusta rival. O homem se modifica cada vez mais e a
inteligência se move mais livremente num cérebro mais desenvolvido. Constatamos, no
entanto, que essa época vê ainda o homem encurralado e matriculado como o gado, o
homem escravo do homem; a escravidão está consagrada pelo Deus dos Hebreus tanto
quanto pelos deuses pagãos, e Jeová, tanto como Júpiter Olímpico, pede sangue e vítimas
vivas.
Essa segunda fase oferece aspectos curiosos do ponto de vista filosófico; dela já tracei um
quadro rápido que meu médium vos comunicará proximamente. O que quer que seja, e
para retornar ao assunto deste estudo, tende por certo que não foi senão na época dos
grandes períodos pastorais e patriarcais que a linguagem humana tomou um passo regular,
e adotou formas e sons especiais. Então nessa época primitiva em que a Humanidade se
desembaraça dos cueiros do berço, ao mesmo tempo que da gaguez da primeira idade,
poucas palavras bastam aos homens para quem a ciência não havia nascido, cujas
necessidades eram muito restritas, e cujas relações sociais se detinham às portas da tenda,
no limiar da família, e mais tarde nos limites da tribo. É a época em que o pai, o pastor, o
ancião, o patriarca, numa palavra, dominava como senhor absoluto com direito de vida e de
morte.
A língua primitiva foi uniforme; mas à medida que o número dos pastores cresceu, estes,
deixando por sua vez a tenda paterna, foram fundar, nas regiões inabitadas, novas famílias,
novas tribos. Então a língua usada entre eles se afastou, degrau por degrau, segundo as
gerações, da linguagem em uso sob a tenda paternal que tinham deixado outrora; e foi
assim que os idiomas diversos foram criados. De resto, embora minha intenção não seja
fazer um curso de lingüística, não estais sem ter notado que, nas línguas mais discordantes,
encontrais palavras cujo radical pouco variou e cuja significação é quase a mesma. Por
outro lado, se bem que tendes hoje a pretensão de ser um velho mundo, a mesma razão
que fez corromper a língua primitiva, reina ainda soberanamente em vossa França tão
orgulhosa de sua civilização, onde vedes as concordâncias, os termos e a significação
variada, não diria de província em província, mas de comunidade a comunidade. Para isso
chamo àqueles que viajaram para a Bretagne, como àqueles que percorreram a Provence e
o Languedoc.
É uma variedade de idiomas e dialetos de assustar aquele que quisesse coligi-los num único
dicionário.
Uma vez que os homens primitivos, ajudados nisso pelos missionários do Eterno, tenham
afetado a certos sons especiais certas idéias especiais, a língua falada se encontrou criada,
e as modificações que ela sofreu mais tarde foram em razão dos progressos humanos; por
conseqüência, segundo a riqueza de uma língua, pode se estabelecer facilmente o grau de
civilização ao qual chegou o povo que a fala. O que posso acrescentaria que a Humanidade
caminha para uma língua única, conseqüência forçada de uma comunidade de idéias em
moral, em política, e sobretudo em religião. Tal será a obra da filosofia nova, o Espiritismo,
que vos ensinamos hoje.
ERASTO.
Hoje me pedis, caros e bem amados ouvintes, para ditar, ao meu médium, a história da
origem da linguagem; vou tratar de vos satisfazer; mas devereis compreender que me será
impossível, em algumas linhas, tratar inteiramente esta séria questão, à qual se liga,
forçosamente, a mais importante ainda da origem das raças humanas.
Que Deus todo-poderoso, tão benevolente para os Espíritas, conceda-me a lucidez
necessária para podar, de minha dissertação, toda confusão, toda obscuridade e,
sobretudo, todo erro.
Entro na matéria vos dizendo: Admitamos primeiro em princípio esta eterna verdade: é que
o Criador deu a todos os seres da mesma raça um modo especial, mas seguro, para se
entenderem e se compreenderem entre eles. No entanto, esse modo de comunicação, essa
linguagem foi tanto mais restrita quanto as espécies eram mais inferiores. É em virtude
dessa verdade, dessa lei que os selvagens e as populações pouco civilizadas têm línguas de
tal modo pobres, que uma multidão de termos usados nos países favorecidos pela
civilização, ali não encontram nenhuma palavra correspondente; e é para obedecer a essa
mesma lei que essas nações que progridem criam novas expressões para novas
descobertas, para novas necessidades.
Assim como já disse em outro lugar: a Humanidade já atravessou três grandes períodos: a
fase bárbara, a fase hebraica e paga e a fase cristã. A esta última sucederá o grande
período espírita, do qual lançamos no presente, entre vós, os primeiros assentamentos.
Examinemos, pois, a primeira fase e os começos da segunda, e não posso senão repetir
aqui o que já disse. A primeira fase humana, que se pode chamar ante-hebraica ou
bárbara, se arrasta lenta e longamente em todos os horrores e convulsões de uma horrível
barbárie. O homem nela é peludo como a fera animal e se escondia nas cavernas e nos
bosques. Vivia de carne crua e se repastava de seu semelhante como de um excelente
animal de caça. É o reino da antropofagia mais absoluta. Nada de sociedade! nada de
família! Alguns grupos dispersos aqui e ali, vivendo desordenadamente uma promiscuidade
completa e sempre prontos a se entre devorarem: tal é o quadro desse cruel período.
Nenhum culto, nenhuma tradição, nenhuma idéia religiosa! Nada mais que as necessidades
animais a satisfazer, e depois é tudo! A alma, prisioneira numa matéria entorpecida,
permanece morna e latente em sua prisão carnal; nada pode contra as paredes grosseiras
que a encerram, e sua inteligência pode se mover com dificuldade nos compartimentos de
um cérebro limitado. O olhar é terno, a pálpebra pesada, o lábio é espesso o crânio
achatado, e alguns sons guturais bastam à linguagem; nada faz pressagiar que desse
animal bruto sairá o pai das raças hebraicas e pagas. No entanto, com o tempo, sentem a
necessidade de se sustentarem contra os outros carniceiros, contra o leão e o tigre, cujos
caninos temíveis e cujas garras cortantes tinham facilmente vencido os homens isolados: é
assim que se cumpre o primeiro progresso social. No entanto, o reino da matéria e da força
bruta se manteve durante toda essa fase cruel. Não procureis, pois, no homem dessa época
nem sentimento, nem razão, nem linguagem propriamente dita; ele não obedece senão à
sua grosseira sensação e não tem senão um objetivo: beber, comer e dormir; fora disso,
nada! Pode-se dizer que o homem inteligente nele está em germe, mas que não existe
ainda. Entretanto, é necessário constatar que já, entre essas raças brutais, aparecem
alguns seres superiores, Espíritos encarnados, encarregados de conduzir a Humanidade
para seu objetivo e apressar o advento da era hebraica e paga. Devo acrescentar que fora
desses Espíritos encarnados, o globo terrestre era freqüentemente visitado por esses
ministros de Deus, cuja tradição consagrou a memória sob o nome de anjos e arcanjos, e
que estes se punham quase que diariamente em relação com os seres superiores, Espíritos
encarnados dos quais acabo de falar. A missão de alguns desses anjos continuou durante
uma grande parte da segunda fase humanitária. Devo acrescentar que o quadro rápido que
acabo de fazer, dos primeiros tempos da Humanidade, vos ensina, mais ou menos, a que
leis rigorosas estão submetidos os Espíritos que ensaiam a vida nos planetas de formação
recente.
A linguagem propriamente dita, como ávida social, não começa a ter um caráter certo
senão a partir da era hebraica e paga, durante a qual o Espírito encarnado, sempre
escravizado à matéria, começa, no entanto, a se revoltar e quebrar alguns anéis da sua
pesada corrente. A alma fermenta e se agita em sua prisão carnal; por seus esforços
reiterados ela reage energicamente contra as paredes do cérebro, do qual ela sensibiliza a
matéria; melhora e aperfeiçoa, por um trabalho constante, o jogo de suas faculdades das
quais, consequentemente, os órgãos físicos se desenvolvem; enfim, o pensamento se deixa
ler num olhar límpido e claro. Estamos já longe das frontes achatadas! É que a alma se
sente, ela se reconhece, tem a consciência de si mesma, e começa a compreender que é
independente do corpo. Também, desde esse momento, ela luta com ardor para se
desembaraçar dos apertos de sua robusta rival. O homem se modifica cada vez mais e a
inteligência se move mais livremente num cérebro mais desenvolvido. Constatamos, no
entanto, que essa época vê ainda o homem encurralado e matriculado como o gado, o
homem escravo do homem; a escravidão está consagrada pelo Deus dos Hebreus tanto
quanto pelos deuses pagãos, e Jeová, tanto como Júpiter Olímpico, pede sangue e vítimas
vivas.
Essa segunda fase oferece aspectos curiosos do ponto de vista filosófico; dela já tracei um
quadro rápido que meu médium vos comunicará proximamente. O que quer que seja, e
para retornar ao assunto deste estudo, tende por certo que não foi senão na época dos
grandes períodos pastorais e patriarcais que a linguagem humana tomou um passo regular,
e adotou formas e sons especiais. Então nessa época primitiva em que a Humanidade se
desembaraça dos cueiros do berço, ao mesmo tempo que da gaguez da primeira idade,
poucas palavras bastam aos homens para quem a ciência não havia nascido, cujas
necessidades eram muito restritas, e cujas relações sociais se detinham às portas da tenda,
no limiar da família, e mais tarde nos limites da tribo. É a época em que o pai, o pastor, o
ancião, o patriarca, numa palavra, dominava como senhor absoluto com direito de vida e de
morte.
A língua primitiva foi uniforme; mas à medida que o número dos pastores cresceu, estes,
deixando por sua vez a tenda paterna, foram fundar, nas regiões inabitadas, novas famílias,
novas tribos. Então a língua usada entre eles se afastou, degrau por degrau, segundo as
gerações, da linguagem em uso sob a tenda paternal que tinham deixado outrora; e foi
assim que os idiomas diversos foram criados. De resto, embora minha intenção não seja
fazer um curso de lingüística, não estais sem ter notado que, nas línguas mais discordantes,
encontrais palavras cujo radical pouco variou e cuja significação é quase a mesma. Por
outro lado, se bem que tendes hoje a pretensão de ser um velho mundo, a mesma razão
que fez corromper a língua primitiva, reina ainda soberanamente em vossa França tão
orgulhosa de sua civilização, onde vedes as concordâncias, os termos e a significação
variada, não diria de província em província, mas de comunidade a comunidade. Para isso
chamo àqueles que viajaram para a Bretagne, como àqueles que percorreram a Provence e
o Languedoc.
É uma variedade de idiomas e dialetos de assustar aquele que quisesse coligi-los num único
dicionário.
Uma vez que os homens primitivos, ajudados nisso pelos missionários do Eterno, tenham
afetado a certos sons especiais certas idéias especiais, a língua falada se encontrou criada,
e as modificações que ela sofreu mais tarde foram em razão dos progressos humanos; por
conseqüência, segundo a riqueza de uma língua, pode se estabelecer facilmente o grau de
civilização ao qual chegou o povo que a fala. O que posso acrescentaria que a Humanidade
caminha para uma língua única, conseqüência forçada de uma comunidade de idéias em
moral, em política, e sobretudo em religião. Tal será a obra da filosofia nova, o Espiritismo,
que vos ensinamos hoje.
ERASTO.
27 agosto 2009
OS ORIXÁS NO DIVÃ
Este é o título da entrevista que a psicóloga clínica e ialorixá (do templo Guaracy de Umbanda, SP), Tina de Souza concedeu a Luis Pellegrini, publicada na conceituada revista PLANETA. Não vamos nos alongar nos comentários sobre a insólita entrevista. Destacamos, apenas, alguns pontos que nos parecem obscuros. V.g., a entrevistada citou que a "essência sutil é o núcleo central da pessoa, a sua identidade primordial". adiante, afirma que a "essência sutil é constituída pelos elementos fogo, terra, água, e ar, os quais podem ser entendidos como relacionados respectivamente a novos aspectos energéticos, material, psíquico e mental." E disse mais: "As forças que vibram nesses elementos recebem o nome iorubá de orixás. Que confusão, Dra. Tina!
Será que os umbandistas sabiam de toda essa geringonça ideológica? Ademais, que são os aspectos psíquico e mental? Onde ficam? Na "essência sutil". E a "essência sutil" fica onde? Será que tudo tem sede no cérebro? Se não for no cérebro, onde ficaria? E o que é mente e o que é psiquismo? E mais além da entrevista a Dra. Tina fala em "inconsciente primitivo". Ela "explica", a propósito: " O inconsciente primitivo é uma zona de ligação entre a essência e as demais partes que constituem a pessoa". Brilhante, vocês não acham? Mas onde fica, na verdade, o "inconsciente primitivo"? No cérebro? Em que lugar do cérebro. Para a Psicologia tudo fica no cérebro, mesmo? Em seguida a Dra. Tina afirma que, na visão dela (ainda bem), o "inconsciente primitivo" é uma membrana permeável (!). Nela podem ser encontrados todos os requisitos das memórias espirituais do indivíduo relacionadas às suas qualidades "mediúnicas" (é incrível essa definição de mediunidade), os requisitos armazenados no presente ciclo de vida e dos ciclos anteriores, caso se aceite a idéia da existência de encarnações passadas". E se não fossem aceitas? Essa é apenas uma questão ideológica ou uma realidade existencial, independentemente de crença ou descrença?
Paremos por aqui, diante de tanta maluquice. Algumas revistas que hoje circulam no Brasil teimam em impor aos seus leitores assuntos que tais, sem quaisquer bases científicas. Saudades da PLANETA de outrora!
Outro tema, na mesma edição de PLANETA, sobre o título "Entendendo o Poltergeist", de autoria do médico-psiquiatra e psicoterapeuta do Encantamento (!), Paulo Urleam, que com dúvidas escreve: "Creio (ele apenas crê) que a psicologia junguiana é o melhor modelo para explicar os fenômenos parapsicológicos, particularmente no que se refere ao conceito analítico de sincronicidade..." Sincronicidade? Eis aí uma questão assaz duvidosa. Sincronicidade é a mesma coisa que coincidência. E o que é coincidência? Até hoje ninguém conseguiu firmar um conceito aceitável de coincidência. Ademais, Jung não apenas presenciou manifestações de efeitos físicos, ele fez extraordinários contatos com os Espíritos, materializações nas sessões do Dr. Schrenk-Notzing, na Alemanha, às da faculdade mediúnica de ectoplasmia de Rudi Schneider. Além do mais, Jung era um excelente médium de escrita automática. Vide sua obra "Os sete Sermões aos Mortos". Na verdade, Jung ficou, como o próprio Freud, em cima do muro. Ou mais precisamente, não foi honesto o bastante para afirmar a imortalidade da alma e suas naturais manifestações no mundo corpóreo. Atribuir as comunicações de poltergeist ao inconsciente é temerário; é um atestado de desconhecimento total da realidade espiritual do ser humano. O Dr. Hernani Guimarães Andrade, amigo nosso de longa data, já infelizmente desencarnado, concluiu pelo menos para este escriba, que os fenômenos de poltergeist ainda precisavam ser analizados com extrame cautela. Devê-los a estados emocionais alterados é infantilidade. Ali estão os Espíritos manfiestando-se acintosamente, tal como fizeram no passado e no presente. O problema é o funcionamento; arraigado preconceito. E para finalizar, que tal se os psiquiatras e psicólogos explicassem o que aconteceu no Monte Tabor, quando Jesus materializou dois Espíritos Moisés e Elias, utilizando-se do ectoplasma de Pedro, João e Tiago. Será que aquilo ali foi uma fraude? Qual o objetivo de Jesus em trazer do mundo espiritual dois dos grandes profetas hebreus? Será que Jung explicaria aquele fenômeno tomando por base as suas especulações psicológicas?
Será que os umbandistas sabiam de toda essa geringonça ideológica? Ademais, que são os aspectos psíquico e mental? Onde ficam? Na "essência sutil". E a "essência sutil" fica onde? Será que tudo tem sede no cérebro? Se não for no cérebro, onde ficaria? E o que é mente e o que é psiquismo? E mais além da entrevista a Dra. Tina fala em "inconsciente primitivo". Ela "explica", a propósito: " O inconsciente primitivo é uma zona de ligação entre a essência e as demais partes que constituem a pessoa". Brilhante, vocês não acham? Mas onde fica, na verdade, o "inconsciente primitivo"? No cérebro? Em que lugar do cérebro. Para a Psicologia tudo fica no cérebro, mesmo? Em seguida a Dra. Tina afirma que, na visão dela (ainda bem), o "inconsciente primitivo" é uma membrana permeável (!). Nela podem ser encontrados todos os requisitos das memórias espirituais do indivíduo relacionadas às suas qualidades "mediúnicas" (é incrível essa definição de mediunidade), os requisitos armazenados no presente ciclo de vida e dos ciclos anteriores, caso se aceite a idéia da existência de encarnações passadas". E se não fossem aceitas? Essa é apenas uma questão ideológica ou uma realidade existencial, independentemente de crença ou descrença?
Paremos por aqui, diante de tanta maluquice. Algumas revistas que hoje circulam no Brasil teimam em impor aos seus leitores assuntos que tais, sem quaisquer bases científicas. Saudades da PLANETA de outrora!
Outro tema, na mesma edição de PLANETA, sobre o título "Entendendo o Poltergeist", de autoria do médico-psiquiatra e psicoterapeuta do Encantamento (!), Paulo Urleam, que com dúvidas escreve: "Creio (ele apenas crê) que a psicologia junguiana é o melhor modelo para explicar os fenômenos parapsicológicos, particularmente no que se refere ao conceito analítico de sincronicidade..." Sincronicidade? Eis aí uma questão assaz duvidosa. Sincronicidade é a mesma coisa que coincidência. E o que é coincidência? Até hoje ninguém conseguiu firmar um conceito aceitável de coincidência. Ademais, Jung não apenas presenciou manifestações de efeitos físicos, ele fez extraordinários contatos com os Espíritos, materializações nas sessões do Dr. Schrenk-Notzing, na Alemanha, às da faculdade mediúnica de ectoplasmia de Rudi Schneider. Além do mais, Jung era um excelente médium de escrita automática. Vide sua obra "Os sete Sermões aos Mortos". Na verdade, Jung ficou, como o próprio Freud, em cima do muro. Ou mais precisamente, não foi honesto o bastante para afirmar a imortalidade da alma e suas naturais manifestações no mundo corpóreo. Atribuir as comunicações de poltergeist ao inconsciente é temerário; é um atestado de desconhecimento total da realidade espiritual do ser humano. O Dr. Hernani Guimarães Andrade, amigo nosso de longa data, já infelizmente desencarnado, concluiu pelo menos para este escriba, que os fenômenos de poltergeist ainda precisavam ser analizados com extrame cautela. Devê-los a estados emocionais alterados é infantilidade. Ali estão os Espíritos manfiestando-se acintosamente, tal como fizeram no passado e no presente. O problema é o funcionamento; arraigado preconceito. E para finalizar, que tal se os psiquiatras e psicólogos explicassem o que aconteceu no Monte Tabor, quando Jesus materializou dois Espíritos Moisés e Elias, utilizando-se do ectoplasma de Pedro, João e Tiago. Será que aquilo ali foi uma fraude? Qual o objetivo de Jesus em trazer do mundo espiritual dois dos grandes profetas hebreus? Será que Jung explicaria aquele fenômeno tomando por base as suas especulações psicológicas?
Assinar:
Postagens (Atom)