Tudo se irradia em a Natureza, produzindo vibrações específicas que se identificam umas com as outras, estabelecendo vínculos que se transformam em harmonia do conjunto.
No que tange ao ser humano, esse processo é mais expressivo em razão das ondas de simpatia ou de antipatia que decorrem da presença ou ausência de afinidade entre os mesmos.
Há, no entanto, uma influenciação sutil, que passa despercebida e merece consideração.
Referimo-nos à identificação de idéias e propósitos, que certos indivíduos recebem noutros, passando a receber-lhes o magnetismo e deixando-se impregnar.
Quando essa força se exterioriza de pessoa boa, nobre e generosa, produz salutar efeito sobre aquele que se deixa arrastar, assimilando-lhe as vibrações e os exemplos edificantes de que passam a dar mostras após o convívio estabelecido.
Quando, porém, se trata de criatura enferma do caráter, portadora de imperfeições morais danosas, a sua subjugação se transforma em efeito nefasto para quem lhe padece a injunção.
Sentindo-se atraído pela influenciação daquele com quem convive, cabe a cada um desidentificar-se desse arrastamento e sintonizar com Jesus, que é o único modelo para a humanidade terrestre.
Assimilar as boas impressões é muito importante, mantendo, porém, a própria individualidade, desde que, cada Espírito possui específico patrimônio, e tem por meta, em razão dos seus atos passados, a renovação interior e a auto-recuperação conforme as forças de que disponha.
O tarefeiro possui compromisso pessoal intransferível com a realização que deve operar. Os estímulos que recebe constituem-lhe valiosa contribuição que o não deve afastar do dever sob fascínio diferente.
Outrossim, deixando-se conduzir pelas interferências negativas, quando é portador de discernimento e razão, torna-se-lhe o fato um gravame perturbador.
Nesse panorama, todavia, ocorre uma influenciação que merece ser examinada com cuidado.
Quando se exterioriza de uma pessoa saudável, os Bons Espíritos a utilizam discretamente, a fim de auxiliar os seus pupilos e aprendizes, influenciando-lhes ânimo e orientações com que os auxiliam ao fortalecimento e à coragem para a luta de crescimento interior e de auto-iluminação.
Velando por eles, quando não os conseguem alcançar diretamente, os induzem às boas companhias, aos convívios edificantes.
Por outro lado, aqueles que se afinam com os maus, igualmente passam a receber influenciações perturbadoras dos Espíritos perversos, que se comprazem em perseguir e infelicitar por prazer, por inveja ou por desforço injustificado.
Iniciam-se, nesse caso, obsessões de uns encarnados por outros, por sua vez vítimas também de sutis interferências espirituais perniciosas.
Conforme a condição moral e mental de cada indivíduo, a sintonia é feita na mesma faixa vibratória.
Eis porque a todos cumpre manter-se em atitude vigilante para bem discernir e em freqüência de oração, de modo a elevar-se vibratoriamente, ascendendo em aspirações e idéias, portanto, em campos vibratórios de influenciações felizes.
Simão Pedro, interrogado por Jesus, a respeito da Sua procedência, respondeu emocionado, em sintonia com o psiquismo superior, que Ele era o Messias aguardado.
Logo depois, porque o Benfeitor Celeste informasse que deveria descer a Jerusalém para sofrer e dar o testemunho, ficou atemorizado, e disse, intempestivo: - Nós não o deixaremos...
Advertindo-o, e aos demais companheiros, o Mestre exprobou-lhe a conduta: - Afasta-te de mim, satanás, e não tentes o teu Senhor, referindo-se, naturalmente, ao Espírito insensato e leviano que tomara o pescador invigilante.
Procura, desse modo, também tu, identificar a onda de influenciação que te envolve e descobrir-lhe a procedência, a fim de elegeres aquela que te beneficie, sem que interfira ou perturbe a tua individualidade ou a tua tarefa.
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 31-03-1997, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA).
"Assimilar as boas impressões é muito importante, mantendo, porém, a própria individualidade"
Joana de Ângelis (espírito)
Um blog onde se respeita a diversidade religiosa,
o livre pensamento e o direito à expressão.
31 agosto 2009
A PRECE E A OBSESSÃO
Na obra "Religião", no derradeiro Capítulo, registra-se um substancial estudo sobre a prece, estudo magnífico que o Dr. Carlos Imbassahy apóia na evidência dos fatos por ele mesmo observados e trazidos ao conhecimento do público.
Um desses fatos é o que nos permitimos reproduzir, sem omissão de uma vírgula. Ouçamos o beletrista baiano:
"Numa sessão, aliás teórica, falávamos sobre pontos evangélicos, quando uma jovem presente toma o aspecto de louca furiosa e quer rasgar-se.
Depois, investe contra os assistentes. Houve pânico, que aumentou quando a vimos querer atirar-se de uma janela.
Uns a seguravam; outros davam-lhe passes; outros traziam-lhe coisas para cheirar; cada qual alvitrava um meio, todos inteiramente inúteis, todos lamentavelmente ineficazes.
Fizemos que se retirassem os curiosos; e nós, cercado de um grupo de médiuns, procuramos dar passes na possessa. Estes contribuíram para enfurecê-la ainda mais; ela se lançava a nós, dizendo-nos impropérios, arranhava-nos, esbofeteava-nos.
Já estávamos exaustos.
Os amigos entreolhavam-se pasmados, desanimados. Era preciso chamar uma ambulância.
Mas seria o escândalo. Seria a confissão completa da falência de todos os nossos processos.
As lágrimas vieram-nos aos olhos. Compreendemos, então, a extensão imensa de nossas fraquezas. E apelamos para o Pai. E oramos.
E orávamos e chorávamos. Por que negar a nossa fragilidade? Éramos o responsável pela reunião. Chorávamos e orávamos.
E quando um dos médiuns já ia descer as escadas em busca de socorro psiquiátrico, diz a jovem, com voz mudada, com timbre masculino:
- Ah! Puderam mais do que eu, desta vez!
E se acalmou. Acordou. E perguntou-nos, sorridente, ingênua, ignorante de tudo que se passara:
- Que foi? Que houve? ...
Estava curada. Estava curada pela prece".
O caso que acabamos de transcrever faz-nos lembrar o que se conta nos Evangelhos, acerca de um moço possesso de um Espírito perverso, cujo genitor suplicara a Jesus que o curasse, depois de o terem tentado, sem nenhum sucesso, os próprios discípulos do Mestre de Nazaré.
Vendo estes que, a uma ordem de Jesus, o terrível obsessor deixara imediatamente o jovem, que dantes vivia metido em correntes, como louco indomável, aproximaram-se do Senhor, em particular, e indagaram:
"- Por que não pudemos nós expulsá-lo?"
"- Esta casta de Espíritos", respondeu Jesus, "só se consegue expelir à força da oração..."(Marcos, 9;14-29; Mateus, 17;14-21).
Carlos Bernardo Loureiro
Um desses fatos é o que nos permitimos reproduzir, sem omissão de uma vírgula. Ouçamos o beletrista baiano:
"Numa sessão, aliás teórica, falávamos sobre pontos evangélicos, quando uma jovem presente toma o aspecto de louca furiosa e quer rasgar-se.
Depois, investe contra os assistentes. Houve pânico, que aumentou quando a vimos querer atirar-se de uma janela.
Uns a seguravam; outros davam-lhe passes; outros traziam-lhe coisas para cheirar; cada qual alvitrava um meio, todos inteiramente inúteis, todos lamentavelmente ineficazes.
Fizemos que se retirassem os curiosos; e nós, cercado de um grupo de médiuns, procuramos dar passes na possessa. Estes contribuíram para enfurecê-la ainda mais; ela se lançava a nós, dizendo-nos impropérios, arranhava-nos, esbofeteava-nos.
Já estávamos exaustos.
Os amigos entreolhavam-se pasmados, desanimados. Era preciso chamar uma ambulância.
Mas seria o escândalo. Seria a confissão completa da falência de todos os nossos processos.
As lágrimas vieram-nos aos olhos. Compreendemos, então, a extensão imensa de nossas fraquezas. E apelamos para o Pai. E oramos.
E orávamos e chorávamos. Por que negar a nossa fragilidade? Éramos o responsável pela reunião. Chorávamos e orávamos.
E quando um dos médiuns já ia descer as escadas em busca de socorro psiquiátrico, diz a jovem, com voz mudada, com timbre masculino:
- Ah! Puderam mais do que eu, desta vez!
E se acalmou. Acordou. E perguntou-nos, sorridente, ingênua, ignorante de tudo que se passara:
- Que foi? Que houve? ...
Estava curada. Estava curada pela prece".
O caso que acabamos de transcrever faz-nos lembrar o que se conta nos Evangelhos, acerca de um moço possesso de um Espírito perverso, cujo genitor suplicara a Jesus que o curasse, depois de o terem tentado, sem nenhum sucesso, os próprios discípulos do Mestre de Nazaré.
Vendo estes que, a uma ordem de Jesus, o terrível obsessor deixara imediatamente o jovem, que dantes vivia metido em correntes, como louco indomável, aproximaram-se do Senhor, em particular, e indagaram:
"- Por que não pudemos nós expulsá-lo?"
"- Esta casta de Espíritos", respondeu Jesus, "só se consegue expelir à força da oração..."(Marcos, 9;14-29; Mateus, 17;14-21).
Carlos Bernardo Loureiro
30 agosto 2009
AMAR AO PRÓXIMO
O testamento de Léon Tolstoi (1828 - 1910)
Publicado por Caibar Schutel na Revista Internacional de Espiritismo de 15 de abril de 1936
Eu não poderia me deter nem contemporizar mais. É inútil vacilar e pensar mais sobre o que tenho que dizer. A vida não espera. Minha existência declina e de repente posso desaparecer. Se me é dado ainda prestar alguns serviços aos homens, se posso fazer-me perdoar os meus pecados, minha vida ociosa e material, não será senão fazendo saber aos homens meus irmãos o que me foi dado compreender mais claramente que eles; o que me tortura e martiriza o coração há muitos anos.
Todos os homens sabem, como eu, que nossa vida não é o que deveria ser e que nos fazemos mutuamente desgraçados.
Sabemos que para ser felizes e fazer ditosos os outros, é preciso amar o nosso próximo como a nós mesmos; se nos é impossível fazer ao nosso semelhante o que quiséramos que ele nos fizesse, pelo menos não lhe façamos o que não queremos que ele não nos faça.
É isto que ensinam as religiões de todos os povos; é o que mandam que façamos, a nossa razão e a nossa consciência.
A morte do invólucro corporal que nos ameaça a cada instante, recorda-nos o caráter efêmero dos nossos atos; assim, a única coisa que podemos fazer e que pode levar-nos à felicidade e à serenidade, é obedecer a cada instante o que nos ordenam a nossa razão e consciência, se não crermos na revelação ou no ensino do Cristo.
Em outros termos: se não podemos fazer ao nosso próximo o que quiséramos que ele nos fizesse, ao menos não lhe façamos o que não desejamos para nós.
Embora todos conheçamos há muito tempo esta verdade, em vez de realizá-la, os homens se matam, roubam, violentam. E assim, em vez de viverem na alegria, na tranqüilidade, no amor, sofrem, penam e não sentem senão ódio e medo uns dos outros. Por toda a parte, em toda a superfície da Terra, os homens tratam de dissimular sua vida insensata, esquecerem-se de si mesmos, sofrear seu sofrimento, sem poderem conseguir; o número dos desgraçados que perdem a razão e se suicidam aumenta todos os anos, porque é superior às suas forças suportar uma vida contrária à natureza humana.
Mas, dir-se-á, talvez, é necessário que a vida seja assim; é necessária a existência dos imperadores, dos reis, dos governos, dos parlamentos que mandam milhões de homens, providos de fuzis e de canhões, atirarem-se uns sobre os outros; necessárias as fábricas e os estabelecimentos que produzem objetos inúteis e prejudiciais, e onde milhões de homens, mulheres e crianças são transformadas em máquinas, sofrendo 10,12 e 15 horas por dia; necessário o despovoamento crescente das cidades e a invasão das mesmas com asilos noturnos, seus refúgios de crianças, seus hospitais; necessário o aprisionamento de milhares de homens.
Acaso é necessário que a doutrina do Cristo, que ensina a concórdia, o perdão das ofensas, o amor ao próximo, ao inimigo; seja inculcada aos homens por sacerdotes de várias e numerosas seitas em luta contínua, e sob fórmulas de fábulas estúpidas e imorais sobre a criação do mundo e do homem, sobre seu castigo e sua redenção pelo Cristo, e sobre tal ou qual rito, tal ou qual sacramento? Talvez, semelhante estado de coisas seja natural ao homem, como é natural às formigas e às abelhas viverem em seus formigueiros e em suas colmeias em contínua luta e sem outro ideal. Assim, de fato, é que dizem muitos.
Mas o coração humano não quer crer. Sempre se sobrelevou contra a vida mentirosa e tem sempre convidado aos homens a se deixarem levar pela razão e pela consciência; e nos nossos dias faz tal chamamento mais urgente do que nunca.
Já sabemos demasiadamente que nossa vida não abarca séculos, milhares de anos, uma eternidade, e entretanto, nos achamos na Terra vivendo, pensando, amando, gozando a vida...
E agora podemos passar estes setenta anos - se chegarmos a tal idade, porque podemos não viver senão alguns dias, algumas horas - no desgosto, no ódio, ou na alegria e no amor; podemos viver com a consciência de estar fazendo o mal, ou bem, de realizar, ainda imperfeitamente, o que podemos crer que seja nosso dever.
" - Andai preparados, andai preparados, andai preparados" - dizia, aos homens, João Batista.
" - Andai preparados" - dizia o Cristo.
" - Andai preparados" - diz a voz de Deus, tanto como a voz da consciência e da razão.
Entretanto, distingamos as nossas ocupações, cada um dos nossos prazeres, e perguntemos a nós mesmos: fazemos o que devemos, ou gastamos inutilmente nossa vida, (...)
Bem sei que basta uma vista de olhos, como um cavalo que faz voltear uma roda; nos parece impossível deter-nos para refletir um instante, dizendo:
"Nada de tantas reflexões; atos sim".
E outros afirmam:
"Não é preciso, cada um pensar em si mesmo, em nossos desejos, quando a obra, a cujo serviço nos achamos, é a nossa família, a arte, a ciência, a sociedade, tudo pelo interesse geral".
Outros garantem:
"Tudo está pensado e experimentado há muito tempo e ninguém encontrou algo melhor; sigamos, pois, nossa vida e nada mais".
Outros, enfim, pretendem:
"Refletir ou não refletir, tudo é a mesma coisa; vive-se e depois se morre; o melhor é, pois, viver para o prazer. Quando se quer refletir, vê-se que a vida é pior do que a morte e atenta-se sobre os seus próprios dias. Assim, basta de reflexões, vivamos como pudermos".
Não ouçais essas vozes; para todos aqueles raciocínios, responderei simplesmente:
"Atrás de mim vejo a eternidade, tempo em que eu ainda não existia; diante de mim pressinto a mesma noite infinita na qual a morte pode, repentinamente tragar-me. Agora vivo e posso, eu sei que posso, fechar voluntariamente os olhos para uma existência cheia de misérias; mas sei que abrindo-os para olhar em redor de mim, posso escolher o melhor e o que é mais belo. Assim, digam o que quiserem as vozes, sejam quais forem as seduções que me atraem, forçado que esteja à obra que tenha começado e arrastado pela vida que me rodeia; eu me detenho, examino e reflito".
Eis o que eu tinha de lembrar aos meus semelhantes antes de passar para o infinito...
Léon Tolstoi
Publicado por Caibar Schutel na Revista Internacional de Espiritismo de 15 de abril de 1936
Eu não poderia me deter nem contemporizar mais. É inútil vacilar e pensar mais sobre o que tenho que dizer. A vida não espera. Minha existência declina e de repente posso desaparecer. Se me é dado ainda prestar alguns serviços aos homens, se posso fazer-me perdoar os meus pecados, minha vida ociosa e material, não será senão fazendo saber aos homens meus irmãos o que me foi dado compreender mais claramente que eles; o que me tortura e martiriza o coração há muitos anos.
Todos os homens sabem, como eu, que nossa vida não é o que deveria ser e que nos fazemos mutuamente desgraçados.
Sabemos que para ser felizes e fazer ditosos os outros, é preciso amar o nosso próximo como a nós mesmos; se nos é impossível fazer ao nosso semelhante o que quiséramos que ele nos fizesse, pelo menos não lhe façamos o que não queremos que ele não nos faça.
É isto que ensinam as religiões de todos os povos; é o que mandam que façamos, a nossa razão e a nossa consciência.
A morte do invólucro corporal que nos ameaça a cada instante, recorda-nos o caráter efêmero dos nossos atos; assim, a única coisa que podemos fazer e que pode levar-nos à felicidade e à serenidade, é obedecer a cada instante o que nos ordenam a nossa razão e consciência, se não crermos na revelação ou no ensino do Cristo.
Em outros termos: se não podemos fazer ao nosso próximo o que quiséramos que ele nos fizesse, ao menos não lhe façamos o que não desejamos para nós.
Embora todos conheçamos há muito tempo esta verdade, em vez de realizá-la, os homens se matam, roubam, violentam. E assim, em vez de viverem na alegria, na tranqüilidade, no amor, sofrem, penam e não sentem senão ódio e medo uns dos outros. Por toda a parte, em toda a superfície da Terra, os homens tratam de dissimular sua vida insensata, esquecerem-se de si mesmos, sofrear seu sofrimento, sem poderem conseguir; o número dos desgraçados que perdem a razão e se suicidam aumenta todos os anos, porque é superior às suas forças suportar uma vida contrária à natureza humana.
Mas, dir-se-á, talvez, é necessário que a vida seja assim; é necessária a existência dos imperadores, dos reis, dos governos, dos parlamentos que mandam milhões de homens, providos de fuzis e de canhões, atirarem-se uns sobre os outros; necessárias as fábricas e os estabelecimentos que produzem objetos inúteis e prejudiciais, e onde milhões de homens, mulheres e crianças são transformadas em máquinas, sofrendo 10,12 e 15 horas por dia; necessário o despovoamento crescente das cidades e a invasão das mesmas com asilos noturnos, seus refúgios de crianças, seus hospitais; necessário o aprisionamento de milhares de homens.
Acaso é necessário que a doutrina do Cristo, que ensina a concórdia, o perdão das ofensas, o amor ao próximo, ao inimigo; seja inculcada aos homens por sacerdotes de várias e numerosas seitas em luta contínua, e sob fórmulas de fábulas estúpidas e imorais sobre a criação do mundo e do homem, sobre seu castigo e sua redenção pelo Cristo, e sobre tal ou qual rito, tal ou qual sacramento? Talvez, semelhante estado de coisas seja natural ao homem, como é natural às formigas e às abelhas viverem em seus formigueiros e em suas colmeias em contínua luta e sem outro ideal. Assim, de fato, é que dizem muitos.
Mas o coração humano não quer crer. Sempre se sobrelevou contra a vida mentirosa e tem sempre convidado aos homens a se deixarem levar pela razão e pela consciência; e nos nossos dias faz tal chamamento mais urgente do que nunca.
Já sabemos demasiadamente que nossa vida não abarca séculos, milhares de anos, uma eternidade, e entretanto, nos achamos na Terra vivendo, pensando, amando, gozando a vida...
E agora podemos passar estes setenta anos - se chegarmos a tal idade, porque podemos não viver senão alguns dias, algumas horas - no desgosto, no ódio, ou na alegria e no amor; podemos viver com a consciência de estar fazendo o mal, ou bem, de realizar, ainda imperfeitamente, o que podemos crer que seja nosso dever.
" - Andai preparados, andai preparados, andai preparados" - dizia, aos homens, João Batista.
" - Andai preparados" - dizia o Cristo.
" - Andai preparados" - diz a voz de Deus, tanto como a voz da consciência e da razão.
Entretanto, distingamos as nossas ocupações, cada um dos nossos prazeres, e perguntemos a nós mesmos: fazemos o que devemos, ou gastamos inutilmente nossa vida, (...)
Bem sei que basta uma vista de olhos, como um cavalo que faz voltear uma roda; nos parece impossível deter-nos para refletir um instante, dizendo:
"Nada de tantas reflexões; atos sim".
E outros afirmam:
"Não é preciso, cada um pensar em si mesmo, em nossos desejos, quando a obra, a cujo serviço nos achamos, é a nossa família, a arte, a ciência, a sociedade, tudo pelo interesse geral".
Outros garantem:
"Tudo está pensado e experimentado há muito tempo e ninguém encontrou algo melhor; sigamos, pois, nossa vida e nada mais".
Outros, enfim, pretendem:
"Refletir ou não refletir, tudo é a mesma coisa; vive-se e depois se morre; o melhor é, pois, viver para o prazer. Quando se quer refletir, vê-se que a vida é pior do que a morte e atenta-se sobre os seus próprios dias. Assim, basta de reflexões, vivamos como pudermos".
Não ouçais essas vozes; para todos aqueles raciocínios, responderei simplesmente:
"Atrás de mim vejo a eternidade, tempo em que eu ainda não existia; diante de mim pressinto a mesma noite infinita na qual a morte pode, repentinamente tragar-me. Agora vivo e posso, eu sei que posso, fechar voluntariamente os olhos para uma existência cheia de misérias; mas sei que abrindo-os para olhar em redor de mim, posso escolher o melhor e o que é mais belo. Assim, digam o que quiserem as vozes, sejam quais forem as seduções que me atraem, forçado que esteja à obra que tenha começado e arrastado pela vida que me rodeia; eu me detenho, examino e reflito".
Eis o que eu tinha de lembrar aos meus semelhantes antes de passar para o infinito...
Léon Tolstoi
29 agosto 2009
AUTOCONSCIÊNCIA
Joanna de Ângelis (espírito)
À medida que o ser amadurece psicologicamente, podendo discernir o que deve e pode fazer em relação ao que pode mas não deve ou deve porém não pode realizar, surge a autoconsciência que o predispõe ao crescimento interior livre de conflitos e tribulações.
Normalmente, nos períodos primordiais do desenvolvimento moral e espiritual, predominam em sua faculdade de agir os conceitos que lhe chegam do exterior, as opiniões conflitivas que o cercam, as diretrizes que são estabelecidas por outras pessoas que se acreditam possuidoras de valores que podem orientar vidas. Não raro, porém, esses comportamentos contraditórios que se chocam uns contra os outros, mais confundem as pessoas do que as direcionam para os fins enobrecidos da existência, por estarem quase sempre assinalados pelas paixões pessoais, nas quais predomina o ego em detrimento dos sentimentos solidários.
O principiante, manipulado por uns e outros, em tais circunstâncias perde-se no báratro estabelecido e sem experiência ruma em direções confusas, descobrindo-se enganado, desconsiderado nos ideais que busca, logo tombando, não poucas vezes, na descrença e no desencanto.
Quando, porém, aprende a ouvir e a reflexionar, examinando as informações ministradas e cotejando-as com o conhecimento exarado na experiência do século, realizando suas próprias investigações, torna-se capaz de avaliar os exageros que defluem dos entusiasmos inoportunos, as precauções descabidas que são comuns aos temperamentos tímidos ou cépticos, passando a construir os alicerces para as suas crenças na lógica, na vivência pessoal, e a todos respeitando, mas não os levando em consideração naquilo que diz respeito às suas opiniões e caprichos informativos.
Esse processo demanda tempo e experiência, mediante os quais são avaliadas as propostas do conhecimento e as necessidades do sentimento.
Estagiando cada indivíduo em nível de consciência diferente, que corresponde às conquistas pessoais da emoção e do desenvolvimento intelectual, o mesmo acontecimento é visto de maneira mui pessoal, conforme o grau de percepção e análise individual.
Eis porque as experiências podem ser apresentadas a todos de maneira uniforme, mas cada um é convidado a vivenciá-las de forma própria e de acordo com os recursos que lhe estão disponíveis.
Nunca se apresentam duas experiências iguais para tipos diferentes. O acontecimento pode ter características semelhantes, mas sucederá de maneira bem especial de cada um, face à diversidade de enfrentamento que surge no momento de executá-lo.
A autoconsciência desvela recursos inesgotáveis que permanecem adormecidos, aguardando o momento hábil para manifestar-se. É semelhante ao agradável calor que faz desabrochar a vida, amadurecer os frutos e alegrar os corações após invernia demorada e destrutiva.
*
Aprende a observar para agir com segurança.
Não te permitas influenciar por opiniões apressadas e sem estrutura lógica mesmo que aureoladas por atraentes configurações.
Águas paradas não refletem apenas paz, mas ocultam estagnação e morte.
A experiência é estrada atraente e desafiadora, que cada pessoa deve percorrer com os próprios pés.
Os atavismos que remanescem na conduta e na reflexão mental, tendem a conduzir o individuo às repetições de comportamentos já vivenciados, sem permitirem o despertar de maior interesse pelas novas expressões da realidade.
Os hábitos da meditação em torno dos pensamentos vitalizados deve constituir um processo de amadurecimento das idéias, a fim de que passem a ter significado útil propiciador de crescimento íntimo.
Passo a passo, a mente se dilata e a compreensão dos objetivos existenciais se faz mais clara, ensejando mais harmonia interna e encantamento exterior em relação aos quadros de incomparável beleza que emolduram as paisagens.
Nesse crescimento íntimo, os fatores que geram medo, amargura, insegurança, ansiedade, são diluídos pela autoconsciência que se firma nos painéis delicados do Espírito, tornando-se mecanismo de segurança e de harmonia.
Herdeiro das realizações do passado, o ser desperta sob os camartelos dos atos perturbadores, mas também sob a inspiração das idéias enobrecidas que passearam pela sua mente e, de alguma forma, constituíram motivo de iluminação e de razão.
Havendo predominância das heranças nefastas, ressumam como conflitos e tormentos, que podem ser decodificados pela claridade dos ensinamentos morais do Evangelho de Jesus, que convida a mudanças de comportamento através de bem sucedida sintonia com os ideais de beleza, de fraternidade, de caridade.
Descobre que o seu é o destino estelar e que marcha inexoravelmente no rumo da Grande Ventura, sendo os impedimentos momentâneos desafios que lhe cumpre vencer.
Sem abandonar os valiosos contributos que lhe vêm do mundo externo, vivencia as nobres expressões do pensamento, superando obstáculos e superando-se no que diz respeito às tendências para a sombra, o vulgar, o já realizado...
A autoconsciência desabrocha e a vida adquire sentido profundo e encantador.
O mal dos maus já não faz qualquer mal.
As perseguições da inveja e da inferioridade não mais atingem os sentimentos enobrecidos.
A calúnia não encontra ressonância nos painéis da emoção.
A maledicência não cria embaraços impeditivos.
E o ser avança autoconsciente do que deve fazer, porque realizá-lo e para que esforçar-se para a preservação da sua paz pessoal e, por extensão, pela de todos.
*
Um homem desejou construir um lar para viver tranqüilamente com a família.
Mandou um engenheiro e um arquiteto planejarem a casa e os detalhes que lhe pareciam mais convenientes para uma residência cômoda e prazenteira.
Quando começou a construção, recebeu a visita de um amigo, que apresentou várias sugestões mudando o plano inicial.
Entusiasmado com as opiniões, pediu aos técnicos que corrigissem os alicerces, redesenhassem algumas linhas e, com despesas a mais, conseguiu alterar o primeiro projeto.
Posteriormente, outro amigo, e mais tarde outro mais, trouxeram opiniões descabidas que redundaram em alterações absurdas e gastos exagerados.
Ao terminar a construção, a mesma se tornou inabitável, estranha.
Calmamente, ele convocou os mesmos engenheiro e arquiteto e disse como desejava a sua futura casa.
Iniciada a obra, veio alguém apresentar-lhe sugestão, ao que ele contestou:
— Esta casa é para mim e irei fazê-la conforme acredito ser comodidade após ouvir os especialistas em construção. Não alterarei nada, a fim de atender às descabidas opiniões dos amigos, porque a casa dos amigos é aquele monstrengo que abandonei. Está será a minha casa conforme penso e desejo...
A autoconsciência tem dimensão do que é melhor para quem o deseja.
À medida que o ser amadurece psicologicamente, podendo discernir o que deve e pode fazer em relação ao que pode mas não deve ou deve porém não pode realizar, surge a autoconsciência que o predispõe ao crescimento interior livre de conflitos e tribulações.
Normalmente, nos períodos primordiais do desenvolvimento moral e espiritual, predominam em sua faculdade de agir os conceitos que lhe chegam do exterior, as opiniões conflitivas que o cercam, as diretrizes que são estabelecidas por outras pessoas que se acreditam possuidoras de valores que podem orientar vidas. Não raro, porém, esses comportamentos contraditórios que se chocam uns contra os outros, mais confundem as pessoas do que as direcionam para os fins enobrecidos da existência, por estarem quase sempre assinalados pelas paixões pessoais, nas quais predomina o ego em detrimento dos sentimentos solidários.
O principiante, manipulado por uns e outros, em tais circunstâncias perde-se no báratro estabelecido e sem experiência ruma em direções confusas, descobrindo-se enganado, desconsiderado nos ideais que busca, logo tombando, não poucas vezes, na descrença e no desencanto.
Quando, porém, aprende a ouvir e a reflexionar, examinando as informações ministradas e cotejando-as com o conhecimento exarado na experiência do século, realizando suas próprias investigações, torna-se capaz de avaliar os exageros que defluem dos entusiasmos inoportunos, as precauções descabidas que são comuns aos temperamentos tímidos ou cépticos, passando a construir os alicerces para as suas crenças na lógica, na vivência pessoal, e a todos respeitando, mas não os levando em consideração naquilo que diz respeito às suas opiniões e caprichos informativos.
Esse processo demanda tempo e experiência, mediante os quais são avaliadas as propostas do conhecimento e as necessidades do sentimento.
Estagiando cada indivíduo em nível de consciência diferente, que corresponde às conquistas pessoais da emoção e do desenvolvimento intelectual, o mesmo acontecimento é visto de maneira mui pessoal, conforme o grau de percepção e análise individual.
Eis porque as experiências podem ser apresentadas a todos de maneira uniforme, mas cada um é convidado a vivenciá-las de forma própria e de acordo com os recursos que lhe estão disponíveis.
Nunca se apresentam duas experiências iguais para tipos diferentes. O acontecimento pode ter características semelhantes, mas sucederá de maneira bem especial de cada um, face à diversidade de enfrentamento que surge no momento de executá-lo.
A autoconsciência desvela recursos inesgotáveis que permanecem adormecidos, aguardando o momento hábil para manifestar-se. É semelhante ao agradável calor que faz desabrochar a vida, amadurecer os frutos e alegrar os corações após invernia demorada e destrutiva.
*
Aprende a observar para agir com segurança.
Não te permitas influenciar por opiniões apressadas e sem estrutura lógica mesmo que aureoladas por atraentes configurações.
Águas paradas não refletem apenas paz, mas ocultam estagnação e morte.
A experiência é estrada atraente e desafiadora, que cada pessoa deve percorrer com os próprios pés.
Os atavismos que remanescem na conduta e na reflexão mental, tendem a conduzir o individuo às repetições de comportamentos já vivenciados, sem permitirem o despertar de maior interesse pelas novas expressões da realidade.
Os hábitos da meditação em torno dos pensamentos vitalizados deve constituir um processo de amadurecimento das idéias, a fim de que passem a ter significado útil propiciador de crescimento íntimo.
Passo a passo, a mente se dilata e a compreensão dos objetivos existenciais se faz mais clara, ensejando mais harmonia interna e encantamento exterior em relação aos quadros de incomparável beleza que emolduram as paisagens.
Nesse crescimento íntimo, os fatores que geram medo, amargura, insegurança, ansiedade, são diluídos pela autoconsciência que se firma nos painéis delicados do Espírito, tornando-se mecanismo de segurança e de harmonia.
Herdeiro das realizações do passado, o ser desperta sob os camartelos dos atos perturbadores, mas também sob a inspiração das idéias enobrecidas que passearam pela sua mente e, de alguma forma, constituíram motivo de iluminação e de razão.
Havendo predominância das heranças nefastas, ressumam como conflitos e tormentos, que podem ser decodificados pela claridade dos ensinamentos morais do Evangelho de Jesus, que convida a mudanças de comportamento através de bem sucedida sintonia com os ideais de beleza, de fraternidade, de caridade.
Descobre que o seu é o destino estelar e que marcha inexoravelmente no rumo da Grande Ventura, sendo os impedimentos momentâneos desafios que lhe cumpre vencer.
Sem abandonar os valiosos contributos que lhe vêm do mundo externo, vivencia as nobres expressões do pensamento, superando obstáculos e superando-se no que diz respeito às tendências para a sombra, o vulgar, o já realizado...
A autoconsciência desabrocha e a vida adquire sentido profundo e encantador.
O mal dos maus já não faz qualquer mal.
As perseguições da inveja e da inferioridade não mais atingem os sentimentos enobrecidos.
A calúnia não encontra ressonância nos painéis da emoção.
A maledicência não cria embaraços impeditivos.
E o ser avança autoconsciente do que deve fazer, porque realizá-lo e para que esforçar-se para a preservação da sua paz pessoal e, por extensão, pela de todos.
*
Um homem desejou construir um lar para viver tranqüilamente com a família.
Mandou um engenheiro e um arquiteto planejarem a casa e os detalhes que lhe pareciam mais convenientes para uma residência cômoda e prazenteira.
Quando começou a construção, recebeu a visita de um amigo, que apresentou várias sugestões mudando o plano inicial.
Entusiasmado com as opiniões, pediu aos técnicos que corrigissem os alicerces, redesenhassem algumas linhas e, com despesas a mais, conseguiu alterar o primeiro projeto.
Posteriormente, outro amigo, e mais tarde outro mais, trouxeram opiniões descabidas que redundaram em alterações absurdas e gastos exagerados.
Ao terminar a construção, a mesma se tornou inabitável, estranha.
Calmamente, ele convocou os mesmos engenheiro e arquiteto e disse como desejava a sua futura casa.
Iniciada a obra, veio alguém apresentar-lhe sugestão, ao que ele contestou:
— Esta casa é para mim e irei fazê-la conforme acredito ser comodidade após ouvir os especialistas em construção. Não alterarei nada, a fim de atender às descabidas opiniões dos amigos, porque a casa dos amigos é aquele monstrengo que abandonei. Está será a minha casa conforme penso e desejo...
A autoconsciência tem dimensão do que é melhor para quem o deseja.
28 agosto 2009
DA ORIGEM DA LINGUAGEM
(Sociedade Espírita de Paris. - Médium, Sr. d'Ambel.)
Hoje me pedis, caros e bem amados ouvintes, para ditar, ao meu médium, a história da
origem da linguagem; vou tratar de vos satisfazer; mas devereis compreender que me será
impossível, em algumas linhas, tratar inteiramente esta séria questão, à qual se liga,
forçosamente, a mais importante ainda da origem das raças humanas.
Que Deus todo-poderoso, tão benevolente para os Espíritas, conceda-me a lucidez
necessária para podar, de minha dissertação, toda confusão, toda obscuridade e,
sobretudo, todo erro.
Entro na matéria vos dizendo: Admitamos primeiro em princípio esta eterna verdade: é que
o Criador deu a todos os seres da mesma raça um modo especial, mas seguro, para se
entenderem e se compreenderem entre eles. No entanto, esse modo de comunicação, essa
linguagem foi tanto mais restrita quanto as espécies eram mais inferiores. É em virtude
dessa verdade, dessa lei que os selvagens e as populações pouco civilizadas têm línguas de
tal modo pobres, que uma multidão de termos usados nos países favorecidos pela
civilização, ali não encontram nenhuma palavra correspondente; e é para obedecer a essa
mesma lei que essas nações que progridem criam novas expressões para novas
descobertas, para novas necessidades.
Assim como já disse em outro lugar: a Humanidade já atravessou três grandes períodos: a
fase bárbara, a fase hebraica e paga e a fase cristã. A esta última sucederá o grande
período espírita, do qual lançamos no presente, entre vós, os primeiros assentamentos.
Examinemos, pois, a primeira fase e os começos da segunda, e não posso senão repetir
aqui o que já disse. A primeira fase humana, que se pode chamar ante-hebraica ou
bárbara, se arrasta lenta e longamente em todos os horrores e convulsões de uma horrível
barbárie. O homem nela é peludo como a fera animal e se escondia nas cavernas e nos
bosques. Vivia de carne crua e se repastava de seu semelhante como de um excelente
animal de caça. É o reino da antropofagia mais absoluta. Nada de sociedade! nada de
família! Alguns grupos dispersos aqui e ali, vivendo desordenadamente uma promiscuidade
completa e sempre prontos a se entre devorarem: tal é o quadro desse cruel período.
Nenhum culto, nenhuma tradição, nenhuma idéia religiosa! Nada mais que as necessidades
animais a satisfazer, e depois é tudo! A alma, prisioneira numa matéria entorpecida,
permanece morna e latente em sua prisão carnal; nada pode contra as paredes grosseiras
que a encerram, e sua inteligência pode se mover com dificuldade nos compartimentos de
um cérebro limitado. O olhar é terno, a pálpebra pesada, o lábio é espesso o crânio
achatado, e alguns sons guturais bastam à linguagem; nada faz pressagiar que desse
animal bruto sairá o pai das raças hebraicas e pagas. No entanto, com o tempo, sentem a
necessidade de se sustentarem contra os outros carniceiros, contra o leão e o tigre, cujos
caninos temíveis e cujas garras cortantes tinham facilmente vencido os homens isolados: é
assim que se cumpre o primeiro progresso social. No entanto, o reino da matéria e da força
bruta se manteve durante toda essa fase cruel. Não procureis, pois, no homem dessa época
nem sentimento, nem razão, nem linguagem propriamente dita; ele não obedece senão à
sua grosseira sensação e não tem senão um objetivo: beber, comer e dormir; fora disso,
nada! Pode-se dizer que o homem inteligente nele está em germe, mas que não existe
ainda. Entretanto, é necessário constatar que já, entre essas raças brutais, aparecem
alguns seres superiores, Espíritos encarnados, encarregados de conduzir a Humanidade
para seu objetivo e apressar o advento da era hebraica e paga. Devo acrescentar que fora
desses Espíritos encarnados, o globo terrestre era freqüentemente visitado por esses
ministros de Deus, cuja tradição consagrou a memória sob o nome de anjos e arcanjos, e
que estes se punham quase que diariamente em relação com os seres superiores, Espíritos
encarnados dos quais acabo de falar. A missão de alguns desses anjos continuou durante
uma grande parte da segunda fase humanitária. Devo acrescentar que o quadro rápido que
acabo de fazer, dos primeiros tempos da Humanidade, vos ensina, mais ou menos, a que
leis rigorosas estão submetidos os Espíritos que ensaiam a vida nos planetas de formação
recente.
A linguagem propriamente dita, como ávida social, não começa a ter um caráter certo
senão a partir da era hebraica e paga, durante a qual o Espírito encarnado, sempre
escravizado à matéria, começa, no entanto, a se revoltar e quebrar alguns anéis da sua
pesada corrente. A alma fermenta e se agita em sua prisão carnal; por seus esforços
reiterados ela reage energicamente contra as paredes do cérebro, do qual ela sensibiliza a
matéria; melhora e aperfeiçoa, por um trabalho constante, o jogo de suas faculdades das
quais, consequentemente, os órgãos físicos se desenvolvem; enfim, o pensamento se deixa
ler num olhar límpido e claro. Estamos já longe das frontes achatadas! É que a alma se
sente, ela se reconhece, tem a consciência de si mesma, e começa a compreender que é
independente do corpo. Também, desde esse momento, ela luta com ardor para se
desembaraçar dos apertos de sua robusta rival. O homem se modifica cada vez mais e a
inteligência se move mais livremente num cérebro mais desenvolvido. Constatamos, no
entanto, que essa época vê ainda o homem encurralado e matriculado como o gado, o
homem escravo do homem; a escravidão está consagrada pelo Deus dos Hebreus tanto
quanto pelos deuses pagãos, e Jeová, tanto como Júpiter Olímpico, pede sangue e vítimas
vivas.
Essa segunda fase oferece aspectos curiosos do ponto de vista filosófico; dela já tracei um
quadro rápido que meu médium vos comunicará proximamente. O que quer que seja, e
para retornar ao assunto deste estudo, tende por certo que não foi senão na época dos
grandes períodos pastorais e patriarcais que a linguagem humana tomou um passo regular,
e adotou formas e sons especiais. Então nessa época primitiva em que a Humanidade se
desembaraça dos cueiros do berço, ao mesmo tempo que da gaguez da primeira idade,
poucas palavras bastam aos homens para quem a ciência não havia nascido, cujas
necessidades eram muito restritas, e cujas relações sociais se detinham às portas da tenda,
no limiar da família, e mais tarde nos limites da tribo. É a época em que o pai, o pastor, o
ancião, o patriarca, numa palavra, dominava como senhor absoluto com direito de vida e de
morte.
A língua primitiva foi uniforme; mas à medida que o número dos pastores cresceu, estes,
deixando por sua vez a tenda paterna, foram fundar, nas regiões inabitadas, novas famílias,
novas tribos. Então a língua usada entre eles se afastou, degrau por degrau, segundo as
gerações, da linguagem em uso sob a tenda paternal que tinham deixado outrora; e foi
assim que os idiomas diversos foram criados. De resto, embora minha intenção não seja
fazer um curso de lingüística, não estais sem ter notado que, nas línguas mais discordantes,
encontrais palavras cujo radical pouco variou e cuja significação é quase a mesma. Por
outro lado, se bem que tendes hoje a pretensão de ser um velho mundo, a mesma razão
que fez corromper a língua primitiva, reina ainda soberanamente em vossa França tão
orgulhosa de sua civilização, onde vedes as concordâncias, os termos e a significação
variada, não diria de província em província, mas de comunidade a comunidade. Para isso
chamo àqueles que viajaram para a Bretagne, como àqueles que percorreram a Provence e
o Languedoc.
É uma variedade de idiomas e dialetos de assustar aquele que quisesse coligi-los num único
dicionário.
Uma vez que os homens primitivos, ajudados nisso pelos missionários do Eterno, tenham
afetado a certos sons especiais certas idéias especiais, a língua falada se encontrou criada,
e as modificações que ela sofreu mais tarde foram em razão dos progressos humanos; por
conseqüência, segundo a riqueza de uma língua, pode se estabelecer facilmente o grau de
civilização ao qual chegou o povo que a fala. O que posso acrescentaria que a Humanidade
caminha para uma língua única, conseqüência forçada de uma comunidade de idéias em
moral, em política, e sobretudo em religião. Tal será a obra da filosofia nova, o Espiritismo,
que vos ensinamos hoje.
ERASTO.
Hoje me pedis, caros e bem amados ouvintes, para ditar, ao meu médium, a história da
origem da linguagem; vou tratar de vos satisfazer; mas devereis compreender que me será
impossível, em algumas linhas, tratar inteiramente esta séria questão, à qual se liga,
forçosamente, a mais importante ainda da origem das raças humanas.
Que Deus todo-poderoso, tão benevolente para os Espíritas, conceda-me a lucidez
necessária para podar, de minha dissertação, toda confusão, toda obscuridade e,
sobretudo, todo erro.
Entro na matéria vos dizendo: Admitamos primeiro em princípio esta eterna verdade: é que
o Criador deu a todos os seres da mesma raça um modo especial, mas seguro, para se
entenderem e se compreenderem entre eles. No entanto, esse modo de comunicação, essa
linguagem foi tanto mais restrita quanto as espécies eram mais inferiores. É em virtude
dessa verdade, dessa lei que os selvagens e as populações pouco civilizadas têm línguas de
tal modo pobres, que uma multidão de termos usados nos países favorecidos pela
civilização, ali não encontram nenhuma palavra correspondente; e é para obedecer a essa
mesma lei que essas nações que progridem criam novas expressões para novas
descobertas, para novas necessidades.
Assim como já disse em outro lugar: a Humanidade já atravessou três grandes períodos: a
fase bárbara, a fase hebraica e paga e a fase cristã. A esta última sucederá o grande
período espírita, do qual lançamos no presente, entre vós, os primeiros assentamentos.
Examinemos, pois, a primeira fase e os começos da segunda, e não posso senão repetir
aqui o que já disse. A primeira fase humana, que se pode chamar ante-hebraica ou
bárbara, se arrasta lenta e longamente em todos os horrores e convulsões de uma horrível
barbárie. O homem nela é peludo como a fera animal e se escondia nas cavernas e nos
bosques. Vivia de carne crua e se repastava de seu semelhante como de um excelente
animal de caça. É o reino da antropofagia mais absoluta. Nada de sociedade! nada de
família! Alguns grupos dispersos aqui e ali, vivendo desordenadamente uma promiscuidade
completa e sempre prontos a se entre devorarem: tal é o quadro desse cruel período.
Nenhum culto, nenhuma tradição, nenhuma idéia religiosa! Nada mais que as necessidades
animais a satisfazer, e depois é tudo! A alma, prisioneira numa matéria entorpecida,
permanece morna e latente em sua prisão carnal; nada pode contra as paredes grosseiras
que a encerram, e sua inteligência pode se mover com dificuldade nos compartimentos de
um cérebro limitado. O olhar é terno, a pálpebra pesada, o lábio é espesso o crânio
achatado, e alguns sons guturais bastam à linguagem; nada faz pressagiar que desse
animal bruto sairá o pai das raças hebraicas e pagas. No entanto, com o tempo, sentem a
necessidade de se sustentarem contra os outros carniceiros, contra o leão e o tigre, cujos
caninos temíveis e cujas garras cortantes tinham facilmente vencido os homens isolados: é
assim que se cumpre o primeiro progresso social. No entanto, o reino da matéria e da força
bruta se manteve durante toda essa fase cruel. Não procureis, pois, no homem dessa época
nem sentimento, nem razão, nem linguagem propriamente dita; ele não obedece senão à
sua grosseira sensação e não tem senão um objetivo: beber, comer e dormir; fora disso,
nada! Pode-se dizer que o homem inteligente nele está em germe, mas que não existe
ainda. Entretanto, é necessário constatar que já, entre essas raças brutais, aparecem
alguns seres superiores, Espíritos encarnados, encarregados de conduzir a Humanidade
para seu objetivo e apressar o advento da era hebraica e paga. Devo acrescentar que fora
desses Espíritos encarnados, o globo terrestre era freqüentemente visitado por esses
ministros de Deus, cuja tradição consagrou a memória sob o nome de anjos e arcanjos, e
que estes se punham quase que diariamente em relação com os seres superiores, Espíritos
encarnados dos quais acabo de falar. A missão de alguns desses anjos continuou durante
uma grande parte da segunda fase humanitária. Devo acrescentar que o quadro rápido que
acabo de fazer, dos primeiros tempos da Humanidade, vos ensina, mais ou menos, a que
leis rigorosas estão submetidos os Espíritos que ensaiam a vida nos planetas de formação
recente.
A linguagem propriamente dita, como ávida social, não começa a ter um caráter certo
senão a partir da era hebraica e paga, durante a qual o Espírito encarnado, sempre
escravizado à matéria, começa, no entanto, a se revoltar e quebrar alguns anéis da sua
pesada corrente. A alma fermenta e se agita em sua prisão carnal; por seus esforços
reiterados ela reage energicamente contra as paredes do cérebro, do qual ela sensibiliza a
matéria; melhora e aperfeiçoa, por um trabalho constante, o jogo de suas faculdades das
quais, consequentemente, os órgãos físicos se desenvolvem; enfim, o pensamento se deixa
ler num olhar límpido e claro. Estamos já longe das frontes achatadas! É que a alma se
sente, ela se reconhece, tem a consciência de si mesma, e começa a compreender que é
independente do corpo. Também, desde esse momento, ela luta com ardor para se
desembaraçar dos apertos de sua robusta rival. O homem se modifica cada vez mais e a
inteligência se move mais livremente num cérebro mais desenvolvido. Constatamos, no
entanto, que essa época vê ainda o homem encurralado e matriculado como o gado, o
homem escravo do homem; a escravidão está consagrada pelo Deus dos Hebreus tanto
quanto pelos deuses pagãos, e Jeová, tanto como Júpiter Olímpico, pede sangue e vítimas
vivas.
Essa segunda fase oferece aspectos curiosos do ponto de vista filosófico; dela já tracei um
quadro rápido que meu médium vos comunicará proximamente. O que quer que seja, e
para retornar ao assunto deste estudo, tende por certo que não foi senão na época dos
grandes períodos pastorais e patriarcais que a linguagem humana tomou um passo regular,
e adotou formas e sons especiais. Então nessa época primitiva em que a Humanidade se
desembaraça dos cueiros do berço, ao mesmo tempo que da gaguez da primeira idade,
poucas palavras bastam aos homens para quem a ciência não havia nascido, cujas
necessidades eram muito restritas, e cujas relações sociais se detinham às portas da tenda,
no limiar da família, e mais tarde nos limites da tribo. É a época em que o pai, o pastor, o
ancião, o patriarca, numa palavra, dominava como senhor absoluto com direito de vida e de
morte.
A língua primitiva foi uniforme; mas à medida que o número dos pastores cresceu, estes,
deixando por sua vez a tenda paterna, foram fundar, nas regiões inabitadas, novas famílias,
novas tribos. Então a língua usada entre eles se afastou, degrau por degrau, segundo as
gerações, da linguagem em uso sob a tenda paternal que tinham deixado outrora; e foi
assim que os idiomas diversos foram criados. De resto, embora minha intenção não seja
fazer um curso de lingüística, não estais sem ter notado que, nas línguas mais discordantes,
encontrais palavras cujo radical pouco variou e cuja significação é quase a mesma. Por
outro lado, se bem que tendes hoje a pretensão de ser um velho mundo, a mesma razão
que fez corromper a língua primitiva, reina ainda soberanamente em vossa França tão
orgulhosa de sua civilização, onde vedes as concordâncias, os termos e a significação
variada, não diria de província em província, mas de comunidade a comunidade. Para isso
chamo àqueles que viajaram para a Bretagne, como àqueles que percorreram a Provence e
o Languedoc.
É uma variedade de idiomas e dialetos de assustar aquele que quisesse coligi-los num único
dicionário.
Uma vez que os homens primitivos, ajudados nisso pelos missionários do Eterno, tenham
afetado a certos sons especiais certas idéias especiais, a língua falada se encontrou criada,
e as modificações que ela sofreu mais tarde foram em razão dos progressos humanos; por
conseqüência, segundo a riqueza de uma língua, pode se estabelecer facilmente o grau de
civilização ao qual chegou o povo que a fala. O que posso acrescentaria que a Humanidade
caminha para uma língua única, conseqüência forçada de uma comunidade de idéias em
moral, em política, e sobretudo em religião. Tal será a obra da filosofia nova, o Espiritismo,
que vos ensinamos hoje.
ERASTO.
27 agosto 2009
OS ORIXÁS NO DIVÃ
Este é o título da entrevista que a psicóloga clínica e ialorixá (do templo Guaracy de Umbanda, SP), Tina de Souza concedeu a Luis Pellegrini, publicada na conceituada revista PLANETA. Não vamos nos alongar nos comentários sobre a insólita entrevista. Destacamos, apenas, alguns pontos que nos parecem obscuros. V.g., a entrevistada citou que a "essência sutil é o núcleo central da pessoa, a sua identidade primordial". adiante, afirma que a "essência sutil é constituída pelos elementos fogo, terra, água, e ar, os quais podem ser entendidos como relacionados respectivamente a novos aspectos energéticos, material, psíquico e mental." E disse mais: "As forças que vibram nesses elementos recebem o nome iorubá de orixás. Que confusão, Dra. Tina!
Será que os umbandistas sabiam de toda essa geringonça ideológica? Ademais, que são os aspectos psíquico e mental? Onde ficam? Na "essência sutil". E a "essência sutil" fica onde? Será que tudo tem sede no cérebro? Se não for no cérebro, onde ficaria? E o que é mente e o que é psiquismo? E mais além da entrevista a Dra. Tina fala em "inconsciente primitivo". Ela "explica", a propósito: " O inconsciente primitivo é uma zona de ligação entre a essência e as demais partes que constituem a pessoa". Brilhante, vocês não acham? Mas onde fica, na verdade, o "inconsciente primitivo"? No cérebro? Em que lugar do cérebro. Para a Psicologia tudo fica no cérebro, mesmo? Em seguida a Dra. Tina afirma que, na visão dela (ainda bem), o "inconsciente primitivo" é uma membrana permeável (!). Nela podem ser encontrados todos os requisitos das memórias espirituais do indivíduo relacionadas às suas qualidades "mediúnicas" (é incrível essa definição de mediunidade), os requisitos armazenados no presente ciclo de vida e dos ciclos anteriores, caso se aceite a idéia da existência de encarnações passadas". E se não fossem aceitas? Essa é apenas uma questão ideológica ou uma realidade existencial, independentemente de crença ou descrença?
Paremos por aqui, diante de tanta maluquice. Algumas revistas que hoje circulam no Brasil teimam em impor aos seus leitores assuntos que tais, sem quaisquer bases científicas. Saudades da PLANETA de outrora!
Outro tema, na mesma edição de PLANETA, sobre o título "Entendendo o Poltergeist", de autoria do médico-psiquiatra e psicoterapeuta do Encantamento (!), Paulo Urleam, que com dúvidas escreve: "Creio (ele apenas crê) que a psicologia junguiana é o melhor modelo para explicar os fenômenos parapsicológicos, particularmente no que se refere ao conceito analítico de sincronicidade..." Sincronicidade? Eis aí uma questão assaz duvidosa. Sincronicidade é a mesma coisa que coincidência. E o que é coincidência? Até hoje ninguém conseguiu firmar um conceito aceitável de coincidência. Ademais, Jung não apenas presenciou manifestações de efeitos físicos, ele fez extraordinários contatos com os Espíritos, materializações nas sessões do Dr. Schrenk-Notzing, na Alemanha, às da faculdade mediúnica de ectoplasmia de Rudi Schneider. Além do mais, Jung era um excelente médium de escrita automática. Vide sua obra "Os sete Sermões aos Mortos". Na verdade, Jung ficou, como o próprio Freud, em cima do muro. Ou mais precisamente, não foi honesto o bastante para afirmar a imortalidade da alma e suas naturais manifestações no mundo corpóreo. Atribuir as comunicações de poltergeist ao inconsciente é temerário; é um atestado de desconhecimento total da realidade espiritual do ser humano. O Dr. Hernani Guimarães Andrade, amigo nosso de longa data, já infelizmente desencarnado, concluiu pelo menos para este escriba, que os fenômenos de poltergeist ainda precisavam ser analizados com extrame cautela. Devê-los a estados emocionais alterados é infantilidade. Ali estão os Espíritos manfiestando-se acintosamente, tal como fizeram no passado e no presente. O problema é o funcionamento; arraigado preconceito. E para finalizar, que tal se os psiquiatras e psicólogos explicassem o que aconteceu no Monte Tabor, quando Jesus materializou dois Espíritos Moisés e Elias, utilizando-se do ectoplasma de Pedro, João e Tiago. Será que aquilo ali foi uma fraude? Qual o objetivo de Jesus em trazer do mundo espiritual dois dos grandes profetas hebreus? Será que Jung explicaria aquele fenômeno tomando por base as suas especulações psicológicas?
Será que os umbandistas sabiam de toda essa geringonça ideológica? Ademais, que são os aspectos psíquico e mental? Onde ficam? Na "essência sutil". E a "essência sutil" fica onde? Será que tudo tem sede no cérebro? Se não for no cérebro, onde ficaria? E o que é mente e o que é psiquismo? E mais além da entrevista a Dra. Tina fala em "inconsciente primitivo". Ela "explica", a propósito: " O inconsciente primitivo é uma zona de ligação entre a essência e as demais partes que constituem a pessoa". Brilhante, vocês não acham? Mas onde fica, na verdade, o "inconsciente primitivo"? No cérebro? Em que lugar do cérebro. Para a Psicologia tudo fica no cérebro, mesmo? Em seguida a Dra. Tina afirma que, na visão dela (ainda bem), o "inconsciente primitivo" é uma membrana permeável (!). Nela podem ser encontrados todos os requisitos das memórias espirituais do indivíduo relacionadas às suas qualidades "mediúnicas" (é incrível essa definição de mediunidade), os requisitos armazenados no presente ciclo de vida e dos ciclos anteriores, caso se aceite a idéia da existência de encarnações passadas". E se não fossem aceitas? Essa é apenas uma questão ideológica ou uma realidade existencial, independentemente de crença ou descrença?
Paremos por aqui, diante de tanta maluquice. Algumas revistas que hoje circulam no Brasil teimam em impor aos seus leitores assuntos que tais, sem quaisquer bases científicas. Saudades da PLANETA de outrora!
Outro tema, na mesma edição de PLANETA, sobre o título "Entendendo o Poltergeist", de autoria do médico-psiquiatra e psicoterapeuta do Encantamento (!), Paulo Urleam, que com dúvidas escreve: "Creio (ele apenas crê) que a psicologia junguiana é o melhor modelo para explicar os fenômenos parapsicológicos, particularmente no que se refere ao conceito analítico de sincronicidade..." Sincronicidade? Eis aí uma questão assaz duvidosa. Sincronicidade é a mesma coisa que coincidência. E o que é coincidência? Até hoje ninguém conseguiu firmar um conceito aceitável de coincidência. Ademais, Jung não apenas presenciou manifestações de efeitos físicos, ele fez extraordinários contatos com os Espíritos, materializações nas sessões do Dr. Schrenk-Notzing, na Alemanha, às da faculdade mediúnica de ectoplasmia de Rudi Schneider. Além do mais, Jung era um excelente médium de escrita automática. Vide sua obra "Os sete Sermões aos Mortos". Na verdade, Jung ficou, como o próprio Freud, em cima do muro. Ou mais precisamente, não foi honesto o bastante para afirmar a imortalidade da alma e suas naturais manifestações no mundo corpóreo. Atribuir as comunicações de poltergeist ao inconsciente é temerário; é um atestado de desconhecimento total da realidade espiritual do ser humano. O Dr. Hernani Guimarães Andrade, amigo nosso de longa data, já infelizmente desencarnado, concluiu pelo menos para este escriba, que os fenômenos de poltergeist ainda precisavam ser analizados com extrame cautela. Devê-los a estados emocionais alterados é infantilidade. Ali estão os Espíritos manfiestando-se acintosamente, tal como fizeram no passado e no presente. O problema é o funcionamento; arraigado preconceito. E para finalizar, que tal se os psiquiatras e psicólogos explicassem o que aconteceu no Monte Tabor, quando Jesus materializou dois Espíritos Moisés e Elias, utilizando-se do ectoplasma de Pedro, João e Tiago. Será que aquilo ali foi uma fraude? Qual o objetivo de Jesus em trazer do mundo espiritual dois dos grandes profetas hebreus? Será que Jung explicaria aquele fenômeno tomando por base as suas especulações psicológicas?
26 agosto 2009
VALOR DA PRECE
Revista Espírita, agosto de 1862
A mesma pessoa da qual o fato precedente foi questão, teve, um dia, a comunicação
espontânea seguinte, da qual não compreendeu imediatamente a origem:
'Vós não me esquecestes, e jamais vosso Espírito teve um sentimento de perdão para mim.
E verdade que vos fiz muito mal; mas disso sou punida há muito tempo. Não parei de
sofrer. Vejo-vos seguir os deveres que cumpris com tanta coragem, para prover às
necessidades de vossa família, a inveja não parou de me devorar o coração. Vossa... (Aqui,
paramos para perguntar o que isso poderia ser. O Espírito acrescenta: "Não me
interrompas; me nomearei quando tiver acabado.")... resignação, que segui, foi um dos
meus maiores males. Tende um pouco de piedade de mim, se sois realmente discípulo do
Cristo. Eu estava muito sozinha sobre a Terra, embora no meio dos meus, e a inveja foi
meu maior vício. Foi pela inveja que dominei vosso marido. Parecíeis retomar o império
sobre ele quando vos conheci, e me coloquei entre vós. Perdoai-me e tende coragem: Deus
terá piedade de vós a seu turno. Minha irmã, que oprimi durante minha vida, é a única que
tem orado por mim; mas são as vossas preces que me faltam. As outras não têm para mim
o selo do perdão. Adeus, perdoai-me.
ANGÈLE ROUGET."
Aquela senhora acrescenta: "Lembrei-me então perfeitamente da pessoa morta, há vinte e
cinco anos, e na qual não havia pensado desde muitos anos. Pergunto-me como ocorre que
as preces de sua irmã, virtuosa e doce criatura, devotada, piedosa e resignada, não sejam
mais frutíferas do que as minhas. Entretanto, pensai que, depois disto, orei e perdoei."
Resposta. - O Espírito deu-lhe a explicação quando disse: "As preces dos outros não têm
para mim o selo do perdão." Com efeito, sendo essa senhora a principal ofendida, e sendo a
que mais sofreu com a conduta daquela mulher, em sua prece havia perdão, o que deveria
mais tocar o Espírito culpado. Sua irmã, orando, não fazia, por assim dizer, senão cumprir
um dever; do outro lado, havia ato de caridade. A ofendida tinha mais direito e mérito para
pedir graça; seu perdão deveria, pois, tranqüilizar muito mais o Espírito. Ora, sabe-se que o
principal efeito da prece é agir sobre o moral do Espírito, seja para acalmá-lo, seja para
conduzi-lo ao bem; conduzindo-o ao bem apressa a clemência do Juiz supremo, que sempre
perdoa ao pecador arrependido.
A justiça humana, toda imperfeita que ela é em comparação com a justiça divina, nos
oferece freqüentes exemplos semelhantes. Que um homem seja levado ante os tribunais
por uma ofensa contra alguém, ninguém não agradará mais em seu favor, e não obterá
mais facilmente a sua graça do que o próprio ofendido vindo generosamente retirar a sua
queixa.
Esta comunicação, tendo sido lida na Sociedade de Paris, deu lugar à seguinte pergunta,
proposta por um de seus membros:"Os Espíritos reclamam sem cessar as preces dos mortais; é que os bons Espíritos não oram também pelos Espíritos sofredores, e nesse caso porque as dos homens são mais eficazes?"
A resposta seguinte foi dada na mesma sessão, por Santo Agostinho; médium, Sr. E. Vézy:
Orai sempre, filhos; já vos disse: a prece é um orvalho benfazejo que deve tornar menos
árida a terra seca. Venho vo-lo repetir ainda, e acrescento-lhe algumas palavras em
resposta à pergunta que dirigis. Por que, pois, dizeis, os Espíritos sofredores vos pedem
preces de preferência a nós? As preces dos mortais são mais eficazes do que as dos bons
Espíritos? - Quem vos disse que nossas preces não tinham a virtude de espalhar a
consolação e dar força aos Espíritos fracos que não podem ir a Deus senão com dificuldade
e, freqüentemente, com desencorajamento? Se imploram vossas preces, é que têm o
mérito das emanações terrestres subindo voluntariamente a Deus, e que, aqueles, gostam
sempre delas, vindo de vossa caridade e de vosso amor.
Para vós, orar, é abnegação; para nós, é dever. O encarnado que ora por seu próximo
cumpre a nobre tarefa dos puros Espíritos; sem ter sua coragem e força, realiza suas
maravilhas. É o próprio de nossa vida, cabe a nós, consolar o Espírito em dificuldade e
sofredor; mas uma de vossas preces, de vós, é o colar que tirais de vosso pescoço para dar
ao indigente; é o pão que retirais de vossa mesa para dá-lo a quem tem fome, e eis porque
vossas preces são agradáveis àqueles que as ouvem. Um pai não aquiesce sempre à prece
do filho pródigo? Não chama todos os seus servidores para matar o vitelo gordo ao redor do
filho culpado? Quanto não faria mais ainda por aquele mesmo que viesse aos seus joelhos
dizer-lhe: "Ó meu pai, sou muito culpado; não vos peço graça, mas perdoai ao meu irmão
arrependido, mais fraco e menos culpado do que eu!" Oh! é então que o pai se enternece; é
então que ele arranca de seu peito tudo o que pode conter de dons e de amor. Ele diz: "Tu
eras cheio de iniqüidades, te disseste criminoso; mas, compreendendo a enormidade de
tuas faltas, não me pediste graça para ti; aceitas o sofrimento de meu castigo, e malgrado
tuas torturas, tua voz tem bastante força para pedir por teu irmão!" Pois bem! o pai não
quer menos caridade do que o filho: ele perdoa a ambos; a um e ao outro estenderá as
mãos para que possam caminhar direito no caminho que conduz à sua glória.
Eis, meus filhos, porque os Espíritos sofredores que vagam ao vosso redor imploram as
vossas preces; nós devemos orar, nós; vós podeis orar. Prece do coração, tu és a alma das
almas, se posso me exprimir assim; quintessência sublime que sobe sempre casta, bela e
radiosa na alma mais vasta de Deus!
SANTO AGOSTINHO.
A mesma pessoa da qual o fato precedente foi questão, teve, um dia, a comunicação
espontânea seguinte, da qual não compreendeu imediatamente a origem:
'Vós não me esquecestes, e jamais vosso Espírito teve um sentimento de perdão para mim.
E verdade que vos fiz muito mal; mas disso sou punida há muito tempo. Não parei de
sofrer. Vejo-vos seguir os deveres que cumpris com tanta coragem, para prover às
necessidades de vossa família, a inveja não parou de me devorar o coração. Vossa... (Aqui,
paramos para perguntar o que isso poderia ser. O Espírito acrescenta: "Não me
interrompas; me nomearei quando tiver acabado.")... resignação, que segui, foi um dos
meus maiores males. Tende um pouco de piedade de mim, se sois realmente discípulo do
Cristo. Eu estava muito sozinha sobre a Terra, embora no meio dos meus, e a inveja foi
meu maior vício. Foi pela inveja que dominei vosso marido. Parecíeis retomar o império
sobre ele quando vos conheci, e me coloquei entre vós. Perdoai-me e tende coragem: Deus
terá piedade de vós a seu turno. Minha irmã, que oprimi durante minha vida, é a única que
tem orado por mim; mas são as vossas preces que me faltam. As outras não têm para mim
o selo do perdão. Adeus, perdoai-me.
ANGÈLE ROUGET."
Aquela senhora acrescenta: "Lembrei-me então perfeitamente da pessoa morta, há vinte e
cinco anos, e na qual não havia pensado desde muitos anos. Pergunto-me como ocorre que
as preces de sua irmã, virtuosa e doce criatura, devotada, piedosa e resignada, não sejam
mais frutíferas do que as minhas. Entretanto, pensai que, depois disto, orei e perdoei."
Resposta. - O Espírito deu-lhe a explicação quando disse: "As preces dos outros não têm
para mim o selo do perdão." Com efeito, sendo essa senhora a principal ofendida, e sendo a
que mais sofreu com a conduta daquela mulher, em sua prece havia perdão, o que deveria
mais tocar o Espírito culpado. Sua irmã, orando, não fazia, por assim dizer, senão cumprir
um dever; do outro lado, havia ato de caridade. A ofendida tinha mais direito e mérito para
pedir graça; seu perdão deveria, pois, tranqüilizar muito mais o Espírito. Ora, sabe-se que o
principal efeito da prece é agir sobre o moral do Espírito, seja para acalmá-lo, seja para
conduzi-lo ao bem; conduzindo-o ao bem apressa a clemência do Juiz supremo, que sempre
perdoa ao pecador arrependido.
A justiça humana, toda imperfeita que ela é em comparação com a justiça divina, nos
oferece freqüentes exemplos semelhantes. Que um homem seja levado ante os tribunais
por uma ofensa contra alguém, ninguém não agradará mais em seu favor, e não obterá
mais facilmente a sua graça do que o próprio ofendido vindo generosamente retirar a sua
queixa.
Esta comunicação, tendo sido lida na Sociedade de Paris, deu lugar à seguinte pergunta,
proposta por um de seus membros:"Os Espíritos reclamam sem cessar as preces dos mortais; é que os bons Espíritos não oram também pelos Espíritos sofredores, e nesse caso porque as dos homens são mais eficazes?"
A resposta seguinte foi dada na mesma sessão, por Santo Agostinho; médium, Sr. E. Vézy:
Orai sempre, filhos; já vos disse: a prece é um orvalho benfazejo que deve tornar menos
árida a terra seca. Venho vo-lo repetir ainda, e acrescento-lhe algumas palavras em
resposta à pergunta que dirigis. Por que, pois, dizeis, os Espíritos sofredores vos pedem
preces de preferência a nós? As preces dos mortais são mais eficazes do que as dos bons
Espíritos? - Quem vos disse que nossas preces não tinham a virtude de espalhar a
consolação e dar força aos Espíritos fracos que não podem ir a Deus senão com dificuldade
e, freqüentemente, com desencorajamento? Se imploram vossas preces, é que têm o
mérito das emanações terrestres subindo voluntariamente a Deus, e que, aqueles, gostam
sempre delas, vindo de vossa caridade e de vosso amor.
Para vós, orar, é abnegação; para nós, é dever. O encarnado que ora por seu próximo
cumpre a nobre tarefa dos puros Espíritos; sem ter sua coragem e força, realiza suas
maravilhas. É o próprio de nossa vida, cabe a nós, consolar o Espírito em dificuldade e
sofredor; mas uma de vossas preces, de vós, é o colar que tirais de vosso pescoço para dar
ao indigente; é o pão que retirais de vossa mesa para dá-lo a quem tem fome, e eis porque
vossas preces são agradáveis àqueles que as ouvem. Um pai não aquiesce sempre à prece
do filho pródigo? Não chama todos os seus servidores para matar o vitelo gordo ao redor do
filho culpado? Quanto não faria mais ainda por aquele mesmo que viesse aos seus joelhos
dizer-lhe: "Ó meu pai, sou muito culpado; não vos peço graça, mas perdoai ao meu irmão
arrependido, mais fraco e menos culpado do que eu!" Oh! é então que o pai se enternece; é
então que ele arranca de seu peito tudo o que pode conter de dons e de amor. Ele diz: "Tu
eras cheio de iniqüidades, te disseste criminoso; mas, compreendendo a enormidade de
tuas faltas, não me pediste graça para ti; aceitas o sofrimento de meu castigo, e malgrado
tuas torturas, tua voz tem bastante força para pedir por teu irmão!" Pois bem! o pai não
quer menos caridade do que o filho: ele perdoa a ambos; a um e ao outro estenderá as
mãos para que possam caminhar direito no caminho que conduz à sua glória.
Eis, meus filhos, porque os Espíritos sofredores que vagam ao vosso redor imploram as
vossas preces; nós devemos orar, nós; vós podeis orar. Prece do coração, tu és a alma das
almas, se posso me exprimir assim; quintessência sublime que sobe sempre casta, bela e
radiosa na alma mais vasta de Deus!
SANTO AGOSTINHO.
CASTIGO DE UM AVARENTO
Revista Espírita, agosto de 1862
François Riquier, homem muito vulgar, era um velho avaro e velho solteirão, morto em C...,
há quatro ou cinco anos, deixando uma fortuna bastante considerável aos seus colaterais.
Fora o senhorio de uma de nossas amigas, senhora F... Esta senhora o havia esquecido
totalmente, quando recentemente sua filha, que é sujeita a crises de catalepsia seguidas de
um sono magnético espontâneo, viu, nesse sonho, o senhor Riquier que, disse ela, queria
se dirigir à sua mãe. Depois de alguns dias, a filha da senhora F..., que além disso é boa
médium escrevente, tendo tomado o lápis, obteve a comunicação seguinte, após a qual
Riquier colocou seu nome e seu endereço com o número. A senhora F..., que não conhecia
esse número, apressou-se em ir verificá-lo e ficou muito surpresa ao ver que a indicação
era perfeitamente exata. Eis esta comunicação, que é um novo exemplo das penas
reservadas aos Espíritos culpados. Como tinha se manifestado espontaneamente e
testemunhado o desejo de falar à senhora F..., dirigiu-lhe esta pergunta: "Que quereis de
nós? - R. Meu dinheiro que mo tomaram, os miseráveis, para partilhá-lo. Venderam minhas
fazendas, minhas casas, tudo, para o partilharem. Dilapidaram meu bem, como se não
fosse meu. Fazei-me fazer justiça, porque, eu, não me escutam, e não quero ver tais
infâmias. Dizem que eu era usurário, e guardam meu dinheiro! Por que não mo querem
devolver, uma vez que acham que é mal adquirido?"P. Mas estais morto, meu bom homem; não tendes mais necessidade de dinheiro. Pedi aDeus ter uma nova existência pobre para expiar a avareza desta. - R. Não, eu não poderiaviver pobre. É preciso meu dinheiro para me fazer viver. Aliás, não tenho necessidade deuma outra vida, uma vez que vivo a presente."P. (A pergunta seguinte foi feita com o objetivo de levá-lo à sua realidade.) - Sofreis? - R.Oh! sim, sofro torturas piores do que a doença mais cruel, porque é minha alma que suporta essas torturas. Tenho sempre presente em meu pensamento a iniqüidade de minha vida, que foi um motivo de escândalo para muitos. Sei bem que sou um miserável indigno de piedade; mas sofro tanto que é preciso me ajudar a sair deste miserável estado."P. Oraremos por vós. - R. Obrigado! Orai para que eu esqueça minhas riquezas terrestres,sem isso não poderia jamais me arrepender. Adeus e obrigado."FRANÇOIS RIQUIER,"Rua da Caridade, n044."
NOTA- Este exemplo e muitos outros análogos provam que o Espírito pode conservar,
durante vários anos, a idéia de que pertence ainda ao mundo corpóreo. Essa ilusão não é,
pois, exclusivamente a própria dos casos de morte violenta; parece ser a conseqüência da
materialidade da vida terrestre, e a persistência do sentimento dessa materialidade, que
não pode ser satisfeita, é um suplício para o Espírito. Além disso, aí encontramos a prova
de que o Espírito é um ser semelhante ao ser corpóreo, embora fluídico, porque, para crer
que ainda está neste mundo, que continua ou crê continuar, poder-se-ia dizer, a ocupar-se
de seus negócios, é preciso que ele se veja uma forma, um corpo, em uma palavra, como
de sua vida. Se não restasse dele senão um sopro, um vapor, uma centelha, não poderia se
equivocar sobre a sua situação. É assim que o estudo dos Espíritos, mesmo vulgares, vem
nos esclarecer sobre o estado real do mundo invisível, e confirmar as mais importantes
verdades.
François Riquier, homem muito vulgar, era um velho avaro e velho solteirão, morto em C...,
há quatro ou cinco anos, deixando uma fortuna bastante considerável aos seus colaterais.
Fora o senhorio de uma de nossas amigas, senhora F... Esta senhora o havia esquecido
totalmente, quando recentemente sua filha, que é sujeita a crises de catalepsia seguidas de
um sono magnético espontâneo, viu, nesse sonho, o senhor Riquier que, disse ela, queria
se dirigir à sua mãe. Depois de alguns dias, a filha da senhora F..., que além disso é boa
médium escrevente, tendo tomado o lápis, obteve a comunicação seguinte, após a qual
Riquier colocou seu nome e seu endereço com o número. A senhora F..., que não conhecia
esse número, apressou-se em ir verificá-lo e ficou muito surpresa ao ver que a indicação
era perfeitamente exata. Eis esta comunicação, que é um novo exemplo das penas
reservadas aos Espíritos culpados. Como tinha se manifestado espontaneamente e
testemunhado o desejo de falar à senhora F..., dirigiu-lhe esta pergunta: "Que quereis de
nós? - R. Meu dinheiro que mo tomaram, os miseráveis, para partilhá-lo. Venderam minhas
fazendas, minhas casas, tudo, para o partilharem. Dilapidaram meu bem, como se não
fosse meu. Fazei-me fazer justiça, porque, eu, não me escutam, e não quero ver tais
infâmias. Dizem que eu era usurário, e guardam meu dinheiro! Por que não mo querem
devolver, uma vez que acham que é mal adquirido?"P. Mas estais morto, meu bom homem; não tendes mais necessidade de dinheiro. Pedi aDeus ter uma nova existência pobre para expiar a avareza desta. - R. Não, eu não poderiaviver pobre. É preciso meu dinheiro para me fazer viver. Aliás, não tenho necessidade deuma outra vida, uma vez que vivo a presente."P. (A pergunta seguinte foi feita com o objetivo de levá-lo à sua realidade.) - Sofreis? - R.Oh! sim, sofro torturas piores do que a doença mais cruel, porque é minha alma que suporta essas torturas. Tenho sempre presente em meu pensamento a iniqüidade de minha vida, que foi um motivo de escândalo para muitos. Sei bem que sou um miserável indigno de piedade; mas sofro tanto que é preciso me ajudar a sair deste miserável estado."P. Oraremos por vós. - R. Obrigado! Orai para que eu esqueça minhas riquezas terrestres,sem isso não poderia jamais me arrepender. Adeus e obrigado."FRANÇOIS RIQUIER,"Rua da Caridade, n044."
NOTA- Este exemplo e muitos outros análogos provam que o Espírito pode conservar,
durante vários anos, a idéia de que pertence ainda ao mundo corpóreo. Essa ilusão não é,
pois, exclusivamente a própria dos casos de morte violenta; parece ser a conseqüência da
materialidade da vida terrestre, e a persistência do sentimento dessa materialidade, que
não pode ser satisfeita, é um suplício para o Espírito. Além disso, aí encontramos a prova
de que o Espírito é um ser semelhante ao ser corpóreo, embora fluídico, porque, para crer
que ainda está neste mundo, que continua ou crê continuar, poder-se-ia dizer, a ocupar-se
de seus negócios, é preciso que ele se veja uma forma, um corpo, em uma palavra, como
de sua vida. Se não restasse dele senão um sopro, um vapor, uma centelha, não poderia se
equivocar sobre a sua situação. É assim que o estudo dos Espíritos, mesmo vulgares, vem
nos esclarecer sobre o estado real do mundo invisível, e confirmar as mais importantes
verdades.
25 agosto 2009
SUICIDAR-SE, NUNCA!
Meu caro leitor, se você é daquelas pessoas que está enfrentando difícil fase de sua existência, com escassez de recursos financeiros, enfermidades ou complexos desafios pessoais (na vida familiar ou não) e está se sentindo muito abatido, gostaria de convidá-lo a uma grave reflexão.
Todos temos visto a ocorrência triste e dramática daqueles que se lançam ao suicídio, das mais variadas formas. A idéia infeliz surge, é alimentada pelo agravamento dos problemas do cotidiano e concretiza-se no ato infeliz do auto-extermínio.
Diante de possíveis angústias e estados depressivos, não há outro remédio senão a calma, a paciência e a confiança na vida, que sempre nos reserva o melhor ou o que temos necessidade de enfrentar para aprender. Ações precipitadas, suicídios e atos insanos são praticados devido ao desespero que atinge muitas pessoas que não conseguem enxergar os benefícios que as cercam de todos os lados.
Mas é interessante ressaltar que estes estados de alma, de desalento, de angústias, de atribulações de toda ordem, não são casos isolados. Eles integram a vida humana. Milhões de pessoas, em todo mundo, lutam com esses enigmas como alunos que quebram a cabeça tentando resolver exercícios de física ou matemática. Mas até uma criança sabe que o problema que parece insolúvel não se resolverá rasgando o caderno e fugindo da sala de aula.
Sim, a comparação é notável. Destruir o próprio corpo, a própria vida, como aparente solução é uma decisão absurda. Vejamos os problemas como autênticos desafios de aprendizado, nunca como castigos ou questões insuperáveis. Tudo tem uma solução, ainda que difícil ou demorada.
O fato, porém, é que precisamos sempre resistir aos embates do cotidiano com muita coragem e determinação. Viver é algo extraordinário. Tudo, mas tudo mesmo, passa. Para que entregar-se ao desespero? Há razões de sobra para sorrir, rir e viver...!
O suicídio é um dos maiores equívocos humanos, para não dizer o maior. A pessoa sente-se pressionada por uma quantidade variável de desafios, que julga serem problemas sem solução, e precipita-se na ilusão da morte. Sim, ilusão, porque ninguém consegue auto-exterminar-se. E o suicídio agrava as dificuldades porque aí a pessoa sente o corpo inanimado, cuja decomposição experimenta com os horrores próprios, pressionada agora pelo arrependimento, pelo remorso, sem possibilidade de retorno imediato para refazer a própria vida. Em meio a dores morais intensas, com as sensações físicas próprias, sentindo ainda a angústia dos seres queridos que com ele conviviam, o suicida torna-se um indigente do além.
Como? Sim, apenas conseqüências do ato extremo, nunca castigo. Isto tudo por uma razão muito simples: não somos o corpo, estamos no corpo. Somos espíritos reencarnados, imortais. E a vida nunca cessa, ela continua objetivando o aprimoramento moral e intelectual de todos os filhos de Deus. Suicidar-se é ilusão. Os desafios existenciais surgem exatamente para promover o progresso, convidando à conquista de virtudes e o desenvolvimento da inteligência. A oportunidade de viver e aprender é muito rica para ser desprezada. E quando alguém a descarta, surgem conseqüências naturais: o sofrimento físico, pela auto-agressão e o sofrimento moral do arrependimento e da perda de oportunidades. Muitos talvez, poderão perguntar-se: Mas de onde vem essas informações?
A Revelação Espírita trouxe essas informações. São os próprios espíritos que trouxeram as descrições do estado que se encontram depois da morte. Entre eles, também os suicidas descrevem os sofrimentos físicos e morais que experimentam. Sim porque sendo patrimônio concedido por Deus, a vida interrompida por vontade própria é transgressão à sua Lei de Amor. Como uma criança pequena que teima em não ouvir os pais e coloca os dedos na tomada elétrica.
Para os suicídios há atenuantes e agravantes, mas sempre com conseqüências dolorosas e que vão requerer longo tempo de recuperação. Deus, que é Pai bondoso e misericordioso, jamais abandona seus filhos e concede-lhes sempre novas oportunidades. Aí surge a reencarnação como caminho reparador, em existências difíceis que apresentam os sintomas e aparências do ato extremo do suicídio. Há que se pensar nos familiares, cônjuges, pais e filhos, na dor que experimentam diante do suicídio do ser querido. Há que se pensar no arrependimento inevitável que virá. Há que se ponderar no desprezo endereçado à vida. Há, mais ainda, que se buscar na confiança em Deus, na coragem, na prece sincera, nos amigos (especialmente o maior deles, Jesus), a força que se precisa para vencer quaisquer idéias que sugiram o auto-extermínio.
Meu amigo, minha amiga, pense no tesouro que é tua vida, de tua família! Jamais te deixes enganar pela ilusão do suicídio. Viva! Viva intensamente! Com alegria! Que não te perturbe nem a dificuldade, nem a enfermidade, nem a carência material. Confie, meu caro, e prossiga!
Todos temos visto a ocorrência triste e dramática daqueles que se lançam ao suicídio, das mais variadas formas. A idéia infeliz surge, é alimentada pelo agravamento dos problemas do cotidiano e concretiza-se no ato infeliz do auto-extermínio.
Diante de possíveis angústias e estados depressivos, não há outro remédio senão a calma, a paciência e a confiança na vida, que sempre nos reserva o melhor ou o que temos necessidade de enfrentar para aprender. Ações precipitadas, suicídios e atos insanos são praticados devido ao desespero que atinge muitas pessoas que não conseguem enxergar os benefícios que as cercam de todos os lados.
Mas é interessante ressaltar que estes estados de alma, de desalento, de angústias, de atribulações de toda ordem, não são casos isolados. Eles integram a vida humana. Milhões de pessoas, em todo mundo, lutam com esses enigmas como alunos que quebram a cabeça tentando resolver exercícios de física ou matemática. Mas até uma criança sabe que o problema que parece insolúvel não se resolverá rasgando o caderno e fugindo da sala de aula.
Sim, a comparação é notável. Destruir o próprio corpo, a própria vida, como aparente solução é uma decisão absurda. Vejamos os problemas como autênticos desafios de aprendizado, nunca como castigos ou questões insuperáveis. Tudo tem uma solução, ainda que difícil ou demorada.
O fato, porém, é que precisamos sempre resistir aos embates do cotidiano com muita coragem e determinação. Viver é algo extraordinário. Tudo, mas tudo mesmo, passa. Para que entregar-se ao desespero? Há razões de sobra para sorrir, rir e viver...!
O suicídio é um dos maiores equívocos humanos, para não dizer o maior. A pessoa sente-se pressionada por uma quantidade variável de desafios, que julga serem problemas sem solução, e precipita-se na ilusão da morte. Sim, ilusão, porque ninguém consegue auto-exterminar-se. E o suicídio agrava as dificuldades porque aí a pessoa sente o corpo inanimado, cuja decomposição experimenta com os horrores próprios, pressionada agora pelo arrependimento, pelo remorso, sem possibilidade de retorno imediato para refazer a própria vida. Em meio a dores morais intensas, com as sensações físicas próprias, sentindo ainda a angústia dos seres queridos que com ele conviviam, o suicida torna-se um indigente do além.
Como? Sim, apenas conseqüências do ato extremo, nunca castigo. Isto tudo por uma razão muito simples: não somos o corpo, estamos no corpo. Somos espíritos reencarnados, imortais. E a vida nunca cessa, ela continua objetivando o aprimoramento moral e intelectual de todos os filhos de Deus. Suicidar-se é ilusão. Os desafios existenciais surgem exatamente para promover o progresso, convidando à conquista de virtudes e o desenvolvimento da inteligência. A oportunidade de viver e aprender é muito rica para ser desprezada. E quando alguém a descarta, surgem conseqüências naturais: o sofrimento físico, pela auto-agressão e o sofrimento moral do arrependimento e da perda de oportunidades. Muitos talvez, poderão perguntar-se: Mas de onde vem essas informações?
A Revelação Espírita trouxe essas informações. São os próprios espíritos que trouxeram as descrições do estado que se encontram depois da morte. Entre eles, também os suicidas descrevem os sofrimentos físicos e morais que experimentam. Sim porque sendo patrimônio concedido por Deus, a vida interrompida por vontade própria é transgressão à sua Lei de Amor. Como uma criança pequena que teima em não ouvir os pais e coloca os dedos na tomada elétrica.
Para os suicídios há atenuantes e agravantes, mas sempre com conseqüências dolorosas e que vão requerer longo tempo de recuperação. Deus, que é Pai bondoso e misericordioso, jamais abandona seus filhos e concede-lhes sempre novas oportunidades. Aí surge a reencarnação como caminho reparador, em existências difíceis que apresentam os sintomas e aparências do ato extremo do suicídio. Há que se pensar nos familiares, cônjuges, pais e filhos, na dor que experimentam diante do suicídio do ser querido. Há que se pensar no arrependimento inevitável que virá. Há que se ponderar no desprezo endereçado à vida. Há, mais ainda, que se buscar na confiança em Deus, na coragem, na prece sincera, nos amigos (especialmente o maior deles, Jesus), a força que se precisa para vencer quaisquer idéias que sugiram o auto-extermínio.
Meu amigo, minha amiga, pense no tesouro que é tua vida, de tua família! Jamais te deixes enganar pela ilusão do suicídio. Viva! Viva intensamente! Com alegria! Que não te perturbe nem a dificuldade, nem a enfermidade, nem a carência material. Confie, meu caro, e prossiga!
22 agosto 2009
A CRUZ
Revista Espírita, fevereiro de 1862
(Sociedade Espírita de Paris, méd. Sr. A. Didier.)
No meio das revoluções humanas, no meio de todas as perturbações, de todos os
desencadeamentos do pensamento, se eleva uma cruz, alta e simples, e essa cruz está
fixada sobre um altar de pedra. Um jovem, esculpido na pedra, tendo em suas duas
pequenas mãos uma bandeirola sobre a qual se lê esta palavra: Simplicitas. Filantropos,
filósofos, deístas, poetas, vinde ler e contemplar essa palavra: é todo o Evangelho, toda a
explicação do Cristianismo. Filantropos, não inventeis a filantropia: não há senão a
caridade; filósofos, não inventeis uma sabedoria, delas não há senão uma; deístas, não
inventeis um Deus, dele não há senão um; poetas, não perturbeis o coração do homem.
Filantropos, quereis quebrar as cadeias materiais que retêm a Humanidade cativa; filósofos,
levantais panteons; poetas, idealizais o fanatismo: para trás! Sois deste mundo, e o Cristo
disse: "Meu reino não é deste mundo". Oh! Sois muito deste mundo de lama para
compreender estas sublimes palavras; e se algum juiz bastante poderoso pudesse vos
dizer: "Sois os filhos de Deus?" Vossa vontade morreria no fundo de vossa garganta, e não
poderíeis responder como o Cristo em face da Humanidade: "Vós o dissestes." -Sois todos
deuses, disse o Cristo, quando a língua de fogo desce sobre as vossas cabeças e penetra o
vosso coração; sois todos deuses quando percorreis a Terra em nome da caridade; mas sois
os filhos do mundo quando contemplais as penas presentes da Humanidade, e não pensais
em seu futuro divino. Homem! Que seja teu coração que leia esse nome e não os teus olhos
de carne; Cristo não erigiu panteon; ele elevou uma cruz.
(Sociedade Espírita de Paris, méd. Sr. A. Didier.)
No meio das revoluções humanas, no meio de todas as perturbações, de todos os
desencadeamentos do pensamento, se eleva uma cruz, alta e simples, e essa cruz está
fixada sobre um altar de pedra. Um jovem, esculpido na pedra, tendo em suas duas
pequenas mãos uma bandeirola sobre a qual se lê esta palavra: Simplicitas. Filantropos,
filósofos, deístas, poetas, vinde ler e contemplar essa palavra: é todo o Evangelho, toda a
explicação do Cristianismo. Filantropos, não inventeis a filantropia: não há senão a
caridade; filósofos, não inventeis uma sabedoria, delas não há senão uma; deístas, não
inventeis um Deus, dele não há senão um; poetas, não perturbeis o coração do homem.
Filantropos, quereis quebrar as cadeias materiais que retêm a Humanidade cativa; filósofos,
levantais panteons; poetas, idealizais o fanatismo: para trás! Sois deste mundo, e o Cristo
disse: "Meu reino não é deste mundo". Oh! Sois muito deste mundo de lama para
compreender estas sublimes palavras; e se algum juiz bastante poderoso pudesse vos
dizer: "Sois os filhos de Deus?" Vossa vontade morreria no fundo de vossa garganta, e não
poderíeis responder como o Cristo em face da Humanidade: "Vós o dissestes." -Sois todos
deuses, disse o Cristo, quando a língua de fogo desce sobre as vossas cabeças e penetra o
vosso coração; sois todos deuses quando percorreis a Terra em nome da caridade; mas sois
os filhos do mundo quando contemplais as penas presentes da Humanidade, e não pensais
em seu futuro divino. Homem! Que seja teu coração que leia esse nome e não os teus olhos
de carne; Cristo não erigiu panteon; ele elevou uma cruz.
A PLURALIDADE DOS MUNDOS
Revue Spirite - ano de 1858 - páginas 65 a 73
Quem não teria perguntado, considerando a Lua e os outros astros, se esses globos são habitados? Antes que a ciência nos tivesse iniciado quanto à natureza desses astros, disso se podia duvidar; hoje, no estado atual dos nossos conhecimentos, há, pelo menos, probabilidades; mas fizeram-se a essa idéia, verdadeiramente sedutora, objeções tiradas da própria ciência. A Lua, diz-se, parece não ter mais atmosfera, e, talvez, água. Em Mercúrio, tendo em vista a sua proximidade do Sol, a temperatura média deve ser a do chumbo fundido, de sorte que, se houver chumbo, deverá correr como a água dos nossos rios. Em Saturno, é tudo o oposto; não temos termo de comparação para o frio que nele deve reinar; a luz do Sol, ali, deve ser muito fraca, apesar do reflexo das suas sete luas e do seu anel, porque, a essa distância, o Sol não deve parecer senão como uma estrela de primeira grandeza. Em tais condições, pergunta-se se seria possível viver.
Não se concebe que, uma semelhante objeção possa ser feita por homens sérios. Se a atmosfera da Lua não pôde ser percebida, é racional que disso se infere que não exista? Não pode estar formada de elementos desconhecidos ou muito rarefeitos para não produzir refração sensível? Diremos a mesma coisa da água ou dos líquidos que nela existam. Com relação aos seres vivos, não seria negar o poder divino crendo impossível uma organização diferente da que nós conhecemos, quando, sob os nossos olhos, a previdência da Natureza se estende com uma solicitude tão admirável até o menor dos insetos, e dá, a todos os seres, órgãos apropriados ao meio ao qual devem habitar, seja sob a água, o ar ou a terra, seja mergulhados na obscuridade ou expostos ao clarão do Sol? Se não tivéssemos jamais visto os peixes, não poderíamos conceber seres vivos na água; não faríamos uma idéia da sua estrutura. Quem poderia crer, ainda há pouco tempo, que um animal pudesse viver um tempo indefinido no seio de uma pedra! Mas, sem falar desses extremos, os seres que vivem sob o fogo da zona tórrida poderiam existir nos gelos polares? E, todavia, há, nesses gelos, seres organizados para esse clima rigoroso e que não poderiam suportar o ardor de um sol vertical. Porque, pois, não admitiríamos que seres possam estar constituídos de modo a viverem sobre outros globos e num meio todo diferente do nosso? Seguramente, sem conhecer a fundo a constituição física da Lua, dela sabemos o bastante para estarmos certos de que, tais como somos, ali não poderíamos viver, tanto como não o podemos no seio do Oceano, em companhia dos peixes. Pela mesma razão, os habitantes da Lua, se pudessem virà Terra, constituídos para viverem sem ar, ou num ar muito rarefeito, talvez muito diferente do nosso, seriam asfixiados em nossa espessa atmosfera, como o somos quando caímos na água. Ainda uma vez, se não temos a prova material e visual da presença de seres vivos em outros mundos, nada prova que não possam existir, cujo organismo seja apropriado a um meio ou a um clima qualquer. O simples bom senso nos diz, ao contrário, que assim deve ser, porque repugna à razão crer que esses inumeráveis globos que circulam no espaço não são senão massas inertes e improdutivas. A observação nos mostra, deles, superfícies acidentadas por montanhas, vales, barrancos, vulcões extintos ou em atividade; por que, pois, não haveriam seres orgânicos? Seja, dir-se-á; que haja plantas, mesmo animais, isso pode ser; mas seres humanos, homens civilizados como nós, conhecendo Deus, cultivando as artes, as ciências, isso será possível?
Seguramente, nada prova, matematicamente, que os seres que habitam os outros mundos sejam homens como nós, moralmente falando; mas, quando os selvagens da América viram desembarcar os Espanhóis, não duvidaram mais que, além dos mares, existia um outro mundo cultivando artes que lhes eram desconhecidas. A terra é salpicada de uma inumerável quantidade de ilhas, pequenas ou grandes, e tudo o que é habitável está habitado; não surge um rochedo no mar que o homem não plante, no instante, sua bandeira. Que diríamos se os habitantes de uma das menores dessas ilhas, conhecendo perfeitamente a existência das outras ilhas e continentes, mas, jamais havendo tido relações com aqueles que os habitam, se cressem os únicos seres vivos do globo? Nós lhes diríamos: Como podeis crer que Deus haja feito o mundo só para vós? Por qual estranha bizarria vossa pequena ilha, perdida num canto do Oceano, teria o privilégio de ser a única habitada? Podemos dizer outro tanto de nós com respeito às outras esferas. Por que a Terra, pequeno globo imperceptível na imensidão do Universo, que não se distingue dos outros planetas nem pela sua posição, nem pelo seu volume, nem pela sua estrutura, porque não é nem a menor nem a maior, nem está no centro e nem na extremidade, porque, digo, seria, entre tantas outras, a única residência de seres racionais e pensantes? Que homem sensato poderia crer que esses milhões de astros, que brilham sobre as nossas cabeças, tenham sido feitos para recrear a nossa visão? Qual seria, então, a utilidade desses outros milhões de globos imperceptíveis a olho nu, e que não servem nem mesmo para nos clarear? Não haveria, ao mesmo tempo, orgulho e impiedade em pensar que assim deve ser? Àqueles que a impiedade pouco toca, diremos que é ilógico.
Chegamos, pois, por um simples raciocfnio, que muitos outros fizeram antes de nós, a concluir pela pluralidade dos mundos, e esse raciocínio se encontra confirmado pela revelação dos Espíritos. Eles nos ensinam, com efeito, que todos esses mundos são habitados por seres corpóreos apropriados à constituição física de cada globo; que, entre os habitantes desses mundos, uns são mais, outros são menos, avançados do que nós do ponto de vista intelectual, moral e mesmo físico. Ainda mais, hoje, sabemos que podemos entrar em relação com eles, e deles obter notícias sobre o seu estado; sabemos, ainda, que não só todos esses globos são habitados por seres corpóreos, mas, que o espaço está povoado por seres inteligentes, invisíveis para nós por causa do véu material lançado sobre a nossa alma, e que revelam a sua existência por meios ocultos ou patentes. Assim, tudo é povoado no Universo, a vida e a inteligência estão por toda parte: sobre os globos sólidos, no ar, nas entranhas da terra, e até nas profundezas etéreas. Haverá, nessa doutrina, alguma coisa que repugne à razão? Não é, ao mesmo tempo, grandiosa e sublime? Ela nos eleva pela nossa própria pequenez, diferentemente desse pensamento egoísta e mesquinho que nos coloca como os únicos seres dignos de ocupar o pensamento de Deus.
JÚPITER E ALGUNS OUTROS MUNDOS.
Antes de entrarmos nos detalhes das revelações que os Espíritos nos fizeram, sobre o estado dos diferentes mundos, vejamos a quais conseqüências lógicas poderemos chegar, por nós mesmos e unicamente pelo raciocínio. Reportando-se à escala espírita que demos no precedente número, pedimos às pessoas desejosas de aprofundarem seriamente essa ciência nova, estudarem com cuidado esse quadro e dele se compenetrarem; nele encontrarão a chave de mais de um mistério.
O mundo dos Espíritos se compõe de almas de todos os humanos desta Terra e de outras esferas, desligadas dos laços corporais; do mesmo modo, todos os humanos são animados por Espíritos neles encarnados. Há, pois, solidariedade entre os dois mundos: os homens terão as qualidades e as imperfeições dos Espíritos com os quais estão unidos; os Espíritos serão mais ou menos bons ou maus, segundo os progressos que tiverem feito durante a sua existência corporal. Essas poucas palavras resumem toda a doutrina. Como os atos dos homens são o produto do seu livre arbítrio, levam a marca da perfeição ou da imperfeição do Espírito que os provocam. Ser-nos-á, pois, muito fácil fazermos uma idéia do estado moral de um mundo qualquer, segundo a natureza dos Espíritos que o habitem; poderemos, de algum modo, descrever a sua legislação, traçar o quadro dos seus costumes, dos seus usos, das suas relações sociais. Suponhamos, pois, um globo habitado, exclusivamente, por Espíritos da nona classe, por Espíritos impuros, e a ele nos transportemos pelo pensamento. Nele veremos todas as paixões desencadeadas e sem freio; o estado moral no último grau de embrutecimento; a vida animal em toda a sua brutalidade; nada de laços sociais, porque cada um não vive e não age senão para si e para satisfazer os seus apetites grosseiros; o egoísmo nele reina com soberania absoluta, e arrasta consigo o ódio, a inveja, o ciúme, a cupidez, a morte.
Passemos, agora, para uma outra esfera, onde se encontrem Espíritos de todas as classes da terceira ordem: Espíritos impuros, Espíritos levianos, Espíritos pseudo-sábios, Espíritos neutros. Sabemos que, em todas as classes dessa ordem, o mal domina; mas, sem terem o pensamento do bem, o do mal decresce à medida que se afastam da última classe. O egoísmo é sempre o móvel principal das ações, mas os costumes são mais brandos, a inteligência mais desenvolvida; o mal, aí, estará um pouco disfarçado, enfeitado e dissimulado. Essas próprias qualidades, engendram um outro defeito, que é o orgulho; porque as classes mais elevadas são bastante esclarecidas para terem consciência da sua superioridade, mas não o bastante para compreenderem o que lhes falta; daí a sua tendência à escravização das classes inferiores, e de raças mais fracas, que tenham sob o seu jugo. Não tendo o sentimento do bem, não têm senão o instinto do eu e acionam a sua inteligência para satisfazerem as suas paixões. Numa tal sociedade, se o elemento impuro domina, esmagará o outro; no caso contrário, os menos maus procurarão destruir os seus adversários; em todos os casos, haverá luta, luta sangrenta, luta de extermínio, porque são dois elementos que têm interesses opostos. Para proteger os bens e as pessoas, serão necessárias leis; mas essas leis serão ditadas pelo interesse pessoal e não pela justiça; o forte as fará, em detrimento do fraco.
Suponhamos, agora, um mundo onde, entre os elementos maus que acabamos de ver, se encontrem alguns dos de segunda ordem; então, em meio da perversidade, veremos aparecer algumas virtudes. Se os bons estiverem em minoria, serão vítimas dos maus; mas, à medida que aumente a sua preponderância, a legislação será mais humana, mais equitativa, e a caridade cristã não será, para todos, uma letra morta. Desse próprio bem, vai nascer um outro vício. Malgrado a guerra que os maus declarem, sem cessar, aos bons, não poderão impedi-los de os estimar em seu foro íntimo; vendo a ascendência da virtude sobre o vício, e não tendo nem a força e nem a vontade de praticá-la, procurarão parodiá-la; tomam-lhe a máscara; daí os hipócritas, tão numerosos em toda sociedade onde a civilização é imperfeita.
Continuemos nossa rota através dos mundos, e detenhamo-nos neste, que nos vai repousar um pouco do triste espetáculo que acabamos de ver. Não é habitado senão por Espíritos da segunda ordem. Que diferença! O grau de depuração que alcançaram exclui, entre eles, todo pensamento do mal, e só essa palavra nos dá a idéia do estado moral dessa feliz região. A legislação, aí, é bem simples, porque os. homens não têm do que se defenderem, uns contra os outros; ninguém quer o mal para o seu próximo, ninguém se apropria do que não lhe pertence, ninguém procura viver em detrimento do seu vizinho. Tudo respira a benevolência e o amor; os homens não procuram se prejudicar; não há ódio; o egoísmo é desconhecido e a hipocrisia não teria finalidade. Aí, todavia, não reina a igualdade absoluta, porque a igualdade absoluta supõe uma identidade perfeita no desenvolvimento intelectual e moral; ora, veremos, pela escala espiritual, que a segunda ordem compreende vários graus de desenvolvimento; haverá, pois, nesse mundo, desigualdades, porque uns serão mais avançados do que outros; mas, como entre eles não há senão o pensamento do bem, os mais elevados não conceberão nada de orgulho, e os outros nada de ciúme. O inferior compreende a ascendência do superior e se submete, porque essa ascendência é puramente moral e ninguém dela se serve para oprimir.
As conseqüências que tiramos, desses quadros, embora apresentadas de um modo hipotético, não deixam de ser perfeitamente racionais, e, cada um pode deduzir o estado social de um mundo qualquer, segundo a proporção dos elementos morais dos quais se o supõe composto. Vimos que, abstração feita da revelação dos Espíritos, todas as probabilidades são para a pluralidade dos mundos; ora, não é menos racional pensar que todos não estão num mesmo grau de perfeição, e que, por isso mesmo, nossas suposições podem muito bem ser realidades. Não os conhecemos, senão o nosso, de um modo positivo. Que categoria ele ocupa nessa hierarquia? Ah! basta considerar o que aqui se passa para ver que está longe de merecer a primeira categoria, e estamos convencidos de que, lendo estas linhas, já se lhe terá marcado seu lugar. Quando os Espíritos nos dizem que estão, senão na última, pelo menos nas últimas, o simples bom senso nos diz, infelizmente, que não se enganam; temos muito a fazer para elevá-lo à categoria daquele que descrevemos em último lugar, e temos muita necessidade que o Cristo venha nos mostrar o caminho.
Quanto à aplicação, que podemos fazer, do nosso raciocínio, aos diferentes globos do nosso turbilhão planetário, não temos senão os ensinamentos dos Espíritos; ora, para quem não admite senão provas palpáveis, é positivo que sua asserção, a esse respeito, não tenha a certeza da experimentação direta. No entanto, não aceitamos, todos os dias com confiança as descrições, que os viajantes nos fazem, de países que jamais vimos? Se nós não devêssemos crer senão por nossos olhos, não creríamos em grande coisa. O que dá aqui, um certo peso ao dizer dos Espíritos, é a correlação que existe entre eles, pelo menos nos pontos principais. Para nós, que fomos cem vezes testemunhas dessas comunicações, que pudemos apreciá-las em seus menores detalhes, que nelas escoltamos o forte e o fraco, observamos as semelhanças e as contradições, encontramos todos os caracteres da probabilidade; todavia, não lhes damos senão sob benefício de inventário, a título de notícias, aos quais cada um está livre para ligara importância que julga adequada.
Segundo os Espíritos, o planeta Marte seria ainda menos avançado do que a Terra os Espíritos que nele estão encarnados pareceriam pertencer, quase exclusivamente, à nona classe, a dos Espíritos impuros, de sorte que o primeiro quadro, que demos acima, seria a imagem desse mundo. Vários outros pequenos globos estão, com algumas nuanças, na mesma categoria. A Terra viria em seguida; a maioria de seus habitantes pertence, incontestavelmente, a todas as classes da terceira ordem, e a parte menor às últimas classes da segunda ordem. Os Espíritos superiores, os da segunda e da terceira classe, nela cumprem, algumas vezes, uma missão de civilização e progresso, e são exceções. Mercúrio e Saturno vêm depois da Terra. A superioridade numérica de bons Espíritos lhes dá a preponderância sobre os Espíritos inferiores, do que resulta uma ordem social mais perfeita, relações menos egoístas, e, por conseqüência, uma condição de existência mais feliz. A Lua e Vênus estão quase no mesmo grau e, sob todos os aspectos, mais avançados do que Mercúrio e Saturno. Juno (Juno é o nome de uma divindade itálica. Deve ter ocorrido um lapso do autor, uma vez que não há, no nosso sistema solar, nenhum planeta com este nome. N. do T.) e Urano seriam ainda superiores a esses últimos. Pode-se supor que os elementos morais, desses dois planetas, são formados das primeiras classes da terceira ordem e, na grande maioria, de Espíritos da segunda ordem. Os homens, neles, são infinitamente mais felizes do que sobre a Terra, pela razão de que não têm nem as mesmas lutas a sustentar, nem as mesmas tributações a suportar, e não estão expostos às mesmas vicissitudes físicas e morais.
De todos os planetas, o mais avançado, sob todos os aspectos, é Júpiter. Ali, é o reino exclusivo do bem e da justiça, porque não há senão bons Espíritos. Pode-se fazer um idéia do feliz estado dos seus habitantes pelo quadro que demos do mundo habitado sem a participação dos Espíritos da segunda ordem.
A superioridade de Júpiter não está somente no estado moral dos seus habitantes; está, também, na sua constituição física. Eis a descrição que nos foi dada, desse mundo privilegiado, onde encontramos a maioria dos homens de bem que honraram nossa Terra pelas suas virtudes e seus talentos.
A conformação dos corpos é quase a mesma desse mundo, mas é menos material, menos denso e de uma maior leveza específica. Ao passo que rastejamos penosamente na Terra, o habitante de Júpiter se transporta, de um lugar para outro, roçando a superfície do solo, quase sem fadiga, como o pássaro no ar ou o peixe na água. Sendo a matéria, da qual o corpo está formado, mais depurada, ela se dissipa, depois da morte, sem ser submetida à decomposição pútrida. Ali não existe a maioria das enfermidades que nos afligem, sobretudo aquelas que têm sua fonte nos excessos de todos os gêneros e na desordem causada pelas paixões. A alimentação está em relação com essa organização etérea; não seria bastante substanciosa para os nossos estômagos grosseiros, e a nossa seria muito pesada para eles; ela se compõe de frutas e plantas, e, aliás, haurem, de algum modo, a maior parte do meio ambiente do qual aspiram as emanações nutritivas. A duração da vida é, proporcionalmente, muito maior que sobre a Terra; a média equivale a cinco dos nossos séculos. O desenvolvimento também é muito mais rápido, e a infância dura apenas alguns de nossos meses.
Sob esse envoltório leve, os Espíritos se desligam facilmente e entram em comunicação recíproca unicamente pelo pensamento, sem excluir, todavia, a linguagem articulada; também a segunda vista é, para a maioria uma faculdade permanente; seu estado normal pode ser comparado ao dos nossos sonâmbulos lúcidos; é também porque se manifestam, a nós, mais facilmente do que aqueles que estão encarnados em mundos mais grosseiros e mais materiais. A intuição que têm do futuro, a segurança que lhes dá uma consciência isenta de remorsos, fazem com que a morte não lhes cause nenhuma apreensão; vêem-na chegar sem medo e como uma simples transformação.
Os animais não estão excluídos desse estado progressivo, sem se aproximarem, entretanto, do homem, mesmo sob o aspecto físico; seus corpos, mais materiais ligam-se ao solo, como nós à Terra. Sua inteligência é mais desenvolvida do que nos nossos; a estrutura dos seus membros se dobra a todas exigências do trabalho; são encarregados da execução de obras manuais; são os servidores e os operários: as ocupações dos homens são puramente intelectuais. O homem é, para eles, uma divindade, mas uma divindade tutelar que jamais abusa do seu poder para oprimi-los.
Os Espíritos que habitam Júpiter, geralmente, se comprazem, quando querem se comunicar conosco na descrição do seu planeta, e quando se lhes pergunta a razão, respondem que é a fim de nos inspirar o amor ao bem pela esperança de, para lá, ir um dia. Foi com esse objetivo que um deles, que viveu na Terra com o nome de Bernard Palissy, o célebre oleiro do décimo sexto século, empreendeu, espontaneamente e sem ser solicitado para isso, uma série de desenhos tão notáveis, tanto pela sua singularidade quanto pelo talento da execução, e destinado a nos dar a conhecer, até nos menores detalhes, esse mundo tão estranho e tão novo para nós. Alguns retratam personagens, animais, cenas da vida privada; mas, os mais notáveis, são aqueles que representam habitações, verdadeiras obras-primas das quais nada sobre a Terra poderia nos dar uma idéia, porque essa não parece com nada do que conhecemos; é um gênero de arquitetura indescritível, tão original e, no entanto, tão harmoniosa, de uma ornamentação tão rica e tão graciosa, que desafia a mais fecunda imaginação. O senhor Victorien Sardou, jovem literato e dos nossos amigos, cheio de talento e de futuro mas em nada desenhista, lhes serviu de intermediário. Palissy nos promete uma série que nos dará, de algum modo, a monografia ilustrada desse mundo maravilhoso. Esperamos que essa curiosa e interessante coletânea sobre a qual voltaremos num artigo especial consagrado aos médiuns desenhistas, poderá ser, um dia, entregue ao público.
O planeta Júpiter, apesar do quadro sedutor que dele nos foi dado, não é o mais perfeito entre os mundos. Há outros, desconhecidos para nós, que lhes são bem superiores, no físico e no moral, e cujos habitantes gozam de uma felicidade ainda mais perfeita; lá é a morada dos Espíritos mais elevados, cujo envoltório etéreo nada mais tem das propriedades conhecidas da matéria.
Várias vezes, perguntaram-nos se pensamos que a condição do homem nesse mundo é um obstáculo absoluto a que pudesse passar, sem intermediário, da Terra para Júpiter. A todas as questões que tocam à Doutrina Espírita, jamais respondemos segundo as nossas próprias idéias, contra as quais estamos sempre desconfiando. Limitamo-nos a transmitir o ensinamento que nos foi dado, ensinamento que não aceitamos com leviandade e com um entusiasmo irrefletido. À questão acima, respondemos simplesmente, porque tal é o sentido formal das nossas instruções e o resultado das nossas próprias observações: SIM, o homem, deixando a Terra, pode ir imediatamente para Júpiter, ou para um mundo análogo, porque, esse não é único dessa categoria. Pode-se disso ter a certeza? NÃO. Pode-se para lá ir porque há, sobre a Terra, embora em pequeno número, Espíritos bastante bons e bastante desmaterializados para não serem deslocados para um mundo onde o mal não tem acesso. Não há a certeza disso, porque pode-se se iludir sobre o mérito pessoal, e pode-se, aliás, ter uma outra missão a cumprir. Aqueles que podem esperar esse favor, não são, seguramente, nem os egoístas, nem os ambiciosos, nem os avaros, nem os ingratos, nem os ciumentos, nem os orgulhosos, nem os vaidosos, nem os hipócritas, nem os sensuais, nem nenhum daqueles que estão dominados pelo amor aos bens terrestres; a estes, talvez, seja preciso, ainda, longas e rudes provas. Isso depende de sua vontade.
Quem não teria perguntado, considerando a Lua e os outros astros, se esses globos são habitados? Antes que a ciência nos tivesse iniciado quanto à natureza desses astros, disso se podia duvidar; hoje, no estado atual dos nossos conhecimentos, há, pelo menos, probabilidades; mas fizeram-se a essa idéia, verdadeiramente sedutora, objeções tiradas da própria ciência. A Lua, diz-se, parece não ter mais atmosfera, e, talvez, água. Em Mercúrio, tendo em vista a sua proximidade do Sol, a temperatura média deve ser a do chumbo fundido, de sorte que, se houver chumbo, deverá correr como a água dos nossos rios. Em Saturno, é tudo o oposto; não temos termo de comparação para o frio que nele deve reinar; a luz do Sol, ali, deve ser muito fraca, apesar do reflexo das suas sete luas e do seu anel, porque, a essa distância, o Sol não deve parecer senão como uma estrela de primeira grandeza. Em tais condições, pergunta-se se seria possível viver.
Não se concebe que, uma semelhante objeção possa ser feita por homens sérios. Se a atmosfera da Lua não pôde ser percebida, é racional que disso se infere que não exista? Não pode estar formada de elementos desconhecidos ou muito rarefeitos para não produzir refração sensível? Diremos a mesma coisa da água ou dos líquidos que nela existam. Com relação aos seres vivos, não seria negar o poder divino crendo impossível uma organização diferente da que nós conhecemos, quando, sob os nossos olhos, a previdência da Natureza se estende com uma solicitude tão admirável até o menor dos insetos, e dá, a todos os seres, órgãos apropriados ao meio ao qual devem habitar, seja sob a água, o ar ou a terra, seja mergulhados na obscuridade ou expostos ao clarão do Sol? Se não tivéssemos jamais visto os peixes, não poderíamos conceber seres vivos na água; não faríamos uma idéia da sua estrutura. Quem poderia crer, ainda há pouco tempo, que um animal pudesse viver um tempo indefinido no seio de uma pedra! Mas, sem falar desses extremos, os seres que vivem sob o fogo da zona tórrida poderiam existir nos gelos polares? E, todavia, há, nesses gelos, seres organizados para esse clima rigoroso e que não poderiam suportar o ardor de um sol vertical. Porque, pois, não admitiríamos que seres possam estar constituídos de modo a viverem sobre outros globos e num meio todo diferente do nosso? Seguramente, sem conhecer a fundo a constituição física da Lua, dela sabemos o bastante para estarmos certos de que, tais como somos, ali não poderíamos viver, tanto como não o podemos no seio do Oceano, em companhia dos peixes. Pela mesma razão, os habitantes da Lua, se pudessem virà Terra, constituídos para viverem sem ar, ou num ar muito rarefeito, talvez muito diferente do nosso, seriam asfixiados em nossa espessa atmosfera, como o somos quando caímos na água. Ainda uma vez, se não temos a prova material e visual da presença de seres vivos em outros mundos, nada prova que não possam existir, cujo organismo seja apropriado a um meio ou a um clima qualquer. O simples bom senso nos diz, ao contrário, que assim deve ser, porque repugna à razão crer que esses inumeráveis globos que circulam no espaço não são senão massas inertes e improdutivas. A observação nos mostra, deles, superfícies acidentadas por montanhas, vales, barrancos, vulcões extintos ou em atividade; por que, pois, não haveriam seres orgânicos? Seja, dir-se-á; que haja plantas, mesmo animais, isso pode ser; mas seres humanos, homens civilizados como nós, conhecendo Deus, cultivando as artes, as ciências, isso será possível?
Seguramente, nada prova, matematicamente, que os seres que habitam os outros mundos sejam homens como nós, moralmente falando; mas, quando os selvagens da América viram desembarcar os Espanhóis, não duvidaram mais que, além dos mares, existia um outro mundo cultivando artes que lhes eram desconhecidas. A terra é salpicada de uma inumerável quantidade de ilhas, pequenas ou grandes, e tudo o que é habitável está habitado; não surge um rochedo no mar que o homem não plante, no instante, sua bandeira. Que diríamos se os habitantes de uma das menores dessas ilhas, conhecendo perfeitamente a existência das outras ilhas e continentes, mas, jamais havendo tido relações com aqueles que os habitam, se cressem os únicos seres vivos do globo? Nós lhes diríamos: Como podeis crer que Deus haja feito o mundo só para vós? Por qual estranha bizarria vossa pequena ilha, perdida num canto do Oceano, teria o privilégio de ser a única habitada? Podemos dizer outro tanto de nós com respeito às outras esferas. Por que a Terra, pequeno globo imperceptível na imensidão do Universo, que não se distingue dos outros planetas nem pela sua posição, nem pelo seu volume, nem pela sua estrutura, porque não é nem a menor nem a maior, nem está no centro e nem na extremidade, porque, digo, seria, entre tantas outras, a única residência de seres racionais e pensantes? Que homem sensato poderia crer que esses milhões de astros, que brilham sobre as nossas cabeças, tenham sido feitos para recrear a nossa visão? Qual seria, então, a utilidade desses outros milhões de globos imperceptíveis a olho nu, e que não servem nem mesmo para nos clarear? Não haveria, ao mesmo tempo, orgulho e impiedade em pensar que assim deve ser? Àqueles que a impiedade pouco toca, diremos que é ilógico.
Chegamos, pois, por um simples raciocfnio, que muitos outros fizeram antes de nós, a concluir pela pluralidade dos mundos, e esse raciocínio se encontra confirmado pela revelação dos Espíritos. Eles nos ensinam, com efeito, que todos esses mundos são habitados por seres corpóreos apropriados à constituição física de cada globo; que, entre os habitantes desses mundos, uns são mais, outros são menos, avançados do que nós do ponto de vista intelectual, moral e mesmo físico. Ainda mais, hoje, sabemos que podemos entrar em relação com eles, e deles obter notícias sobre o seu estado; sabemos, ainda, que não só todos esses globos são habitados por seres corpóreos, mas, que o espaço está povoado por seres inteligentes, invisíveis para nós por causa do véu material lançado sobre a nossa alma, e que revelam a sua existência por meios ocultos ou patentes. Assim, tudo é povoado no Universo, a vida e a inteligência estão por toda parte: sobre os globos sólidos, no ar, nas entranhas da terra, e até nas profundezas etéreas. Haverá, nessa doutrina, alguma coisa que repugne à razão? Não é, ao mesmo tempo, grandiosa e sublime? Ela nos eleva pela nossa própria pequenez, diferentemente desse pensamento egoísta e mesquinho que nos coloca como os únicos seres dignos de ocupar o pensamento de Deus.
JÚPITER E ALGUNS OUTROS MUNDOS.
Antes de entrarmos nos detalhes das revelações que os Espíritos nos fizeram, sobre o estado dos diferentes mundos, vejamos a quais conseqüências lógicas poderemos chegar, por nós mesmos e unicamente pelo raciocínio. Reportando-se à escala espírita que demos no precedente número, pedimos às pessoas desejosas de aprofundarem seriamente essa ciência nova, estudarem com cuidado esse quadro e dele se compenetrarem; nele encontrarão a chave de mais de um mistério.
O mundo dos Espíritos se compõe de almas de todos os humanos desta Terra e de outras esferas, desligadas dos laços corporais; do mesmo modo, todos os humanos são animados por Espíritos neles encarnados. Há, pois, solidariedade entre os dois mundos: os homens terão as qualidades e as imperfeições dos Espíritos com os quais estão unidos; os Espíritos serão mais ou menos bons ou maus, segundo os progressos que tiverem feito durante a sua existência corporal. Essas poucas palavras resumem toda a doutrina. Como os atos dos homens são o produto do seu livre arbítrio, levam a marca da perfeição ou da imperfeição do Espírito que os provocam. Ser-nos-á, pois, muito fácil fazermos uma idéia do estado moral de um mundo qualquer, segundo a natureza dos Espíritos que o habitem; poderemos, de algum modo, descrever a sua legislação, traçar o quadro dos seus costumes, dos seus usos, das suas relações sociais. Suponhamos, pois, um globo habitado, exclusivamente, por Espíritos da nona classe, por Espíritos impuros, e a ele nos transportemos pelo pensamento. Nele veremos todas as paixões desencadeadas e sem freio; o estado moral no último grau de embrutecimento; a vida animal em toda a sua brutalidade; nada de laços sociais, porque cada um não vive e não age senão para si e para satisfazer os seus apetites grosseiros; o egoísmo nele reina com soberania absoluta, e arrasta consigo o ódio, a inveja, o ciúme, a cupidez, a morte.
Passemos, agora, para uma outra esfera, onde se encontrem Espíritos de todas as classes da terceira ordem: Espíritos impuros, Espíritos levianos, Espíritos pseudo-sábios, Espíritos neutros. Sabemos que, em todas as classes dessa ordem, o mal domina; mas, sem terem o pensamento do bem, o do mal decresce à medida que se afastam da última classe. O egoísmo é sempre o móvel principal das ações, mas os costumes são mais brandos, a inteligência mais desenvolvida; o mal, aí, estará um pouco disfarçado, enfeitado e dissimulado. Essas próprias qualidades, engendram um outro defeito, que é o orgulho; porque as classes mais elevadas são bastante esclarecidas para terem consciência da sua superioridade, mas não o bastante para compreenderem o que lhes falta; daí a sua tendência à escravização das classes inferiores, e de raças mais fracas, que tenham sob o seu jugo. Não tendo o sentimento do bem, não têm senão o instinto do eu e acionam a sua inteligência para satisfazerem as suas paixões. Numa tal sociedade, se o elemento impuro domina, esmagará o outro; no caso contrário, os menos maus procurarão destruir os seus adversários; em todos os casos, haverá luta, luta sangrenta, luta de extermínio, porque são dois elementos que têm interesses opostos. Para proteger os bens e as pessoas, serão necessárias leis; mas essas leis serão ditadas pelo interesse pessoal e não pela justiça; o forte as fará, em detrimento do fraco.
Suponhamos, agora, um mundo onde, entre os elementos maus que acabamos de ver, se encontrem alguns dos de segunda ordem; então, em meio da perversidade, veremos aparecer algumas virtudes. Se os bons estiverem em minoria, serão vítimas dos maus; mas, à medida que aumente a sua preponderância, a legislação será mais humana, mais equitativa, e a caridade cristã não será, para todos, uma letra morta. Desse próprio bem, vai nascer um outro vício. Malgrado a guerra que os maus declarem, sem cessar, aos bons, não poderão impedi-los de os estimar em seu foro íntimo; vendo a ascendência da virtude sobre o vício, e não tendo nem a força e nem a vontade de praticá-la, procurarão parodiá-la; tomam-lhe a máscara; daí os hipócritas, tão numerosos em toda sociedade onde a civilização é imperfeita.
Continuemos nossa rota através dos mundos, e detenhamo-nos neste, que nos vai repousar um pouco do triste espetáculo que acabamos de ver. Não é habitado senão por Espíritos da segunda ordem. Que diferença! O grau de depuração que alcançaram exclui, entre eles, todo pensamento do mal, e só essa palavra nos dá a idéia do estado moral dessa feliz região. A legislação, aí, é bem simples, porque os. homens não têm do que se defenderem, uns contra os outros; ninguém quer o mal para o seu próximo, ninguém se apropria do que não lhe pertence, ninguém procura viver em detrimento do seu vizinho. Tudo respira a benevolência e o amor; os homens não procuram se prejudicar; não há ódio; o egoísmo é desconhecido e a hipocrisia não teria finalidade. Aí, todavia, não reina a igualdade absoluta, porque a igualdade absoluta supõe uma identidade perfeita no desenvolvimento intelectual e moral; ora, veremos, pela escala espiritual, que a segunda ordem compreende vários graus de desenvolvimento; haverá, pois, nesse mundo, desigualdades, porque uns serão mais avançados do que outros; mas, como entre eles não há senão o pensamento do bem, os mais elevados não conceberão nada de orgulho, e os outros nada de ciúme. O inferior compreende a ascendência do superior e se submete, porque essa ascendência é puramente moral e ninguém dela se serve para oprimir.
As conseqüências que tiramos, desses quadros, embora apresentadas de um modo hipotético, não deixam de ser perfeitamente racionais, e, cada um pode deduzir o estado social de um mundo qualquer, segundo a proporção dos elementos morais dos quais se o supõe composto. Vimos que, abstração feita da revelação dos Espíritos, todas as probabilidades são para a pluralidade dos mundos; ora, não é menos racional pensar que todos não estão num mesmo grau de perfeição, e que, por isso mesmo, nossas suposições podem muito bem ser realidades. Não os conhecemos, senão o nosso, de um modo positivo. Que categoria ele ocupa nessa hierarquia? Ah! basta considerar o que aqui se passa para ver que está longe de merecer a primeira categoria, e estamos convencidos de que, lendo estas linhas, já se lhe terá marcado seu lugar. Quando os Espíritos nos dizem que estão, senão na última, pelo menos nas últimas, o simples bom senso nos diz, infelizmente, que não se enganam; temos muito a fazer para elevá-lo à categoria daquele que descrevemos em último lugar, e temos muita necessidade que o Cristo venha nos mostrar o caminho.
Quanto à aplicação, que podemos fazer, do nosso raciocínio, aos diferentes globos do nosso turbilhão planetário, não temos senão os ensinamentos dos Espíritos; ora, para quem não admite senão provas palpáveis, é positivo que sua asserção, a esse respeito, não tenha a certeza da experimentação direta. No entanto, não aceitamos, todos os dias com confiança as descrições, que os viajantes nos fazem, de países que jamais vimos? Se nós não devêssemos crer senão por nossos olhos, não creríamos em grande coisa. O que dá aqui, um certo peso ao dizer dos Espíritos, é a correlação que existe entre eles, pelo menos nos pontos principais. Para nós, que fomos cem vezes testemunhas dessas comunicações, que pudemos apreciá-las em seus menores detalhes, que nelas escoltamos o forte e o fraco, observamos as semelhanças e as contradições, encontramos todos os caracteres da probabilidade; todavia, não lhes damos senão sob benefício de inventário, a título de notícias, aos quais cada um está livre para ligara importância que julga adequada.
Segundo os Espíritos, o planeta Marte seria ainda menos avançado do que a Terra os Espíritos que nele estão encarnados pareceriam pertencer, quase exclusivamente, à nona classe, a dos Espíritos impuros, de sorte que o primeiro quadro, que demos acima, seria a imagem desse mundo. Vários outros pequenos globos estão, com algumas nuanças, na mesma categoria. A Terra viria em seguida; a maioria de seus habitantes pertence, incontestavelmente, a todas as classes da terceira ordem, e a parte menor às últimas classes da segunda ordem. Os Espíritos superiores, os da segunda e da terceira classe, nela cumprem, algumas vezes, uma missão de civilização e progresso, e são exceções. Mercúrio e Saturno vêm depois da Terra. A superioridade numérica de bons Espíritos lhes dá a preponderância sobre os Espíritos inferiores, do que resulta uma ordem social mais perfeita, relações menos egoístas, e, por conseqüência, uma condição de existência mais feliz. A Lua e Vênus estão quase no mesmo grau e, sob todos os aspectos, mais avançados do que Mercúrio e Saturno. Juno (Juno é o nome de uma divindade itálica. Deve ter ocorrido um lapso do autor, uma vez que não há, no nosso sistema solar, nenhum planeta com este nome. N. do T.) e Urano seriam ainda superiores a esses últimos. Pode-se supor que os elementos morais, desses dois planetas, são formados das primeiras classes da terceira ordem e, na grande maioria, de Espíritos da segunda ordem. Os homens, neles, são infinitamente mais felizes do que sobre a Terra, pela razão de que não têm nem as mesmas lutas a sustentar, nem as mesmas tributações a suportar, e não estão expostos às mesmas vicissitudes físicas e morais.
De todos os planetas, o mais avançado, sob todos os aspectos, é Júpiter. Ali, é o reino exclusivo do bem e da justiça, porque não há senão bons Espíritos. Pode-se fazer um idéia do feliz estado dos seus habitantes pelo quadro que demos do mundo habitado sem a participação dos Espíritos da segunda ordem.
A superioridade de Júpiter não está somente no estado moral dos seus habitantes; está, também, na sua constituição física. Eis a descrição que nos foi dada, desse mundo privilegiado, onde encontramos a maioria dos homens de bem que honraram nossa Terra pelas suas virtudes e seus talentos.
A conformação dos corpos é quase a mesma desse mundo, mas é menos material, menos denso e de uma maior leveza específica. Ao passo que rastejamos penosamente na Terra, o habitante de Júpiter se transporta, de um lugar para outro, roçando a superfície do solo, quase sem fadiga, como o pássaro no ar ou o peixe na água. Sendo a matéria, da qual o corpo está formado, mais depurada, ela se dissipa, depois da morte, sem ser submetida à decomposição pútrida. Ali não existe a maioria das enfermidades que nos afligem, sobretudo aquelas que têm sua fonte nos excessos de todos os gêneros e na desordem causada pelas paixões. A alimentação está em relação com essa organização etérea; não seria bastante substanciosa para os nossos estômagos grosseiros, e a nossa seria muito pesada para eles; ela se compõe de frutas e plantas, e, aliás, haurem, de algum modo, a maior parte do meio ambiente do qual aspiram as emanações nutritivas. A duração da vida é, proporcionalmente, muito maior que sobre a Terra; a média equivale a cinco dos nossos séculos. O desenvolvimento também é muito mais rápido, e a infância dura apenas alguns de nossos meses.
Sob esse envoltório leve, os Espíritos se desligam facilmente e entram em comunicação recíproca unicamente pelo pensamento, sem excluir, todavia, a linguagem articulada; também a segunda vista é, para a maioria uma faculdade permanente; seu estado normal pode ser comparado ao dos nossos sonâmbulos lúcidos; é também porque se manifestam, a nós, mais facilmente do que aqueles que estão encarnados em mundos mais grosseiros e mais materiais. A intuição que têm do futuro, a segurança que lhes dá uma consciência isenta de remorsos, fazem com que a morte não lhes cause nenhuma apreensão; vêem-na chegar sem medo e como uma simples transformação.
Os animais não estão excluídos desse estado progressivo, sem se aproximarem, entretanto, do homem, mesmo sob o aspecto físico; seus corpos, mais materiais ligam-se ao solo, como nós à Terra. Sua inteligência é mais desenvolvida do que nos nossos; a estrutura dos seus membros se dobra a todas exigências do trabalho; são encarregados da execução de obras manuais; são os servidores e os operários: as ocupações dos homens são puramente intelectuais. O homem é, para eles, uma divindade, mas uma divindade tutelar que jamais abusa do seu poder para oprimi-los.
Os Espíritos que habitam Júpiter, geralmente, se comprazem, quando querem se comunicar conosco na descrição do seu planeta, e quando se lhes pergunta a razão, respondem que é a fim de nos inspirar o amor ao bem pela esperança de, para lá, ir um dia. Foi com esse objetivo que um deles, que viveu na Terra com o nome de Bernard Palissy, o célebre oleiro do décimo sexto século, empreendeu, espontaneamente e sem ser solicitado para isso, uma série de desenhos tão notáveis, tanto pela sua singularidade quanto pelo talento da execução, e destinado a nos dar a conhecer, até nos menores detalhes, esse mundo tão estranho e tão novo para nós. Alguns retratam personagens, animais, cenas da vida privada; mas, os mais notáveis, são aqueles que representam habitações, verdadeiras obras-primas das quais nada sobre a Terra poderia nos dar uma idéia, porque essa não parece com nada do que conhecemos; é um gênero de arquitetura indescritível, tão original e, no entanto, tão harmoniosa, de uma ornamentação tão rica e tão graciosa, que desafia a mais fecunda imaginação. O senhor Victorien Sardou, jovem literato e dos nossos amigos, cheio de talento e de futuro mas em nada desenhista, lhes serviu de intermediário. Palissy nos promete uma série que nos dará, de algum modo, a monografia ilustrada desse mundo maravilhoso. Esperamos que essa curiosa e interessante coletânea sobre a qual voltaremos num artigo especial consagrado aos médiuns desenhistas, poderá ser, um dia, entregue ao público.
O planeta Júpiter, apesar do quadro sedutor que dele nos foi dado, não é o mais perfeito entre os mundos. Há outros, desconhecidos para nós, que lhes são bem superiores, no físico e no moral, e cujos habitantes gozam de uma felicidade ainda mais perfeita; lá é a morada dos Espíritos mais elevados, cujo envoltório etéreo nada mais tem das propriedades conhecidas da matéria.
Várias vezes, perguntaram-nos se pensamos que a condição do homem nesse mundo é um obstáculo absoluto a que pudesse passar, sem intermediário, da Terra para Júpiter. A todas as questões que tocam à Doutrina Espírita, jamais respondemos segundo as nossas próprias idéias, contra as quais estamos sempre desconfiando. Limitamo-nos a transmitir o ensinamento que nos foi dado, ensinamento que não aceitamos com leviandade e com um entusiasmo irrefletido. À questão acima, respondemos simplesmente, porque tal é o sentido formal das nossas instruções e o resultado das nossas próprias observações: SIM, o homem, deixando a Terra, pode ir imediatamente para Júpiter, ou para um mundo análogo, porque, esse não é único dessa categoria. Pode-se disso ter a certeza? NÃO. Pode-se para lá ir porque há, sobre a Terra, embora em pequeno número, Espíritos bastante bons e bastante desmaterializados para não serem deslocados para um mundo onde o mal não tem acesso. Não há a certeza disso, porque pode-se se iludir sobre o mérito pessoal, e pode-se, aliás, ter uma outra missão a cumprir. Aqueles que podem esperar esse favor, não são, seguramente, nem os egoístas, nem os ambiciosos, nem os avaros, nem os ingratos, nem os ciumentos, nem os orgulhosos, nem os vaidosos, nem os hipócritas, nem os sensuais, nem nenhum daqueles que estão dominados pelo amor aos bens terrestres; a estes, talvez, seja preciso, ainda, longas e rudes provas. Isso depende de sua vontade.
21 agosto 2009
MEDIUNIDADE NO TEMPO DE JESUS
“Se alguém julga ser profeta ou inspirado pelo Espírito, reconheça um mandamento do Senhor nas coisas que estou escrevendo para vocês” (PAULO, aos coríntios).
Introdução
A mediunidade é uma faculdade humana que consiste na sintonia espiritual entre dois seres. Normalmente, a usamos para designar a influência de um Espírito desencarnado sobre um encarnado, entretanto, julgamos que, acima de tudo, por se tratar de uma aquisição do Espírito imortal, pouco importa a situação em que se encontram esses dois seres, para que se processe a ligação espiritual entre eles.
É comum que ataques ao Espiritismo ocorram por conta desse “dom”, como se ele viesse a acontecer exclusivamente em nosso meio. Ledo engano, pois, conforme já o dissemos, é uma faculdade humana, e assim sendo, todos a possuem, variando apenas quanto ao seu grau.
Os detratores querem, por todos os meios, fazer com que as pessoas acreditem que isso é coisa nova, mas podemos provar que a mediunidade não é coisa nova e que até mesmo Jesus dela pode nos dar notícias. É o que veremos a seguir.
A mediunidade e Jesus
Quando Jesus recomenda a seus doze discípulos a divulgação de que o “reino do Céu está próximo” fica evidenciado, aos que estudaram ou vivenciam esse fenômeno, que o Mestre estava falando mesmo era da faculdade mediúnica. Entretanto, por conta dos tradutores ou dos teólogos, essa realidade ficou comprometida no texto bíblico. Entretanto, como é impossível “tapar o sol com uma peneira”, podemos perfeitamente identificá-la, apesar de todo o esforço para escondê-la.
O evangelista Mateus narra o seguinte: “Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. (10,16-20).
A primeira observação que faremos é que por ter tentado a Eva, dizem que a serpente seria o próprio satanás, entretanto, isso fica estranho, porquanto o próprio Jesus nos recomenda sermos prudentes como as serpentes. Esse fato demonstra que tal associação é apenas fruto do dogmatismo que só produz o fanatismo religioso.
Essa fala de Jesus é inequívoca quanto ao fenômeno mediúnico: “não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês”, e arremata: “Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. A tentativa de esconder o fenômeno fica por conta da expressão “o Espírito do Pai”, quando a realidade é “um Espírito do Pai” a mudança do artigo indefinido para o artigo definido tem como objetivo principal desvirtuar a fenomenologia em primeiro plano e em segundo, mais um ajuste de texto bíblico para apoiar a trindade divina copiada dos povos pagãos.
O filósofo e teólogo Carlos Torres Pastorino abordando a questão da mudança do artigo, diz:
“...Novamente sem artigo. Repisamos: a língua grega não possuía artigos indefinidos. Quando a palavra era determinada, empregava-se o artigo definido ‘ho, he, to’. Quando era indeterminada (caso em que nós empregamos o artigo indefinido), o grego deixava a palavra sem artigo. Então quando não aparece em grego o artigo, temos que colocar, em português, o artigo indefinido: UM espírito santo, e nunca traduzir com o definido: O espírito santo”. (Sabedoria do Evangelho, volume 1, pág 43).
Se sustentarmos a expressão “o Espírito do Pai” teremos forçosamente que admitir que o próprio Deus venha a se manifestar num ser humano. Pensamento absurdo como esse só pode ser pela falta de compreensão da grandeza de Deus. Dizem os cientistas que no cosmo há 100 bilhões de galáxias, cada uma delas com cerca de 100 bilhões de estrelas, fazendo do Universo uma coisa fora do alcance de nossa limitada imaginação, mas, mesmo que a custa de um grande esforço, vamos imaginar tamanha grandeza. Bom, façamos agora a pergunta: o que criou tudo isso? Diante disso, admitir que esse ser possa estar pessoalmente inspirando uma pessoa é fora de proposto, coisa aceitável a de povos primitivos, cujos conhecimentos não lhes permitem ir mais longe, por restrição imposta pelo seu hábitat.
A mediunidade no apostolado
Um fato, que reputamos como de inquestionável ocorrência da mediunidade, aconteceu logo depois da morte de Jesus, quando os discípulos reunidos receberam “como que línguas de fogo” e começaram a falar em línguas, de tal sorte que, apesar da heterogeneidade do povo que os ouvia, cada um entendia o que falavam em sua própria língua. Fato extraordinário registrado no livro Atos dos Apóstolos, desta forma:
“Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem”. (Atos 2, 1-6).
Aqui podemos identificar o fenômeno mediúnico conhecido como xenoglossia, que na definição do Aurélio é: A fala espontânea em língua(s) que não fora(m) previamente aprendida(s). Mas, como da vez anterior, tentam mudar o sentido, para isso alteram o artigo indefinido para o definido, quando a realidade seria exatamente que estavam “repletos de um Espírito santo (bom)”.
Fato semelhante aconteceu, um pouco mais tarde, nomeado como o Pentecostes dos pagãos:
“Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus...” (At 10, 44-46).
Episódio que confirma que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34), daí podermos estender à mediunidade como uma faculdade exclusiva a um determinado grupo religioso, mas existindo em todos segmentos em suas expressões de religiosidade.
A mediunidade como era “transmitida”
A bem da verdade não há como ninguém transmitir a mediunidade para outra pessoa, entretanto, pelos relatos bíblicos, a imposição das mãos fazia com que houvesse sua eclosão, óbvio que naqueles que a possuíam em estado latente. Vejamos algumas situações em que isso ocorreu.
Em Atos 8, 17-18: “Então Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos, e eles receberam o Espírito Santo. Simão viu que o Espírito Santo era comunicado através da imposição das mãos. Dêem para mim também esse poder, a fim de que receba o Espírito todo aquele sobre o qual eu impuser as mãos”. Simão era um mago que, com suas artes mágicas, deixava o povo da região de Samaria maravilhado. Mas, ao ver o “poder” de Pedro e João, ficou impressionado com o que fizeram, daí lhes oferece dinheiro a fim de que dessem a ele esse poder, para que sobre todos os que ele impusesse as mãos, também recebessem o Espírito Santo.
Em Atos 19, 1-7: “Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as regiões mais altas e chegou a Éfeso. Encontrou aí alguns discípulos, e perguntou-lhes: ‘Quando vocês abraçaram a fé receberam o Espírito Santo?’ Eles responderam: ‘Nós nem sequer ouvimos falar que existe um Espírito Santo’. Paulo perguntou: ‘Que batismo vocês receberam?’ Eles responderam: ‘O batismo de João’. Então Paulo explicou: ‘João batizava como sinal de arrependimento e pedia que o povo acreditasse naquele que devia vir depois dele, isto é, em Jesus’. Ao ouvir isso, eles se fizeram batizar em nome do Senhor Jesus. Logo que Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e começaram a falar em línguas e a profetizar. Eram, ao todo, doze homens”.
Será que podemos entender que o batismo de Jesus é “receber o Espírito Santo”, conseguido pela imposição das mãos? A narrativa nos leva a aceitar essa hipótese, apenas mantemos a ressalva feita anteriormente quanto à expressão “o Espírito Santo”.
A mediunidade como os dons do Espírito
Na estrada de Damasco, Paulo, que até então perseguia os cristãos, numa ocorrência transcendente, se encontra com Jesus, passando, a partir daí, a segui-lo. Durante o seu apostolado se comunicava diretamente com o Espírito de Jesus, demonstrando sua incontestável mediunidade.
Aliás, o apóstolo Paulo foi quem mais entendeu do fenômeno mediúnico, tanto que existem recomendações preciosas de sua parte aos agrupamentos cristãos de então. Ele o chamava de “dons do Espírito”. “Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero que vocês fiquem na ignorância” (1Cor 12,1), mostrando-se interessado em que todos pudessem conhecer tais fenômenos.
E esclarece o apóstolo dos gentios: “Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer”. (1 Cor 12,4-11). Novamente, mudando-se “o Espírito” para “um Espírito”, estaremos diante da faculdade mediúnica, basta “ter olhos de ver”.
Ao que parece, naquela época, os médiuns se preocupavam mais com a xenoglossia Paulo para desfazer esse engano novamente faz outras recomendações aos coríntios (1Cor 14,1-25). Disse ele: “...aspirem aos dons do Espírito, principalmente à profecia. Pois aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica, exorta, consola. Aquele que fala em línguas edifica a si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assembléia. Eu desejo que vocês todos falem em línguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a menos que este mesmo as interprete, para que a assembléia seja edificada...”.
Conclusão
Como apregoa a Doutrina Espírita o fenômeno mediúnico nada mais é que uma ocorrência de ordem natural. Podemos identificá-lo desde os mais remotos tempos da humanidade, e não poderia ser diferente, pois, em se tratando de uma manifestação de uma faculdade humana, deverá ser mesmo tão velha quanto a permanência do homem aqui na Terra.
Mas, infelizmente, a intolerância religiosa, a ignorância e, por vezes, a má-vontade, não permitiu que fosse divulgada da forma correta, ficando mais por conta de uma ocorrência sobrenatural, que só acontecia a uns poucos privilegiados. Coube ao Espiritismo a desmistificação desse fenômeno, bem como a sua explicação racional. Kardec nos deixou um legado importantíssimo para todos que possam se interessar pelo assunto, quando lança O Livro dos Médiuns, que recomendamos aos que buscam o conhecimento dessa fenomenologia, ainda muito incompreendida em nossos dias.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Referência bibliográfica.
PASTORINO, Carlos Torres, Sabedoria do Evangelho, volume 1, Revista Mensal Sabedoria, Rio, 1964.
Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, 43ª ed. 2001.
Introdução
A mediunidade é uma faculdade humana que consiste na sintonia espiritual entre dois seres. Normalmente, a usamos para designar a influência de um Espírito desencarnado sobre um encarnado, entretanto, julgamos que, acima de tudo, por se tratar de uma aquisição do Espírito imortal, pouco importa a situação em que se encontram esses dois seres, para que se processe a ligação espiritual entre eles.
É comum que ataques ao Espiritismo ocorram por conta desse “dom”, como se ele viesse a acontecer exclusivamente em nosso meio. Ledo engano, pois, conforme já o dissemos, é uma faculdade humana, e assim sendo, todos a possuem, variando apenas quanto ao seu grau.
Os detratores querem, por todos os meios, fazer com que as pessoas acreditem que isso é coisa nova, mas podemos provar que a mediunidade não é coisa nova e que até mesmo Jesus dela pode nos dar notícias. É o que veremos a seguir.
A mediunidade e Jesus
Quando Jesus recomenda a seus doze discípulos a divulgação de que o “reino do Céu está próximo” fica evidenciado, aos que estudaram ou vivenciam esse fenômeno, que o Mestre estava falando mesmo era da faculdade mediúnica. Entretanto, por conta dos tradutores ou dos teólogos, essa realidade ficou comprometida no texto bíblico. Entretanto, como é impossível “tapar o sol com uma peneira”, podemos perfeitamente identificá-la, apesar de todo o esforço para escondê-la.
O evangelista Mateus narra o seguinte: “Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. (10,16-20).
A primeira observação que faremos é que por ter tentado a Eva, dizem que a serpente seria o próprio satanás, entretanto, isso fica estranho, porquanto o próprio Jesus nos recomenda sermos prudentes como as serpentes. Esse fato demonstra que tal associação é apenas fruto do dogmatismo que só produz o fanatismo religioso.
Essa fala de Jesus é inequívoca quanto ao fenômeno mediúnico: “não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês”, e arremata: “Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. A tentativa de esconder o fenômeno fica por conta da expressão “o Espírito do Pai”, quando a realidade é “um Espírito do Pai” a mudança do artigo indefinido para o artigo definido tem como objetivo principal desvirtuar a fenomenologia em primeiro plano e em segundo, mais um ajuste de texto bíblico para apoiar a trindade divina copiada dos povos pagãos.
O filósofo e teólogo Carlos Torres Pastorino abordando a questão da mudança do artigo, diz:
“...Novamente sem artigo. Repisamos: a língua grega não possuía artigos indefinidos. Quando a palavra era determinada, empregava-se o artigo definido ‘ho, he, to’. Quando era indeterminada (caso em que nós empregamos o artigo indefinido), o grego deixava a palavra sem artigo. Então quando não aparece em grego o artigo, temos que colocar, em português, o artigo indefinido: UM espírito santo, e nunca traduzir com o definido: O espírito santo”. (Sabedoria do Evangelho, volume 1, pág 43).
Se sustentarmos a expressão “o Espírito do Pai” teremos forçosamente que admitir que o próprio Deus venha a se manifestar num ser humano. Pensamento absurdo como esse só pode ser pela falta de compreensão da grandeza de Deus. Dizem os cientistas que no cosmo há 100 bilhões de galáxias, cada uma delas com cerca de 100 bilhões de estrelas, fazendo do Universo uma coisa fora do alcance de nossa limitada imaginação, mas, mesmo que a custa de um grande esforço, vamos imaginar tamanha grandeza. Bom, façamos agora a pergunta: o que criou tudo isso? Diante disso, admitir que esse ser possa estar pessoalmente inspirando uma pessoa é fora de proposto, coisa aceitável a de povos primitivos, cujos conhecimentos não lhes permitem ir mais longe, por restrição imposta pelo seu hábitat.
A mediunidade no apostolado
Um fato, que reputamos como de inquestionável ocorrência da mediunidade, aconteceu logo depois da morte de Jesus, quando os discípulos reunidos receberam “como que línguas de fogo” e começaram a falar em línguas, de tal sorte que, apesar da heterogeneidade do povo que os ouvia, cada um entendia o que falavam em sua própria língua. Fato extraordinário registrado no livro Atos dos Apóstolos, desta forma:
“Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem”. (Atos 2, 1-6).
Aqui podemos identificar o fenômeno mediúnico conhecido como xenoglossia, que na definição do Aurélio é: A fala espontânea em língua(s) que não fora(m) previamente aprendida(s). Mas, como da vez anterior, tentam mudar o sentido, para isso alteram o artigo indefinido para o definido, quando a realidade seria exatamente que estavam “repletos de um Espírito santo (bom)”.
Fato semelhante aconteceu, um pouco mais tarde, nomeado como o Pentecostes dos pagãos:
“Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus...” (At 10, 44-46).
Episódio que confirma que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34), daí podermos estender à mediunidade como uma faculdade exclusiva a um determinado grupo religioso, mas existindo em todos segmentos em suas expressões de religiosidade.
A mediunidade como era “transmitida”
A bem da verdade não há como ninguém transmitir a mediunidade para outra pessoa, entretanto, pelos relatos bíblicos, a imposição das mãos fazia com que houvesse sua eclosão, óbvio que naqueles que a possuíam em estado latente. Vejamos algumas situações em que isso ocorreu.
Em Atos 8, 17-18: “Então Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos, e eles receberam o Espírito Santo. Simão viu que o Espírito Santo era comunicado através da imposição das mãos. Dêem para mim também esse poder, a fim de que receba o Espírito todo aquele sobre o qual eu impuser as mãos”. Simão era um mago que, com suas artes mágicas, deixava o povo da região de Samaria maravilhado. Mas, ao ver o “poder” de Pedro e João, ficou impressionado com o que fizeram, daí lhes oferece dinheiro a fim de que dessem a ele esse poder, para que sobre todos os que ele impusesse as mãos, também recebessem o Espírito Santo.
Em Atos 19, 1-7: “Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as regiões mais altas e chegou a Éfeso. Encontrou aí alguns discípulos, e perguntou-lhes: ‘Quando vocês abraçaram a fé receberam o Espírito Santo?’ Eles responderam: ‘Nós nem sequer ouvimos falar que existe um Espírito Santo’. Paulo perguntou: ‘Que batismo vocês receberam?’ Eles responderam: ‘O batismo de João’. Então Paulo explicou: ‘João batizava como sinal de arrependimento e pedia que o povo acreditasse naquele que devia vir depois dele, isto é, em Jesus’. Ao ouvir isso, eles se fizeram batizar em nome do Senhor Jesus. Logo que Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e começaram a falar em línguas e a profetizar. Eram, ao todo, doze homens”.
Será que podemos entender que o batismo de Jesus é “receber o Espírito Santo”, conseguido pela imposição das mãos? A narrativa nos leva a aceitar essa hipótese, apenas mantemos a ressalva feita anteriormente quanto à expressão “o Espírito Santo”.
A mediunidade como os dons do Espírito
Na estrada de Damasco, Paulo, que até então perseguia os cristãos, numa ocorrência transcendente, se encontra com Jesus, passando, a partir daí, a segui-lo. Durante o seu apostolado se comunicava diretamente com o Espírito de Jesus, demonstrando sua incontestável mediunidade.
Aliás, o apóstolo Paulo foi quem mais entendeu do fenômeno mediúnico, tanto que existem recomendações preciosas de sua parte aos agrupamentos cristãos de então. Ele o chamava de “dons do Espírito”. “Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero que vocês fiquem na ignorância” (1Cor 12,1), mostrando-se interessado em que todos pudessem conhecer tais fenômenos.
E esclarece o apóstolo dos gentios: “Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer”. (1 Cor 12,4-11). Novamente, mudando-se “o Espírito” para “um Espírito”, estaremos diante da faculdade mediúnica, basta “ter olhos de ver”.
Ao que parece, naquela época, os médiuns se preocupavam mais com a xenoglossia Paulo para desfazer esse engano novamente faz outras recomendações aos coríntios (1Cor 14,1-25). Disse ele: “...aspirem aos dons do Espírito, principalmente à profecia. Pois aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica, exorta, consola. Aquele que fala em línguas edifica a si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assembléia. Eu desejo que vocês todos falem em línguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a menos que este mesmo as interprete, para que a assembléia seja edificada...”.
Conclusão
Como apregoa a Doutrina Espírita o fenômeno mediúnico nada mais é que uma ocorrência de ordem natural. Podemos identificá-lo desde os mais remotos tempos da humanidade, e não poderia ser diferente, pois, em se tratando de uma manifestação de uma faculdade humana, deverá ser mesmo tão velha quanto a permanência do homem aqui na Terra.
Mas, infelizmente, a intolerância religiosa, a ignorância e, por vezes, a má-vontade, não permitiu que fosse divulgada da forma correta, ficando mais por conta de uma ocorrência sobrenatural, que só acontecia a uns poucos privilegiados. Coube ao Espiritismo a desmistificação desse fenômeno, bem como a sua explicação racional. Kardec nos deixou um legado importantíssimo para todos que possam se interessar pelo assunto, quando lança O Livro dos Médiuns, que recomendamos aos que buscam o conhecimento dessa fenomenologia, ainda muito incompreendida em nossos dias.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Referência bibliográfica.
PASTORINO, Carlos Torres, Sabedoria do Evangelho, volume 1, Revista Mensal Sabedoria, Rio, 1964.
Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, 43ª ed. 2001.
19 agosto 2009
RESSURREIÇÃO DE TODOS
A palavra reencarnação (renascimento, ressurreição) é em Grego “paliggenesia”, em Português palingenesia ou paligênese. Deriva-se de duas palavras gregas: “palin”, de novo, e “gênesis”, nascimento. Significa a ação de renascer, ressurgir, surgir de novo. O Concílio Ecumênico de Constantinopla (553) condenou a doutrina de Orígenes da preexistência da alma, com relação à fecundação do corpo. Sem essa preexistência, não pode haver reencarnação. Mas não ficou esclarecido se a condenação é para toda a espécie de preexistência ou só para a que afirmava que as almas pecaram no céu, e que, por isso, teriam sido mandadas para a Terra por castigo de Deus (nosso livro: “A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência” (Ed.Martin Claret).
Jesus foi ressuscitado por Deus (At 5,30), que nos ressuscitará a todos, também. A ressurreição não é, pois, um privilégio só para Jesus. E ela é do espírito e perispírito, inclusive a de Jesus. “...morto, sim, na carne, mas ressuscitado no espírito” (1 Pedro 3,18, e 1 Co 15,44). ”. E o espírito tanto ressuscita no mundo espiritual, como na carne (reencarnação), até que ressuscite em definitivo no mundo espiritual, de outras dimensões.“Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá...”(Ap.3,12). E é isso o que querem dizer os teólogos cristãos, quando afirmam que Jesus nos precedeu! As aparições Dele são materializações, de que há vários outros exemplos bíblicos. Os anjos, além de se materializarem em episódios bíblicos, a exemplo de Jesus, até comiam também (Gn 19,3). E vemos esses fenômenos de materializações em todas as culturas, comprovados por grande número de cientistas renomados.
A confusão com a ressurreição do corpo físico ou da carne veio da corporeidade ou corporalidade da alma aceita por muitos padres da Igreja Antiga: São Basílio, São Gregório Nazianzeno, São Cirilo de Alexandria, Bernardo, Stº Ambrósio, Evódio (bispo de Uzala), João de Tessalônica, Tertuliano etc. (Abrahm, liv. 2, parágrafo 58, Edição Beneditina, 1686, citação de vários autores, entre eles Leon Denis, “Cristianismo e Espiritismo”, págs. 312). Mas a corporalidade da alma, aceita hoje também pela Igreja, nada mais é do que o perispírito da Doutrina Espírita, o qual é constituído de matéria muito sutil. O perispírito acompanha o espírito. E é por meio do perispírito que o espírito se manifesta. E tem ele vários nomes nas diversas culturas: Ochema, eidolon, somod, ferouer, lúcido, etéreo, aura, corpo sidéreo, ka, aromático, corpo astral, corpo bioplasmático (russo) ,“Corpo Espiritual” (de São Paulo) e “Perispírito” (de Kardec). “Se a alma não tivesse corpo, a imagem dela não teria a imagem de corpos” (Tertuliano). O perispírito (corporalidade) foi pesquisado pelos cientistas, que se tornaram espíritas: William Crokes, descobridor dos Raios Catódicos, da energia radiante, e isolador do tálio, “Pesquisas sobre os Fenômenos Espíritas”; Russell Wallace, “O Moderno Espiritualismo”; Aksakof, “Animismo e Espiritismo”; Charles Richet, Prêmio Nobel de Medicina; Gustave Geley etc. Já as ressurreições bíblicas, na verdade, foram de epilépticos. Por isso Jesus dizia sobre as pessoas que ressuscitava, aparentemente mortas, que elas dormiam. Mais tarde, é óbvio, é que elas morreram de fato. E a subida de Elias vivo em um veículo espacial confundiu também muito os teólogos sobre a ressurreição. Eles concluiram que ele foi de alma e corpo para o mundo espiritual. Mas ele ficou ainda na Terra, pois Jeorão, depois, recebeu dele uma carta (2 Crônicas 21, 12).
Se ressurreição (palingenesia) é a ação de retorno nosso à vida, essa ação de retornar só pode ser feita pelo sujeito, o espírito vivo, jamais pelo corpo morto, que é pó. “A carne para nada aproveita!” (Jo 6,63).
José Reis Chaves
Autor de “A Face Oculta das Religiões” (Ed. Martin Claret). E-mail: escritorchaves@ig.com.br
Jesus foi ressuscitado por Deus (At 5,30), que nos ressuscitará a todos, também. A ressurreição não é, pois, um privilégio só para Jesus. E ela é do espírito e perispírito, inclusive a de Jesus. “...morto, sim, na carne, mas ressuscitado no espírito” (1 Pedro 3,18, e 1 Co 15,44). ”. E o espírito tanto ressuscita no mundo espiritual, como na carne (reencarnação), até que ressuscite em definitivo no mundo espiritual, de outras dimensões.“Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá...”(Ap.3,12). E é isso o que querem dizer os teólogos cristãos, quando afirmam que Jesus nos precedeu! As aparições Dele são materializações, de que há vários outros exemplos bíblicos. Os anjos, além de se materializarem em episódios bíblicos, a exemplo de Jesus, até comiam também (Gn 19,3). E vemos esses fenômenos de materializações em todas as culturas, comprovados por grande número de cientistas renomados.
A confusão com a ressurreição do corpo físico ou da carne veio da corporeidade ou corporalidade da alma aceita por muitos padres da Igreja Antiga: São Basílio, São Gregório Nazianzeno, São Cirilo de Alexandria, Bernardo, Stº Ambrósio, Evódio (bispo de Uzala), João de Tessalônica, Tertuliano etc. (Abrahm, liv. 2, parágrafo 58, Edição Beneditina, 1686, citação de vários autores, entre eles Leon Denis, “Cristianismo e Espiritismo”, págs. 312). Mas a corporalidade da alma, aceita hoje também pela Igreja, nada mais é do que o perispírito da Doutrina Espírita, o qual é constituído de matéria muito sutil. O perispírito acompanha o espírito. E é por meio do perispírito que o espírito se manifesta. E tem ele vários nomes nas diversas culturas: Ochema, eidolon, somod, ferouer, lúcido, etéreo, aura, corpo sidéreo, ka, aromático, corpo astral, corpo bioplasmático (russo) ,“Corpo Espiritual” (de São Paulo) e “Perispírito” (de Kardec). “Se a alma não tivesse corpo, a imagem dela não teria a imagem de corpos” (Tertuliano). O perispírito (corporalidade) foi pesquisado pelos cientistas, que se tornaram espíritas: William Crokes, descobridor dos Raios Catódicos, da energia radiante, e isolador do tálio, “Pesquisas sobre os Fenômenos Espíritas”; Russell Wallace, “O Moderno Espiritualismo”; Aksakof, “Animismo e Espiritismo”; Charles Richet, Prêmio Nobel de Medicina; Gustave Geley etc. Já as ressurreições bíblicas, na verdade, foram de epilépticos. Por isso Jesus dizia sobre as pessoas que ressuscitava, aparentemente mortas, que elas dormiam. Mais tarde, é óbvio, é que elas morreram de fato. E a subida de Elias vivo em um veículo espacial confundiu também muito os teólogos sobre a ressurreição. Eles concluiram que ele foi de alma e corpo para o mundo espiritual. Mas ele ficou ainda na Terra, pois Jeorão, depois, recebeu dele uma carta (2 Crônicas 21, 12).
Se ressurreição (palingenesia) é a ação de retorno nosso à vida, essa ação de retornar só pode ser feita pelo sujeito, o espírito vivo, jamais pelo corpo morto, que é pó. “A carne para nada aproveita!” (Jo 6,63).
José Reis Chaves
Autor de “A Face Oculta das Religiões” (Ed. Martin Claret). E-mail: escritorchaves@ig.com.br
18 agosto 2009
FRAGMENTOS DE KARDEC
Colhemos em Obras Póstumas (1), alguns fragmentos de seus raciocínios, para homenagear a importante efeméride.
Para conhecer seu perfil moral, a transcrição seguinte traz preciso embasamento: “Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência que o seu saber era limitado ao grau de seu adiantamento, e que a opinião deles não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns. Só o fato da comunicação com os Espíritos, o que quer que eles pudessem dizer, provava a existência de um mundo invisível ambiente era já um ponto capital, um imenso campo franqueado às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenômenos inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era conhecer o estado desse mundo e seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Cedo, observei que cada Espírito, em razão de sua posição pessoal e de seus conhecimentos, desvendava-me uma face desse mundo exatamente como se chega a conhecer o estado de uma país interrogando os habitantes de todas as classes e condições, podendo cada qual nos ensinar alguma coisa e nenhum deles podendo, individualmente, ensinar-nos tudo.”
Para conhecer o método aplicado nos estudos e observações sobre o Espiritismo, basta analisar esta frase: “(...) apliquei a esta ciência o método experimental, não aceitando teorias preconcebidas, e observava atentamente, comparava e deduzia as conseqüências, dos efeitos procurava elevar-me às causas, pela dedução e encadeamento dos fatos, não admitindo por valiosa uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão. Foi assim que procedi sempre em meus anteriores trabalhos, desde os quinze anos”.
Sobre a responsabilidade que se impunha, expõe Kardec: “compreendi logo a gravidade da tarefa, que ia empreender, e entrevi naqueles fenômenos a chave do problema, tão obscuro e tão controvertido, do passado e do futuro da humanidade, cuja solução vivi sempre a procurar era, enfim, uma revolução completa nas idéias e nas crenças do mundo. Cumpria, pois, proceder com circunspecção e não levianamente, ser positivo e não idealista para não me deixar levar por ilusões”.
Comentando sobre o sistema de análise nas comunicações com os Espíritos: “Incumbe ao observador formar o conjunto, coordenando, colecionando e conferindo, uns com os outros, documentos que tenham recolhido. Desta forma, procedi com os Espíritos como teria feito com os homens considerei-os, desde o menor até o maior, como elementos de instrução e não como reveladores predestinados”.
Estabeleceu duas máximas que se imortalizaram de maneira patente a indicar os caminhos da Doutrina Espírita: a) Fora da caridade não há salvação, princípio que ressalta a igualdade entre as criaturas humanas, perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua; b) Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade, ressaltando que a fé raciocinada se apoia nos fatos e na lógica.
Para concluir, nada melhor que trazer aos leitores Uma Prece de Allan Kardec, também extraída de Obras Póstumas, onde podemos sentir toda grandeza d’alma deste nobre espírito: “Senhor! Se vos dignastes lançar os olhos sobre mim, para satisfazer os vossos desígnios, seja feita a vossa vontade! A minha vida está em vossas mãos disponde do vosso servo. Para tão alto empenho, eu reconheço a minha fraqueza. A minha boa vontade não faltará, mas podem trair-me as forças. Supri a minha insuficiência, dai-me as forças físicas e morais, que me sejam necessárias. Sustentai-me nos momentos difíceis e com o vosso auxílio e o dos vossos celestes mensageiros esforçar-me-ei por corresponder às vossas vistas”.
(1) Edicão Lake
Nota do autor: esta matéria usou como referência a publicação Hippolyte Léon Denizard Rivail - O Perfil de um Mestre, elaborado pelo Centro Espírita “Esperança e Fé”, de Franca-SP, e reeditado pelo Centro Espírita “Caminho de Damasco”, de Garça-SP, com pequenas alterações do texto original, e utilizando como bibliografia as seguintes obras:
Biografia de Allan Kardec, de Henry Sausse, edição LAKE;
Grandes Espíritas do Brasil, de Zêus Wantuil, ed. FEB;
Allan Kardec, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, ed. FEB;
Vida e Obra de Allan Kardec, de Canuto Abreu, ed. Edicel;
Obras Postumas, de Allan Kardec, ed. LAKE;
Revista Reformador, de 1952, ed. FEB;
Narrações do Infinito, de Camile Flammarion, ed. FEB;
Herculanun, de J. W. Rochester, ed. FEB.
Matéria publicada originariamente no jornal O Clarim, de outubro de 2004.
Para conhecer seu perfil moral, a transcrição seguinte traz preciso embasamento: “Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência que o seu saber era limitado ao grau de seu adiantamento, e que a opinião deles não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns. Só o fato da comunicação com os Espíritos, o que quer que eles pudessem dizer, provava a existência de um mundo invisível ambiente era já um ponto capital, um imenso campo franqueado às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenômenos inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era conhecer o estado desse mundo e seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Cedo, observei que cada Espírito, em razão de sua posição pessoal e de seus conhecimentos, desvendava-me uma face desse mundo exatamente como se chega a conhecer o estado de uma país interrogando os habitantes de todas as classes e condições, podendo cada qual nos ensinar alguma coisa e nenhum deles podendo, individualmente, ensinar-nos tudo.”
Para conhecer o método aplicado nos estudos e observações sobre o Espiritismo, basta analisar esta frase: “(...) apliquei a esta ciência o método experimental, não aceitando teorias preconcebidas, e observava atentamente, comparava e deduzia as conseqüências, dos efeitos procurava elevar-me às causas, pela dedução e encadeamento dos fatos, não admitindo por valiosa uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão. Foi assim que procedi sempre em meus anteriores trabalhos, desde os quinze anos”.
Sobre a responsabilidade que se impunha, expõe Kardec: “compreendi logo a gravidade da tarefa, que ia empreender, e entrevi naqueles fenômenos a chave do problema, tão obscuro e tão controvertido, do passado e do futuro da humanidade, cuja solução vivi sempre a procurar era, enfim, uma revolução completa nas idéias e nas crenças do mundo. Cumpria, pois, proceder com circunspecção e não levianamente, ser positivo e não idealista para não me deixar levar por ilusões”.
Comentando sobre o sistema de análise nas comunicações com os Espíritos: “Incumbe ao observador formar o conjunto, coordenando, colecionando e conferindo, uns com os outros, documentos que tenham recolhido. Desta forma, procedi com os Espíritos como teria feito com os homens considerei-os, desde o menor até o maior, como elementos de instrução e não como reveladores predestinados”.
Estabeleceu duas máximas que se imortalizaram de maneira patente a indicar os caminhos da Doutrina Espírita: a) Fora da caridade não há salvação, princípio que ressalta a igualdade entre as criaturas humanas, perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua; b) Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade, ressaltando que a fé raciocinada se apoia nos fatos e na lógica.
Para concluir, nada melhor que trazer aos leitores Uma Prece de Allan Kardec, também extraída de Obras Póstumas, onde podemos sentir toda grandeza d’alma deste nobre espírito: “Senhor! Se vos dignastes lançar os olhos sobre mim, para satisfazer os vossos desígnios, seja feita a vossa vontade! A minha vida está em vossas mãos disponde do vosso servo. Para tão alto empenho, eu reconheço a minha fraqueza. A minha boa vontade não faltará, mas podem trair-me as forças. Supri a minha insuficiência, dai-me as forças físicas e morais, que me sejam necessárias. Sustentai-me nos momentos difíceis e com o vosso auxílio e o dos vossos celestes mensageiros esforçar-me-ei por corresponder às vossas vistas”.
(1) Edicão Lake
Nota do autor: esta matéria usou como referência a publicação Hippolyte Léon Denizard Rivail - O Perfil de um Mestre, elaborado pelo Centro Espírita “Esperança e Fé”, de Franca-SP, e reeditado pelo Centro Espírita “Caminho de Damasco”, de Garça-SP, com pequenas alterações do texto original, e utilizando como bibliografia as seguintes obras:
Biografia de Allan Kardec, de Henry Sausse, edição LAKE;
Grandes Espíritas do Brasil, de Zêus Wantuil, ed. FEB;
Allan Kardec, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, ed. FEB;
Vida e Obra de Allan Kardec, de Canuto Abreu, ed. Edicel;
Obras Postumas, de Allan Kardec, ed. LAKE;
Revista Reformador, de 1952, ed. FEB;
Narrações do Infinito, de Camile Flammarion, ed. FEB;
Herculanun, de J. W. Rochester, ed. FEB.
Matéria publicada originariamente no jornal O Clarim, de outubro de 2004.
13 agosto 2009
ORIGEM SENSÓRIA DA CRENÇA NA SOBREVIVÊNCIA
Bozzano apoia-se especificamente nas pesquisas do antropólogo Andrew Lang e do etnólogo Max Freedom Long, realizadas entres as tribos da Polinésia, para mostrar a existência dos fenômenos espíritas no horizonte tribal. Serve-se também de outras fonte, não esquecendo os estudos de seu mestre Herbert Spencer. Andrew Lang é o autor da tese espírita da origem mediúnica da religião, tese que lançou em seu livro The Making of Religion. Bozzano esposa essa tese e procura esclarecê-la, confrontando-a com a tese spenceriana, na qual encontra, aliás, os germes da explicação espírita do problema.
A primeira afirmação de Bozzano é a da universalidade da crença na sobrevivência. Vejamos como ele inicia o seu estudo: "Se consultamos as obras dos mais eminentes antropólogos e sociólogos, notamos que todos concordam em reconhecer que a crença na sobrevivência do espírito humano se mostra universal". Esse fato é confirmado por várias citações textuais. A seguir, Bozzano analisa as explicações que lhe dão os sociólogos e antropólogos, para concluir pela inoperância das mesmas. Somente Spencer encontra intuições seguras, que são mais tarde desenvolvidas por Lang. Este realizou um trabalho de análise comparada dos fenômenos do mediunismo primitivo com as experiência metapsíquicas, concluindo pela realidade daqueles fenômenos, que constituem a base concreta da crença na sobrevivência.
O primeiro fato concreto a surgir no horizonte primitivo, no tocante a esse problema, é o da existência de uma força misteriosa que impregna ou imanta objetos e coisas, podendo atuar sobre criaturas humanas. É a força conhecida pelos nomes polinésicos "Mana" e "Orenda", Considerada em geral como imaginária, essa força produz os mais estranhos fenômenos. Bozzano lembra a resposta de MareI Habert a Goblet D' Alviella, sobre a natureza imaginária dessa força. Dizia Habert: "Passa-me pela mente uma nuvem de dúvida. Mana e Orenda não seriam talvez concepções demasiado abstratas, para podermos considerá-las o princípio de que partiram os selvagens, para chegar aos espíritos?"
A dúvida de Habert é considerada por Bozzano "fundamental e psicologicamente" justa, uma vez que conhecemos a natureza concreta do pensamento primitivo, incapaz dos processos de abstração mental que caracterizam o homem civilizado. Mana ou Orenda não é uma força imaginária, mas uma força real, concreta, positiva, que se afirma através de ampla fenomenologia, verificada entre as tribos primitivas, nas mais diversas regiões do mundo. Essa força primitiva corresponde ao ectoplasma de Richet, a força ou substância mediúnica das experiência metapsíquicas, cuja ação foi estudada cientificamente por Crawford, professor de mecânica da Universidade Real de Belfast, na Irlanda. O método comparativo, seguido por Lang, oferece-nos ai seu primeiro resultado. A imaginária força dos selvagens encontra similar nas pesquisas dos sábios europeus e americanos, empenhados nos estudos espíritas e metapsíquicos.
O etnólogo Max Freedom Long, que era também mitólogo, realizou demoradas pesquisas entre as tribos da Polinésia, e particularmente das ilhas do Havaí, convivendo durante anos com os selvagens, para verificar a realidade e a natureza dessa força primitiva. Conclui que os kahunas, curandeiros polinésios, consideravam a existência de três formas de Mana, ou três freqüência, três voltagens dessa força, a semelhança da corrente elétrica. A mais baixa voltagem correspondia à força emitida pelos corpos materiais do cristal ao organismo humano; a voltagem média, à proveniente da mente humana; e a voltagem superior, à proveniente de uma espécie de centro espiritual da mente humana, permitindo ao homem prever o futuro e realizar fenômenos físicos a distância, bem como materialização e desmaterialização de objetos.
Outra curiosa conclusão de Freedom Long é a de que os kahunas consideravam essa força como susceptível de acumulação. Os curandeiros, que usavam de feitiçaria, podiam prender espíritos inferiores que, a seu mando, faziam provisões de Mana para atuar em ocasiões oportunas. Bozzano mostra que as conclusões do etnólogo correspondem às de Andrew Lang e aos relatos e observações de numerosos outros estudiosos do assunto, bem como de viajantes e missionários que conviveram com tribos diversas, em diferentes épocas e várias regiões do globo. Por outro lado, estabelece as relações entre essa força e o ectoplasma, o que também fizera Freedom Long.
O segundo fato concreto, de ordem espírita, do horizonte tribal, é o da existência dos próprios espíritos, também universalmente afirmada. Antropólogos e etnólogos costumam estabelecer arbitrariamente certa distância de tempo entre o aparecimento de um e outro fato. Bozzano, entretanto, rejeita essa tese, para sustentar a simultaneidade de ambos. Lembra que nenhuma pesquisa ou observação revelaram essa pretensa sucessão dos fatos e assevera: "A verdade, pelo contrário, é que essas duas concepções aparecem sempre associadas". Uma das provas está nas próprias conclusões de Freedom Long, onde vemos os espíritos operarem através de Mana, ou seja, servindo-se dessa força. A coexistência das duas concepções, a da força misteriosa e a dos espíritos, impõe-se também diante da multiplicidade dos fenômenos mediúnicos no meio primitivo, onde, como acentua Bozzano, a presença de "agentes espirituais" se impunha, de maneira positiva.
Vemos, assim, que as superstições dos selvagens, as suas práticas mágicas, não eram nem podiam ser de natureza abstrata, imaginária. Decorriam, como tudo na vida primitiva, de realidades positivas e de fatos concretos, conhecidos naturalmente dos selvagens, como sempre foram e são conhecidos dos homens civilizados, em todas as épocas e em todas as latitudes da Terra. Somente nos momentos de grande refinamento intelectual, quando os homens constróem o seu mundo próprio, de abstrações mentais, e se encastelam nas suas tentativas de explicações racionais das coisas, é que essas realidades passam a ser negadas, por uma reduzida elite. O materialismo é portanto uma espécie de flor de estufa, artificial, cultivada, em Compartimento de vidro, que isolam a mente da realidade complexa da natureza.
O aparecimento desses dois fatos no horizonte primitivos - a ação de uma força misteriosa e a ação de entidades espirituais - deve ser considerado entretanto, juntamente com o problema do antropomorfismo. De uma posição positivista, como a que Bozzano assumia, antes de se tornar espírita, esse dois fatos se explicariam pelo próprio antropomorfismo. De uma posição espírita, entretanto, tal explicação se toma insuficiente. Porque o antropomorfismo é a característica psíquica do mundo primitivo, a maneira rudimentar de interpretação da natureza pelo homem. Reduzir todo o processo da vida primitiva a esse psiquismo nascente, limitá-lo apenas à mente embrionária de criaturas semi-animais, é um simplismo que o Espiritismo rejeita.
j. Herculano Pires
A primeira afirmação de Bozzano é a da universalidade da crença na sobrevivência. Vejamos como ele inicia o seu estudo: "Se consultamos as obras dos mais eminentes antropólogos e sociólogos, notamos que todos concordam em reconhecer que a crença na sobrevivência do espírito humano se mostra universal". Esse fato é confirmado por várias citações textuais. A seguir, Bozzano analisa as explicações que lhe dão os sociólogos e antropólogos, para concluir pela inoperância das mesmas. Somente Spencer encontra intuições seguras, que são mais tarde desenvolvidas por Lang. Este realizou um trabalho de análise comparada dos fenômenos do mediunismo primitivo com as experiência metapsíquicas, concluindo pela realidade daqueles fenômenos, que constituem a base concreta da crença na sobrevivência.
O primeiro fato concreto a surgir no horizonte primitivo, no tocante a esse problema, é o da existência de uma força misteriosa que impregna ou imanta objetos e coisas, podendo atuar sobre criaturas humanas. É a força conhecida pelos nomes polinésicos "Mana" e "Orenda", Considerada em geral como imaginária, essa força produz os mais estranhos fenômenos. Bozzano lembra a resposta de MareI Habert a Goblet D' Alviella, sobre a natureza imaginária dessa força. Dizia Habert: "Passa-me pela mente uma nuvem de dúvida. Mana e Orenda não seriam talvez concepções demasiado abstratas, para podermos considerá-las o princípio de que partiram os selvagens, para chegar aos espíritos?"
A dúvida de Habert é considerada por Bozzano "fundamental e psicologicamente" justa, uma vez que conhecemos a natureza concreta do pensamento primitivo, incapaz dos processos de abstração mental que caracterizam o homem civilizado. Mana ou Orenda não é uma força imaginária, mas uma força real, concreta, positiva, que se afirma através de ampla fenomenologia, verificada entre as tribos primitivas, nas mais diversas regiões do mundo. Essa força primitiva corresponde ao ectoplasma de Richet, a força ou substância mediúnica das experiência metapsíquicas, cuja ação foi estudada cientificamente por Crawford, professor de mecânica da Universidade Real de Belfast, na Irlanda. O método comparativo, seguido por Lang, oferece-nos ai seu primeiro resultado. A imaginária força dos selvagens encontra similar nas pesquisas dos sábios europeus e americanos, empenhados nos estudos espíritas e metapsíquicos.
O etnólogo Max Freedom Long, que era também mitólogo, realizou demoradas pesquisas entre as tribos da Polinésia, e particularmente das ilhas do Havaí, convivendo durante anos com os selvagens, para verificar a realidade e a natureza dessa força primitiva. Conclui que os kahunas, curandeiros polinésios, consideravam a existência de três formas de Mana, ou três freqüência, três voltagens dessa força, a semelhança da corrente elétrica. A mais baixa voltagem correspondia à força emitida pelos corpos materiais do cristal ao organismo humano; a voltagem média, à proveniente da mente humana; e a voltagem superior, à proveniente de uma espécie de centro espiritual da mente humana, permitindo ao homem prever o futuro e realizar fenômenos físicos a distância, bem como materialização e desmaterialização de objetos.
Outra curiosa conclusão de Freedom Long é a de que os kahunas consideravam essa força como susceptível de acumulação. Os curandeiros, que usavam de feitiçaria, podiam prender espíritos inferiores que, a seu mando, faziam provisões de Mana para atuar em ocasiões oportunas. Bozzano mostra que as conclusões do etnólogo correspondem às de Andrew Lang e aos relatos e observações de numerosos outros estudiosos do assunto, bem como de viajantes e missionários que conviveram com tribos diversas, em diferentes épocas e várias regiões do globo. Por outro lado, estabelece as relações entre essa força e o ectoplasma, o que também fizera Freedom Long.
O segundo fato concreto, de ordem espírita, do horizonte tribal, é o da existência dos próprios espíritos, também universalmente afirmada. Antropólogos e etnólogos costumam estabelecer arbitrariamente certa distância de tempo entre o aparecimento de um e outro fato. Bozzano, entretanto, rejeita essa tese, para sustentar a simultaneidade de ambos. Lembra que nenhuma pesquisa ou observação revelaram essa pretensa sucessão dos fatos e assevera: "A verdade, pelo contrário, é que essas duas concepções aparecem sempre associadas". Uma das provas está nas próprias conclusões de Freedom Long, onde vemos os espíritos operarem através de Mana, ou seja, servindo-se dessa força. A coexistência das duas concepções, a da força misteriosa e a dos espíritos, impõe-se também diante da multiplicidade dos fenômenos mediúnicos no meio primitivo, onde, como acentua Bozzano, a presença de "agentes espirituais" se impunha, de maneira positiva.
Vemos, assim, que as superstições dos selvagens, as suas práticas mágicas, não eram nem podiam ser de natureza abstrata, imaginária. Decorriam, como tudo na vida primitiva, de realidades positivas e de fatos concretos, conhecidos naturalmente dos selvagens, como sempre foram e são conhecidos dos homens civilizados, em todas as épocas e em todas as latitudes da Terra. Somente nos momentos de grande refinamento intelectual, quando os homens constróem o seu mundo próprio, de abstrações mentais, e se encastelam nas suas tentativas de explicações racionais das coisas, é que essas realidades passam a ser negadas, por uma reduzida elite. O materialismo é portanto uma espécie de flor de estufa, artificial, cultivada, em Compartimento de vidro, que isolam a mente da realidade complexa da natureza.
O aparecimento desses dois fatos no horizonte primitivos - a ação de uma força misteriosa e a ação de entidades espirituais - deve ser considerado entretanto, juntamente com o problema do antropomorfismo. De uma posição positivista, como a que Bozzano assumia, antes de se tornar espírita, esse dois fatos se explicariam pelo próprio antropomorfismo. De uma posição espírita, entretanto, tal explicação se toma insuficiente. Porque o antropomorfismo é a característica psíquica do mundo primitivo, a maneira rudimentar de interpretação da natureza pelo homem. Reduzir todo o processo da vida primitiva a esse psiquismo nascente, limitá-lo apenas à mente embrionária de criaturas semi-animais, é um simplismo que o Espiritismo rejeita.
j. Herculano Pires
MEDIUNISMO E ESPIRITISMO
As ciências sociais tem uma grande contribuição a dar ao estudo do Espiritismo. Quem viu isso com mais clareza, segundo nos parece, foi Ernesto Bozzano. O grande discípulo italiano de Herbert Spencer, profundamente ligado ao desenvolvimento dos estudos sociológicos, uma vez atraído para o campo dos estudos espíritas, soube aplicar a este o conhecimento adquirido em outros campos. Seus trabalhos sobre as manifestações supranormais entre os povos selvagens, publicados na revista milanesa Luce e Ombra, em 1926, posteriormente reunidos no livro Popoli Primitivi e Manifestazioni Supernormali, representam uma das mais poderosas contribuições para o esclarecimento histórico do problema espírita. Kardec já havia esclarecido que os fatos espíritas são de todos os tempos, uma vez que a mediunidade é uma condição natural da espécie humana. Mas é com Bozzano que temos a primeira penetração espírita no exame antropológico e sociológico do homem primitivo, revelando-nos, com base em investigações científicas, as formas pré-histórica do fenômeno mediúnico. Aliás, os estudos de Bozzano levam-nos mais longe, pois revelam também as origens mediúnicas da religião. Temos assim uma teoria espírita da gênese da crença na sobrevivência, que se apresenta como uma síntese das teorias opostas da teologia e da sociologia. Para maior clareza do nosso estudo, servimo-nos do esquema que nos fornece o chamado "método cultural", dos antropólogos ingleses, aplicado por John Murphy, com pleno êxito, em seus estudos sobre as origens e a história das religiões. Método usado na antropologia cultural e no estudo das religiões comparadas, aplica-se perfeitamente às necessidades de clareza do nosso estudo. Seu esquema é constituído pelos "horizontes culturais", dentro dos quais o desenvolvimento humano pode ser analisado na amplitude de cada uma das suas fases. É evidente que não vamos muito além do esquema. Nosso intuito não é o estudo antropológico, nem o das religiões comparadas, mas apenas o esclarecimento do problema espírita.
Os "horizontes culturais" são os meios em que se desenvolveram as diferentes fases da evolução humana. A expressão é metafórica. Chama-se, por exemplo, "horizonte primitivo", o mundo do homem primitivo. A palavra "horizonte" mostra que devemos encarar esse homem dentro dos limites da nossa visão, de todas as condiçôes do meio físico e social em que ele vivia, na paisagem cultural fechada pelos horizontes do mundo primitivo. Podemos assim examinar cada fase em seu meio, cada homem em seu mundo, compreendendo-os melhor. O estudo de Bozzano, embora anterior a esse método, integra-se nele. O "horizonte primitivo" é geralmente dividido em três formas: O primitivo propriamente dito, o anímico e o agrícola, Em nosso esquema, reduzimos as duas primeiras formas a uma única: o "horizonte tribal", que nos permite abranger numa visão geral o problema mediúnico do homem primitivo, e destacamos a terceira forma, dando-lhe autonomia. Isso porque o "horizonte agrícola" tem interesse especial no tocantes à mediunidade. Assim, nosso esquema da fase pré-histórica do Espiritismo é o seguintes: horizonte tribal, agrícola, civilizado, profético e espiritual. Até o "horizonte profético", segundo Murphy. O "horizonte espiritual" é uma formulação nova, exigida pelo Espiritismo.
O horizonte tribal caracteriza-se pelo mediunismo primitivo. Adotamos a palavra "mediunismo", criada por Emmanuel para designar a mediunidade em sua expressão natural, pois é evidente que ela corresponde com precisão ao nosso objetivo. Mediunismo são práticas empíricas da mediunidade, Dessa maneira, temos as formas sucessivas do mediunismo primitivo, do mediunismo oracular e do mediunismo bíblico, só atingindo a mediunidade positiva no horizonte espiritual, que surge com o Espiritismo. Somente com o Espiritismo a mediunidade se define como uma condição natural da espécie humana, recebe a designação precisa de "mediunidade" e passa a ser tratada de maneira racional e científica. Convém deixar bem clara a distinção entre fatos espíritas e doutrina espírita, para compreendermos o que Kardec dizia, ao afirmar que o Espiritismo está presente em todas as fases da história humana. Os fatos espíritas - assim chamados os fenômeno ou suas manifestações mediúnicas - são de todos os tempos. As práticas mágicas ou religiosas, baseadas nessas manifestações, constituem o Mediunismo, pois são práticas mediúnicas. A doutrina espírita é uma interpretação racional das manifestaçôes mediúnicas. Doutrina ao mesmo tempo científica, filosófica e religiosa, pois nenhum desses aspectos podem ser esquecidos, quando tratamos de fenômenos que se relacionam com a vida do homem na Terra e sua sobrevivência após a morte, sua Vida e seu destino espiritual. É enorme a confusão feita pelos sociólogos neste assunto, seguindo de maneira desprevenida a confusão proposital feita pelos adversários do Espiritismo. Os estudos sociológicos do mediunismo referem-se sempre ao espiritismo, Entretanto, a palavra "Espiritismo", criada por Allan Kardec, em 1857, e por ele bem explicada na introdução do O Livro dos Espíritos, designa uma doutrina por ele elaborada, com base na análise dos fenômenos mediúnicos e graças aos esclarecimentos que os Espíritos lhe forneceram, a respeito dos problemas da vida e da morte. As práticas do chamado "sincretismo religioso afro-brasileiro", por exemplo, não são espíritas. O sincretismo religioso é um fenômeno sociológico natural. O Espiritismo é uma doutrina.
Defrontamo-nos, neste ponto, com uma complexidade que também tem dado margem a confusões. Os fatos mediúnicos são fatos espíritas, assim chamados pelo próprio Kardec, mas não são Espiritismo. Porque o Espiritismo se serve dos fatos mediúnicos como de uma matéria-prima, para a elaboração de seus princípios, ou como de uma força natural, que aproveita de maneira racional. Exatamente como a hidráulica se serve das quedas dágua ou do curso dos rios para a produção de energia. Esclarecidos estes pontos, podemos passar a análise dos fenômenos mediúnicos no Horizonte Tribal.
J.Herculano Pires
Os "horizontes culturais" são os meios em que se desenvolveram as diferentes fases da evolução humana. A expressão é metafórica. Chama-se, por exemplo, "horizonte primitivo", o mundo do homem primitivo. A palavra "horizonte" mostra que devemos encarar esse homem dentro dos limites da nossa visão, de todas as condiçôes do meio físico e social em que ele vivia, na paisagem cultural fechada pelos horizontes do mundo primitivo. Podemos assim examinar cada fase em seu meio, cada homem em seu mundo, compreendendo-os melhor. O estudo de Bozzano, embora anterior a esse método, integra-se nele. O "horizonte primitivo" é geralmente dividido em três formas: O primitivo propriamente dito, o anímico e o agrícola, Em nosso esquema, reduzimos as duas primeiras formas a uma única: o "horizonte tribal", que nos permite abranger numa visão geral o problema mediúnico do homem primitivo, e destacamos a terceira forma, dando-lhe autonomia. Isso porque o "horizonte agrícola" tem interesse especial no tocantes à mediunidade. Assim, nosso esquema da fase pré-histórica do Espiritismo é o seguintes: horizonte tribal, agrícola, civilizado, profético e espiritual. Até o "horizonte profético", segundo Murphy. O "horizonte espiritual" é uma formulação nova, exigida pelo Espiritismo.
O horizonte tribal caracteriza-se pelo mediunismo primitivo. Adotamos a palavra "mediunismo", criada por Emmanuel para designar a mediunidade em sua expressão natural, pois é evidente que ela corresponde com precisão ao nosso objetivo. Mediunismo são práticas empíricas da mediunidade, Dessa maneira, temos as formas sucessivas do mediunismo primitivo, do mediunismo oracular e do mediunismo bíblico, só atingindo a mediunidade positiva no horizonte espiritual, que surge com o Espiritismo. Somente com o Espiritismo a mediunidade se define como uma condição natural da espécie humana, recebe a designação precisa de "mediunidade" e passa a ser tratada de maneira racional e científica. Convém deixar bem clara a distinção entre fatos espíritas e doutrina espírita, para compreendermos o que Kardec dizia, ao afirmar que o Espiritismo está presente em todas as fases da história humana. Os fatos espíritas - assim chamados os fenômeno ou suas manifestações mediúnicas - são de todos os tempos. As práticas mágicas ou religiosas, baseadas nessas manifestações, constituem o Mediunismo, pois são práticas mediúnicas. A doutrina espírita é uma interpretação racional das manifestaçôes mediúnicas. Doutrina ao mesmo tempo científica, filosófica e religiosa, pois nenhum desses aspectos podem ser esquecidos, quando tratamos de fenômenos que se relacionam com a vida do homem na Terra e sua sobrevivência após a morte, sua Vida e seu destino espiritual. É enorme a confusão feita pelos sociólogos neste assunto, seguindo de maneira desprevenida a confusão proposital feita pelos adversários do Espiritismo. Os estudos sociológicos do mediunismo referem-se sempre ao espiritismo, Entretanto, a palavra "Espiritismo", criada por Allan Kardec, em 1857, e por ele bem explicada na introdução do O Livro dos Espíritos, designa uma doutrina por ele elaborada, com base na análise dos fenômenos mediúnicos e graças aos esclarecimentos que os Espíritos lhe forneceram, a respeito dos problemas da vida e da morte. As práticas do chamado "sincretismo religioso afro-brasileiro", por exemplo, não são espíritas. O sincretismo religioso é um fenômeno sociológico natural. O Espiritismo é uma doutrina.
Defrontamo-nos, neste ponto, com uma complexidade que também tem dado margem a confusões. Os fatos mediúnicos são fatos espíritas, assim chamados pelo próprio Kardec, mas não são Espiritismo. Porque o Espiritismo se serve dos fatos mediúnicos como de uma matéria-prima, para a elaboração de seus princípios, ou como de uma força natural, que aproveita de maneira racional. Exatamente como a hidráulica se serve das quedas dágua ou do curso dos rios para a produção de energia. Esclarecidos estes pontos, podemos passar a análise dos fenômenos mediúnicos no Horizonte Tribal.
J.Herculano Pires