22 setembro 2011

20 setembro 2011

A Medicina Oficial se abre para a questão espiritual

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A questão da vida após a morte, a sobrevivência do espírito após a morte do corpo biológico, sendo este a sede da emoção, da personalidade, da identidade de uma pessoa na hipótese do continuum da vida, a comunicabilidade entre a dimensão espiritual e o plano biológico nos estados de transe, na mediunidade, o entendimento do cérebro como o transdutor da alma e não como foco produtor do pensamento, são questões em aberto no território da Ciência.

A visão materialista entende que a pessoa é o corpo biológico, portanto a vida termina com a morte do corpo. Esta é uma hipótese que não foi comprovada pela Ciência. Assim, tanto a visão espírita proposta por Allan Kardec, quanto à visão organicista-materialista são hipóteses abertas à investigação pela Ciência Oficial.

Afirmar o materialismo como realidade existencial é hoje uma hipótese e não uma confirmação cientifica. Um cientista que se diz materialista fala em nome próprio e não em nome da Ciência. A Ciência Oficial está aberta à investigação das hipóteses espíritas tanto quanto as hipóteses materialistas. Assim é que as universidades americanas como a Universidade de Harvard (Mind-body Institut), a Universidade de Virginia (Pesquisa sobre reencarnação), a Universidade do Arizona (Laboratório de pesquisa sobre vida após a morte)www.veritas.arizona.edu e por extensão as 50 maiores faculdades de medicina dos EUA incluem em seus currículos de graduação e pós-graduação a Disciplina Medicina e Espiritualidade, segundo JAMA - Journal of American Medical Association.

A OMS _ Organização Mundial de Saúde, passa a admitir o sistema espiritual na caracterização de saúde e qualidade de vida como observamos no protocolo do WHOQOL-100 - www.ufrgs.br/psiq/whoqol1.html - (domínio VI Aspectos espirituais, religião e crenças pessoais na tabela 2 – Domínios e facetas do WHOQOL).

Também, o CID-10, Código Internacional de Doenças, item F.44.3 - Estados de Transe e Possessão - configura como diagnóstico médico e qualifica o transe patológico (mediunidade/doença) quando o individuo não tem controle sobre o fenômeno, ocorrendo de forma involuntária e não desejada. Mas não é considerada doença o estado de transe (mediunidade/saúde) sob domínio da pessoa em seu contexto cultural ou religioso -www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.htm.

O DSM-IV, Casos Clínicos da Associação Americana de Psiquiatria, chega a ser mais objetivo utilizando o termo “possessão por espíritos”, colocando que consiste num transtorno dissociativo, com a ressalva de que “é o termo mais próximo deste intrigante diagnóstico”, demonstrando objetivamente que o entendimento do fenômeno ainda está em aberto - www.psych.org.

De fato, o estado de transe é um estado dissociativo (conversão) podendo configurar-se como Transtorno Dissociativo nos casos patológicos (mediunidade/doença) porque a interferência espiritual naturalmente provoca dissociação da mente. Portanto, considerar o estado de transe como transtorno dissociativo ou conversivo não exclui a hipótese de que seja um fenômeno espirítico.

Os estados conversivos ou dissociativos foram amplamente estudados no Hospital Salpêtrière de Paris, na escola do Prof. Charcot, onde Freud estudou. Em seus estudos alguns pesquisadores abordaram a hipótese espirítica (Mediunidade) como entendimento etiológico dos estados conversivos. Um deles foi Carl Gustav Jung que no segundo capítulo do primeiro volume de Obras Completas (Ed. Vozes) estuda o médium espírita. Também na mesma escola os médicos Gustav Geley e Albert Scherenck-Notzing abordaram formalmente a hipótese espírita como valida em medicina (Scherenck-Notzing em Le Phenomene Physique de La Mediunite e Gustav Geley em O Ser Subconsciente). Com isso, mesmo o termo Conversão Histérica enquanto fórmula estritamente anímica, como proposto por Freud, não foi e não é um consenso em medicina.

Como médico participo da hipótese espírita dos estados de transe e possessão e também no entendimento do sistema espiritual abordado pelo protocolo de Qualidade de Vida da OMS, procurando pesquisar as possibilidades da hipótese espiritual no processo de saúde e doença. Esta argumentação frente à abertura que a Medicina Oficial está dando para o entendimento do sistema espiritual permitiu que meu protocolo de pesquisa no estudo de 120 pacientes abordados segundo a óptica bio-psico-socio-espiritual fosse aprovado oficialmente junto à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e esta pesquisa já está sendo desenvolvida.

Julgo que a Medicina e a Ciência nas universidades precisam criar institutos e departamentos com todos os recursos para pesquisa cientifica, a fim de estudar a hipótese espiritual. É para este ideal que procuro contribuir para que esta questão não fique pautada em cima de opiniões pessoais.

É inequívoco que a Medicina e a Ciência estão abertas para esta hipótese.

Dr. Sergio Felipe de Oliveira - CRM 62.051

Sou médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Anatomista pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo com área de concentração em Neurociências e Neuroanatomia Ultraestrutural. Mestre em Ciências pela USP. Coordeno a Disciplina Optativa Medicina e Espiritualidade da FMUSP enquadrada no item práticas médicas para graduandos de medicina. www.fm.usp.br/cedem/simposio/simposio.php

09 setembro 2011

NÃO VIM TRAZER A PAZ, MAS A ESPADA


Não julgueis que vim trazer paz a Terra; não vim
trazer-lhe paz, mas espada; porque vim separar o homem contra seu pai,
e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e os inimigos do
homem serão os seus mesmos domésticos. (Mateus, X: 34-36).
Eu vim trazer fogo à Terra, e que quero eu, senão que
ele se acenda? Eu, pois, tenho de ser batizado num batismo, e quão
grande não é a minha angústia, até que ele se cumpra? Vós cuidais que
eu vim trazer paz à Terra? Não, vos digo eu, mas separação; porque de
hoje em diante haverá, numa mesma casa, cinco pessoas divididas, três
contra duas e duas contra três. Estarão divididas: o pai contra o
filho, e o filho contra seu pai; a mãe contra a filha, e a filha
contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra.
(Lucas, XII: 49-53)

Foi mesmo Jesus, a personificação da doçura e da
bondade, ele que não cessava de pregar o amor do próximo, quem disse
estas palavras: Eu não vim trazer a paz, mas a espada; vim separar o
filho do pai, o marido da mulher, vim lançar fogo na Terra e tenho
pressa que ele se acenda? Essas palavras não estão em flagrante
contradição com o seu ensino? Não é uma blasfêmia atribuir-se a
linguagem de um conquistador sanguinário e devastador? Não, não há
blasfêmia nem contradição nessas palavras, porque foi ele mesmo quem
as pronunciou, e elas atestam a sua elevada sabedoria. Somente a
forma, um tanto equívoca, não exprime exatamente o seu pensamento, o
que provocou alguns enganos quanto ao seu verdadeiro sentido. Tomadas
ao pé da letra, elas tenderiam a transformar a sua missão,
inteiramente pacífica, numa missão de turbulências e discórdias,
conseqüência absurda, que o bom senso rejeita, pois Jesus não podia
contradizer-se. (Ver cap. XIV, nº 6).

Toda idéia nova encontra forçosamente oposição, e não
houve uma única que se implantasse sem lutas. A resistência, nesses
casos, está sempre na razão da importância dos resultados previstos,
pois quanto maior ela for, maior será o número de interesses
ameaçados. Se for uma idéia notoriamente falsa, considerada sem
conseqüências, ninguém se perturba com ela, e a deixam passar,
confiantes na sua falta de vitalidade. Mas se é verdadeira, se está
assentada em bases sólidas, se é possível entrever-lhe o futuro, um
secreto pressentimento adverte os seus antagonistas de que se trata de
um perigo para eles, para a ordem de coisas por cuja manutenção se
interessam. E é por isso que se lançam contra ela e os seus adeptos. A
medida da importância e das conseqüências de uma idéia nova nos é
dada, portanto, pela emoção que o seu aparecimento provoca, pela
violência da oposição que desperta, e pela intensidade e a
persistência da cólera dos seus adversários.

Jesus vinha proclamar uma doutrina que minava pelas
bases a situação de abusos em que viviam os fariseus, os escribas e os
sacerdotes do seu tempo. Por isso o fizeram morrer, julgando matar a
idéia com a morte do homem. Mas a idéia sobreviveu, porque era
verdadeira; desenvolveu-se, porque estava nos desígnios de Deus; e
nascida numa pequena vila da Judéia, foi plantar a sua bandeira na
própria capital do mundo pagão, em face dos seus inimigos mais
encarniçados, daqueles que tinham o maior interesse em combatê-la,
porque ela subvertia as crenças seculares, a que muitos se apegavam,
mais por interesse do que por convicção. Era lá que as lutas mais
terríveis esperavam os seus apóstolos; as vítimas foram inumeráveis;
mas a idéia cresceu e saiu triunfante, porque superava, como verdade,
as suas antecessoras.

Observe-se que o Cristianismo apareceu quando
Paganismo declinava, debatendo-se contra as luzes da razão.
Convencionalmente ainda o praticavam, mas a crença já havia
desaparecido, de maneira que apenas o interesse pessoal o sustinha.
Ora, o interesse é tenaz, não cede nunca à evidência, e irrita-se
tanto mais, quanto mais peremptórios são os raciocínios que se lhe
opõem e que melhor demonstram o seu erro. Bem sabe que está errado,
mas isso pouco lhe importa, pois a verdadeira fé não lhe interessa;
pelo contrário, o que mais o amedronta é a luz que esclarece os cegos.
O erro lhe é proveitoso, e por isso a ele se aferra, e o defende.

Sócrates não formulara também uma doutrina, até certo
ponto, semelhante à do Cristo? Por que, então, não prevaleceu naquela
época, no seio de um dos povos mais inteligentes da Terra? Porque os
tempos ainda não haviam chegado. Ele semeou em terreno não preparado:
o paganismo não estava suficientemente gasto. Cristo recebeu a sua
missão providencial no tempo devido. Nem todos o homens do seu tempo
estavam à altura das idéias cristãs, mas havia um clima geral de
aptidão para assimilá-las, porque já se fazia sentir o vazio que as
crenças vulgares deixavam na alma. Sócrates e Platão abriram o caminho
e prepararam os Espíritos. (Ver na Introdução, parágrafo IV: Sócrates
e Platão, precursores da idéia cristã e do Espiritismo).

Os adeptos da nova doutrina, infelizmente, não se
entenderam sobre a interpretação das palavras do Mestre, na maioria
veladas por alegorias e expressões figuradas. Daí surgirem, desde o
princípio, as numerosas seitas que pretendiam, todas elas, a posse
exclusiva da verdade, e que dezoito séculos não conseguiram pôr de
acordo. Esquecendo o mais importante dos preceitos divinos, aquele de
que Jesus havia feito a pedra angular do seu edifício e a condição
expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor do próximo,
essas seitas se anatematizaram reciprocamente, arremeteram-se umas
contra as outras, as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as
em sangue, ou nas torturas e nas chamas das fogueiras. Os cristãos
vencedores do paganismo, passaram de perseguidos a perseguidores. Foi
a ferro e fogo que plantaram a cruz do cordeiro sem mácula nos dois
mundos. É um fato comprovado que as guerras de religião foram mais
cruéis e fizeram maior número de vítimas que as guerras políticas, e
que em nenhuma outra se cometeram tantos atos de atrocidade e de
barbárie.

Seria a culpa da doutrina do Cristo? Não, por certo, pois
ela condena formalmente toda violência. Disse ele em algum momento aos
seus discípulos: Ide matar, queimar, massacrar os que não acreditarem
como vós? Não, pois que lhes disse o contrário: Todos os homens são
irmãos, e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo;
amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos perseguem. E lhes disse
ainda: Quem matar com a espada perecerá pela espada. A
responsabilidade, portanto, não é da doutrina de Jesus, mas daqueles
que a interpretaram falsamente, transformando-a num instrumento a
serviço das suas paixões, daqueles que ignoram estas palavras: O meu
Reino não é deste mundo.

Jesus, na sua profunda sabedoria, previu o que devia
acontecer. Mas essas coisas eram inevitáveis, porque decorriam da
própria inferioridade da natureza humana, que não podia ser
transformada subitamente. Era necessário que o Cristianismo passasse
por essa prova demorada e cruel, de dezoito séculos, para demonstrar
toda a sua pujança: porque, apesar de todo o mal cometido em seu nome,
ele saiu dela puro, e jamais esteve em causa. A censura sempre caiu
sobre os que dele abusaram, pois a cada ato de intolerância sempre se
disse: Se o Cristianismo fosse melhor compreendido e melhor praticado,
isso não teria acontecido.

Quando Jesus disse: Não penseis que vim trazer a paz,
mas a divisão – seu pensamento era o seguinte:

“Não penseis que a minha doutrina se estabeleça
pacificamente. Ela trará lutas sangrentas, para as quais o meu nome
servirá de pretexto. Porque os homens não me haverão compreendido, ou
não terão querido compreender-me. Os irmãos, separados pelas suas
crenças, lançarão a espada um contra o outro, e a divisão se fará
entre os membros de uma mesma família, que não terão a mesma fé. Vim
lançar o fogo na Terra, para consumir os erros e os preconceitos, como
se põe fogo num campo para destruir as ervas daninhas, e anseio porque
se acenda, para que a depuração se faça mais rapidamente, pois dela
sairá triunfante a verdade. A guerra sucederá a paz; ao ódio dos
partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da
fé esclarecida” .

“Então, quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei
o Consolador, o Espírito da Verdade, que virá restabelecer todas as
coisas, ou seja, que dando a conhecer o verdadeiro sentido das minhas
palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender,
porá termo à luta fratricida que divide os filhos de um mesmo Deus.
Cansados, afinal, de um combate sem solução, que só acarreta desolação
e leva o distúrbio até mesmo ao seio das famílias, os homens
reconhecerão onde se encontram os seus verdadeiros interesses, no
tocante a este e ao outro mundo, e verão de que lado se acham os
amigos e os inimigos da sua tranqüilidade. Nesse momento, todos virão
abrigar-se sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão
restabelecidas na Terra, segundo a verdade e os princípios que vos
ensinei”.

O Espiritismo vem realizar, no tempo determinado, as
promessas do Cristo. Não o pode fazer, entretanto, sem destruir os
erros. Como Jesus, ele se defronta com o orgulho, o egoísmo, a
ambição, a cupidez, o fanatismo cego, que, cercados nos seus últimos
redutos, tenta ainda barrar-lhe o caminho, e levantam contra ele
entraves e perseguições. Eis por que ele também é forçado a combater.
Mas a época das lutas e perseguições sangrentas já passou, e as que
ele tem de suportar são todas de ordem moral, sendo que o fim de todas
elas se aproxima. As primeiras duraram séculos; as de agora durarão
apenas alguns anos, porque a luz não parte de um só foco, mas irrompe
de todos o ponto do globo, e abrirá mais depressa os olhos aos cegos.

Aquelas palavras de Jesus devem ser entendidas,
portanto, como referentes à cólera que, segundo previa, a sua doutrina
iria suscitar; aos conflitos momentâneos, que surgiram como
conseqüência; às lutas que teria de sustentar, antes de se firmar,
como aconteceu com os hebreus antes de sua entrada na Terra Prometida;
e não como um desígnio premeditado, de sua parte, de semear a desordem
e a confusão. O mal devia provir dos homens, e não dele. A sua posição
era a do médico que veio curar, mas cujos remédios provocam uma crise
salutar, revolvendo os humores malignos do enfermo.

07 setembro 2011

A Razão de Ser do Espiritismo

Quando o obscurantismo da fé dominava as mentes, levando-as ao fanatismo desestruturador da dignidade e do comportamento; quando a cultura, enlouquecida pelas suas conquistas no campo da ciência de laboratório, proclamava a desnecessidade de qualquer preocupação com Deus e com a alma, face à fragilidade com que se apresentavam no proscênio do mundo; quando a filosofia divagava pelas múltiplas escolas do pensamento, cada qual mais arrebatadora e irresponsável, inculcando-se como portadora da verdade que liberta o ser humano de todos os atavismos e limitações; quando a arte rompia as ligações com o clássico, o romântico e a beleza convencional, para expressar-se em formulações modernistas, impressionistas, abstracionistas, traduzindo, ora a angústia da sua geração remanescente dos atavismos e limitações do passado, ora a ansiedade por diferentes paradigmas de afirmação da realidade; quando se tornavam necessários diversos comportamentos sociais e políticos para amenizar a desgraça moral e econômica que avassalava a Humanidade; quando a religião perdia o controle sobre as consciências e tentava rearticular-se para prosseguir com os métodos medievais ultramontanos e insuportáveis; quando as luzes e as sombras se alternavam na civilização, surgiu o Espiritismo com a sua razão de ser para promover o homem e a mulher, a vida e a imortalidade, o amor e o bem a níveis dantes jamais alcançados.

Realizando uma revolução silenciosa como poucas jamais ocorridas na História, tornou-se poderosa alavanca para o soerguimento do ser humano, retirando-o do caos do materialismo a que se arrojara ou fora atirado sem a menor consideração, para que adquirisse a dignidade ética e cultural, fundamentada na identificação dos valores morais, indispensável para a identificação dos objetivos essenciais e insuperáveis da paz interna e da consciência de si mesmo durante o trânsito corporal.

Logo depois, no Collège de France, proclamando ser Jesus um homem incomparável, no seu memorável discurso, o acadêmico e imortal Ernesto Renan confirmava, a seu turno, embora sem qualquer contato com a Doutrina nascente, a humanidade do Rabi galileu, rompendo a tradição dogmática do Homem Deus ou do ancestral Deus feito homem.

Sob a ação do escopro inexorável das informações de além-túmulo, o decantado repouso ou punição eterna, o arbitrário julgamento mais punitivo que justiceiro, cediam lugar à consciência da vida exuberante que prossegue morte afora impondo a cada qual a responsabilidade pela conduta mantida durante a trajetória encerrada.

As narrações da sobrevivência tocadas pela legitimidade dos fatos fundamentadas na lógica da indestrutibilidade do ser espiritual, davam colorido diferente às paisagens da Eternidade, diluindo as fantasias e mitos que as adornaram por diversos milênios.

Permitiu que o ser humano se redescobrisse como Espírito imortal que é, preexistente ao berço e sobrevivente ao túmulo, facultando-lhe compreender a finalidade existencial, que é imergir no oceano do inconsciente, onde dormem os atos pretéritos e as construções que projetam diretrizes para o momento e o futuro, a fim de diluir as volumosas barreiras de sombra e de crueldade a que se entregou e que lhe obnubila a compreensão da sua realidade, emergindo em triunfo, para que lobrigue a imarcescível luz da verdade que o há de conduzir pelos infinitos roteiros do porvir.

Intoxicado pelos vapores da organização fisiológica, mergulhado em sombras que lhe impedem o discernimento, vagando pelos dédalos intérminos da busca da realidade, somente ao preço da fé raciocinada e lógica, portadora dos instrumentos que se derivam dos fatos constatados, o homem e a mulher podem avançar com destemor pelas trilhas dos sofrimentos inevitáveis, que são inerentes à sua condição de humanidade, vislumbrando níveis mais nobres que devem ser conquistados.

O Espiritismo traçou novos programas para a compreensão da vida e a mais eficaz
maneira de enfrentá-la, desafiando o materialismo no seu reduto e os materialistas no seu cepticismo, oferecendo-lhes mais seguras propostas de comportamento para a felicidade ante as vicissitudes do processo existencial.

Não se compadecendo da presunção dos vazios de sentimento e soberbos de conhecimentos em ebulição de idéias, demonstrou a sua força arrastando desesperados que foram confortados, violentos que se acalmaram, alucinados que recuperaram a razão, delinqüentes que volveram ao culto do dever, perversos que se transformaram, ateus que fizeram as pazes com Deus, ingratos que se reabilitaram perante os seus benfeitores, miseráveis morais que se enriqueceram de esperança e de alegria de viver, construindo juntos o mundo de bem-estar por todos anelado.

O Espiritismo trouxe a perfeita mensagem da justiça divina, por enquanto mal traduzida pela consciência humana, contribuindo para a transformação da sociedade, mas sem a revolução sangrenta das paixões em predomínio, que sempre impõe uma classe poderosa sobre as outras que são debilitadas à medida que vão sendo extorquidos os seus parcos recursos até a exaustão das suas forças, quando novas revoluções do mesmo gênero explodem, produzindo desgraça e ódios que nunca terminam . . .

Trabalhando a transformação moral do indivíduo, propõe-lhe o comportamento solidário e fraternal, a aplicação da justiça corretiva e reeducativa quando delinqüi, conscientizando-o de que as suas ações serão também os seus juízes e que não fugirá de si mesmo onde quer que vá.

Todo esse contributo moral foi retirado do Evangelho de Jesus, especialmente do Seu Sermão da montanha, no qual reformulou os valores humanos até então aceitos, demonstrando que forte não é o vencedor de fora, mas aquele que se vence a si mesmo, e poderoso, no seu sentido profundo, não é aquele que mata corpos, mas não é capaz de evitar a própria morte.

Revolucionando o pensamento ético e abrindo espaço para novo comportamento filosófico, a Sua palavra vibrante e a Sua vivência inigualável, colocaram as pedras básicas para o Espiritismo no futuro alicerçar, conforme ocorreu, os seus postulados morais através da ética do amor sob qualquer ponto de vista considerado.

Nos acampamentos de lutas que se estabeleciam no Século XIX, quando a ciência e a razão enfrentavam a fé cega e a prepotência das Academias e dos seus membros fascinados como Narciso por si mesmo, o Espiritismo surgiu como débil claridade na noite das ambições perturbadoras e lentamente se afirmou como amanhecer de um novo dia para a Humanidade já cansada de aberrações de conduta como fugas da realidade e sonhos de poder transitório, transformados em pesadelos de guerras infames, cujas seqüelas ainda se demoram trucidando vidas e dilacerando sentimentos.

A razão de ser do Espiritismo encontra-se na sua estrutura doutrinária, diversificada nos seus aspectos de investigação científica ao lado das demais correntes da ciência, do comportamento filosófico com a sua escola otimista e realista para o enfrentamento do ser consigo mesmo e da vivência ético-moral-religiosa que se estrutura em Deus, na imortalidade, na justiça divina, na oração, na ação do bem e sobretudo do amor, única psicoterapia preventiva-curativa à disposição da Humanidade atual e do futuro.

Victor Hugo (espírito)

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 7 de junho de 2001, em Paris, França)